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O Malhete

Informativo Maçônico, Político e Cultural


Linhares - ES, Agosto de 2023 - Ano XV - Nº 172 - E-mail: omalhete@gmail.com

SIMON BOLIVAR - O LIBERTADOR


O patriota venezuelano, líder e revolucionário, pai da independência das nações lati-
no-americanas, nasceu há 240 anos, foi iniciado na maçonaria numa loja de Cádiz.
Editorial
Caros Irmãos,
Aproveite essa oportunidade de ampliar
A Revista O Malhete tem sido uma fonte sua visibilidade e impacto, enquanto apoia
valiosa de informação e inspiração para um veículo de comunicação dedicado ao
todos os maçons, oferecendo conteúdo crescimento e ao compartilhamento de
relevante e de qualidade. No entanto, para conhecimento maçônico.
garantir a continuidade desse importante
veículo, contamos com a sua ajuda. Para mais informações sobre preços e dis-
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mento do blog e da revista O Malhete. Contamos com o seu apoio e agradecemos
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çada por maçons interessados e atentos.
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estará se conectando com uma comunida-
de única e diversificada de irmãos maçons,
fortalecendo a sua presença e influência
no meio. Além disso, estará contribuindo
diretamente para o desenvolvimento e a
continuidade deste importante projeto.

Expediente
As opiniões expressas pelos autores nos artigos indivi-
duais não representam a orientação e pensamento da
direção da Revista O Malhete.

Para qualquer informação, escreva para omalhe-


te@gmail.com ou entre em contato com a redação. Para
o mesmo endereço de e-mail, é possível enviar suas
contribuições exclusivamente em formato Word.

Agradecemos a todos os irmãos que contribuíram com


o conteúdo da revista com seu trabalho neste mês.
Palavra do Grão-Mestre Geral do GOB

O GOB E AS BENESSES DA INTEGRAÇÃO DAS


ENTIDADES PARAMAÇÔNICAS NA SUA LOJA

Amados Irmãos e família maçônica do Grande Oriente também com ensinamentos patrióticos, éticos e morais,
do Brasil. no interior destas Instituições Paramaçônicas.
Oportuno é o momento em que vivemos na Maçonaria Assim, cabe-nos conclamar nossos Veneráveis Mestres
Brasileira e em especial no Grande Oriente do Brasil, e Irmãos da Federação Gobiana, para que fomentem em
para que possamos fortalecer os laços que nos unem suas Lojas, atividades conjuntas com a família e
com a Família Maçônica e desenvolver os trabalhos em percebam o quanto isso vai beneficiar a Oficina e o
conjunto e o apoio às Entidades Paramaçônicas, este próprio cotidiano destas mesmas famílias, que pela
nosso braço filantrópico e de amor das Lojas e do globalização e o aumento desenfreado de envolvimento
próprio GOB, enquanto Potência Maçônica. Bem por com mídias e redes sociais, em especial, acabam por
isso, estamos focados e compromissados em fomentar diminuir o convívio pessoal e a própria interação no seu
atividades integradas no intuito de aproximar cada vez dia a dia.
mais nossas famílias do ambiente maçônico. Procure-nos para trazer para sua Oficina, núcleos da
Um dos nossos objetivos de gestão, para os próximos Frafem, APJ e de outras Entidades Paramaçônicas
anos, é desenvolver um ambiente saudável e dinâmico, tradicionais! Façam a diferença e permitam-se - a sua
dentro do Grande Oriente do Brasil, para receber e Loja agradecerá!
incluir nossos familiares nas atividades das Oficinas. O
Maçom, por natureza e princípios, tem a família como Fraternalmente,
alicerce da sua vida e ao introduzi-lá no ambiente da
Loja, nós não só aumentamos a força de trabalho em
favor da sociedade, mas também o incentivo da própria
família, na permanência do Irmão em sua Loja.
Conversando com Irmãos e Veneráveis Mestres que
possuem, no âmbito de suas Oficinas, a Frafem, APJ,
DeMolays, Arco Iris, Filhas de Jó, dentre tantas outras
entidades que apoiamos e fomentamos, praticamente
não há evasão significativa nestas Oficinas, pois o
maior incentivador para o Maçom manter o vínculo
com a sua Loja, é a própria família. Além da diminuição
da evasão maçônica, também é perceptível o aumento
das atividades filantrópicas e de apoio social aos menos
favorecidos, trazendo aos próprios familiares do
Maçom e em especial aos filhos e netos, um Ademir Cândido da Silva
desenvolvimento pessoal e espiritual imensurável, Grão-Mestre Geral
devido ao contato com aqueles menos favorecidos e Grande Oriente do Brasil
UMA VISITA AO TEMPLO INTERIOR
necessariamente irá andar conforme a sua vontade. Aqui
Podcast Ouça a matéria clicando aqui se ratifica que aos maçons somente se inicia qualquer obra,
após a abertura do Livro da Lei.
No segundo Vitral/Mosaico está escrito PIEDADE.
Por Irmão Dário Angelo Baggieri
Demonstração de amor ou afeto pelas coisas religiosas;
devoção. Compaixão pelo sofrimento de uma outra pes-
Amados irmãos, participando de uma cerimônia de batiza-
soa; misericórdia. A piedade nos dá a graça de saber enten-
do no interior do Santuário Paz e Bem, no Oriente de Vila
der o limite do nosso irmão. Todo sentimento de piedade
Velha-ES, me deparei com 7 vitrais na Coluna do Sul
baseia-se no sentimento primário do próprio indivíduo
daquele Templo de cunho Católico, que pelas suas peculi-
que o sente, porém pode-se sugerir que aquilo que seria
ares e estratégicas posições na caminhada em direção ao
doloroso a um indivíduo poderia não ser para outro. Ima-
Oriente, me levaram a uma reflexão simbólica e principal-
gina-se, portanto, que a piedade é o resultado da imagina-
mente filosófica, que me fomentaram a praticamente
ção somada à vivência de cada indivíduo. Não existe pie-
viajar em uma aventura muito prazerosa e enriquecedora.
dade sem amor, não existe piedade sem temor a DEUS. Na
Inicia-se no primeiro Vitral/Mosaico a assertiva
filosofia maçônica, a piedade é como um sentimento
TEMOR A DEUS. O temor a Deus é um sentimento de
fraterno que, ao proporcionar a identificação com o outro,
respeito e reverência praticada pela doutrina cristã, segun-
estabelece os primeiros laços que unem os homens entre
do previsto no livro de Hebreus da Bíblia Sagrada: "Por
si. Através da piedade, o homem maçom sofre no sofri-
isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a
mento do outro irmão, pois percebe que pode padecer dos
graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com
mesmos males. Cabe à imaginação ativar a piedade nesse
reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo. Ter
movimento de lançar-se para fora de si, e desse modo, a
temor a Deus significa reverenciá-lo e respeitá-lo como
piedade, apesar de natural, se manifestaria apenas após a
Criador e Salvador. Mas temer ao Senhor não é o mesmo
reflexão.
que ter medo ou pavor d'Ele; ao contrário, o temor do
Continuando a caminhada nos deparamos com o terce-
Senhor está diretamente ligado ao amor e a gratidão a Ele.
iro Vitral/Mosaico- CIÊNCIAS. Vemos aqui um despertar
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Provérbi-
para o respeito entre a fé e a ciência. Enquanto a ciência
os 9:10. Por isso, o escritor bíblico, também diz que o
ocupa-se com seu objeto específico de estudo, a filosofia
temor a Deus “consiste em aborrecer o mal; a soberba, a
Maçônica ocupa-se em tentar entender se esse objeto é
arrogância, o mau caminho e a boca perversa” (Provérbios
corretamente estudado, além de tentar aprimorar os
8:13). Então aquele que verdadeiramente teme a Deus
modos do fazer científico, a fim de proporcionar à ela, a de decisões. O conhecimento originado pela filosofia
maior validade racional possível. Filosofia e Ciência tem maçônica é um modo de interpretação da realidade que
entre si relações de proximidade no objetivo, no modelo diferencia-se de outras formas de conhecer. Ao contrário
de desenvolvimento das ideias e, também, de inspiração da sensibilidade, que é uma faculdade intuitiva, como
mútua. Se aproximam nos objetivos na medida que ambas comentamos anteriormente, na filosofia maçônica. O
as coisas pretendem explicar o funcionamento do mundo, entendimento é uma faculdade puramente discursiva, o
de modo que os cientistas se dedicam a estudar fenômenos que quer dizer que ele opera sobre objetos dados pela sen-
particulares específicos e os filósofos tendências gerais. O sibilidade. Ele é, pois, a faculdade de fazer juízos, expres-
modelo de desenvolvimento parte do mesmo princípio, a sos em proposições. Mas dentro de paradigmas que consi-
razão, sendo formas racionais de explicar os fenômenos deramos justos e perfeitos sob a ótica da doutrina. O
humanos e naturais, tendo a filosofia inspirado no desen- Entendimento é a base de todo relacionamento em qual-
volvimento da ciência e vice-versa. O Homem Maçom é quer Seara. É o Penúltimo degrau do amor fraternal.
um filósofo eminentemente científico. E por último nos deparamos com um Vitral/Mosaico na
O Quarto Vitral/Mosaico na caminhada aparece a Pala- entrada do oriente com a PALAVRA MAGICA-
vra FORTALEZA. Para o verdadeiro iniciado, essa pala- "SABEDORIA" que encerra em sua simbologia toda
vra tem ampla significação simbólica. Para desenvolver nossa caminhada. Salomão não pediu riquezas, exércitos,
sua força individual é imprescindível que o maçom tenha poder material, etc. pediu ao GADU a sabedoria. Deus
o conhecimento de si mesmo, à nível mental (virtudes e deu-lhe não apenas sabedoria, mas também um discerni-
defeitos, reações negativas e positivas) e físico (biológi- mento extraordinário e uma abrangência de conhecimento
co), e o conhecimento do mundo que o cerca (sociedade e tão imensurável quanto a areia do mar. A sabedoria de
natureza). Existe nos labores maçônicos uma conotação Salomão era maior do que a de todos os homens do oriente
diferente do mundo profano, mas com semelhanças nas e do que toda a sabedoria do Egito. (1 Reis 4 29-30)
propriedades simbólicas e especulativas. A Fortaleza pode A sabedoria começa na reflexão. Não confunda jamais
representar a qualidade do que é forte. A robustez ou, pro- conhecimento com sabedoria. Um o ajuda a ganhar a vida;
priamente, o vigor físico. Conceitualmente a Força é tam- o outro, a construir uma vida. Não há nada bom nem mau a
bém um agente físico capaz não ser estas duas coisas: a
de alterar o estado de repouso sabedoria que é um bem e a
de um corpo material. ignorância que é um mal.
Passemos então às especu- Ela está contida simboli-
lações. Dos três graus de uma camente na coluna JÔNICA e
Loja Simbólica ou classe de o sábio mestre diz que O
operários, qual é mais robus- tempo é como um rio… Você
to, ou necessita de maior nunca poderá tocar na mesma
vigor físico? Por óbvio, são os Aprendizes, pois estão nas água duas vezes, porque a água que já passou nunca passa-
pedreiras quebrando e transportando as pedras brutas. rá novamente. Aproveite cada minuto da sua vida e lem-
Mas a fortaleza não é somente física, também tem reflexo bre-se: nunca busque boas aparências porque não exis-
na espiritualidade, no emocional e também na religiosida- tem… Não procure pessoas perfeitas porque não exis-
de. tem… Mas busque, acima de tudo, alguém que saiba o seu
O Quinto Vitral/Mosaico aparece o vocábulo verdadeiro valor! Cada dia que amanhece assemelha-se a
CONSELHO. Diz o sábio mestre: A única coisa a fazer uma página em branco, na qual gravamos os nossos pensa-
com os bons conselhos é passá-los a outros pois nunca têm mentos, ações e atitudes. Na essência, cada dia é a prepara-
utilidade para nós próprios e escutai os conselhos de quem ção de nosso próprio amanhã.
muito sabe, mas especialmente os conselhos de quem Nossa caminhada não termina aqui nesse Orbe Terres-
muito vos ama. Os irmãos sábios nos ajudam com os seus tre, ela continua em outros parâmetros. A Evolução do
conselhos, através da voz da e de suas atitudes que dizem Espírito é eterna, contínua e nos exorta a sermos Melhores
mais do que mil palavras. A consciência do aprendizado, a cada dia, pois essa é a essência dos ensinamentos do divi-
nos falam ao nosso íntimo - e lhes damos a necessária no mestre Jesus. Sejamos verdadeiramente irmãos !!!!
importância, pois oferecem-nos as suas vivências. Apren-
damos a ouvir com a voz do coração.
O Sexto Vitral/Mosaico encontramos a base de Todas
as doutrinas Filosóficas e Herméticas, O
ENTENDIMENTO. Vocábulo tão sublime em nosso ver-
náculo, de uma profundidade ímpar. Do ponto de vista
filosófico, este conceito recebe o nome de intelecção ou
apreensão da realidade através do acesso à essência dos
fatos. O entendimento mostra a capacidade de discerni-
mento racional que potencializa a deliberação da tomada
GLMEES IMPLANTA PROJETOS VOLTADOS PARA O CUIDADO
E FORTALECIMENTO DO HOMEM MAÇOM E SUA FAMÍLIA

Reunião da Comissão do Projeto Remar

A Grande Loja Maçônica do Estado do Espí- das Lojas e estimular o saber maçônico, a
rito Santo (GLMEES) prepara para o próximo GLMEES está implementando a Escola de Estu-
dia 10 de agosto o lançamento de três importan- dos e Instruções Maçônicas a Distância. Entre
tes projetos voltados para o cuidado e fortaleci- os módulos que serão oferecidos está o seminá-
mento do homem Maçom e sua família. A apre- rio para Veneráveis Mestres.
sentação será na sede da GLMEES, em Vitória, Segundo o Sereníssimo Grão-Mestre Valdir
a partir das 19 horas, para Irmãos de todo o Esta- Massucatti, fortificar os Irmãos tornou-se ainda
do. mais necessário, após o período da pandemia.
Entre as iniciativas está o projeto Remar – Por isso, estão sendo realizadas iniciativas que
Rede de Relacionamentos Maçônicos - que visam a trabalhar sua autoestima e o orgulho de
busca estimular relacionamentos profissionais pertencer à Ordem maçônica.
entre os irmãos, cunhadas e sobrinhos, com
geração de negócios por meio de conexões que
gerem resultados em ganhos multilaterais.
Também será lançado o Clube de Descontos,
com oferta de vantagens descontos e benefícios
aos irmãos, cunhadas e sobrinhos por meio de
convênios celebrados entre a GLMEES e par-
ceiros.

