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Autistas e Os Espaços Escolares Adaptados
Autistas e Os Espaços Escolares Adaptados
OLIVEIRA
AUIISTAS
OS espaÇOS
eSCOlOres
adaptados
MERCHDO
LERAS
NE
Dedicatória
A Deus, por ser uma presença onstante emn minba vida, inspirando-me
a escrever este ivro com o desejo de tornar melbor a existéncia das pessoas
autistas nos espaços escolares.
Ao men marido, Lincoln, presença tão importante a0 longo desses vinte e
quatro anos de casados, pelas suas palavras generosas, seu estmulo, sen
amparo, sens abraços acolbedores– ingredientes indispensáveis para conclusão
deste liro. Agradeço muito, por ter sido sempree, incondicionalmente, aguele
que acreditou e acredita nos meus projetos, nos mens sonbos e no meu trabalbo.
Aos meus bos, Davi e Gabriel, presentes preciosos de Dens na minba
vida, porque jamais quaisquer dos mens sonbos seriam possiveis se en não
pudesse contar como amor e a compreensão de vocês.
Ao meu pai, Nicanor Teodoro (in memoriam), minba primeira e maior
inspiração para esrever, e à minba mầe, Maria das Graças, por ter imprimido
em mim a sensibilidade de olbar e considerar as necessidadesdo outro.
Às minbas irmā, Tina e Flá, e a0 men irmão, Cleiton, por estarem ao men
lado incondicionalmente e por sempre acreditarem nosmnenssonbos.
As muitas mães de autistas om as quais conviva, mulberes guerreiras,
lutadoras e fortes; estpecialmente agradeço a Rosalina Oiano, Amanda
Meneres Ferro, Aa Paula Ferrari, Sandra Andrade e Alessandra
Jacob, por serem inspiração para muitas mãæs qe precisam deforças para
prosseguir sua caminbada.
Ao meu amigo Mauricio, porfazer da arte uma forma de expressartodas
as possibilidades artisticas existentes no autismo, e ao men amigo Tiago
Florêncio de Abren, por usar ojornalismo para fazer conbecida a causado
autismo.
Ao meu grande e carissimo amigo autista Alvaro Oiano, por tantas wges
ter ido às minbas aulas na Uiversidade para partilbar sua bistória de
ida, por gjudar os mens alunos a se aproximarem das snasesperiências,
desconstruindo muitos estereótipos a respeito do autismo, por ser fonte de
inspiração para este iro e para vida de muitaspessoasantistas.
fl
Aos diversos pro ssionais envolvidos con a causa do autismo, especialmente
a Juliana Moura com o sen projeto "Pargue azul", a Kely Cristina Tobias
com os projetos na ára de Musicoterapia e autismo, e Viiane Braga,
prazerosa.
Aos mens alunos e alunas da graduação e aos mens orientandos queridos, qw
partilbando os sens saberes ajudaram-me a construir os mens conbecimentos
Aos pro ssionais que zeram a cuidadosa e amorosa revisão dos originais
deste livro - Rosângela Dirina dosSantos e Adiano Dias de Andrade,
pela parceria precipua desde os tempos do doutorado.
À minba amiga Maria LLiảa Gurgel da Costa, da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), por ter possibiltado os meus estudos na área do
autismo.
Àdhnica escola da Faculdade de Fonoaudiologia da UFPE, onde pude ter
um contato mais práximo com crianças autistas, pelo lugar especialque ocnpa
na minba onstrução como docente. Sem dúvida, as exsperiências vividas nesse
continuar a jornada.
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SUMÁRIO
PREFÁCIO 11
Carlo Schmidt
APRESENTAÇÃO 13
INTRODUÇÃO 15
Capítulo 1
AS EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS
DOS AUTISTAS EO DESIGNESCOLAR 19
Capítulo 2
A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS ESCOLARES
INCLUSIVOS PARA ESTUDANTES AUTISTAS 43
PARA NĀÃO CONCLUIR 93
REFERÊNCIAS 97
Apêndice 1
Carlo Scbmidt
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APRESENTAÇÃO
Lembro que me sentava sozinho sob a sombra das árvores que pontilhavam
o perímetro do pátio de recreio da escola, observando, à distância, as
crianças correndo e gritando e brincando. Estou com 10 anos e sei que
sou diferente de uma maneira que não consigo expressar ou entender.
