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NÚCLEO DE GESTÃO DE

CONFLITOS ESCOLARES

DIÁLOGOS E PRÁTICAS
RESTAURATIVAS NO
AMBIENTE ESCOLAR:
Secretário de Estado de Educação
ALAN RESENDE PORTO

Secretário Adjunto Executivo


AMAURI MONGE FERNANDES

Secretária Adjunta de Gestão Regional


ALCIMÁRIA ATAÍDES DA COSTA

Superintendência de Relacionamento Escolar


RONAIR BATISTA MOREIRA DA SILVA

Coordenadoria de Gestão da Rede


MAIRA NUNES SAFRA

Elaboração
Núcleo de Gestão de Conflitos Escolares

Ana Talia Fernandes Gregolin Oliveira


Jéssika da Silva Oliveira
Jozielle Carolina da Silva
Márcia Cristina Verdego Gonçalves
Marina Auxiliadora Marques de Barros
Patrícia Simone da Silva Carvalho
Victor Sthéfano de Moura Queiroz

Revisão Ortográfica
Waldney Jorge De Lisboa
Fale Conosco:

(65) 3613-6453
mediacao.escolar@edu.mt.gov.br
APRESENTAÇÃO

De acordo com a Resolução 2002/12 da Organização das Nações


Unidas – ONU, a Justiça Restaurativa (JR) é categorizada como um
processo restaurativo que trata dos princípios básicos, sendo que

“processo restaurativo significa qualquer processo no qual a


vítima e o ofensor, e, quando apropriado, quaisquer outros
indivíduos ou membros da comunidade afetados por um
crime, participam ativamente na resolução das questões
oriundas do crime, geralmente com a ajuda de um
facilitador”.

Os conflitos e as violências, num contexto geral, têm sido notícia


cotidiana nos meios de comunicação, evidenciando um grande e
difícil desafio a ser superado pela sociedade. Esse fenômeno
encontra-se inserido em todos os espaços sociais, inclusive no
âmbito escolar. Conflitos são algo inerente à natureza humana,
oriundos de diversos motivos e têm afetado demasiadamente as
relações interpessoais. Nesse contexto, as práticas da justiça
restaurativa podem ser aplicadas em qualquer ambiente, inclusive
nas escolas. Casos de indisciplina, agressões físicas e verbais,
bullying, cyberbullying, dentre outras podem ser objetos da justiça
restaurativa.

Nesse sentido, diante da necessidade de levar as práticas preventivas para


o ambiente educacional em 2018 o Ministério Público do Estado de Mato
Grosso, o Governo do Estado de Mato Grosso, por intermédio da Secretaria de
Estado de Educação e o Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, por
intermédio do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de
Conflitos, assinaram o Primeiro Termo de Cooperação Técnica N° 004/2017
com o propósito de colaborar no desenvolvimento e execução do "Projeto
Piloto de Mediação Escolar" e implantação e funcionamento do "Núcleo de
Mediação Escolar de Cuiabá".
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O Núcleo de Mediação Escolar se consolidou a partir desse
termo e, nesse mesmo ano, ocorreu a capacitação da primeira
turma de Mediadores, com vistas à reflexão e discussão acerca
de temas como a comunicação não violenta, práticas
restaurativas, mediação de conflitos e estratégias para
prevenção da violência e resolução pacífica de conflitos.
Atualmente temos profissionais com formação em Mediação
de Conflitos Escolares que atuam nas escolas da Rede Estadual
de Ensino.
Em 2022, diante de um novo cenário houve a necessidade da
expansão de novas práticas e através do Termo de
Cooperação Técnica Nº 11/2022, o Núcleo de Mediação de
Conflitos Escolares altera o nome e passa a ser “Núcleo de
Gestão de Conflitos Escolares”. Com o objetivo de apoiar as
unidades de ensino no desenvolvimento das metodologias de
resolução de conflitos promovendo a atuação extrajudicial, a
pacificação social e o pleno exercício da cidadania. Nesse
mesmo ano, iniciou-se a formação de profissionais para
atuarem como facilitadores do Círculo de Construção de Paz
nas unidades escolares.
A Secretaria de Educação conta com uma Rede de
Profissionais da Educação que atua preventivamente no
espaço escolar, visando mitigar as indisciplina, agressões
físicas e verbais, bullying, cyberbullying dentre outras. Desta
forma, para apoiar a atuação desses profissionais, o Núcleo de
Gestão de Conflitos Escolares, composto por uma equipe
Multiprofissional com formação em Mediação Escolar e
Facilitador de Círculo de Construção de Paz, atuará no
aperfeiçoamento de políticas públicas voltadas para o
enfrentamento às violências e conflitos escolares.