SABER MAÇÔNICO
Com o objetivo de contribuir com a gestão
52ª Assembleia Geral Ordinária da CMSB
Ocorreu, entre os dias 12 e 15 de julho deste Internet para angariar fundos; e reconhecem a
ano de 2023, a LII Assembleia Geral Ordinária importância do investimento na juventude,
da CMSB, reunindo em Porto Velho, capital do através das ordens paramaçônicas, de modo a
Estado de Rondônia, os dirigentes das 27 Gran- colaborar para o futuro da sociedade.
des Lojas regulares brasileiras, neste que há Segue o imagem do referido documento:
décadas tem sido o maior evento maçônico de
todo o país.
Dentre as várias deliberações da assembleia,
elegeu-se uma nova diretoria para a confedera-
ção, agora dirigida pelo Secretário-Geral Edil-
son de Oliveira, PGM da Grande Loja Maçôni-
ca de Minas Gerais, com o auxílio de seu
Secretário-Geral Adjunto, Tito do Amaral,
PGM da Grande Loja Maçônica do Estado de
Goiás.
Nomeado e ratificado, o Irmão Bolivá Mar-
ques Vieira, PGM da Grande Loja Maçônica
do Estado do Maranhão, passa a responder
pelas Finanças, e o Irmão Lúcio Portela perma-
nece nas Relações Exteriores da CMSB.
Ainda, como parte do evento, foi elaborada
e aprovada pelos Grãos-Mestres a Carta de
Porto Velho, pela qual a CMSB se dirige a todo
o povo maçônico das Grandes Lojas brasilei-
ras, convidando-os a se engajarem, ainda mais,
em projetos educacionais, sociais e filantrópi-
cos. Ainda, alertam sobre o surgimento de orga-
nizações que usam o nome da Maçonaria na
VOLTAIRE - LIVRE PENSADOR E MAÇOM
exposto a uma variedade de discussões intelectuais,
Podcast Ouça a matéria clicando aqui incluindo as ciências populares e as obras de filóso-
fos como Pierre Bayle e John Locke.
Essas influências mais tarde se tornariam instru-
Descubra a intrigante conexão entre o mentais na formação de suas ideias filosóficas,
gênio do Iluminismo, Voltaire, e sua associ- enraizadas no ceticismo e na tolerância.
ação com a Maçonaria em seus últimos Apesar da insistência de seu pai para que ele
dias. seguisse a carreira de advogado, a verdadeira paixão
de Voltaire era escrever. Iniciou o seu percurso lite-
Infância e educação (1694-1711): rário com a composição da sua primeira tragédia, “
François-Marie Arouet, mais tarde conhecido Édipe ”, ainda na escola.
como Voltaire, nasceu em 21 de novembro de 1694, Sua paixão pela escrita e suas habilidades de pen-
em Paris, França. samento crítico tornaram-se evidentes em uma
Ele era o caçula de cinco filhos em uma família de idade jovem e mais tarde contribuiriam significati-
classe média e seu pai era funcionário do governo. A vamente para seu sucesso literário.
mãe de Voltaire faleceu quando ele tinha apenas sete
anos. Criado em uma família religiosa, ele recebeu Carreira Inicial e Prisão (1711-1718)
uma educação jesuíta no estimado Collège Louis-le- Após completar seus estudos, Voltaire seguiu
Grand, onde estudou retórica, filosofia e teologia. brevemente os desejos de seu pai e trabalhou como
Durante seu tempo no Collège, Voltaire foi secretário do embaixador francês na Holanda.
No entanto, logo abandonou a carreira diplomáti-
ca e voltou a Paris para seguir sua verdadeira voca-
ção de escritor. Exílio de Voltaire na Grã-Bretanha (1726-
Voltaire tornou-se conhecido por sua perspicácia 1728)
e abordagem satírica das questões sociais e políti- Após uma disputa contenciosa com o Chevalier
cas. Suas opiniões bem articuladas sobre religião, de Rohan-Chabot e um período de prisão na Basti-
governo e outros tópicos lhe renderam a reputação lha, Voltaire solicitou o exílio na Inglaterra como
de pensador destemido e influente. punição alternativa.
Infelizmente, suas críticas implacáveis às normas As autoridades francesas concordaram e, em
sociais e ao governo levaram à sua prisão na Basti- maio de 1726, Voltaire embarcou em uma jornada
lha em 1717. que influenciaria significativamente seu desenvol-
Voltaire foi acusado de difamação contra o regen- vimento intelectual.
te da França, Philippe II, duque de Orléans. Ele pas- Após sua chegada à Inglaterra, Voltaire se estabe-
sou quase um ano na prisão, período durante o qual leceu em Wandsworth e logo formou conexões com
escreveu sua peça trágica, “Oedipe”. Libertado em figuras proeminentes como Everard Fawkener .
1718, Voltaire rapidamente ganhou destaque como Mais tarde, mudou-se para Maiden Lane, Covent
dramaturgo e poeta. Garden, para ficar mais perto de seu editor.
Sua estada na Grã-Bretanha permitiu que ele se
Sucesso literário e defesa das liberdades civis envolvesse com mentes ilustres, como Alexander
(1718-1733) Pope, John Gay, Jonathan
Na década seguinte, Swift e Lady Mary Wor-
Voltaire alcançou um tley Montagu, entre
sucesso literário signifi- outros.
cativo, produzindo obras Voltaire foi especial-
de várias formas, incluin- mente cativado pela
do peças teatrais, poemas, monarquia constitucional
ensaios, obras históricas e britânica, que contrastava
tratados científicos. fortemente com o absolu-
Seu talento multiface- tismo da França. A maior
tado o ajudou a emergir liberdade de expressão e
como uma das principais religião da Grã-Bretanha
figuras literárias do Ilumi- o impressionou profunda-
nismo francês. Retrato de Isaac Newton (1642-1727 mente, assim como seus
No cerne das obras de prósperos esforços literá-
Voltaire está sua defesa inabalável das liberdades rios e científicos.
civis. Ele era um firme defensor da liberdade de Em particular, Voltaire foi inspirado nas obras de
expressão, liberdade de religião e da separação entre William Shakespeare, embora relativamente obscu-
igreja e estado. ro na Europa continental na época.
Ele criticou a estreita aliança entre a igreja e o Apesar de sua crítica ao desvio de Shakespeare
estado, que ele acreditava impedir o progresso da dos padrões neoclássicos, Voltaire apreciou a capa-
ciência e promover a ignorância, o fanatismo e a cidade do dramaturgo de criar um drama poderoso e
perseguição. Suas perspectivas sobre essas questões envolvente, algo que ele sentiu que faltava nas pro-
alimentaram sua missão de educar as massas e duções teatrais francesas.
melhorar as condições sociais. À medida que a influência de Shakespeare come-
Os esforços de defesa de Voltaire se concentra- çou a se espalhar na França, Voltaire procurou desa-
ram em desafiar dogmas intelectuais, promover a fiá-la com suas peças, tentando mostrar o equilíbrio
tolerância e abordar injustiças cometidas por pode- entre a profundidade emocional e os padrões teatrais
res religiosos e políticos. clássicos.
Seu compromisso incansável com essas causas O tempo de Voltaire na Inglaterra o expôs ao fune-
contribuiu significativamente para a fundação do ral do visionário cientista, Sir Isaac Newton, deixan-
movimento iluminista, que de fato mudaria o mun- do uma profunda impressão no escritor francês.
do. Inspirado por nomes como Newton e outros inte-
lectuais britânicos, Voltaire começou a publicar ensa- Os dois compartilhavam um intenso amor pela
ios em inglês que afirmavam sua recém-descoberta ciência, literatura e filosofia que os ajudou a formar
apreciação pela sociedade e cultura britânicas. um vínculo profundo. Eles trabalharam juntos em
Esses primeiros trabalhos incluem “Sobre as vários projetos científicos e realizaram experimen-
Guerras Civis da França, extraídos de manuscritos tos em sua casa comum, Cirey, um castelo no nor-
curiosos” e “Sobre a poesia épica das nações euro- deste da França.
péias, de Homer Down a Milton”. A parceria deles foi, sem dúvida, produtiva. Tanto
Depois de dois anos e meio morando na Grã- Du Châtelet quanto Voltaire contribuíram para o
Bretanha, Voltaire voltou para a França com uma trabalho um do outro, enriquecendo seus respecti-
visão transformada sobre política, religião e cultura. vos campos e ampliando os limites da investigação
Suas experiências na Inglaterra moldaram suas intelectual.
perspectivas sobre liberdades civis, tolerância e os Por exemplo, Du Châtelet traduziu e expandiu o
méritos de uma monarquia constitucional, influenci- Principia Mathematica de Isaac Newton, que foi
ando significativamente seus esforços filosóficos e fundamental na promoção de suas ideias científicas
literários subsequentes. inovadoras na França. Por sua vez, Voltaire aprimo-
Pouco depois de retornar à França, a admiração rou suas habilidades em matemática sob sua orienta-
de Voltaire pela sociedade britânica culminou na ção, incorporando essas ideias em seus escritos filo-
publicação de “Cartas sobre a nação inglesa” (publi- sóficos.
cado como “Lettres philo- Seu relacionamento
sophiques” em francês). único, baseado na busca
Esta coleção de ensaios intelectual e no respeito
incitou controvérsia devi- mútuo, persistiu até 1749,
do ao seu elogio à monar- quando Émilie du Châtelet
quia constitucional da faleceu tragicamente devi-
Grã-Bretanha, à liberdade do a complicações decor-
religiosa e ao respeito rentes do parto.
pelos direitos humanos. Voltaire lamentou-a
Apesar de enfrentar profundamente e continu-
censura e reação em sua ou a reconhecer seu notá-
terra natal, Voltaire perma- vel legado como cientista,
neceu inabalável em suas matemática e figura influ-
convicções, profundamen- Émilie du Châtelet ente do Iluminismo.
te influenciado por seu
tempo na Grã-Bretanha. Exílio na Prússia (1750-1753)
Na década de 1750, Voltaire recebeu um cobiça-
Relacionamento com Émilie du Châtelet do convite do rei Frederico, o Grande, da Prússia,
(1733-1749) que admirava a sagacidade e o intelecto do escritor.
Ansioso por buscar oportunidades intelectuais na
No início da década de 1730, Voltaire envolveu- corte de Frederico, Voltaire deixou a França e
se romanticamente com Gabrielle Émilie le Tonneli- mudou-se para a Prússia.
er de Breteuil, Marquise du Châtelet. Émilie du Châ- Ele foi calorosamente recebido e os dois homens
telet era uma potência intelectual e uma matemática desfrutaram de uma admiração mútua um pelo
brilhante, o que era altamente incomum para uma outro, discutindo literatura, filosofia e política.
mulher de seu tempo. No entanto, as tensões começaram a surgir entre
Ela foi inflexível sobre seu desejo de se envolver Voltaire e Frederick devido a divergências sobre o
no trabalho intelectual e permaneceu dedicada a trabalho criativo, filosofia e assuntos pessoais.
suas atividades, apesar da pressão social para cum- O relacionamento inicialmente promissor se dete-
prir os papéis tradicionais de gênero. riorou, levando à saída de Voltaire da Prússia depois
Apesar de casada e mãe de três filhos, Émilie du de apenas três anos.
Châtelet embarcou em um relacionamento apaixo-
nado e intelectualmente estimulante com Voltaire. Vida em Genebra e Ferney (1755-1778)
Depois de deixar a Prússia, Voltaire se estabele- taire deixaram uma marca indelével no mundo.
ceu em Genebra, onde continuou a escrever e apoiar Seu compromisso inabalável em desafiar o status
causas justas. quo e promover a liberdade de pensamento continua
No entanto, os rígidos regulamentos na cidade sendo um exemplo inspirador para todos os que
protestante tornaram-se sufocantes, o que o levou a lutam pelo progresso intelectual e social.
se mudar mais uma vez, desta vez para Ferney, um
pequeno vilarejo perto da fronteira franco-suíça. Voltaire e a Maçonaria
Em sua residência em Ferney, Voltaire passou a La Loge des Neuf Sœurs (As Nove Irmãs), funda-
maior parte das últimas duas décadas de sua vida. da em Paris em 1776, foi uma proeminente Loja
Dedicou-se a várias atividades intelectuais, incluin- Maçônica Francesa do Grande Oriente da França
do a construção de uma grande biblioteca e um tea- que foi influente na organização do apoio francês à
tro. Revolução Americana.
Voltaire também continuou a defender indivídu- O nome se referia às nove Musas, filhas de Mne-
os perseguidos injustamente, emprestando sua voz e mosyne/Memory, patronas das artes e das ciências
influência à causa deles. desde a antiguidade e há muito tempo significativas
nos círculos culturais franceses.
Anos Finais e Morte (1778) Em 1778, ano em que Voltaire se tornou membro,
Em 1778, aos 83 anos, Voltaire voltou a Paris para Benjamin Franklin e John Paul Jones também foram
supervisionar a produção de sua peça “Irene”. Ele aceitos. Benjamin Franklin tornou-se Mestre da
foi recebido com grande Loja em 1779 e foi reeleito
entusiasmo pelo público em 1780.
parisiense, que o saudou Quando Franklin, após
como uma figura heróica uma longa e influente
do Iluminismo. estada na Europa, retornou
No entanto, a saúde de à América para participar
Voltaire começou a piorar da redação da Constitui-
rapidamente e ele faleceu ção, Thomas Jefferson, um
em 30 de maio de 1778. não maçom, assumiu o
Apesar de suas críticas cargo de enviado america-
ao longo da vida à Igreja, no.
Voltaire, ciente do poten- Voltaire foi iniciado na
cial de seus restos mortais Avental de Voltaire loja em 4 de abril de 1778,
serem descartados em solo não consagrado, foi em Paris; seus regentes foram Benjamin Franklin e
enterrado secretamente em uma abadia em Cham- Antoine Court de Gébelin. Ele morreu no mês
pagne. seguinte. Sua filiação, no entanto, simbolizava a
Seu túmulo foi posteriormente transferido para o independência de espírito que Les Neuf Sœurs
Panteão de Paris, onde seus restos mortais repousam representava.
ao lado de outros grandes pensadores franceses, Benjamin Franklin, um dos Pais Fundadores dos
como Rousseau e Victor Hugo. Estados Unidos, foi uma figura chave na loja. Ele
serviu como Venerável Mestre da loja de 1779 a
Obras e legado de Voltaire 1781.
Ao longo de sua vida, Voltaire escreveu inúmeras Sua influência e conexões desempenharam um
obras que deixariam uma impressão duradoura nas papel significativo na promoção do relacionamento
gerações futuras. Algumas de suas obras mais notá- entre a França e os emergentes Estados Unidos
veis incluem "Candide", "Zadig", "The Age of Louis durante a Revolução Americana.
XIV" e "The Maid of Orleans". Em conclusão, Voltaire, Benjamin Franklin e a
A escrita prolífica de Voltaire serviu como teste- Loge des Neuf Sœurs em Paris estavam interliga-
munho de sua genialidade e de sua dedicação incan- dos. Todos faziam parte desta influente Loja Maçô-
sável à busca do conhecimento e do progresso. nica, que desempenhou um papel significativo no
Como pioneiro do Iluminismo e feroz defensor cenário cultural e político da época.
das liberdades civis, as ideias e contribuições de Vol-
Elias Ashmole

MAÇONARIA ESPECULATIVA EM SEUS PRIMÓRDIOS:


INFLUÊNCIAS JUDAICAS (IV - FINAL)
tórica do registro da sua iniciação não está no ato em si,
Podcast Ouça a matéria clicando aqui mas, em ter se tornado a primeira evidência da inicia-
ção de um maçom especulativo inglês, não obstante o
Por Irmão José Ronaldo Viega Alves fato de que os presentes naquela ocasião certamente
teriam sido iniciados em datas anteriores.
ELIAS ASHMOLE E A MAÇONARIA Uma curiosidade: entre as descobertas feitas por
pesquisadores está a de que Ashmole teria assumido
Conforme o Irmão Yasha Beresiner, nunca nos anais sua obrigação não com uma Bíblia, mas com o que
da Maçonaria foi atribuído tanto a um único homem. O agora é conhecido como Manuscrito Sloane nº 3438.
nome desse homem: Elias Ashmole. Elias Ashmole era fascinado por vários assuntos,
Em 16 de outubro de 1646, ele é iniciado na Maço- sobretudo, o esoterismo e o hermetismo. Ainda que
naria em Warrington. No diário cifrado que manteve mantivesse um entusiasmo constante com a Alquimia,
entre os anos de 1645 e 1649 a sua iniciação foi regis- nunca se viu como alquimista praticante. E não foram
trada. Mas, o que ele chamou de “coleção cronológica encontradas evidências de que seus interesses nessas
de ocorrências e acidentes de minha vida”, somente áreas de conhecimento se estendessem ao seu envolvi-
começou a partir de 26 de dezembro de 1679. A última mento restrito com a Maçonaria.
vez que registrou sua entrada no diário foi em 1692. Em O fato de ser um monarquista e de grande lealdade
todas as extensas anotações que costumava fazer em ao rei, rendeu-lhe a nomeação de arauto (Windsor
seu diário, somente constam duas referências às suas Herald), e a partir daí exerceu também os cargos de
atividades maçônicas, às quais correspondem aos anos secretário e de tesoureiro, entre os anos de 1668-1671.
de 1646 e 1682. Foi no exercício de tais funções que Ashmole se sentiu
E aí surge aquela pergunta que o próprio Irmão qualificado para propor o brasão da Royal Society,
Yasha Beresiner, pesquisador, faz ao final do primeiro sociedade da qual já era membro desde janeiro de
parágrafo do seu artigo “Elias Ashmole: ícone maçôni- 1661.
co”. A pergunta é a seguinte: por que um homem da Vejamos o que o Irmão Yasha Beresiner escreveu a
posição de Ashmole deveria se tornar um maçom em respeito disso:
primeiro lugar?” (Beresiner, 2004) “Sua submissão, inspirada na referência bíblica em
Conforme o pesquisador citado, a importância his- Amós 7, vv. 7 e 8 tinham no uso da regra de prumo, tam-
bém conotações maçônicas das quais Ashmole sem “Um mês após a venda da primeira cópia de seu
dúvida teria conhecimento. O desenho mostra um escu- Theatrum, ele 'começou a aprender hebraico com o
do dividido em dois, a metade superior com o Brasão rabino Solomon Frank. Tinha evidente interesse pela
Real no lado superior esquerdo. Uma mão saindo de tradição da gnosis judaica, conhecida como Kabba-
uma manga dobrada segura uma régua de prumo entre lah, ou Cabala, ou ainda Qabalah (grafia árabe); A
o polegar e o dedo indicador, descendo até a metade ideia era a de que Moisés, apesar de ter recebido uma
inferior dos braços. Na base, a legenda 'Rerum Cog- tradição exotérica no Sinai (a Lei), também obtivera
noscere Causas', abreviada da frase completa de Virgí- uma tradição esotérica transmitida pela palavra fala-
lio: 'felix qui potuit rerum cognoscere causas' que se da e mente a mente. Portanto, a palavra Kabbalah refe-
traduz: feliz o homem que pôde aprender as causas das re-se ao que foi recebido. O rabino Solomon Frank foi
coisas. Ashmole foi um membro fundador da socieda- um dos primeiros membros da comunidade sefardita
de, cujo primeiro presidente, Sir Robert Moray, foi de Londres com quem ele se encontrou na sinagoga de
iniciado 5 anos antes de Ashmole, na St. Mary's Chapel Creechurch Lane. (Churton,2008, pág. 162)
Lodge de Edimburgo, na Escócia.” Na primeira delas, chama a atenção sobre o material
que teria sido coletado, e a evidência em tão de que o
COMENTÁRIOS: Templo de Jerusalém era mesmo objeto de seus estu-
O Irmão Yasha Beresiner sugere em seu artigo, a dos.
possibilidade de se especular sobre se esses dois Na segunda passagem aparece o nome de mais um
Maçons, ambos membros da Royal Society, chegaram rabino sefardita: Solomon Frank, o qual estaria encar-
a discutiram a Maçonaria. regado de ministrava-lhe aulas da língua hebraica, e
E é de se supor que a resposta para tal possibilidade, podemos até supor que, se Ashmole mostrava interesse
seja mesmo, um sim. pela Cabala conforme o texto revela, o assunto deve ter
O fato de não haver vestígios da Loja onde Ashmole vindo à baila muitas vezes nos encontros em que ambos
foi iniciado, ou melhor, de somente terem sido feitas participavam.
duas anotações por parte Se Elias Ashmole nasceu
dele em seu diário se refe- em 1617 e faleceu em 1694,
rindo à Maçonaria, parece ele viveu no século XVII.
que fez aumentar de vez o Este rabino teria sido seu
mistério sobre essa figura contemporâneo sim, até
importante que viveu porque foi descrito como um
naquele período, onde estava ocorrendo uma transição dos primeiros membros da comunidade sefardita de
da Maçonaria Operativa para a Especulativa. Londres, conforme o historiador Tobias Churton. No
O propósito aqui de se ter apresentado e biografado entanto, não foi possível encontrar-mos maiores dados
este ilustre Maçom é porque encontramos duas passa- biográficos ou registros sobre a sua vida em meio àque-
gens bem sugestivas, a primeira, ainda do artigo do la comunidade, infelizmente.
Irmão Yasha Beresiner, e a segunda constando no livro Por outro lado, comprovadamente, Ashmole exer-
de Tobias Churton intitulado “O Mago da Franco- ceu um papel de grande destaque na época, envolven-
Maçonaria”, passagens que se coadunam com o objeti- do-se com a ciência experimental, com a magia, com a
vo deste trabalho. Vejamos: alquimia, com a Cabala... Privou da amizade e constru-
“Meu bom amigo John Hart, curador do Worcester iu relações com vários dos sábios da época: matemáti-
Museum, comentou recentemente: 'Que pena que Elias cos, astrólogos, cabalistas, rosa-cruzes, rabinos e inú-
Ashmole nunca se antecipou a Robert Gould e escre- meros cientistas, sendo que, juntamente com alguns
veu uma história da Maçonaria.' O fato é que Ashmole desses últimos formou a Royal Society, a qual possuía
parecia ter planos para uma História da Maçonaria. entre os seus membros, vários Irmãos Maçons.
Sua intenção é evidenciada em vários escritos e refe- Na inscrição memorial em latim que consta na lápi-
rências. Ainda mais lamentável que este projeto nunca de em mármore negro feita em sua homenagem por sua
tenha decolado e que nenhum material coletado, exce- terceira esposa, traduzidas, aquelas palavras dizem
to referências menores a detalhes do Templo de Jeru- assim:
salém, tenha sobrevivido ou sido localizado. Elias Aqui jaz o famoso e muito erudito
Ashmole morreu em 18 ou 19 de maio de 1692 com Elias Ashmole, de Lichfield, Cavalheiro,
mais de setenta anos e, sem dúvida, alheio ao legado Detentor entre outros cargos públicos,
especulativo que seguiria sua longa e gratificante Do posto de Controlador de Impostos:
vida.” (Beresiner, 2004) Também por muitos anos honrado com o título de
Arauto de Windsor, guliers, homem culto, o qual reviveu os antigos brindes
Ele que, após dois casamentos, ('toasts') e deu à Maçonaria uma forma mais pujante,
teve como terceira esposa fazendo com que muitos Maçons adormecidos retor-
Elizabeth, Filha de sir William Dugdale, nassem às suas Lojas e que os nobres e homens ilustres
Cavaleiro, Principal Rei de Armas da Jarreteira, fossem convidados a ingressar na Maçonaria. Desa-
Faleceu em 18 de maio de 1692, aos 75 anos, guliers uniu-se ao ministro presbiteriano James
Mas enquanto existir o Museu Ashmoleano, de Anderson para a confecção de uma Constituição para
Oxford, a novel Grande Loja. Juntos, formularam as primeiras
Ele nunca morrerá. (Churton, 2008, pág. 275) analogias entre o antigo ofício da Maçonaria Operati-
va e o moderno mundo intelectual da Maçonaria Espe-
culativa, sustentando que os princípios da antiga
Maçonaria possibilitariam a construção das pirâmi-
des egípcias e o Templo do Rei Salomão. (Grifo meu!)
Mas, a partir de 1721 a Maçonaria irá buscar na alta
aristocracia os seus Grão-Mestres, como o Duque de
Montagu. A obrigação de crer em Deus, Grande Arqui-
teto do Universo, estende-se a todas as confissões e, a
partir de 1723, na Inglaterra, os judeus serão admiti-
dos na Maçonaria. Um deles aparecerá com destaque:
o célebre Haim Samuel Jacob, nascido na Polônia e
que se tornou conhecido sob o nome de Falk-Scheck,
mestre de ocultismo judaico de Maçons ilustres e chefe
Hain Samuel Jacob
político dos judeus à época, reconhecido como o 'Prín-
cipe do Exílio' o Exilarca (em grego, exilarkès; em ara-
UM JUDEU MISTERIOSO: maico, resh galutha) na Diáspora dos judeus deporta-
HAIM SAMUEL JACOB dos para a Babilônia em 598 a. C.
Numa reação inevitável, a Loja de York, Loja ime-
Quando na busca do maior número de informações morial, a mais antiga da Inglaterra, alarmou-se ante
possíveis sobre o assunto, envolvendo a aceitação, o essa criação e, em 1725, através de uma reforma passa
ingresso e a participação dos judeus, principalmente, a chamar o seu Presidente de Grão-Mestre; e o seu
os sefaradim ou sefarditas, isso nos primórdios da Grande Segundo Vigilante lançou uma fábula – 'Lenda
Maçonaria Especulativa na Inglaterra, durante as leitu- de York' – segundo a qual as origens da Loja de York
ras e pesquisas, colhi uma informação muito interes- remontavam ao ano 600 e, em consequência, reclamou
sante, a qual aparece no livro do Irmão Ubyrajara de o título e se constitui em Grande Loja de Toda a Ingla-
Souza Filho intitulado “Cognição e Evolução dos Ritu- terra, em 1725. Esta Loja adormeceu em 1740.” (Sou-
ais Maçônicos', e que fala a respeito de um outro judeu za Filho, 2010, págs. 121-122)
que teria também tido participação nesse período inici- Evidentemente, um personagem mais do que miste-
al. Aliás, nessa passagem do texto do referido Irmão ele rioso e que parece ter saído de um livro do grande escri-
faz /menção a outro Maçom iminente chamado Jean tor e Prêmio Nobel de Literatura, Isaac Bashevis Sin-
Theóphile Desaguliers, o qual, em determinado perío- ger. À cata de uma biografia de Falk-Sheck, somente
do manteve seus contatos com rabinos judeus, de cuja fui encontrá-la no “Dicionário Judaico de lendas e Tra-
fonte, é possível conjeturar, possa ter auferido conheci- dições”. Evidentemente, não há nenhuma informação
mentos que o influenciaram quando da elaboração dos sobre as suas prováveis ligações com a Maçonaria, o
Rituais maçônicos, tal como veremos mais adiante. Na que já era de se esperar em um dicionário voltado para o
sequência, ficamos então com o trecho extraído da obra judaísmo. Mas, pelo que se pode inferir, e consideran-
do Irmão Ubyrajara de Souza Filho, onde aparecem os do que ele era um profundo conhecedor da Alquimia e
nomes desses dois personagens. Vejamos o que ele da Cabala, é bastante provável que tenha se relaciona-
escreveu: do, especialmente, com Maçons e rosa-cruzes da épo-
”(...) Antes de terminar o seu mandato, Georges ca, e há quem atribua a criação da lenda de Hiram Abiff
Payne indicou para Grão-Mestre Jean Theóphile Desa- a Falk-Sheck, que teria se inspirado por sua vez em
rituais egípcios. de-Mécum Maçônico”, uma compilação do Irmão João
O “Dicionário Judaico de Lendas e Tradições”, des- Ivo Girardi, as quais veremos na sequência.
creve-o da seguinte maneira: As Constituições de Anderson representaram um
“FALK, SAMUEL (1708-82) Cabalista ativo na divisor de águas entre os operativos e os especulativos.
Inglaterra, onde tornou-se conhecido como o BAAL Nesse mesmo ano, 1723, sob inspiração de Desaguli-
SHEM de Londres. Falk fugiu da Alemanha para a ers, a Bíblia, qualificada daí por diante, de Livro da Lei,
Inglaterra em 1742, depois de ter sido acusado por substitui as Antigas Obrigações sob as quais os jura-
Jacob Endem de ser um herege shabetaiano e de prati- mentos eram prestados. É ainda atribuído a Desaguli-
car Magia negra. Em Londres, manteve um laborató- ers, a redação do livro Charges of a Free-Mason (Obri-
rio de alquimia, usava um impressionante turbante gações de um Maçom) e que tem substancialmente
dourado e uma corrente e era muito procurado pela permanecido o mesmo desde a edição de 1723.
realeza e pela aristocracia para ajudar em Alquimia e Também, quando no ofício de Grão-Mestre Adjun-
Cabala e para fornecer talismãs. (Grifo meu!) (...) Em to, contribuiu ativamente para a redação dos primeiros
certa ocasião, ele salvou a Grande Sinagoga de Lon- Rituais.
dres de um incêndio que grassava perto escrevendo na A expressão GADU, ainda que introduzida por
porta da sinagoga uma fórmula cabalística de quatro Anderson, também tem o dedo de Desaguliers, já que a
expressão ajudou na introdução do deísmo na Maçona-
ria nascente, substituindo o teísmo católico dos
Maçons operativos e reforçando assim o anglicanismo
que era um pouco mais aberto à tolerância do que reli-
gião de Roma.
Um trecho chama a atenção em particular, o qual
reproduzimos na íntegra:
“A partir de 1670, muitos rabinos de origem polo-
nesa estabeleceram-se em Londres e Desaguliers man-
teve contato com eles ou com seus antecessores para
que se juntassem à então Maçonaria nascente. No
dizer de Robert Ambelain, foi devido a esses rabinos
Jean Theóphile Desaguliers que Desaguiliers hauriu a história de um novo perso-
nagem maçônico: o mito de Hiram. Inspirado pela
letras hebraicas. Quando o fogo atingiu a sinagoga, o Cabala prática, ou seja, pela magia, a história de um
vento mudou e a sinagoga foi salva. Seu retrato é fre- novo personagem _ Hiram _ arquiteto do Templo de
quentemente reproduzido em livro sendo erroneamente Salomão adentra ao Ritual maçônico do Terceiro
atribuído a seu contemporâneo Israel Baal Shem Tov. Grau.” (Girardi, 2008, pág. 141)
(Unterman, 1992, págs. 99-100)
COMENTÁRIOS FINAIS
JEAN THEÓPHILE DESAGULIERS Até aqui pudemos chegar em nosso trabalho que
Do dicionário de Alec Mellor, extraímos algumas envolveu muitas pesquisas e recopilações para que se
informações biográficas referentes ao personagem. pudesse ter uma ideia geral a respeito de um grupo de
Desaguliers era filho de um ministro huguenote personagens históricos que se movimentaram durante
francês que emigrou para a Inglaterra por motivos de aquele período efervescente de ideias, e que muito
perseguição religiosa na França. influíram quando da formação da Maçonaria Especula-
Na Inglaterra, tempos depois, Desaguliers formou- tiva. Evidentemente, todos tiveram participações e
se em teologia e tornou-se membro da Royal Society. exerceram suas ações no processo de uma nova Maço-
Distinguiu-se no meio científico em razão das suas naria: seja pelos estudos que conduziram, pelos seus
numerosas dissertações e invenções. conhecimentos, pelos seus relacionamentos, os quais
Segundo consta, teria sido iniciado na Loja Anti- se desenrolaram numa das mais pujantes capitais da
quity nº 2, uma das quatro lojas fundadoras da Grande época, ou seja, a cidade de Londres. A filosofia, a
Loja de 1717. Desaguliers teve um papel de destaque religião e o misticismo, que esses personagens conhe-
nos primeiros anos da Grande Loja, nos trabalhos pre- ciam em profundidade, devem sim ter deixado suas
paratórios dos Estatutos de Anderson (1723). (Mellor, marcas, suas influências, as quais foram aproveitadas,
1989, págs. 280-281) adaptadas, quando da elaboração dos primeiros Rituais
Por outro lado, as complementações para esta sucin- da época. Vimos que a lenda do Templo de Salomão
ta biografia de Desaguliers, foram buscadas no “Va- cada vez mais ganhou destaque dentro do simbolismo
“Elias Ashmole” – disponível em: pt.frwiki.wiki
“Elias Ashmole: ícone maçônico” – artigo de auto-
ria do Irmão Yasha Beresiner – disponível em: freema-
sons-freemasonry.com
“Filosofia Hermética e Maçonaria” – artigo de
autoria do Irmão John Tolbert – disponível em: bibli-
ot3ca.com
“Judah Leon Templo” – disponível em: en-m-
wikipedia-org.
“Leão de Modena” – disponível em: en-m-
wikipedia-org.
“Menasseh ben Israel” – disponível em: pt.wikipe-
Christian Rosenkreuz, dia.org
maçônico, assim como, componentes dessa mística “Três Semelhanças desafiadoras: uma Exploração
milenar chamada Cabala e ainda uma infinidade de das Ordens Monásticas e Maçônicas” – Artigo de auto-
palavras oriundas da língua hebraica que foram sendo ria do Irmão Karel Mush – disponível em: bibliot3ca.
incorporadas aos catecismos. com
Seria bastante difícil e exigiria uma bibliografia Revistas:
bem maior daquela que disponho no momento para ARTE REAL, nº 16, jan./fev.15: “A Maçonaria dos
poder mapear os caminhos todos que tais personagens Antigos e Aceitos” – Artigo de Raymond François
trilharam, as suas conexões todas, e a totalidade da con- A TROLHA, Nº 256, fevereiro de 2008: Leon Tem-
tribuição de cada um para com essa história, mas, em plo – Rabbi Jacob Judah Leon” Artigo do Irmão Leon
relação a essa história da Maçonaria, a Especulativa, já Zeldis
temos aqui um começo envolvendo o campo das ideias Livros:
e influências. ASLAN, Nicola. “Grande Dicionário Enciclopédi-
Ainda que muito sucintamente, foi insinuada tam- co de Maçonaria e Simbologia” – Editora Maçônica “A
bém a influência dos rosa-cruzes, o que seria um outro Trolha” Ltda. 3ª Edição - 2012
caminho para quando se quer estudar e avaliar as BÍBLIA SAGRADA - Almeida Revista e Atualiza-
influências recebidas na Maçonaria. Vimos durante o da – Sociedade Bíblica do Brasil – 2011
desenvolvimento do trabalho que, dos membros da CHURTON, Tobias. “O Mago da Franco-
Royal Society, aquela sociedade que chegou a ser com- Maçonaria” – Madras Editora Ltda. - 2008
parada a uma espécie de antecâmara da Maçonaria, uns HORNE, Alex. “O Templo de Salomão na Tradição
eram Maçons, outros eram rosa-cruzes, e em muitos Maçônica” – Editora Pensamento – 1995
casos, aqueles que eram as duas coisas. MELLOR, Alec. “Dicionário da Franco-Maçonaria
Isso nos anima muito, no sentido de que isso possa e dos Franco-Maçons” - Livraria Martins Fontes Edito-
se converter em outro ótimo assunto para escrever uma ra Ltda. - 1989 – 1ª Ed.
outra série, agora sobre as conexões que existiram e NAME, Mario. “O Templo de Salomão nos Mistéri-
que possam ser comprovadas entre a Maçonaria e a os da Maçonaria” – Editora “A Gazeta Maçônica” – 1ª
Rosa-Cruz. Claro, não há nada de inédito na proposta, Edição – 1988
mas, o fato de que Christian Rosenkreuz, o sábio e ilu- SABLÈ, Erik. “Dicionário dos Rosa-Cruzes” –
minado, aquele que plantou as sementes da Ordem Madras Editora Ltda. - 2006
Rosa-Cruz, logo no começo do século XV na Alema- SCHLESINGER, Hugo. “Pequeno Vocabulário do
nha, era um estudioso e grande conhecedor da língua Judaísmo” – Edições Paulinas – 1987
hebraica também, e que Robert Fludd, mais adiante, já SOUZA FILHO, Ubyrajara. “Cognição e Evolução
na Inglaterra, era provavelmente Maçom e bem que dos Rituais Maçônicos” – Editora Maçônica “A Tro-
poderia ter sido o introdutor de uma corrente rosa-cruz lha” Ltda. 2010 – 1ª Edição
na Maçonaria, soa interessante, no mínimo, para
desenvolver um outro capítulo da história da Maçona-
ria.

