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ENROLADOS: UMA VISÃO PSICANALÍTICA

SOBRE A VERSÃO DE RAPUNZEL DA DISNEY


PAULA MILAGRE E VANESSA GIARETTA*1

RESUMO - O objetivo deste artigo é realizar uma leitura psicanalítica da animação da Disney
Enrolados (2011), a qual é uma releitura do clássico conto Rapunzel. Isolada por sua mãe em
uma torre, a adolescente Rapunzel com ela vive uma relação de dependência e, aprisionada
no narcisismo materno, desenvolve-se alienada de sua própria história. As autoras entendem
que o filme é uma produção rica para ilustrar fenômenos típicos da adolescência relacionados
ao reordenamento simbólico, às identificações alienantes e aos processos de desidentificação,
tão necessários ao crescimento. Para tanto, cenas são descritas e compreendidas à luz do
referencial de autores como Mahler, Peter Bloss, e Kancyper.
PALAVRAS-CHAVE: Adolescência. Identificações alienantes. Desidentificação.

Tangled: a psychoanalytical view about Disney’s Rapunzel version

ABSTRACT - The goal of this article is accomplish a Psychoanalytical reading of Disney


animation, Tangled(2011), whom is a rereadin of classic tale Rapunzel. Isolated in a tower,
with her mother, the adolescent Rapunzel lives with her a relationship of depedency, living
imprisoned on maternal narcissism, and developing utterly alienated from her own history.
The authors understand that the movie is a rich production to exemplify typical phenomena of
adolescence related to symbolic reordering, the alienating identifications, and desidentification
process, necessary to growth. For this purpose, scenes are describe and compreehended to
the light of referential by authors such as Mahler, Peter Bloss, e Kancyper.
KEYWORDS: Adolescence. Alienating identifications. Desidentification.

Introdução

A adolescência é um momento privilegiado na constituição identitária, atra-


vessado por inúmeras mudanças e remodelamentos subjetivos. É, sobretudo,
nesta etapa que os sentimentos quanto às figuras parentais são reeditados e
que antigas identificações são ressignificadas de forma retroativa. Será através
do à posteriori que o jovem fará uma revisão de padrões até então estabelecidos,
o que lhe permitirá formular opiniões próprias, bem como apropriar-se do seu

*1
Psicólogas, Especialistas em Psicoterapia da Infância e da Adolescência pelo CEAPIA

Paula Kern Milagre; Vanessa Giaretta Ȋ Enrolados: uma visão psicanalítica sobre a versão de Rapunzel da Disney Ȋ 75
desejo (Kancyper, 1994).
O reordenamento identificatório implica na renúncia à dependência infantil,
no distanciamento das expectativas parentais (e consequente desvencilhar-se
de identificações primitivas) e na união com novos objetos. Trata-se de um
processo angustiante não só para os filhos, como também para os pais, pois re-
acende conflitos ligados ao processo de separação-individuação e, consequen-
temente, interfere na dinâmica familiar (Kancyper, 1994).
As autoras deste trabalho, por compartilharem uma especial admiração pela
riqueza do filme Enrolados, lançado em 2011 pela Disney, se propõem a fazer
uma leitura psicanalítica do mesmo, a partir dos conceitos de reordenamento
simbólico, de identificações alienantes e de desidentificação.O filme é uma re-
leitura do clássico conto Rapunzel, publicado pelos Irmãos Grimm, em 1812.
Contudo, a história que deu origem ao conto foi escrita em 1698, pela francesa
Charlotte-Rose de Caumont de La Force, e se chamava Persinette.

Rapunzel: enrolada ou alienada?

