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Alessandro V. M. Oliveira
Rafael Almeida
Instituto Tecnológico de Aeronáutica
RESUMO
A importante questão do congestionamento no trânsito nas capitais brasileiras tornou-se problema crucial de
mobilidade urbana para a acomodação da Copa do Mundo de 2014. A logística advinda do fluxo adicional de
turistas durante o megaevento, aliado ao crescimento orgânico da geração de viagens urbanas, tornou-se ponto
central de desenho de políticas públicas de transportes. Este artigo tem o objetivo desenvolver um sistema de
equações para a previsão do congestionamento na cidade de São Paulo. Foram utilizados modelos explicativos
dos níveis de atividade econômica, preços e fluxos de transportes na região. Modelos de lentidão do trânsito
foram estimados, desagregando-se a análise para os picos da manhã e da tarde. A modelagem econométrica
permitiu testar hipóteses quanto a ações recentes de planejamento dos transportes adotadas pelas autoridades,
como as restrições ao tráfego de caminhões e a inauguração do Rodoanel. Adicionalmente, foram estimados os
efeitos da intensidade das chuvas e a suspensão do sistema de rodízio durante férias escolares e eventos
exógenos. As conclusões do estudo apontam para aumentos entre 17% e 47% na lentidão do trânsito em junho e
julho de 2014. A contribuição do artigo está na busca pelo maior entendimento do problema, em como cada
regressor atua e como cada solução afeta um sistema viário em situações de extrema sobrecarga.
ABSTRACT
The important issue of traffic congestion in Brazilian state capitals has become a crucial problem of urban
mobility to accommodate the World Cup 2014. The logistics arising from the additional flow of tourists during
the mega event, along with the organic growth of urban trip generation, has become central to the design of
transport public policies. This article aims to develop a system of equations to predict congestion in the city of
Sao Paulo. Explanatory models were used for the levels of economic activity, prices and transport flows in the
region. Slow traffic models were estimated by disaggregating the analysis to the morning and afternoon peaks.
The econometric modeling allows us to test hypotheses regarding the recent actions taken by transportation
planning authorities, such as restrictions on truck traffic and the opening of the ring road. Additionally, we
estimated the effects of rainfall intensity and the suspension system of rotation during school holidays and
exogenous events. The findings point to increases between 17% and 47% in slow traffic in June and July 2014.
The contribution of this paper is the quest for greater understanding of the problem, as each regressor operates
and how each solution affects a road system in extreme overload.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa modelar e avaliar econometricamente um conjunto de variáveis que
influenciam o congestionamento na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). A partir
dessa modelagem, busca descrever quantitativamente os fatores que influenciam a mobilidade
urbana da metrópole paulista, além de contribuir para o entendimento do problema, em como
cada regressor atua e como cada solução afeta um sistema viário em situações de sobrecarga.
Neste trabalho, foram utilizados modelos explicativos dos níveis de atividade econômica,
preços e fluxos de transportes na região. Modelos de lentidão do trânsito foram então
estimados, desagregando-se a análise para os picos da manhã e da tarde. A modelagem
econométrica permitiu testar hipóteses quanto a ações recentes de planejamento dos
transportes adotadas pelas autoridades, como as restrições ao tráfego de caminhões e a
inauguração do rodoanel. Adicionalmente, foram estimados os efeitos da intensidade das
chuvas e a suspensão do sistema de rodízio durante férias escolares e eventos exógenos. As
conclusões do estudo apontam um aumento entre 17% e 47% na lentidão do trânsito em junho
e julho de 2014.
O município de São Paulo decretou, em 4 de outubro de 1997, uma lei para melhorar a fluidez
do trânsito. Essa lei ficou conhecida como “Rodízio Municipal”, que restringia a circulação de
veículos pelo algarismo final da placa, sendo cada dia da semana placas com dois diferentes
algarismos finais eram restritos de transitarem. A restrição era válida apenas para os dias úteis
1
Fonte: CET.
