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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Pâncreas Endócrino.................................................13
3. Pâncreas Exócrino....................................................27
Referências Bibliograficas..........................................35
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 3

1. INTRODUÇÃO ativados por clivagem proteolítica no


trato gastrointestinal.
O pâncreas é uma glândula classi-
camente designada como mista por A porção endócrina é composta por
ser responsável tanto pela produção aproximadamente um milhão de
de enzimas digestivas (ou secre- pequenos aglomerados de células,
ções exócrinas), secretadas na luz as ilhotas pancreáticas (de Lan-
do duodeno (meio externo ao orga- gerhans), espalhadas por toda a
nismo), como pela produção de hor- glândula. As células das ilhotas se-
mônios (ou secreções endócrinas), cretam insulina, glucagon e soma-
secretados no interstício, de onde al- tostatina e constituem apenas 1%
cançam a circulação sanguínea (ou a 2% do órgão.
meio interno).
O pâncreas adulto é um órgão retro- Anatomia do pâncreas
peritoneal transversalmente orienta-
O pâncreas é uma glândula acessória
do, estendendo-se desde a concavi-
da digestão, alongada, retroperitone-
dade em “C” do duodeno até o hilo
al, situada sobrejacente e transversal-
esplênico. Embora o órgão receba
mente aos corpos das vértebras L1 e
esse nome do grego, pankreas (“todo
L2 (o nível do plano transpilórico) na
feito de carne”), o pâncreas é, na ver-
parede posterior do abdome (Figura
dade, um complexo órgão lobular com
1). Situa-se atrás do estômago, entre
distintos componentes exócrinos e
o duodeno à direita e o baço à esquer-
endócrinos.
da. Para fins descritivos, o pâncreas
O pâncreas exócrino constitui 80% é dividido em quatro partes: cabeça,
a 85% do órgão e é composto por colo, corpo e cauda.
células acinares que secretam en-
A cabeça do pâncreas é a parte ex-
zimas necessárias para a digestão.
pandida da glândula que é circunda-
As células acinares são células epite-
da pela curvatura em forma de “C”
liais em forma piramidal que contêm
do duodeno à direita dos vasos me-
grânulos limitados por membrana,
sentéricos superiores logo abaixo do
ricos em proenzimas (zimogênios),
plano transpilórico. Está firmemente
incluindo tripsinogênio, quimotrip-
fixada à face medial das partes des-
sinogênio, procarboxipeptidase,
cendente e horizontal do duodeno. O
pró-elastase, calicreinogênio, e
processo uncinado, uma projeção da
pró-fosfolipase A e B. Após a secre-
parte inferior da cabeça do pâncreas,
ção, essas proenzimas e enzimas são
estende-se medialmente para a es-
conduzidas por uma série de dúctu-
querda, posteriormente à artéria me-
los e ductos até o duodeno, onde são
sentérica superior (AMS). A cabeça
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do pâncreas está apoiada posterior- colo. A cauda é relativamente móvel e


mente na veia cava inferior, artéria e passa entre as camadas do ligamen-
veia renais direitas, e veia renal es- to esplenorrenal junto com os vasos
querda. Em seu trajeto para se abrir esplênicos.
na parte descendente do duodeno, o O ducto pancreático principal (Duc-
ducto colédoco situa-se em um sulco to de Wirsung) começa na cauda do
na face posterossuperior da cabeça pâncreas e atravessa o parênquima
ou está inserido em sua substância. da glândula até a cabeça do pâncre-
O colo do pâncreas é curto (1,5 a as: aí ele se volta inferiormente e tem
2 cm) e está situado sobre os vasos íntima relação com o ducto colédoco
mesentéricos superiores, que deixam (Figura 2). O ducto pancreático prin-
um sulco em sua face posterior. A cipal e o ducto colédoco geralmente
face anterior do colo, coberta por pe- se unem para formar a ampola he-
ritônio, está situada adjacente ao pi- patopancreática (de Vater) curta e
loro do estômago. A veia mesentéri- dilatada, que se abre na parte des-
ca superior une-se à veia esplênica cendente do duodeno, no cume da
posterior ao colo para formar a veia papila maior do duodeno. Em no mí-
porta. nimo 25% das pessoas, os ductos se
O corpo do pâncreas é o prossegui- abrem no duodeno separadamente.
mento do colo e situa-se à esquerda O músculo esfíncter do ducto pan-
dos vasos mesentéricos superiores, creático (ao redor da parte terminal
passando sobre a aorta e a vértebra do ducto pancreático), o músculo es-
L1, logo acima do plano transpilórico fíncter do ducto colédoco (ao redor
e posteriormente à bolsa omental. da extremidade do ducto colédoco) e
A face anterior do corpo do pâncre- o músculo esfíncter da ampola he-
as é coberta por peritônio, está situ- patopancreática (de Oddi), ao redor
ada no assoalho da bolsa omental e da ampola hepatopancreática, são
forma parte do leito do estômago. A esfíncteres de músculo liso que con-
face posterior do corpo do pâncreas trolam o fluxo de bile e de suco pan-
não tem peritônio e está em contato creático para a ampola e impedem o
com a aorta, AMS, glândula suprar- refluxo do conteúdo duodenal para a
renal esquerda, rim esquerdo e vasos ampola hepatopancreática.
renais esquerdos. O ducto pancreático acessório
A cauda do pâncreas situa-se an- (Ducto de Santorini) abre-se no
teriormente ao rim esquerdo, onde duodeno no cume da papila me-
está intimamente relacionada ao hilo nor do duodeno. Em geral, o ducto
esplênico e à flexura esquerda do acessório comunica-se com o ducto
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pancreático principal. Em alguns ca- os vasos sanguíneos. A maioria dos


sos, o ducto pancreático principal é vasos termina nos linfonodos pancre-
menor do que o ducto pancreático aticoesplênicos, situados ao longo da
acessório e pode não haver conexão artéria esplênica. Alguns vasos ter-
entre os dois. Nesses casos, o ducto minam nos linfonodos pilóricos. Os
acessório conduz a maior parte do vasos eferentes desses linfonodos
suco pancreático. drenam para os linfonodos mesen-
A irrigação arterial do pâncreas pro- téricos superiores ou para os linfono-
vém principalmente dos ramos da ar- dos celíacos através dos linfonodos
téria esplênica, que é muito tortuosa. hepáticos.
Várias artérias pancreáticas formam Os nervos do pâncreas são deriva-
diversos arcos com ramos pancreá- dos dos nervos vago e esplâncnico
ticos das artérias gastroduodenal e abdominopélvico que atravessam o
mesentérica superior. Até 10 ramos diafragma. As fibras parassimpáticas
da artéria esplênica irrigam o cor- e simpáticas chegam ao pâncreas
po e a cauda do pâncreas. As arté- ao longo das artérias do plexo celía-
rias pancreaticoduodenais superiores co e do plexo mesentérico superior.
anterior e posterior, ramos da artéria Além das fibras simpáticas que se-
gastroduodenal, e as artérias pan- guem para os vasos sanguíneos, fi-
creaticoduodenais inferiores anterior bras simpáticas e parassimpáticas
e posterior, ramos da AMS, formam são distribuídas para as células aci-
arcos anteriores e posteriores que ir- nares e ilhotas pancreáticas. As fibras
rigam a cabeça do pâncreas. parassimpáticas são secretomotoras,
A drenagem venosa do pâncreas é mas a secreção pancreática é media-
feita por meio das veias pancreáticas da principalmente por secretina e co-
correspondentes, tributárias das par- lecistocinina, hormônios secretados
tes esplênica e mesentérica superior pelas células epiteliais do duodeno e
da veia porta; a maioria delas drena parte proximal da mucosa intestinal
para a veia esplênica. Os vasos lin- sob o estímulo do conteúdo ácido do
fáticos pancreáticos acompanham estômago.
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Cabeça Colo Corpo Cauda

