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ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL

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ESTUDO

OS CINCO PONTOS DO
CALVINISMO

Introdução

Na reunião que ocorreu na cidade de Dort na Holanda, cerca de cinqüenta anos após a morte de Calvino (1614),
alguns sucessores dos reformadores estabeleceram cinco verdades fundamentais da fé cristã, que ficaram conhecidas
como os Cinco Pontos do Calvinismo.
O nome calvinismo foi em princípio um rótulo pejorativo criado pelos opositores da fé reformada. Os herdeiros da
Reforma, contudo, aceitaram de bom grado esse apelido, reconhecendo nele um conjunto de doutrinas embasado no
princípio da dependência total do ser humano na livre graça de Deus para a salvação.

1. Um Pouco de História

João Calvino

João Calvino (1509-1564) era francês e filho de um tabelião, que servia ao bispo de Noyon. Devido à atmosfera
religiosa, seu pai o encaminhou para estudar teologia na Universidade de Paris. Posteriormente, por causa de uma
controvérsia entre seu pai e o bispo, ele foi conduzido a estudar advocacia, a fim de defender a causa e interesses do
pai. Estudou em Orléans e em Bourges, onde se tornou protestante.
Com a morte do pai, retornou a Paris e envolveu-se com toda problemática religiosa. Dirigiu-se à Itália e,
posteriormente, à Genebra-Suiça, onde fixou-se. Nesta cidade, publicou aos 26 anos de idade, as Institutas da Religião
Cristã (1536), que representa o grande marco da teologia e da doutrina reformadas e presbiterianas. Essa obra passou
por cinco edições, expandindo-se a partir de um pequeno volume com seis capítulos até atingir uma volumosa obra
com setenta e nove capítulos.
Além disso, Calvino escreveu comentários sobre 23 livros do AT, sobre todos os livros do NT, exceto o
Apocalipse, assim como panfletos devocionais, doutrinários e de polêmica. Através da disseminação das suas obras,
seus pensamentos teológicos, sociais e políticos têm influenciado cristãos e não-cristãos desde o século XVI.
Como pastor e administrador da cidade de Genebra, ele fundou uma academia que produziu grande influência
na Europa. A Academia de Genebra oferecia ensino gratuito para as crianças e também cursos superiores, sendo
medicina e teologia os principais. Além da vanguarda de disponibilizar ensino público, Calvino implantou meios para
melhoria de renda, serviço médico a domicílio, banheiros públicos e leis que refletiam princípios da bíblia.
Na verdade, Calvino foi o grande sistematizador da Reforma, pois reuniu a doutrina bíblica como nenhum outro
homem fez. Foi eminentemente um teólogo bíblico, tendo utilizado seus conhecimentos humanísticos e jurídicos em
favor de uma abordagem de interpretação gramático-histórica da Bíblia, deixando de lado a alegorização (interpretação
figurada), a espiritualização e a moralização para a interpretação.

Jacobus Arminius

Jacobus Arminius (1560-1609) foi um professor e pastor holandês. Sua educação se deu nas universidades de
Marburg (1575) e Leiden (1576-1581), na Academia de Genebra (1582, 1584-1586) e na Universidade da Basiléia
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(1582-1583). Posteriormente, pastoreou uma congregação em Amsterdã (1588-1603) e atuou como professor na
Universidade de Leiden a partir de 1603 até a sua morte em 1609.
Arminius não escreveu uma teologia sistemática completa, mas tornou-se conhecido por se posicionar
contrariamente a algumas doutrinas defendidas por Calvino. deixou como legado um conjunto numeroso de escritos
teológicos, produzidos desde 1588 até a sua morte. Como destaque, tem-se:

1. Tratado sobre Romanos 7: onde interpreta os versículos 7-25 como o retrato de uma pessoa despertada, mas
não regenerada.i
a. Tratado sobre Romanos 9: nesse texto, ao contrário dos calvinistas que interpretam o texto ensinando a
predestinação incondicional, Armínius interpretou como predestinação condicional.
b. Exame do Panfleto de Perkins: oferece uma resposta em termos de predestinação condicional como refutação
à opinião do inglês William Perkins.
c. Declaração de Sentimentos: uma argumentação apresentada às autoridades do governo em Haia, onde
refuta a opinião de que o destino de cada ser humano foi determinado de forma inexorável por Deus antes
da queda de Adão, e outras publicações.