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Sumário

01 APRESENTAÇÃO

04 INTRODUÇÃO

05 JUSTIÇA RESTAURATIVA

06 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ESCOLARES

11 PROCESSO CIRCULAR

12 COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

14 ESCUTA ATIVA

15 ACOLHIMENTO

17 REFERÊNCIAS

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INTRODUÇÃO
A escola é um espaço de socialização por excelência, que
possibilita aos estudantes o entrelaçamento com um universo
além do ambiente familiar. Justamente por ser um espaço plural e
de diversidade social e cultural, a escola também se caracteriza
como um espaço de conflitos. Aprender a lidar com os conflitos
escolares de forma positiva é essencial para o desenvolvimento de
relacionamentos saudáveis e de um ambiente escolar sustentável.
O conflito é geralmente visto como sinônimo de problema, afinal
ele incomoda e desestabiliza relacionamentos. Contudo, os
conflitos em si não são bons ou ruins, apenas naturais da condição
humana. Cada um percebe o mundo de uma forma única e por
isso existem divergências quanto às ideias e opiniões.

O ambiente educacional tem um papel fundamental na vida dos


estudantes com movimentos voltados ao processo de ensinar e
aprender, como também está intrinsecamente ligada à construção
social e de valores na vida do indivíduo. Portanto, é no ambiente
escolar que surgem as dificuldades de relacionamentos
interpessoais acarretando conflitos e dificultando o processo de
ensino e aprendizagem, portanto, por tais motivos, o método da
justiça restaurativa se torna fundamental nas unidades escolares.

A justiça restaurativa é um método que visa diminuir, através da resolução


consensual e o empoderamento do indivíduo, os danos causados pelos
conflitos e violências praticadas entre pares. Com vistas à necessidade de
reparação do dano e do fortalecimento das relações sociais rompidas pelos
conflitos e suas consequências, a justiça restaurativa busca estimular uma
atmosfera colaborativa, de diálogo e da resolução de conflitos por meio de
soluções apresentadas pelos próprios envolvidos, buscando atender-lhes na
sua totalidade.

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O Núcleo de Gestão de Conflitos Escolares elaborou essa cartilha com
o objetivo de auxiliar os profissionais da educação na atuação
preventiva para diminuir os casos de violência e conflito escolar,
objetivando a promoção da Cultura de Paz. Nesse material, alguns
conceitos serão discutidos, sendo eles o Processo Circular, Mediação de
Conflitos, Comunicação Não Violenta, Escuta Ativa e Acolhimento.
Assim, quando falarmos sobre situações conflituosas, poderemos
intervir com embasamento nestes conceitos, bem como, trabalhar
preventivamente nas unidades escolares tencionando a promoção da
cultura de paz, pautado no diálogo, senso de respeito e estímulo da
inteligência socioemocional.

JUSTIÇA RESTAURATIVA

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a justiça restaurativa é


uma técnica de solução de conflito e violência que se orienta pela criatividade e
sensibilidade a partir da escuta dos ofensores e das vítimas. A justiça restaurativa
tem como objetivo intervir em relações atravessadas por um ato danoso.
Utilizando do diálogo para transformar conflitos em relações de cooperação e
colaboração mútua. Levando em consideração todos os sujeitos que estão
envolvidos e suas respectivas responsabilidades, compreendendo a autonomia e
a potencialidade de cada um.
A reparação dos danos causados será dada através da conscientização e
responsabilização do autor do ato danoso, além da promoção do senso de
responsabilidade individual e coletiva, a qual deve ser desenvolvida para melhor
compreensão das motivações que levaram ao ato, promovendo mudanças para
com a vítima. Compreender as necessidades da vítima e da comunidade,
também é necessário.

