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IPATINGA
2013
HENRIQUE AZEVEDO DOS SANTOS
KARINE GOMES DE AMARAL
LIBNE MARTINS ALVES
TALES JARDIM DA SILVA BITTENCOURT
IPATINGA
2013
RESUMO
Biodiesel é um combustível de fontes renováveis que vem demonstrando ser uma promissora
alternativa ao diesel, combustível de origem fóssil. Desde 2010 todo o diesel comercializado
no Brasil recebe a adição de 5% de Biodiesel em volume, mas grande parte deste
biocombustível é produzido a partir do óleo de soja in natura. A produção a partir de óleos de
frituras possuem vantagens em relação ao óleo in natura, sendo o maior deles o custo, além
da destinação à este resíduo, que comumente recebe descarte inadequado, causando
problemas ambientais, entre outros. No presente trabalho, produziu-se Biodiesel a partir de
óleo residual reciclado. Para tanto, as amostras de óleo foram recolhidas em uma empresa
coletora situada na região do Vale do Aço - MG. Para definir o melhor método de produção,
foram analisados dados cinéticos e termodinâmicos de autores que estudaram e avaliaram
diferentes condições de processo, com diversos reagentes e catalisadores. Dessa maneira
foram definidas as rotas metílica e etílica a serem abordadas, na concentração de 1:12 molar
de óleo residual por álcool e a quantidade de 1,5% de catalisador no processo. Foi
confeccionada, pelos autores deste trabalho, uma planta piloto com materiais alternativos,
onde a produção foi realizada. Para certificar e validar o método, analisou-se o produto gerado
através de sua viscosidade e densidade, comparando-a com dados obtidos em normas
técnicas, inferindo que o produto resultante da rota metílica é Biodiesel.
ASTM – (American Society for Testing and Materials) Sociedade Americana para Teste de
Materiais
DAG – Diacilgliceróis
HC – Hidrocarbonetos
MAG – Monoacilgliceróis
TAG – Triacilgliceróis
LISTA DE SÍMBOLOS
C – carbono
cm – centímetro
g – grama
h – hora
H – hidrogênio
L – litro
mg – miligrama
mL – mililitro
N – normal (mol/L)
Na – sódio
O – oxigênio
R – radical
S – enxofre
V – volt
W - watt
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................10
2 DESENVOLVIMENTO......................................................................................12
2.1 Revisão de literatura............................................................................................12
2.1.1 Diesel......................................................................................................................13
2.1.2 Biodiesel.................................................................................................................14
2.1.2.1 Propriedades físicas e químicas.............................................................................15
2.1.2.2 Matérias-primas.....................................................................................................16
2.1.2.3 Óleo de frituras.......................................................................................................18
2.1.3 Métodos de obtenção..............................................................................................20
2.1.3.1 Processo de craqueamento.....................................................................................20
2.1.3.2 Processo de transesterificação................................................................................21
2.1.4 Etapas da produção industrial por transesterificação.............................................27
2.1.4.1 Separação das fases................................................................................................28
2.1.4.2 Recuperação do álcool, glicerina e ésteres.............................................................28
2.1.4.3 Desidratação do álcool...........................................................................................29
2.1.4.4 Purificação dos ésteres...........................................................................................29
2.1.4.5 Destilação da glicerina...........................................................................................29
2.1.5 Mercado brasileiro de Biodiesel.............................................................................30
2.1.6 Vantagens e desvantagens......................................................................................31
2.1.6.1 Vantagens...............................................................................................................31
2.1.6.2 Desvantagens.........................................................................................................32
2.1.7 Meio ambiente........................................................................................................33
3 METODOLOGIA................................................................................................35
3.1 Análises físico-químicas da matéria-prima........................................................35
3.1.1 Umidade.................................................................................................................35
3.1.2 Índice de acidez......................................................................................................35
3.1.3 Densidade e viscosidade........................................................................................35
3.2 Pré-tratamento do óleo........................................................................................37
1 INTRODUÇÃO
[...] nos idos de 1900, óleos vegetais já vinham sendo utilizados em máquinas diesel
com sucesso. Durante a Exposição de Paris de 1900, a companhia francesa Otto
demonstrou o funcionamento de um pequeno motor diesel com óleo de amendoim.
