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Expediente
As opiniões expressas pelos autores nos artigos indivi-
duais não representam a orientação e pensamento da
direção da Revista O Malhete.
Amados Irmãos e família maçônica do Grande Oriente também com ensinamentos patrióticos, éticos e morais,
do Brasil. no interior destas Instituições Paramaçônicas.
Oportuno é o momento em que vivemos na Maçonaria Assim, cabe-nos conclamar nossos Veneráveis Mestres
Brasileira e em especial no Grande Oriente do Brasil, e Irmãos da Federação Gobiana, para que fomentem em
para que possamos fortalecer os laços que nos unem suas Lojas, atividades conjuntas com a família e
com a Família Maçônica e desenvolver os trabalhos em percebam o quanto isso vai beneficiar a Oficina e o
conjunto e o apoio às Entidades Paramaçônicas, este próprio cotidiano destas mesmas famílias, que pela
nosso braço filantrópico e de amor das Lojas e do globalização e o aumento desenfreado de envolvimento
próprio GOB, enquanto Potência Maçônica. Bem por com mídias e redes sociais, em especial, acabam por
isso, estamos focados e compromissados em fomentar diminuir o convívio pessoal e a própria interação no seu
atividades integradas no intuito de aproximar cada vez dia a dia.
mais nossas famílias do ambiente maçônico. Procure-nos para trazer para sua Oficina, núcleos da
Um dos nossos objetivos de gestão, para os próximos Frafem, APJ e de outras Entidades Paramaçônicas
anos, é desenvolver um ambiente saudável e dinâmico, tradicionais! Façam a diferença e permitam-se - a sua
dentro do Grande Oriente do Brasil, para receber e Loja agradecerá!
incluir nossos familiares nas atividades das Oficinas. O
Maçom, por natureza e princípios, tem a família como Fraternalmente,
alicerce da sua vida e ao introduzi-lá no ambiente da
Loja, nós não só aumentamos a força de trabalho em
favor da sociedade, mas também o incentivo da própria
família, na permanência do Irmão em sua Loja.
Conversando com Irmãos e Veneráveis Mestres que
possuem, no âmbito de suas Oficinas, a Frafem, APJ,
DeMolays, Arco Iris, Filhas de Jó, dentre tantas outras
entidades que apoiamos e fomentamos, praticamente
não há evasão significativa nestas Oficinas, pois o
maior incentivador para o Maçom manter o vínculo
com a sua Loja, é a própria família. Além da diminuição
da evasão maçônica, também é perceptível o aumento
das atividades filantrópicas e de apoio social aos menos
favorecidos, trazendo aos próprios familiares do
Maçom e em especial aos filhos e netos, um Ademir Cândido da Silva
desenvolvimento pessoal e espiritual imensurável, Grão-Mestre Geral
devido ao contato com aqueles menos favorecidos e Grande Oriente do Brasil
UMA VISITA AO TEMPLO INTERIOR
necessariamente irá andar conforme a sua vontade. Aqui
Podcast Ouça a matéria clicando aqui se ratifica que aos maçons somente se inicia qualquer obra,
após a abertura do Livro da Lei.
No segundo Vitral/Mosaico está escrito PIEDADE.
Por Irmão Dário Angelo Baggieri
Demonstração de amor ou afeto pelas coisas religiosas;
devoção. Compaixão pelo sofrimento de uma outra pes-
Amados irmãos, participando de uma cerimônia de batiza-
soa; misericórdia. A piedade nos dá a graça de saber enten-
do no interior do Santuário Paz e Bem, no Oriente de Vila
der o limite do nosso irmão. Todo sentimento de piedade
Velha-ES, me deparei com 7 vitrais na Coluna do Sul
baseia-se no sentimento primário do próprio indivíduo
daquele Templo de cunho Católico, que pelas suas peculi-
que o sente, porém pode-se sugerir que aquilo que seria
ares e estratégicas posições na caminhada em direção ao
doloroso a um indivíduo poderia não ser para outro. Ima-
Oriente, me levaram a uma reflexão simbólica e principal-
gina-se, portanto, que a piedade é o resultado da imagina-
mente filosófica, que me fomentaram a praticamente
ção somada à vivência de cada indivíduo. Não existe pie-
viajar em uma aventura muito prazerosa e enriquecedora.
dade sem amor, não existe piedade sem temor a DEUS. Na
Inicia-se no primeiro Vitral/Mosaico a assertiva
filosofia maçônica, a piedade é como um sentimento
TEMOR A DEUS. O temor a Deus é um sentimento de
fraterno que, ao proporcionar a identificação com o outro,
respeito e reverência praticada pela doutrina cristã, segun-
estabelece os primeiros laços que unem os homens entre
do previsto no livro de Hebreus da Bíblia Sagrada: "Por
si. Através da piedade, o homem maçom sofre no sofri-
isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a
mento do outro irmão, pois percebe que pode padecer dos
graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com
mesmos males. Cabe à imaginação ativar a piedade nesse
reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo. Ter
movimento de lançar-se para fora de si, e desse modo, a
temor a Deus significa reverenciá-lo e respeitá-lo como
piedade, apesar de natural, se manifestaria apenas após a
Criador e Salvador. Mas temer ao Senhor não é o mesmo
reflexão.
que ter medo ou pavor d'Ele; ao contrário, o temor do
Continuando a caminhada nos deparamos com o terce-
Senhor está diretamente ligado ao amor e a gratidão a Ele.