Rapunzel é uma adolescente de dezessete anos, prestes a completar os seus


dezoito, que é ainda excessivamente protegida por sua suposta mãe, Gothel. Ela
a mantém em uma torre alta, isolada do mundo, sob o pretexto de preservá-la
das inúmeras ameaças que a cercam, sobretudo porque seus cabelos mágicos
despertariam a inveja e a cobiça alheia.
O início do filme nos apresenta a história de Rapunzel antes mesmo do seu
nascimento, quando uma gota do sol caída no solo dá origem a uma flor com pode-
res de cura e regeneração. Por centenas de anos, Gothel utiliza-se da magia desta
planta para manter-se jovem e imortal. Chega um dia em que uma Rainha, prestes
a dar à luz a uma criança, fica gravemente doente e a flor é encontrada como a pos-
sibilidade de um milagre pela sua recuperação. Ao beber o chá preparado da flor,
a rainha recupera-se e nasce uma menina linda, cujos cabelos dourados possuem
os mesmos poderes da flor: Rapunzel. Em comemoração ao nascimento da filha, o
casal decide soltar lanternas flutuantes, iluminando o céu da cidade.
Gothel, desesperada por retomar sua condição de imortalidade perdida
quando levam a flor, vai ao encontro de Rapunzel. Tenta tomar para si um peda-
ço do seu cabelo, imaginando ser possível que apenas uma mecha da menina
fosse suficiente para reavivar o feitiço. Contudo, quando ela corta uma porção
do cabelo, observa que, no mesmo instante, esta perde seu tom dourado, si-
nalizando que a magia não tem efeito isoladamente. Deste modo, decide levar
consigo Rapunzel e mantê-la em extremo isolamento e sigilo, jamais cortando
seu cabelo novamente.
Rapunzel cresce acreditando que Gothel é sua mãe verdadeira. A magia dos
seus cabelos segue nutrindo a beleza e juventude desta, sendo ativada mediante
uma canção por ela conhecida, assim ocupando o lugar que a flor poderosa tinha

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nos anos passados. Vale ressaltar que o cabelo de Rapunzel também tem outro
uso: é a ponte à qual a mãe se agarra para sair e acessar o alto da torre.
O aprisionamento da menina se mantém através do discurso da mãe de
proteger e amá-la substancialmente, “sacrificando-se” pela filha ao arriscar-se
quando se distancia dela para buscar suprimentos.

Rapunzel: - Por que não posso sair?


Gothel: - O mundo lá fora é perigoso, cheio de pessoas horríveis e egoístas.
Precisa ficar aqui, onde está segura. Entende, flor?
Rapunzel: - Sim, mamãe.

A fala da mãe é carregada de mensagens contraditórias e de formações reativas,


bem como permeada de piadas sarcásticas para velar sua inveja, agressividade e
intolerância. Além disso, Gothel faz uma inversão perversa das necessidades emo-
cionais da filha, de modo que todo desejo de Rapunzel passa a ser desvalorizado.

Gothel: - Rapunzel, por favor, pare de resmungar. Sabe o que eu penso


disso: blá-blá-blá. É muito chato! Estou brincando, você é adorável! Eu te amo
muito, querida.

Os desejos que expressam qualquer tentativa de diferenciação e distancia-


mento por parte de Rapunzel são sentidos por Gothel como ataque e falta de
reconhecimento pelos seus “sacrifícios”, suscitando na menina sentimentos de
culpa e confusão. Entretanto, na medida em que Rapunzel cresce, reivindica
cada vez mais satisfazer seu anseio de conhecer o mundo para além da torre.
Contudo, é somente no seu 18º aniversário que ela torna-se determinada a sair
para realizar seu sonho. Todo ano, o Rei e a Rainha voltam a soltar lanternas
em memória ao nascimento da filha perdida, às quais a adolescente observa
capturada, à distância, através da janela de sua torre. Intrigada pelo fato de as
luzes flutuantes subirem aos céus a cada aniversário seu, mais e mais cresce seu
interesse de ir em direção ao mundo e de entender os seus significados.
Toda tentativa de Rapunzel de movimentar-se para fora, no entanto, é re-
cebida pela mãe com deboche e desprezo, assim como podemos observar na
música que Gothel canta, em resposta:

Você é tão frágil como as flores


Ainda é uma mudinha e muito nova
Sabe por que estamos nesta torre?
Isso aí, para manter você sã e salva
Este dia chegaria, eu já sabia
Ver que o ninho já não satisfaz
Mais ainda não, confia coração
Sua mãe sabe mais!

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Sua mãe sabe mais
Ouça o que eu digo
É um mundo assustador
Sua mãe sabe mais
Cheio de perigos, acredite, por favor
Homens do mal, galhos envenenados, canibais e cobras
Há praga sim, insetos enormes, dentes afiados
Pare, eu imploro já estou assustada
Mamãe está aqui, vem que eu te protejo
Deixe de sonhar demais
Colha o trama, vem com a mama
Sua mãe sabe mais!

Vá, seja pisada por um rinoceronte


Seja assaltada e largada para morrer
Só sou sua mãe, não sei de nada
Eu só te dei banho, troquei, dei carinho
Vamos, me abandone, eu mereço
Deixe que eu morra aqui em paz
Antes do fim você vai ver, vai sim!
Sua mãe sabe mais!

Sua mãe sabe mais


Você por sua conta, não vai saber se virar
Toda desleixada, imatura, tonta, eles vão te devorar
Crédula, ingênua, levemente suja, boba e um tanto vaga
E, ainda por cima, olha que gorducha
Eu só digo porque te amo
Sua mãe entende, quer te dar ajuda
E só um pedido faz!