BIBLIOGRAFIA PARA QUEM QUISER


SABER MAIS:
Internet:
AGENDE SUA CONSULTA: 27 3371 - 1505
Av. João Felipe Calmon,1098- Centro - Linhares - ES
Anexo a Clínica Santa Lúcia
SIMON BOLIVAR - O LIBERTADOR
dar na Europa, onde teve a oportunidade de entrar em
Podcast Ouça a matéria clicando aqui contato com a cultura e a filosofia iluministas que
alimentaram o fogo da rebelião que ardeu dentro dele,
O patriota venezuelano, líder e revolucionário, pai fogo que quando voltou à pátria se transformou trans-
da independência das nações latino-americanas, formá-lo em um verdadeiro herói da história. O domí-
nasceu há 240 anos, foi iniciado na maçonaria nio colonial espanhol tomou conta da região, e foi
numa loja de Cádiz. Bolívar quem liderou a revolução venezuelana,
lutando para libertar seu país da opressão estrangeira.
No dia 24 de julho de 1783 nasceu em Caracas, Sua proeza militar se manifestou na famosa "Campa-
Venezuela, uma das figuras mais influentes da histó- nha Admirável" (1813), uma série de ousadas mano-
ria da América Latina: Simão Bolívar, o Libertador, o bras militares que tornaram grande parte da Venezue-
homem que no século XIX liderou a luta pela inde- la independente e lhe renderam o título de El Liberta-
pendência dos países sul-americanos contra o coloni- dor. Em 6 de agosto de 1825, o Alto Peru tornou-se
al espanhol no século XIX. Tinha 20 anos quando em um novo estado com o nome de "República de Bolí-
1803 foi iniciado na Maçonaria, na Loja Lautaro em var", posteriormente alterado para Bolívia; o projeto
Cádiz, Espanha, onde conheceu dois protagonistas da de independência da América do Sul da Espanha, ao
Revolução Bolivariana, José de San Martín e Maria- qual Bolívar dedicara toda a sua vida, estava final-
no Moreno, também maçons. Em maio de 1806, em mente concluído. Mas seu espírito apaixonado o
Paris, ele também se tornou Grão-Mestre da Loja levou além das fronteiras da Venezuela, buscando
Mãe de São Alexandre da Escócia. Bolívar veio de criar uma união de nações livres e soberanas que ele
uma família rica e aristocrática que o enviou para estu- chamou de "Grande Colômbia". Sua aspiração era
criar uma federação de estados sul-americanos, uni- Equador, sob a liderança, respectivamente, do neo-
dos pelos valores de liberdade, independência, igual- granadino Francisco de Paula Santander, do venezue-
dade e fraternidade. Um sonho baseado nos princípi- lano José Antonio Páez e do equatoriano Juan José
os da Maçonaria que muito o influenciou, na sua Flores. Os restos mortais de Bolívar foram enterrados
visão de futuro, ao longo da sua vida. na Basílica de Santa Marta até serem trasladados para
Bolívar lutou com firmeza, mas foi confrontado a Venezuela em dezembro de 1842, seu país de ori-
com a realidade da política e interesses locais, com gem, conforme solicitação testamentária. Ali foram
divisões internas, rivalidades regionais e conflitos de sepultados na cripta da catedral de Caracas, local de
poder. Assim, a Grande Colômbia se desfez, deixan- sepultamento da família, até que a República da Vene-
do apenas um eco de sua utopia. zuela construiu o Panteão Nacional, para onde foram
Bolívar esteve no centro das críticas e polêmicas. trasladados definitivamente. Em sua juventude,
Alguns até o acusaram de ter se tornado um déspota, Bolívar havia viajado muito pela Europa, frequentan-
outros o consideravam um idealista louco em um do salões culturais onde se respiravam novos fermen-
mundo de concessões. No entanto, seu impacto na tos e conhecendo personalidades importantes. Foi em
história permanece indiscutível. Bolívar ainda encar- Milão, em 26 de maio de 1805, que Napoleão foi coro-
na o desejo de liberdade e independência de todo um ado no Duomo. E alguns meses depois, em 26 de agos-
continente. Seu legado está profundamente enraiza- to, o encontramos em Roma. É aqui, no Monte Sacro,
do na história latino- que prestou o seu famo-
americana e influenciou so juramento, inspirado
o nascimento das nações no discurso que proferiu
do continente. Sua cora- neste mesmo local em
gem, paixão e determi- 494 a.C. por Menenio
nação inspiraram gera- Agrippa e que serviu
ções de líderes e pessoas para pôr fim à revolta da
comuns que ainda hoje plebe. Hoje, naquela
buscam construir uma montanha, um parque
sociedade baseada na leva seu nome, enquan-
justiça, igualdade e to o busto é guardado
liberdade. Em 1830, Batalha de Boyacá (1890), de Martín Tovar y Tovar. nos escritórios da Prefe-
como escreveu a Pedro itura na Piazza Sempio-
Briceño Méndez, seu ex-ministro da Marinha e da ne.
Guerra, "velho, doente, cansado, desiludido, nausea- Tinha sido um ano planejado para Bolívar na Itá-
do, caluniado e mal pago" partiu para Bogotá com a lia, país do qual admirava os muitos precursores inte-
intenção de retornar à Europa, passando pela Jamai- lectuais do Ressurgimento e do Iluminismo como
ca. Chegou a Cartagena em junho e no final de julho Filangeri, Foscolo, Monti e Verri que, segundo o futu-
soube pelos jornais da resolução do Congresso vene- ro Libertador, souberam combinar os ideais de Ros-
zuelano de romper relações com a Colômbia enquan- seau e Montesquieu para colocá-los a serviço do
to permanecesse em solo colombiano. Seu estado povo. Em 1851, quase cinquenta anos depois da visita
piorava a cada dia e não permitia que ele deixasse o de Bolívar a Roma, um italiano, Giuseppe Garibaldi,
país. Mudou-se para uma fazenda perto de Santa Mar- que estava na América do Sul para ajudar na luta pela
ta, em busca de um clima melhor, onde faleceu no dia independência daqueles povos, foi a Paita, um peque-
17 de dezembro. “A la una y tresminutos de la tarde no povoado da costa peruana. Aqui ele procurou e
murió el sol de Colombia” (“à uma e três minutos da conheceu uma senhora idosa, Manuelita Saenz, que
tarde morreu o sol da Colômbia”): assim foi anuncia- havia sido companheira de Simon Bolívar por muitos
do seu desaparecimento. Nos seus últimos momentos anos. Garibaldi, ouvindo os feitos daquele persona-
de lucidez, ditou o seu testamento e uma proclamação gem de quem os havia vivenciado em primeira mão,
na qual esperava que pelo menos a sua morte servisse comoveu-se, e tirou daquela experiência um ímpeto
para consolidar a unidade e fazer desaparecer as fac- renovado que naquele grande protagonista que seria
ções. Mas nem mesmo um ano se passou quando a alguns anos depois, da unificação da Itália.
Gran Colombia foi declarada legalmente dissolvida
devido a disputas políticas internas. Foi sucedido Fonte: Revista Erasmo
pelas três repúblicas de Nueva Granada, Venezuela e
REI DAVID KALĀKAUA
Rito de York, do Santuário e do Rito Escocês, tornando-
Podcast Ouça a matéria clicando aqui se, junto com seu irmão, um dos primeiros maçons do
33º Rito Escocês no Havaí.
Se alguma vez houve um viajante, o rei David La'amea
Kalākaua certamente ganhou essa honra em sua época. Infância e Educação
Em 1881 ele completou uma viagem ao redor do mun- Kalākaua nasceu em 16 de novembro de 1836, na
do, tornando-se o primeiro monarca a completar tal base da cratera Punchbowl em Honolulu, na ilha de
viagem. Ele se reuniu com líderes em toda a Ásia, Ori- Oahu. Seus pais, Caesar Kaluaiku Kapaʻakea e Analea
ente Médio e Europa, aumentando a conscientização Keohokālole eram membros da classe aliʻi da nobreza
sobre o reino havaiano por meio da diplomacia. havaiana e intimamente relacionados com a Casa rei-
Por décadas antes de seu reinado, grande parte da nante de Kamehameha. Sua família descendia de Kea-
cultura havaiana havia sido proibida. O rei Davi procu- weaheulu e Kameʻeiamoku, que serviram como conse-
rou revigorar a apreciação de sua nação por sua cultura, lheiros reais de Kamehameha I durante sua conquista
promovendo artes tradicionais, medicina, música e do Reino do Havaí. O avô de David, Kameʻeiamoku, é
hula. Esse período ficou conhecido como o primeiro um dos gêmeos reais representados no brasão havaia-
renascimento havaiano, e o rei David ganhou o apelido no.
de “Merrie Monarch” por sua natureza colorida e exu- Ele era um dos cinco filhos, incluindo seu irmão
berante. mais velho James e os irmãos mais novos Lydia, Anna,
Como líder, o rei Kalākaua inspirou um sentimento Kaʻiminaʻauao, Miriam e William. Antes de ele nascer,
renovado de despertar o orgulho havaiano em sua os pais de David seguiram a tradição havaiana de hānai,
herança e cultura. Como maçom, o irmão Kalākaua era uma forma de adoção, e prometeram dar David a Kuini
apaixonado. Ele foi notavelmente um dos poucos Liliha, uma chefe de alto escalão. No entanto, por meio
monarcas da história, particularmente fora da Europa, a de uma série de vinganças políticas, David acabou sob
servir como chefe de estado e loja maçônica simultane- os cuidados de outra chefe, Haʻaheo, e seu marido, Kea-
amente. Ele explorou os ensinamentos e mistérios do weamahi Kinimaka. Em 1843, a mãe adotiva de David
morreu, deixando para o menino todas as suas proprie-
dades. Kinimaka, seu pai hānai, mudou-se com Kalāka-
ua para a ilha de Maui.
Aos quatro anos, Kalākaua voltou a Oahu para fre-
quentar a Escola Infantil dos Chefes. Como aluno da
escola real, Kamehameha III proclamou que ele e seus
colegas eram elegíveis para o trono do Reino do Havaí.
Seus colegas de classe incluíam seu irmão James, irmã
Lydia e 13 primos reais, incluindo os futuros reis Kame-
hameha IV, Kamehameha V e Lunalilo. Ficou claro
desde muito jovem que ele era brilhante e bem-
humorado, aprendendo a falar inglês com os missioná-
rios americanos que ensinavam na escola. Após a esco-
laridade formal, David estudou direito com Charles
Coffin Harris, que Kalākaua mais tarde nomeou como
Chefe de Justiça da Suprema Corte do Havaí em 1877.