iro Vitral/Mosaico- CIÊNCIAS. Vemos aqui um despertar
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Provérbi-
para o respeito entre a fé e a ciência. Enquanto a ciência
os 9:10. Por isso, o escritor bíblico, também diz que o
ocupa-se com seu objeto específico de estudo, a filosofia
temor a Deus “consiste em aborrecer o mal; a soberba, a
Maçônica ocupa-se em tentar entender se esse objeto é
arrogância, o mau caminho e a boca perversa” (Provérbios
corretamente estudado, além de tentar aprimorar os
8:13). Então aquele que verdadeiramente teme a Deus
modos do fazer científico, a fim de proporcionar à ela, a de decisões. O conhecimento originado pela filosofia
maior validade racional possível. Filosofia e Ciência tem maçônica é um modo de interpretação da realidade que
entre si relações de proximidade no objetivo, no modelo diferencia-se de outras formas de conhecer. Ao contrário
de desenvolvimento das ideias e, também, de inspiração da sensibilidade, que é uma faculdade intuitiva, como
mútua. Se aproximam nos objetivos na medida que ambas comentamos anteriormente, na filosofia maçônica. O
as coisas pretendem explicar o funcionamento do mundo, entendimento é uma faculdade puramente discursiva, o
de modo que os cientistas se dedicam a estudar fenômenos que quer dizer que ele opera sobre objetos dados pela sen-
particulares específicos e os filósofos tendências gerais. O sibilidade. Ele é, pois, a faculdade de fazer juízos, expres-
modelo de desenvolvimento parte do mesmo princípio, a sos em proposições. Mas dentro de paradigmas que consi-
razão, sendo formas racionais de explicar os fenômenos deramos justos e perfeitos sob a ótica da doutrina. O
humanos e naturais, tendo a filosofia inspirado no desen- Entendimento é a base de todo relacionamento em qual-
volvimento da ciência e vice-versa. O Homem Maçom é quer Seara. É o Penúltimo degrau do amor fraternal.
um filósofo eminentemente científico. E por último nos deparamos com um Vitral/Mosaico na
O Quarto Vitral/Mosaico na caminhada aparece a Pala- entrada do oriente com a PALAVRA MAGICA-
vra FORTALEZA. Para o verdadeiro iniciado, essa pala- "SABEDORIA" que encerra em sua simbologia toda
vra tem ampla significação simbólica. Para desenvolver nossa caminhada. Salomão não pediu riquezas, exércitos,
sua força individual é imprescindível que o maçom tenha poder material, etc. pediu ao GADU a sabedoria. Deus
o conhecimento de si mesmo, à nível mental (virtudes e deu-lhe não apenas sabedoria, mas também um discerni-
defeitos, reações negativas e positivas) e físico (biológi- mento extraordinário e uma abrangência de conhecimento
co), e o conhecimento do mundo que o cerca (sociedade e tão imensurável quanto a areia do mar. A sabedoria de
natureza). Existe nos labores maçônicos uma conotação Salomão era maior do que a de todos os homens do oriente
diferente do mundo profano, mas com semelhanças nas e do que toda a sabedoria do Egito. (1 Reis 4 29-30)
propriedades simbólicas e especulativas. A Fortaleza pode A sabedoria começa na reflexão. Não confunda jamais
representar a qualidade do que é forte. A robustez ou, pro- conhecimento com sabedoria. Um o ajuda a ganhar a vida;
priamente, o vigor físico. Conceitualmente a Força é tam- o outro, a construir uma vida. Não há nada bom nem mau a
bém um agente físico capaz não ser estas duas coisas: a
de alterar o estado de repouso sabedoria que é um bem e a
de um corpo material. ignorância que é um mal.
Passemos então às especu- Ela está contida simboli-
lações. Dos três graus de uma camente na coluna JÔNICA e
Loja Simbólica ou classe de o sábio mestre diz que O
operários, qual é mais robus- tempo é como um rio… Você
to, ou necessita de maior nunca poderá tocar na mesma
vigor físico? Por óbvio, são os Aprendizes, pois estão nas água duas vezes, porque a água que já passou nunca passa-
pedreiras quebrando e transportando as pedras brutas. rá novamente. Aproveite cada minuto da sua vida e lem-
Mas a fortaleza não é somente física, também tem reflexo bre-se: nunca busque boas aparências porque não exis-
na espiritualidade, no emocional e também na religiosida- tem… Não procure pessoas perfeitas porque não exis-
de. tem… Mas busque, acima de tudo, alguém que saiba o seu
O Quinto Vitral/Mosaico aparece o vocábulo verdadeiro valor! Cada dia que amanhece assemelha-se a
CONSELHO. Diz o sábio mestre: A única coisa a fazer uma página em branco, na qual gravamos os nossos pensa-
com os bons conselhos é passá-los a outros pois nunca têm mentos, ações e atitudes. Na essência, cada dia é a prepara-
utilidade para nós próprios e escutai os conselhos de quem ção de nosso próprio amanhã.
muito sabe, mas especialmente os conselhos de quem Nossa caminhada não termina aqui nesse Orbe Terres-
muito vos ama. Os irmãos sábios nos ajudam com os seus tre, ela continua em outros parâmetros. A Evolução do
conselhos, através da voz da e de suas atitudes que dizem Espírito é eterna, contínua e nos exorta a sermos Melhores
mais do que mil palavras. A consciência do aprendizado, a cada dia, pois essa é a essência dos ensinamentos do divi-
nos falam ao nosso íntimo - e lhes damos a necessária no mestre Jesus. Sejamos verdadeiramente irmãos !!!!
importância, pois oferecem-nos as suas vivências. Apren-
damos a ouvir com a voz do coração.
O Sexto Vitral/Mosaico encontramos a base de Todas
as doutrinas Filosóficas e Herméticas, O
ENTENDIMENTO. Vocábulo tão sublime em nosso ver-
náculo, de uma profundidade ímpar. Do ponto de vista
filosófico, este conceito recebe o nome de intelecção ou
apreensão da realidade através do acesso à essência dos
fatos. O entendimento mostra a capacidade de discerni-
mento racional que potencializa a deliberação da tomada
GLMEES IMPLANTA PROJETOS VOLTADOS PARA O CUIDADO
E FORTALECIMENTO DO HOMEM MAÇOM E SUA FAMÍLIA
A Grande Loja Maçônica do Estado do Espí- das Lojas e estimular o saber maçônico, a
rito Santo (GLMEES) prepara para o próximo GLMEES está implementando a Escola de Estu-
dia 10 de agosto o lançamento de três importan- dos e Instruções Maçônicas a Distância. Entre
tes projetos voltados para o cuidado e fortaleci- os módulos que serão oferecidos está o seminá-
mento do homem Maçom e sua família. A apre- rio para Veneráveis Mestres.
sentação será na sede da GLMEES, em Vitória, Segundo o Sereníssimo Grão-Mestre Valdir
a partir das 19 horas, para Irmãos de todo o Esta- Massucatti, fortificar os Irmãos tornou-se ainda
do. mais necessário, após o período da pandemia.