As crianças são ruidosas e agitadas, colidindo e se empurrando. [., Não
raramente sentia o desejo de sumir. Parecia não me adaptar a nenhum
lugar, como se tivesse nascido no mundo errado. (Tammet 2007, p. 67)
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Destarte, essas autobiogra as devem ser consideradas como
estratégias bastante promissoras e favoráveis às instituições de ensino para
que se adaptem adequadamente para receber os estudantes. Na realidade,
esse procedimento estratégico, além de descrever, analisar e compreender
as experiências sensoriais dos autistas enm relação ao ambiente escolar, pode,
de certa forma, romper com as relações de poder que, eventualmente,
silenciam ou interditam essas pessoas. Sobre isso e em consonância com
Bialer (2015) acreditamos que:
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Capitulo1
AS EXPERIÊNCIAS
SENSORIAIS DOS
AUTISTAS E O
DESIGN ESCOLAR
onais
estimulosdoambiente,podeser o prinero passo para que os profssi.
da área da educação adaptem a escola e o ambiente da sala de para
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Os indivíduos com hiperaudição geralmente não suportam o barulho
da multidão e cam muito assustados com sons repentinos e improváveis,
como, por exemplo, um bebê chorando ou um telefone tocando. Essas
pessoas costumam tapar os ouvidos quando o barulho é doloroso ou
emitem sons repetitivos para bloquear sons perturbadores.
Os autistas com hipersensibilidade olfativa fogem do cheiro e se
afastam das pessoas, podendo insistir em usar as mesmas roupas o tempo
todo. Ademais, os autistas hipertáteis geralmente afastam-se para não
serem abraçados e alguns recusam a usar certas roupas, pois não suportam
determinadas texturas.
A hipersensibilidade vestibular é caracterizada por uma baixa
tolerância a qualquer atividade que envolva movimento ou uma rápida
mudança de posição do corpo, tendo di culdade em mudar de direção,
caminhar ou engatinhar em super cies irregulares. Já a hipersensibilidade
proprioceptiva caracteriza-se por uma postura corporal estranha e na
difculdade em manipular objetos pequenos (Bogdashina 2003(2016]).
•Ahipossensibilidade
•A percepçãogestalt
Uma habilidade aprendida não leva a outra, mesmo que seja semelhante à
habilidade aprendida. Por exemplo, conhecer a ortogra a de uma palavra
e ser capaz de recuperá-la imediatamente quando necessário pode não ser
uma boa ideia. Pode exigir a ajuda de uma condição familiar, isto é, como
a palavra ou frase foi aprendida e quais eram as condições do ambiente
quando o aprendizado ocorreu. (Mukhopadhyay 2004, apud Bogdashina
2003(2016, p. 67])
• A percepção fragmentada
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Aqueles que têm percepção auditiva fragmentada podem ouvir (com
signi cado) algumas palavras ao invés da frase inteira. Os que apresentam
uma percepção tátil fragmentada podem ter algumas partes do corpo
hipersensíveis quando usam qualquer coisa no pulso (relógio, pulseira),
mas hipossensíveis ao usar sapatos (não percebem problemas de sapatos
apertados até notar bolhas e sangue, por exemplo).
•A percepçãoatrasada
[..]Quando entro numa sala nova pela primeira vez e olho para uma porta,
reconheço-a como uma porta, apenas após alguns estágios. A primeira
coisa que vejo é a sua cor (amarela] le depois] passo a ver a forma da porta.