Veia cava
inferior

Artéria mesentérica
superior

Processo uncinado

Figura 1. Relações do pâncreas com outras vísceras retroperitoneais. Fonte: Netter interativo. 2004
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 7

Ducto colédoco

Ducto pancreático
principal
(de Wirsung)

Ducto pancreático
acessório (de
Santorini)

Figura 2. Anatomia ductal pancreática. Fonte: Netter Interativo. 2004,

Histologia do pâncreas que representam o início do sistema


de ductos do pâncreas.
Os componentes endócrinos do pân-
creas, as ilhotas de Langerhans, es-
tão dispersos entre os ácinos secre- SE LIGA! A presença de células centro-
tores exócrinos. Sua delicada cápsula acinosas no centro do ácino é uma ca-
racterística distintitiva desta glândula.
de
tecido conjuntivo forma septos, que
subdividem a glândula em lóbulos. Cada célula acinosa tem o formato
de uma pirâmide truncada, com sua
base apoiada sobre a lâmina basal,
Histologia do pâncreas exócrino separando as células acinosas do
O pâncreas exócrino é uma glându- compartimento de tecido conjunti-
la acinosa composta que produz dia- vo. O núcleo arredondado da célula
riamente 1.200 mL de fluido rico em é posicionado no citoplasma basal e
bicarbonato contendo proenzimas circundado por citoplasma basófilo
digestivas. Cerca de 40 a 50 células (Figura 3). O citoplasma apical da cé-
formam um ácino seroso arredonda- lula, voltado para o lúmen do ácino, é
do ou oval, cujo lúmen é ocupado por preenchido por grânulos de secreção
três ou quatro células centroacinosas, (grânulos de zimogênio) contendo
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proenzimas, cujo número diminui de células centroacinosas claras e


após uma refeição. cuboides baixas (Figura 3). As célu-
As membranas plasmáticas de su- las centroacinosas e os ductos inter-
perfície basal das células acinosas calares possuem receptores na sua
têm receptores para o hormônio co- membrana plasmática basal para o
lecistoquinina (ou colecistocinina, hormônio secretina e possivelmen-
CCK) e para o neurotransmissor ace- te para a acetilcolina, liberada pe-
tilcolina, liberado por fibras nervosas las fibras parassimpáticas pós-gan-
parassimpáticas pós-ganglionares. glionares. Os ductos intercalares se
unem uns aos outros para formarem
Os grânulos de zimogênio podem li- os ductos intralobulares maiores,
berar seu conteúdo individualmente, que em sua maioria convergem para
ou muitas vesículas secretoras po- formarem os ductos interlobulares.
dem se fundir umas às outras, for- Esses ductos são envolvidos por uma
mando um canal que parte do cito- quantidade considerável de tecido
plasma apical para o lúmen do ácino. conjuntivo e liberam seu conteúdo no
O sistema de ductos do pâncreas ini- ducto pancreático principal, que se
cia-se no centro de cada ácino, com o une ao ducto biliar comum (colédoco)
surgimento dos ductos intercalares, antes de abrir-se no duodeno na pa-
cujas porções iniciais são constituídas pila de Vater.

Figura 3. Histologia do pâncreas exócrino. CC: célula centroacinar;


Se: septo de tecido conjuntivo; SA: ácino seroso Fonte: Gartner (2007)
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Histologia do pâncreas endócrino vascularizado, de aproximadamente


3.000 células. Cerca de um milhão de
O pâncreas endócrino é constituído
ilhotas distribuídas por todo o pâncre-
de agregados esféricos de células,
as constituem o pâncreas endócrino.
conhecidos como ilhotas de Lan-
Um número um pouco maior de ilho-
gerhans, que estão dispersos entre
tas está presente na cauda, quando
os ácinos serosos (Figura 4); é bas-
comparada às demais regiões. Cada
tante evidente nesta fotomicrogra-
ilhota é cercada por fibras reticulares,
fia que a ilhota é muito maior que os
que também penetram na ilhota en-
ácinos individuais e de cor mais cla-
volvendo a rede de capilares que a
ra. Cada ilhota de Langerhans é um
permeia.
conglomerado esférico, ricamente

Figura 4. Ilhota de Langerhans (I) entre os ácinos do pâncreas exócrino.


Se: septo de tecido conjuntivo; SA: ácino seroso. Fonte: Gartner (2007).
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Cinco tipos celulares constituem o procedimentos imunocitoquímicos


parênquima de cada ilhota de Lan- permitem que elas sejam distingui-
gerhans: células beta (β), células das. De outro modo, essas
alfa (α), células delta (δ) (células células não apresentam aspectos
D e D1), células PP (produtoras do morfológicos notáveis, mas lembram
polipeptídeo pancreático) e células células especializadas em síntese de
G (produtoras de gastrina) (Figu- proteínas. O aspecto característico, a
ra 5). Essas células não podem ser localização e os hormônios sintetiza-
diferenciadas umas das outras por dos pelas células são apresentados
métodos histológicos de rotina, mas na Tabela 1.

Célula PP
Ducto pancreático

Célula beta Célula delta

Célula alfa

Células acinares

Vaso sanguíneo

Figura 5. Disposição células na ilhota pacreática.


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% DO HORMÔNIO
CÉLULA LOCALIZAÇÃO FUNÇÃO
TOTAL SECRETADO

Dispersas por toda


Célula β 70% a Ilhota (mais con- Insulina Diminui os níveis de glicemia
centradas no centro)

Célula α 20% Periferia da Ilhota Glucagon Aumenta os níveis de glicemia

Parácrina: Inibe a liberação de hormônio


pelo pâncreas endócrino e de enzimas
Célula δ Dispersa por toda a Célula D:
5% pelo pâncreas exócrino Endócri-
(D e D1) Ilhota Somatostatina
na: reduz as contrações do trato alimentar
e da musculatura lisa da vesícula biliar

Induz a glicogenólise; regula o tônus da


Célula D1: Peptídeo
musculatura lisa e a motilidade intestinais;
intestinal vasoativo
controla a secreção de íon e água pelas
(VIP)
células epiteliais intestinais
Dispersa por toda a Estimula a produção de ácido clorídrico
Célula G 1% Gastrina
Ilhota pelas células parietais do estômago
Célula
Dispersa por toda a Polipeptídeo
PP (célu- 1% Inibe secreções exócrinas do pâncreas
Ilhota pancreático
la F)
Tabela 1. Células e Hormônios das Ilhotas de Langerhans. Fonte: Adaptado de Gartner (2007)
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MAPA MENTAL: CÉLULAS DA ILHOTA E HORMÔNIOS SECRETADOS