Os ensinos de Arminius foram assimilados por Wesley, fundador do metodismo, pelas igrejas da Santidade
(holiness), pelo Exército de Salvação, pelos nazarenos, pelos batistas, vários ramos pentecostais, pelos assembleianos
etc. Arminius reconhecia as Escrituras como autoridade suprema para a formulação das doutrinas e ensinava que a
justificação é somente pela graça, não havendo nada de meritório na fé que a ocasione. Uma das suas doutrinas
distintivas é a respeito da predestinação, afirmando que a predestinação da parte de Deus é salvar aqueles que se
arrependem e crêem (predestinação condicional). Muitas afirmativas creditadas aos arminianos são opiniões
erroneamente atribuídas ou mal compreendidas. Por exemplo, o arminianismo não é teologicamente liberal, nem
tampouco é uma mistura de fés não cristãs. Um arminianista é um evangélico, mas com sérias doutrinas diferentes do
calvinismo.

2. Calvinismo Versus Arminianismo

A Controvérsia

Considerando que a maioria das igrejas protestantes da Europa subscrevia os artigos das confissões de fé
Belgaiie de Heidelbergiii que eram calvinistas, os adeptos dos ensinamentos de Arminius formularam em 1610, um
elenco de cinco princípios doutrinários como forma de protesto, perante o parlamento holandês, fazendo oposição à
doutrina reformada.

Um Sínodo da Igreja Holandesa foi convocado para se reunir em Dort no ano de 1618. Durante sete meses, em
154 sessões, os cinco pontos formulados pelos arminianos foram examinados à luz da Bíblia. O resultado obtido
demonstrou que eles eram irreconciliáveis com a Palavra de Deus. Daí, surgiu como contraponto os Cinco Pontos do
Calvinismo.

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2.1 Primeiro Ponto

Calvinismo Arminianismo
Ponto 1 Ponto 1
Depravação Total Livre Arbítrio ou Capacidade Humana

O estado natural do homem é de total O homem, embora debilitado pela queda, não é
depravação, havendo total incapacidade do totalmente incapaz de escolher o bem espiritual
homem para obter ou contribuir a favor de sua e pode exercer fé em Deus de forma a receber o
própria salvação. evangelho e assim tomar posse da salvação
para si mesmo.
Textos bíblicos que fundamentam a doutrina reformada
Rm 5.12; II Tm 2.25-26; Mc 4.11-12; I Co 2.14; Sl 51.5; Gn 6.5; Jó 14.4; Jr 13.23; Ef. 2.1.

Considerações
Como conseqüência da queda, o ser humano está espiritualmente morto (Ef 2.1), sendo, portanto, incapaz de
pelo seu próprio esforço crer no Evangelho. Devido ao pecado, sua vontade está escravizada e impedida de tomar
decisão sábia na esfera espiritual (Ef 2.2). Segundo Steele e Thomasiv “É preciso mais do que simples assistência do
Espírito para se trazer um pecador a Cristo. É preciso a regeneração, pela qual o Espírito vivifica o pecador e lhe dá
uma nova natureza. A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a salvação, mas é ela própria parte do dom divino
da salvação. É o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus.”

2.2 Segundo Ponto

Calvinismo Arminianismo
Ponto 2 Ponto 2
Eleição Incondicional Eleição Condicional

Aqueles da humanidade que são predestinados Deus elegeu aqueles que previa quererem ser
para a vida, Deus, antes de assentar a fundação salvos por seu próprio arbítrio e em seu estado
do mundo, de acordo com o seu propósito natural caído.
eterno e imutável, e a deliberação secreta e o
prazer de sua vontade, escolheu em Cristo para
a glória eterna, por sua graça e amor, sem
qualquer outra coisa na criatura como uma
condição ou causa que o movesse a isso.

