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A economia criativa é uma destacada área da economia, pois trata da criação e dis-
seminação de produtos e serviços baseados no uso da criatividade. Inserido nesse
contexto, as artes cênicas são consideradas uma ramificação desta área e o stand-up
comedy se apresenta como uma subdivisão dessa arte. A presente monografia aborda
o tema dos negócios da comédia stand-up e delimita-se a compreender os fatores que
a influenciam, no contexto da cena do Rio Grande do Sul, a partir das concepções da
economia criativa. Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório com abordagem
qualitativa, a qual busca responder os objetivos através de um levantamento teórico
baseado em uma pesquisa bibliográfica e documental, dividida em quatro dimensões
de análise, sendo elas dos agentes envolvidos, do próprio negócio, do cenário econô-
mico e da questão cultural e social, apoiada de uma coleta de dados realizada através
de entrevistas semiestruturadas, com indivíduos relevantes dentro do cenário da co-
média. Foram realizadas dez entrevistas, abordando três produtores, quatro comedi-
antes e três consumidores de comédia stand-up, as quais são transcritas e analisadas
visando atingir o objetivo proposto no trabalho. Todos os dados pesquisados foram
tratados através da análise de conteúdo. Os resultados destacam a importância dos
fatores determinados através da abordagem teórica e se complementam com as in-
formações obtidas através das entrevistas. Os fatores que apresentaram maior rele-
vância são a criatividade, a atitude empreendedora, a realização pessoal, o ecossis-
tema, a geração de emprego e renda e a rede de parcerias. Já o fator das políticas
públicas não se confirmou como relevante.
The creative economy is a prominent area of the economy, as it deals with the creation
and dissemination of products and services based on the use of creativity. Inserted in
this context, the performing arts are considered a branch of this area and stand-up
comedy presents itself as a subdivision of this art. This monograph addresses the topic
of stand-up comedy business and is limited to understanding the factors that influence
it, in the context of the Rio Grande do Sul scene, from the conceptions of the creative
economy. This is exploratory research with a qualitative approach, which seeks to an-
swer the objectives itself through a theoretical survey based on bibliographic and doc-
umentary research, divided into four dimensions of analysis, being the agents involved,
the business itself, the economic scenario and the cultural and social issue, supported
by data collection carried out through semi-structured interviews, with relevant individ-
uals within the comedy scene. Ten interviews were carried out, approaching three pro-
ducers, four comedians and three consumers of stand-up comedy, which are tran-
scribed and analyzed in order to achieve the objective proposed in the work. All re-
searched data were treated through content analysis. The results highlight the im-
portance of the factors determined through the theoretical approach and are comple-
mented by the information obtained through the interviews. The most relevant factors
were creativity, entrepreneurial attitude, personal fulfillment, the ecosystem, the gen-
eration of employment and income and the network of partnerships. The public policy
factor was not confirmed as relevant.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 8
1.1 Tema .......................................................................................................................... 10
1.1.1 Delimitação do tema .................................................................................. 11
1.2 Problema ................................................................................................................... 11
1.3 Objetivos ................................................................................................................... 12
1.3.1 Objetivo geral ............................................................................................ 12
1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................ 12
1.4 Justificativa ............................................................................................................... 12
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 75
APÊNDICES ............................................................................................... 81
8
1 INTRODUÇÃO
1.1 Tema
1.2 Problema
1.3 Objetivos
1.4 Justificativa
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Bendassolli et al. (2009) utilizam o termo indústrias criativas, que está atrelado ao conceito de econo-
mia criativa.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
Uma das definições de comédia, de acordo com o dicionário Dicio é “Peça te-
atral cujo objetivo é entreter ou divertir, normalmente através da abordagem cômica
das situações, dos hábitos e de seus participantes ou personagens.” Muito além de
um substantivo feminino, a comédia faz parte da história do ser humano, e tem como
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uma reação básica em quem a consome: o riso. Minois (2003, p. 445) expõe que rir
sobre fatos cotidianos não é algo novo, além de ser benéfico para quem o faz:
É provável que riamos hoje como se ria há três ou quatro mil anos, diante de
pequenos incidentes ridículos da vida cotidiana. Nesse caso, há grande per-
manência do riso, como expressão de uma alegria simples que é fonte de
benefícios para o corpo e para o espírito. Hoje, como outrora, o riso tem uma
multidão de significações possíveis, da zombaria sarcástica que exclui à com-
plexidade amigável que censura; ele pode ser bom, mau ou neutro. (MINOIS,
2003, p. 445).