Um bom exemplo da prática da Justiça Restaurativa são os Círculos de Construção de Paz, um


espaço de diálogo cuidadoso que acolhe as emoções, os diferentes contextos de vida, exercita a
comunicação não violenta, a atenção plena (mindfulness), e reconecta os valores. Tal ferramenta é
de grande importância para auxiliar os professores, os gestores, os estudantes, os pais e/ou
responsáveis, e os demais envolvidos na comunidade escolar na construção e manutenção de
valores que permitam um novo olhar sobre os embates, de modo a compreendê-la como um
processo de fortalecimento de vínculos.

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POR QUE AS PRÁTICAS RESTAURATIVAS
SÃO IMPORTANTES NAS ESCOLAS?

Diante da necessidade de criar uma cultura de diálogo, respeito


mútuo e de paz, a prática restaurativa possibilita que os
relacionamentos sejam restabelecidos melhorando o cotidiano
escolar. Assim, esse método visa o empoderamento no indivíduo
melhorando sua autoestima ajudando no desenvolvimento
pessoal e social, estimulando o pensamento crítico e habilidades
para resolver os problemas, desenvolver a assertividade e a
empatia entre pares colaborando nas relações no espaço escolar
entre estudantes, professores e consequentemente na família.

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ESCOLARES

A mediação escolar é um método adequado e eficaz na solução de


conflitos e sua aplicação no âmbito escolar contribui com a diminuição da
violência, construindo uma cultura de paz. Possui também a perspectiva de
atenuar as relações conflituosas visando a prevenção e enfrentamento da
violência e a diminuição da indisciplina, infrequência e infração possibilitando
a resolução pacífica de conflitos no ambiente escolar, além de promover o
desenvolvimento de políticas públicas indispensáveis para a construção e
manutenção efetiva da cultura de paz nas escolas da rede estadual de
educação do estado de Mato Grosso.

O objetivo é que todas as unidades escolares façam uso da Mediação


Escolar como uma ferramenta para resolução de conflitos. O projeto é uma
proposta de construção de cultura de paz no ambiente escolar, tencionando
um ambiente colaborativo com espaço para o diálogo, respeito e empatia.

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A mediação não resolve apenas o conflito
como também reconstitui o diálogo entre as
partes e as estimula a encontrar soluções que
as satisfaçam mutuamente, promovendo
acordos mais efetivos. Entre eles destacam-se:

Permite a melhoria do relacionamento entre as partes, ou pelo


menos evita a sua deterioração, na medida em que promove
um ambiente de colaboração na abordagem ao problema;

Permite sanar o conflito na medida em que o mesmo é tratado


a fundo e de acordo com os critérios valorizados pelas partes
e não de acordo com critérios estabelecidos exteriormente;

Reduz o desgaste emocional, pois facilita a comunicação


entre as partes;

Possibilita a efetiva reparação pessoal, uma vez que são as


partes que criam responsavelmente a solução para o
problema.

QUAIS SÃO OS OBJETOS DE MEDIAÇÃO?

Os conflitos entre alunos, entre alunos e professores,


entre professores, pais e professores;

Casos de indisciplina e bullying;

Atos infracionais de menor gravidade;

Casos de violência entre alunos e até mesmo conflitos


com a vizinhança e o entorno escolar.
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Em princípio, todo e qualquer conflito é passível de ser mediado, ou seja,
qualquer contexto de convivência capaz de produzir conflitos, tais
como:

Conflitos Causas

Padrões de comportamento ou interação;poder e


Estruturais
autoridade desiguais

Critérios diferentes para avaliar ideias ou


comportamentos; objetivos exclusivos
De valor
intrinsecamente valiosos; modos de vida;ideologia
ou religião diferente.

Emoções fortes; percepções equivocadas ou


De
estereótipos; comunicação inadequada ou
relacionamento
deficiente; comportamento negativo –repetitivo.