Entre as iniciativas está o projeto Remar – Por isso, estão sendo realizadas iniciativas que
Rede de Relacionamentos Maçônicos - que visam a trabalhar sua autoestima e o orgulho de
busca estimular relacionamentos profissionais pertencer à Ordem maçônica.
entre os irmãos, cunhadas e sobrinhos, com
geração de negócios por meio de conexões que
gerem resultados em ganhos multilaterais.
Também será lançado o Clube de Descontos,
com oferta de vantagens descontos e benefícios
aos irmãos, cunhadas e sobrinhos por meio de
convênios celebrados entre a GLMEES e par-
ceiros.
SABER MAÇÔNICO
Com o objetivo de contribuir com a gestão
52ª Assembleia Geral Ordinária da CMSB
Ocorreu, entre os dias 12 e 15 de julho deste Internet para angariar fundos; e reconhecem a
ano de 2023, a LII Assembleia Geral Ordinária importância do investimento na juventude,
da CMSB, reunindo em Porto Velho, capital do através das ordens paramaçônicas, de modo a
Estado de Rondônia, os dirigentes das 27 Gran- colaborar para o futuro da sociedade.
des Lojas regulares brasileiras, neste que há Segue o imagem do referido documento:
décadas tem sido o maior evento maçônico de
todo o país.
Dentre as várias deliberações da assembleia,
elegeu-se uma nova diretoria para a confedera-
ção, agora dirigida pelo Secretário-Geral Edil-
son de Oliveira, PGM da Grande Loja Maçôni-
ca de Minas Gerais, com o auxílio de seu
Secretário-Geral Adjunto, Tito do Amaral,
PGM da Grande Loja Maçônica do Estado de
Goiás.
Nomeado e ratificado, o Irmão Bolivá Mar-
ques Vieira, PGM da Grande Loja Maçônica
do Estado do Maranhão, passa a responder
pelas Finanças, e o Irmão Lúcio Portela perma-
nece nas Relações Exteriores da CMSB.
Ainda, como parte do evento, foi elaborada
e aprovada pelos Grãos-Mestres a Carta de
Porto Velho, pela qual a CMSB se dirige a todo
o povo maçônico das Grandes Lojas brasilei-
ras, convidando-os a se engajarem, ainda mais,
em projetos educacionais, sociais e filantrópi-
cos. Ainda, alertam sobre o surgimento de orga-
nizações que usam o nome da Maçonaria na
VOLTAIRE - LIVRE PENSADOR E MAÇOM
exposto a uma variedade de discussões intelectuais,
Podcast Ouça a matéria clicando aqui incluindo as ciências populares e as obras de filóso-
fos como Pierre Bayle e John Locke.
Essas influências mais tarde se tornariam instru-
Descubra a intrigante conexão entre o mentais na formação de suas ideias filosóficas,
gênio do Iluminismo, Voltaire, e sua associ- enraizadas no ceticismo e na tolerância.
ação com a Maçonaria em seus últimos Apesar da insistência de seu pai para que ele
dias. seguisse a carreira de advogado, a verdadeira paixão
de Voltaire era escrever. Iniciou o seu percurso lite-
Infância e educação (1694-1711): rário com a composição da sua primeira tragédia, “
François-Marie Arouet, mais tarde conhecido Édipe ”, ainda na escola.
como Voltaire, nasceu em 21 de novembro de 1694, Sua paixão pela escrita e suas habilidades de pen-
em Paris, França. samento crítico tornaram-se evidentes em uma
Ele era o caçula de cinco filhos em uma família de idade jovem e mais tarde contribuiriam significati-
classe média e seu pai era funcionário do governo. A vamente para seu sucesso literário.
mãe de Voltaire faleceu quando ele tinha apenas sete
anos. Criado em uma família religiosa, ele recebeu Carreira Inicial e Prisão (1711-1718)
uma educação jesuíta no estimado Collège Louis-le- Após completar seus estudos, Voltaire seguiu
Grand, onde estudou retórica, filosofia e teologia. brevemente os desejos de seu pai e trabalhou como
Durante seu tempo no Collège, Voltaire foi secretário do embaixador francês na Holanda.
No entanto, logo abandonou a carreira diplomáti-
ca e voltou a Paris para seguir sua verdadeira voca-
ção de escritor. Exílio de Voltaire na Grã-Bretanha (1726-
Voltaire tornou-se conhecido por sua perspicácia 1728)
e abordagem satírica das questões sociais e políti- Após uma disputa contenciosa com o Chevalier
cas. Suas opiniões bem articuladas sobre religião, de Rohan-Chabot e um período de prisão na Basti-
governo e outros tópicos lhe renderam a reputação lha, Voltaire solicitou o exílio na Inglaterra como
de pensador destemido e influente. punição alternativa.
Infelizmente, suas críticas implacáveis às normas As autoridades francesas concordaram e, em
sociais e ao governo levaram à sua prisão na Basti- maio de 1726, Voltaire embarcou em uma jornada
lha em 1717. que influenciaria significativamente seu desenvol-
Voltaire foi acusado de difamação contra o regen- vimento intelectual.
te da França, Philippe II, duque de Orléans. Ele pas- Após sua chegada à Inglaterra, Voltaire se estabe-
sou quase um ano na prisão, período durante o qual leceu em Wandsworth e logo formou conexões com
escreveu sua peça trágica, “Oedipe”. Libertado em figuras proeminentes como Everard Fawkener .
1718, Voltaire rapidamente ganhou destaque como Mais tarde, mudou-se para Maiden Lane, Covent
dramaturgo e poeta. Garden, para ficar mais perto de seu editor.