Segundo Minois (2003), foi na Grécia Antiga que surgiu o teatro, muito por
conta do culto à Dionísio, dito como deus do vinho, das festas e da fertilidade. Essas
celebrações, baseadas na mitologia grega, deram origem à tragédia e a comédia. A
região Ática foi o local onde muitas dessas festividades ocorriam, enquanto as tragé-
dias se referiam a heróis e deuses, que já tinham seu caminho traçado e não tinham
como evitar por vezes o sofrimento, as comédias eram baseadas em pessoas comuns.
Conforme Drumond (2009), tanto para a tragédia como para a comédia haviam imita-
ções e referências: a primeira para os homens virtuosos, superiores; e a segunda,
para homens viciosos, inferiores. Um dos símbolos mais populares que representam
a tragédia e a comédia são as duas máscaras iguais, porém com expressões distintas:
Minois (2003) cita que na comédia eram realizadas procissões 2, no grego cha-
madas de “kômos”, onde os participantes saíam pelas ruas da cidade, com fantasias,
interagindo com os moradores e demais pessoas que estavam presentes, causando
o riso e a alegria. “É da kômodia que vem a comédia, os kômodoi eram os comedian-
tes” (MINOIS, 2003, p. 25). Além disso, o autor ressalta a presença de referências
fálicas nesses eventos, fazendo referência a fertilidade.
Conforme Lins (2020), o stand-up comedy tem uma base advinda dos MC's
(Mestres de Cerimônias) surgidos no século XVIII, que contavam piadas curtas e fa-
ziam intromissões rápidas entre as apresentações circenses. A função de MC se tor-
nou mais popular a partir dos séculos XIX e XX, seja em circos ou outras formas de
entretenimento como boates e cabarés. Os MC's realizavam uma importante função
nos espetáculos: manter a atenção e interesse do público do início ao fim, com rápidas
transições. Ainda de acordo com Lins (2020), foi na década de 1950 que o stand-up
teve uma mudança no estilo e duração da apresentação, trazendo textos mais elabo-
rados com visões da vida da época, e depois, na década de 1970 uma grande onda
de popularização nos Estados Unidos, com o surgimento de nomes como Bill Cosby,
George Carlin e Richard Pryor.
Da Grécia Antiga até a Idade Contemporânea a comédia evoluiu e se transfor-
mou junto com a sociedade. Atualmente, no século XXI, a comédia é consumida mun-
dialmente através da indústria do entretenimento, fazendo parte da economia criativa.
Diversos meios de propagação desta arte surgiram, seja desde a invenção da prensa
de Gutenberg3 até o advento da internet, através de mídias sociais. É possível consu-
mir comédia através de jornais, revistas, rádio, cinema, filmes, seriados, podcasts,
vídeos na internet e ainda, o método tradicional do palco, seja num bar, num salão ou
no teatro.
Os meios em que a comédia stand-up se propaga podem ser diversos, inclu-
sive, muitos comediantes hoje ganham projeção local, estadual, nacional e até inter-
nacional através de redes sociais como o Instagram, TikTok, Facebook e também o
2
Segundo Minois (2003, p. 25), as referidas procissões eram eventos festivos, similares a uma passe-
ata, cultuando Dionísio: “Tudo isso aparece ainda mais nas dionisíacas dos campos, que aconteciam
em dezembro nas comunidades rurais da Ática. Os camponeses, pintados ou mascarados, saíam em
procissão cantando refrões zombeteiros ou obscenos e carregando um enorme phallos, símbolo da
fecundidade.”
3
De acordo com DeFleur e Ball-Rokeach (1993) a prensa de Gutenberg foi criada no século XV, por
Johannes Gutenberg, que consistia em uma máquina de impressão feita com tipos móveis, impri-
mindo textos e livros em tempo recorde para a época, pois até então, todos escritos eram realizados
à mão.
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artistas hoje já bem conhecidos como Whindersson Nunes, Thiago Ventura e Afonso
Padilha, que colocam trechos de suas apresentações em plataformas on-line, angari-
ando novos seguidores e divulgando e estimulando o consumo de stand-up comedy.
(BEDUHN, 2021, texto digital).
No Rio Grande do Sul, o primeiro empreendimento voltado especialmente para
a comédia stand-up foi o Buteco Comedy Bar. O bar de comédia fica localizado na
cidade de Canoas e foi inaugurado em 2017, e conforme o próprio local, variados
nomes com projeção nacional já realizaram suas apresentações, como Afonso Padi-
lha, Rodrigo Marques, Patrick Maia e Cris Pereira (BUTECO COMEDY, 2021, texto
digital). Já em Porto Alegre, há o POA Comedy Club, que, segundo o próprio clube, é
“um lugar pra encontrar amigos, dar risadas e comer bem.” (POA COMEDY CLUB,
2021, texto digital). O empreendimento surgiu em 2019 e é o principal espaço de co-
média stand-up da capital gaúcha, e dentre os cinco sócios proprietários, três deles
são comediantes, Afonso Padilha, Thiago Ventura e Nando Viana. O espaço surgiu
como uma necessidade dos próprios comediantes, que não encontravam um local
para realizar suas apresentações no estilo comedy club na capital do estado (POA
COMEDY CLUB, 2021, texto digital).