Serviço Militar e Governamental


Em pouco tempo, as obrigações militares de David
ultrapassaram seus estudos jurídicos. Em 1852, o prín-
cipe Liholiho (mais tarde Kamehameha IV) nomeou
Kalakaua para seu estado-maior militar e, no ano
seguinte, ingressou no exército, servindo como primei-
ro-tenente na milícia de seu pai Kapaʻakea. Ele acabou
trabalhando com a equipe de Kamehameha IV e tornou- lo venceu a eleição com folga, mas nomeou Kalākaua
se coronel em 1858. como coronel de seu estado-maior. Durante o reinado
Nos 15 anos seguintes, David ocupou vários cargos de Lunalilo, Kalākaua permaneceu ativo na política do
enquanto gradualmente subia no governo. Foi membro país. Lunalilo não tinha herdeiro e não conseguiu nome-
do Conselho Privado de Estado e da Câmara dos ar um sucessor antes de falecer no ano seguinte.
Nobres e serviu no Departamento do Interior. Kalākaua Por causa da popularidade de Kalākaua e seu apoio a
foi nomeado Postmaster General em 1963 e o King's Lunalilo durante seu reinado, ele estava posicionado
Chamberlain, onde serviu até 1869, quando renunciou para se sair bem na nova eleição. Kalākaua foi eleito
para voltar a estudar direito. pela Assembleia Legislativa por uma margem de 39-6,
Durante esse tempo, Kalākaua se apaixonou por apesar do apoio significativo para que a rainha viúva
uma jovem viúva chamada Kapiʻolani, a dama de com- Emma, a viúva de Kamehameha IV, governasse. Kalā-
panhia da Rainha Emma. Eles se casaram em 19 de kaua prestou juramento no dia seguinte e gerou uma
dezembro de 1863, em uma cerimônia discreta condu- revolta dos partidários da Rainha Emma. Sem exército
zida por um ministro da Igreja Anglicana. permanente, o novo rei voltou-se para as forças milita-
Em 1866, o autor americano e companheiro maçom res americanas e britânicas atracadas no porto para
Mark Twain visitou o Havaí e conheceu Kalākaua. Ele reprimir a revolta.
teve palavras gentis para o jovem maçom, observando:
“Querida. David Kalakaua… é um homem de boa Reinado e Turnê Mundial de 1881
presença, é um cavalheiro educado e um homem de As prioridades de Kalākaua eram revigorar o orgu-
boas habilidades… Ele é um homem quieto, digno e lho havaiano em sua cultura e tradições e melhorar o
sensato e não desacreditaria o cargo real. O rei tem comércio e a economia. Um ano depois de sua eleição,
poder para nomear seu sucessor. Se ele fizer tal coisa, ele negociou o Tratado de Reciprocidade de 1875, um
sua escolha provavelmente recairá sobre Kalakaua.” acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e o
Havaí que permitia que produtos fossem exportados
Subir ao poder para os Estados Unidos com isenção de impostos.
Quando o rei Kamehameha V morreu em 12 de Ele também se tornou o primeiro monarca reinante a
dezembro de 1872, ele ainda não havia nomeado seu visitar a América, participando do primeiro jantar de
sucessor. Por lei, nenhum sucessor escolhido significa- Estado na Casa Branca, oferecido pelo presidente
va que um novo governante deveria ser nomeado pelo Ulysses S. Grant. O rei David negociou um tratado em
legislativo. A eleição de 1873 centrou-se em dois aliʻi 1875 que finalmente deu aos Estados Unidos o uso
ou chefes de alto escalão: Lunalilo e Kalākaua. Lunali- exclusivo de Pearl Harbor para os Estados Unidos. Este
tratado aumentou drasticamente a renda do reino. Em
1874, o Havaí exportou $ 1.839.620,27 em produtos,
que aumentaram 722% para $ 13.282.729,48, no último
ano de seu reinado.
Em 1881, o rei Kalākaua iniciou uma jornada de 281
dias ao redor do mundo em um esforço para garantir a
importação de mão de obra contratada para as planta-
ções havaianas. O rei foi primeiro para a Califórnia e
depois navegou para a Ásia, onde passou quatro meses
abrindo o diálogo sobre contratos de trabalho no Japão
e na China. Sua jornada o levou pelo Sudeste Asiático e
pela Europa, visitando e abrindo canais diplomáticos e
comerciais ao longo do caminho. Quando ele voltou
para casa, a nação comemorou sua tentativa bem- Ferramentas de trabalho maçônicas apresentadas a
sucedida de atrair a atenção global para sua pequena Kalākaua por maçons em exibição no porão do Palácio Iolani
nação.
Os maçons do Havaí não decepcionaram, e o desfile
Maçonaria para o lançamento da pedra fundamental foi um dos
1874 foi um ano e tanto para Kalākaua. Ele era maiores da história de Honolulu. Durante a cerimônia,
maçom há anos e seu envolvimento com o ofício era os maçons presentearam o rei Kalākaua com ferramen-
bem conhecido antes mesmo de assumir o trono. Como tas de trabalho maçônicas, incluindo um prumo, nível,
rei reinante, ele e seu cunhado John Owen Dominis ferramenta quadrada e uma espátula. Assim que o palá-
estabeleceram o Rito Escocês Antigo e Aceito no cio foi concluído em 1886, o irmão Kalākaua hospedou
Havaí. Kalākaua e Dominis foram os primeiros 33° 120 membros de sua loja para uma reunião maçônica.
maçons nas ilhas havaianas. Nesse mesmo ano, o Rei
Kalākaua tornou-se o primeiro Mestre Mais Sábio do Morte e legado
Capítulo da Rosa Cruz. Apesar de sua saúde debilitada, Kalākaua partiu
Em 1880, Kalākaua recebeu a Grã-Cruz da Corte de para a Califórnia em 25 de novembro de 1890. Pouco
Honra, a mais alta honraria individual que o Supremo depois de chegar a São Francisco, o rei teve um derrame
Conselho do Rito Escocês da Maçonaria pode conce- e foi colocado sob os cuidados de George W. Woods,
der. cirurgião da Frota do Pacífico dos Estados Unidos.
Vários anos depois, o primeiro jantar formal no Apesar de sua condição frágil, Kalākaua insistiu em
recém-construído 'Iolani Palace foi um evento maçôni- participar de sua iniciação na Antiga Ordem Árabe dos
co. Ele também converteu parte do sótão do Palácio em Nobres do Santuário Místico (AAONMS) em 14 de
um espaço de reunião da Loja e Templo Maçônico. Ele janeiro.
se inclinou notavelmente para a Maçonaria durante Dentro de alguns dias, ele entrou em coma e faleceu
eventos públicos, misturando imagens e rituais havaia- em 20 de janeiro de 1891, da doença de Bright. Seus
nos tradicionais com símbolos maçônicos. Quando restos mortais chegaram ao Havaí em 29 de janeiro,
viajava para o exterior, procurava os templos maçôni- junto com a notícia de sua morte, e seu herdeiro desig-
cos e se reunia com outros membros proeminentes da nado, Liliuokalani, ascendeu ao trono. O rei David Kalā-
fraternidade. kaua foi enterrado no Mausoléu Real em Mauna ʻAla
em 15 de fevereiro de 1891.
Edifício 'Palácio Iolani O reinado do rei Kalākaua deu início ao primeiro
Na época em que Kalākaua se tornou rei, o palácio renascimento havaiano. Sua paixão pelas tradições
real estava em péssimo estado. Ele ordenou que fosse havaianas reacendeu uma apreciação nacional pela
destruído e construído um novo em seu lugar: 'Palácio cultura havaiana. Após anos em que dançar hula era
Iolani. Hoje, é o único palácio real em solo americano. proibido e punível por lei, Kalākaua convidou artistas
A construção começou em 1879 e, na época, o rei Kalā- para sua coroação. Ele também reviveu a arte marcial
kaua era o mestre da Loja Maçônica Le Progres de havaiana da Lua e do surf. Seu compromisso em manter
L'Oceanie. Ele escolheu 31 de dezembro de 1879, 45º e promover as tradições de seu povo e da Maçonaria é
aniversário da Rainha Kapiʻolani, como a data para a uma inspiração para seus irmãos e havaianos até hoje.
cerimônia de lançamento da pedra fundamental e
encarregou seus irmãos de orquestrar as cerimônias do Fonte: https://www.freemason.com
palácio.
24
A EGRÉGORA:
O Poder Coletivo da Maçonaria
e profissional, influenciando positivamente todas as
Podcast Ouça a matéria clicando aqui esferas da vida.
A Egrégora maçônica também tem o poder de trans-
A Maçonaria é uma instituição que vai além dos aspec- cender o tempo e o espaço. Ela se conecta com a tradi-
tos visíveis e palpáveis. Além de suas estruturas físicas, ção maçônica, com os maçons que vieram antes de nós
rituais e ensinamentos, há algo que permeia a prática e com os que ainda virão. É uma corrente de energia que
maçônica, algo intangível e poderoso: a Egrégora. se perpetua ao longo dos séculos, carregando consigo a
Mas afinal, o que é Egrégora? A palavra Egrégora sabedoria e a busca pela verdade.
deriva do grego e significa "vigília". Ela é utilizada para Para que a Egrégora se mantenha forte e vibrante, é
descrever a energia coletiva, o campo de influência fundamental o engajamento de todos os maçons. Cada
espiritual e psíquica criado pela união e sintonia dos irmão tem o papel de cultivar a fraternidade, o respeito
membros de uma determinada comunidade ou organi- e o compromisso com os valores maçônicos. É através
zação. dessa dedicação individual que a Egrégora coletiva se
Na Maçonaria, a Egrégora é formada pela reunião e fortalece e se expande.
interação dos irmãos em Loja. Durante os rituais, as Portanto, ao adentrar o Templo maçônico, esteja
palavras, gestos e símbolos são utilizados para criar ciente do poder e da responsabilidade que a Egrégora
uma conexão especial entre os maçons, fortalecendo o representa. A energia coletiva da Maçonaria é um dos
vínculo fraternal e alimentando a energia coletiva. principais pilares que sustentam a busca pela verdade,
A Egrégora maçônica é sustentada pela harmonia, pela virtude e pela harmonia social. Que cada maçom
respeito mútuo, comprometimento e busca pelo apri- contribua para a construção de uma Egrégora cada vez
moramento pessoal. É um ambiente de troca de ideias, mais elevada e benéfica para todos.
reflexões e aprendizados, onde cada irmão contribui Que a Egrégora maçônica seja uma fonte de inspira-
com sua experiência e conhecimento. ção, força e sabedoria para todos os que se dedicam ao
É importante ressaltar que a Egrégora não se limita caminho da Maçonaria. Que ela seja o sustento da fra-
apenas ao espaço físico da Loja. Ela se estende para ternidade universal e da busca pelo aperfeiçoamento
além das paredes do Templo, permeando a vida cotidia- humano. Que a Egrégora ilumine os corações dos
na dos maçons. Os valores e princípios ensinados na maçons e os guie na jornada em direção à luz.
Maçonaria são levados para o convívio familiar, social
A TORRE DE BABEL E A TORRE DO TAROT
Interpretação esotérica da confusão de línguas
tantes. Apenas cria a diversidade de idiomas para sepa-
Podcast Ouça a matéria clicando aqui rá-los. É uma bênção e não um castigo. Os homens par-
tiram novamente para conquistar a terra para lavrá-la.
A mensagem da carta da Torre no Tarot é um símbolo de O povo de Babel detinha legitimamente as possibili-
grande alívio espiritual. No passado, uma referência à dades contidas na posse do "nome inefável" confiado a
Torre de Babel foi vista na carta XVI. As interpretações Noé - que, entretanto, acabara por dobrar sua ciência
mais antigas falavam da punição do orgulho, catástro- sagrada a propósitos, sim, irregulares e "ilegítimos". É
fes, divórcios, etc. justamente por isso que o projeto tem chances de suces-
Se olharmos para a Bíblia e lermos atentamente a so. É por isso que o Senhor confundiu a linguagem
passagem onde a Torre de Babel é mencionada, perce- deles. O Senhor os espalhou dali por toda a terra, e eles
bemos que seu significado está longe de ser catastrófi- pararam de construir a cidade”. A diáspora dará origem
co. Mais do que um castigo, a destruição da Torre é a às nações da terra e à fragmentação do conhecimento
solução para um problema: a enchente acabou, todo o sagrado dos construtores que vagam desde então em
planeta, abundantemente irrigado, tornou-se fértil. busca da "palavra" perdida.
Muito poucos humanos sobreviveram. Em vez de se Após a queda da Torre de Babel, o homem perde o
dispersarem para cultivar os campos, juntam-se para conhecimento da linguagem essencial que volta a ser,
construir uma torre que, subindo ao céu, chega a Deus.- por assim dizer, monopólio exclusivo da divindade.
Inicialmente esta construção pretende ser um acto de Isso não significa que o universo perca seu sentido, mas
amor, o desejo de conhecer o reino do Criador. Bem, é o homem que perde sua chave.
(Fontes: O Caminho do Tarô, de Alejandro Jodorowsky e
sabendo que é um projeto inviável, ele não atinge a Símbolos da Maçonaria Tradicional, de Mariano Bizzarri).
Torre com um raio, não faz cair nenhum de seus habi-
AS TRÊS PRIMEIRAS INSTRUÇÕES
DO GRAU DE APRENDIZ MAÇOM
nicar suas ideias por meio de uma linguagem única e
Podcast Ouça a matéria clicando aqui universal. Uma vez formulada com símbolos, uma
ideia pode ser transmitida sem deturpação. Isso garan-
Por Pablo Henrique Hubner de Lanna Costa te uma continuidade da tradição. […] Os símbolos
maçônicos evocam emoções que não podem ser trans-
Introdução mitidas apenas pela linguagem. Eles também têm um
O presente trabalho tem por objetivo abordar as três papel alegórico e vêm à tona em itens do cotidiano, de
primeiras lições do Aprendiz Maçom, constantes do cédulas de dinheiro a joias, passando por fachadas de
Ritual do Grande Oriente de Minas Gerais. Antes de edifícios.
adentrar no mérito das instruções, imprescindível res- Feita essa breve digressão, passa-se ao estudo das
saltar um elemento-chave da maçonaria, um verdadei- instruções.
ro método de ensino que, somado a muitos outros, per-
mitiu com que a Nobre Arte pudesse sobreviver ao Instrução 01 – Os instrumentos de trabalho do
longo decurso do tempo, a simbologia: aprendiz
Usando a simbologia, a Maçonaria conseguiu comu- Três instrumentos básicos da construção são entre-
gues ao Aprendiz Maçom, a fim de que possa iniciar
sua vida maçônica e a incessante busca pelo aperfeiço- Ao transcender as funções da régua de 24 polega-
amento pessoal. Apesar de simples, tais instrumentos das, maço e cinzel, para a dimensão das características
possuem profunda relevância, e os conhecimentos humanas, temos sabedoria, força e beleza respectiva-
adquiridos na sua utilização serão eternamente carre- mente. Essas são colunas sagradas do templo maçôni-
gados pelo obreiro. co, a oficina que comporta o universo, na qual os obrei-
a) Régua de 24 polegadas – Corresponde à sabedo- ros buscam o constante aperfeiçoamento, desenvolvi-
ria do Venerável Mestre, que deve medir e planejar a mento pessoal e propagação de bons princípios e ener-
condução dos trabalhos. Tal conhecimento é obtido gias, em sintonia com o Grande Arquiteto do Univer-
pela observação da medida obtida ao utilizar a régua. so.
Somente após conhecermos as dimensões de um obje-
to podemos apreciar seu valor e conhecer sua utilida- Instrução 03 – Os elementos da loja maçônica
de, sem isso permanece o obreiro na ignorância. I – Colunas a) Sabedoria – A sabedoria nos orienta
Nenhum outro instrumento pode ser empregado na no caminho da vida. Coluna representada pelo VenM.
ausência da régua de 24 polegadas ou dos produtos de Representa também o Rei Salomão, em sua sabedoria
suas funções, as medidas. de construir, completar e dedicar o Templo de Jerusa-
lém a serviço de Deus. b) Força – Nos anima e sustenta
b) Maço – Representa a força do 1º Vigilante, que nas dificuldades. Coluna representada pelo 1º Vigilan-
deve transmitir a energia recebida do Venerável Mes- te. Representa também Hiran, o Rei de Tiro, pela força
tre. Simboliza o método/instrumento mais basilar de que deu aos trabalhos do tempo, fornecendo homens e
utilização da força, seja ela materiais. c) Beleza – Ador-
física, moral, mental ou na nossas ações, caráter e
espiritual (o homem primi- espírito. Coluna representa-
tivo já utilizava um artefato da pelo 2º Vigilante. Repre-
similar e com objetivos senta também Hiran Abiff,
similares). É o poder de pelo seu primoroso traba-
mover a matéria, porém, a força muscular utilizada no lho, dando beleza sem igual ao Templo de Salomão.
manejo do instrumento, com o desenvolvimento da
alma, torna o maço servo do obreiro, que sujeita as II – Ornamentos
energias em seu favor, a seu domínio. a) Pavimento Mosaico – Demonstram que apesar
c) Cinzel – Transmite a beleza do 2º Vigilante, cri- das diversidades, dos antagonismos existentes em
ando linhas, molduras e embelezando o edifício. É o todas coisas da natureza, tudo reside em perfeita har-
ponto de contato com a matéria do mundo externo. monia. A partir dessa percepção, devemos desviar o
Para bem funcionar, o cinzel deve possuir uma ponta olhar das diversidades de cores e raças, religiões e prin-
cortante e resistente, a fim de bem admitir a força cípios que regem os mais diversos povos e culturas,
recebida do maço. O fio resistente do cinzel representa pois a humanidade foi criada para viver em harmonia.
os bons sentimentos, a retidão, a honestidade do obrei-
ro, que conduzirá este instrumento para um bom cami- b) Estrela Flamejante – É a principal luz da loja,
nho. Além disso, deve o obreiro, quando se transcende simboliza o sol, a Glória do Criador, exemplificando
a concepção do cinzel para uma vertente filosófica, um dos grandes deveres do maçom, a caridade, pois o
resistir às dificuldades da vida, suportar os duros gol- Sol espalha luz e calor em tudo e todos que atinge. O
pes da realidade, sem permitir com que seu caminho Sol ensina a praticar o bem, até onde nossa caridade
seja desviado dos preceitos maçônicos. possa alcançar.
Em suma, os três instrumentos representam o cor-
po, os sentimentos e a mente. Conjuntamente, os ins- c) Orla Denteada – Representa o princípio da atra-
trumentos permitem que o ser humano planeje, execu- ção universal, o amor, os planetas que gravitam ao
te e direcione seus esforços ao objetivo inicialmente redor do Sol, os maçons reunidos em loja, aprendendo
traçado. Ao dominar estes três instrumentos o aprendiz para espalhar e multiplicar os bons preceitos na socie-
se livra de suas paixões, permite com que a mente e a dade.
consciência sejam seus guias, abrindo as portas para a
construção e realização de belas obras. III – Paramentos a) Livro da Lei – Representa o códi-
go moral que cada um de nós respeita e segue, a filoso-
Instrução 02 – As três grandes forças da cons- fia que cada um de nós adota. b) Compasso – É o
ciência humana emblema da justiça, que deve medir todos os atos do
homem, indica exatidão. Representa a necessária
moderação de nossos desejos, compreensão e conheci-
mento da Verdade, estabelecendo sinceras e perfeitas
relações seja na vida maçônica ou profana. c) Esqua-
dro – É símbolo de retidão, equidade, justiça, qualida-
des que todo homem deve se esforçar para realizar em
todos aspectos da vida. Para o maçom tais significados
se ampliam, formando o compasso verdadeiro emble-
ma da perfeição, afastando o nosso lado passional e
permitindo com que a retidão seja o guia de nosso juí-
zo.

IV – Jóias IV.i – Móveis – São chamadas de móveis,


pois transferidas com a passagem da administração. a)
Esquadro – Elemento já abordado no tópico dos Para-
mentos. b) Nível – Serve para traçar linhas paralelas ao
horizonte. Representa a concepção de que todos
homens são iguais pelas leis naturais e sociais. A essa
igualdade estão sujeitos todos os maçons, desde o
aprendiz até os degraus mais elevados da escada de
Jacó.
c) Prumo – Instrumento utilizado para comprovar
que um objeto está colocado ou não perpendicular- erro de observar a ritualística como algo desconexo,
mente ao horizonte. Para a Maçonaria significa a atra- ausente de sentido. Tal fato não pode ser admitido e a
ção e a retidão que deve resplandecer em todos os juí- sustentação da maçonaria passa, necessariamente,
zos do Maçom7 . IV.ii – Fixas – São chamadas de fixas, pela compreensão da origem e razão de ser dos símbo-
pois permanecem imóveis na Loja, como um código los, rituais, gestos, palavras, etc. Firmes nestes propó-
moral, aberto à compreensão de todos os maçons. a) sitos residem os verdadeiros Maçons.
Prancheta – Com ela o Maçom desenha e traça, com
ela o Mestre guia os aprendizes ao trabalho que nela Bibliografia
indicado, a fim de que possam se aperfeiçoar e progre- ADOUM, Jorge. Grau do Aprendiz e seus mistéri-
dir os degraus da vida maçônica . b) Pedra Bruta – Nela os. São Paulo: Biblioteca Maçônica Pensamento,
os Aprendizes trabalham, cortando-a, desbastando-a, 2019.
até que seja considerada polida para o Mestre da loja. É CAMINO, Rizzardo da. Ritualística Maçônica. São
o material bruto, recolhido da natureza e, a partir de um Paulo: Editora Madras, 2022.
árduo e constante trabalho possa tomar a devida forma GRANDE ORIENTE DE MINAS GERAIS. Ritual
e entrar na construção do edifício. c) Pedra Cúbica –É de Instruções para o Aprendiz Maçom – Rito Escocês
o material perfeitamente trabalhado, com ângulos Antigo e Aceito. Belo Horizonte: VBR Artes Gráficas,
retos, servindo o esquadro e o compasso mostrar se a 2022.
pedra foi talhada de acordo com as exigências maçôni- LOMAS, Robert. O poder secreto dos símbolos
cas. Representa o saber do homem ao fim da vida. maçônicos. São Paulo: Editora Madras, 2018.
PEREIRA, Edil Eduardo. Grau 1 da Maçonaria –
Considerações finais Aprendiz Maçom. São Paulo: Editora Madras, 2018.
Feitos esses breves apontamentos, resta evidente o
fato de que o Aprendiz Maçom, a fim de que possa
progredir na vida maçônica, deve ter sua base filosófi-
ca, simbólica, bíblica e principiológica muito bem
fundamentada, a fim de que seus próximos passos
tenham congruência e permitam com que os conheci-
mentos de cada grau possam ser adequadamente
absorvidos. Na ausência de uma base sólida, especial-
mente quanto à simbologia maçônica, corre o Apren-
diz Maçom o risco de se perder e cometer o terrível
Personagem