Esta experiência foi tão bem sucedida que apenas alguns dos presentes perceberam
as circunstâncias em que a mesma havia sido conduzida. O motor, que havia sido
construído para consumir petróleo, operou com óleos vegetais sem qualquer
modificação. Também foi observado que o consumo de óleo vegetal resultou em um
aproveitamento do calor literalmente idêntico ao do petróleo (DIESEL, 1937 apud
KNOTHE, 2006).
Mas, segundo a empresa de combustíveis Petrobrás 1, desde 2010 todo o diesel comercializado
no Brasil já contém os 5% citados na lei descrita.
Resultou-se em uma crescente necessidade de desenvolver fontes de energias
renováveis de menor impacto ambiental que os meios tradicionais existentes devido à alta
demanda de energia no mundo industrializado e no setor doméstico, bem como os problemas
de poluição causados devido ao vasto uso de combustíveis fósseis (GERIS et al, 2007).
Diante do contexto apresentado, o objetivo deste trabalho foi produzir Biodiesel, em
pequena escala, através de reação de transesterificação do óleo de fritura com os álcoois
metanol e etanol, utilizando-se protótipo de planta química construído com materiais
alternativos no laboratório de engenharia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Ipatinga.
A matéria-prima utilizada no processo foi óleo residual reciclado fornecido por uma empresa
coletora, localizada na região do Vale do Aço - MG. Objetivou-se também na pesquisa avaliar
os parâmetros físico-químicos acidez, umidade, densidade e viscosidade da matéria-prima
utilizada, além de caracterizar o produto obtido no processo pelas análises de densidade e
viscosidade.
2 DESENVOLVIMENTO
1
http://www.petrobras.com.br/pt/energia-e-tecnologia/fontes-de-energia/biocombustiveis/
12
2.1.1 Diesel
2.1.2 Biodiesel
14
Os óleos vegetais aparecem como uma alternativa para a substituição do óleo diesel,
entretanto algumas propriedades físicas limitam sua utilização direta em motores, como alta
viscosidade e baixa volatilidade, podendo causar danos e até combustão incompleta. Para
melhorar suas propriedades para uso, vem sendo consideradas algumas alternativas onde,
através de processos simples, promove a obtenção do Biodiesel com propriedades similares à
do óleo diesel (FERRARI; SCABIO, 2005; RINALDI et al, 2007; GERIS et al, 2007). Na
TAB. 1 a seguir podem ser observadas as comparações de tais propriedades:
TABELAentre
TABELA 2 - Comparação 1 - Comparação entredoasDiesel
as propriedades propriedades do Diesel e Biodiesel
e Biodiesel.
Propriedades Diesel Biodiesel
Método ASTM D975 ASTM D6751
a
Composição HC (C10 - C21) FAMEb (C12 - C22)
Viscosidade cinemática (mm2/s) a 40°C 1,9-4,1 1,9-6,0
Massa específica (g/mL) 0,85 0,88
Ponto de ignição 60 - 80 100 - 170
Ponto de névoa -15 a 5 -3 a 12
Ponto de fulgor -35 a -15 -15 a 16
Água (% volume) 0,05 0,05
Carbono (% massa) 87 77
Hidrogênio (% massa) 13 12
Oxigênio(% massa) 0 11
Enxofre (% massa) 0,05 0,05
Número de cetano 40 - 55 48 - 60
a: Hidrocarbonetos b: metil éster de ácidos graxos
Fonte: COSTA, 2009.
Propriedades físicas
16
Propriedades químicas
2.1.2.2 Matérias-primas
Rendimento
Espécie Origem do óleo Teor de óleo (%)
(t óleo/ha)
Dendê/ Palma Amêndoa 22,0 3,0 - 6,0
Coco Fruto 55,0 - 60,0 1,3 - 1,9
Babaçu Amêndoa 66,0 0,1 - 0,3
Girassol Grão 38,0 - 48,0 0,5 - 1,9
Colza/ Canola Grão 40,0 - 48,0 0,5 - 0,9
Mamona Grão 45,0 - 50,0 0,5 - 0,9
Amendoim Grão 40,0 - 43,0 0,6 - 0,8
Soja Grão 18,0 0,2 - 0,4
Algodão Grão 15,0 0,1 - 0,2
um sistema de coleta de óleos usados eficiente. Mas devido a uma compatibilidade observada
dentre os ésteres obtidos de óleo novo e usado, pode-se perfeitamente recomendar que, em
processos industriais de produção de Biodiesel, óleos vegetais de descarte sejam diretamente
incorporados ao óleo bruto, anteriormente ao processo de transesterificação.