Competição percebida ou real sobre interesses


De interesse fundamentais (conteúdo); interesses quanto a
procedimentos; interessespsicológicos.

Falta de informação; informação errada; pontos de


Quanto aos vista diferentes sobre o que é importante;
dados interpretações diferentes dos dados;
procedimentos de avaliação diferentes.

Fonte: “Gestão do conflito escolar: da classificação dos conflitos aos modelos de mediação”. Álvaro
Chrispino, 2007.
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A figura do mediador surge como um facilitador, não como um
interventor da tomada de decisão para a dissolução do conflito.
Um mediador deve ser imparcial, ter integridade absoluta e
competência técnica em comunicação não violenta e no
processo de mediação.
O mediador é imparcial e o responsável pela interação entre os
envolvidos no conflito. Utiliza técnicas de mediação com objetivo
de possibilitar alternativas para facilitar o diálogo com objetivo de
ampliar as possibilidades de resolução dos conflitos, construindo
acordos mutuamente aceitáveis.
Enfatiza Warat (2001, p.26) que tanto para mediar, como para
viver, é preciso sentir o sentimento. O mediador tem que intervir
sobre os sentimentos das pessoas, ajudá- las a sentir seus
sentimentos, renunciando à interpretação.

Postura ativa

Escuta
Mediador

Paciência

Sem julgamento

Colocar-se no lugar
do outro

Proatividade

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QUAIS AS VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA
MEDIAÇÃO ESCOLAR?

Contribuir para a construção de uma educação para a paz;


Estabelecer o diálogo e a comunicação, alcançando uma pacificação
duradoura;
Auxilia na melhora das relações familiares e sociais;
Ensina a ver o mundo pela perspectiva do outro;
Permite o reconhecimento das diferenças;
Racionaliza as estratégias de competência e de cooperação;
Ensina que a controvérsia é uma oportunidade de crescimento e de
amadurecimento social;
Contribui na educação para valores e na prevenção da violência.

QUAIS SÃO OS POSSÍVEIS RESULTADOS DA MEDIAÇÃO ESCOLAR?

Este enfoque da mediação privilegia a formação


participativa dos estudantes, o compromisso
social e a cidadania em prol de uma educação
que objetive formar jovens comprometidos com
sua realidade familiar, política, econômica e
social. A mediação escolar apresenta como
vantagens melhorar a comunicação, o diálogo,
o clima da escola, a formação integral do
estudante e a preservação das relações. Seu
campo de atuação é bastante abrangente. Ela
tanto pode ocorrer entre estudantes, quanto
entre professores, entre coordenadores, entre
diretores, entre familiares e toda comunidade
escolar.

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PROCESSO CIRCULAR

Uma ferramenta que possibilita a resolução de conflitos, o


processo circular visa fortalecer as relações entre os envolvidos
tornando possível que os indivíduos participem ativamente do
processo de “cura”, ou seja, compreender a problemática de modo
que o mesmo possa solucionar, sem causar danos. O círculo de
construção de paz, como é conhecido, nutre uma filosofia de
relacionamento e interconectividade.

COMO SE ESTRUTURA?

Os elementos base para construção de um


Círculo consistem em:

Sentar os participantes em círculo (de preferência, sem mesas);


Observação: sentar em círculo permite e ressalta a igualdade e a
conexão entre os participantes;

Cerimônia de abertura;

Peça no centro do círculo;

Objeto da palavra;

Acordos (caso o círculo queira tomar decisões);

Identifcação de valores;

Geração das diretrizes com base nos valores;

Perguntas norteadoras;

Cerimônia de encerramento.

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Ainda que um Círculo de Construção de Paz se apoie em
componentes e elementos fundamentais para a sua interação, é
de suma relevância destacar que cada vivência é ímpar, não
segue uma receita de bolo uma vez que o círculo abraça
cotidianos e pessoas diferentes, com a sua história e motivação.
Pelo fato de ser uma experiência única em cada encontro, isso faz
da justiça restaurativa uma ferramenta que pode ser construída
em diversas circunstâncias dentro de um ambiente escolar, bem
como abarcar vários grupos etários.
A prática desta assume a possibilidade de novos caminhos para
resolver conflitos de forma positiva, não violenta, com técnicas de
bem-estar, dentre outros. Logo, percebe-se o quão necessário se
faz ter esse hábito nas unidades escolares como um dos métodos
para mediar conflitos com uma compreensão respeitosa e
atenciosa.