ASAS DA LIBERDADE
A VIDA E A MORTE DE SANTOS DUMONT
colégio.
Podcast Ouça a matéria clicando aqui Na virada dos séculos 19 e 20, a sociedade mudava
radicalmente com inovações como a luz elétrica, o
Por Luiz Guedes Jr automóvel e o telefone. Em meio ao turbilhão de novi-
dades, um intrépido brasileiro agitava a sociedade pari-
Há 150 anos, nascia Santos Dumont, um dos maio- siense com recepções nada comuns: ao serem levados
res inventores do Brasil. pelo mordomo á sala de jantar, os convidados depara-
Aos 117 anos de seu mais célebre feito, voo no Campo vam com mesas e cadeiras de mais de 2 metros de altu-
de Bagatelle em 23 de outubro de 1906, Alberto Santos ra. Entre os presentes estavam a princesa Isabel, filha
Dumont continua a ser para a maioria dos brasileiros o de d. Pedro II, último imperador brasileiro, o Joalheiro
maior herói científico que o país já teve. Muitos conhe- Louis Cartier, o arquiteto Gustave Eiffel, projetista da
cem a sua saga, contada e recontada nos livros escola- torre que leva seu nome, alguns representantes da famí-
res. Mas pouca gente sabe realmente quem foi o perso- lia Rothschild, a imperatriz Eugênia, viúva reclusa de
nagem que se aventurou a desbravar os céus. Que tipo Napoleão III, alguns duques, barões e outros membros
de homem se escondia atrás dos longos bigodes, das da alta sociedade europeia. Todos achavam divertido
vestes impecáveis e do inseparável chapéu panamá? subir numa escada portátil para participar de mais um
As polêmicas que cercam a vida do inventor, comu- dos famosos jantares aéreos, como ficaram conhecidos
mente omitidas do grande público, são reveladas nas os eventos promovidos por Santos Dumont em seu
biografias disponíveis em diversas línguas. apartamento na Champs-Elysées.
Consideram, principalmente, sobre a sexualidade, a Questionado sobre o motivo desses jantares, anfi-
fama de mau perdedor e a doença que o levou ao suicí- trião sempre respondia: "É para que todos imaginem
dio. Mas esses são apenas pequenos tópicos de uma como seria a vida numa máquina voadora". Alguns
vida tão rica em detalhes quanto a trajetória que levou convidados riam. Afinal, em 1890, as máquinas voado-
o homem a construir máquinas voadoras. Santos ras ainda não existiam. Santos Dumont, em tom mais
Dumont voou muito além do que contam os livros de sério, retrucava que em pouco tempo elas dominariam
os céus. “Estarão em todas as partes”, dizia o futuro
aviador. ainda maior naquele tempo) e partiu para a Europa
As declarações do brasileiro soavam devaneios de com a esposa e o jovem Alberto. A esperança de cura
um desajustado, mas tinham uma explicação: sua estava em Paris, onde Louis Pasteur revolucionava a
infância fora cercada por obras de Júlio Verne, nas medicina com suas vacinas.
quais se destacava a imagem de um céu povoado de As descobertas na capital francesa encantaram o
máquinas voadoras. Em 1901, quando realizou a ousa- jovem brasileiro, em especial os motores de combus-
da circum-navegação da Torre Eiffel, recebeu diversos tão interna, que ele jamais havia visto. Em visita à
telegramas de congratulações e medalhas de louvor e fábrica da Peugeot, comprou um dos dois únicos auto-
coragem enviadas por diferentes chefes de Estado. móveis produzidos pela marca naquele ano de 1891.
Duas delas emocionaram-no em especial: a primeira Poucos meses depois, após seu pai perceber que a
foi a carta do próprio Júlio Verne; a outra, enviada por medicina europeia não lhe restauraria a saúde, voltou
Pedro, amigo da época de criança: "Você lembra, meu com a família para o Brasil, trazendo a bordo do navio
caro Alberto, do tempo em que brincávamos de per- o estranho veículo de apenas 3,5 cv (capaz de atingir
guntar 'passarinho voa?", 'urubu voa?", "homem 16 quilómetros por hora). Ao dirigir a novidade nas
voa?", e você sempre levantava o dedo afirmando que ruas de São Paulo, Santos Dumont não só espantou os
o homem voava? A recordação dessa época me veio ao pedestres, mas também ficou conhecido como a prime-
espirito no dia em que chegou ao Rio de Janeiro a notí- ira pessoa a circular de automóvel em toda a América
cia do seu triunfo. O homem voa, meu caro! Você tinha do Sul.
razão em levantar o dedo. E não tinha mesmo que Sem esperanças de cura, Henrique teve uma longa
pagar a prenda". conversa com o filho. Disse-lhe que não precisaria se
A brincadeira à qual se referia o colega de infância preocupar em ganhar dinheiro e adiantou-lhe a heran-
era uma das preferidas de Santos Dumont e dos irmãos ça de meio milhão de dólares. Depois, instruiu-o a vol-
na fazenda onde nasceu, em tar a Paris, onde parecia ter
20 de julho de 1873, em se adaptado muito bem.
Minas Gerais. Os pais do Santos Dumont seguiu o
inventor, Henrique Dumont conselho. Chegou à Cidade
e Francisca de Paula Santos, Luz no verão de 1892, e seu
foram os primeiros brasilei- pai morreu em agosto.
ros a viver no distrito de Tímido para frequentar
João Aires, na minúscula qualquer universidade,
cidade de Cabangu hoje recorreu a um professor
rebatizada como Santos Dumont. Aos 6 anos, Alberto particular, que desenvolveu um intenso programa de
mudou-se com a família para as terras férteis de São estudos englobando física, química, engenharia mecâ-
Paulo, onde seu pai, apelidado de rei do café pela nica e elétrica. Ocasionalmente, visitava os primos na
imprensa, comprou uma propriedade tão extensa que Inglaterra, onde aproveitava para assistir às aulas na
foi possível construir nela uma estrada de ferro com 96 Universidade de Bristol. Como era aluno ouvinte, não
quilômetros de extensão. Nessa época, além de mergu- corria o risco de ser interrogado em público.
lhar nos livros de ficção, Santos Dumont tinha como
passatempo predileto dirigir as enormes locomotivas e O Estilo Dumont
também consertar todo o maquinário usado na produ- Somente após cinco anos como cidadão francês, o
ção do café. brasileiro iniciou suas experiências com balões.
Henrique apreciava a fascinação do sexto de seus Naquela época, a aeronáutica funcionava como um
oito filhos e o caçula entre os três homens, mas não clube de cavalheiros, e Santos Dumont foi imediata-
compreendia por que o menino não se interessava por mente aceito por sua origem abastada. Em pouco tem-
outras atividades comuns entre meninos, como caçar po, seus inventos ganharam espaço na imprensa local e
ou até mesmo brigar com os irmãos. internacional, e o brasileiro tornou-se coqueluche na
alta sociedade europeia. Foi talvez um dos homens
A vida em Paris mais prestigiados e noticiados em todo o mundo no
O mundo de Santos Dumont ganhou novas dimen- início do século 20. Não raro, sua imagem elegante
sões quando ele tinha 18 anos. Seu pai sofrera uma estampava caixas de charutos, fósforos e até de apare-
queda de cavalo e acabou hemiplégico aos 60 anos. lhos de jantares.
Sem chances de cura no Brasil, vendeu os negócios da Estilistas prosperaram com réplicas de seu chapéu e
família por 6 milhões de dólares (uma fortuna hoje, e dos colarinhos altos e duros, que ele mesmo desenhara
de modo a alongar seu pescoço e disfarçar a baixa esta- sobre o suposto noivado de Santos Dumont com algu-
tura (cerca de 1,60 metro). Outros artifícios com essa ma jovem, mas ele rapidamente negava, enviando res-
finalidade eram os ternos sempre escuros com listras postas irritadas à imprensa. Dizia preferir que as pes-
verticais, os sapatos com saltos e o tradicional chapéu- soas pensassem ser ele viúvo a estar noivo. Em sua
panamá. Apesar dos recursos para parecer mais alto, os escrivaninha, o aviador mantinha a fotografia da bela
jornais lhe deram o apelido carinhoso de petit Santos, o cubana Aida de Acosta, a quem ensinou a comandar
que muito o incomodava, embora continuasse a ditar um de seus balões aos 19 anos, ela tornou-se a primeira
moda: fabricantes de brinquedos produziam réplicas mulher do mundo a voar. Algumas biografias sugerem
em miniatura de seus balões, que também inspiravam um caso amoroso entre os dois. Porém, após a morte do
os bolos feitos pelos confeiteiros, sempre em forma de brasileiro, Aida confidenciou que ele era muito tímido
charuto e com as cores da bandeira brasileira. para entabular uma conversa. Segundo ela, suas únicas
Em outra ocasião, reclamou com o amigo Louis palavras foram as instruções para ela pilotar o balão e,
Cartier, cujo avô fundara a Maison Cartier havia meio mesmo essas, ele dissera de modo acanhado.
século, que era muito perigoso tirar as mãos dos
comandos em pleno voo e levá-las ao relógio de bolso. Um legado para o mundo
Cartier criou para Santos Dumont um dos primeiros Depois do histórico voo com o 14-Bis, em 1906,
relógios de pulso de uso civil, que imediatamente tor- Santos Dumont entrou num período de depressão. O
nou-se acessório indispensável para parisienses mais sucesso com os aeroplanos parecia não mais animá-lo.
sofisticados. Além do estilo seguido por homens e Ele acusava os amigos de o terem abandonado, lamuri-
mulheres, o aviador invaria- ava-se de seu corpo peque-
velmente ganhava as man- no - fato que o ajudou na
chetes devido ao seu tempe- aeronáutica- e dizia a todos
ramento difícil. Meteu-se que estava sem dinheiro.
em inúmeras brigas com o Ninguém acreditava, mas,
Aeroclube de Paris, quase na tentativa de agrada-lo,
sempre por não concordar aconselhavam-no a patente-
com as regras dos concur- ar seus inventos. Proposta
sos. Santos Dumont não imediatamente recusada.
enxergava a aviação como Eram seus presentes para a
atividade cientifica. Para humanidade, dizia. "Prefiro
ele, voar era um esporte, um terminar num asilo pobre a
desafio entre homens aven- cobrar o privilégio de copiar
tureiros para ver quem ven- meus experimentos aére-
cia. E, como demonstrava, seu espírito excessivamen- os." Em 4 de janeiro de 1910, sofreu um acidente sério
te competitivo não lhe permitia sair derrotado. "Não com o Demoiselle, seu avião de uso pessoal. Foi a últi-
me importo com o dinheiro das competições", dizia ma vez que pilotou uma aeronave. Sua saúde piorou.
ele, que doava às pessoas em situações vulneráveis os Passou a ter visão dupla e fortes crises de vertigem.
valores conquistados em campeonatos. "Mas o prêmio Alguns médicos diagnosticaram que Santos Dumont,
atrai um número maior de rivais para que eu possa mos- aos 36 anos, sofria de esclerose múltipla. Outros atri-
trar minha coragem. Essa é a importância da competi- buíram os sintomas a problemas psíquicos.
ção." Em 1914, quando a Alemanha declarou guerra à
Mesmo diante dessas habilidades, as publicações França, o brasileiro decidiu colocar-se a serviço de seu
da época sobre Dumont muitas vezes insistiam em país adotivo. Mas os militares franceses chegaram até
priorizar outro tema: a sua sexualidade. Reportagens ele primeiro. Os vizinhos o haviam denunciado, pois
do passado mostram que o estilo e o comportamento pensavam que o tímido estrangeiro que observava o
do aviador eram um prato cheio para os editoriais (re- mar com um telescópio de fabricação alemã era um
pletos de julgamentos). Isso porque, além dos dedos espião do kaiser. A polícia revirou sua casa e, após veri-
cheios de anéis e o cabelo repartido ao meio hábitos ficar o equívoco, pediu desculpas. Mas Santos Dumont
especialmente das mulheres naqueles tempos, Santos não perdoou a suspeita de ser um traidor. Numa explo-
Dumont circulava por Paris sobre uma bicicleta de são de raiva, jogou todos seus documentos aeronáuti-
modelo feminino e já achava natural tricotar e bordar cos, os desenhos e as cartas de congratulações no fogo.
em seu apartamento no Elysées Palace Hotel. O aviador passou a maior parte dos anos da guerra no
Ocasionalmente, os tabloides publicavam notas Brasil.
Projetou em Petrópolis, no Rio de Janeiro, uma casa sangue entre irmãos". Jorge, que sempre temia deixar o
de arquitetura bastante avançada para a época, chama- tio sozinho, voltou para o quarto e o encontrou sem
da de Encantada. Porém Santos Dumont nunca parou vida, enforcado, aos 59 anos de idade.
por muito tempo num só lugar. Revezava-se entre O suicídio de Santos Dumont foi ocultado do
Petrópolis e clinicas de repouso na França e na Suíça. conhecimento público durante décadas – afinal, o ato
Num de seus retornos ao Brasil, em 1928, um hidroa- de tirar a própria vida (que segue sendo tabu em diver-
vião batizado com seu nome explodiu enquanto voava sos lugares do mundo) não caía bem para um herói
para saudar a sua chegada na Baia de Guanabara, na nacional.
capital fluminense. As 12 pessoas a bordo morreram Agindo sob ordens do governo, o médico legista
no acidente, visto de perto por Santos Dumont, que forjou o atestado de óbito, declarando que o aviador
observava tudo de pé no convés. O episódio só agravou havia morrido devido a uma parada cardíaca.
a saúde mental do aviador. O corpo do inventor foi embalsamado para que
pudesse ser levado em segurança de São Paulo para o
Depressão e Morte funeral no Rio de Janeiro - o que demorou seis meses,
Em 1931, um sobrinho chamado Jorge retirou-o de até que acabassem os conflitos entre paulistas e as
uma casa de repouso na Europa e trouxe-o de volta ao tropas federais. O médico responsável por embalsamar
Brasil. No ano seguinte, irrompeu a Revolução Consti- o cadáver, Walther Haberfield, removeu e preservou o
tucionalista, que colocou paulistas e as tropas federais coração de Santos Dumont sem que ninguém soubes-
em campos opostos. Os médicos sugeriram que Santos se. Doze anos mais tarde, entrou em contato com a
Dumont deixasse a cidade de São Paulo e fosse morar família do aviador e ofereceu o órgão. Eles não o qui-
num lugar mais tranquilo. Jorge o levou para um hotel seram e o médico acabou doando o coração para o
no Guarujá. Todas as manhãs, acordava mais cedo e governo, com a condição de que fosse colocado num
escondia os jornais na tentativa de ocultar do tio doente local público. O órgão foi preservado dentro de uma
as notícias do conflito. esfera banhada a ouro, exposto no pequeno Museu da
No dia 23 de julho de 1932, os dois estavam no Força Aérea no Campo dos Afonsos, nos arredores do
saguão quando escutaram um avião bombardear um Rio de Janeiro.
alvo próximo. O aviador mandou o sobrinho levar um
recado e tomou o elevador de volta ao quarto. Teste- Fonte: Aventura na História
munhas dizem que ainda o ouviram falar: "Nunca pen-
sei que minha invenção fosse causar derramamento de
A Alegoria da Vaidade do Mundo, Antonio de Pereda. 1637

LUZ E SOMBRAS:
O Conflito entre a Devoção e a Vaidade
tensioso, não é possível deixar de observar o
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abismo que separa a devoção da vaidade em
seu seio. Este olhar que evitamos, é o que mais
Por Eugênio Polessa assombra nossas fileiras, motivo pelo qual não
podemos mais ignorar sua existência entre a
Pode-se estabelecer diversos olhares para o dedicação sincera e as vaidades efêmeras que
seio maçônico e, por meio deles, encontrar seduzem os incautos.
caminhos nobres para o desenvolvimento A devoção é o alicerce da maçonaria, impe-
desta sociedade de indivíduos dedicados à lindo-nos a buscar conhecimento, desenvolver
busca da verdade, do aperfeiçoamento pessoal virtudes morais e contribuir para o bem-estar
e do serviço à sociedade. No entanto, seja em da humanidade. Aqueles que se comprometem
quaisquer dos ângulos possíveis que a obser- com essa busca sincera compreendem que a
vemos, mesmo em um olhar franco e despre- jornada é árdua e requer esforço constante
para superar nossas próprias limi-
tações. A devoção nos chama a
transcender nossos egos e a tra-
balhar para o bem comum, culti-
vando a humildade e a fraternida-
de.
No entanto, nem todos resis-
tem às tentações da vaidade que
se apresentam em nosso cami-
nho. A vaidade é um veneno sutil,
encontrando brechas em nossos
corações e mentes, alimentando
o desejo de reconhecimento,
poder e status. É nesse ponto que
o abismo começa a se abrir, divi-
dindo aqueles que se dedicam verdadeiramen- cada um de nós deve assumir a responsabilida-
te daqueles que sucumbem às suas ambições de por nossas escolhas e ações.
egoístas. Ao enfrentarmos o abismo entre a devoção
Infelizmente, deparamo-nos com irmãos e a vaidade, devemos reafirmar nossa dedica-
que buscam a maçonaria não pelo encontro ção à busca da verdade, à construção do cará-
com a verdade e a sabedoria, mas pela promo- ter e à promoção do bem-estar da humanidade.
ção de suas próprias ambições pessoais. Eles A maçonaria, em sua essência, é um farol de
enxergam a ordem como um trampolim para esperança, uma oportunidade para transcender
obter prestígio, influência e reconhecimento nossos egoísmos e nos tornarmos melhores
social, desviando o foco da essência maçôni- seres humanos.
ca, esvaziando-a de sua profundidade e propó- Ao olharmos para a maçonaria que habita
sito. em nós, estejamos sempre atentos a refletir
O abismo entre a devoção e a vaidade é uma profundamente sobre o abismo que nos desa-
realidade que não podemos ignorar, pois mina fia, esforçando-nos para manter a devoção
os ideais pelos quais nos esforçamos. Deve- autêntica e buscar a harmonia entre nossas
mos reconhecer e confrontar essa falha, indi- mais nobres aspirações e a humildade que nos
vidual e coletivamente, buscando um equilí- mantém fiéis aos valores maçônicos. Somente
brio entre a busca sincera da verdade e a assim poderemos superar o abismo que nos
humildade que nos mantém alinhados com os separa das vaidades e construir uma maçona-
princípios maçônicos. ria verdadeiramente enriquecedora e transfor-
Talvez seja hora de olharmos para dentro de madora.
nós mesmos, com honestidade e autenticida-
de, e questionarmos nossas motivações. Preci-
samos estar vigilantes para não permitir que a
vaidade obscureça nosso compromisso com a
dedicação e o serviço desinteressado. Afinal
de contas a maçonaria é uma jornada pessoal, e
HÁ SEMPRE UM HÉRCULES
DENTRO DE CADA MAÇOM
Ele ficou na frente de seu Mestre. Ele entendeu vagamente que uma crise estava sobre ele e
que traria uma mudança em sua Palavra, Atitude e Propósito.
Os Trabalhos de Hércules

