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Prática como componente curricular V:

Ensino de poesia em Língua Inglesa


Encontro 3 (31/08/23)

Profa. Ma. Isabela Feitosa


É possível trabalhar com o poema lido em uma turma de Ensino
Médio? Se sim, como?

Sequência Básica (COSSON, 2007):

Motivação/warm up
Introdução
Leitura
Interpretação

Outras possibilidades?
Consolo Na Praia - Carlos Drummond de Andrade (1945)

Vamos, não chores. Algumas palavras duras,


A infância está perdida. em voz mansa, te golpearam.
A mocidade está perdida. Nunca, nunca cicatrizam.
Mas a vida não se perdeu. Mas, e o humour?

O primeiro amor passou. A injustiça não se resolve.


O segundo amor passou. À sombra do mundo errado
O terceiro amor passou. murmuraste um protesto tímido.
Mas o coração continua. Mas virão outros.

Perdeste o melhor amigo. Tudo somado, devias


Não tentaste qualquer viagem. precipitar-te, de vez, nas águas.
Não possuis carro, navio, terra. Estás nu na areia, no vento...
Mas tens um cão. Dorme, meu filho.
Poesia na sala de aula: por quê? - Hélder Pinheiro

De todos os gêneros literários, provavelmente, é a poesia


o menos prestigiado no fazer pedagógico da sala de aula.
(PINHEIRO, 2018, p. 11)
Dificuldades que os professores apontam no trabalho com o poema

Os problemas relativos à aplicação da poesia são inúmeros e


diversos. Dentre elas destacamos:

“Como interpretá -la”, “como entendê-la”, “como compreender


algumas passagens”, “dificuldade de analisá-la”, “de captar a
mensagem”, “falta de intimidade”, “como interpretar algumas
frases em sentido figurado”, “não saber ler em voz alta”.
(PINHEIRO, 2018, p. 12)
A função social da poesia

Diante do quadro acima exposto, cabem duas perguntas: vale a


pena trabalhar a poesia em sala de aula? Qual a função social da
poesia?

É evidente que vale a pena trabalhar a poesia na sala de aula. Mas


não qualquer poesia, nem de qualquer modo. Carecemos de critérios
estéticos para a escolha das obras ou para a organização de
antologias.

(PINHEIRO, 2018, p. 12)


A função social da poesia

É necessário muito cuidado com o material que chega ao aluno


através do livro didático. Com relação aos livros dos anos iniciais
do ensino fundamental, há uma tendência a privilegiar o jogo pelo
jogo, deixando de lado o sentido. O jogo muitas vezes cai no pueril,
na pseudocriatividade. Cremos que o jogo sonoro deva ter um
suporte significativo… (PINHEIRO, 2018, p. 15)
What sort of literature is suitable for use with language learners? The criteria
of suitability clearly depend ultimately on each particular group of students,
their needs, interests, cultural background and language level. However, one
primary factor to consider is, we suggest, whether a particular work is able
to stimulate the kind of personal involvement we have just described, by
arousing the learners’ interest and provoking strong, positive reactions from
them. If it is meaningful and enjoyable, reading is more likely to have a
lasting and beneficial effect upon the learners’ linguistic and cultural
knowledge. It is important to choose books, therefore, which are relevant to
the life experiences, emotions, or dreams of the learner. Language difficulty
has, of course, to be considered as well. Because they have both a linguistic
and a cultural gap to bridge, foreign students may not be able to identify
with or enjoy a text which they perceive as being fraught with difficulty
every step of the way. In the absence of curriculum or exam constraints, it is
much better to choose a work that is not too much above the students’
normal reading proficiency. (p.8)
Temáticas sociais na graduação

Textos que discutam preconceitos sociais, étnicos e questões de


gênero suscitam debates às vezes calorosos e podem contribuir
para a formação humana dos leitores. Nessas situações,
costumamos sugerir o trabalho com diferentes gêneros literários e
até com outras artes, como filmes, vídeos e documentários. O
diálogo entre os diferentes textos ajuda a perceber e compreender
também a especificidade do texto em verso.
(PINHEIRO, 2018, p. 16)
T. S. Eliot (1991), num ensaio intitulado A função social da poesia,
faz reflexões de grande atualidade, que nos ajudam a refletir
sobre o lugar e o alcance da poesia na formação de leitores.
Para o poeta, a função essencial da poesia está em que
“possamos nos assegurar de que essa poesia nos dê prazer"
(grifo nosso).
Bons poemas, oferecidos constantemente (imaginamos pelo
menos uma vez por semana ler um poema com os alunos, sem
nenhum objetivo pragmático), mesmo que para alunos refratários
(por não estarem acostumados a esse tipo de prática), têm
eficácia educativa insubstituível. (PINHEIRO, 2018, p. 16)
Para além de qualquer intenção específica que a poesia possa ter,
(...) há sempre comunicação de alguma nova experiência, ou uma
nova compreensão do familiar, ou a expressão de algo que
experimentamos e para o que não temos palavras – 0 que amplia
nossa consciência ou apura nossa sensibilidade (Eliot, 1991: 29)

