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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

Isabella Lages do Amaral

Vende-se línguas adicionais: onde está a língua espanhola?

Projeto apresentado para o


processo seletivo de Mestrado do
programa de pós-graduação em
Letras da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ).

Área / Especialidade
Estudo de Língua / Linguística

Linha de pesquisa
Descrição linguística e cognição: modelos de uso, aquisição e leitura

Palavras-chave: Espanhol, cursos de idiomas, publicidade

2020
Resumo: Este projeto de dissertação tem como objetivo, a partir de uma ótica enunciativa,
discutir a desvalorização do ensino de língua espanhola como língua adicional no cenário
atual brasileiro, a partir de discursos que permeiam o campo dos cursos livres de idiomas
através de suas campanhas publicitárias. Baseamo-nos na premissa de que os cartazes
publicitários destas instituições não consideram a língua espanhola na exposição de seus
serviços prestados, embora ofereçam o ensino dentro de suas instalações, além de utilizarem-
se do conceito de bilinguismo de modo a favorecer apenas uma língua adicional em
detrimento de outras. Buscaremos, neste contexto, se realmente há um apagamento da oferta
de língua espanhola e, em caso afirmativo, buscar justificativas para tal. Para este fim,
propomos uma investigação qualitativa de base descritiva, utilizando como visão norteadora
os conceitos de gênero textual (BAZERMAN, 1994), gênero enunciativo, enunciação e
compreensão responsiva ativa (BAKHTIN, 2000, 2003) atrelados a concepção de prática
discursiva (MAINGUENEAU, 2001). Através destas concepções, esperamos construir uma
composição que una o linguístico e o extralinguístico, salientando para o momento crítico
que vive a língua espanhola no campo educacional, a fim de que possamos responder aos
questionamentos de nossa pesquisa e promover uma necessária discussão para este cenário
agravante.

Palavras chave: língua espanhola, cursos de idiomas, publicidade, enunciação.


Introdução

O presente projeto de pesquisa surge de diversificadas preocupações e inquietudes


de professores, pesquisadores, alunos e agentes envolvidos no contexto escolar brasileiro,
principalmente da área de línguas adicionais1, após o projeto educacional que está se
desenvolvendo desde o ano de 2017, posteriormente à aprovação da Lei de Reforma do
Ensino Médio (13.415), deste mesmo ano.
É de comum conhecimento entre leigos e profissionais da área a atual situação do
ensino de língua espanhola no cenário da educação brasileira. Após a aprovação da lei
13.415/2017, em seu artigo número 22, invalida-se a Lei nº 11.161, do ano de 2005,
conhecida como “Lei do Espanhol”2.
Com esta nova lei, então, fica decidido que
“os currículos do ensino médio incluirão,
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa
e poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter
optativo, preferencialmente o espanhol, de acordo com
a disponibilidade de oferta, locais e horários
definidos pelos sistemas de ensino”.

No que se trata das línguas adicionais aplicadas nas escolas, a partir deste fragmento,
percebe-se a relação entre a política linguística e a política financeira, principalmente pela
opção e adoção do ensino da “língua de mercado” em detrimento de outras línguas
adicionais, como, por exemplo, a língua de nossos vizinhos.
Anteriormente a existência deste projeto de reforma, já se pensava o ensino de língua
espanhola no Brasil com baixas perspectivas, apesar da presença de aspectos quantitativos.
Elzimar Goettenauer (2005) já afirmava que
“Destacar o número de falantes de espanhol no
mundo e o avanço do idioma nos Estados Unidos e
1
Adotamos o conceito de Língua Adicional proposto por Leffa e Irala (2014, p.32) que expressa a ideia de uma
língua que “vem por acréscimo, de algo que é dado a mais”. Dessa maneira, a língua a que se propõe a estudar
“pode não ser uma segunda língua ou uma língua estrangeira, mas será, mais adequadamente, uma língua que
podemos chamar de ‘adicional’”. O uso do termo “adicional”, defendem os autores, carrega vantagens, já que
“não há necessidade de se discriminar o contexto geográfico (língua do país vizinho, língua franca ou
internacional) ou mesmo as características individuais do aluno (segunda ou terceira língua)”.