Não se esqueça, e obedeça


Sua mãe sabe mais!

É a entrada de um terceiro, Flynn Ryder, que possibilita que este movi-


mento passe a acontecer e que comece a haver um protagonismo de Rapunzel
perante a sua história. Flynn é um jovem bastardo e aventuresco que é procura-
do pelas autoridades do Reino pelo furto de uma coroa. Quando Flynn invade a
torre de Rapunzel em busca de um esconderijo, ela se depara pela primeira vez
com a figura de um outro, que é sentido como ameaçador e estranho. Ao mesmo
tempo, seu olhar emana um encantamento por este outro e pela desconhecida
sensação de poder e coragem que experimenta ao ver-se capaz de proteger-se
sem o amparo da mãe.

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Rapunzel: -Sou muito frágil para cuidar de mim mesma, não é mamãe?

Rapunzel pede para que Flynn a guie em direção às lanternas flutuantes e


eles firmam, então, um pacto. Tem início uma aventura significativa na vida de
ambos, especialmente na da personagem, permeada pelos processos de separa-
ção-individuação e de desidentificação.

Enrolados: o trabalho de desenrolar-se

Conforme Faimberg (1996), a história de todo indivíduo é anterior ao seu


nascimento, pois cada um de nós nasce em meio a ideais e projeções parentais
e ocupa, como filho, um lugar na vida fantasmática dos pais. No caso de Ra-
punzel, isto se elucida quando nos é apresentado o significado da flor que vem
a ser incorporada como parte de seu destino logo no seu nascimento. Tal qual
a flor, ela carrega consigo a projeção de uma ideia de cura e salvação, que vem
a ser a fantasmática de sua história. Podemos entender que a flor, portanto,
metaforicamente simboliza os mandatos transgeracionais, que passam a habitar
e constituir o psiquismo da personagem. Nessa perspectiva, desde bebê, Ra-
punzel traz consigo a missão de salvar a mãe da morte, representada de forma
cindida no filme entre a mãe boa (Rainha) e a mãe má (Gothel).
Todavia, Faimberg (1996) nos alerta que, em alguns casos, o sujeito pode
crescer aprisionado no narcisismo parental, sem encontrar um espaço para
desenvolver uma identidade própria. A configuração narcísica existente entre
Gothel e Rapunzel fica clara já nos primeiros minutos do filme, quando tes-
temunhamos que um pedaço da menina (uma mecha de seu cabelo) não era
suficiente para preencher as necessidades da mãe, sendo preciso que Gothel
aproprie-se dela por inteiro. Entendemos, assim, que Rapunzel vive com a mãe
um vínculo simbiótico, em que não há espaço para ninguém além da díade. Por
muito tempo, a relação exclusiva entre ambas parece ter-lhes bastado e a ilusão
era de que viviam a completude uma com a outra.
Chatelard & Cerqueira (2015) e Vilete (1979) concordam que, na relação
simbiótica, o filho é narcisicamente tido como uma extensão do corpo da mãe,
com a qual vive em uma relação de dependência. Nesta dinâmica, a mãe apre-
senta-se como capaz de atender a todas as suas necessidades e coloca-se como
quem sabe tudo que supostamente é melhor para ele. A ligação entre a dupla é
tão forte que é como se entre mãe-filho houvesse um cordão umbilical invisível
que os ligasse, que podemos entender representado no filme através dos cabelos
de Rapunzel, símbolo de corpos indiferenciados.
Rapunzel é, portanto, tratada como objeto parcial que tem a finalidade de satis-
fazer as necessidades da mãe, que a ama como continuidade do seu próprio corpo,
enquanto ela não ameaça separar-se. Cresce, assim, com o registro inconsciente de
que só é amada se for de sua posse exclusiva (Corso & Corso, 2006). Segundo Chate-

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lard & Cerqueira (2015), o esforço para manter o filho sob controle absoluto expressa
a recusa de individuação e é a marca do confronto com o outro na sua alteridade.
Deste modo, a impossibilidade de diferenciar-se ocorre à custa da anulação da sub-
jetividade, pois, ao ser vivido como extensão da mãe e ao promover nela sensação
de completude, se é impedido de nascer como sujeito. Este entendimento ilustra-se
na cena em que Gothel e Rapunzel estão em frente ao espelho:

Gothel: - Rapunzel, olhe no espelho. Sabe o que eu vejo? Vejo uma jovem
forte, confiante e linda (Rapunzel sorri). ... Olhe! Você está no espelho também
(ironicamente, ri). ... É brincadeirinha.

