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primeiro termo uma referência a uma forma mais livre de tocar, como no canto,
enquanto que o segundo se refere às variadas seções existentes no interior da
mesma composição.
A primeira recomendação esclarece acerca do andamento de execução
das obras, o qual não deve estar sujeito, sob nenhuma hipótese, a algum pulso
métrico fixo, e cita como exemplo os “madrigais modernos” da época que, apesar
de difíceis, podiam ter uma execução facilitada pelo “tempo conduzido” a que
estavam submetidos.
Na segunda recomendação, o autor explica que as suas composições
foram concebidas de forma a não apenas serem ricas em passagens como
também que cada uma delas pudesse ser executada independentemente uma da
outra, ficando a critério do executante tocar até o final ou parar antes, onde lhe
parecesse apropriado. Na Toccata Sesta, podem-se encontrar ao menos pontos
como o aqui explicado.
A terceira recomendação fala da maneira como se devem tocar os inícios
das tocatas: comodamente e com arpejos. Quanto as ligaduras ou dissonâncias,
sejam no começo ou no meio da obra, devem ser rebatidas novamente, a fim de
não deixar surgir nenhum vazio no som do instrumento. As repetições das notas
podem ser retomadas ao gosto do executante. A Toccata Sesta oferece inúmeras
passagens em que é possível proceder da forma explicada, especialmente nos
trechos em que uma das mãos está tocando figuras de som mais curtas, em
movimento, enquanto a outra mantém acordes.
A quarta recomendação trata dos trinados e das notas que aparecem na
cadência final de uma passagem: mesmo que seja uma figura de valor curta,
como uma colcheia ou fusa, deve-se parar nelas, a fim de ser ter clara a chegada
ao final de uma passagem e o início da outra.
Ainda que as cadências estejam escritas de forma rápida, diz a quinta nota
do prefácio, devem ter uma retenção expressiva do tempo; especialmente
próximo do final das passagens, o executante deve cuidar para que o tempo seja
sustentado mais lentamente. Um bom exemplo para esta recomendação se
encontra na passagem do compasso 12 para o 13.
O número seis informa sobre como se deve proceder diante de trinados, na
mão direita, ou até na esquerda, em coocorrência com passagens. O trinado deve
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ser tocado de forma rápida, enquanto que a passagem deve fluir de maneira
tranquila e afetuosa. Na Toccata Sesta, não é possível identificar nenhum trecho
em que isso aconteça.
A sétima recomendação feita por Frescobaldi indica qual deve ser o
tratamento dado a passagens em que ocorrem concomitantemente colcheias e
semicolcheias em ambas as mãos: não se deve tocar uma tal passagem muito
rápido, e as semicolcheias sejam executadas de forma pontuada, ficando o ponto
não na primeira, mas sempre na segunda nota, e assim em todas as figuras da
passagem, uma não pontuada e a outra sim. Desta forma tem-se o assim
denominado ritmo lombardo. Dois trechos da Toccata Sesta apresentam figuras
que correspondem a essas indicações: do compasso 19 ao 20; iniciando na mão
esquerda e depois passando para a direita; no penúltimo compasso, ocorrendo
apenas na mão esquerda.
Na oitava nota, Frescobaldi fala das passagens duplas de semicolcheias
nas duas mãos: antes que sejam iniciadas, deve-se fazer uma parada na nota
precedente, mesmo que seja de pequeno valor. Em seguida, de maneira resoluta
e ágil, executa-se a passagem. Nos compassos 24, 46 e 48, ocorre justamente
essa situação explicada pelo autor.
Na recomendação de número nove, encontra-se uma explicação mais
direcionada à execução das partitas, mas também aplicável nas tocatas: sempre
que se encontrarem “passagens e afetos”, deve-se aplicar um tempo mais lento.
Concluindo, Frescobaldi dá algumas indicações sobre uma maior liberdade de
tempo que poderá existir nas outras seções em que não ocorrem passagens,
deixando espaço ao “bom e fino julgamento do executante”, bem como encerra o
seu prefácio tecendo um brevíssimo comentário sobre a forma como se deve
proceder com as passacalhas e as chaconas.