• Localização Periférica • Localização Central


• Secreta Glucagon • Secreta Insulina

Células alfa Células beta

Células delta Células F ou PP

• Dispersa por toda a Ilhota


• Dispersa por toda a Ilhota
• Secreta Somatostatina (D)
• Polipeptídeo pancreático
• Secreta VIP (D1)
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2. PÂNCREAS ENDÓCRINO os níveis de glicose do sangue,


respectivamente.
Alterações nas secreções endócrinas
do pâncreas, especialmente da in-
sulina, determinam importantes mo- Insulina
dificações na homeostasia do meio
Síntese da insulina: A produção de
interno, as quais se relacionam com
insulina inicia-se com a síntese de uma
doenças de alta prevalência (atual-
única cadeia polipeptídica, a pré-pró-
mente consideradas de caráter endê-
-insulina, no retículo endoplasmático
mico), como o diabetes melito (DM),
granuloso (REG) das células β. Nas
a obesidade e a síndrome metabóli-
cisternas do REG, este produto inicial
ca, razões pelas quais é um dos mais
é convertido em pró-insulina por cli-
estudados sistemas endócrinos, em
vagem enzimática de um fragmento
toda a história da investigação cien-
do polipeptídeo. Na rede trans-Gol-
tífica. Relatos de indivíduos portado-
gi, a pró-insulina é acondicionada em
res de DM remontam à antiguidade
vesículas revestidas por clatrina, que
egípcia, despertando, desde então,
perdem a cobertura de clatrina à me-
a curiosidade sobre os mecanismos
dida que vão em direção à membrana
envolvidos no aumento excessivo da
plasmática. Um segmento da molé-
concentração de glicose no sangue e
cula de pró-insulina próximo ao cen-
na urina.
tro desta é removido por autoexcisão
(peptídeo C, denominado peptídeo
Hormônio pancreáticos conector), formando assim a insulina,
que é constituída de duas curtas ca-
Os dois hormônios produzidos em
deias polipeptídicas unidas por liga-
maiores quantidades pelo pâncre-
ções dissulfeto (Figura 6).
as endócrino — insulina e glucagon
— atuam diminuindo e aumentando
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Proinsulina
Cadeia C

Quebra
Quebra
Cadeia A

Cadeia B

Grânulo
secretor

Figura 6. Estrutura Química Da Insulina. Fonte: Hall (2017)

A insulina e o peptídeo C são reves- e óxido nítrico sintetase endotelial.


tidos nos grânulos secretores e se- Apesar de ambas as enzimas terem
cretados em quantidades equimola- múltiplas funções fisiológicas, a im-
res. Aproximadamente 5% a 10% do portância do peptídeo C na regulação
produto final secretado se encontram dessas enzimas ainda é incerta.
ainda sob a forma de pró-insulina. A
pró-insulina e o peptídeo C não têm, SE LIGA! Os níveis de peptídeo C po-
virtualmente, atividade insulínica. dem ser determinados por radioimuno-
ensaio nos pacientes diabéticos tratados
Porém, o peptídeo C se liga à estrutu- com insulina, para determinar quanto
ra da membrana, mais provavelmente de sua insulina natural ainda está sen-
um receptor da membrana acoplado do produzida. Pacientes com diabetes
melitus do tipo 1, incapazes de produzir
à proteína G e elicita a ativação de, insulina, têm normalmente níveis subs-
ao menos, dois sistemas enzimáticos, tancialmente diminuídos de peptídeo C.
sódio-potássio adenosina trifosfatase
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Quando a insulina é secretada na cor- controlador primário da secreção de


rente sanguínea, ela circula quase in- insulina. As células β contêm um gran-
teiramente em sua forma livre. Uma de número de transportadores de gli-
vez que a sua meia-vida plasmática cose, que permitem influxo de glicose
é de, aproximadamente, apenas 6 proporcional à concentração plasmá-
minutos, assim ela é, na sua maior tica na faixa fisiológica. Uma vez nas
parte, eliminada da circulação dentro células, a glicose é fosforilada pela
de 10 a 15 minutos. Com exceção da glicocinase em glicose-6-fosfato.
porção da insulina que se liga aos re- Essa fosforilação parece ser a etapa
ceptores nas células-alvo, o restante limitante para o metabolismo da gli-
é degradado pela enzima insulinase, cose nas células β e é considerada
em sua maior parte no fígado e em como o principal mecanismo sensor
menor quantidade nos rins e mús- de glicose e de ajuste da quantidade
culos e, menos ainda, na maioria dos de insulina secretada, em relação aos
outros tecidos. Essa rápida remoção níveis de glicose plasmática.
do plasma é importante, porque, às A glicose-6-fosfato é, subsequen-
vezes, sua pronta desativação bem temente, oxidada, de modo a formar
como sua ativação são fundamen- trifosfato de adenosina (ATP), que
tais para o controle das funções da inibe os canais de potássio sensí-
insulina. veis ao ATP da célula. O fechamento
dos canais de potássio despolariza a
Secreção pancreática da insulina: A membrana celular, abrindo conse-
insulina é liberada no espaço extrace- quentemente os canais de cálcio
lular em resposta a um aumento nos dependentes de voltagem, que são
níveis de glicose do sangue, como sensíveis às alterações da voltagem
ocorre após o consumo de uma refei- da membrana. Isso produz influxo
ção rica em carboidratos. de cálcio, que estimula a fusão das
vesículas que contêm insulina, com
A Figura 7 mostra os mecanismos a membrana celular e a secreção da
celulares básicos da secreção de in- insulina, no líquido extracelular por
sulina pelas células β pancreáticas, meio de exocitose.
em resposta ao aumento da concen-
tração da glicose sanguínea, que é o
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Figura 7. Mecanismo de secreção de insulina pelas células β pancreáticas. Fonte: Hall (2017)

Outros nutrientes, tais como alguns outras vias de sinalização e aumen-


aminoácidos, também podem ser tam o efeito da glicose, embora eles
metabolizados pelas células β, de não apresentem efeitos importantes
modo a aumentar os níveis intracelu- na secreção da insulina, na ausência
lares de ATP e estimular a secreção de glicose. Outros hormônios, incluin-
de insulina. Alguns hormônios, como do a somatostatina e a norepinefrina
o glucagon e o peptídeo insulinotró- (por meio da ativação de receptores
pico dependente de glicose (peptídeo a-adrenérgicos), inibem a exocitose
inibidor gástrico) e a acetilcolina, ele- da insulina. A Tabela 2 resume al-
vam os níveis de cálcio intracelular por guns dos fatores que aumentam ou
diminuem a secreção da insulina.