Segundo Cvengros e Cvengrosova (2004) o processo de fritura consiste em aquecer o
óleo a temperaturas entre 160 e 220 ºC na presença de ar durante longos períodos de tempo.
Com esse aquecimento o óleo tem suas propriedades físico-químicas alteradas como:
Aumento da viscosidade;
Aumento do calor específico;
Diminuição do número de iodo (número proporcional ao teor de insaturação do
composto);
Mudança na tensão superficial;
Mudança no aspecto (cor);
Aumento da acidez devido à formação de ácidos graxos livres;
Odor desagradável (ranço);
Aumento da tendência do óleo em formar espuma.
Para Choe e Min (2007), a degradação do óleo de fritura está associada às reações de
hidrólise, oxidação e polimeração. A maioria dos compostos voláteis formados na degradação
é evaporada enquanto que as substâncias remanescentes reagem novamente ou são absorvidas
pelo óleo. Por fim, os compostos não-voláteis formados afetam as propriedades físico-
químicas do óleo residual produzido.
Na reação de hidrólise, o vapor de água produzido durante a fritura dos alimentos
ataca a ligação do éster dos triacilgliceróis formando ácidos graxos livres, glicerol, mono e
diacilgliceróis. Os ácidos graxos insaturados podem reagir com oxigênio molecular via radical
livre. Os hidroperóxidos e radicais alcóxi formados são precursores de diversos outros
compostos (KULKARNI; DALAI, 2006).
Quanto à oferta, os óleos de frituras representam um potencial surpreendente,
superando, as mais otimistas expectativas. Tais óleos têm origem em determinadas indústrias
de produção de alimentos, nos restaurantes comerciais e institucionais, e ainda, nas
lanchonetes (PARENTE, 2003).
20
Fonte: SUAREZ
et al, 2009.
O autor supracitado também afirma que a razão molar álcool / óleo vegetal não
interfere nos índices de acidez, de peróxidos, de saponificação e de iodo, mas é um dos
principais fatores que influenciam a extensão da reação de transesterificação. Um excesso de
álcool favorece a formação de produtos, mas, uma quantidade excessiva desse reagente
dificulta a separação do glicerol.
a) Catálise enzimática
b) Catálise ácida
Ramos (2011) explica em seu trabalho que a transesterificação pode ser conduzida
em meio ácido possuindo vantagem evidente em relação ao uso de catalisadores alcalinos,
pois a quantidade de ácidos graxos livres no meio não é relevante (estes podem ser
esterificados no mesmo vaso de reação). Isto possibilita o uso de matérias-primas de menor
valor agregado no processo. Porém, a transesterificação ácida requer condições de trabalho
mais enérgicas em relação à alcoólise em meio alcalino.
As reações devem ser conduzidas com elevadas razões molares, sendo comum o uso
de 30:1. Também devem ser realizadas em temperaturas próximas da temperatura de ebulição
do álcool utilizado como agente na reação. Sua cinética também é menos favorecida, sendo
comum o uso de pelo menos 3 h de reação. Os catalisadores mais comuns para uso na
alcoólise em meio ácido são os ácidos de Brönsted-Lowry, como os ácidos sulfúrico e
sulfônico (RAMOS, 2011).
24
c) Catálise básica
rápida do que a catálise ácida quando utilizado a mesma quantidade de catalisador (LOTERO,
2005).