Fica evidente o não olhar da mãe para a filha, a falta de espelhamento. Go-
thel não é um espelho para Rapunzel, mas ao contrário: é esta quem sustenta
a beleza da mãe e que a nutre nos seus aspectos narcísicos. Posteriormente no
filme, já após a entrada de Flynn em sua vida, há uma cena em que Rapunzel
se olha novamente no espelho com uma coroa na cabeça e se emociona com a
imagem que vê. Há um misto de surpresa e estranhamento ao talvez enxergar-
-se pela primeira vez de modo diferente da sua imagem de menina frágil, de-
pendente e infantil. Surge a possibilidade de ver-se como uma rainha, talvez se
imaginando em um papel mais adulto.
Margareth Mahler (1977) propõe um modelo do desenvolvimento emocional
constituído por fases e afirma que o nascimento psicológico da criança não
coincide com o biológico, ocorrendo através de um processo de separação-in-
dividuação. Ela afirma que nas etapas mais precoces do desenvolvimento, a
diferenciação entre o eu e o objeto ainda não ocorreu, de modo que o bebê vive
em relação à mãe um estado de indiferenciação e com ela constitui uma unidade
onipotente e fusionada. A autora demarca, contudo, que a relação simbiótica
que a dupla compõe possui um significado diferente para a mãe, pois “a neces-
sidade que a criança tem da mãe é absoluta; a necessidade que a mãe tem da
criança é relativa” (1977, p.62).
Ao longo do processo de separação-individuação, a criança adquire a cres-
cente consciência da mãe como um objeto diferenciado dela. Perceber-se como
alguém separado estimula o senso de autonomia e reforça o ego, mas, ao mesmo
tempo, desperta angústia e temor. A descoberta do mundo para além da fusão
simbiótica é vivida com prazer, mas é naturalmente acompanhada por angústias
de separação. As atitudes da criança, então, expressam o conflito interno que
vive: por um lado, esboçam tentativas de restabelecer a fusão com a mãe, na
intenção de recuperar a onipotência que agora lhes falta; por outro, denotam
o temor que sente de ser absorvida pela mãe e de perder a autonomia que
há pouco adquiriu. Portanto, necessitará separar-se e reaproximar-se da figura
materna, através de movimentos de ir e vir, para abastecer-se emocionalmente
dela, até que a constância objetal seja uma conquista e a mãe torne-se dispo-
nível intrapsiquicamente para a criança, assim, sentir-se segura (Mahler, 1977).

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Apesar do processo de separação-individuação ter início por volta do quinto
mês de vida e finalizar próximo ao terceiro ano de idade, Mahler (1977) afirma
que ele pode perdurar pelo resto da vida. Peter Blos (1998), baseado nas con-
cepções desta psicanalista, sugere que na adolescência ocorre um segundo pro-
cesso de separação-individuação, fundamental à consolidação de um senso de
identidade. Enquanto na infância haveria um rompimento da dupla simbiótica,
para o desabrochar de um ser individual, na adolescência haveria a ruptura dos
vínculos de dependência com os pais e o investimento em objetos exteriores,
para a conquista da independência psíquica.
O autor afirma que este processo é naturalmente gerador de tensões e con-
flitos emocionais no jovem e que a necessidade de reestruturação emocional
ocorre mediante regressão, pois o processo de descatexia dos pais, para conse-
quente investimento em novos objetos, faz surgir no adolescente uma sensação
de instabilidade e estranhamento. O desenvolvimento normal ocasiona certo
grau de separação quanto às figuras parentais, enquanto que na patologia po-
dem configurar-se relacionamentos excessivamente dependentes ou, ao contrá-
rio, separações drásticas.
Vilete (1979), teorizando sobre a fase pré-edípica, refere que a separação
que a menina precisa fazer em relação ao seu primeiro objeto de amor, a mãe,
é especialmente permeada de sentimentos muito ambivalentes e conflituosos,
em virtude de um entrelaçamento intenso entre ambas. Na adolescência, estes
serão reeditados com semelhante intensidade. Desligar-se do vínculo fusionado
com a mãe é um processo vivido com muita ambivalência, pois amor e depen-
dência confundem-se. Por vezes, para conseguir individuar-se, a menina apóia-
-se em sentimentos negativos, usados para romper a forte ligação com a mãe e
vencer o medo de perdê-la.
Na primeira vez em que Rapunzel se arrisca a desobedecer às ordens da
mãe, há uma hesitação importante por sua parte. Diante do gesto de tocar o
solo proibido com a ponta dos pés, parece pressentir a mudança que o fato de
pisar um campo novo significa: o fim da pureza, da obediência cega e infantil,
o fim da ingenuidade (Kancyper, 2007)! Ao fazer isso, após uma breve, porém
intensa sensação de euforia pela experimentação da liberdade, observamos nela
um momento de grande conflito emocional, em decorrência da enorme ambi-
valência sentida. É um misto de muita alegria e excitação pela descoberta do
novo, contrabalanceados por fortes ideias de culpa, tristeza e autorrecriminação.
Esse efeito de confusão é típico dos momentos de crescimento da ado-
lescência, nos quais se mesclam as sensações do prazer pela conquista, com
o medo de frustrar e perder o amor dos genitores. Aventurar-se sem eles e
descobrir-se capaz, representa para o jovem uma traição aos pais e um não re-
conhecimento por seu amor e cuidado incondicional.