É importante ressaltar que nas regiões do Vale do Taquari e Rio Pardo, interior
do Rio Grande do Sul e locais que serão objetos de estudo neste trabalho, não há
empreendimentos voltados especificamente para a realização de comédia stand-up,
e por isso, os eventos que já ocorrem são realizados em bares e pubs já existentes.
Conhecidos os conceitos e as categorizações que envolvem a comédia, na se-
quência são discutidos os negócios vinculados à comédia e os fatores relevantes em
tais negócios.
como uma atividade econômica que tem como fundamento o uso da criatividade para
produzir bens e serviços.
Silva, Paiva e Lima (2019) afirmam que o cenário do humor tem uma parcela
de destaque dentro da indústria criativa. Para os autores, “a comédia tem alcançado
espaços distintos, como: cinema, teatro, televisão, internet, clubes e escolas de for-
mação de atores.” (SILVA; PAIVA; LIMA; 2019, p. 296). Os autores (2019) destacam
também que as apresentações de comédia vêm trazendo resultado financeiro, anga-
riando altos investimentos e consolidando um produto no mercado (SILVA; PAIVA;
LIMA; 2019).
Este cenário nos faz pensar sobre quais fatores são relevantes na compreen-
são da comédia stand-up como um negócio, seja da perspectiva do comediante, do
produtor, do dono do estabelecimento onde os eventos ocorrem, do consumidor e
também do cenário econômico no qual os negócios estão inseridos. A quantidade de
profissionais realizando comédia stand-up no país pode ser um aspecto a se relevar,
pois, de acordo com Esposte (2020), em matéria veiculada no Jornal da Paraíba, o
cenário brasileiro de comédia stand-up tem cerca de 30 artistas que realizam cerca
de até 50 apresentações mensais, com uma média de público que fica entre 200 e
1000 pessoas por espetáculo. Os números deste mercado ao se tratar de faturamento
anual ficam na casa dos 180 milhões de reais, considerando toda a cadeia produtiva,
incluindo empresários, produtores e demais agentes envolvidos.
Esposte (2020) ainda expõe, através de entrevista com o produtor do evento
Comedy Con, André Binnios, o crescimento do consumo de comédia stand-up, citando
que o boom do setor no país vem já de alguns anos, e que o período pós-pandemia
era esperado, naquele momento, como uma alavanca para retomar a cena da comé-
dia de forma geral.
Silva, Paiva e Lima (2019) destacam que cabe ao humorista a responsabilidade
de reconhecer oportunidades empreendedoras, isto é, avistar novos negócios e que
possam performar profissionalmente para torná-los um sucesso. É relevante citar tam-
bém que características empreendedoras não cabem somente ao artista, mas tam-
bém podem ser bem aproveitadas pelos empresários, sejam eles produtores de even-
tos humorísticos, como também donos de estabelecimentos, e aqui, os autores (2019)
citam competências:
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Assim como nos negócios tradicionais, existem fatores que podem influenciar
um negócio criativo. No presente trabalho são destacados quesitos específicos dos
negócios criativos, considerando as dimensões apresentadas.
Vale aqui destacar que tais fatores foram determinados pelo autor a partir do
aprofundamento teórico no tema proposto e foram sistematizados em dimensões para
melhor compreensão e análise da pesquisa. Os detalhes da metodologia abordada
são apresentados em capítulo específico.
A primeira dimensão é a dos agentes envolvidos, que tem como fatores: criati-
vidade, autoconfiança, persistência, flexibilidade de relacionamento e negociação, ati-
tude empreendedora, conhecimento do negócio, realização pessoal e formas de
aprendizado.
24
4
De acordo com Leonardo Pereira, economista do portal Dicionário Financeiro, “Stakeholder é um
termo da língua inglesa definido como ‘grupo de interesse' ou ‘parte interessada’. É a união das pala-
vras 'stake' (participação) e 'holder' (detentor). Fazem parte deste grupo pessoas e instituições que
possuem alguma relação com os processos e resultados da empresa.” (2022, texto digital).
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inseridos na Economia Criativa, mas também a satisfação pessoal pelo trabalho rea-
lizado, o reconhecimento, o prestígio e a realização das próprias capacidades e habi-
lidades.
Portanto, o fator de realização pessoal é relevante nos negócios da comédia
stand-up, pois a comédia é uma forma de arte, e sendo arte, faz parte de um conjunto
de benefícios que os artistas experienciam, indo além da questão financeira. Expostos
os fatores vinculados aos agentes envolvidos, na sequência são tratados os fatores
vinculados à dimensão do negócio.