Textos bíblicos que fundamentam a doutrina reformada


Dt 7.7; Rm 9.11-13; Lc 4.25-27; Jo 15.16; Rm 9.21; Rm 9.15; Ef 1.4-5; Rm 8.29; Ef 2.10; At 13.48;
II Pd 1.10.

Considerações
A escolha divina das pessoas para a salvação, antes da fundação do mundo, é decorrente da soberania de
Deus. Esta escolha não foi baseada em qualquer mérito ou ação realizada pelo ser humano, tais como obediência,
piedade, fé ou arrependimento. Na verdade, Deus é quem dá a fé e o arrependimento a cada pessoa a quem ele
escolheu. Assim, todas as respostas de fé e de arrependimento que o ser humano apresenta são o resultado e não a
causa da escolha divina, isto é, a salvação não é a escolha que o pecador faz de Cristo, mas a escolha que Deus faz
do pecador.

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Desse modo, a eleição não foi determinada, nem condicionada e nem apoiada por qualquer qualidade ou ato
realizado pela pessoa, mas aqueles a quem Deus soberanamente elegeu, ele os traz, através do poder do Espírito, a
uma voluntária aceitação de Cristo (Steele e Thomas, p. 4)v.

2.3 Terceiro Ponto

Calvinismo Arminianismo
Ponto 3 Ponto 3
Expiação Limitada Redenção Universal ou Expiação Geral

Cristo morreu positiva e eficazmente para salvar Cristo morreu para salvar a todos os homens,
a um certo número de pecadores que mereciam mas só potencialmente. A morte de Cristo
o inferno, em quem o Pai já havia fixado seu permitiu a Deus perdoar os pecadores, porém
amor graciosamente e por eleição. sob a condição de que cressem.

Textos bíblicos que fundamentam a doutrina reformada


Rm 9.11; Ef 1.4; Jo 17.9; Mt 26.28; Ef 5.25; Rm 4.25; I Co 15.22; Is 53.11; Jo 6.37;

Considerações
Cristo morreu eficazmente (ação que salva definitivamente) apenas pelos eleitos, apesar do valor da sua vida ser
infinito. Ele mesmo substituiu na cruz todos os pecadores eleitos por Deus. Com a sua morte, Cristo concedeu,
mediante o Espírito Santo, o dom da fé como garantia da salvação. Sua morte tem poder para perdoar e salvar tantos
quantos Deus quiser, mas a eficácia dela recai apenas sobre os eleitos.

4.4 Quarto Ponto

Calvinismo Arminianismo
Ponto 4 Ponto 4
Graça Irresistível A Obra do Espírito Santo na Regeneração
Limitada pela Vontade Humana

Quando o Espírito Santo inicia a obra de trazer


Quando o Evangelho atinge uma pessoa eleita, uma pessoa a Cristo, ela pode resisti-lo
há, além de um chamado exterior, um chamado eficazmente e frustrá-lo em seus propósitos. O
interior realizado pelo Espírito Santo. Esse Espírito Santo não pode dar vida se o pecador
chamado do Espírito Santo é irresistível, não não estiver disposto a receber essa vida.
pode ser frustrado com uma rejeição.

Textos bíblicos que fundamentam a doutrina reformada


Jo 6.37; Jo 6.44; Jo 6.45; Rm 8.14; Gl 1.15; I Pd 2.9; I Pd 5.10.

Considerações
Através da pregação da Palavra, todos os pecadores, eleitos ou não, recebem uma chamada externa à salvação.
Porém, o Espírito Santo concede adicionalmente aos eleitos uma chamada especial interna, a qual de forma inevitável
os conduz à salvação. Enquanto a chamada exterior pode ser recusada, a interior não pode ser rejeitada, resultando
sempre em conversão. É um convite irrecusável, decorrente de uma graça que é invencível. Assim, esta chamada
interna não é, por um lado, limitada em sua aplicação pelo ser humano, nem, por outro lado, cooperada por ele.