A comunicação é a base da nossa integração, portanto é necessário que haja


constante aprimoramento pois é uma prática fundamental para os seres
humanos. A CNV (Comunicação Não Violenta) é uma metodologia desenvolvida
pelo psicólogo Marshall B. Rosenberg, que busca aperfeiçoar os relacionamentos
interpessoais, congregando às nossas necessidades e às dos outros, com o
propósito de falar sem machucar e ouvir sem se ofender. Essa metodologia pode
ser aplicada em todos os tipos de comunicação, nos mais diversificados
contextos. Desenvolve as habilidades que envolvem o processo de comunicação,
o saber falar e saber ouvir como forma de fortalecimento das relações
interpessoais.
Marshall defende em sua obra o modelo de comunicação não violenta que é
direcionado com quatro pilares para uma boa comunicação. Tais pilares são de
grande importância tanto para o ato de se expressar como o de ouvir. Essa
metodologia é válida tanto para a forma verbal de comunicação como para
outros meios.

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OBSERVAÇÃO: refere-se a situações que observamos e
vivenciamos e que afetam nosso bem-estar;

SENTIMENTO: refere-se a como nos sentimos perante aquilo que


estamos observando;

NECESSIDADES: refere-se às necessidades (valores, desejos etc.)


relacionadas aos sentimentos identificados;

PEDIDO: refere-se às ações concretas que pedimos para outra pessoa


com o intuito de enriquecer nossa vida.

É sabido que os diálogos violentos partem de uma incompreensão das


necessidades, dos sentimentos e pedidos do outro, além de, na maioria das vezes,
ser um reflexo de práticas sucessivas alimentadas dentro do seio familiar, nas
escolas, no círculo de amigos, dentre outros. Uma vez a comunicação agressiva
sendo muito presente no cotidiano, percebe-se como tal tipologia de violência
passou a ser naturalizada. Logo, torna-se difícil construir uma via de fala e escuta
expressiva, consistente, segura e que possibilita a cultura da paz plena. Todavia, o
que parece ser impossível, ainda nos deixa um sinal de alento.

O enfrentamento dos discursos violentos segue sendo uma problemática a ser


superada em razão da linguagem violenta ser sutil, isto é, complexa de ser
identificada. A CNV (Comunicação Não Violenta), deste modo, surge para que os
indivíduos possam desvendar a fala que machuca e a escuta que não acolhe. A
fala que machuca é uma expressão marcada de produtos culturais violentos e
que passam despercebidos, então o ser social não consegue expor suas reais
necessidades, dificultando, também, compreender a si e ao outro.

Quando conseguimos expressar nossas necessidades, abrimos espaço para o


autoconhecimento, permitimos que o outro veja não só a nossa aparência como
também a essência, além do alheio poder colocar em prática a compaixão, a
escuta com atenção e livre de julgamentos.

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Dito isto, cabe lembrarmos que não podemos descartar que praticar a
comunicação não violenta pode ser um desafio justamente pela posição de
vulnerabilidade que é assumida e uma fala honesta que está fora do habitual. Se é
criado um campo seguro para ser vulnerável, é mais fácil identificarmos as raízes
de uma discussão até então tida como irremediável já que as pessoas envolvidas
tiveram trocas livres de disputas, dissociadas do outro ser responsável pela nossa
raiva, com as necessidades e os pedidos postos de maneira saudável e clara.

No mais, é possível concordarmos que conseguimos ter um desenvolvimento


transformador deixando para trás os mecanismos violentos nos discursos. A CNV
cria pontes para que possamos nos conectar com nossos sentimentos e
necessidades sem que seja assustador. Ela descortina as possibilidades de
entendermos profundamente a alma humana, ilumina os caminhos para o nosso
autoconhecimento e fortalece vínculos regados de compaixão.