2
Fonte: DENATRAN e cálculos próprios usando a base de dados da pesquisa.
nos horários de pico da manhã, entre 7h e 10h, e de pico da tarde, entre 17h e 20h. A região
para proibição abrangia a área interna de um Mini-anel, delimitado por algumas dse suas vias
mais importantes, como a Marginal Tietê e a Marginal Pinheiros. Eram previstos alguns
períodos em que as regras não seriam aplicadas, que seriam os meses de férias escolares
(janeiro e julho) e dias que antecedem Natal, Ano novo e carnaval.
[ ] [ ] [ ] (1)
, (2)
que é o equivalente matricial de . A expressão do estimador de mínimos
quadrados ordinários em forma matricial é igual a:
̂ . (3)
(̂ ) . (4)
(̂ ) ̅( ̂ ) ̅( ̂ ), (5)
̂ , (6)
indprodsp: índice de produção industrial em São Paulo (fonte: IBGE)
gdp: produto interno bruto brasileiro, trazido a valor presente pelo IPCA (fonte:
IPEADATA, com cálculos próprios);
usd: taxa de câmbio (dólar), trazido a valor presente pelo IPCA (fonte: IPEADATA,
com cálculos próprios);
avcredit: operações de crédito ao setor privado, pessoas físicas, em reais, trazido a
valor presente pelo IPCA (fonte: Banco Central do Brasil)
2) Variáveis de preços do setor de transportes:
purb: índice de preços do transporte urbano na Região Metropolitana de São Paulo
(fonte: IBGE);
pveicprop: índice de custo com veículo próprio na Região Metropolitana de São Paulo
(fonte: IBGE);
pdieselbr: índice de preços do diesel na Região Metropolitana de São Paulo (fonte:
IBGE);
pfreight: Índice Nacional de Variação do Custo do Transporte, INCT, (fonte:
Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região, SETCESP);
intermunicipal, rodoviário interestadual e aéreo (fonte: IDET-FIPE);
paxloc: total de passageiros em transporte urbano local, ferroviário, metroviário e
intermunicipal (fonte: IDET-FIPE);
paxout: total de passageiros em transporte rodoviário interestadual e aéreo (fonte:
IDET-FIPE);
fleetsp_tot: total da frota de veículos na cidade de São Paulo (fonte: DENATRAN);
truck_tot: total de carga transportada por terceiros em transporte rodoviário
interestadual (fonte: IDET-FIPE).
susp_school: suspensão do rodízio pela CET devido às férias escolares (fonte: CET);
susp_wcup: suspensão do rodízio pela CET devido a jogos da Copa do Mundo de
2002, 2006 e 2010 (fonte: CET);
susp_eventos: suspensão do rodízio pela CET devido a eventos exógenos, como
greves e manifestações (fonte: CET);
susp_flood: suspensão do rodízio pela CET devido a inundações (fonte: CET);
hol_prol: feriado prolongado no mês;
nd_hol: contagem de dias de feriado no mês;
dcrisis: variável binária representativa dos impactos da crise financeira global no
Brasil, configurada entre outubro de 2008 a junho de 2009;
tombamentos: dummy de períodos de tombamentos de caminhões, apontadas pela
imprensa (fonte: mídia, diversos).
5) Variáveis de congestionamento:
cong_mor: média mensal da lentidão do trânsito – pico da manhã (km, fonte: CET)
cong_aft: média mensal da lentidão do trânsito – pico da tarde (km, fonte: CET)
cong_avg: média mensal da lentidão do trânsito diário (km, fonte: CET, cálculos
próprios)
rain_nd: número de dias do mês cuja precipitação foi superior à média mensal (mm,
fonte: BDMEP - INMET, Estação: São Paulo, Mirante de Santana, cálculos próprios)
4. RESULTADOS DAS ESTIMAÇÕES
Tabela 1 – Resultados das estimações dos deslocadores de atividade econômica e do poder de compra 3
Notas:
3
Estimativas de elasticidades apresentadas na média amostral; erros padrões estimados em colchetes;
representações de p-valor: *** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.10; efeitos estimados de sazonalidade e tendência
omitidos.