De qualquer maneira quando olho as dobradiças da porta, posso me distrair
com as funções das alavancas. No entanto, atraio minha atenção dali e me
pergunto sobre a função daquele objeto retangular grande e amarelo com
alavancas, me pergunto por que ele está aí. Eu respondo mentalmente
FIGURA 4: Uma
à pergunta: ele me permitiu entrar naquela sala e pode ser aberto ou
visão neurotipica
fechado. Eo que mais pode ser isto, além de uma porta. Minha rotulagem
em comparação
está completa, então passo para o próximo objeto. (Mukhopadhyay 2008,
com a percepção
fragmentada visual apud Bogdashina 2003(2016, p. 81)
cujo efeito parece com um eco. Isso implica a importância de dar tempo
aos indivíduos comn autismo para capacitá-los a concluir seu trabalho
desconhecidas, independente-
mente do número de vezes
• A percepção distorcida
• Desligamento do Sistema
sejam surdas, pois não respondem aos sons. No entanto, sua audição
costuma ser ainda mais aguda que a média, mas eles aprendem a desligá-la
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EDITORA MERCADO DE LETRAS
Entradas auditivas e táteis geralmente me sobrecarregavam. Barulho alto
machucou meus ouvidos. Quando o ruído e a estimulação sensorial se
tivas dos
Obviamente as experiências perceptivas dos autis
autistas, apresentadas
tas. an:
anteriormente a partir dos cstudos de Bogdashina (200 016),
podemcomprometer o aprendizadoea adaptaçãoao ambien: colar,
considerando que crianças com problemas sensoriais têmn poucas chae
com que
de relaxar o su ciente para aprender e isso faz com que o
o nto
prOcesso de
•AabordagemNeurotípica
CAA
ucacional
Ao ser convidada para projetar o primeiro centro eduea
para
autistas no Egito, a arquiteta Magda Mostafa (2008) co tou não haver
orteá-la na realização
nenhum conjunto de diretrizes quepudesse norteá-la tea:e daqucle
trabalho.
Diante desse contexto, n0 ano de 2002, a autora ini
seus
estudos, desenvolvendo a TheSensory esign Tbeory, ou, emn livre
vre traduçăo, :
pnceito do
teoria doDesignSensorial,baseando-se no conceito do ambiente
ambie. sensorial
como um dos principais protagonustas no processo de percepcão e
desenvolvimento de comportamento no autismo.
o estudo de Mostafa (2008) toi realizado em duas es Na
ot meio
primeira fase a autora determinou, por meio de um questionátio para
cuidadores de crianças autistas, o impacto dos elementos do projeto
arquitetônico no comportamento autista, buscando 1denti car os mais
in uentes. A segunda fase, baseada nos achados da primeira stou Os
elementosarquitetônicosde maiorclassı caçãoconclusiva en um os,
de intervenção sobre crianças autistas em seu ambiente escolar ssim,
indicadores comportamentais especihcos, ou seja, tempo de atenc
tempo de resposta e temperamento comportamenta, foram reados
para determinar o progresso de cada criança antes e pós-intervencão para
um grupo de controle e estudo.
Osachados preliminares do estudo foram traduzidos em ferramentas
arquitetônicas, denominada pela autora de matriz de design sensorial cuio
objetivo era organizar o ambiente arquitetônico e a complexa gama de
questões sensoriais autistas. O estudo considerou que embora fosse
impossível personalizar um ambiente público, como uma escola, para cada
usuário, seria possível estruturá-la para um agrupamento de alunos com
necessidades semelhantes.
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QUADRO 1- Diretrizes de Design Arquitetônicogeradas
pela Matriz de Design Sensorial
AUTISTASE OS ESPAÇOSESCOLARESADAPTADOS 41
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Capítulo2
A CONSTRUÇÃO
DE ESPAÇOS
ESCOLARES
INCLUSIVOS
PARA AUTISTAS
Vi braço, pessoa, boca, rosto, mão, assento, pessoa, olho [..] eu estava
vendo dez mil fotos para a de outra pessoa. (Williams 2012, p. 92)
Cada dia de aula começava com a chamada na sala de aula, seguida das
aulas programadas para aquele dia em diferentes salas e prédios nas
dependências da escola. Infelizmente, como não tenho nenhum instinto
natural de orientação, era fácil me perder, mesmo em áreas onde eu tivesse
vivido muitos anos, exceto os trajetos cspecialmente aprendidos por pura
repetição. A solução para mim era seguir os colegas até as salas. (Iammet
2007, p. 65)
Minha mente é totalmente visual, e (sic) tenho muita facilidade para tarefas
de natureza espacial, como desenhar. Já projetei grandes instalações de
aço e concreto para o mancjo de gado, mas tenho muita di culdade em
recordar um número de telefone ou fazer somas de cabeça. Se preciso me
lembrar de um conceito abstrato, eu "vejo" a página do livro ou visualizo
as minhas anotações mentais e "leio" as informações que se encontram
nelas. (Grandin e Scariano 1999, p. 133)
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Assim, para que as Chanças autistas tenham condicões de sit
Situar-
Cocilnente em um espaço previSivel, ou seja, tenham consciência
de onde se encontram, Giaconi e Rodrigues (2014) propõem uma
anização visual (sala de aula, banheiro, refeitório, ginásio, jardim,
disposição dos móveis e dos materiais), de todos os ambien
Para exempli car, as autoras sublınham que, no espaço de acesso à escola,
to autista necessita de pontos de reterencia visíveis e concretos que
dem ser otganizados de modo claro, em torno de uma série de obietos
(uma estátua, um aquario, um vaso etc.).