SAIBA MAIS!
Os fármacos do tipo sulfonilureia estimulam a secreção da insulina por meio da ligação com
os canais de potássio sensíveis ao ATP, bloqueando sua atividade. Isso resulta em efeito
despolarizante que desencadeia a secreção da insulina, o que torna esses fármacos úteis no
estímulo da secreção de insulina em pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2
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AUMENTO DA SECREÇÃO DA INSULINA DIMINUIÇÃO DA SECREÇÃO DA INSULINA

Aumento da glicose sanguínea Diminuição da glicose sanguínea

Aumento de ácidos graxos livres no sangue Jejum

Aumento de aminoácidos no sangue Somatostatina

Hormônios gastrointestinais (gastrina, colecistocinina,


Atividade a-adrenérgica
secretina, peptídeo inibidor gástrico)

Glucagon, hormônio do crescimento, cortisol Leptina

Estimulação parassimpática; acetilcolina

Estimulação β-adrenérgica
Resistência insulínica; obesidade

Medicamentos do grupo sulfonilureia

Tabela 2. Fatores e Condições que Aumentam ou Diminuem a Secreção da Insulina. Fonte: Hall (2017)

Ativação dos receptores das célu- subunidades β que se projetam para o


las-alvo: Para começar a exercer seus interior da célula são autofosforiladas.
efeitos nas células-alvo, a insulina, A autofosforilação das subunidades
em primeiro lugar, liga-se e ativa um β do receptor ativa uma tirosina ci-
receptor proteico de membrana, com nase local, que, por sua vez, causa
peso molecular em torno de 300.000 fosforilação de diversas outras enzi-
(Figura 8). É o receptor ativado que mas intracelulares, inclusive do grupo
causa os efeitos subsequentes. chamado substratos do receptor de
O receptor de insulina é a combina- insulina (IRS). Tipos diferentes de
ção de quatro subunidades que se IRS (p. ex., IRS-1, IRS-2 e IRS-3) são
mantêm unidas por meio de ligações expressos nos diferentes tecidos. O
dissulfeto: duas subunidades α, que efeito global é a ativação de algumas
se situam inteiramente do lado exter- enzimas e, ao mesmo tempo, a ina-
no da membrana celular e duas su- tivação de outras. Dessa maneira, a
bunidades β, que penetram através insulina dirige a maquinaria metabóli-
da membrana, projetando-se no ci- ca intracelular, de modo a produzir os
toplasma celular. A insulina se acopla efeitos desejados no metabolismo de
às subunidades α do lado externo da carboidratos, lipídios e proteínas.
célula, mas, devido às ligações com
as subunidades β, as porções das
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Figura 8. Ativação do receptor de insulina. Fonte: Hall (2017)

Principais ações da insulina e o não na maioria dos neurônios do


efeito no sangue: Os principais efei- encéfalo.
tos finais da estimulação da insulina A glicose transportada para as
são os seguintes: células é imediatamente fos-
1. Em segundos depois que a in- forilada e se transforma em
sulina se acopla a seus recepto- substrato para todas as funções
res de membrana, as membranas metabólicas usuais dos carboi-
de cerca de 80% das células do dratos. Acredita-se que o trans-
organismo aumentam acentua- porte aumentado da glicose
damente sua captação de glico- resulte da translocação de múlti-
se, diminuindo, desta maneira, os plas vesículas intracelulares para
níveis de glicose do sangue. Isso as membranas celulares: essas
ocorre, de modo especial, nas cé- vesículas contêm múltiplas molé-
lulas musculares e adiposas, mas culas de proteínas transporta-
doras de glicose (GLUT’s), que
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se acoplam à membrana celular enzimas metabólicas intracelula-


e facilitam a captação da glicose res. Esses efeitos resultam, prin-
nas células. cipalmente, da alteração do esta-
Quando a insulina não está mais do de fosforilação das enzimas.
disponível, essas vesículas se se- 4. Efeitos ainda mais lentos con-
param da membrana celular em tinuam a ocorrer horas e até mes-
período de 3 a 5 minutos e retor- mo dias depois. Eles resultam da
nam para o interior da célula para variação da velocidade de tradu-
serem utilizadas repetidamente, ção dos RNAs mensageiros nos
conforme necessário. ribossomos, para formar novas
2. A membrana celular fica mais proteínas e de efeitos ainda mais
permeável a muitos dos amino- lentos devido à variação da trans-
ácidos, a íons potássio e fosfato, crição do DNA no núcleo celular.
levando a aumento do transporte Dessa maneira, a insulina remo-
dessas substâncias para a célula. dela muito da maquinaria enzi-
mática celular até atingir alguns
3. Efeitos mais lentos ocorrem dos seus efeitos metabólicos.
durante os 10 a 15 minutos se-
guintes, para modificar os ní-
veis de atividade de muitas das A Tabela 3 traz os principais efeitos
da insulina no organismo.

AÇÃO DA INSULINA EFEITO NO NÍVEL SANGUÍNEO


Aumenta captação de glicose pelas células e a forma- Reduz glicemia
ção de glicogênio.
Reduz glicogenólise e gliconeogênese.
Aumenta síntese proteica (anabólica) Reduz aminoácidos sanguíneos
Aumenta deposição de gordura Reduz ácidos graxos sanguíneos

Reduz lipólise Reduz cetoácidos sanguíneos


Aumenta captação de K+ pelas células Reduz K+ sanguíneo
Tabela 3. Principais ações da insulina e o efeito no sangue

Glucagon consumo de uma refeição pobre em


carboidratos e rica em proteínas. Tem
O glucagon, um hormônio polipeptí-
diversas funções que são diame-
dico produzido pelas células α, é libe-
tralmente opostas às da insulina.
rado em resposta aos baixos níveis de
A mais importante dessas funções é
glicose do sangue, assim como pelo
aumentar a concentração da glicose
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sanguínea, efeito que é oposto ao da 1. Glucagon ativa a adenilil ci-


insulina. clase na membrana da célula
Com injeção de glucagon purificado hepática;
em um animal, vamos obter inten- 2. Essa ativação leva à forma-
so efeito hiperglicêmico. Apenas 1 ção de monofosfato cíclico de
mg/kg de glucagon é capaz de ele- adenosina;
var a glicose sanguínea em torno de 3. Que ativa a proteína regula-
20 mg/100 mL de sangue (aumento dora da proteína cinase;
de 25%), em aproximadamente 20
minutos. Por esse motivo, o gluca- 4. Que ativa a proteína cinase;
gon é também chamado hormônio 5. Que ativa a fosforilase cinase b;
hiperglicêmico. 6. Que converte a Glicogênio-
Síntese do glucagon: À semelhan- -fosforilase b em Glicogênio-
ça da insulina, o glucagon é grande -fosforilase a;
polipeptídeo com peso molecular de 7. Que promove a degra-
3.485 e é composto por uma cadeia dação do glicogênio em
de 29 aminoácidos. Como na produ- glicose-1-fosfato;
ção de insulina, primeiramente é pro-
8. Que é, então, desfosforilada, e
duzido um pró-hormônio, que passa
a glicose é liberada das células
por uma clivagem proteolítica, for-
hepáticas.
mando o hormônio ativo.
Principais ações do glucagon e o
efeito no sangue: Os principais efei- Essa sequência de eventos é, extre-
tos do glucagon no metabolismo da mamente, importante por diversos
glicose são (1) a quebra do glicogê- motivos. Em primeiro lugar, é uma
nio hepático (glicogenólise); e (2) o das funções mais completamente
aumento da gliconeogênese no fí- estudadas dentre todas as funções
gado. Esses dois efeitos elevam, enor- do monofosfato cíclico de adenosina
memente, a disponibilidade da glicose como segundo mensageiro. Em se-
para os outros órgãos do organismo. gundo lugar, demonstra sistema de
cascata em que cada produto su-
O efeito mais dramático do glucagon
cessivo é produzido em quantida-
é sua capacidade de provocar a glico-
de superior ao produto precedente.
genólise no fígado, o que, por sua vez,
Portanto, essa sequência representa
aumenta a concentração da glicose
potente mecanismo de amplifica-
sanguínea em período de minutos
ção. Esse tipo de mecanismo de am-
(Figura 9). Isso ocorre pela seguinte
plificação é muito utilizado pelo orga-
complexa cascata de eventos:
nismo para controlar muitos, se não
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 21

a maioria, dos sistemas metabólicos de glicose sanguínea duplique ou


celulares, causando, frequentemente, aumente ainda mais, dentro de uns
amplificação de até um milhão de ve- poucos minutos. A infusão de glu-
zes na resposta. cagon, durante período de 4 horas,
Esse mecanismo explica como ape- pode levar à glicogenólise hepática
nas uns poucos microgramas de glu- tão intensa que todas as reservas de
cagon podem fazer com que o nível glicogênio hepático são depletadas.