A FIG. 7 a seguir demonstra o mecanismo da reação catalisada por base onde a
espécie ativa é um alcóxido, que é formado pela reação do mono-álcool com a base, conforme
a reação (I). Então, uma carbonila de um triacilglicerídeo (TAG) sofre um ataque nucleofílico
do alcóxido, conforme a reação (II), formando um intermediário tetraédrico. A partir de uma
decomposição deste intermediário (reação III), formam-se o éster de mono-álcool e o ânion
(reação III) o qual, após a desprotonação do ácido conjugado formado na reação (I), regenera
a base de partida e produz, neste caso, um diacilglicerídeo (DAG), reação (IV). Reações
similares irão ocorrer com os DAGs formados, produzindo monoacilgricerídeos (MAGs), os
quais, em processos similares, formarão finalmente a glicerina e os monoalquil ésteres
(RODRIGUES, 2008).
catálise básica mais aplicada mundialmente para produção de Biodiesel nos processos
industriais (SOLDI, 2006). Na FIG. 8 têm-se as etapas do processo de transesterificação via
catálise básica.
Vários processos tecnológicos estão sendo utilizados para obtenção do Biodiesel via
transesterificação. Christoff (2006) destaca na FIG. 10 (próxima página) um destes processos
para a produção de Biodiesel a partir de óleo residual de fritura, constituído por etapas de pré-
tratamento da matéria-prima, reação de transesterificação e de purificação do Biodiesel
obtido.
28
FIGURA 10 – Processo de obtenção Biodiesel por transesterificação etílica do óleo residual de fritura
Os ésteres deverão ser lavados com água destilada, retirando as impurezas existentes,
resultando finalmente o Biodiesel. Esse Biodiesel deverá ter suas características enquadradas
nas especificações das normas técnicas estabelecidas para esse biocombustível como
combustível para uso em motores do ciclo diesel, que atende aos parâmetros fixados pelas
normas ASTM D6751 (AMERICAN STANDARD TESTING METHODS, 2003), DIN
14214 (DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG, 2003) ou pela portaria nº 255/03 de
15.09.2003 da ANP.
O produto comercializado deve estar acompanhado de um Certificado de Qualidade
de acordo com a especificação brasileira para Biodiesel. O responsável pela produção de
Biodiesel deverá enviar mensalmente à ANP informações sobre movimentação de matérias-
primas e de produtos.
O governo brasileiro a partir de 1975 deu inicio a programa nacional do etanol o Pró-
álcool, a idéia era produzir etanol ou etil álcool com combustível (MASIERO; LOPES, 2008).
Desde então o etanol passou a ser misturado com a gasolina isto permitiu que mais de 110
milhões de toneladas de gás carbônico não fosse liberada na atmosfera. Somente em 1983 o
governo passou a investir em um programa para a produção de óleos vegetais com fins
energéticos algo par substituir os óleos derivados do petróleo, quando Expedito José de Sá
Parente (1940-2011), engenheiro químico formado na Universidade Federal do Ceará, teve a
primeira patente brasileira de Biodiesel utilizando óleo de algodão. Porém com a diminuição
do preço do petróleo o programa foi abandonado e retomado em 2003, quando criou-se o
programa nacional de produção e uso do Biodiesel. Isto aconteceu devido à crescente
conscientização mundial referente aos grandes problemas ambientais, econômicos e a
produção de energia já que as fontes de combustíveis fósseis estão acabando (UNICAMP,
2007; LIMA, 2008).
O Brasil introduziu o Biodiesel na matriz energética como aditivo com as condições
de mercado e a produção regulamentados pela Lei nº 11097, estabelecendo mistura
obrigatória de 2% de Biodiesel em diesel (B2) a partir de janeiro de 2005 e de 5% (B5) em
janeiro de 2013, em todo o território nacional (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE, 2008; CHRISTOFF, 2006; DIB, 2010).
Mas, segundo a empresa de combustíveis Petrobrás, desde 2010 todo o diesel comercializado
no Brasil já contém os 5% (cinco por cento) citados na lei descrita.
A introdução do biocombustível no mercado brasileiro começou em 2005, com
capacidade produtiva autorizada de 72,7 mil m³. Em 2006, o país triplicou sua produção e, em
2007, atingiu a marca de 2.010,38 mil m³, com mais 34 empresas. Em setembro de 2008, a
capacidade produtiva autorizada pela ANP chegou a 61 empreendimentos, com produção
anual instalada de 3.036,8 mil m³, comparável à produção dos maiores países produtores de
Biodiesel – Alemanha e Estados Unidos, primeiro e segundo lugar, respectivamente
(SEBRAE, 2009).