Sua estada na Grã-Bretanha permitiu que ele se
Sucesso literário e defesa das liberdades civis envolvesse com mentes ilustres, como Alexander
(1718-1733) Pope, John Gay, Jonathan
Na década seguinte, Swift e Lady Mary Wor-
Voltaire alcançou um tley Montagu, entre
sucesso literário signifi- outros.
cativo, produzindo obras Voltaire foi especial-
de várias formas, incluin- mente cativado pela
do peças teatrais, poemas, monarquia constitucional
ensaios, obras históricas e britânica, que contrastava
tratados científicos. fortemente com o absolu-
Seu talento multiface- tismo da França. A maior
tado o ajudou a emergir liberdade de expressão e
como uma das principais religião da Grã-Bretanha
figuras literárias do Ilumi- o impressionou profunda-
nismo francês. Retrato de Isaac Newton (1642-1727 mente, assim como seus
No cerne das obras de prósperos esforços literá-
Voltaire está sua defesa inabalável das liberdades rios e científicos.
civis. Ele era um firme defensor da liberdade de Em particular, Voltaire foi inspirado nas obras de
expressão, liberdade de religião e da separação entre William Shakespeare, embora relativamente obscu-
igreja e estado. ro na Europa continental na época.
Ele criticou a estreita aliança entre a igreja e o Apesar de sua crítica ao desvio de Shakespeare
estado, que ele acreditava impedir o progresso da dos padrões neoclássicos, Voltaire apreciou a capa-
ciência e promover a ignorância, o fanatismo e a cidade do dramaturgo de criar um drama poderoso e
perseguição. Suas perspectivas sobre essas questões envolvente, algo que ele sentiu que faltava nas pro-
alimentaram sua missão de educar as massas e duções teatrais francesas.
melhorar as condições sociais. À medida que a influência de Shakespeare come-
Os esforços de defesa de Voltaire se concentra- çou a se espalhar na França, Voltaire procurou desa-
ram em desafiar dogmas intelectuais, promover a fiá-la com suas peças, tentando mostrar o equilíbrio
tolerância e abordar injustiças cometidas por pode- entre a profundidade emocional e os padrões teatrais
res religiosos e políticos. clássicos.
Seu compromisso incansável com essas causas O tempo de Voltaire na Inglaterra o expôs ao fune-
contribuiu significativamente para a fundação do ral do visionário cientista, Sir Isaac Newton, deixan-
movimento iluminista, que de fato mudaria o mun- do uma profunda impressão no escritor francês.
do. Inspirado por nomes como Newton e outros inte-
lectuais britânicos, Voltaire começou a publicar ensa- Os dois compartilhavam um intenso amor pela
ios em inglês que afirmavam sua recém-descoberta ciência, literatura e filosofia que os ajudou a formar
apreciação pela sociedade e cultura britânicas. um vínculo profundo. Eles trabalharam juntos em
Esses primeiros trabalhos incluem “Sobre as vários projetos científicos e realizaram experimen-
Guerras Civis da França, extraídos de manuscritos tos em sua casa comum, Cirey, um castelo no nor-
curiosos” e “Sobre a poesia épica das nações euro- deste da França.
péias, de Homer Down a Milton”. A parceria deles foi, sem dúvida, produtiva. Tanto
Depois de dois anos e meio morando na Grã- Du Châtelet quanto Voltaire contribuíram para o
Bretanha, Voltaire voltou para a França com uma trabalho um do outro, enriquecendo seus respecti-
visão transformada sobre política, religião e cultura. vos campos e ampliando os limites da investigação
Suas experiências na Inglaterra moldaram suas intelectual.
perspectivas sobre liberdades civis, tolerância e os Por exemplo, Du Châtelet traduziu e expandiu o
méritos de uma monarquia constitucional, influenci- Principia Mathematica de Isaac Newton, que foi
ando significativamente seus esforços filosóficos e fundamental na promoção de suas ideias científicas
literários subsequentes. inovadoras na França. Por sua vez, Voltaire aprimo-
Pouco depois de retornar à França, a admiração rou suas habilidades em matemática sob sua orienta-
de Voltaire pela sociedade britânica culminou na ção, incorporando essas ideias em seus escritos filo-
publicação de “Cartas sobre a nação inglesa” (publi- sóficos.
cado como “Lettres philo- Seu relacionamento
sophiques” em francês). único, baseado na busca
Esta coleção de ensaios intelectual e no respeito
incitou controvérsia devi- mútuo, persistiu até 1749,
do ao seu elogio à monar- quando Émilie du Châtelet
quia constitucional da faleceu tragicamente devi-
Grã-Bretanha, à liberdade do a complicações decor-
religiosa e ao respeito rentes do parto.
pelos direitos humanos. Voltaire lamentou-a
Apesar de enfrentar profundamente e continu-
censura e reação em sua ou a reconhecer seu notá-
terra natal, Voltaire perma- vel legado como cientista,
neceu inabalável em suas matemática e figura influ-
convicções, profundamen- Émilie du Châtelet ente do Iluminismo.
te influenciado por seu
tempo na Grã-Bretanha. Exílio na Prússia (1750-1753)
Na década de 1750, Voltaire recebeu um cobiça-
Relacionamento com Émilie du Châtelet do convite do rei Frederico, o Grande, da Prússia,
(1733-1749) que admirava a sagacidade e o intelecto do escritor.
Ansioso por buscar oportunidades intelectuais na
No início da década de 1730, Voltaire envolveu- corte de Frederico, Voltaire deixou a França e
se romanticamente com Gabrielle Émilie le Tonneli- mudou-se para a Prússia.
er de Breteuil, Marquise du Châtelet. Émilie du Châ- Ele foi calorosamente recebido e os dois homens
telet era uma potência intelectual e uma matemática desfrutaram de uma admiração mútua um pelo
brilhante, o que era altamente incomum para uma outro, discutindo literatura, filosofia e política.
mulher de seu tempo. No entanto, as tensões começaram a surgir entre
Ela foi inflexível sobre seu desejo de se envolver Voltaire e Frederick devido a divergências sobre o
no trabalho intelectual e permaneceu dedicada a trabalho criativo, filosofia e assuntos pessoais.
suas atividades, apesar da pressão social para cum- O relacionamento inicialmente promissor se dete-
prir os papéis tradicionais de gênero. riorou, levando à saída de Voltaire da Prússia depois
Apesar de casada e mãe de três filhos, Émilie du de apenas três anos.