Os trabalhos de Hércules ilustram qual será o


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progresso da alma, da ignorância à sabedoria,
do desejo material à realização espiritual, de
Por R.Cristiano modo que o objetivo final seja tornar-se maçom.
Os feitos de Hércules explicam como seus
De certa forma quem decide empreender o trabalhos representam as etapas alcançadas pelo
caminho iniciático é um pouco Hércules. neófito no caminho iniciático. Um balanço de
emoções alegres e malsucedidas, que, ao
Como o herói filho de Alcmena, Zeus, meio mesmo tempo, o deixam eufórico e desespera-
homem e meio deus, encarna a não perfeição, o do, permitindo que ele se aproxime dos mistéri-
que lhe permite encontrar a coragem para poder os do Universo.
enfrentar aquelas provações através das quais Vez após vez, ele se livrará do medo e dos
conseguirá fazer aflorar a parte divina que já desejos materiais e se elevará cada vez mais
está nele, assim aquele que bateu à porta do Tem- para alcançar um estado de Bem-aventurança e
plo tomou a vida nas mãos e decidiu enfrentar a Consciência.
sua jornada interior consternado e testado pelo O Maçom inicia sua jornada como discípulo
esforço realizado. e, ao comando de sua alma, enfrenta as agruras
da jornada iniciática. O mito de Hércules repre- Como Hércules finalmente decide poder
senta isso, representa cada Membro que procura prescindir de qualquer presente recebido duran-
entrar nesse caminho para demonstrar controle te os doze trabalhos, ficando apenas com a pele
sobre sua natureza humana. de leão e a clava de madeira, objetos que ele
Um maçom pode ser definido como tal quan- mesmo adquiriu e confeccionou, a certa altura
do, após longo e constante trabalho sobre si mes- de sua jornada o sábio Mestre perceberá que
mo, consegue dominar sua própria mente para aquilo de que necessita tornou-se parte de si
que ela esteja sempre lúcida, capaz de dar res- mesmo e seguirá sua jornada cada vez mais
postas sábias a quem lhe faz perguntas. leve, pois sua bagagem consistirá no conheci-
É fundamental que ele saiba manter sob con- mento adquirido que expressará com algumas
trole sua parte emocional, que deve estar sem- palavras sábias.
pre em sintonia com seu corpo humano, sem Ao ler e estudar os doze trabalhos de Hércu-
jamais esquecer que a Alma está nele. les, o neófito saberá a que tipo específico de
E é a Alma que sabiamente o ajudará, guiará e trabalho terá de aspirar para que suas emoções e
apoiará no enfrentamento e superação das inú- peculiaridades possam transparecer. Cada habi-
meras tarefas que lhe serão confiadas e pelas lidade pessoal adquirida servirá para fazê-lo
quais terá que esperar para melhor esquadrinhar superar o "próximo esforço" para retificar o
sua Pedra e se tornar melhor. "eu" profundo.
Mas por que um Irmão deveria se inspirar em Para esse objetivo, às vezes, não basta uma
Hércules? vida, muito menos uma vida maçônica, por isso
Por firme vontade e por suas virtudes, não continuamos "eternos aprendizes". Você nunca
cristãs, mas heróicas. terminará de aprender e, por mais lisa e quadra-
As suas façanhas, as suas adversidades da que nos pareça nossa pedra, ela sempre terá
podem constituir tanto uma metáfora da vida imperfeições!
como, com um valor simbólico, as provações
que terá de enfrentar ao longo da sua carreira Fonte: https://www.expartibus.it
maçónica.
A Loja da Mãe Kilwinning

ONDE FICA A LOJA MAÇÔNICA


MAIS ANTIGA DO MUNDO?
Grande Loja Unida da Inglaterra.
Podcast Ouça a matéria clicando aqui Mas também é aí que começa a polêmica. Algumas
fontes nos dizem que a Loja da Mãe Kilwinning, sob os
Por Irmão William Regal auspícios da Grande Loja da Escócia, é a loja maçônica
mais antiga do mundo, com algumas atribuindo suas
Quando se trata da história da Maçonaria, muitos origens ao século XII.
irmãos ficam intrigados ao saber qual é a mais antiga Uma fonte excelente para nosso exame das origens
das lojas maçônicas. Os irmãos da fraternidade secular da Loja Kilwinning pode ser encontrada na Mackey's
se reúnem em lojas desde o início da Maçonaria. E Revised Encyclopedia of Freemasonry, na qual ele afir-
embora cada Loja tenha seu próprio caráter único, eles ma:
unem os maçons em torno de um objetivo comum. “Como a cidade de York afirma ser o berço da Maço-
Este artigo visa descobrir a verdade sobre a loja naria na Inglaterra, a obscura pequena vila de Kilwin-
maçônica mais antiga do mundo, pois muitas vezes há ning merece a mesma honra no que diz respeito à ori-
controvérsias sobre qual estabelecimento deve receber gem da Ordem no reino irmão da Escócia.”
o título. Continue lendo para descobrir qual das lojas A Kilwinning Mother Lodge é, na verdade, o núme-
maçônicas do mundo é oficialmente a mais antiga. ro zero na lista maçônica, devido ao seu status aos olhos
A loja maçônica mais antiga fica na Escócia. de muitas pessoas como a mais antiga loja maçônica
Dado que a Maçonaria, como muitos de nós a conhe- existente. No entanto, em 1736, quando a Grande Loja
cemos, se originou na Inglaterra, não é realmente sur- da Escócia foi organizada, Kilwinning Lodge não con-
preendente que a loja maçônica mais antiga esteja no seguiu verificar sua existência como a loja mais antiga
Reino Unido. No entanto, o registro mais antigo de uma da Escócia, pois muitos de seus registros originais
reunião maçônica foi na Escócia, bem antes da data de foram perdidos.
1717 dada como a inauguração da Maçonaria com a Hoje, os registros escritos mais antigos de uma Loja
Maçônica ainda existentes são da Loja de Edimburgo,
Loja
Loja de
de Edimburgo,
Edimburgo, Capela
Capela de
de Santa
Santa Maria
Maria Nº1
Nº1
Capela de Santa Maria Nº 1. Os registros da Loja Maçô- existente, uma de suas regras significava que cada loja
nica da Capela de Santa Maria datam de 1599, tornan- deveria contratar os serviços de um escriturário, o que
do-a a mais antiga loja maçônica comprovada do mun- significava que as atas poderiam ser redigidas e manti-
do. das. É por isso que, desde o início do século XVII,
temos registros de reuniões realizadas em lojas maçôni-
Que prova temos de que a Capela de Santa Maria cas em toda a Escócia.
é a loja maçônica mais antiga que existe?
A prova de que a Capela de Santa Maria é a loja Isso significa que a Maçonaria data de antes de
maçônica mais antiga do mundo pode ser encontrada 1717?
nos estatutos de Schaw. A resposta curta é sim. Embora a Grande Loja Unida
William Schaw era o Mestre de Obras de Sua Majes- da Inglaterra dê 1717 como o ano de fundação da Maço-
tade e Chefe Executivo do Artesanato Maçônico, e em naria, pergunte a qualquer historiador maçônico e eles
seus estatutos ele declarou que as ordenanças emitidas lhe dirão que a Maçonaria tem suas raízes na Escócia
por ele para a regulamentação das lojas consideravam a nos séculos anteriores a essa data.
loja de Edimburgo como sendo para sempre, a primeira Já na Idade Média, associações formadas por pedrei-
e principal loja na Escócia. ros artesanais existiam em comunidades na Inglaterra e
Os estatutos de Schaw da Capela de Santa Maria na Escócia. No final do século 16, evidências dessas
datam de 31 de julho de 1599 e agora estão preservados associações podem ser encontradas, com evidências de
no primeiro livro de atas da Loja de Edimburgo. É a que as reuniões ocorreram em toda a Escócia, de Edim-
partir desses minutos que os historiadores afirmam que burgo a Perth.
a loja da Capela de Santa Maria é a mais antiga já regis- Essas associações informais provavelmente se reu-
trada. niam há séculos, mas foi por volta da virada do século
Schaw decidiu que as reuniões informais entre XVII que elas desenvolveram uma estrutura institucio-
maçons operativos precisavam de uma estrutura formal nal e estabeleceram regras e procedimentos básicos,
que cobrisse os detalhes de como funcionavam os conforme documentado nos Estatutos Schaw já intro-
aprendizados e como os pedreiros poderiam viver cari- duzidos.
tativamente e harmoniosamente uns com os outros. Embora haja evidências de atas da loja em Aitchi-
son's Haven em East Lothian desde janeiro de 1599,
Quando ele enviou esses estatutos para cada loja essa loja foi fechada em 1852, e estas são as atas seis
meses depois tiradas de uma reunião na Capela de Santa
Maria em Edimburgo, que os historiadores apontam
como evidência da existência da mais antiga loja maçô-
nica do mundo.