2
A Lei nº 11.161/2005, ou Lei do Espanhol trata-se de uma política linguística e pública, a qual Estados e
Municípios estavam obrigados a incorporar o ensino de língua espanhola no Ensino Médio em um prazo de 5
anos a partir da publicação de tal lei.
em nosso país, embora isso possa despertar nosso
otimismo em relação status que essa língua vem
adquirindo e nos permita vislumbrar um mercado
de trabalho em expansão, reduz expressivamente
uma discussão necessária sobre o que significa
em um universo globalizado o domínio de língua
estrangeira, sobretudo, em se tratando do idioma
oficial de 21 países, 19 dos quais bem próximos
ao Brasil. (p.61)

Não suficientemente, observou-se, após esta aprovação, um movimento das


instituições públicas e privadas de ensino de interpretarem esta não obrigatoriedade da oferta
de língua espanhola como uma não necessidade de tal ensino, promovendo grandes cortes de
espaço, tempo e profissionais da área, apenas consolidando estes baixos interesse e
perspectivas de ascensão mencionadas pelo autor anos antes.
Resumidamente, acreditamos que aprender espanhol ou qualquer outro idioma se
deve à questões de identidade e afetividade, devendo, portanto, a política linguística não se
restringir à questões financeiras, mas sim direcionar-se à composição de laços entre o
indivíduo e as comunidades escolar e discursiva em que se inserem.
Contudo, um outro setor bastante popular em nossa sociedade, se apresentaria, diante
deste cenário conturbado de mudanças e incertezas, como maior interessado em captar, este
sim com fins lucrativos, estes alunos que ficaram “órfãos” do ensino de língua espanhola: os
cursos livres de idiomas.
Conforme a convenção coletiva do trabalho 2016/2017, Senalba-RJ,
entende-se por curso ou escola livre as instituições ou
cursos definidos como livres, empresas não sujeitas à
autorização de funcionamento por parte dos órgãos de
educação do poder público, nem fiscalização
pedagógica ou administrativa. Destinam - se a
orientação e formação profissional ou cultural de cursos
e atividades equivalentes, podendo ser empresa ou
entidade, cursos de idiomas, preparatórios, pré-
vestibulares, jurídicos, seriados e ou similitude.3

Optamos por dizer que o setor se “apresentaria” por tratar-se de uma teoria que não
se consolidou na prática. O que nos deparamos, ao adentrar no universo destas empresas, são
pouquíssimos ou nenhum grupo formado para o ensino de outra língua adicional, aparte o
inglês.