5
Show solo é comumente conhecido no universo do stand-up comedy como uma apresentação indivi-
dual de um comediante que já está em um nível avançado, capaz de realizar um show de pelo menos
uma hora, com uma estrutura pensada especificamente para aquele espetáculo. Em plataformas de
streaming se encontram nomeados como especiais de comédia.
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interação com outras atividades criativas, como a música, trajes e radiodifusão”. Isso
faz com que haja uma convergência entre as atividades e um auxílio na divulgação e
propagação desta arte, e como em casos práticos já foi possível visualizar o programa
da Rádio Atlântida, Pretinho Básico, sair dos estúdios para subir ao palco dos teatros
para realizar apresentações de humor.
De acordo com Limeira (2008) os profissionais das artes e da cultura necessi-
tam de um ecossistema (ou na linguagem da comédia stand-up, uma cena) na qual
possam se desenvolver, baseado em empreendimentos e parcerias. O ecossistema
contribui para o desenvolvimento do cenário como um todo, abrangendo tanto os ar-
tistas como os demais agentes envolvidos, como diretores, produtores, proprietários
de empreendimentos e demais responsáveis por espaços culturais.
Limeira (2008) ainda compreende a cadeia produtiva dos empreendimentos
culturais em dimensões distintas, sendo a primeira referente a autonomia dos traba-
lhadores criativos, onde realizam de forma individual, tanto funções criativas como
gerenciais, porém, integrados em uma rede de parceiros. Já a segunda, abrange tra-
balhadores alocados de forma pulverizada em pequenos empreendimentos que tem
como foco a criação, produção e distribuição de produtos culturais, porém, comparti-
lhando uma mesma característica que a primeira: a formação de redes de parcerias.
“A maioria dos grupos culturais participam de redes, formais ou informais, ou seja,
visitam feiras, festivais e encontros, conversam com seus pares pessoalmente ou atra-
vés da Internet” (Limeira, p. 10, 2008). Ou seja, o networking, já destacado como que-
sito no processo de aprendizagem, facilita muito o contato entre os agentes envolvidos
e contribui para a formação das redes de parceria.
Por fim, de acordo com a UNCTAD (2010), um fator relevante na organização
da economia criativa é o quesito referente à localização onde os agentes estão, tendo
em vista que os agentes envolvidos se organizam e se aproximam de forma geográ-
fica para obterem vantagens e crescimento conjunto. Esta proximidade proporciona o
compartilhamento de conhecimento e de experiências, podendo inclusive propiciar
uma expansão do mercado, aumentando a produção e o consumo, de forma a tam-
bém desenvolver novas tendências e promover a recontratação de colaboradores
neste circuito (UNCTAD, 2010).
É válido ressaltar que os agentes que não estão próximos, ou até mesmo iso-
lados destes locais, podem não obter o mesmo desenvolvimento, justamente por não
estarem participando desta troca como um todo.
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representam 6,5% desta população, perdendo apenas para São Paulo, Rio de Janeiro
e Minas Gerais. Os números no RS apresentam uma média maior em relação ao país,
sendo de 4,1% para empregos (onde a média brasileira é de 3,5%) e 6,6% para em-
presas (média no país sendo de 6,1%). Ainda, conforme Almeida e Teixeira (2016) os
empreendedores culturais possuem uma parcela no mérito da geração de ocupações
profissionais referentes às atividades criativas.
O relatório da UNCTAD (2010) afirma que determinadas atividades culturais
têm apoio financeiro advindo do Estado ou administrado por organizações sem fins
lucrativos, mas que há dificuldade em mensurar o impacto desses gastos, muito por
conta da falta de indicadores, e por vezes, se tratar de coisas subjetivas. Ainda assim,
vale ressaltar que dentro da indústria cultural há incentivos via políticas públicas,
através de subvenções ou benefícios, para manutenção de atividades que são prove-
nientes de processos de seleção de negócios, que cumprem determinadas exigên-
cias.
Para Hanson (2012) está clara a relevância econômica das atividades culturais
na geração de renda, empregos e tributos. Porém, o autor entende que há um consi-
derável potencial econômico a ser explorado, muito por conta das capacidades artís-
ticas do povo brasileiro, do seu vasto território e do próprio consumo de produtos cul-
turais. Ainda, Hanson (2012) compreende a importância e interesse do poder público
em fomentar a indústria cultural, porém destaca a dificuldade de mensurar o impacto
proveniente do recurso governamental.