No tocante ao tema, a instituiçao apresentada na gura abaixo é um
bom exemplo.
USAR O BANHEIRO
LAVAR AS MÃOS
Gfumira
Fonte: https://educationandbehavior.com/how-to-set-up-the-classroom-for-
Students-with-autism/. Acesso em: 13/04/2020. Imagem: Rachel Wise.
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Essa divisão da sala em compartimentos pode ser feita usando
biombos ou divisórias, mas há de se levar em conta a exibilidade. Na
pesquisa realizada por McAllister (2014) os professores sublinharatm que
o uso de rodinhas nessas divisórias seria bastante funcional, possibilitando
o rearranjo da sala de aula quando necessário.
Além da compartimentalização, Giaconi e Rodrigues (2014)
propõem a utilização de pistas visuais de modo a facilitar compreensão
dos espaços, para que a criança possa predizer e entender o que está
acontecendo. Vejamos duas sugcstões das autoras:
Fonte: https://educationandbehavior.com/how-to-set-up-the-classroom-for-students-with-
autism/. Acesso em: 13/04/2020. Imagem: Rachel Wise.
Fonte:https://educationandbehavior.com/how-to-set-up-the-classroom-for-students-with-
autism/. Acesso em: 13/04/2016. Imagem: Rachel Wise.
9igi
Fonte: https://www.autismspectrumteacher.com/setting-up-à-classroom-for-pupils-with-
autism/. Acesso em: 13/04/2020. Imagem: Steph Reed.
[.] uma cabana com livrinhos,(ic) em que a criança que por cinco ou
dez minutos no periodo da escola ou no espaço de atendimento; que ela
Fonte:https://sites.google.com/siteldesvendandooautismo/ Irsrc1284866454461/
teacch/DSCF9007JPG?height=400&width - 300. Acesso em: 20/03/2020.
Imagem: Cláudia Marcelino postada no site "Desvendando o autismo".
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Dessa forma, a discussāo sobre a funcionalidade do espaço de fuga
deve se pautar nos debates a respeito das necessidades dos estudantes
autistas e dos riscos ao adotar uma postura discriminatória na utilização
dele.
• Salas Sensoriais
Jamais tolerei abraços muto apertados, que mne deixavam sufocada. Mas
adorava construir coisas – como réplica do Quarto distorcido. (Grandin e
Scariano 1999, p.143)
Jamais abracei meus pais, como também eles jamais me abraçaram. Eu
não gostava que alguém se aproximasse muito de mim, e não permitia
que ninguém me tocasse. Todo contato sico me era penoso e me
amedrontava. (\Williams 2012, p. 35)
E assim, cada manhã, com a sensibilidade de uma pedra, entregava-me
friamente à cerimônia dos abraços. Tentei muito explicar a mãe de minha
amiga o quanto estes apertos eram dolorosos, que um ferimento, uma
queimadura não me teriam feito mais mal, mas ela não dava o braço a
torcer. (Williams 2012, p. 133)
Quando às vezes chegava o momento das brincadeiras sociais, como
a dança das cadeiras, eu me recusava a participar. Assustava-me o
pensamento de outras crianças me tocando na disputa pelas cadeiras
restantes. (Tammet 2007, p. 34)
Quando eu era criança, porém, como não tinha nenhum recurso mágico
que me consolasse, costumava me enrolar num cobertor, ou me cobrir
com as almofadas do sofá, para satisfazer meu desejo de estímulo táti.