Falar sobre escuta ativa tem tudo a ver com estar consciente e presente
durante o diálogo com o outro. Para fazer a prática dessa, é essencial se apoiar na
empatia: uma compreensão respeitosa aberta para ouvir sem avaliar, exercendo
um olhar afetivo pautado no acolhimento, objetivando que o ouvinte absorva de
fato o conteúdo transmitido pelo interlocutor. Quando escutamos ativamente o
outro ser humano, estamos criando solos férteis para que ele se sinta
compreendido, que receba a nossa compaixão e então se abra para fazer seus
pedidos sem que haja receios e resistências.

Um exercício que pode contribuir para uma escuta ativa é a atividade da


atenção plena, mais conhecida como mindfulness. Essa técnica de bem-estar
nos desconecta de distrações externas, nos coloca no presente e então passamos
a perceber os reais movimentos, os sons, as pessoas. Com isso, torna-se mais fácil
praticarmos a escuta ativa, sermos receptivos cuidadosa e atenciosamente com
quem estamos escutando.

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O acolhimento escolar é considerado o ato de recepcionar o estudante e seus
familiares, desde a sua entrada, responsabilizando-se por ele, praticando a escuta
ativa, permitindo que ele expresse suas preocupações e necessidades, garantindo
atenção resolutiva e articulação com outras políticas públicas para a
continuidade do atendimento quando necessário. É poder qualificar a relação
entre estudante e comunidade escolar, atribuindo ao espaço escolar um
ambiente saudável, acolhedor e de proteção.

A escola é um espaço de acolhimento. Diariamente recebemos estudantes


nas mais diversificadas situações: situação de risco, vulnerabilidade, exclusão
social e necessitadas de proteção, apoio e afeto. E justamente por estar em
condição de vulnerabilidade precisam de atenção especial no acolhimento, pois
na maioria das vezes essa condição não é por opção e, consequentemente, os
efeitos se expressam na sua vida escolar, seja no desinteresse, indisciplina, infração
e até mesmo na infrequência escolar.

Diante do contexto de indisciplina, infração e infrequência o acolhimento será


realizado de modo que possa atender as necessidades do estudante. Muito do
que se apresenta no ambiente escolar são expressões do que acontece na
sociedade, portanto, é necessário que tenhamos a responsabilidade social de
olhar para esse estudante e atender as suas particularidades e, dependendo da
situação, dar as devidas orientações e providências.

O ato de acolher é inerente ao processo de como o estudante será


recepcionado e tratado no ambiente educacional, tornando-o amado e
protegido, e pertencente ao espaço escolar. O acolhimento é um dos pilares para
promoção da cultura de paz, portanto, é necessário que ações efetivas com os
estudantes e familiares se tornem frequentes na rotina escolar. O acolhimento
possui uma importância ímpar, promovendo um ambiente muito mais tranquilo
para os estudantes, professores e toda comunidade escolar, tornando o dia a dia
mais satisfatório e produtivo para todos.

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Para tanto, o acolhimento ocorre de acordo com cada estudante e
comunidade escolar, sendo assim, o acolhimento deve ter um olhar mais
específico com a realidade de cada um. Cabe ressaltar que a participação da
família e toda a comunidade escolar é fundamental nesse processo de
integração. Uma das possibilidades desse dinamismo é, logo no início do ano
letivo, a realização de reuniões, discutindo a proposta da escola, estipulando as
principais regras contidas no regimento escolar, explicando o método de ensino
que será utilizado e, uma das principais, é fomentar sobre o papel de escola e
família em tudo isso. As reuniões devem acontecer mais vezes durante o ano,
tornando um compromisso de importância e transparência. E para além disso, a
escola precisa promover atividades durante todo o ano letivo.