31
1,600,000
1,500,000
1,400,000
1,300,000
m3
1,200,000
1,100,000
1,000,000
900,000
800,000
ro ro o il io o o to ro ro ro ro ro ro o
n ei rei arç Abr Ma unh Julh gos mb tub mb mb nei rei arç
Ja ev e M J A ete Ou ove eze Ja ev e M
F S N D F
Mês 2013
2.1.6.1 Vantagens
na importação de diesel e, apesar da produção de petróleo no país ser maior que o consumo, o
Brasil é historicamente dependente da importação de óleo diesel.
Knothe (2006) aponta outra vantagem em relação ao atraso de ignição, pois o
Biodiesel possui maior número de cetano. Para motores a diesel, baixo número de cetano
resulta em maior tempo de atraso de ignição, o que provoca aumento rápido de pressão na
câmara de combustão e um forte ruído característico (batida diesel), além de acúmulo de
combustível na câmara, com isso combustíveis com maior número de cetano proporcionam
melhores ignição e rendimento.
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) analisou em 2002 as
emissões da combustão do Biodiesel e constataram menor emissão de material particulado,
que pode ser reduzido em até 48% com o B100 (puro) e que o Biodiesel é essencialmente
alifático, enquanto o diesel de petróleo contém de 20 a 40% em volume de material
aromático.
Barnwal e Sharma (2005) analisaram a emissão de gases poluentes pelas combustões
de B100 e concluíram que o dióxido de enxofre (SO 2) é totalmente eliminado, a fuligem
diminui em 60%, o monóxido de carbono e os hidrocarbonetos diminuem em 50%, os
hidrocarbonetos poliaromáticos são reduzidos em mais de 70% e os gases aromáticos em
15%.
Os dióxidos e monóxidos de carbono emitidos na combustão são absorvidos durante
o crescimento das oleaginosas, reduzindo de maneira global esses gases. A substituição de
diesel de petróleo por Biodiesel podem reduzir em até 78% as emissões de CO 2 atmosférico.
Propriedades lubrificantes podem facilmente recuperar a lubricidade do diesel com baixo teor
de enxofre, o que favorece o funcionamento de partes móveis do motor e da bomba de
combustível (BIODIESEL HANDLING AND USE GUIDELINES, 2006).
2.1.6.2 Desvantagens
Maior ponto de névoa: Knothe et al (2006) cita como uma grande desvantagem, pois
pode acarretar vários problemas operacionais como entupimento do filtro de combustível e
dificuldade de bombeamento do combustível do tanque para o motor, congelando ou
formando géis quando a temperatura aproxima-se de 0 °C;
33
Maior emissão de NOx: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA),
analisou em 2002 o B100, e detectou que emissões de NOx podem aumentar em até 10%.
Misturas de metil éster de girassol/diesel foram analisadas por Muñoz et al (2004), nas
concentrações B25, B50, B75 e B100 utilizadas por em motor diesel automotivo, para
determinação dos níveis de emissão de poluentes. Nos testes realizados, a concentração de
NOx com Biodiesel puro se apresentou sempre maior do que com o diesel. As temperaturas
alcançadas na câmara de combustão provoca o aumento da formação de NOx. É necessário o
uso de catalisadores para redução destas emissões (HOEKMAN; ROBBINS, 2012);
Aumento do preço da soja: Damé (2007) estimou que em torno de 80% do Biodiesel
produzido no país foi proveniente do óleo de soja, durante o ano de 2007, a soja acumulou um
aumento de 60%, atingindo na bolsa de Chicago o valor mais alto desde 1974. Foi necessária
a inclusão de matérias primas não concorrentes com alimentos (LIMA, 2008).