3
(SENALBA-RJ, 2016/2017, Cláusula Trigésima – Representação: Cursos Livres e Similares, Parágrafo
Primeiro, p. 9). Disponível em: http://senalbariocapital.com.br/wp-content/uploads/2016/08/CCT-SENALBA-
SINDELIVRE-2016-2017.pdf
Tampouco, se observou, por parte das instituições livres, qualquer incentivo ou
movimentação para que este pequeno número pudesse crescer, mesmo com o aumento da
procura pelo ensino de línguas no período da pandemia de Covid-19. O que vemos, em suas
campanhas publicitárias e chamadas de marketing são discursos que, não somente
privilegiam a língua inglesa em detrimento de outras, dentre elas a língua espanhola, como
uma completa anulação tanto no âmbito da divulgação de mercado como dos discursos
utilizados nestes materiais, escolhidos por nós como corpus de pesquisa.
A política de incentivo dos Estados Unidos e da Inglaterra para a criação de institutos
que solidificassem a influência destes países no Brasil fez com que, a partir da década de
1930, surjam as primeiras instituições com este perfil em nosso país, além da construção do
mito de que “todos os brasileiros precisam aprender inglês para serem profissionalmente
bem- sucedidos” (OLIVEIRA, 2014, p. 63 apud SOUZA, 2016, p. 36).
Chegamos a uma primeira conclusão, portanto de que os primeiros cursos livres de
idiomas instalados no Brasil foram sistematizados por uma necessidade de fortalecimento de
relações políticas com a Inglaterra e, posteriormente, com os Estados Unidos, um fato que se
repete em relação a este último na atual linha de governo brasileiro.
No entanto, outros fatores foram traçando, ao longo do tempo, o cenário destas
instituições até o grande alcance que temos atualmente. Hoje em dia, conforme Souza (2016,
p. 49), pode-se afirmar que “temos uma indústria de cursos de inglês no Brasil” e que essas
instalações “possuem mais unidades franqueadas que famosas redes de fast-food, de
perfumarias e de farmácias”. (FREITAS, 2010, p.125)
Frequentemente tratado em oposição à educação básica regular, estas modalidades de
ensino são, portanto, estabelecimentos comerciais que funcionam nos moldes de franquias e
que exercem serviços diversos, incluindo atividades de caráter educativo, como o ensino de
línguas adicionais.
Encontra-se, com certa facilidade, nas páginas da internet correspondentes a cada
bandeira, a oferta do ensino de outros idiomas que não somente o inglês, como o francês, o
espanhol, o italiano, o alemão e, até mesmo o português, para o público estrangeiro, porém,
como destacaremos em nosso estudo, a oferta destes outros idiomas ficam restritos um
pequeno espaço das páginas web de cada bandeira, isentos, na maioria das vezes, de aparição
na chamada publicitária principal.
Buscaremos destacar também, ao longo do estudo, que estes centros de ensino
funcionam com contratação de funcionários sob a nomenclatura “instrutor de ensino” em
lugar de “professor” e que, estes funcionários não necessariamente precisam da formação
acadêmica na área (bacharelado ou licenciatura em Letras), bastando apenas um certificado de
proficiência no idioma ou de conclusão de curso em qualquer uma destas bandeiras existentes.
A título de observação, concordamos com Souza (2016) ao entender estes espaços
como pertencentes aos profissionais especializados no campo do ensino de línguas
adicionais e destacamos a relevância destas instituições que, na grande maioria dos casos,
são o primeiro ambiente profissional dos estudantes de Letras. Todos os professores com
formação acadêmica em línguas adicionais, seja qual for, passou por uma experiência dentro
deste tipo de ambiente educacional.
Observa-se, ainda, a necessidade de aprofundar estudos nestes institutos bem como
acerca deles, em uma perspectiva de espaço de trabalho e de ensino/aprendizagem de
línguas, um trabalho ainda muito pouco realizado academicamente.
Quanto ao gênero textual escolhido para nosso estudo, a propaganda, trata-se de um
dos gêneros mais corriqueiros em nosso dia a dia, com intensa exposição, textos curtos e
fácil leitura. Porém, vale lembrar que o texto publicitário apresenta outros efeitos de sentido
que não se restringem ao texto escrito, através de cores, imagens e planejamento gráfico, por
exemplo.
No que se refere ao propósito comunicativo, tomaremos a publicidade com a função
de influenciar diretamente o ânimo das pessoas no sentido de levá-las a adquirir o produto
que anuncia, isto é, fazer com que determinado produto seja consumido por outros. No
entanto, somam-se a esta função principal outras que irão sustentar a ideologia, os valores e
o público alvo do grupo que o propaga.
Observaremos, simultaneamente, de que maneira um texto publicitário enfatiza
temas atuais na sociedade atrelados a uma relação direta entre a compra de um produto e
uma projeção na sociedade, refletindo, implicitamente, a uma visão social e a representação
de cultura de um grupo.
Para isto, propomos uma pesquisa qualitativa de base descritiva utilizando-nos dos
conceitos referentes ao gênero enunciativo, compreensão responsiva ativa e enunciação
propostos por Bakthin (2000, 2003) aliados à concepção de prática discursiva por
Maingueneau (2001). O desenvolvimento de nossa base teórica se dará mais detalhadamente
mais adiante, em seção específica.
1. Definição do projeto

1.1 Tema

A trajetória do ensino de língua espanhola como língua adicional no Brasil e uma


análise da desvalorização e apagamento do idioma nos discursos dos cartazes publicitários
de cursos livres, ainda que estes ofereçam a língua espanhola em seus espaços institucionais.