Como última dimensão temos as questões culturais e sociais, sendo que são
compreendidos os fatores de diversidade cultural, disseminação dos produtos cultu-
rais, e, alterações nas práticas de consumo dos produtos culturais. Ou seja, nesse
contexto são tratadas as mudanças sociais na diversidade cultural da população em
geral, nas condições e formato de como os produtos culturais são ofertados para a
população, e como, a população acessa os produtos culturais e a comédia em geral.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Continua
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Conclusão
A primeira dimensão tratada foi a dos agentes envolvidos, sendo eles os pro-
dutores e comediantes, e o primeiro fator abordado foi a criatividade através da per-
gunta: A criatividade é intrínseca aos negócios criativos. Como você relaciona a cria-
tividade com seu trabalho?
Para o produtor A, “a criatividade é fundamental porque ela é a que soluciona
nossos problemas, e produção nada mais é do que a arte de solucionar os problemas”.
O produtor acredita ser essencial destacar a palavra “arte”, pois numa produção de
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entretenimento a arte precisa estar em evidência e trazer uma magia para o espetá-
culo. Não se pode resolver de uma maneira fria e calculada, mas sim de uma maneira
artística.
O produtor C se utiliza da criatividade para encontrar parceiros de negócio (ba-
res e pubs), e também maneiras de divulgar os shows (seja promoções de ingressos,
parcerias com influenciadores digitais ou descontos em clientes que tem boa assidui-
dade). No quesito operacional, a criatividade é aliada também à organização que a
produção de um evento exige.
O produtor B complementa dizendo que a criatividade está presente em todos
os aspectos de qualquer negócio, e que inclusive utiliza processos criativos desde a
inauguração do empreendimento em 2016. O produtor detalha que "a criatividade é
uma ferramenta essencial para a manutenção do meu negócio. Se não é a principal
ferramenta, é uma das principais, está sempre presente em tudo que eu faço, desde
a confecção de um flyer para um show até a entrega de um prato de maneira diferen-
ciada no bar”. Ainda, o mesmo produtor indica que criou diversos processos operaci-
onais com o uso da criatividade, buscando sempre fugir das primeiras ideias que são
mais óbvias e buscou alternativas para diferenciar seu negócio. Ele complementa o
que o produtor A relata sobre a solução de problemas: “A criatividade é uma ferra-
menta para solução de problemas. Ultimamente estou enfrentando um problema de
trazer comediantes a nível nacional, e montamos uma apresentação com vantagens
para o comediante se apresentar aqui, com cachê maior, possibilidade de gravar ví-
deo, etc”.
Para o comediante A, o ato de criar e ter essa capacidade é uma benção, e ele
utiliza a criatividade para criar piadas que são direcionadas à persona dele no palco.
“A criatividade manda em mim, não sei te explicar como eu faço, mas eu consigo
fazer”. O comediante A cita a importância também de sempre anotar todas as ideias
que tem. A comediante B também entende a criatividade como fundamental, pois,
para ela, o trabalho é autoral e a criatividade é a ferramenta para desenvolver a per-
sona de suas apresentações.
O comediante D entende que a criatividade está cem por cento ligada ao seu
trabalho, pois se ele não for criativo, não conseguirá produzir materiais cômicos. Ele
complementa afirmando que é necessário que o artista seja criativo o máximo de
tempo possível, aproveitando as oportunidades vividas no cotidiano para transformar
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em piada, e para isso é necessário ser observador. Para ele, a criatividade é a ferra-
menta básica de um humorista e deve ser estimulada diariamente através de uma
rotina de escrita.
Para o comediante C, “todo dia é necessário criar material, afinal, eu vivo dela,
[a criatividade]”. Ele reforça a questão de ter o hábito da escrita e não esperar a ins-
piração para criar, além de relatar que existem técnicas para isso, sendo inclusive
coisas simples como se afastar das distrações (celular é o principal), buscar referên-
cias, fazer um brainstorm, e buscar informações sobre o assunto de interesse. Ele
também reforça a questão da observação, pois, para ele, “é importante olhar para
onde ninguém olhou, pois lá estão as piadas”. Outra técnica criativa é unir dois mun-
dos que não tem necessariamente uma relação e fazer duplas interpretações para
encontrar a distorção cômica, que gera o riso. O comediante C ainda relata que, em
caso de bloqueio criativo, é importante acalmar a mente, parar de pensar sobre isso
e realizar outra atividade, principalmente as que relaxam a mente. Ir caminhar, tomar
um banho, deitar na cama antes de dormir são momentos em que a mente está mais
relaxada e mais propensa a ter ideias.
Portanto, as informações relatadas nas entrevistas corroboram com a aborda-
gem teórica que cita a criatividade como essencial para criar e desenvolver os produ-
tos e serviços criativos, aqui referentes ao stand-up comedy, seja na produção do
evento em si, como no material da performance que é apresentada ao público.
O segundo fator abordado no que tange aos agentes foi a atitude empreen-
dedora, através da pergunta: O quão relevante é ter uma atitude empreendedora, que
busca oportunidades e coisas novas?