Dabdoub (2006) comenta que a pequena solubilidade dos óleos vegetais na água
constitui um fator negativo no que se refere à sua degradação em unidades de tratamento de
despejos por processos biológicos e, quando presentes em mananciais utilizados para
abastecimento público, causam problemas no tratamento da água. A presença deste material,
além de acarretar problemas de origem estética, diminui a área de contato entre a superfície da
água e o ar atmosférico impedindo a transferência do oxigênio da atmosfera para a água e, os
óleos e graxas em seu processo de decomposição, reduzem o oxigênio dissolvido elevando a
demanda bioquímica de oxigênio (DBO), causando alterações no ecossistema aquático.
Fernandes et al (2008) completa, afirmando que este descarte incorreto dos resíduos
de óleo vegetal é um problema antigo. É sabido que cada litro de óleo despejado no esgoto
tem capacidade para poluir cerca de um milhão de litros de água. Ao ser jogado no esgoto
encarece o tratamento dos resíduos em até 45%. Sua presença nos rios cria uma barreira que
dificulta a entrada de luz e a oxigenação da água, comprometendo assim, a base da cadeia
alimentar aquática e contribuindo para a ocorrência de enchentes. Além disso, a
decomposição do óleo de cozinha emite metano na atmosfera, uma espécie de gás inodoro,
incolor, que quando adicionado ao ar atmosférico transforma-se em mistura de alto teor
explosivo. O metano é um dos principais gases que causam o efeito estufa contribuindo para o
aquecimento da Terra.
34
3 METODOLOGIA
3.1.1 Umidade
O óleo residual foi deixado em estufa durante um período de uma hora e meia em
uma temperatura de 105 °C, pesando-se a amostra a cada 30 minutos até estabilização da
massa. Esse procedimento foi realizado com cinco repetições (DIB, 2010).
FIGURA 11 - Picnômetro
Fonte: Autores
Fonte: Autores
Fonte: Autores
Onde:
38
Fonte: Autores
Para o misturador do reator batelada (FIG. 15) foi utilizada uma furadeira de 110 V,
400 W e 2800 rpm da Skil, onde foi adaptada uma pá de batedeira para uma melhor
homogeneidade na mistura das matérias-primas.
39
FIGURA 15 - Misturador
Fonte: Autores
Fonte: Autores
2
3/4 de uma polegada: equivalente à, aproximadamente, 2 cm.
40
Fonte: Autores
Fonte: Autores
Anteriormente, a planta havia sido testada com recipientes de aço carbono nas
mesmas dimensões, mas houve oxidação das paredes dos mesmos, sendo estes substituídos
pelos de inox citados acima, para evitar quaisquer tipos de interferências que poderiam
influenciar no resultado final do produto, como mostrado na FIG. 19 abaixo:
41
Fonte: Autores
Fonte: Autores
Após o pré-tratamento, 276 g (300 mL) do óleo residual de fritura foi transferido
para o tanque receptor de matéria-prima correspondente. Abriu-se a válvula para o
escoamento deste no reator, no qual foi aquecido entre 45 – 55 ºC. Sob agitação mecânica,
adicionou a mistura catalisador/álcool, previamente preparada, para reagir durante 45
minutos.
42
Para a mistura catalisador/etanol, pesou-se 176 g (217 mL) de etanol (95%) e 4,2 g
de NaOH (P.A). Em um erlenmeyer, o catalisador (NaOH) foi dissolvido em etanol, formando
o etóxido de sódio como mostrado na equação:
Fonte: Autores
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1.1 Umidade
umidade apresentou baixa variabilidade de acordo com o desvio padrão referente aos dados da
amostra.
Ácidos graxos livres (AGL) indicam o grau de deterioração do óleo de fritura e sua
presença nos óleos e gorduras é proveniente da hidrólise de moléculas de triacilglicerol e pode
ser expressa de diversas formas. A maneira mais conveniente de expressar o teor de ácidos
graxos livres é em percentual, supondo que a massa molar dos ácidos graxos livres é
semelhante à massa molar do ácido linoléico (CHRISTOFF, 2006).
Como no presente trabalho, o AGL foi tratado com excesso de NaOH (catalisador).
Após calcular em porcentagem, considerar-se-á o índice de acidez, que corresponde à
quantidade (em mg) de base necessária para neutralizar os ácidos graxos livres presentes em 1
g de gordura.