Figura 9. Processo de glicogenólise no músculo (induzido pela adrenalina) e no hepatócito (induzido pelo glucagon).
Fonte: Disponível em <https://docplayer.com.br/39855204-Aula-de-bioquimica-avancada-gliconeogenese-gli-
cogenio-glicogenolise-sintese-e-regulacao.html> Acesso em 09/05/2020
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 22

Mesmo depois do consumo de todo aminoácidos em glicose por glico-


o glicogênio hepático sob a influên- neogênese. Esse efeito é produzido
cia do glucagon, a continuação da por meio da ativação de múltiplas en-
infusão desse hormônio ainda causa zimas, necessárias para o transporte
hiperglicemia continuada. Essa hi- de aminoácidos e gliconeogênese,
perglicemia resulta do efeito do glu- em especial para a ativação do sis-
cagon para aumentar a captação de tema enzimático para conversão de
aminoácidos pelas células hepáti- piruvato em fosfoenolpiruvato, etapa
cas e, então, converter muitos dos que limita a gliconeogênese.

SAIBA MAIS!
O glucagon possui outros efeitos que só ocorrem quando sua concentração sobe bem acima
do nível máximo, encontrado normalmente no sangue.
Talvez o efeito mais importante é que o glucagon ativa a lipase das células adiposas, dispo-
nibilizando quantidades aumentadas de ácidos graxos para os sistemas de energia do orga-
nismo. O glucagon também inibe o armazenamento de triglicerídeos no fígado, o que impede
esse órgão de remover os ácidos graxos do sangue; isso também ajuda na disponibilização
de quantidades adicionais de ácidos graxos para outros tecidos do organismo.
O glucagon em concentrações elevadas também (1) aumenta a força do coração; (2) aumen-
ta o fluxo do sangue para alguns tecidos, especialmente os rins; (3) aumenta a secreção de
bile; e (4) inibe a secreção de ácido gástrico. Provavelmente, todos esses efeitos do glucagon
apresentam importância muito menor no funcionamento normal do organismo, quando com-
parados aos seus efeitos na glicose.

Outros hormônios pacreáticos aumentados; (3) ácidos graxos


aumentados; e (4) concentrações
A somatostatina, produzida por um
elevadas de diversos hormônios
dos dois tipos de células δ (células D),
gastrointestinais, liberados do trato
possui tanto efeito parácrino quanto
gastrointestinal superior, em resposta
endócrino. Consiste em um polipep-
à ingestão de alimentos.
tídeo com 14 aminoácidos e meia-
-vida extremamente curta, de ape- Por sua vez, a somatostatina apre-
nas 3 minutos, no sangue circulante. senta efeitos inibidores múltiplos:
Quase todos os fatores relacionados 1. A somatostatina age local-
à ingestão de alimentos estimulam mente nas próprias ilhotas de
a secreção de somatostatina. Eles Langerhans para deprimir a se-
compreendem (1) glicose sanguí- creção de insulina e de glucagon.
nea aumentada; (2) aminoácidos
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 23

2. A somatostatina diminui a mo- secreção do hormônio do crescimen-


tilidade do estômago, do duode- to pela hipófise anterior.
no e da vesicular biliar. O peptídeo intestinal vasoativo
3. A somatostatina diminui a (VIP) é produzido pelo segundo tipo
secreção e a absorção no trato de células δ, conhecido como células
gastrointestinal. D1. Este hormônio induz a glicogenó-
Reunindo todas essas informa- lise e a hiperglicemia, além de regular
ções, sugeriu-se que o principal a motilidade intestinal e o tônus da
papel da somatostatina é prolon- musculatura lisa da parede intestinal.
gar o tempo em que os nutrien- Adicionalmente, o VIP controla a se-
tes alimentares são assimilados creção dos íons e água pelas células
pelo sangue. Ao mesmo tempo, epiteliais intestinais.
o efeito da somatostatina de de- A gastrina, liberada pelas células G,
primir a secreção da insulina e do estimula a liberação de HCl pelo es-
glucagon reduz a utilização dos tômago, a motilidade e o esvazia-
nutrientes absorvidos pelos teci- mento gástricos e a taxa de divisão
dos, impedindo, assim, consumo celular das células regenerativas do
imediato dos alimentos, o que os estômago.
torna disponíveis durante um pe- O polipeptídeo pancreático, um
ríodo de tempo mais longo. hormônio produzido pelas células PP,
inibe as secreções exócrinas do pân-
Devemos também recordar que a creas e também estimula a liberação
somatostatina é a mesma substân- de enzimas pelas células principais do
cia química que o hormônio inibidor estômago, enquanto diminui a libera-
do hormônio do crescimento, secre- ção de HCl pelas células parietais do
tado no hipotálamo e que suprime a estômago.
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 24

MAPA MENTAL: HORMÔNIOS PANCREÁTICOS

Aumenta os
níveis de glicemia
Induz a glicogenólise;
regula o tônus da
musculatura lisa e a
Diminui os níveis
motilidade intestinais;
de glicemia
controla a secreção de
íon e água pelas células
epiteliais intestinais Glucagon

VIP Insulina
HORMÔNIOS
PANCREÁTICOS
Somatostatina Gastrina

Parácrina: Inibe a liberação Polipeptídeo pancreático


de hormônio pelo pâncreas
endócrino e de enzimas pelo Estimula a produção
pâncreas exócrino de ácido clorídrico
Endócrina: reduz as pelas células parietais
contrações do trato alimentar do estômago
e da musculatura lisa da
vesícula biliar Inibe secreções
exócrinas do pâncreas
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 25