[.] Às vezes pendurava cartazes de papclão à frente e atrás do meu corpo,
como um homem sanduíche, porque gostava da pressão dos cartazes
contra meu corpo. (Grandin e Scariano 1999, p. 143).
Quando quei grande demais para me enrolar num cobertor ou me enfar
debaixo das almnofadas do sofá, tentei imaginar outras maneiras de obter
uma estimulaçãoagradável. Talvez algum tipo de máquina. (..]O primeiro
modelo de máquina que imaginei era uma roupa in ável que exerceria
pressão sobre todo meu corpo, uma ideia inspirada nos brinquedos
inláveis, que às vezes eu cortava. (Grandin e Scariano 1999, pp. 39-40)
Outra ideia que tive, ainda na escola primária, foi construir um pequeno
recinto com mais ou menos um metro de largura e um metro de altura –
do tamanho certo para eu poder entrar e fechar a porta. [..] Talvez, se eu
tivesse uma máquina de reconfortar, poderia ter usado sua pressão e seu
calor, em vez de entregar-me a meus acessos de raiva. (Grandin e Scariano
1999, p. 40)
Fonte: https://ipinimg.com/originals/
ee/4d/82lee4d82619f32b6bcfe8
d02287a877fbb.jpg. Acesso em:
24/04/2020.
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FIGURA 20 - Espaçoderetirada/escapedentro da própria escola
COZY,
COVE
n!
Fonte: https://
educationandbehavior.com/
how-set-up-the-classroofor-
studentsstudents-with-autism/.
Acesso em: 24/04/2020.
Imagem: Rachel Wise.
• Jardins sensoriais
Ainda que esse espaço escolar, descrito por Tammet (2017), não
tenha sido de nido como um ócus sensorial, o seu formato estrutural, bem
como os seus elemnentos constituintes, podem ser categorizados dentro de
um projeto de espaço sensorial de escape ou de m acolhedor.
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EDITORA MERCADO DE LETRAS
As quatro imagens (hgura 21) lustram um jardim dividido o
le visualizamosdiferentestipos deplantas,fontes,passarelas
outros clementos sensoriais, além de um instrumento musical que pode
Ser mla crianca. Mas, segundo o estudo dos autores, nào basta
construir um jardim sensorial, é preciso orientar e capacitar os
apc
innais sobre o seu uso didatico-pedagógico. (Hussein, Abidinb,
Omar 2013).
salaPrgokä
Fonte: https://www.escolalapisdecor.com.br/. Acesso em: 18/04/2020. Imagem: Escola
Lápis de Cor.
[] certa vez durante uma aula de ciências onde o Sr. Thraves ajudara um
dos alunos a preparar uma experiência envolvendo uma bola de massa
de modelar suspensa por um pedaço de barbante. Fascinado com aquela
visão incomum - e ignorando que fazia parte de uma experiência em
andamento – caminhei em sua direção e pus-me a tocar e puxar a massa
com os dedos. Nesse momnento o professor se aborreceu e me repreendeu,
mas eu nâo tỉnha a menor ideia do motivo de seu aborrecimento e quei
bem confuso e contrariado. Saí correndo da sala, batendo a porta com
tamanha força que o vidro da janela se espatifou. (Tammet 2007, p. 65)
Essa atitude reativa e de fuga da sala de aula também pode ser vista
na história de Williams (2012) e no comportamento de outras crianças,
expondo-as a perigos e riscos desnecessários.
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AUTISTAS E OS ESPAÇOS ESCOLARES ADAPTAD0S
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Acabamento Acabamentospodem afetar oUtilizar acabamentos mais escuros
dasala brilho geral do espaço. para suavizara luz e eliminaro brilho
das superfícies, ou seja, selecionar
materiais menos re etivos.
Fonte: Long (2010, pp. 47-48) traduzido por Mayana Godoy Favoretto.
Assim como ensina Long (2010), Leestma (2010) enfatiza que a luz
natural deve ser fornecida em todos os ambientes e utilizada sempre que
possvel e também propõe diretrizes de design com a fnalidade de melhorar
a iluminação da sala de aula.
10
Luzes equipadas
com dimmers para
permitir o controle
da iluminação pelos
professores.
E Lâmpadas uorescentes
devem ser evitadas.