Para determinação do AGL usou-se o método da titulação e, assim como Lima
(2008), os resultados foram expressos como percentual de ácido oléico. Em conformidade
com este autor, a quantidade de AGL foi calculada de acordo com a equação:
28,2V . N
P=
M
onde:
P – é o percentual de acidez (%);
M – a massa da amostra (g);
N – a normalidade da solução de hidróxido de sódio;
V – o volume de hidróxido de sódio gasto na titulação (mL);
Fonte: Autores
Segundo Freedman et al (1984), a acidez do óleo deve ser menor que 1% de ácido
graxo livre para que a reação de transesterificação básica ocorra sem desativação do
catalisador e formação excessiva de sabão. Porém o óleo utilizado como matéria-prima do
processo de transesterificação desse trabalho possui índice de acidez médio no valor de 3,3%
de AGL. Este valor está acima do preconizado pelo autor citado anteriormente, no entanto não
descartou-se a possibilidade de utilizar a amostra analisada, visto que vários trabalhos
reportados na literatura utilizaram óleo residual na produção de biodiesel com acidez acima de
1% (TOMASEVIC & SILER-MARINKOVIC, 2003; DORADO et al, 2004; LEUNG &
GUO, 2006; PHAN & PHAN, 2008)..
NaOH por grama de óleo a ser reagido) acima do recomendado por Freedman et al (1984)
adicionou-se excesso de NaOH para neutralizar os ácidos graxos livres. Tal procedimento é
recomendado nas literaturas utilizadas para a realização do trabalho. O cálculo encontra-se
descrito a seguir:
Como o óleo residual de fritura à base de soja possui ácidos graxos de diversas
naturezas e em diferentes quantidades em sua composição, o cálculo preciso da massa molar
deste óleo para obter a relação molar óleo/álcool desejada para reação de transesterificação é
complexo. Considerou-se a massa molar da amostra utilizada na pesquisa sendo 866,45 g/mol.
Este valor foi utilizado no trabalho científico de Christoff (2006). O motivo de se adotar o
mesmo valor de massa molar encontrado no trabalho deste autor foi a semelhança no valor da
densidade do óleo utilizado como matéria-prima neste trabalho em relação ao valor da
densidade da matéria-prima utilizada pelo autor anteriormente citado.
Na reação de transesterificação utilizou-se a proporção de 1:12 (óleo:álcool) nas duas
rotas utilizadas para a produção de biodiesel (rota metílica e etílica). Essa proporção foi
baseada no trabalho de Lima (2008).
Quanto à quantidade de catalisador, temperatura e tempo de reação, para ambas as
rotas, adotou-se as mesmas condições dos estudos cinéticos de reação de transesterificação
feitas por Lima (2008), em que o autor alcançou os melhores rendimentos no tempo de reação
igual a 45 minutos, na faixa de temperatura de 45 a 55 ºC, utilizando-se 1,5% em massa de
catalisador por grama de óleo.
O biodiesel foi produzido nas duas rotas com os mesmos parâmetros com o objetivo
de fornecer dados para uma posterior análise comparativa dos métodos.
49
Fonte: Autores
Fonte: Autores
Visto que a separação de fases não ocorreu com 45 minutos, aguardou-se 24 horas
para nova avaliação. Após este período não obteve-se êxito na separação de fases.
Em relação ao fenômeno observado, Lima (2008) esclarece que o etanol possui um
grupo apolar maior que o metil, o grupo etil, ligado a hidroxila e, portanto, a solubilização
tanto em glicerina (polar) quanto em ésteres etílicos (apolar) é mais comum, dificultando
assim a separação.
Também, conforme o mesmo autor descreve, é possível obter a separação da mistura,
através do principio “semelhante dissolve semelhante”, com o processo unitário de extração
líquido-líquido. O mesmo autor sugere a utilização de 10% de glicerina P.A, em massa de
óleo processado, a 80 ºC. Análogo ao afirmado, acrescentou-se à mistura 50 ml de glicerina,
transferiu-a para um béquer, permanecendo sob agitação contínua, a 75 – 85 °C, por 15
minutos. Em sequência a este procedimento, aguardou-se em repouso de 15 minutos no funil
de separação. Aguardou-se outras 24 horas para confirmar a observação anterior.