Regulação da glicemia o fígado reduz as flutuações da con-


centração da glicose sanguínea para
Na pessoa normal, a concentração de
cerca de um terço do que seria na
glicose sanguínea está sob controle
ausência desse mecanismo. De fato,
estrito, geralmente entre 80 e 90 nos pacientes portadores de doença
mg/100 mL de sangue na pessoa em hepática grave, é quase impossível
jejum, a cada manhã, antes do desje- manter a faixa estreita da concentra-
jum. Essa concentração aumenta para ção da glicose sanguínea.
120 a 140 mg/100 mL durante a pri-
meira hora ou um pouco mais, depois
da refeição, mas os sistemas de fee- 2. Tanto a insulina como o gluca-
dback para o controle da glicose san- gon funcionam como importantes
guínea restabelecem a concentração sistemas de controle por feedba-
de glicose rapidamente de volta aos ck para manter a concentração de
níveis de controle, em geral, dentro de glicose sanguínea normal. Quando
2 horas depois da última absorção de a concentração da glicose está mui-
carboidratos. Inversamente, na au- to elevada, a secreção aumentada de
sência de alimentação, a função da insulina faz com que a concentração
gliconeogênese do fígado produz a de glicose sanguínea diminua em di-
glicose necessária para manter o ní- reção aos valores normais. Inversa-
vel sérico de glicose em jejum. mente, a redução da glicose sanguí-
nea estimula a secreção do glucagon;
Os mecanismos para atingir esse alto
o glucagon, então, funciona na dire-
nível de controle podem resumir-se
ção oposta, para aumentar a glicose
do seguinte modo:
até o normal. Na maioria das condi-
1. O fígado funciona como impor- ções normais, o mecanismo de fee-
tante sistema tampão da glicose dback da insulina é mais importante
sanguínea. Ou seja, quando a glicose do que o mecanismo do glucagon,
sanguínea sobe a uma concentração mas, nos casos de falta de ingestão
elevada depois de uma refeição, a se- ou de utilização excessiva da glicose
creção da insulina também aumenta, durante o exercício e outras situações
de modo que a glicose é quase ime- de estresse, o mecanismo do gluca-
diatamente armazenada no fígado, gon também torna-se valioso.
sob a forma de glicogênio.
Então, durante as horas seguintes,
quando tanto a concentração de gli-
cose sanguínea quanto a secreção de
insulina caem, o fígado libera a glicose
de volta ao sangue. Dessa maneira,
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 26

3. Também, na hipoglicemia grave, 4. E finalmente, durante um perío-


o efeito direto dos baixos níveis de do de horas e dias, tanto o hormô-
glicose sanguínea no hipotálamo nio do crescimento como o cortisol
estimula o sistema nervoso sim- são secretados em resposta à hipo-
pático. A epinefrina secretada pelas glicemia e ambos diminuem a utili-
glândulas adrenais aumenta ainda zação da glicose pela maioria das
mais a liberação de glicose pelo fíga- células do organismo, convertendo,
do, o que também ajuda a proteger por sua vez, uma quantidade maior
contra a hipoglicemia grave. de utilização das gorduras. Isso tam-
bém ajuda a concentração da glicose
sanguínea a retornar ao normal.

SAIBA MAIS!
Por que é tão importante manter a concentração constante da glicose no sangue se, par-
ticularmente, a maioria dos tecidos pode mudar para a utilização das gorduras e proteínas
como fonte de energia, na ausência da glicose? A resposta é que a glicose é o único nutriente
que pode ser utilizado normalmente pelo encéfalo, pela retina e pelo epitélio germinativo das
gônadas, em quantidade suficiente para supri-los de modo ideal com a energia requerida.
Consequentemente, isso é importante para manter a concentração da glicose sanguínea em
níveis suficientes para fornecer essa nutrição necessária.
A maioria da glicose formada pela gliconeogênese durante o período interdigestivo é em-
pregada no metabolismo neural. De fato, é importante que o pâncreas não secrete qualquer
quantidade de insulina durante esse período; de outra forma, as escassas reservas de glicose
disponíveis seguiriam todas para os músculos e outros tecidos periféricos, deixando o cérebro
sem fonte de nutrição.
É também importante que a concentração da glicose sanguínea não aumente demais por
vários motivos:
1. A glicose contribui de forma importante para a pressão osmótica no líquido extracelular,
e, se a concentração de glicose aumentar para valores excessivos, isso pode provocar con-
siderável desidratação celular.
2. Nível excessivamente elevado da concentração de glicose sanguínea provoca a perda
de glicose na urina.
3. A perda de glicose na urina também provoca diurese osmótica pelos rins, que pode de-
pletar o organismo de seus líquidos e eletrólitos.
4. Aumentos duradouros da glicose sanguínea podem causar lesões em diversos tecidos,
especialmente nos vasos sanguíneos. A lesão vascular associada ao diabetes descontro-
lado leva a maior risco de ataques cardíacos, derrame, doença renal no estágio terminal e
cegueira.
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 27

3. PÂNCREAS EXÓCRINO do duodeno), assim como pela acetil-


colina liberada pelas fibras parassim-
O pâncreas exócrino, que ocupa
páticas pós-ganglionares.
mais de 80% do órgão, é formado pe-
las células acinares, que produzem e Como a ativação de tais enzimas ain-
secretam pró-enzimas digestivas, da no interior das células pancreáti-
escoadas pelas células centroaci- cas causaria lesão celular, elas são
nares e ductulares. Por sua vez, as sintetizadas em forma de precurso-
células centroacinares são envolvidas res inativos (proenzimas), ficando
no metabolismo do bicarbonato e as isoladas em grânulos de zimogênio
células colunares ductais são produ- intracelulares. A célula acinar prote-
toras de mucina, que revestem todo ge-se ainda da ativação inapropriada
o sistema de drenagem da secreção de suas próprias enzimas digestivas
pancreática, desde os ductos interlo- por meio da produção e secreção de
bulares até os ductos de Wirsung e inibidores enzimáticos, como o PSTI
Santorini. (pancreatic secretory trypsin inhi-
bitor). Na luz duodenal, uma entero-
O pâncreas apresenta capacidade in-
peptidase (enterocinase) presente
comparável de síntese proteica, pro-
na borda em escova dos enterócitos
duzindo e secretando cerca de 20
cliva o tripsinogênio em tripsina, e
diferentes tipos de enzimas necessá-
esta ativa as demais proenzimas.
rias para a digestão de proteínas, car-
boidratos e gorduras. Sua secreção As células centroacinosas e os duc-
ocorre em resposta a estimulação va- tos intercalares produzem um líqui-
gal e a dois hormônios produzidos no do seroso alcalino, rico em bicar-
duodeno e no jejuno, a colecistocini- bonato, que neutraliza e tampona o
na e a secretina, responsáveis, res- quimo ácido que chega ao duodeno
pectivamente, pela produção de um proveniente da região pilórica do es-
suco pancreático rico em enzimas e tômago. O mecanismo admitido para
bicarbonato. a secreção de íons bicarbonato é que
ele seja facilitado pela enzima ani-
As enzimas pancreáticas têm ativida-
drase carbônica, que catalisa a for-
des amilolítica (amilase), lipolítica
mação do ácido carbônico (H2CO3) a
(lipase e fosfolipase) e proteolítica
partir da água (H2O) e do dióxido de
(tripsina, quimiotripsina, carboxi-
carbono (CO2). No meio aquoso do ci-
peptidase e aminopeptidases). A
tossol, o H2CO3 se dissocia formando
liberação das enzimas pancreáticas é
H+ e HCO3−; o HCO3− é ativamente
induzida pelo hormônio colecistocini-
transportado para o lúmen do duc-
na, produzido pelas células do SNED
to, enquanto o íon hidrogênio (H+) é
do intestino delgado (especialmente
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 28

transportado para os elementos do pós-ganglionares. Desta forma, as


tecido conjuntivo. secreções ricas em enzimas (provin-
Este fluido é pobre em enzimas, e sua das das células acinares) e pobres
liberação é induzida pelo hormônio em enzimas e ricas em bicarbonato
secretina, produzido pelas células (provenientes das células centroaci-
enteroendócrinas do intestino delga- nosas) são reguladas separadamen-
do em associação com a acetilcolina, te, permitindo que as duas secreções
liberada pelas fibras parassimpáticas possam ser liberadas em momentos
diferentes ou concomitantemente.