Rapunzel: - Não acredito que fiz isso! (repete várias vezes, com euforia).
Mamãe ficaria furiosa (ambivalente). Mas tudo bem. O que os olhos não veem, o

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coração não sente, certo? Puxa vida! Isso a mataria (muita culpa). É tão divertido
(muito empolgada)! Sou uma péssima filha. Vou voltar (tristeza). Eu nunca vou
voltar (extremamente alegre)! Sou uma pessoa desprezível (autorrecriminação).
O melhor dia da minha vida (excitação).

Aqui, ficam evidentes os sentimentos contraditórios em relação ao cres-


cimento, ao processo de separação-individuação e à desidentificação. Quanto
mais disfuncional e/ou grudada tiver sido a relação com os objetos primários,
mais intensos serão os sentimentos de culpa e tristeza e maior será o esforço
para romper com o equilíbrio narcísico até então alcançado (Blos, 1998).
Apesar de sofrido, o processo de desidentificação é fundamental para o
desenvolvimento da autonomia e individuação. Ocorre geralmente de forma es-
pontânea, mas pode requerer auxílio terapêutico, sobretudo quando envolver
identificações patogênicas e alienantes (Kancyper, 1994). A presença de Flynn,
testemunhando toda experiência intensa de Rapunzel, parece ter cumprido uma
função terapêutica importante. Ele acompanha, pacienciosamente, ela vivenciar
todas as emoções inerentes a este processo, para num segundo momento esta-
belecer com ela um diálogo que se mostra importante para que vá adiante no
seu processo de amadurecimento.

Flynn: - Não pude deixar de perceber que está em conflito.


Rapunzel: - O que?
Flynn: - Só estou pegando uns pedaços da história. Mãe super protetora,
viagem proibida... Isso é coisa séria. Mas deixe-me ajudá-la. Isso faz parte do
crescimento. Um pouco de rebelião e aventura é bom. Até saudável.
Rapunzel: - Você acha?
Flynn: - Eu sei. Está analisando demais isso, confie em mim. Sua mãe me-
rece isso? Não. Irá partir seu coração e esmagar sua alma? Claro. Mas precisa
fazê-lo.

Em outros momentos, veremos que Flynn seguirá fazendo esta função de


um terceiro que encoraja o crescimento. Obviamente, ele é percebido por Gothel
como uma ameaça à ruptura da díade fusionada. Portanto, quando Rapunzel co-
meça a crescer e ousa imaginar uma vida para além da mãe, esta não consente
seu movimento de autonomia, pois o desabrochar da filha equivale ao seu declí-
nio, ao envelhecimento de seu corpo. Gothel tenta manter a filha dependente,
eternamente menina e não mulher, como um recurso mágico para manter sua
juventude.
Conforme Kancyper (2007, p.750), o processo de identificação alienante
congela o psiquismo do sujeito, negando a passagem do tempo e capturando-o
num ‘para sempre’, através da perpetuação inconsciente de uma história alheia
e não elaborada que se repete a cada geração. O processo de desidentificação
constitui “a condição que possibilita liberar o desejo e construir o futuro”.

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Há uma passagem, em uma cena em que Flynn e Rapunzel vão a um bar,
em que ela se impressiona pela primeira vez com seu poder de encantamento e
sedução, colocando em cena sua feminilidade e ensaiando-se num papel mais
ativo, típico da adolescência. Começa a haver uma relação de maior intimidade
entre ambos personagens, com o início do despertar do interesse sexual. É tam-
bém o momento em que a adolescente expõe sua magia para alguém que não é
a mãe, usando pela primeira vez o poder de seus cabelos, guiada por seu próprio
desejo, para curar uma ferida de Flynn.
É nesta hora que Gothel encontra a filha, a qual fica surpresa e confusa com
o reencontro com a mãe. Ela abraça Rapunzel e diz, de modo sarcástico, como
a encontrou:

Gothel: - Só ouvi o som de sua total traição e o segui.