A experiência que o poeta nos comunica, dependendo do modo


como ela é transmitida ou estudada, pode possibilitar (ou não) uma
assimilação significativa pelo leitor. o poeta diz – e o que diz – ou
comunica sua experiência permite um encontro íntimo entre
leitor-obra que aguçará as suas emoções e sua
sensibilidade.(PINHEIRO, 2018, p. 17-18)
“A poesia difere de qualquer outra arte por ter um valor para o povo
da mesma raça e língua do poeta, que não pode ter para nenhum
outro“ (Eliot, 1991: 29). Não se trata aqui de buscar, com a leitura
de poemas, aprofundar o conhecimento da língua, caindo
novamente no pragmatismo. Mas então por que dar toda essa
importância à poesia? Ora, porque

a poesia tem a ver fundamentalmente com a expressão do


sentimento e da emoção; e esse sentimento e emoção são
particulares, ao passo que o pensamento é geral. É mais fácil
pensar do que sentir uma língua estrangeira (Eliot, 1991: 30).
Talvez bastassem essas afirmações para pensarmos com mais
cuidado no trabalho com a poesia. Mais do que isso, pensarmos
na sequela que resulta do não acesso de milhares de alunos
a poemas significativos da nossa tradição literária.

A função social da poesia [...] não é mensurável segundo


modelos esquemáticos de avaliação escolar. É uma
experiência íntima que muitas vezes captamos pelo brilho do
olhar de nosso aluno na hora de uma leitura, pelo sorriso,
pela conversa de corredor. (p. 18)
Condições (indispensáveis) para trabalhar com poesia

Tendo em vista que a poesia é, entre os gêneros literários,


dos mais distantes da sala de aula, a tentativa de
aproximá-la dos alunos deve ser feita de forma planejada.
Deve-se pensar que atitude se tomará, que cuidados são
indispensáveis e, sobretudo, que condições reais existem
para a realização do trabalho. (p.21)
Condições (indispensáveis) para trabalhar com poesia

A PRIMEIRA CONDIÇÃO indispensável é que o professor seja


realmente um leitor com uma experiência significativa de leitura.

Sem um mínimo de entusiasmo, dificilmente poderemos sensibilizar


nossos alunos para a riqueza semântica da poesia.
Condições (indispensáveis) para trabalhar com poesia

A SEGUNDA CONDIÇÃO é haver sempre uma pesquisa sobre os interesses


de nossos alunos.

[...] mesmo tendo uma visão do universo de interesse de nossos alunos,


nada garante que eles serão conquistados para a poesia.

Não é aconselhável ficar apenas nos temas que foram sugeridos por eles.
Às vezes, temas “pesados” – como a guerra, a violência –
possibilitam experiências riquíssimas...
Portanto, o recurso da pesquisa é indispensável como recolha de dados
para iniciar o trabalho, mas a experiência não deve se esgotar neles.
Condições (indispensáveis) para trabalhar com poesia

Nunca será demais repetir que os hábitos só se formam através da


atividade regular. Mais importante do que toda a atividade
baseada em livros, mais importante do que a melhor discussão, é a
própria leitura. É preciso se tornar um princípio o pensamento de
que é melhor ler por quinze minutos todos os dias do que meia hora
um dia sim, outro não. É melhor ler meia hora um dia sim, outro não, do
que ler uma hora por semana, e assim por diante. A prática regular é
a precondição para a formação do hábito. (BAMBERGER, 1986, p.
70)
Condições (indispensáveis) para trabalhar com poesia

Embora hoje não se fale mais de forma tão enfática em hábito de


leitura e mais em formação de leitores, fica a sugestão de que é
no cotidiano que se planta o gosto pelo texto. Algo que exige
trabalho, planejamento, disposição e compromisso com a
educação. (p. 28)
RELATO DE EXPERIÊNCIA DO MANUEL ALBUQUERQUE

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