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Área / Especialidade
Estudo de Língua / Linguística
Linha de pesquisa
Descrição linguística e cognição: modelos de uso, aquisição e leitura
2020
Resumo: Este projeto de dissertação tem como objetivo, a partir de uma ótica enunciativa,
discutir a desvalorização do ensino de língua espanhola como língua adicional no cenário
atual brasileiro, a partir de discursos que permeiam o campo dos cursos livres de idiomas
através de suas campanhas publicitárias. Baseamo-nos na premissa de que os cartazes
publicitários destas instituições não consideram a língua espanhola na exposição de seus
serviços prestados, embora ofereçam o ensino dentro de suas instalações, além de utilizarem-
se do conceito de bilinguismo de modo a favorecer apenas uma língua adicional em
detrimento de outras. Buscaremos, neste contexto, se realmente há um apagamento da oferta
de língua espanhola e, em caso afirmativo, buscar justificativas para tal. Para este fim,
propomos uma investigação qualitativa de base descritiva, utilizando como visão norteadora
os conceitos de gênero textual (BAZERMAN, 1994), gênero enunciativo, enunciação e
compreensão responsiva ativa (BAKHTIN, 2000, 2003) atrelados a concepção de prática
discursiva (MAINGUENEAU, 2001). Através destas concepções, esperamos construir uma
composição que una o linguístico e o extralinguístico, salientando para o momento crítico
que vive a língua espanhola no campo educacional, a fim de que possamos responder aos
questionamentos de nossa pesquisa e promover uma necessária discussão para este cenário
agravante.
No que se trata das línguas adicionais aplicadas nas escolas, a partir deste fragmento,
percebe-se a relação entre a política linguística e a política financeira, principalmente pela
opção e adoção do ensino da “língua de mercado” em detrimento de outras línguas
adicionais, como, por exemplo, a língua de nossos vizinhos.
Anteriormente a existência deste projeto de reforma, já se pensava o ensino de língua
espanhola no Brasil com baixas perspectivas, apesar da presença de aspectos quantitativos.
Elzimar Goettenauer (2005) já afirmava que
“Destacar o número de falantes de espanhol no
mundo e o avanço do idioma nos Estados Unidos e
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Adotamos o conceito de Língua Adicional proposto por Leffa e Irala (2014, p.32) que expressa a ideia de uma
língua que “vem por acréscimo, de algo que é dado a mais”. Dessa maneira, a língua a que se propõe a estudar
“pode não ser uma segunda língua ou uma língua estrangeira, mas será, mais adequadamente, uma língua que
podemos chamar de ‘adicional’”. O uso do termo “adicional”, defendem os autores, carrega vantagens, já que
“não há necessidade de se discriminar o contexto geográfico (língua do país vizinho, língua franca ou
internacional) ou mesmo as características individuais do aluno (segunda ou terceira língua)”.
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A Lei nº 11.161/2005, ou Lei do Espanhol trata-se de uma política linguística e pública, a qual Estados e
Municípios estavam obrigados a incorporar o ensino de língua espanhola no Ensino Médio em um prazo de 5
anos a partir da publicação de tal lei.
em nosso país, embora isso possa despertar nosso
otimismo em relação status que essa língua vem
adquirindo e nos permita vislumbrar um mercado
de trabalho em expansão, reduz expressivamente
uma discussão necessária sobre o que significa
em um universo globalizado o domínio de língua
estrangeira, sobretudo, em se tratando do idioma
oficial de 21 países, 19 dos quais bem próximos
ao Brasil. (p.61)
Optamos por dizer que o setor se “apresentaria” por tratar-se de uma teoria que não
se consolidou na prática. O que nos deparamos, ao adentrar no universo destas empresas, são
pouquíssimos ou nenhum grupo formado para o ensino de outra língua adicional, aparte o
inglês.
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(SENALBA-RJ, 2016/2017, Cláusula Trigésima – Representação: Cursos Livres e Similares, Parágrafo
Primeiro, p. 9). Disponível em: http://senalbariocapital.com.br/wp-content/uploads/2016/08/CCT-SENALBA-
SINDELIVRE-2016-2017.pdf
Tampouco, se observou, por parte das instituições livres, qualquer incentivo ou
movimentação para que este pequeno número pudesse crescer, mesmo com o aumento da
procura pelo ensino de línguas no período da pandemia de Covid-19. O que vemos, em suas
campanhas publicitárias e chamadas de marketing são discursos que, não somente
privilegiam a língua inglesa em detrimento de outras, dentre elas a língua espanhola, como
uma completa anulação tanto no âmbito da divulgação de mercado como dos discursos
utilizados nestes materiais, escolhidos por nós como corpus de pesquisa.