Châtelet embarcou em um relacionamento apaixo-
nado e intelectualmente estimulante com Voltaire. Vida em Genebra e Ferney (1755-1778)
Depois de deixar a Prússia, Voltaire se estabele- taire deixaram uma marca indelével no mundo.
ceu em Genebra, onde continuou a escrever e apoiar Seu compromisso inabalável em desafiar o status
causas justas. quo e promover a liberdade de pensamento continua
No entanto, os rígidos regulamentos na cidade sendo um exemplo inspirador para todos os que
protestante tornaram-se sufocantes, o que o levou a lutam pelo progresso intelectual e social.
se mudar mais uma vez, desta vez para Ferney, um
pequeno vilarejo perto da fronteira franco-suíça. Voltaire e a Maçonaria
Em sua residência em Ferney, Voltaire passou a La Loge des Neuf Sœurs (As Nove Irmãs), funda-
maior parte das últimas duas décadas de sua vida. da em Paris em 1776, foi uma proeminente Loja
Dedicou-se a várias atividades intelectuais, incluin- Maçônica Francesa do Grande Oriente da França
do a construção de uma grande biblioteca e um tea- que foi influente na organização do apoio francês à
tro. Revolução Americana.
Voltaire também continuou a defender indivídu- O nome se referia às nove Musas, filhas de Mne-
os perseguidos injustamente, emprestando sua voz e mosyne/Memory, patronas das artes e das ciências
influência à causa deles. desde a antiguidade e há muito tempo significativas
nos círculos culturais franceses.
Anos Finais e Morte (1778) Em 1778, ano em que Voltaire se tornou membro,
Em 1778, aos 83 anos, Voltaire voltou a Paris para Benjamin Franklin e John Paul Jones também foram
supervisionar a produção de sua peça “Irene”. Ele aceitos. Benjamin Franklin tornou-se Mestre da
foi recebido com grande Loja em 1779 e foi reeleito
entusiasmo pelo público em 1780.
parisiense, que o saudou Quando Franklin, após
como uma figura heróica uma longa e influente
do Iluminismo. estada na Europa, retornou
No entanto, a saúde de à América para participar
Voltaire começou a piorar da redação da Constitui-
rapidamente e ele faleceu ção, Thomas Jefferson, um
em 30 de maio de 1778. não maçom, assumiu o
Apesar de suas críticas cargo de enviado america-
ao longo da vida à Igreja, no.
Voltaire, ciente do poten- Voltaire foi iniciado na
cial de seus restos mortais Avental de Voltaire loja em 4 de abril de 1778,
serem descartados em solo não consagrado, foi em Paris; seus regentes foram Benjamin Franklin e
enterrado secretamente em uma abadia em Cham- Antoine Court de Gébelin. Ele morreu no mês
pagne. seguinte. Sua filiação, no entanto, simbolizava a
Seu túmulo foi posteriormente transferido para o independência de espírito que Les Neuf Sœurs
Panteão de Paris, onde seus restos mortais repousam representava.
ao lado de outros grandes pensadores franceses, Benjamin Franklin, um dos Pais Fundadores dos
como Rousseau e Victor Hugo. Estados Unidos, foi uma figura chave na loja. Ele
serviu como Venerável Mestre da loja de 1779 a
Obras e legado de Voltaire 1781.
Ao longo de sua vida, Voltaire escreveu inúmeras Sua influência e conexões desempenharam um
obras que deixariam uma impressão duradoura nas papel significativo na promoção do relacionamento
gerações futuras. Algumas de suas obras mais notá- entre a França e os emergentes Estados Unidos
veis incluem "Candide", "Zadig", "The Age of Louis durante a Revolução Americana.
XIV" e "The Maid of Orleans". Em conclusão, Voltaire, Benjamin Franklin e a
A escrita prolífica de Voltaire serviu como teste- Loge des Neuf Sœurs em Paris estavam interliga-
munho de sua genialidade e de sua dedicação incan- dos. Todos faziam parte desta influente Loja Maçô-
sável à busca do conhecimento e do progresso. nica, que desempenhou um papel significativo no
Como pioneiro do Iluminismo e feroz defensor cenário cultural e político da época.
das liberdades civis, as ideias e contribuições de Vol-
Elias Ashmole
ASAS DA LIBERDADE
A VIDA E A MORTE DE SANTOS DUMONT
colégio.
Podcast Ouça a matéria clicando aqui Na virada dos séculos 19 e 20, a sociedade mudava
radicalmente com inovações como a luz elétrica, o
Por Luiz Guedes Jr automóvel e o telefone. Em meio ao turbilhão de novi-
dades, um intrépido brasileiro agitava a sociedade pari-
Há 150 anos, nascia Santos Dumont, um dos maio- siense com recepções nada comuns: ao serem levados
res inventores do Brasil. pelo mordomo á sala de jantar, os convidados depara-
Aos 117 anos de seu mais célebre feito, voo no Campo vam com mesas e cadeiras de mais de 2 metros de altu-
de Bagatelle em 23 de outubro de 1906, Alberto Santos ra. Entre os presentes estavam a princesa Isabel, filha
Dumont continua a ser para a maioria dos brasileiros o de d. Pedro II, último imperador brasileiro, o Joalheiro
maior herói científico que o país já teve. Muitos conhe- Louis Cartier, o arquiteto Gustave Eiffel, projetista da
cem a sua saga, contada e recontada nos livros escola- torre que leva seu nome, alguns representantes da famí-
res. Mas pouca gente sabe realmente quem foi o perso- lia Rothschild, a imperatriz Eugênia, viúva reclusa de
nagem que se aventurou a desbravar os céus. Que tipo Napoleão III, alguns duques, barões e outros membros
de homem se escondia atrás dos longos bigodes, das da alta sociedade europeia. Todos achavam divertido
vestes impecáveis e do inseparável chapéu panamá? subir numa escada portátil para participar de mais um
As polêmicas que cercam a vida do inventor, comu- dos famosos jantares aéreos, como ficaram conhecidos
mente omitidas do grande público, são reveladas nas os eventos promovidos por Santos Dumont em seu
biografias disponíveis em diversas línguas. apartamento na Champs-Elysées.