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4.5 Quinto Ponto

Calvinismo Arminianismo
Ponto 5 Ponto 5
Perseverança dos Santos Cair da Graça

Aqueles a quem Deus aceitou no Amado, O homem salvo pode perder a salvação.
eficazmente chamados e santificados por seu
Espírito, e a quem deu a fé preciosa de seus
eleitos, não podem cair total ou cabalmente do
estado de graça, mas certamente perseverarão
nela até o fim, e serão eternamente salvos, visto
que os dons e chamados de Deus são
irrevogáveis.

Textos bíblicos que fundamentam a doutrina reformada


Rm 8.29-31, 38-39; Fp 1.6; Jo 6.39; Jo 10.28; Rm 5.10; Rm 8.1; Rm 8.28-39.

Considerações
Todas as pessoas escolhidas por Deus recebem do Espírito Santo a fé e são salvas. Isto é um processo
irreversível. O processo que acontece é chamado por Paulo de adoção.(Gl 4.5; Ef 1.5) Assim, uma vez adotados na
família de Deus através de Cristo, não existe a possibilidade de deixar de ser filho. Elas são guardadas e mantidas na
fé pelo poder de Deus, que é Todo Poderoso para guardá-las até o fim. Como a obra de Cristo na cruz foi completa,
não dependendo da contribuição humana, então não é preciso cooperação alguma para guardar a salvação. Mais
ainda, sendo Deus onisciente o perdão que é concedido é de toda uma vida, pois o futuro não está encoberto para Ele.
Logo o salvo em Cristo recebeu perdão pleno o que lhe concede perseverança segura da salvação.

Conclusão

Ao longo dos anos, a teologia sistematizada por Calvino sofreu, através dos seus seguidores, um
desenvolvimento nas suas idéias. Isso começou pelo próprio Calvino quando ampliou as idéias das Institutas originais.
O desenvolvimento continuou nas elaborações das várias confissões calvinistas (Catecismo de Heidelberg, Cânones
do Sínodo de Dort, Confissão de Fé de Westminster, Declaração de Savoy) e pelas considerações teológicas
concebidas por vários teólogos nos pontos que Calvino havia abordado vagamente ou se omitido.
Lembre sempre que não se trata de “inventar doutrina”, mas de fundamentações seguras de interpretações das
Escrituras. Fazer teologia é saber aplicar sabia e corretamente os princípios da Palavra revelada por Deus à realidade
que estamos vivenciando. Assim, a teologia continua sendo a vida da igreja.

Para Revisão

1. Quem foi João Calvino?


2. Quem foi Jacobus Arminius?
3. Qual é a origem dos Cinco Pontos do Calvinismo?
4. Qual o conteúdo resumido do calvinismo?
5. Qual o conteúdo resumido do arminianismo?

Para Discussão

1. Jacobus Arminius deve ser considerado um herético?


2. Que implicações trouxe o calvinismo para a vida econômica e social do Ocidente?

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Bibliografia
i
GRIDER, J. K. Jacobus Arminius. In: ELWELL, WALTER A. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã, vol. 1.
São Paulo: Vida Nova, 1988. p. 115.
ii
Composta em 1561 por Guido de Bres como uma apologia reformada dos cristãos perseguidos nos Países Baixos.
Forneceu o fundamento confessional para todas as Igrejas Reformadas Holandesas.
iii
O Catecismo de Heidelberg (1563) apresenta nos seus artigos, além das instruções para todas as idades e o
treinamento preparatório para a confirmação, uma declaração confessional. A questão da predestinação é abordada
na pergunta 54, onde é afirmada a eleição, porém sem a condenação e a expiação limitada.
iv
STEELE, David N. & THOMAS, Curtis C. The five points of calvinism - defined, defended, documented. Phillipsburg,
USA: Presbyterian & Reformed Publishing Co, s.d. p. 3.
v
Ibidem. p. 4.

Autores: Rubem Ximenes e Sérgio Lira

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