O que aconteceu naquelas primeiras reuniões da


loja?
Como em todas as primeiras guildas de pedreiros, as
reuniões dessas primeiras lojas eram geralmente infor-
mais. Elas eram uma maneira de os pedreiros discuti-
rem seu ofício e desenvolverem relacionamentos com
outros mestres do ofício.
Na Grã-Bretanha durante a Idade Média, houve uma
corrida para construir igrejas maiores e mais complexas
em todo o país. Frequentemente, os pedreiros ficavam
fora de casa, muitas vezes por meses ou anos, até que o
projeto fosse concluído.
Diante de tal situação, os pedreiros criaram associa-
ções nas quais seus colegas pedreiros poderiam se asso- As ruínas de Kilwinning
ciar, para que pudessem conhecer outras pessoas e des- No entanto, se alguém quiser visitar a Capela de
cobrir os meandros do ofício de cada um. Santa Maria e o museu associado, aprenderá a verdade-
Realmente não era muito diferente de como as pes- ira história das raízes da Maçonaria.
soas se conhecem hoje em dia. Se estivermos nos
mudando a trabalho ou por qualquer outro motivo, pro- O que tudo isso nos diz sobre as origens da arte
curamos grupos comunitários de indivíduos com ideias como a conhecemos hoje?
semelhantes para que possamos tentar desenvolver Como todos sabemos, a história da Maçonaria está
novos relacionamentos. As associações de pedreiros na envolta em intrigas e mística, com os irmãos atribuindo
Idade Média eram essencialmente uma forma de os muitas histórias à formação do ofício. Acreditamos que
homens se relacionarem e se conhecerem. muitas fontes históricas contribuem para o desenvolvi-
Por volta de 1600 na Escócia, a Loja de Edimburgo mento da Maçonaria, e a existência de lojas escocesas
começou a admitir maçons não operacionais para antes de 1717 reforça o argumento de que a Maçonaria
ingressar em suas lojas. Em junho do mesmo ano, o evoluiu de associações mercantis medievais.
Laird de Auchinleck foi nomeado membro especulati-
vo, que é o primeiro registro autêntico conhecido de Conclusão: a loja maçônica mais antiga do
alguém fora do ofício ingressando em uma loja. De mundo
muitas maneiras, a admissão do Laird na Loja Maçôni- Apesar da existência de várias teorias contrastantes,
ca estabeleceu um precedente para o desenvolvimento é amplamente aceito pelos historiadores maçônicos que
da Maçonaria como a conhecemos hoje, e é a partir a Maçonaria, como a conhecemos hoje, na verdade se
desse evento que a Maçonaria moderna começou a originou antes da data de 1717 dada pela Grande Loja
tomar forma e admitir novos membros. Unida da Inglaterra.
É mais correto dizer que a Maçonaria tem suas ori-
Por que então as pessoas consideram que a fun- gens na Escócia, e os registros dos estatutos de Schaw
dação da Maçonaria data de 1717? indicam que a mais antiga loja maçônica existente é a
E uma boa pergunta, e que é frequentemente debati- Loja de Edimburgo, Capela de Santa Maria Nº1.
da. Muitos historiadores concordam que foram os esta- Foi nesta loja que os maçons não operacionais foram
tutos de Schaw que ajudaram as lojas a desenvolver autorizados a se tornarem maçons, e podemos, portan-
uma estrutura rígida e permitiram que as reuniões se to, concluir que esse período de tempo deve ser correta-
espalhassem por todo o país e na Inglaterra. mente marcado como o nascimento da irmandade da
No início do século 18, por algum motivo, a influên- Maçonaria tal como a conhecemos hoje.
cia maçônica da Escócia foi eclipsada e a Grande Loja
da Inglaterra foi estabelecida em 1717. Nos séculos que Fonte: freemasonscommunity.life
se seguiram, as origens escocesas da maçonaria franca
foram amplamente esquecidas e até ignoradas por mui-
tos no comércio. .
OS ANÉIS MAÇÔNICOS
E SEUS SIGNIFICADOS
anel representava a porta de entrada para a vida após a
Podcast Ouça a matéria clicando aqui morte e o amor imortal. Os romanos começaram a tradi-
ção das alianças de casamento, com os homens ofere-
Os maçons são bem conhecidos por nossas insígnias, cendo a suas parceiras anéis de ferro chamados Anulus
desde o avental que amanhecemos ao entrar pela prime- Pronubus para usar na mão esquerda, acreditando que
ira vez na loja, até os gorros que ganhamos nos últimos estavam conectados diretamente ao coração. Na Irlanda
graus dos órgãos anexos. Embora os aventais sejam de e em partes dos Estados Unidos, o anel de Claddagh
fato a parte mais proeminente do traje maçônico, pois continua sendo uma tradição popular. Esses anéis irlan-
cada maçom recebe um ao se tornar um Aprendiz, os deses, simbolizando amizade, amor e lealdade, apre-
anéis também se tornaram um acessório comum na fra- sentam duas mãos segurando um coração coroado e são
ternidade. Embora os anéis não sejam dados aos Irmãos frequentemente transmitidos de geração em geração.
como parte de suas jornadas no ofício, muitos os rece-
bem de familiares, como pai ou avô, ao atingirem o Anéis maçônicos e corpos anexos
sublime grau de Mestre Maçom. Na Maçonaria, o anel em si pode simbolizar a eterni-
Como parte de nossa série “Por trás do símbolo”, dade ou a conexão duradoura com a fraternidade. Esta
exploraremos a história antiga dos anéis, o “debate” peça de regalia ganhou destaque no artesanato durante
sobre como os maçons os usam e alguns dos diferentes os séculos XVIII e XIX. A Maçonaria estava no auge de
estilos encontrados em toda a fraternidade. sua popularidade e os anéis permitiam que os irmãos se
identificassem em público.
Anéis e seu antigo simbolismo Para muitos hoje, o anel maçônico representa o com-
Como muito do simbolismo encontrado na Maçona- promisso de um irmão com os segredos, lições e tradi-
ria, os anéis são usados por culturas há milhares de ções do ofício. Como a loja em si não fornece um anel a
anos. Os antigos egípcios acreditam que o buraco do cada membro, eles geralmente são dados como um pre-
sente, geralmente de pai para filho, ou avô para neto,
quando o membro mais jovem é criado como Mestre
Maçom. Como tal, os anéis maçônicos são emblemas
profundamente pessoais e seu significado varia de
membro para membro.
Esses artigos de joalheria não se limitam apenas aos
maçons da loja azul. Membros do Rito de York, Rito
Escocês e Shriners geralmente usam anéis gravados
com símbolos relevantes para esses corpos anexos. Por
exemplo, no Rito Escocês, Jurisdição Maçônica do
Norte dos Estados Unidos, os maçons do Rito Escocês
do 32º Grau podem usar um anel com a águia de duas
cabeças do Rito Escocês. Outros símbolos comuns
encontrados nos anéis do grau 32 incluem o número 32,
triângulos e a letra hebraica “yod”.
Outra característica que pode determinar o significa-
do de um anel são as pedras ou gravuras que os maçons
escolhem incluir neles. Pedras azuis são comuns para A letra “G” é mais comumente encontrada nos Esta-
os membros que recebem um anel na loja azul. As dos Unidos e geralmente aparece no centro do esquadro
pedras vermelhas são regularmente escolhidas para os e do compasso. Alguns maçons acham que o “G” se
Irmãos que concluíram o quarto grau da Maçonaria do refere à geometria, um conceito central para as lições de
Real Arco ou para os membros do Santuário. moral maçônica com construtores e arquitetos, enquan-
to outros o veem como uma referência a Deus, ou o
Os diferentes significados dos símbolos dos anéis “Grande Arquiteto do Universo”.
maçônicos
Além do significado pessoal, os anéis maçônicos Como usar um anel maçônico
geralmente apresentam outros símbolos da Maçonaria, Não há necessariamente uma maneira correta de
como a letra “G” ou o esquadro e o compasso, todos usar qualquer um dos anéis maçônicos, independente-
com significado único. mente de seu simbolismo. Mas pergunte a um viajante e
Na maioria das vezes, os anéis incluem o esquadro, o há uma boa chance de que ele tenha uma opinião pró-
compasso e a letra “G”. O esquadro e o compasso são pria sobre o que é certo. Alguns acreditam que um anel
um dos símbolos mais famosos e identificáveis da com o esquadro e o compasso deve ser usado com as
Maçonaria, significando as ferramentas do arquiteto e pontas voltadas para o coração como um lembrete das
do construtor. Este símbolo refere-se aos antigos pedre- obrigações do maçom. Para um Venerável Mestre ou
iros de onde surgiu a Maçonaria e é uma parte crítica da Past-Mestre de uma Loja, acredita-se que eles tenham
nossa história. Este símbolo também faz parte das aulas conhecimento suficiente para virar o anel para fora e
ministradas na loja maçônica. exibir os pontos em direção ao mundo.
O esquadro e o compasso consistem no esquadro do Mais funcionalmente – embora menos comum hoje
construtor: dois braços iguais de metal ou madeira de em dia, os maçons costumavam usar anéis como forma
borda plana fixos que formam um “ângulo reto” perfei- de selar as letras com cera. Esses maçons usariam seus
to. Esta ferramenta é crítica na alvenaria porque permi- anéis com as pontas dos compassos voltadas para fora,
te que os artesãos desenhem e esculpam cantos quadra- de modo que, quando pressionado em cera quente,
dos perfeitos, o que é crítico para erguer edifícios estru- selando uma carta ou contrato, o emblema estaria volta-
turalmente fortes e sólidos. Na Maçonaria, este símbolo do para a direção correta.
é usado para ensinar lições de moralidade e que ser “qua- Como um Irmão escolhe usar um anel e quais símbo-
drado” em suas ações implica ser honesto e justo. los estão estampados nele é uma escolha pessoal.
As bússolas consistem em duas pernas iguais em Acima de tudo, os anéis maçônicos devem ser usados
comprimento que são fixadas juntas em seu ápice por com orgulho e reverência à nossa fraternidade e suas
uma dobradiça ajustável. Esta ferramenta é usada em antigas tradições. Quando usado com cuidado e consi-
geometria para desenhar círculos e arcos perfeitos, um deração, é uma excelente maneira de demonstrar o orgu-
elemento crucial do planejamento arquitetônico. Na lho de ser maçom.
loja azul, os compassos simbolizam o autocontrole e a
capacidade do homem de reinar em seus anseios para
que possa viver uma vida equilibrada.
SOMOS REALMENTE MAÇONS?
Embora os graus da Maçonaria contenham certos aspec-
Podcast Ouça a matéria clicando aqui tos filosóficos, reduzi-la a uma organização puramente
filosófica significaria que ela não tem nenhuma semente de
verdade conhecível e que todas as interpretações de seus
Por Gabriel Anghelescu símbolos são deixadas para a invenção de nossas próprias
mentes. Estaríamos assim colocados na posição de procurar
A Maçonaria é uma Fraternidade envolta em mistério. Pode- dentro dele algo que nunca poderíamos encontrar.
mos dizer isso não apenas por seus símbolos e cerimônias, Embora com a ajuda das lições de moral que os graus da
mas também pelas definições que certas organizações Maçonaria nos oferecem possamos dizer que podemos nos
maçônicas e certos maçons lhe atribuem. tornar melhores, devemos levar em conta o fato de que pode-
Aprendemos, portanto, de duas fontes, representando os mos ser boas pessoas sem ser maçons.
dois pilares predominantes da Fraternidade, a inglesa e a Seria uma tentativa de transformar a Fraternidade em um
francesa, que a Maçonaria é “uma das mais antigas organi- culto se disséssemos que só os maçons são boas pessoas e
zações sociais e caritativas do mundo” ou uma “instituição que não se pode ser uma boa pessoa sem a Maçonaria.
iniciática por excelência secular, filosófica e progressiva” . Em relação à população global, o número de maçons é
Uma terceira definição (perpetrada nos EUA) que muito pequeno e não podemos ter certeza de que apenas
encontramos é que a Maçonaria é uma organização dedica- alguns milhões de pessoas sejam boas ou interessadas em se
da a “tornar homens bons melhores” . tornar melhores, visto que nem mesmo temos certeza de que
Se fôssemos autossuficientes, poderíamos nos limitar a todos os maçons estão interessados nesse aspecto.
essas definições. Mas como somos maçons e devemos estar
constantemente em busca da Verdade, poderíamos dissecá- … então o que é a Maçonaria afinal?
los e analisá-los para formular uma quarta definição, dife- A Maçonaria é uma organização tão misteriosa que para
rente das anteriores. a maioria de seus membros ela mesma é um mistério, e tão
Embora nos encontremos em Lojas, fazendo contato conspiratória, pode-se dizer para quebrar as ilusões de cer-
com homens pertencentes a diferentes culturas, origens tos profanos, que existem irmãos dentro de suas fileiras que
sociais e cultivemos o princípio da ajuda mútua, pode ser um parecem conspirar no maior dos casos. todas as conspira-
erro dizer que a Maçonaria é uma organização social e de ções possíveis: aquela contra a própria natureza humana,
caridade. dotada de razão e de uma inteligência que os animais não
Se reduzíssemos a isso, não passaríamos de meros cola- possuem.
boradores vestindo aventais bobos e participando de ceri- Ao mesmo tempo é uma organização com um propósito
mônias sem sentido. nobre, tanto para os irmãos que têm olhos para ver e ouvidos
Para atingir tal objetivo, precisaríamos apenas de uma para ouvir quanto para os profanos que, podendo observar
caixa registradora, um caixa e alguns bares onde podemos isso, batem às portas do Templo e pedem para ser recebido a
nos encontrar para perder tempo, socializando sem nenhum fim de se juntar a ela para sua missão superior.
propósito específico.
Se dermos uma olhada nas definições oferecidas por do Rito e ser investido com o grau Trigésimo Terceiro,
estudiosos da Fraternidade, como WL Wilmshurst, Albert pouco se importaria com qualquer conhecimento da organi-
Mackey, Albert Pike e muitos outros que estão entre os pou- zação do Rito ou das lições sublimes. que ensina.
cos que conseguiram dar-lhe significados mais adequados Ele atingiu o auge de sua ambição e pode usar a águia de
do que alguns contemporâneos, veremos que: duas cabeças.
“A Maçonaria é uma ciência, [...] um sistema de doutri- Esses maçons se distinguem não pela quantidade de
nas que é ensinado, de uma maneira peculiar a si mesmo, por conhecimento que possuem, mas pelo número de joias que
alegorias e símbolos.” (Albert Mackey, The Symbolism of usam.
Freemasonry) , mas “[a maçonaria] não é feita para almas Eles darão quinhentos reais por uma medalha, mas não
frias e mentes estreitas, que não compreendem sua elevada cinquenta centavos por um livro”.
missão e sublime apostolado” (Albert Pike, Moral e Dogma O mesmo estudioso visionário afirma ainda que:
- REAA) . “[A Maçonaria] se deteriorará em clubes sociais ou
“Aqueles que entram, como a maioria, ignoram comple- meras sociedades beneficentes. Com tantos rivais nesse
tamente o que encontrarão lá, geralmente porque têm ami- campo, sua luta por uma vida próspera será difícil.
gos lá ou sabem que a Maçonaria é uma instituição devotada O sucesso final da Maçonaria depende da inteligência de
a altos ideais e benevolência e com a qual pode ser social- seus discípulos.”
mente desejável estar conectado. , podem ou não ser atraí- Na era da Internet podemos facilmente observar o fenô-
dos e lucrar com o que lhes é revelado, e podem ou não ver meno maçônico global e como suas palavras estão come-
nada além da forma nua do símbolo ou ouvir algo além da çando a se tornar realidade.
mera letra da palavra. Vemos cada vez mais membros para quem é mais impor-
A admissão deles é uma loteria; sua Iniciação muitas tante debater se seu anel maçônico deve ser usado com as
vezes permanece apenas uma formalidade, não um desper- pontas para dentro ou para fora, cada vez mais que se sentem
tar real para uma ordem e qualidade de vida anteriormente lisonjeados com os títulos e distinções que usam e se sentem
inexperientes; sua associação, a menos que tal despertar infalíveis.
eventualmente resulte do estudo cuidadoso e da prática fiel Vemos em certas áreas do mundo como ele declinou
dos ensinamentos da Ordem, tem pouca ou nenhuma ainda mais do que Albert Mackey e outros “previram”,
influência maior sobre eles Lojas inteiras ou Grandes
do que resultaria de sua Lojas inteiras se tornando
adesão a um clube puramen- negócios ou clubes de lobby
te social. (O significado de político sob a cobertura da
alvenaria, WL Wilmshurst). chamada Maçonaria que só
Estas declarações eles conhecem.
podem parecer cheias de Vemos como a Maçona-
arrogância para alguns irmãos e também em oposição aos ria tem cada vez menos inimigos por fora e cada vez mais
princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que a por dentro, e a principal causa disso é a falta de compreensão
Maçonaria defende ferozmente. do que a Maçonaria realmente deveria ser.
Mas pode alguém ser livre sem ser educado? Alguém Somos mais de seis milhões de membros, pertencentes a
pode ser igual ao resto de seus semelhantes se não for livre? diferentes Grandes Lojas, Lojas, Ritos, mas que têm essen-
Alguém pode se considerar seu irmão se não é igual a eles? cialmente a mesma missão: o progresso de nós mesmos e da
E por último, mas não menos importante: pode alguém Humanidade rumo à Liberdade.
chamar-se maçom se não for educado, livre, irmão dos seus E, no entanto, vemos a nós mesmos e a humanidade em
semelhantes, se não aprender e se não embarcar na missão uma regressão contínua, em um estado contínuo de escravi-
de orientar os outros a fazerem o mesmo? dão.
Eis quão importante é a educação de um homem que Talvez a Maçonaria tenha aberto demais suas portas.
deseja tornar-se maçom, e quantas desvantagens são trazi- Talvez alguns não tenham entendido que a sobrevivência da
das à Maçonaria por aqueles profanos que se juntam para Maçonaria para atingir seu sublime propósito não está no
fins mesquinhos, mas que encontramos entre nós e reconhe- número de membros que possui, mas na qualidade dos mes-
cemos tais como irmãos. mos.
Podemos aprender sobre tais irmãos no artigo de Albert Talvez precisemos de menos membros e mais maçons.
Mackey intitulado “Lendo maçons e maçons que não leem”: Menos homens na Maçonaria e mais Maçonaria em
“O Mestre Maçom que sabe muito pouco, se é que sabe homens.
alguma coisa, do grau de Aprendiz anseia por ser um Cava- Devemos parar por um segundo e todos devemos refletir:
leiro Templário [...] O auge de sua ambição é usar a cruz dos …somos realmente maçons, ou apenas membros com
Templários em seu peito. Se ele entrou no Rito Escocês, a quotas?
Loja de Perfeição não o satisfará, embora forneça material
para meses de estudo. Fonte: The Square Magazine
Ele subiria mais rapidamente na escala de classificação,
e se por esforços perseverantes ele pudesse atingir o ápice
VIAGENS SIMBÓLICAS E INICIÁTICAS
numa ilha perdida no meio do oceano. É a curiosi-
Podcast Ouça a matéria clicando aqui dade da descoberta, a necessidade de mudança de
ares, por vezes também a procura do contato huma-
Aos poucos faço esta constatação de que não só a no que justifica a viagem.
Maçonaria não é tão secreta assim como também na Os poetas viram a possibilidade de usar a viagem
Net ela revela aos leigos as maravilhas de peças de para escapar temporariamente da realidade, para se
arquitetura como esta prancha de “viagens ” . mover sem se mover, deixando para a mente e a ima-
A iniciação é uma viagem ou até várias mas é ginação o cuidado de peregrinar nas terras do sonho
uma viagem sem volta porque o que vamos desco- e do imaginário. Louis-Ferdinand Céline escreve:
brir é incalculável e no entanto o que vamos desco- “Nossa própria jornada é inteiramente imaginá-
brir já estava dentro de nós, secretamente enterra- ria. Esta é a sua força. E então todos podem fazer o
do... mesmo. Apenas feche seus olhos. É o outro lado da
Somos nômades viajando pela vida... vida. Cito agora Guy de Maupassant: “A viagem é
Por estarem associadas à aventura, as viagens uma espécie de porta pela qual se sai da realidade
sempre inspiraram a escrita de escritores e fascina- como se fosse entrar numa realidade inexplorada
ram homens ávidos por explorar para melhor com- que parece um sonho. E é assim que o leitor viaja
preender esta bela terra em que temos o privilégio lendo, o cinéfilo indo ao cinema e o amante da foto-
de permanecer. Quem nunca sonhou um dia visitar grafia ou pintura indo ver uma exposição.
tal e tal país, aproximar-se de tal e tal civilização Detenhamo-nos agora no caminho iniciático
que deixou a sua marca indelével, seja ao longo de tomando alguns exemplos não exaustivos extraídos
um rio, seja na floresta tropical, seja nas alturas da mitologia, da história ou da religião, todos eles
vertiginosas de uma serra? montanhas ou mesmo com um importante significado simbólico:
Aqui está Buda, então Jesus, que viaja por seu um novo olhar. E este olhar corresponde a uma ver-
país dadeira descoberta porque faz parte do “Conhece-te
Fugindo do Egito, Moisés leva seu povo em uma a ti mesmo” preconizado por Sócrates. Nesse senti-
longa marcha para a Terra Prometida do, é o primeiro passo para o conhecimento, o de si
É também Homero que nos conta a odisseia de mesmo, depois o dos outros.
Ulisses e, como eco, o romano Virgílio que nos Como vimos, viajar é uma ferramenta de conhe-
conta a Eneida cimento, mas também de liberdade. Para apresentá-
As viagens de Pitágoras ao sul da Itália e ao Egito lo de forma pictórica, digamos que é ao mesmo
A viagem do apóstolo Paulo às margens do Medi- tempo um passeio e uma viagem, por vezes errante,
terrâneo mas também e sobretudo uma busca, a da nossa rea-
A peregrinação a Santiago de Compostela lidade, da nossa verdade. No início o caminho é
A busca do Graal de Perceval e Lancelot pedregoso, depois, aos poucos, a aspereza se nivela.
Podemos multiplicar os exemplos à vontade, À medida que avançamos conseguimos nos libertar
mas uma coisa é certa: não há heróis sedentários. de múltiplas contingências, enfim, nos libertar.
Mais perto de casa conhecemos as viagens dos Como a vida, a morte também é uma jornada.
Companheiros do Tour de France e, na Maçonaria, Isso é alimento para o pensamento.
as viagens dos Aprendizes, Companheiros e Mes- Talvez a viagem seja não só a imagem da longa
tres. história nómada da humanidade (lembremo-nos de
A viagem iniciática é uma experiência funda- Adão expulso do Jardim do Éden e dos homens dis-
mental para o Homem: é mesmo uma necessidade, persos após a queda da Torre de Babel) mas também
o instrumento da sua emancipação e a oportunidade o símbolo da marcha da Humanidade rumo ao pro-
de descobrir outros aspectos da sua personalidade. gresso, para o conhecimento e para esta sabedoria
Mas esta viagem é também um teste porque pressu- que os eternos viajantes que somos, sabem que
põe um confronto consigo mesmo e sabemos que nunca poderemos alcançar.
este exercício é eminentemente difícil. A verdadeira
viagem é sempre uma viagem interior, um mergu- Fonte: https://www.gadlu.info
lho no nosso ser profundo sobre o qual lançaremos

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