UM MÉTODO QUE ENVOLVA TODOS

A escola é composta por estudantes, professores, equipe gestora, familiares,


ou seja, uma comunidade heterogênea, sendo necessário que todos contribuam
no movimento escolar preparando as crianças, adolescentes e jovens para a fase
adulta e inserção na sociedade. Posto isso, a escola tem um papel essencial na
vida desse indivíduo, pois é na escola que as relações são construídas.
Muito se discute sobre a importância dos professores na formação e
transformação da sociedade, para tanto, a participação de todos nesse processo
é fundamental pois, atuamos diretamente na projeção de uma sociedade melhor
e mais equitativa. Portanto, é na escola que esses basilares serão construídos.
Assim, ousamos afirmar que todos profissionais da educação, sejam eles
Professores, Técnico Administrativo Educacional e Apoio Administrativo dentre
outros, devem participar ativamente das ações promovidas no ambiente escolar,
pois de alguma forma contribuirão na formação cognitiva e social dos estudantes.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.

BRASIL. Lei Nº 13.431, de 4 de abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos
da criança e do adolescentes vítima ou testemunha de violência.

BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional.

BRASIL. Lei Nº 10.907, de 25 de junho de 2019, dispõe sobre a obrigatoriedade de os


estabelecimentos estaduais e particulares de ensino comunicarem aos órgãos de
proteção à criança e ao adolescente casos de automutilação que surgirem em suas
dependências escolares e dá outras providências.

CHRISPINO, Álvaro. Gestão do conflito escolar: da classificação dos conflitos aos modelos
de mediação. Revista Eletrônica Ensaio: Avaliação e políticas públicas em Educação. Rio
de Janeiro. Volume 15. Número 54. Páginas 11- 28. Período janeiro/março 2007

DELEUZE, G. Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998.

FERNANDES, P. Meios consensuais de resolução de conflitos no novo Código de Processo


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https://jus.com.br/artigos/59938/meios-consensuais-de-resolucao-de-conflitos-no-
novo- codigo-de-processo-civil-a-conciliacao-e-a-mediacao.

MATO GROSSO. Instrução Normativa n.01/219/SAGE/SEDUC/MT.

MORGADO, Catarina; OLIVEIRA, Isabel. Mediação em contexto escolar: transformar o


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MONTESSORI, Maria. A educação e a paz. Ed. Papirus, 2006.

ROSENBERG, Marshal B. A linguagem da paz em um mundo de conflitos: sua próxima fala


mudará seu mundo. Trad. Grace Patricia Close Deckers. São Paulo: Palas Athena, 2019.

WARAT, Luis Alberto. O Ofício do Mediador. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2001.

SILVA, Glebson Moura; CARVALHO, Deise Patrícia Freitas de Oliveira; MELO, Deborah Brandão
de. O Processo Circular enquanto ferramenta para a gestão de conflitos em uma
Unidade Básica de Saúde. Saúde em Debate. 2020.
VALENT, Isabela Umbuzeiro; MACHADO, Anita; CORSINI, Leonora. Comunidades
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Sistêmica, v. 29, n. 66, p. 113-121, 2020.

A importância do acolhimento na Educação Infantil. Unisinos.brGrupo +A Educação S/A, ,


23 mar. 2022. Disponível em: <https://poseducacao.unisinos.br/blog/acolhimento-
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CURSO DE INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA PARA EDUCADORES. Disponível em:


<http://www.escoladeformacao.sp.gov.br/portais/Portals/84/docs/cursos-
concursos/ingresso/supervisor-de-ensino/Manual-Pr%C3%A1tico-de-Justi%C3%A7a-
Restaurativa-Minist%C3%A9rio-P%C3%BAblico.pdf>

PAIVA, M.; COMPLETO, V. M. P. Espaço Pólis. Disponível em:


<https://profmanoelpaiva.blogspot.com/2014/05/praticas-restaurativas-nas-escolas-
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DE SAÚDE, O. A. P. Avaliação e tratamento de feridas. Disponível em:


<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/34755/000790228.pdf>.

Disponível em:
<https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2019/maio/justica-restaurativa-
entenda-os-conceitos-e-
objetivos#:~:text=Segundo%20a%20defini%C3%A7%C3%A3o%20adotada%20pelo,o%20tra
uma%20que%20sofreu%20e>

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