Lâmpadas voltadas para o teto
suavizama intensidade da
iluminação arti cial
Fonte: Leestma (2010, p.76) traduzido por Mayana Godoy Favoretto. Imagem: David
Paul Leestma.
Os materiais de cor
clara ajudam a re etir
a luz em vez de
absorver a luz do dia
dentro do espaço.
Aprender na sala de aula não foi fácil para mim - eu tinha di culdade em
me concentrar quando as outras crianças estavam conversando ou quando
pessoas andavam ou corriam pelos corredores lá fora. Acho muito di cil
ignorar o barulho externo e costumo tapar os ouvidos com os dedos para
me concentrar melhor. (Tammet 2007, p. 51)
O dia anual dos esportes na escola eram fonte de grande tensão. [.] o dia
envolvia multidões de espectadores ruidosos de eventos como as corridas
de saco e ovo na colher, e a combinação de multidões e barulho era
Fogos de
artifício
Explosão de
6 Ruídos abruptos
bexiga
7Buzina
2 Liquidi cador
5 Aspirador de pó
Som constante
8Motocicleta de máquina
(Baixa freqüência)
10Caminhão
12 Helicóptero
fi
3 Gritos
Sofrimento alheio
(alta frequencia)
4Choro debebè
Conversa de
9 Contato social
pessoas
11 Cantar Parabéns
1 Música agitada
3CantarParabéns
11 Chuva
Helicóptero
8 Avião
9 Ventilador
Máquinas e
tecnologia
10 Ar condicionado
12 Toque celular
Liquidi cador,
Aspirador de pó, Os ruídos que irritam se mostraram
Motocicleta, bem equilibrados nos três pimeiros
Caminhāo,
grupos: ruídos de máquinas, com
Helicóptero
37,4%, ruídos abruptos, com 28,15%;
ruídos de sofrimento alheio, com 22,
RUÍDOS DE
8%. Já nos sons que agradam, a música
MÁQUINAS com sua melodia variada é a primeira
Música calma,
Música agitada,
MÚSICA E Cantar parabéns
MELODIA
Contém
variações
54.7%
RUÍDOS DE
Helicóptero,
Avião, Ventilador,
MÁQUINAS
Ar condicionado,
Toque de celular
19,85%
SONS DA
NATUREZA
Água corrente,
Contém Canto de pássadros
Chuva
variações
16.85%
SONS DE
REFORÇO
SOCIAL
8.8%
Palmas
Posição dos alunos Os ouvintes nunca devem se Para evitar a reverberação e distorções
posicionar nos cantos. dos cantos, evitando assim a hiper
estimulação sonora.
Disposição das Devem estabelecer uma Para evitar a reverberação na superfície
cadeiras distância de 0,5 metros das das paredes laterais, evitando assim a
paredes laterais. estimulação desigual entre as orelhas.
Posição das As aberturas não devem ser As fontes internas podem 'perder
aberturas próximas das fontes de ruídosintensidade, então das externas pode
internas e nem externas. permitir a entrada de poluição sonora.
Elementos para Uso de 'concha acústica' Esta concha deve ser composta de
potencializar a voz ou estrutura auxiliar para material rigido e re etor a m de
do professor potencializar a voz do conduzir os sons para frente.
professor.
Revestimento para Material absorvedores na parte O ruído de fundo não costuma ser
controle de ruído superior das paredes laterais e muito intenso, porém é constante e
de fundo de fundo podem controlar o causa grande irritação.
ruído de fundo padrão.
Materiais para O tempo de reverberação deve Para controle do TR, deve-se utilizar
controle do tempo ser controlado para facilitar a materiais absorvedores na parte
dereverberação compreensão da fala. superior das paredes laterais e de
(TR) fundo.
Soluções para o |Sempre é desejável permitir Porém, não voltar as aberturas para
conforto térmico |formas passivas de perder fontes de ruídos externos, e caso
calor, como a ventilação o local seja muito ruidoso, utilizar
natural. chicana (ver dispositivos especiais).
• Zoneamento sensorial
• Zonas de transição
Wayfnding strategies
Landmarks
O
distnctve pavers fence hedge Wndow wal
or tles
Essas luzes da rua eram amarelas com uma pitada de rosa, mas em um
estado de zumbido elas eram um amarelo-rosa intoxicante e iridescente.