1.2 Motivações e Justificativa

O presente projeto de dissertação trata-se de mais uma etapa em meu percurso


enquanto profissional e estudiosa da área de ensino/aprendizagem de língua espanhola como
língua adicional. Diante da revogação da Lei 11.161, de 2005 e atual situação de incertezas
no ensino de língua espanhola nas escolas, esperava-se, que estes alunos em idade escolar
buscassem alternativas de aprendizagem do idioma, como, por exemplo, os cursos livres.
Com o advento da pandemia de Covid-19 e a necessidade de quarentena, grande parte
da população aderiu ao trabalho home office, o que significou que as pessoas passassem
mais tempo em casa. Conforme estatística, neste período houve um aumento na busca por
cursos, dentre os quais, os de idiomas no formato à distância, porém, não o suficiente para
que se revertesse a procura pelo inglês do que pelo espanhol.
Manifesto um atrativo pelo campo dos cursos livres de idiomas, por acreditar ser este
um espaço que deve ser ocupado pelos profissionais da área de Letras e não àqueles que
possuam apenas a proficiência em algum idioma, mas não a formação, como frequentemente
nos deparamos nestes ambientes de ensino.
Porém, ao adentrar no universo dos cursos livres de idiomas que oferecem a língua
espanhola, o que encontramos é um alto nível de desinteresse pelo idioma tanto por parte de
quem procura quanto de quem o oferta. O que se encontra são pouquíssimas ofertas de
horários e, principalmente, de investimentos para a difusão do ensino de língua espanhola.
Chama-me atenção tamanho desinteresse, pois nos últimos anos pudemos observar
uma grande imersão da língua espanhola em nosso país, seja através da música, produções
de televisão, cinema e entretenimento, eventos e, ainda, a imigração em alta escala de
hispano falantes para o nosso território. Tamanha inserção, contudo, não parece ser
suficiente para que haja interesse em ofertar e aprender o segundo idioma mais falado do
mundo e o terceiro mais utilizado na internet.
Além disso, outra questão de meu interesse é a definição de bilinguismo que, no
imaginário do falante brasileiro, conta somente com o domínio de língua inglesa. Ser
bilíngue é saber falar inglês, excluindo os demais idiomas, inclusive o espanhol, apesar da
sua presença mais ativa e maciça, citada anteriormente.
Por estas razões, este tema torna-se relevante, primeiramente pelo escasso número de
publicações que abrangem os cursos livres de idiomas como esfera de pesquisa. Encontra-se,
por vezes, informações desalinhadas em alguns artigos e, em bem menor quantidade, teses
ou dissertações sobre o assunto. (FREITAS, 2010) Uma apuração curiosa, já que estas
instituições estão fortemente presentes em nosso meio social.
Em segundo lugar, é pertinente pautar as noções de bilinguismo no Brasil e como
este se apresenta no ambiente dos cursos livres de idiomas através de suas chamadas e
propagandas de modo a enfatizar somente um idioma em detrimento de outros, ainda que
sejam igualmente ofertados pela instituição.
Em terceiro lugar, faz-se prudente, atual e necessária uma discussão acerca da
situação da língua espanhola em sistemas de ensino diversos, além do desinteresse, da
desvalorização, falta de apoio e de espaço em relação, não somente à língua e seu processo
de ensino/aprendizagem, mas a toda cultura que a envolve.
É preciso fomentar mais estudos e discussões que permitam a reflexão sobre o ensino
de língua espanhola como língua adicional e que proponham mecanismos de resistência e
sobrevivência do acesso à aprendizagem deste idioma diante dos novos arranjos sociais em
que nos encontramos.
Espera-se, com a pesquisa que sucede este projeto, ponderar sobre o caminho do
ensino de língua espanhola no Brasil até aqui e contribuir para que se atente a valorização do
ensino do idioma, em todas as suas possibilidades de alcance, no país.