Rapunzel empolgada tenta explicar que está em uma viagem incrível. Diz
que acha que Flynn gosta dela, ao que sua mãe responde:

Gothel: - Gosta de você? Por favor, Rapunzel, isto é loucura! Porque ele
gostaria de você? Olhe para você. Não seja boba, vem com a mamãe.
Rapunzel: - Não!
Gothel: - Não?

Este é o primeiro “não” que Rapunzel diz à mãe, ousando sustentar suas
vontades e confrontá-la, o que faz com que Gothel comece a retaliar a filha. Esta
cena evidencia também os aspectos mais invejosos da mãe, que passa a desejar
o fracasso de Rapunzel, para confirmar a sua dependência a ela.

Gothel: -Vingança é um prato que se come frio.

Kancyper (1994) afirma que, para que venha a ser ele mesmo e deixe de ser
através dos pais, o jovem precisa abandonar as imagos idealizadas de seus pro-
genitores, e buscar ideais em outras figuras, no mundo exogâmico. Isto, contu-
do, é um processo dolorido e culposo, pois requer que o adolescente se distancie
das identificações parentais e de seu ideal de ego, que até então constituíam
sua principal fonte de segurança. Exige, também, que encontre identificações
substitutas e novas referências, entre amigos e ídolos, para que o eu encontre
uma proteção frente ao vazio e ao desinvestimento parental e, assim, seja capaz
de desgarrar-se do que constituiu, até então, um pedaço de si mesmo.
Nesta hora, o sentimento de morte e de traição sentidos por Gothel em
função da quebra narcísica são preponderantes. Conforme vimos até aqui, a
desidentificação é um movimento que “põe à prova a estabilidade dos sistemas
narcisistas nos planos intrassubjetivo e intersubjetivo” (Kancyper, 1994, p.88).
Isto ocorre, pois a regulação narcisista da relação pais-filhos, que até então se

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mantinha através da imagem do filho idealizado e messiânico e dos pais salva-
dores e hipervalorizados, passa a ser alterada, rompendo com a ilusão de atingir,
através da fusão, o amor eterno.
Rapunzel, mesmo confusa, dá seguimento a sua jornada. Quando chega
à cidade, vê uma imagem da princesa perdida quando bebê e, nessa contem-
plação, parece expressar um misto de familiaridade e estranhamento, embora
somente venha a desvendar o mistério que aquilo lhe suscita mais tarde. Aqui
podemos pensar no conceito de conhecido não-pensado, de Cristopher Bollas
(1992), o qual diz respeito às primitivas sensações compartilhadas das relações
infantis, que foram reprimidas e não ganharam representação mental, mas que
se referem ao âmago do que há de mais verdadeiro no núcleo da nossa persona-
lidade. É o idioma sem palavras singular compartilhado com a mãe antes mes-
mo de reconhecê-la como objeto inteiro, e que permitem a sensação especial
de existência e unidade. É o que nos é inerente, como uma força coercitiva que
une passado e futuro.
Antes que a criança pequena seja capaz de representações mentais,
topograficamente significativas (envolvendo a repressão secundária e os processos
pré-conscientes), ela já ‘tem conhecimento’ dos fundamentos básicos da vida
humana e, particularmente, da sua vida. (Bollas, 1992, p. 338)
Deste modo, podemos entender que quando Rapunzel pintava repetida-
mente no seu quarto imagens que produziam certa sensação de familiaridade e
estranheza, representava o conhecido não-pensado, que esforçava-se de modo
estético para ganhar passagem em sua mente e transformar-se em conhecido e
pensado. A busca incessante por esse objeto primevo permite guiar as transfor-
mações profundas e harmônicas de nosso self.
Após, ao divertir-se no Reino e experimentar um senso de liberdade por ela
até então desconhecido, Rapunzel é levada por Flynn a um barco para assistir
às lanternas flutuantes de perto. Entretanto, expressa seu temor diante da pro-
ximidade da realização de seu desejo. Mais uma vez, Flynn estabelece com ela
um diálogo terapêutico.

Flynn: -Está bem?


Rapunzel: -Estou morrendo de medo.
Flynn:-Por quê?
Rapunzel: -Olho pela janela há 18 anos, sonhando sobre como deve ser
quando as luzes sobem ao céu. E se não for tudo o que eu sonhei?
Flynn: -Será.
Rapunzel: -E se for? O que eu farei?
Flynn: -Acho que é a melhor parte. Vai procurar um novo sonho.