A Tabela 2 apresenta os resultados das estimações dos preços do setor de transportes. Nela,
roda-se as variáveis purb, pveicprop, pdiesel e pfreight contra possíveis fatores explicativos.
Dentre esses, destaque para o próprio preço do diesel (pdiesel), que é um deslocador de custos
estatisticamente significante de purb e pfreight. No caso dos regressores de pdiesel, utilizou-
se a taxa de câmbio como uma aproximação às políticas de precificação dos derivados do
petróleo por parte da Petrobrás.
Notas:
A Tabela 3 apresenta os resultados dos modelos econométricos da frota paulistana e dos
fluxos de transportes na região. No caso da frota (fleetsp_tot), importante salientar que tanto
eap quanto indprodsp mostraram-se deslocadores estatisticamente significantes. Uma
hipótese testada foi a da causalidade entre disponibilidade de crédito (avcredit) e tamanho da
frota. Obteve-se um efeito estatisticamente significante e positivo, com elasticidade 0.2698,
ou seja, a cada 1% de aumento na disponibilidade de crédito, tem-se um aumento de 0.2698%
na frota da cidade de São Paulo. No que diz respeito aos fluxos, nota-se que as elasticidades-
preço tanto do transporte rodoviário de carga quanto total de passageiros na cidade
mostraram-se estatisticamente insignificantes. Esse resultado pode ser atribuído à baixa
elasticidade-preço, à falta de variabilidade dessas variáveis, e também à dificuldade de obter
variáveis instrumentais adequadas para o estimador GMM. No caso do transporte de carga,
nota-se que tanto a dummy de rodoanel quanto a de restrição aos caminhões (respectivamente,
rodoanel e truckrestr), mostraram-se estatisticamente significantes. Isso é claramente
indicativo de que as políticas públicas de transportes para a região mostraram-se eficazes
quanto a esses aspectos.
4
Estimativas de elasticidades apresentadas na média amostral; erros padrões estimados em colchetes;
representações de p-valor: *** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.10; efeitos estimados de sazonalidade e tendência
omitidos.
Tabela 3 – Resultados das estimações da frota e dos fluxos de transportes 5
eap 0.6844**
[0.274]
indprodsp 0.2083***
[0.071]
avcredit 0.2698***
[0.100]
pfreight -0.1296
[0.576]
indprod 0.4064***
[0.096]
rodoanel -0.0125**
[0.005]
rodoanel_sr 0.0009
[0.001]
truckrestr -0.0500***
[0.016]
purb -0.2191
[0.170]
gdp 0.6218***
[0.115]
A Tabela 4 Notas:
apresenta as regressões das principais variáveis do estudo - as variáveis de
- Estimativas
lentidão do trânsito de elasticidades
cong_avg, apresentadas
cong_mor e cong_aft. na média amostral
Primeiramente, tem-se a Coluna (1),
que decompõe os fatores explicativos da lentidão diária média. Nota-se que as principais
variáveis apontadas pelo modelo econométrico são paxtot, rain_nd, truck_tot, rodoanel,
susp_school, tombamentos e hol_prol. Temos que eventos exógenos como chuvas,
tombamentos de caminhões, férias escolares e feriados são efetivos fatores de incremento da
lentidão do trânsito. O tráfego rodoviário de carga é fator relevante de congestionamento
médio, sendo que a cada 1% no aumento da carga transportada, tem-se um aumento de
0,2119% na lentidão média. A restrição ao trânsito de caminhões na cidade não teve impacto
significativo nessa relação. Já o Rodoanel proporcionou uma queda de quase 3% na lentidão.
5
Estimativas de elasticidades apresentadas na média amostral; erros padrões estimados em colchetes;
representações de p-valor: *** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.10; efeitos estimados de sazonalidade e tendência
omitidos.