Minha mente mergulhou cada vez mais fundo na cor, tentando sentir sua
natureza. Cada uma das cores ressoava sentimentos diferentes dentro de
mim e era como se me tocassem como um acorde, onde (sic) outras cores
tocavam uma nota cada vez. [..] desde que eu era uma criança envolvida
na percepção de partículas de ar em turbilhão, uma criança perdida na
repetição de um padrão de som ou uma adolescente olhando por horas as
bolas de bilhar coloridas, tentando entender a experiencia da cor especí ca
em que eu estava subindo. (Williams 2012, p. 19)
Cores diferentes
devem ser usadas
A superfície das paredes para diferenciar
deve ser simpli cada e áreas ou atividades
livre de padrões e cores
complexas, as quais
podem distrair os
estudantes
1MF4E
Cores alegres podem ser
utilizadas de forma sutil, para
eliminar a impressăo de
Cores suaves devem ser utilizadas institucionalidade e criar um
em corredores longos. Cores frias ambiente mais acolhedor
como azuis, cinzas e roxos podem
trazer sensação de calma para
os alunos
Fonte: Altenmüller-Lewis
(2017, p. 226). Foto: Quinn
Evans Architects. / Courtesy
of the architects.
Nesse contex-
to, as cores não
podem mais serem
consideradas como
meros elementos
estéticos na esco-
la. principalmente
por provocarem
tantos sentimentos
desagradáveis na
pessoa Com TEA.
Por conseguinte, como o ambiente da escola está sempre imerso num
mundo colorido, é preciso prestar atenção não apenas na paleta de cores
dos espaços sicos, mas também nas cores da roupa e dos acessórios que
a professora e os colegas estão usando, que também podemn fornecer uma
atmosfera estimulante demais para aqueles estudantes.
Por certo, todos os aspectos tratados anteriormente nos estudos
analisados, apresentaram indicações simples para atender às especi cidades
dos estudantes autistas como necessidades de previsibilidade, de orientação
imediata, de facilitação na compreensão do ambiente, entre outras.
De fato, as pesquisas desenvolvidas a respeito do design respondem
de forma favorável às especi cidades e necessidades das pessoas autista.
Entretanto, à luz dos estudos analisados há de se considerar que todas
as propostas são igualmente relevantes também para àqueles que não
possuem nenhum transtorno.
AUTORES
/ANO TÍTULO OBJETIVOS
102
EDITORA MERCADO DE LETRAS
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QUADRO Revisāo da Literatura Nacional.
Título Objetivos
Autores I
OBJETIVOS
ano
Neumann Projeto Acústico para Comprovar que é possivel quali car um
(2017) Transtornos Sensoriais. espaço através de projetos acústicos,
considerando às necessidades especí cas
dos usuários com TEA.
Giaconi e Organização do Analisar as principais abordagens sobre o
Rodrigues Espaço e do Tempo autismo, recolhendo elementos essenciais
(2014) na inclusão de sujeitos para uma proposta, ou linhas-guia, de
com autismo. inclusão de sujeitos com autismo na escola
regular.
Souza O espectro da escola ldenti car à luz da teoria da SintaxeEspacial,
(2019) neurodiversa: Uma que estuda a con guração dos espaços
análise dos espaços físicos e suas in uências nas relações sobre
de aprendizagem ele estabelecidas, os critérios arquitetônicos
voltados para pessoas utilizados na elaboração de espaços de
com Transtorno do aprendizagem voltados para pessoas com
Espectro Autista (TEA). TEA e como esses critérios se con guram
nos projetos das escolas analisadas.
Ana Flávia Teodoro M. Oliveira é graduada em Fonoaudiologia, pós-graduada em Educação Infantil, mestre e
doutora em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Éprofessora da Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Goiás (UFG), ministrando disciplinas na área de Educação Inclusiva. Pesquisadora
na área do Transtorno do Espectro Autista, com capítulos de livro sobre o tema, e artigos publicados em revistas
de Educação Especial no Brasil. Também é coordenadora do Núcleo de Acessibilidade da Faculdade de
Educação/UFG. Email para contato: ana avia1973 @ufg.br.
ISBN 978-65-86089-21-9
g7865860 89219
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