SAIBA MAIS!
Ocasionalmente, as enzimas digestivas pancreáticas tornam-se ativas no citoplasma das cé-
lulas acinosas, resultando em pancreatite aguda, que é frequentemente fatal. As alterações
histológicas envolvem uma reação inflamatória, necrose dos vasos sanguíneos, proteólise do
parênquima pancreático, e destruição enzimática das células adiposas não somente no pân-
creas, mas também na região em torno dele na cavidade abdominal.

Enzimas pancreáticas determinadas, até certo ponto, pelos


tipos de alimento no quimo.
As enzimas digestivas pancreáticas
são secretadas pelos ácinos pancre- A secreção pancreática contém múl-
áticos, e grandes volumes de solução tiplas enzimas para digerir todos os
de bicarbonato de sódio são secreta- três principais grupos de alimentos:
dos pelos ductos pequenos e maiores proteínas, carboidratos e gorduras.
que começam nos ácinos. O produto Contém ainda grande quantidade de
combinado de enzimas e bicarbonato íons bicarbonato que contribuem de
de sódio flui, então, pelo longo ducto modo muito importante para a neu-
pancreático, que normalmente drena tralização da acidez do quimo trans-
para o ducto hepático, imediatamen- portado do estômago para o duode-
te, antes de se esvaziar no duodeno no. As mais importantes das enzimas
pela papila de Vater, envolta pelo es- pancreáticas na digestão de proteínas
fíncter de Oddi. são a tripsina, a quimotripsina e a car-
boxipolipeptidase. A mais abundante
O suco pancreático é secretado de
é a tripsina.
modo mais abundante, em resposta à
presença de quimo nas porções su- A tripsina e a quimotripsina hidro-
periores do intestino delgado e as ca- lisam proteínas a peptídeos de ta-
racterísticas do suco pancreático são manhos variados, sem levar à libe-
ração de aminoácidos individuais.
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 29

Entretanto, a carboxipolipeptidase a procarboxipolipetidase é ativada de


cliva alguns peptídeos, até aminoá- maneira semelhante.
cidos individuais, completando assim É importante que as enzimas proteo-
a digestão de algumas proteínas até líticas do suco pancreático não fiquem
aminoácidos. ativadas até depois de chegarem ao
A enzima pancreática para a digestão intestino, pois a tripsina e as outras
de carboidratos é a amilase pancre- enzimas poderiam digerir o próprio
ática, que hidrolisa amidos, glicogê- pâncreas. Felizmente, as mesmas cé-
nio e outros carboidratos (exceto ce- lulas que secretam enzimas proteolí-
lulose), para formar principalmente ticas no ácino do pâncreas secretam
dissacarídeos e alguns trissacarídeos. simultaneamente outra substância,
As principais enzimas para digestão denominada inibidor de tripsina.
das gorduras são (1) a lipase pan- Essa substância é formada no cito-
creática, capaz de hidrolisar gorduras plasma das células glandulares e ina-
neutras a ácidos graxos e monoglice- tiva a tripsina, ainda nas células se-
rídeos; (2) a colesterol esterase, que cretoras, nos ácinos e nos ductos do
hidrolisa ésteres de colesterol; e (3) a pâncreas. Além disso, já que é a trip-
fosfolipase, que cliva os ácidos gra- sina que ativa as outras enzimas pro-
xos dos fosfolipídios. teolíticas pancreáticas, o inibidor da
tripsina evita também sua ativação.
Como dito anteriormente, quando
sintetizadas nas células pancreáticas, Quando o pâncreas é lesado grave-
as enzimas digestivas proteolíticas mente ou quando ocorre bloqueio do
estão em formas enzimáticas inati- ducto, grande quantidade de secre-
vas tripsinogênio, quimotripsino- ção pancreática, às vezes, se acumu-
gênio e procarboxipolipeptidase. la nas áreas comprometidas do pân-
Elas são ativadas somente após se- creas. Nessas condições, o efeito do
rem secretadas no trato intestinal. O inibidor de tripsina é insuficiente, situ-
tripsinogênio é ativado pela enzima ação em que as secreções pancreáti-
denominada enterocinase, secre- cas ficam ativas e podem digerir todo
tada pela mucosa intestinal, quan- o pâncreas, em questão de poucas
do o quimo entra em contato com a horas, levando à condição denomina-
mucosa. Além disso, o tripsinogênio da pancreatite aguda. Esse distúrbio,
pode ser ativado, autocataliticamen- por vezes, é letal em razão do con-
te, pela própria tripsina já formada. sequente choque circulatório; se não
O quimotripsinogênio é ativado pela for letal, em geral, leva à insuficiência
tripsina para formar quimotripsina, e pancreática crônica subsequente.
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 30

Secreção de íons bicarbonato mediante cotransporte com íons


sódio (Na+). Os íons bicarbona-
Embora as enzimas do suco pancre-
to são trocados posteriormente
ático sejam secretadas em sua to-
por íons cloreto (Cl−) por meio
talidade pelos ácinos das glândulas
de transporte ativo secundário,
pancreáticas, os outros dois compo-
através da membrana luminal da
nentes importantes do suco pancreá-
célula para o lúmen do ducto. O
tico, íons bicarbonato e água, são se-
cloreto que penetra na célula é
cretados basicamente pelas células
reciclado no lúmen, mediante ca-
epiteliais dos ductos que se originam
nais de cloreto especiais.
nos ácinos.
2. Os íons hidrogênio formados
Quando o pâncreas é estimulado a
por dissociação do ácido carbôni-
secretar quantidade abundante de
co na célula são trocados por íons
suco pancreático, a concentração dos
sódio na membrana basolateral
íons bicarbonato pode atingir 145
da célula. Os íons sódio entram
mEq/L, valor cinco vezes maior que a
também na célula mediante co-
concentração do íon no plasma. Com
transporte com bicarbonato atra-
essa concentração elevada, provê
vés da membrana basolateral. Os
grande quantidade de álcali no suco
íons sódio são então transpor-
pancreático, que serve para neutrali-
tados através da borda luminal
zar o ácido clorídrico no duodeno, vin-
para dentro do lúmen do ducto
do do estômago.
pancreático. A voltagem negati-
As etapas básicas do mecanismo ce- va do lúmen também impulsiona
lular da secreção da solução de íons os íons sódio com carga positiva
bicarbonato nos ductos pancreáti- através das uniões estreitas en-
cos, mostradas na Figura 10 são os tre as células.
seguintes:
3. O movimento global de íons
1. O dióxido de carbono se difun- sódio e bicarbonato do sangue
de para as células a partir do san- para o lúmen do ducto cria gra-
gue e, sob a influência da anidra- diente de pressão osmótica que
se carbônica, combina-se com a causa fluxo de água também
água para formar ácido carbôni- para o ducto pancreático, for-
co (H2CO3). O ácido carbônico, mando, assim, solução de bicar-
por sua vez, dissocia-se em íons bonato quase isosmótica.
bicarbonato e íons hidrogênio
(HCO3− e H+). Os íons bicarbo-
nato adicionais entram na célula
através da membrana basolateral
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 31