Consideram, principalmente, sobre a sexualidade, a Questionado sobre o motivo desses jantares, anfi-
fama de mau perdedor e a doença que o levou ao suicí- trião sempre respondia: "É para que todos imaginem
dio. Mas esses são apenas pequenos tópicos de uma como seria a vida numa máquina voadora". Alguns
vida tão rica em detalhes quanto a trajetória que levou convidados riam. Afinal, em 1890, as máquinas voado-
o homem a construir máquinas voadoras. Santos ras ainda não existiam. Santos Dumont, em tom mais
Dumont voou muito além do que contam os livros de sério, retrucava que em pouco tempo elas dominariam
os céus. “Estarão em todas as partes”, dizia o futuro
aviador. ainda maior naquele tempo) e partiu para a Europa
As declarações do brasileiro soavam devaneios de com a esposa e o jovem Alberto. A esperança de cura
um desajustado, mas tinham uma explicação: sua estava em Paris, onde Louis Pasteur revolucionava a
infância fora cercada por obras de Júlio Verne, nas medicina com suas vacinas.
quais se destacava a imagem de um céu povoado de As descobertas na capital francesa encantaram o
máquinas voadoras. Em 1901, quando realizou a ousa- jovem brasileiro, em especial os motores de combus-
da circum-navegação da Torre Eiffel, recebeu diversos tão interna, que ele jamais havia visto. Em visita à
telegramas de congratulações e medalhas de louvor e fábrica da Peugeot, comprou um dos dois únicos auto-
coragem enviadas por diferentes chefes de Estado. móveis produzidos pela marca naquele ano de 1891.
Duas delas emocionaram-no em especial: a primeira Poucos meses depois, após seu pai perceber que a
foi a carta do próprio Júlio Verne; a outra, enviada por medicina europeia não lhe restauraria a saúde, voltou
Pedro, amigo da época de criança: "Você lembra, meu com a família para o Brasil, trazendo a bordo do navio
caro Alberto, do tempo em que brincávamos de per- o estranho veículo de apenas 3,5 cv (capaz de atingir
guntar 'passarinho voa?", 'urubu voa?", "homem 16 quilómetros por hora). Ao dirigir a novidade nas
voa?", e você sempre levantava o dedo afirmando que ruas de São Paulo, Santos Dumont não só espantou os
o homem voava? A recordação dessa época me veio ao pedestres, mas também ficou conhecido como a prime-
espirito no dia em que chegou ao Rio de Janeiro a notí- ira pessoa a circular de automóvel em toda a América
cia do seu triunfo. O homem voa, meu caro! Você tinha do Sul.
razão em levantar o dedo. E não tinha mesmo que Sem esperanças de cura, Henrique teve uma longa
pagar a prenda". conversa com o filho. Disse-lhe que não precisaria se
A brincadeira à qual se referia o colega de infância preocupar em ganhar dinheiro e adiantou-lhe a heran-
era uma das preferidas de Santos Dumont e dos irmãos ça de meio milhão de dólares. Depois, instruiu-o a vol-
na fazenda onde nasceu, em tar a Paris, onde parecia ter
20 de julho de 1873, em se adaptado muito bem.
Minas Gerais. Os pais do Santos Dumont seguiu o
inventor, Henrique Dumont conselho. Chegou à Cidade
e Francisca de Paula Santos, Luz no verão de 1892, e seu
foram os primeiros brasilei- pai morreu em agosto.
ros a viver no distrito de Tímido para frequentar
João Aires, na minúscula qualquer universidade,
cidade de Cabangu hoje recorreu a um professor
rebatizada como Santos Dumont. Aos 6 anos, Alberto particular, que desenvolveu um intenso programa de
mudou-se com a família para as terras férteis de São estudos englobando física, química, engenharia mecâ-
Paulo, onde seu pai, apelidado de rei do café pela nica e elétrica. Ocasionalmente, visitava os primos na
imprensa, comprou uma propriedade tão extensa que Inglaterra, onde aproveitava para assistir às aulas na
foi possível construir nela uma estrada de ferro com 96 Universidade de Bristol. Como era aluno ouvinte, não
quilômetros de extensão. Nessa época, além de mergu- corria o risco de ser interrogado em público.
lhar nos livros de ficção, Santos Dumont tinha como
passatempo predileto dirigir as enormes locomotivas e O Estilo Dumont
também consertar todo o maquinário usado na produ- Somente após cinco anos como cidadão francês, o
ção do café. brasileiro iniciou suas experiências com balões.
Henrique apreciava a fascinação do sexto de seus Naquela época, a aeronáutica funcionava como um
oito filhos e o caçula entre os três homens, mas não clube de cavalheiros, e Santos Dumont foi imediata-
compreendia por que o menino não se interessava por mente aceito por sua origem abastada. Em pouco tem-
outras atividades comuns entre meninos, como caçar po, seus inventos ganharam espaço na imprensa local e
ou até mesmo brigar com os irmãos. internacional, e o brasileiro tornou-se coqueluche na
alta sociedade europeia. Foi talvez um dos homens
A vida em Paris mais prestigiados e noticiados em todo o mundo no
O mundo de Santos Dumont ganhou novas dimen- início do século 20. Não raro, sua imagem elegante
sões quando ele tinha 18 anos. Seu pai sofrera uma estampava caixas de charutos, fósforos e até de apare-
queda de cavalo e acabou hemiplégico aos 60 anos. lhos de jantares.