1.3 Problemas

De modo simplificado, a formulação do problema desta pesquisa poderia ser


resumida a uma investigação sobre a ausência do espanhol no discurso dos cartazes
publicitários de cursos de idiomas de diferentes bandeiras e que oferecem o ensino deste
idioma no Brasil.
Partindo-se da constatação deste apagamento nas publicidades das instituições livres
de ensino de idiomas e, simultaneamente, realizando o levantamento da trajetória do ensino
de espanhol como língua adicional no Brasil, são promovidos os seguintes questionamentos4.
Ao observar/ouvir chamadas e propagandas de cursos de idiomas, comumente é
prometido nessas publicidades o alcance do bilinguismo. Porém, o que se entende por
bilinguismo nestes espaços? E no senso comum? De que maneira estes discursos reforçam a
ideia de bilinguismo somente referente à língua inglesa? Onde a língua espanhola e outras
línguas adicionais se fazem presentes nestes discursos? O que poderia estar por trás de
tamanhos desinteresse e desvalorização do idioma hispano pelos falantes brasileiros? A
partir das mudanças políticas recentes somadas a este apagamento por parte dos cursos
livres enquanto instituições de ensino privadas, que rumo tomará o ensino de língua
espanhola no
Brasil? Há espaço para a língua espanhola no ensino durante/pós pandemia?

1.4 Objetivos

O objetivo geral desta pesquisa é analisar os discursos presentes em campanhas


publicitárias de cursos de idiomas, enfatizando as noções de bilinguismo e a ausência da
língua espanhola nos textos deste gênero.
Os objetivos específicos 5serão:
a) perceber o entendimento comum sobre bilinguismo;
b) explorar a unanimidade da língua inglesa quando se pensa em bilinguismo;
c) legitimar o espaço dos cursos livres de idiomas enquanto área de trabalho de
profissionais de Letras;
d) apresentar um panorama do ensino/aprendizagem de língua espanhola no Brasil
até o presente momento;
e) apresentar e analisar o gênero textual publicidade;
f) buscar meios de entender o desinteresse do falante brasileiro sobre o idioma
espanhol e refletir sobre possibilidades de transformações na atual situação da língua
espanhola no cenário educacional brasileiro.

4
Estas são apenas questões iniciais de pesquisa, que podem ser reformuladas, ou até mesmo substituídas,
durante o aperfeiçoamento do projeto mediante orientação.
5
Os objetivos de pesquisa, bem como os questionamentos, estão sujeitos a alterações ou substituições mediante
orientação.
2. Natureza do estudo
2.1 Corpus

O corpus de análise desta pesquisa se dará através da coleta de cartazes de


campanhas publicitárias de diferentes e conhecidas bandeiras de cursos livres de idiomas no
Brasil, que ofereçam em seus espaços o ensino de língua espanhola como língua adicional,
além de outro(s) idiomas.
Pretende-se selecionar em torno de 08 a 10 cartazes de bandeiras diversificadas e
publicados em sua campanha publicitária para o ano de 20216. Visto que este gênero textual
se renova anualmente no universo dos cursos livres, este critério planeja dar um tom de
atualidade para a pesquisa, buscando os lançamentos mais próximos possíveis à sua
conclusão. Vale ressaltar, ainda, os seguintes critérios: a) a relevância das informações
dos cartazes selecionados conforme a temática da pesquisa; b) o cuidado de selecionar
publicidades lançadas no mesmo período, evitando-se confrontar uma campanha atual com
outra mais antiga; c) a averiguação da fidelidade e veracidade do cartaz selecionado com a
bandeira correspondente e d) uma busca homogênea que permita que os dados coletados
possam ser condensados, de modo a reunir os resultados obtidos em pequenos grupos.

2.2 Fundamentação teórica e metodológica

Ao longo de nosso estudo, entenderemos o conceito de gênero textual como “tipos de


enunciados que estão associados a um tipo de situação retórica e que estão associados com
os tipos de atividades que as pessoas dizem, fazem e pensam como partes dos enunciados”.
(BAZERMAN 1994,2004).
Observaremos e descreveremos o gênero cartaz publicitário não somente a partir de
suas características linguísticas, mas todo o conjunto organizador do gênero, o que inclui
elementos cromáticos, tipográficos e pictóricos, por exemplo, e suas devidas funções na
mensagem publicitária.
Consideraremos, assim, em nossa análise um enunciador que ofereça um serviço a
um coenunciador, a fim de convencê-lo da necessidade de adquirir o serviço em questão. Em
nosso caso, adentraremos ao universo dos cursos livres de idiomas e observaremos, em seus