A política de incentivo dos Estados Unidos e da Inglaterra para a criação de institutos
que solidificassem a influência destes países no Brasil fez com que, a partir da década de
1930, surjam as primeiras instituições com este perfil em nosso país, além da construção do
mito de que “todos os brasileiros precisam aprender inglês para serem profissionalmente
bem- sucedidos” (OLIVEIRA, 2014, p. 63 apud SOUZA, 2016, p. 36).
Chegamos a uma primeira conclusão, portanto de que os primeiros cursos livres de
idiomas instalados no Brasil foram sistematizados por uma necessidade de fortalecimento de
relações políticas com a Inglaterra e, posteriormente, com os Estados Unidos, um fato que se
repete em relação a este último na atual linha de governo brasileiro.
No entanto, outros fatores foram traçando, ao longo do tempo, o cenário destas
instituições até o grande alcance que temos atualmente. Hoje em dia, conforme Souza (2016,
p. 49), pode-se afirmar que “temos uma indústria de cursos de inglês no Brasil” e que essas
instalações “possuem mais unidades franqueadas que famosas redes de fast-food, de
perfumarias e de farmácias”. (FREITAS, 2010, p.125)
Frequentemente tratado em oposição à educação básica regular, estas modalidades de
ensino são, portanto, estabelecimentos comerciais que funcionam nos moldes de franquias e
que exercem serviços diversos, incluindo atividades de caráter educativo, como o ensino de
línguas adicionais.
Encontra-se, com certa facilidade, nas páginas da internet correspondentes a cada
bandeira, a oferta do ensino de outros idiomas que não somente o inglês, como o francês, o
espanhol, o italiano, o alemão e, até mesmo o português, para o público estrangeiro, porém,
como destacaremos em nosso estudo, a oferta destes outros idiomas ficam restritos um
pequeno espaço das páginas web de cada bandeira, isentos, na maioria das vezes, de aparição
na chamada publicitária principal.
Buscaremos destacar também, ao longo do estudo, que estes centros de ensino
funcionam com contratação de funcionários sob a nomenclatura “instrutor de ensino” em
lugar de “professor” e que, estes funcionários não necessariamente precisam da formação
acadêmica na área (bacharelado ou licenciatura em Letras), bastando apenas um certificado de
proficiência no idioma ou de conclusão de curso em qualquer uma destas bandeiras existentes.
A título de observação, concordamos com Souza (2016) ao entender estes espaços
como pertencentes aos profissionais especializados no campo do ensino de línguas
adicionais e destacamos a relevância destas instituições que, na grande maioria dos casos,
são o primeiro ambiente profissional dos estudantes de Letras. Todos os professores com
formação acadêmica em línguas adicionais, seja qual for, passou por uma experiência dentro
deste tipo de ambiente educacional.
Observa-se, ainda, a necessidade de aprofundar estudos nestes institutos bem como
acerca deles, em uma perspectiva de espaço de trabalho e de ensino/aprendizagem de
línguas, um trabalho ainda muito pouco realizado academicamente.
Quanto ao gênero textual escolhido para nosso estudo, a propaganda, trata-se de um
dos gêneros mais corriqueiros em nosso dia a dia, com intensa exposição, textos curtos e
fácil leitura. Porém, vale lembrar que o texto publicitário apresenta outros efeitos de sentido
que não se restringem ao texto escrito, através de cores, imagens e planejamento gráfico, por
exemplo.
No que se refere ao propósito comunicativo, tomaremos a publicidade com a função
de influenciar diretamente o ânimo das pessoas no sentido de levá-las a adquirir o produto
que anuncia, isto é, fazer com que determinado produto seja consumido por outros. No
entanto, somam-se a esta função principal outras que irão sustentar a ideologia, os valores e
o público alvo do grupo que o propaga.
Observaremos, simultaneamente, de que maneira um texto publicitário enfatiza
temas atuais na sociedade atrelados a uma relação direta entre a compra de um produto e
uma projeção na sociedade, refletindo, implicitamente, a uma visão social e a representação
de cultura de um grupo.