Tabela 4 – Resultados das estimações da lentidão do trânsito paulistano 6
Notas:
A Coluna (2) da Tabela 4 apresenta os resultados desagregando o total de passageiros (paxtot)
entre passageiros "locais" (paxloc) e passageiros "outros" (paxout). Os passageiros "locais"
são os passageiros com origem e destino localizadas intrarregião metropolitana. Percebe-se
que a demanda desses passageiros (e fatores correlacionadas com essa demanda) gera
causalidade estatisticamente significante com a lentidão do trânsito média. Já paxout não tem
efeito estatisticamente significante. Os demais resultados da Coluna (2) não são alterados. Por
fim, as colunas (3) e (4) apresentam uma desagregação dos resultados em lentidão matutina
(cong_mor) e lentidão vespertina (cong_aft). Pode-se notar que o efeito do rodoanel é mais
pronunciado reduzindo a lentidão da tarde. Por outro lado, a suspensão do rodízio durante as
férias escolares tem efeito mais pronunciado no congestionamento da manhã. Todos esses
resultados proporcionam um mapeamento quantitativo e uma decomposição de fatores
explicativos da lentidão do trânsito paulistano.
Uma vez efetuadas as estimações do sistema de equações, foi possível efetuar uma previsão
do congestionamento futuro na cidade de São Paulo. O foco das previsões foram os meses de
junho e julho, com vistas a uma comparação com o período da Copa do Mundo de 2014. Para
6
Estimativas de elasticidades apresentadas na média amostral; erros padrões estimados em colchetes;
representações de p-valor: *** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.10; efeitos estimados de sazonalidade e tendência
omitidos.
as projeções, foi considerado o crescimento do PIB brasileiro de acordo com a pesquisa
FOCUS do Banco Central, adotando-se o crescimento esperado de 2013 para 2014. Todas as
demais variáveis foram projetadas a partir dos modelos econométricos estimados. A variável
paxtot teve um acréscimo de tráfego devido ao megaevento, projetado utilizando-se as
previsões de Martins, Belezza e Werner (2011) e utilizando o fator de duas viagens por turista
por dia, mais duas viagens aéreas para cada (ida e volta). Com as projeções de todos os
regressores, foi possível efetuar a previsão da lentidão matutina e vespertina para junho e
julho de 2014. As Figuras 1 e 2 apresentam os resultados dessas projeções.
160
143 145
139
140
124 124
120
106
100 91 89
80 76 76
60
40
20
0
2010 2011 2012F 2013F 2014F
cong_mor (lentidão matutina) cong_aft (lentidão vespertina)
160
140 137
134
125
120 115
99
100
80
68
61
60 57
46 45
40
20
0
2010 2011 2012F 2013F 2014F
cong_mor (lentidão matutina) cong_aft (lentidão vespertina)
7
Fonte: autores, com base nos modelos estimados.
8
idem.
Com base nos resultados, pode-se concluir que é previsto um aumento considerável na
lentidão do trânsito, tanto no período da manhã quanto da tarde. A previsão é de uma lentidão
matutina média de 106 km e 68 km, respectivamente, em junho e julho de 2014. Já a lentidão
vespertina média atingiria 145 km e 137 km em junho e julho, respectivamente. Esses valores
representam aumentos entre 17% e 47% dos números observados em 2010, podendo ser
considerados relevantes do ponto de vista de desenvolvimento de políticas públicas. Os
resultados incluem a previsão de feriados durante os jogos da Copa do Mundo em São Paulo,
bem como as férias escolares e demais fatores sazonais.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo efetuou, por meio de modelagem econométrica com desenvolvimento de
sistema de equações, a estimação dos determinantes do congestionamento na cidade de São
Paulo. Foram também realizadas previsões da lentidão do trânsito para o período do
megaevento da Copa do Mundo de 2014. Hipóteses quanto a ações recentes de planejamento
dos transportes adotadas pelas autoridades, como as restrições ao tráfego de caminhões e a
inauguração do rodoanel. Adicionalmente, foram estimados os efeitos da intensidade das
chuvas e a suspensão do sistema de rodízio durante férias escolares e eventos exógenos. As
conclusões do estudo apontam para aumentos de até 47% na lentidão do trânsito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Estado dos Transportes Metropolitanos, São Paulo, SP.
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