6
De modo que o corpus de análise ainda está em estado de espera para sua publicação, justificamos a ausência
de qualquer material ilustrativo sobre este tópico. Entendemos que apenas a descrição por escrito é suficiente
para a compreensão do gênero selecionado.
cartazes publicitários de que maneira se realiza a oferta de um ensino de qualidade de
línguas adicionais, destacando a presença e, principalmente, ausência da língua espanhola
em sua enunciação.
Ainda seguindo os preceitos de Balzerman (1994, 2004), a linguagem está
estritamente envolvida com a atuação humana e produz-se em forma de enunciados, sejam
eles escritos ou orais. Tais enunciados se conectam por três elementos: conteúdo temático,
estilo da linguagem e construção composicional. A associação destes três elementos, para o
autor, formaria a composição de um gênero do discurso, tipos de enunciados relativamente
estáveis dentro de um campo da comunicação.
Visto que a comunicação verbal se dá através de gêneros do discurso, estes
enunciados relativamente estáveis, permitem uma posição ativa do interlocutor na atividade
interacional, concedendo uma totalidade às produções que permite a troca durante a
interação verbal. Assim, portando uma estrutura específica, ainda que flexível, cada gênero
será caracterizado conforme sua produção, recepção e contexto.
Aderiremos, de igual modo, ao conceito de “compreensão responsiva ativa”,
colocado por Bakhtin (2003), que coloca o ouvinte em posição tão importante quanto o
falante na situação comunicativa, ao compreender, concordar, discordar, completar ou
manifestar-se de alguma maneira, de acordo com a finalidade do gênero textual aplicado
durante a comunicação.
Pretendemos, portanto, analisar os textos compositores das publicidades dos cursos
de idiomas a partir dos conceitos citados anteriormente vinculados ao contexto em que estão
inseridos.
Conjuntamente a estes conceitos, adotaremos a noção de “prática discursiva”
apontada por Dominique Maingueneau (2001), a qual é sistematizada em duas formações: a
produção de textos e a produção de uma sustentação desses textos por uma comunidade
discursiva. Acreditamos que tal concepção contribui com a relação entre texto e contexto que
dantes nos referimos.
Relativo à enunciação, concordamos com Bakhtin (2000) que “um enunciado sempre
pressupõe enunciados que o precederam e que lhe sucederão; ele nunca é o primeiro, nem o
último; é apenas o elo de uma cadeia e não pode ser estudado fora dessa cadeia” (p. 375),
reforçando que, em termos discursivos, a enunciação se entende como o aporte de um
contexto.
Desejamos, portanto, em nossa análise, caracterizar os cartazes selecionados
conforme um recorte dentro de um contexto de produção, interligando-o ao seu enunciado
no processo
de produção de sentidos, de modo a produzir uma composição que possa responder os
questionamentos de nosso estudo.
3 Plano de trabalho

Etapas Atividades 2021 2022


02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

Investigação Levantamento de X X X X X X X X X X X X X
material
bibliográfico

Revisão X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
bibliográfica

Definição de X X X X X
corpus, questões
e metodologia de
pesquisa

Aperfeiçoamento X X X X X
do projeto de
pesquisa

Desdobramento Agrupar os X X
cartazes
publicitários
escolhidos

Organizar, X X
analisar e
transcrever os
dados levantados

Redação dos X X X X X X X X X X
capítulos
teóricos,
descritivos e
metodológicos
da pesquisa

Qualificação Redação do X X X
projeto de
qualificação

Qualificação X

Revisão Revisão do texto X X X X X


a partir de
sugestões da
banca no
processo de
qualificação

Redação da X X X X X X X X X X X X
dissertação
Defesa Entrega da X
dissertação

Preparação para X X
defesa
Defesa X
Referências Iniciais

BAZERMAN, C. Systems of Genres and the Enactment of Social Intentions.


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