Para o produtor A, é relevante saber dividir bem o trabalho do artista com o de
produção, pois cada um tem um foco diferente em um evento, porém, ambos devem
ter uma visão empreendedora para ter a capacidade de ler o cenário econômico e
aproveitar as oportunidades quando elas surgirem.
O produtor C complementa que a atitude empreendedora se sobressai na ação
de buscar locais atrativos para realizar as noites, negociando com os bares e propor-
cionando uma experiência agradável para o público. Ele ainda destaca que é impor-
tante buscar referências em outros locais, como a principal cena de comédia brasi-
leira, na cidade de São Paulo, ou até mesmo no berço da comédia stand-up mundial,
nos Estados Unidos da América, em cidades como Los Angeles e Nova Iorque. O
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reforçando que a atitude empreendedora também faz parte de uma divulgação bem
sucedida dos shows, baseada sempre em uma estratégia pré definida.
Portanto, as respostas encontradas através das entrevistas estão alinhadas à
literatura abordada, principalmente no que se refere a encontrar oportunidades, ex-
plorar novas ideias e estar atento ao ambiente que se está.
O terceiro fator abordado no que tange aos agentes envolvidos foi a autocon-
fiança através da pergunta: Um empreendedor normalmente possui autoconfiança.
Você entende que isso também se aplica ao stand-up?
Os produtores A e B citam que é necessário ter autoconfiança pois é preciso
vender seu negócio (ou produto) da melhor forma possível, e precisa estar confiante
em relação a ele para trazer público, inclusive comunicando isso para seus clientes,
que é um bom produto e que será um bom show. O produtor C parafraseia “É preciso
ter confiança no que tu vende e acredita”.
O comediante A entende também que ter autoconfiança é agir como empreen-
dedor de si e fazer uma projeção de crescimento próprio. A comediante B e o come-
diante D destacam a importância do artista saber tanto vender o próprio produto, como
entregá-lo depois no palco. O comediante C complementa que a falta de autoconfi-
ança te fecha portas, ou seja, o comediante precisa confiar naquilo que faz, pois isso
com o tempo gera novas oportunidades de crescimento. Por fim, o comediante D ainda
compreende que a autoconfiança tem ligação com a persistência (fator a ser explo-
rado na sequência), e cita: “A persistência alimenta a autoconfiança, e a autocon-
fiança faz tu vender teu produto melhor quando for te apresentar.”
Ou seja, a autoconfiança é um fator relevante nos negócios da comédia, pois a
literatura também indica a relevância desse aspecto para reconhecer os pontos fortes
e desenvolver um novo negócio.
Dando continuidade à temática, o quarto fator relevante foi a persistência, abor-
dada através da pergunta: O quanto a persistência é fundamental para o seu traba-
lho?
O produtor B deixa muito claro que é necessário ser persistente no trabalho de
produção, principalmente no momento de contratar um artista, pois as agendas dos
comediantes ganham corpo facilmente, e cabe ao produtor estar atrás para conseguir
uma data. O produtor C relata que é um fator determinante para a venda de ingressos,
bem como a divulgação do evento.
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6
Conforme o portal StandUp Comedy Brasil, o termo vem do inglês e significa ‘microfone aberto’, ou
seja, é um momento do show onde um espaço de tempo é cedido para pessoas que estão querendo
iniciar na arte do stand-up.
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apresentações dos artistas. Já o produtor C expõe que é necessário ter jogo de cintura
com negociações, tanto com artistas como também com bares e pubs.
Para os comediantes, vale o mesmo quesito pois eles também precisam orga-
nizar as próprias agendas e encontrar um denominador comum para o cachê. A co-
mediante B ressalta que essa flexibilidade de relacionamento auxilia inclusive entre
os artistas, auxiliando na formação de grupos e consequentemente ajudando também
os bares que aumentam suas ofertas para o público. O comediante D destaca que,
por estar no início da carreira e numa construção de cena, é preciso abrir mão de
algumas coisas em detrimento de outras. Um exemplo é abrir mão de cachê para ter
espaço para se apresentar, como está fazendo agora no Vale do Taquari.
Tais respostas vão ao encontro ao que os autores citaram, tanto no quesito de
relacionamento entre as partes envolvidas, como na negociação envolvendo questões
financeiras.
O sexto fator a ser analisado se refere ao conhecimento do negócio, e foi
feita a pergunta: Quão importante é estar inserido na cena da comédia e ter conheci-
mentos sobre o negócio?