Figura 10. Secreção de solução isosmótica de bicarbonato de sódio pelos dúctulos e ductos pancreáticos. CA: anidra-
se carbônica. Fonte: Hall (2017)

Regulação da secreção 3. Secretina, também secretada


pancreática pelas mucosas duodenal e jeju-
nal, quando alimentos muito áci-
Três estímulos básicos são importan-
dos entram no intestino delgado.
tes na secreção pancreática:
1. Acetilcolina, liberada pelas ter-
minações do nervo vago paras- Os dois primeiros desses estímulos,
simpático e por outros nervos co- acetilcolina e colecistocinina, es-
linérgicos para o sistema nervoso timulam as células acinares do pân-
entérico. creas, levando à produção de grande
quantidade de enzimas digestivas
2. Colecistocinina, secretada pela
pancreáticas, mas quantidades relati-
mucosa duodenal e do jejuno su-
vamente pequenas de água e eletróli-
perior, quando o alimento entra
tos vão com as enzimas. Sem a água,
no intestino delgado.
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 32

a maior parte das enzimas se mantém de enzimas seja secretada nos ácinos
temporariamente armazenada nos pancreáticos, respondendo por cerca
ácinos e nos ductos até que uma se- de 20% da secreção total de enzimas
creção mais fluida apareça para lavá- pancreáticas, após refeição. Entre-
-las dentro do duodeno. A secretina, tanto, pouco da secreção flui imedia-
em contrapartida, estimula a secre- tamente pelos ductos pancreáticos
ção de grandes volumes de solução para o intestino, porque somente
aquosa de bicarbonato de sódio pelo quantidade pequena de água e ele-
epitélio do ducto pancreático. trólitos é secretada com as enzimas.
Efeitos multiplicativos de diferentes Durante a fase gástrica, a estimula-
estímulos: Quando todos os diferen- ção nervosa da secreção enzimáti-
tes estímulos da secreção pancreáti- ca prossegue, representando outros
ca agem ao mesmo tempo, a secre- 5% a 10% das enzimas pancreáticas
ção total é bem maior do que a soma secretadas após refeição. No entan-
das secreções ocasionadas por cada to, mais uma vez, somente pequena
um deles, separadamente. Por isso, quantidade chega ao duodeno devi-
considera-se que os diversos estímu- do à falta continuada de secreção sig-
los “multiplicam” ou “potencializam” nificativa de líquido.
uns aos outros. Desse modo, a secre- Fase Intestinal: Depois que o quimo
ção pancreática normalmente resulta deixa o estômago e entra no intestino
de efeitos combinados de múltiplos delgado, a secreção pancreática fica
estímulos básicos, e não apenas de abundante, basicamente, em respos-
um só. ta ao hormônio secretina.

Fases da Secreção Pancreática Papel da colecistocinina e da


A secreção pancreática ocorre em três secretina no controle da secreção
fases: cefálica, gástrica e intestinal. de enzimas digestivas pelo
Suas características são descritas nas pâncreas
seções seguintes. A secretina é um polipeptídeo com
Fases Cefálica e Gástrica: Durante a 27 aminoácidos (com um peso mo-
fase cefálica da secreção pancreática, lecular em torno de 3.400). Está pre-
os mesmos sinais nervosos do cére- sente em forma inativa, pró-secretina,
bro que causam a secreção do estô- nas chamadas células S, na mucosa
mago também provocam liberação de do duodeno e do jejuno. Quando o
acetilcolina pelos terminais do nervo quimo ácido com pH menor que 4,5 a
vago no pâncreas. Essa sinalização 5,0 entra no duodeno vindo do estô-
faz com que quantidade moderada mago, causa ativação e liberação de
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 33

secretina pela mucosa duodenal para mecanismo de neutralização do ácido


o sangue. O único constituinte, ver- é essencial para evitar o desenvolvi-
dadeiramente potente do quimo, que mento de úlceras duodenais.
ocasiona essa liberação de secretina A secreção de íons bicarbona-
é o ácido clorídrico. to pelo pâncreas estabelece o pH
A secretina, por sua vez, faz com que apropriado para a ação das enzi-
o pâncreas secrete grandes quanti- mas digestivas pancreáticas, que
dades de líquido contendo concen- operam em meio ligeiramente alca-
tração elevada de íons bicarbonato lino ou neutro no pH de 7,0 a 8,0.
(até 145 mEq/L), mas concentração O pH da secreção de bicarbonato de
reduzida de íons cloreto. A secretina sódio é, em média, de 8,0.
começa a ser liberada pela mucosa
do intestino delgado, quando o pH
do conteúdo duodenal cai abaixo de A presença de alimento no intestino
4,5 a 5,0, e sua liberação aumenta delgado superior também faz com
bastante quando o pH diminui para que um segundo hormônio, a cole-
3,0. Esse mecanismo prontamente cistocinina (CCK), polipeptídeo con-
à secreção abundante de suco pan- tendo 33 aminoácidos, seja liberado
creático contém grande quantidade por outro grupo de células, as células
de bicarbonato de sódio. O resultado I, da mucosa do duodeno e do jejuno
final é, então, a seguinte reação no superior. Essa liberação de CCK é es-
duodeno: timulada pela presença de proteoses
e peptonas (produtos da digestão
HCl + NaHCO3 → NaCl + H2CO3 parcial de proteínas) e ácidos graxos
O ácido carbônico se dissocia ime- de cadeia longa, no quimo que vem
diatamente em dióxido de carbono e do estômago.
água. O dióxido de carbono é trans- A CCK, assim como a secretina, che-
ferido para o sangue e expirado pe- ga ao pâncreas pela circulação san-
los pulmões, deixando, assim, solução guínea, mas, em vez de estimular a
neutra de cloreto de sódio no duodeno. secreção de bicarbonato de sódio,
Dessa forma, o conteúdo ácido vindo provoca principalmente a secreção
do estômago para o duodeno é neu- de ainda mais enzimas digestivas
tralizado, de maneira que a atividade pancreáticas pelas células acinares.
digestiva peptídica, adicional pelos su- É efeito semelhante ao causado pela
cos gástricos no duodeno, é imediata- estimulação vagal, porém mais pro-
mente bloqueada. Como a mucosa do nunciado, respondendo por 70% a
intestino delgado não tem proteção 80% da secreção total das enzimas
contra a ação do suco gástrico ácido, o digestivas pancreáticas após refeição.
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 34

MAPA MENTAL: PÂNCREAS EXÓCRINO

Amilase

Lipase

Fosfolipase

Células acinares Tripsina

Quimiotripsina

PÂNCREAS
EXÓCRINO Carboxipeptidase

Mucina Aminopeptidases

Células centroacinares

Bicarbonato
PÂNCREAS ENDÓCRINO E EXÓCRINO 35

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
Aires MM. Fisiologia/Margarida de Mello Aires. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2012.
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Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica. 13.ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2017.
Kumar V et al. Robbins & Cotran - Patologia - Bases Patológicas Das Doenças. 9ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
Moore KL. Anatomia orientada para a clínica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
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