Em uma das cenas mais emocionantes do filme, Rapunzel assiste atônita à


beleza estética das luzes que sobem aos céus. A melodia que segue envelopa
essa experiência:

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Tantos dias olhando das janelas
Tantos anos presa sem saber
Tanto tempo nunca percebendo
Como tentei não ver?

Mas aqui à luz das estrelas


Bem aqui, vejo o meu lugar
Sim é que consigo sentir
Estou onde devo estar

Vejo enfim a luz brilhar


Já passou o nevoeiro
Vejo enfim a luz brilhar
Para o alto me conduz

E ela pode transformar


De uma vez o mundo inteiro

Tudo é novo, pois agora eu vejo


É você a luz

Rapunzel fala de uma verdadeira transformação interna, sinalizando uma


mudança psíquica. Parece pela primeira vez sentir-se real e ver o mundo através
de seus olhos: a visão de Rapunzel, não mais minada pelos mandatos de Gothel
que, como nevoeiros, cegavam sua possibilidade de enxergar por si mesma.
Parece finalmente sentir e conectar-se com o que o que havia de mais genuíno
dentro dela. Espera-se que ao longo do desenvolvimento a criança constitua-se
como um ser independente, separado e diferenciado da mãe e do ambiente, ad-
quirindo uma autoimagem unificada. Ele implica na criança confrontar-se com
o término da simbiose com a mãe e viver uma nova experiência de nascimento,
sendo fundamental para o desenvolvimento e manutenção de um senso de iden-
tidade (Mahler, 1977).
Kancyper (1999) afirma que o que leva o indivíduo a uma adaptação alie-
nante é o regime narcisista parental de apropriação-intrusão, em que os pais
apresentam-se como objetos excessivamente presentes (que invadem por não
se ausentarem nunca), que se apropriam das qualidades do filho. Além disso,
que o incumbem de cumprir uma missão singular: a de realizar os seus ideais
narcisistas frustrados e encarregar-se daquilo que não conseguiram alcançar. O
submetimento, por parte da criança, poderia ser decorrente do medo de perder
o amor dos pais e de não ser reconhecido e olhado de outra forma. Podemos
aqui pensar que o enclausuramento próprio da relação entre Rapunzel e Gothel
nunca permitiu um movimento de ir e vir da filha em relação à mãe. Ela sempre

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esteve ali. Raramente se ausentava e, quando o fazia, fica evidente a vivência da
separação como uma ameaça, equivalente à própria morte.
Rapunzel e Flynn, após verem emocionados as luzes flutuantes, quase se
beijam, nitidamente apaixonados um pelo outro. Mas ele avista seus inimigos
em terras próximas e resolve ir até eles para entregar a tiara que havia roubado e
que motivava, até aqui, sua perseguição. Os vilões, contudo, não mais queriam
este objeto de valor. Queriam a garota dos cabelos mágicos. Rendem Flynn, o
amarram no mastro de um barco, enviando-o para longe. Rapunzel é rendida
pelos bandidos, mas é resgatata pela sua mãe, que esclarece que, preocupada,
estava seguindo ela. Perplexa com a situação, Rapunzel avista Flynn aparente-
mente indo embora em um barco e pensa que foi traída. A mãe abre seus braços,
ao que Rapunzel se rende em meio às lágrimas, confirmando que ela tinha razão
sobre tudo que disse, e a mãe a leva novamente consigo para a Torre, sugerindo
que apenas esqueçam-se de tudo.

Gothel: - Tentei te avisar... O mundo é cruel, egoísta e sombrio, qualquer


sinal de alegria que encontra, ele destrói!

O fim da ingenuidade e o reordenamento simbólico

Rapunzel está profundamente deprimida. Deitada no seu quarto, olha para


as imagens que pintou no teto de seu quarto e, nesse momento, as ressignifica
com as novas experiências, sendo capaz de acessar sua história. Remete-se a
uma memória precoce de um sol que ficava em seu quarto de bebê e de seus
verdadeiros pais, olhando para ela no berço. Pais cujos semblantes são iguais à
pintura dos reis com o bebê no colo que a havia intrigado anteriormente, no seu
passeio ao Reino. Rapunzel, tremendamente assustada, se dá conta de que a
princesa perdida é ela e de que Gothel não é sua verdadeira mãe.
Aqui, o conhecido não-pensado (Bollas, 1992), relacionado ao mistério ar-
caico de sua existência, ao enigma de suas primeiras vivências relacionais com
a mãe que pulsavam em suas manifestações artísticas passam a ser representa-
das e adquirem status de pensamento, permitindo uma reintegração e transfor-
mação do seu self. Ao mesmo tempo,
a memória da ressignificação, “essa centelha da alma” abre, em um momento
inesperado, as portas do esquecido e a saída a uma vulcânica emergência de um
caótico conjunto de cenas traumáticas que tem sido largamente suprimida e não
significadas durante anos e inclusive gerações (Kancyper, 2007, p.18 e 19).
Chegar ao fim da ingenuidade, conforme percebemos nesta situação com
Rapunzel, representa o que até foi dado como certo e não questionado, e, por-
tanto, era incorporado de maneira ingênua e passiva. “Denota a inocência de
quem nasceu em um lugar no qual não tenha se movido, portanto, carece de ex-
periência” (Kancyper, 2007, p.22). É o descobrimento de um evento enigmático