Em contradição, assim como DIB (2010), não obteve-se sucesso nesta separação,
observando que o volume da glicerina que se formou no fundo do recipiente após o processo
de transesterificação foi exatamente igual ao volume adicionado de glicerina P.A.
Os valores médios obtidos estão próximos aos valores preconizados pela ANP. A
densidade encontra-se dentro dos valores estabelecidos, já a viscosidade apresenta-se
ligeiramente acima da faixa, provavelmente devido à presença de subprodutos.
52
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BOUAID, A. et al. Pilot plant studies of Biodiesel production using Brassica carinata
as raw material. Catalysis Today, V.106, p. 193–196, 2005.
CVENGROS, J; CVENGROSOVA, Z. Used frying oils and fats and their utilization
in the production of methyl esters of higher fatty acids.2004. Disponível em:
<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S096195340300206X>. Acesso em:
10 out. 2012.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. Disponível em:
<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/18402/000718412.pdf?
sequence=1>. Acesso em 31 mar. 2013.
GERIS, R.et al. Biodiesel de soja – reação de transesterificação para aulas práticas de
química orgânica. Química Nova, Salvador, v. 30, n. 5, p. 1369-1373, maio 2007.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/qn/v30n5/a53v30n5.pdf>. Acesso em: 20
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HAAS, Michael J.; FOGLIA, Thomas A.. Matérias primas alternativas e tecnologias
para produção de Biodiesel. In: KNOTHE, Gerhard et al. Manual de Biodiesel. São
Paulo: Edgard Blücher, 2006. p. 46-66.
PHAN, A. N.; PHAN, T. M.; Biodiesel production from waste cooking oil, Fuel, v.
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PROGRAMA NACIONAL DA RACIONALIZAÇÃO DO USO DOS DERIVADOS
DO PETRÓLEO E DO GÁS NATURAL - CONPET. Conpet no transporte. 2012.
59
Disponível em:
<http://www.conpet.gov.br/portal/conpet/pt_br/conteudo-gerais/conpet-no-
transporte.shtml>. Acesso em: 11 set. 2012
GLOSSÁRIO
Ácidos de Brönsted-Lowry: qualquer espécie química que exiba tendência a ceder íons
H+.
Ácido graxo: são ácidos monocarboxílicos de cadeia normal que apresentam o grupo
carboxila ligado a uma longa cadeia alquílica, saturada ou insaturada.
Ataque nucleofílico: reação em que um núcleo reage com um íon que atua por
intermédio de um par de elétrons disponível.
Azeótropo: mistura de duas ou mais substâncias que, a uma certa composição, possui
um ponto de ebulição constante e fixo, não podendo, por isso, seus componentes
serem separados por processo de destilação simples.
Catalisador: atua numa reação ou processo químico, alterando sua velocidade seja
positiva ou negativamente.
Ceteno: produzido pela pirólise de ácido acético ou acetona e usado como agente de
acetilação.
Chuva ácida: ocorre quando existe na atmosfera um número muito grande de enxofre
(SO2) e óxidos de nitrogênio (NO, NO2, N2O5) que, quando em contato com o
hidrogênio em forma de vapor, formam ácidos como o ácido nítrico (HNO 3), ou o
ácido sulfúrico (H2SO4).
Densidade: razão entre a massa de um material e o volume por ele ocupado; específico
de cada material.
Éster: compostos orgânicos obtidos através da reação com ácidos e álcoois de cadeia
curta.
Pistão: (ou êmbolo) peça cilíndrica normalmente feita de alumínio ou liga de alumínio,
que se move longitudinalmente no interior do cilindro dos motores de explosão.
Planta industrial: unidade industrial, ou mesmo setor dentro de uma indústria, que
produza algum composto químico específico.
Protonação: reação química que ocorre quando um próton (H+) liga-se a um átomo,
uma molécula ou um íon.
Tensão superficial: efeito físico que ocorre na camada superficial de um líquido que
leva a sua superfície a se comportar como uma membrana elástica.