Para isto, propomos uma pesquisa qualitativa de base descritiva utilizando-nos dos
conceitos referentes ao gênero enunciativo, compreensão responsiva ativa e enunciação
propostos por Bakthin (2000, 2003) aliados à concepção de prática discursiva por
Maingueneau (2001). O desenvolvimento de nossa base teórica se dará mais detalhadamente
mais adiante, em seção específica.
1. Definição do projeto
1.1 Tema
1.3 Problemas
1.4 Objetivos
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Estas são apenas questões iniciais de pesquisa, que podem ser reformuladas, ou até mesmo substituídas,
durante o aperfeiçoamento do projeto mediante orientação.
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Os objetivos de pesquisa, bem como os questionamentos, estão sujeitos a alterações ou substituições mediante
orientação.
2. Natureza do estudo
2.1 Corpus
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De modo que o corpus de análise ainda está em estado de espera para sua publicação, justificamos a ausência
de qualquer material ilustrativo sobre este tópico. Entendemos que apenas a descrição por escrito é suficiente
para a compreensão do gênero selecionado.
cartazes publicitários de que maneira se realiza a oferta de um ensino de qualidade de
línguas adicionais, destacando a presença e, principalmente, ausência da língua espanhola
em sua enunciação.
Ainda seguindo os preceitos de Balzerman (1994, 2004), a linguagem está
estritamente envolvida com a atuação humana e produz-se em forma de enunciados, sejam
eles escritos ou orais. Tais enunciados se conectam por três elementos: conteúdo temático,
estilo da linguagem e construção composicional. A associação destes três elementos, para o
autor, formaria a composição de um gênero do discurso, tipos de enunciados relativamente
estáveis dentro de um campo da comunicação.
Visto que a comunicação verbal se dá através de gêneros do discurso, estes
enunciados relativamente estáveis, permitem uma posição ativa do interlocutor na atividade
interacional, concedendo uma totalidade às produções que permite a troca durante a
interação verbal. Assim, portando uma estrutura específica, ainda que flexível, cada gênero
será caracterizado conforme sua produção, recepção e contexto.
Aderiremos, de igual modo, ao conceito de “compreensão responsiva ativa”,
colocado por Bakhtin (2003), que coloca o ouvinte em posição tão importante quanto o
falante na situação comunicativa, ao compreender, concordar, discordar, completar ou
manifestar-se de alguma maneira, de acordo com a finalidade do gênero textual aplicado
durante a comunicação.
Pretendemos, portanto, analisar os textos compositores das publicidades dos cursos
de idiomas a partir dos conceitos citados anteriormente vinculados ao contexto em que estão
inseridos.
Conjuntamente a estes conceitos, adotaremos a noção de “prática discursiva”
apontada por Dominique Maingueneau (2001), a qual é sistematizada em duas formações: a
produção de textos e a produção de uma sustentação desses textos por uma comunidade
discursiva. Acreditamos que tal concepção contribui com a relação entre texto e contexto que
dantes nos referimos.
Relativo à enunciação, concordamos com Bakhtin (2000) que “um enunciado sempre
pressupõe enunciados que o precederam e que lhe sucederão; ele nunca é o primeiro, nem o
último; é apenas o elo de uma cadeia e não pode ser estudado fora dessa cadeia” (p. 375),
reforçando que, em termos discursivos, a enunciação se entende como o aporte de um
contexto.
Desejamos, portanto, em nossa análise, caracterizar os cartazes selecionados
conforme um recorte dentro de um contexto de produção, interligando-o ao seu enunciado
no processo
de produção de sentidos, de modo a produzir uma composição que possa responder os
questionamentos de nosso estudo.
3 Plano de trabalho
Investigação Levantamento de X X X X X X X X X X X X X
material
bibliográfico
Revisão X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
bibliográfica
Definição de X X X X X
corpus, questões
e metodologia de
pesquisa
Aperfeiçoamento X X X X X
do projeto de
pesquisa
Desdobramento Agrupar os X X
cartazes
publicitários
escolhidos
Organizar, X X
analisar e
transcrever os
dados levantados
Redação dos X X X X X X X X X X
capítulos
teóricos,
descritivos e
metodológicos
da pesquisa
Qualificação Redação do X X X
projeto de
qualificação
Qualificação X
Redação da X X X X X X X X X X X X
dissertação
Defesa Entrega da X
dissertação
Preparação para X X
defesa
Defesa X
Referências Iniciais