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e até então incompreensível que permite um a posteriori sobre a própria historia
do sujeito, que passa a ver tudo com um novo sentido. Ao viver a confrontação
necessária com o seu depositário, afronta o outro com aquilo que não pôde
confrontar-se, desestruturando-o.
Conforme Manonni (1994, p.175), “sendo inconsciente a identificação, é im-
possível torná-la consciente de outro modo que não seja desidentificando-se”.
Deste modo, então, verifica-se a importância da desidentificação para que o su-
jeito enfim seja liberado de uma história que o aliena. Para que consiga desalie-
nar-se, será preciso que utilize uma quota de agressividade para diferenciar-se
e conquistar o status de um indivíduo separado, com vida própria.
Quando Gothel retorna à torre, é confrontada por Rapunzel. A mãe tenta
desmentir o que a jovem diz, mas surpreende-se ao vê-la forte e convicta:

Rapunzel: -Sou a princesa perdida, não sou? Eu resmunguei, mamãe? Será


que devo chamar você assim? Foi você então, o tempo inteiro...
Gothel: -Tudo o que eu fiz foi para proteger você.
Rapunzel: -Passei a minha vida inteira me escondendo das pessoas que
me usariam pelos meus poderes, quando na verdade deveria ter me escondido
de você! [...] Você errou sobre o mundo e errou sobre mim! E eu nunca vou deixar
usar meu cabelo outra vez!
Gothel: -Quer me transformar na vilã? Assim seja, então eu sou a vilã...

É interessante observar que nesta cena, o espelho do quarto de Rapunzel


se quebra quando ela empurra a mãe. Aqui, podemos pensar na metáfora do
rompimento efetivo da relação narcísica entre ambas. Flynn consegue fugir da
prisão onde estava sendo mantido cativo e chega à torre para resgatar Rapunzel
de Gothel. Sobe através dos cabelos da adolescente, para então encontrá-la
amordaçada e presa. É, então, esfaqueado por Gothel.

Gothel: -Olha o que você fez Rapunzel. Não se preocupe querida, nosso
segredo morrerá com ele. Quanto a nós, iremos para onde ninguém poderá nos
encontrar... (um porão escondido).

Rapunzel reluta em ir com a mãe raptora.

Gothel: -Rapunzel, francamente, pare de lutar!


Rapunzel: -Não vou parar! A cada minuto do resto de minha vida, eu vou
lutar e nunca vou desistir de tentar fugir de você. Mas eu vou com você sem
reclamar se me deixar salvá-lo, só me deixe curá-lo e vou voltar com você como
era antes... É uma promessa!

Flynn não aceita a ajuda de Rapunzel, pois entende que quem morrerá com
essa promessa é ela. Ele, então, num só golpe corta os cabelos dela, que escu-

Paula Kern Milagre; Vanessa Giaretta Ȋ Enrolados: uma visão psicanalítica sobre a versão de Rapunzel da Disney Ȋ 87
recem na mesma hora, perdendo sua magia. Neste exato momento, sua mãe en-
velhece, enlouquece, cai da torre e morre, virando pó. Na fantasia adolescente,
muitas vezes desidentificar-se dos pais equivale à perda do objeto de amor e à
consumação do parricídio (Kancyper, 1994), o que é expresso no filme de forma
concreta através da morte de Gothel.
Rapunzel chora sobre Flynn e sua lágrima se ilumina ao tocar a face dele,
curando-o. Eles se beijam. Por amor, ambos se salvam. Podemos pensar que o
corte do cabelo de Rapunzel representa a ruptura simbólica do vínculo simbi-
ótico entre ela e a mãe, para o advir do seu nascimento psicológico e de sua
reorganização identitária.

“Ao dar morte à imortalidade, condiciona-se o nascimento do eu”


Kancyper (1990, p.102)

Referências

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Bollas, C. (1992). A sombra do objeto. Psicanálise do conhecido não-pensado. Imago: Rio de
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Chatelard , D. & Cerqueira , A. (2015). O conceito de simbiose em psicanálise: uma revisão
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