Sem chances de cura no Brasil, vendeu os negócios da Estilistas prosperaram com réplicas de seu chapéu e
família por 6 milhões de dólares (uma fortuna hoje, e dos colarinhos altos e duros, que ele mesmo desenhara
de modo a alongar seu pescoço e disfarçar a baixa esta- sobre o suposto noivado de Santos Dumont com algu-
tura (cerca de 1,60 metro). Outros artifícios com essa ma jovem, mas ele rapidamente negava, enviando res-
finalidade eram os ternos sempre escuros com listras postas irritadas à imprensa. Dizia preferir que as pes-
verticais, os sapatos com saltos e o tradicional chapéu- soas pensassem ser ele viúvo a estar noivo. Em sua
panamá. Apesar dos recursos para parecer mais alto, os escrivaninha, o aviador mantinha a fotografia da bela
jornais lhe deram o apelido carinhoso de petit Santos, o cubana Aida de Acosta, a quem ensinou a comandar
que muito o incomodava, embora continuasse a ditar um de seus balões aos 19 anos, ela tornou-se a primeira
moda: fabricantes de brinquedos produziam réplicas mulher do mundo a voar. Algumas biografias sugerem
em miniatura de seus balões, que também inspiravam um caso amoroso entre os dois. Porém, após a morte do
os bolos feitos pelos confeiteiros, sempre em forma de brasileiro, Aida confidenciou que ele era muito tímido
charuto e com as cores da bandeira brasileira. para entabular uma conversa. Segundo ela, suas únicas
Em outra ocasião, reclamou com o amigo Louis palavras foram as instruções para ela pilotar o balão e,
Cartier, cujo avô fundara a Maison Cartier havia meio mesmo essas, ele dissera de modo acanhado.
século, que era muito perigoso tirar as mãos dos
comandos em pleno voo e levá-las ao relógio de bolso. Um legado para o mundo
Cartier criou para Santos Dumont um dos primeiros Depois do histórico voo com o 14-Bis, em 1906,
relógios de pulso de uso civil, que imediatamente tor- Santos Dumont entrou num período de depressão. O
nou-se acessório indispensável para parisienses mais sucesso com os aeroplanos parecia não mais animá-lo.
sofisticados. Além do estilo seguido por homens e Ele acusava os amigos de o terem abandonado, lamuri-
mulheres, o aviador invaria- ava-se de seu corpo peque-
velmente ganhava as man- no - fato que o ajudou na
chetes devido ao seu tempe- aeronáutica- e dizia a todos
ramento difícil. Meteu-se que estava sem dinheiro.
em inúmeras brigas com o Ninguém acreditava, mas,
Aeroclube de Paris, quase na tentativa de agrada-lo,
sempre por não concordar aconselhavam-no a patente-
com as regras dos concur- ar seus inventos. Proposta
sos. Santos Dumont não imediatamente recusada.
enxergava a aviação como Eram seus presentes para a
atividade cientifica. Para humanidade, dizia. "Prefiro
ele, voar era um esporte, um terminar num asilo pobre a
desafio entre homens aven- cobrar o privilégio de copiar
tureiros para ver quem ven- meus experimentos aére-
cia. E, como demonstrava, seu espírito excessivamen- os." Em 4 de janeiro de 1910, sofreu um acidente sério
te competitivo não lhe permitia sair derrotado. "Não com o Demoiselle, seu avião de uso pessoal. Foi a últi-
me importo com o dinheiro das competições", dizia ma vez que pilotou uma aeronave. Sua saúde piorou.
ele, que doava às pessoas em situações vulneráveis os Passou a ter visão dupla e fortes crises de vertigem.
valores conquistados em campeonatos. "Mas o prêmio Alguns médicos diagnosticaram que Santos Dumont,
atrai um número maior de rivais para que eu possa mos- aos 36 anos, sofria de esclerose múltipla. Outros atri-
trar minha coragem. Essa é a importância da competi- buíram os sintomas a problemas psíquicos.
ção." Em 1914, quando a Alemanha declarou guerra à
Mesmo diante dessas habilidades, as publicações França, o brasileiro decidiu colocar-se a serviço de seu
da época sobre Dumont muitas vezes insistiam em país adotivo. Mas os militares franceses chegaram até
priorizar outro tema: a sua sexualidade. Reportagens ele primeiro. Os vizinhos o haviam denunciado, pois
do passado mostram que o estilo e o comportamento pensavam que o tímido estrangeiro que observava o
do aviador eram um prato cheio para os editoriais (re- mar com um telescópio de fabricação alemã era um
pletos de julgamentos). Isso porque, além dos dedos espião do kaiser. A polícia revirou sua casa e, após veri-
cheios de anéis e o cabelo repartido ao meio hábitos ficar o equívoco, pediu desculpas. Mas Santos Dumont
especialmente das mulheres naqueles tempos, Santos não perdoou a suspeita de ser um traidor. Numa explo-
Dumont circulava por Paris sobre uma bicicleta de são de raiva, jogou todos seus documentos aeronáuti-
modelo feminino e já achava natural tricotar e bordar cos, os desenhos e as cartas de congratulações no fogo.
em seu apartamento no Elysées Palace Hotel. O aviador passou a maior parte dos anos da guerra no
Ocasionalmente, os tabloides publicavam notas Brasil.