O produtor A parte do princípio de conquistar o cliente, e elenca três tipos de
público: O primeiro já conhece e gosta de stand-up, só precisa verificar se cabe no
orçamento e na disponibilidade de tempo; o segundo tem uma breve ideia do que é,
já ouviu falar, talvez até já consumiu virtualmente mas não compareceu ainda presen-
cialmente e tem interesse; e o terceiro não conhece o gênero, não tem ideia do que é
e como é feito. E para cada um deles é necessário um tipo de comunicação, portanto,
conhecer o negócio é conhecer também o cliente que te compra.
O produtor B entende que esse conhecimento faz a diferença e faz parte do
detalhe do negócio. Se produzem shows melhores por estarem mais inseridos no mer-
cado. Além disso, o produtor comenta que sabe de todos os processos de seu negó-
cio, e se precisar, consegue até mesmo executá-los, desde fritar a batata-frita na co-
zinha até subir no palco e se apresentar. Este know-how ajuda-o muito a produzir
comédia no estabelecimento.
O produtor C entende que conhecer os artistas também enriquece. Cabe ao
agente se permitir e consumir comédia também, o que facilita na captação de novos
artistas e principalmente dar oportunidades para quem ainda não tem uma visibilidade
interessante. Nesse ponto, é relevante se colocar como consumidor e conhecer os
artistas de nível estadual para fomentar as noites, entendendo que são artistas que
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mesmo não tendo muita fama, são talentosos e podem proporcionar um ótimo espe-
táculo.
Para todos os comediantes entrevistados, é de suma importância compreender
como funciona o acesso aos comedy clubs e quais são as maneiras de ingressar neste
mercado; também reforçam a fala do produtor C que indica que consumir possibilita o
comediante se familiarizar com o negócio.
Expostas as opiniões dos entrevistados, conclui-se que o fator conhecimento
do negócio impacta os negócios da comédia, pois oportuniza um melhor desempenho
na função que o agente atua, podendo inclusive ter conhecimentos teóricos e práticos.
O que nos leva ao próximo fator, o aprendizado.
Para compreender como funciona o aprendizado, foi realizada a seguinte per-
gunta: Como acontece o processo de aprendizagem? A experiência de tentativa e erro
é comum? Demais colegas compartilham experiências?
O produtor A relata que no início da cena gaúcha, no início da década de 2010,
quase ninguém tinha o conhecimento de como fazer a produção de um show ou mon-
tar um set (set é a sequência de piadas que forma o show), o aprendizado era na
prática. Ele expõe que para produzir um evento existe uma base geral, mas tudo é
tentativa e erro, porque ainda não foi estabelecida uma cultura forte de consumo.
O produtor B entende que aprender com a tentativa e erro acontece até hoje,
mesmo com vários processos já definidos, e que faz parte de qualquer negócio, com-
plementando: “Não existe nenhum negócio no mundo que apenas acertou, e a tenta-
tiva e erro faz parte da construção dos processos. Tentativa e erro é essencial.” Já o
produtor C detalha que algumas coisas não permitem erros, como os cuidados bási-
cos de estrutura, com tripé, microfone, luz e banquinho. Tais erros não ocorrem com
locais já tradicionais, pois são evitados com planejamento, testando as coisas no dia
anterior ou horas antes, pelo menos.
Para todos os produtores entrevistados, entender as necessidades do bar e do
artista e ver soluções para possíveis problemas ou conflitos de interesses são coisas
que fazem parte do aprendizado contínuo.
Os comediantes A, B, C e D concordam que a tentativa e erro faz parte do
aprendizado, mas ponderam que é importante fazer uma leitura no estilo do público
também para determinar se um texto funciona de fato, ou não, ou seja, é necessário
ter atenção na plateia. O comediante D complementa que todo comediante pode
46
aprender e ter uma referência de outro. Ele entende que os comediantes não se en-
xergam como concorrentes, pois um auxilia o outro no aperfeiçoamento de suas apre-
sentações, e ajudar um colega auxilia no crescimento da cena.
É possível concluir que o aprendizado tem um papel fundamental no desenvol-
vimento e aperfeiçoamento da comédia, tanto na produção, como no palco. No en-
tanto, cabe aqui destacar que a maioria dos respondentes enfatizou a perspectiva da
aprendizagem a partir das tentativas e erros.
O último fator abordado na dimensão dos agentes é a realização pessoal, e
para tanto foi questionado: O negócio e a arte da comédia geram realização pessoal?
Para o produtor A, a arte tem grande importância no seu trabalho pois ele vive
dela e para ela, e cita: “No final das contas, seja de que forma for a produção, seja de
que forma for a apresentação, seja você o artista que for, a resposta para tudo é: a
arte salva”. Ele expõe que já ouviu de fãs que a arte dele ajudou a pessoa a sair da
depressão, e que isso traz uma grande satisfação pessoal. O produtor B já era con-
sumidor de comédia, e poder proporcionar um espaço para fomentar a cena é motivo
de realização. O produtor C cita que, por ainda estar no início, o trabalho é somente
por realização pessoal pois ainda não tem lucros, já que a receita dos ingressos serve
para os custos de cachê dos artistas. A ideia de promover os shows para ele é ter a
oportunidade de subir ao palco e não pelo financeiro, citando que o “dinheiro vem lá
na frente se tudo der certo”.
