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INFERÊNCIAS E PRESSUPOSTOS

O texto não se reduz à palavra, por isso é importante aprender a ler outras linguagens, não só a escrita. Antigamente, aprendia-se a ler
somente textos literários, não havendo a preocupação de como os textos não literários seriam lidos. Atualmente, busca-se formar
cidadãos, portanto, a leitura ganhou novo significado.
Ler é um exercício. Levantar hipóteses, analisar, comparar, relacionar são passos que auxiliam nessa tarefa. Entretanto, existe uma
habilidade que merece destaque: a inferência.
Segundo Houaiss, inferir é: concluir pelo raciocínio, a partir de fatos, indícios; deduzir.
Entretanto, na prática, como isso pode ajudar na interpretação? Ao ler um texto, as informações podem estar explícitas ou implícitas.
Inferir é conseguir chegar a conclusões a partir dessas informações.
Para facilitar o entendimento, vamos ao exemplo. Leia a tirinha abaixo:

Criada pelo cartunista Quino, Mafalda atravessa gerações com seus questionamentos
Após uma leitura atenta de todos os quadrinhos, o que é possível concluir? Perceberam a profundidade da pergunta? O objetivo da
interpretação não é simplesmente descrever os fatos, mas acrescentar sentido a eles.
Muitos estudantes param na superfície do texto. Por exemplo, na tirinha acima, muitos diriam: “Mafalda estava em sua casa, quando seu
amigo chegou. Ela pediu que ele não fizesse barulho, porque tinha alguém doente. O amigo pensou que fosse um familiar, mas deparou-
se com o mundo.” Qual sentido tem essa descrição? Nenhum, não é verdade?
Então, para encontrar a essência do texto, é preciso partir dos fatos e procurar o sentido que eles querem estabelecer.
O fato apresentado na tira é que o mundo está doente, por isso precisa de cuidados. Isso é possível? Literalmente, não. Entretanto, se
usarmos a linguagem conotativa, é possívelinferir, ou seja, interpretar, deduzir, que o objetivo da tira era chamar a atenção daspessoas
para a “doença” do mundo. Em que aspectos? Os mais diversos: desigualdade social, fome, guerras, violência, poluição, preconceito,
falta de amor etc. E agora, faz sentido? Então, só agora houve entendimento.
É importante destacar que quando a área de atuação é a escola, falar de interpretação é falar de inferência, de conclusão, de dedução.
Então, ao ler um texto, busque sempre sua essência.

Por Mayra Pavan


Graduada em Letras

leia o trecho abaixo retirado dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs - 1998, p. 89-70):

● A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir
de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc.
Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que
implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o
uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de
dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.

Pressuposição é a informação que é passada sem ser diretamente expressada. Por exemplo, se eu digo "Eu
terminei o namoro", fica pressuposto que antes eu namorava. Se eu digo "O Pedro parou de fumar", há uma
pressuposição de que ele fumava. Inferência e subentendido é a mesma coisa, até onde eu saiba. É a
informação que não precisa ser dita por ser óbvia. É a informação que de tão normal pode ser omitida do
discurso. Por exemplo, se eu disser "A Maria foi ao cinema e depois voltou para casa", existe uma inferência de
que ela só voltou para casa depois de ver o filme inteiro, pois é isso que geralmente acontece. O normal é esse,
ficar até o fim do filme. Se por algum motivo eu quisesse dizer que a Maria saiu no meio do filme, eu teria que
explicar isso no discurso, pois é algo que não pode ser inferido ou subentendido. E, por fim, implícito (ou
implicatura) é a informação que pode ser deduzida de uma outra, mas que não foi dita claramente ou
expressamente. Se alguém diz "João é carioca, ele não é um homem sério", o que fica implícito é que o falante
tem um preconceito contra cariocas e que considera os cariocas pessoas não-sérias.

● Nessa aula, concentraremos nossos esforços para que o aluno aprenda a fazer inferências: estratégia de leitura usada
para extrairmos de um texto informações que não estão explícitas. Essas informações são descobertas por meio
de pistas que o texto apresenta.
Módulo 1

Motivação

Atividade 1

O professor deverá iniciar a aula apresentando em powerpoint algumas informações sobre INFERÊNCIA.

Slide 1

Estratégias de inferência: permitem captar o que não está dito no texto de forma explícita. A inferência é aquilo que “lemos”, mas não
está escrito. São adivinhações baseadas tanto em pistas dadas pelo próprio texto como em conhecimentos que o leitor possui. Às
vezes essas inferências se confirmam, e às vezes não; de qualquer forma, não são adivinhações aleatórias.

Slide 2

Além do significado, inferimos também palavras, sílabas ou letras. Boa parte do conteúdo de um texto pode ser antecipada ou inferida
em função do contexto: portadores, circunstâncias de aparição ou propriedades do texto. O contexto, na verdade, contribui
decisivamente para a interpretação do texto e, com frequência, até mesmo para inferir a intenção do autor.