Projetou em Petrópolis, no Rio de Janeiro, uma casa sangue entre irmãos". Jorge, que sempre temia deixar o
de arquitetura bastante avançada para a época, chama- tio sozinho, voltou para o quarto e o encontrou sem
da de Encantada. Porém Santos Dumont nunca parou vida, enforcado, aos 59 anos de idade.
por muito tempo num só lugar. Revezava-se entre O suicídio de Santos Dumont foi ocultado do
Petrópolis e clinicas de repouso na França e na Suíça. conhecimento público durante décadas – afinal, o ato
Num de seus retornos ao Brasil, em 1928, um hidroa- de tirar a própria vida (que segue sendo tabu em diver-
vião batizado com seu nome explodiu enquanto voava sos lugares do mundo) não caía bem para um herói
para saudar a sua chegada na Baia de Guanabara, na nacional.
capital fluminense. As 12 pessoas a bordo morreram Agindo sob ordens do governo, o médico legista
no acidente, visto de perto por Santos Dumont, que forjou o atestado de óbito, declarando que o aviador
observava tudo de pé no convés. O episódio só agravou havia morrido devido a uma parada cardíaca.
a saúde mental do aviador. O corpo do inventor foi embalsamado para que
pudesse ser levado em segurança de São Paulo para o
Depressão e Morte funeral no Rio de Janeiro - o que demorou seis meses,
Em 1931, um sobrinho chamado Jorge retirou-o de até que acabassem os conflitos entre paulistas e as
uma casa de repouso na Europa e trouxe-o de volta ao tropas federais. O médico responsável por embalsamar
Brasil. No ano seguinte, irrompeu a Revolução Consti- o cadáver, Walther Haberfield, removeu e preservou o
tucionalista, que colocou paulistas e as tropas federais coração de Santos Dumont sem que ninguém soubes-
em campos opostos. Os médicos sugeriram que Santos se. Doze anos mais tarde, entrou em contato com a
Dumont deixasse a cidade de São Paulo e fosse morar família do aviador e ofereceu o órgão. Eles não o qui-
num lugar mais tranquilo. Jorge o levou para um hotel seram e o médico acabou doando o coração para o
no Guarujá. Todas as manhãs, acordava mais cedo e governo, com a condição de que fosse colocado num
escondia os jornais na tentativa de ocultar do tio doente local público. O órgão foi preservado dentro de uma
as notícias do conflito. esfera banhada a ouro, exposto no pequeno Museu da
No dia 23 de julho de 1932, os dois estavam no Força Aérea no Campo dos Afonsos, nos arredores do
saguão quando escutaram um avião bombardear um Rio de Janeiro.
alvo próximo. O aviador mandou o sobrinho levar um
recado e tomou o elevador de volta ao quarto. Teste- Fonte: Aventura na História
munhas dizem que ainda o ouviram falar: "Nunca pen-
sei que minha invenção fosse causar derramamento de
A Alegoria da Vaidade do Mundo, Antonio de Pereda. 1637
LUZ E SOMBRAS:
O Conflito entre a Devoção e a Vaidade
tensioso, não é possível deixar de observar o
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abismo que separa a devoção da vaidade em
seu seio. Este olhar que evitamos, é o que mais
Por Eugênio Polessa assombra nossas fileiras, motivo pelo qual não
podemos mais ignorar sua existência entre a
Pode-se estabelecer diversos olhares para o dedicação sincera e as vaidades efêmeras que
seio maçônico e, por meio deles, encontrar seduzem os incautos.
caminhos nobres para o desenvolvimento A devoção é o alicerce da maçonaria, impe-
desta sociedade de indivíduos dedicados à lindo-nos a buscar conhecimento, desenvolver
busca da verdade, do aperfeiçoamento pessoal virtudes morais e contribuir para o bem-estar
e do serviço à sociedade. No entanto, seja em da humanidade. Aqueles que se comprometem
quaisquer dos ângulos possíveis que a obser- com essa busca sincera compreendem que a
vemos, mesmo em um olhar franco e despre- jornada é árdua e requer esforço constante
para superar nossas próprias limi-
tações. A devoção nos chama a
transcender nossos egos e a tra-
balhar para o bem comum, culti-
vando a humildade e a fraternida-
de.
No entanto, nem todos resis-
tem às tentações da vaidade que
se apresentam em nosso cami-
nho. A vaidade é um veneno sutil,
encontrando brechas em nossos
corações e mentes, alimentando
o desejo de reconhecimento,
poder e status. É nesse ponto que
o abismo começa a se abrir, divi-
dindo aqueles que se dedicam verdadeiramen- cada um de nós deve assumir a responsabilida-
te daqueles que sucumbem às suas ambições de por nossas escolhas e ações.
egoístas. Ao enfrentarmos o abismo entre a devoção
Infelizmente, deparamo-nos com irmãos e a vaidade, devemos reafirmar nossa dedica-
que buscam a maçonaria não pelo encontro ção à busca da verdade, à construção do cará-
com a verdade e a sabedoria, mas pela promo- ter e à promoção do bem-estar da humanidade.
ção de suas próprias ambições pessoais. Eles A maçonaria, em sua essência, é um farol de
enxergam a ordem como um trampolim para esperança, uma oportunidade para transcender
obter prestígio, influência e reconhecimento nossos egoísmos e nos tornarmos melhores
social, desviando o foco da essência maçôni- seres humanos.
ca, esvaziando-a de sua profundidade e propó- Ao olharmos para a maçonaria que habita
sito. em nós, estejamos sempre atentos a refletir
O abismo entre a devoção e a vaidade é uma profundamente sobre o abismo que nos desa-
realidade que não podemos ignorar, pois mina fia, esforçando-nos para manter a devoção
os ideais pelos quais nos esforçamos. Deve- autêntica e buscar a harmonia entre nossas
mos reconhecer e confrontar essa falha, indi- mais nobres aspirações e a humildade que nos
vidual e coletivamente, buscando um equilí- mantém fiéis aos valores maçônicos. Somente
brio entre a busca sincera da verdade e a assim poderemos superar o abismo que nos
humildade que nos mantém alinhados com os separa das vaidades e construir uma maçona-
princípios maçônicos. ria verdadeiramente enriquecedora e transfor-
Talvez seja hora de olharmos para dentro de madora.
nós mesmos, com honestidade e autenticida-
de, e questionarmos nossas motivações. Preci-
samos estar vigilantes para não permitir que a
vaidade obscureça nosso compromisso com a
dedicação e o serviço desinteressado. Afinal
de contas a maçonaria é uma jornada pessoal, e
HÁ SEMPRE UM HÉRCULES
DENTRO DE CADA MAÇOM
Ele ficou na frente de seu Mestre. Ele entendeu vagamente que uma crise estava sobre ele e
que traria uma mudança em sua Palavra, Atitude e Propósito.
Os Trabalhos de Hércules