Atividade 2

Depois de trabalhada a parte teórica, na sequência, o professor deverá reproduzir uma cópia dos
textos abaixo para cada aluno.
Texto 1

1) Responda as perguntas a seguir com base na tirinha da Mafalda abaixo.

Disponível em: http://clubedamafalda.blogspot.com/ Acesso em: 10 jun 2013.

a) Que implícito pode-se retirar da fala de Mafalda, no último quadro?


b) Trata-se de um pressuposto ou subentendido?
c) Como esse implícito não vem marcado por um elemento linguístico, trata-se de algo que está subentendido.
c) De que maneira esse conteúdo implícito é necessário para a compreensão do texto?

● Professor, o texto exige trabalho do leitor para a produção de significado durante o trajeto de pistas textuais linguístico-
discursivas a serem decifradas, principalmente quando dele se podem produzir dois sentidos.

Texto 2
Em 1952, inspirado nas descrições do viajante Hans Staden, o alemão De Bry desenhou as
cerimônias de canibalismo de índios brasileiros. São documentos de alto valor histórico (...)
Porém não podem ser vistos como retratos exatos: o artista, sob influência do Renascimento, mitigou a
violência antropofágica com imagens idealizadas de índios, que ganharam traços e corpos esbeltos de
europeus. As índias ficaram rechonchudas como as divas sensuais do pintor holandês Rubens.
No século XX, o pintor brasileiro Portinari trabalhou o mesmo tema. Utilizando formas densas, rudes e
nada idealizadas, Portinari evitou o ângulo do colonizador e procurou não fazer julgamentos. A
Antropologia persegue a mesma coisa: investigar, descrever e interpretar as culturas em toda a sua
diversidade desconcertante.
Assim, ela é capaz de revelar que o canibalismo é uma experiência simbólica e transcendental - jamais
alimentar.
Até os anos 50, waris e kaxinawás comiam pedaços dos corpos dos seus mortos. Ainda hoje, os
ianomâmis misturam as cinzas dos amigos no purê de banana. Ao observar esses rituais, a
Antropologia aprendeu que, na antropogafia que chegou ao século XX, o que há é um ato amoroso e
religioso, destinado a ajudar a alma do morto a alcançar o céu. A SUPER, ao contar toda a história a
você, pretende superar os olhares preconceituosos, ampliar o conhecimento que os brasileiros têm do
Brasil e estimular o respeito às culturas indígenas. Você vai ver que o canibalismo, para os índios, é
tão digno quanto a eucaristia para os católicos. É sagrado.
Disponível na Revista Superinteressante: (Adaptado da Revista Superinteressante, agosto, 1997, p.4)
Depois de lido e explorado oralmente pelos alunos e pelo professor, este deverá mostrar aos estudantes duas atividades sobre
o tema.

1. Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação correta, de acordo com o texto.
A) Sendo a cultura negra um mal necessário para a manutenção dos escravos, sua eliminação foi um
erro das autoridades coloniais portuguesas.
B) Os religiosos eram autoritários, obrigando os escravos negros a se converterem ao catolicismo
europeu e a abandonarem sua religião de origem.
C) As autoridades portuguesas conduziam a política escravagista de modo que africanos de uma
mesma origem não permanecessem juntos.
D) As línguas africanas foram eliminadas no Brasil colonial, tendo os escravos preservado apenas
alguns traços culturais, como sua religião.
E) A identidade cultural africana, representada pelos batuques e calundus, causava danos às pessoas
de origem européia.
Resposta:
A) O texto não classifica como erro das autoridades coloniais. Essa é uma inferência que o leitor
poderá fazer por sua conta e risco.
B) O autoritarismo era dos proprietários de escravos e das autoridades. Busca-se aqui confundir o
aluno dizendo que era o autoritarismo dos religiosos. Há uma troca, uma inversão das afirmações do
texto.
C) Essa é a resposta correta: Essa afirmação está no texto.
D) A afirmação contradiz o que está no texto. As línguas africanas foram, inclusive, aprendidas por
alguns cléricos.
E) A afirmação exagera a verdade textual. O autor não chega a tanto. Se o aluno chegar a essa
conclusão é por sua conta e risco.
2. Considere as seguintes informações sobre o texto:
I - Segundo o autor do texto, a revista tem como único objetivo tornar o leitor mais informado acerca da
história dos índios brasileiros.
II - Este texto introduz um artigo jornalístico sobre o canibalismo entre índios brasileiros.
III - Um dos principais assuntos do texto é a história da arte no Brasil.
Quais são corretas?
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas III
d) Apenas I e III
e) Apenas II e III

Resposta correta: B

Comentários que podem ajudar o professor na hora da correção:


A afirmação I usa a palavra único, o aluno deve ter muita atenção e deve ter cuidado com essa
palavra, geralmente ela traz uma armadilha. A afirmação reduz o texto, que vai bem além de ter como
único objetivo informar sobre a história dos índios. Aliás, não é a história dos índios, mas sim da
antropofagia deles.
A afirmação III está erradíssima, pois a história da arte está longe de ser um dos assuntos principais
do texto.
As afirmações merecem algumas observações. Em primeiro lugar, a afirmação I diz: "Segundo o autor
do texto". Mas quem é esse autor, tendo em vista que se trata de editorial? Não há um autor expresso.
A afirmação II, considerada como certa, traz uma imprecisão. O texto não introduz um artigo
jornalístico. Como vimos, artigo é bem diferente. O editorial introduz matéria ou reportagem, nunca um
artigo.
Texto e atividades disponíveis em: http://www.coladaweb.com/portugues/interpretacao-de-textos-exercicios-testes Acesso em 08 jun
2013.

TEXTO- Informações Literais e Inferências

Muitas vezes, os leitores reconhecem e compreendem as palavras de um texto, mas se mostram incapazes de perceber
satisfatoriamente o seu sentido como um todo.

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que o texto nem sempre fornece todas as informações possíveis. Há elementos implícitos
que precisam ser recuperados pelo leitor para a produção do sentido. A partir de elementos presentes no texto, estabelecemos
relações com as informações implícitas. Por isso, o leitor precisa estabelecer relações dos mais diversos tipos entre os elementos do
texto e o contexto, de forma a interpretá-lo adequadamente. Algumas atividades são realizadas com esse objetivo. Entre elas está a
produção de pressuposições, inferências ou subentendidos.

Pressuposição: é o conteúdo que fica à margem da discussão, é o conteúdo implícito. Assim, a frase “José parou de beber
” veicula a pressuposição de que José bebia antes; “José passou a estudar à noite” contém a pressuposição de que antes estudava
de dia, mas contém também a pressuposição de que ele não estudava antes, dependendo da ênfase colocada em passar a ou em à
noite.

Inferências: são informações normais que não precisam ser explicitadas no momento da produção do texto; são também
chamadas de subentendidos.

O exemplo seguinte ajuda a entender esta noção:

“Maria foi ao cinema, assistiu ao filme sobre dinossauros e voltou para casa.”

Lendo esta frase, o leitor recupera os conhecimentos relativos ao ato de ir ao cinema: no cinema existem cadeiras, tela, bilheteria;
há uma pessoa que vende bilhetes, outra que os recolhe na entrada; a sala fica escura durante a projeção, etc. Enfim, isto não precisa
ser dito explicitamente. Se assim não fosse, que extensão teriam nossos textos para fornecer, sempre que necessário, todas estas
informações?

Daí a importância das inferências na interação verbal. Se quiséssemos dizer que Maria não conseguiu ver o filme até o final, isto
teria que ser explicitado, porque, normalmente, a pessoa vê o filme inteiro.

A retomada do texto através de inferências é feita com base em significados que compreendemos, mas não estão manifestados, ao
contrário do que se passa com os processos de informação literais.

Atividade 3
A palavra
Rubem Braga
Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes
sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidadesurda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente
ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém
a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de
fazer alguma coisa boa. Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei
que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti
no momento – e depois esqueci.
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer
o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola perto
quando trabalhasse em sua máquina de costura;
que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio
um pouco alto durante uma transmissão de jogo de futebol... mas o canário não cantava.
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase melódica de
Beethoven – o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta ligação entre a alma do velho
artista morto e o pequeno pássaro de ouro?
Alguma coisa que eu disse distraído – talvez palavras de algum poeta antigo – foi despertar melodias
esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante,
uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas
pobres choupanas e as suas remotas esperanças.

1. Assinale a alternativa correta que indica inferência em relação ao texto de Rubem Braga.

(A) Somente pessoas tristes é que despertam com melodias esquecidas dentro da alma de alguém.

(B ) As palavras têm, às vezes, o poder de nos irritar em qualquer etapa da vida.

(C ) As nossas remotas esperanças precisam de um sorriso de princesa que vive num reino muito distante.

(D ) À semelhança da narrativa do autor, determinada palavra pode nos remeter ao passado e trazer momentos de alegria na vida.

(E ) Pessoas que não sabem viver em voz alta são hostis e cheias de mágoas, por isso uma frase espontânea não lhe faz bem algum.

● LOMBARDI, Roseli Ferreira.; ARBOLEA, Tânia Aparecida. Estratégias de leitura nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Disponível em: (PUC/SP)http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_347.pdf Acesso em: 22 maio 2013.
● CHACON, Jéssica Colvara. O processo inferencial nas atividades de compreensão textual em livros didáticos de Língua
Portuguesa Disponível em: http://www.uniritter.edu.br/eventos/linguagem/anais_artigos/ARTIGOS/J/Jessica%20Colvara
%20Chacon.pdf Acesso

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