Os comediantes A, B, C e D concordam que a comédia traz realização pessoal
pois fazem algo que realmente gostam, sendo que o A e o C já tem a comédia como
renda principal. O comediante A complementa que desde o início foi estimulado a
subir no palco pois já tinha uma performance cômica em seu trabalho de professor e
o apoio dos alunos neste processo foi estimulante. Sendo assim, a realização pessoal
é um fator relevante para os negócios da comédia, pois auxilia na motivação de tra-
balhar com esta arte.
Expostos os fatores relacionados à dimensão dos agentes envolvidos, na se-
quência são apresentados os fatores relacionados à dimensão do negócio.
47
construção de uma cena forte. Tanto o produtor como o comediante precisam tratar o
assunto de maneira profissional.
O produtor A cita capacidades individuais destes agentes, sendo que para criar
uma cena é necessário: força de vontade, desejo e sagacidade, e para a manutenção
dela respeito, paciência e humildade.
Contextualizando o Vale do Taquari, o produtor C detalha que o ecossistema
se fortalece através de uma cena local de artistas, ou seja, mais pessoas buscando
trabalhar como comediante stand-up, além da necessidade de ter um público fiel para
frequentar os locais para consumir a arte stand-up em si, e não apenas o comediante
de projeção nacional. Ele ainda faz uma estimativa de público, considerando o Vale
do Taquari com mais de 300 mil pessoas, o produtor entende que é necessário ter
pelo menos 1 mil pessoas consumindo presencialmente para ter sustentabilidade
nesse ecossistema.
O comediante A expõe a necessidade do stand-up ser entendido como uma
arte, e complementa o produtor B citando que para isso é necessário um desenvolvi-
mento de forma profissional e artística, havendo dedicação e esforço de todas as par-
tes envolvidas: produtores qualificados e com bom relacionamento com os clubes,
teatros, bares e pubs, um portfólio de qualidade com bons artistas, e reforça a fala dos
dois produtores (A e B) da necessidade de dedicação ao trabalho por parte do artista,
focando na melhoria de sua escrita. Por fim, ele reitera a importância de um bom
networking entre todas as partes envolvidas, e finaliza citando que inclusive trabalhos
acadêmicos como este auxiliam e podem ser favoráveis para uma melhor compreen-
são do cenário como um todo.
A comediante B e os comediantes C e D citam que é necessário ter lugares
para os comediantes se apresentarem com regularidade, pois quanto mais shows
acontecerem, mais se estabelece uma cena. Por mais que seja necessário ter um bom
número de comediantes, estes só se desenvolvem quando há espaços para tal. O
comediante C relata que “os comedy clubs são fundamentais para o desenvolvimento
de uma cena.” Mas explica também que a internet vem alterando o caminho tradicional
de começar em um bar e ir evoluindo, pois com a criação de conteúdo para redes
sociais há comediantes surgindo por essa mídia e pulando direto para o teatro ou
mesmo lotando o bar, pois conseguiu captar um público de uma nova maneira.
O comediante D finaliza o assunto citando a necessidade de uma mentalidade
empreendedora (fator já citado na dimensão anterior) para os agentes produtores,
49
O comediante A diz que as redes de contato têm muito a contribuir, desde que
sejam usadas de maneira positiva e não para gerar intrigas, fofocas e guerras de ego.
É importante que um comediante reconheça o mérito do colega quando assim acon-
tecer, e não insinue que ele ou ela tenha alcançado sucesso somente por ser amigo
de alguém influente, e complementa “quem dita o que é bom ou não é o palco, é o
público.” Ele finaliza dizendo que o sucesso de um fortalece o outro e que essa har-
monia pode trazer ganhos impensáveis para a cena gaúcha, citando inclusive o Vale
Uma Comédia como exemplo de união, trazendo artistas do circuito estadual e abrindo
uma cena de forma bacana. O comediante A e C detalham a importância do artista,
além de tudo, ser uma pessoa legal, agradável, que ajuda a resolver um problema, ao
invés de apenas reclamar sobre ele.
A comediante B reitera que o networking é fundamental, e que sem ele até é
possível crescer, mas é um trabalho muito mais árduo. O comediante C complementa
que uma boa rede de contatos pode inclusive encurtar caminhos e possibilitar o artista
evoluir mais rapidamente, e complementa que para isso é necessário combinar esses
contatos com um material (texto) de qualidade. Ele cita o impacto da internet nesse
meio, pois caso o comediante publique um vídeo na rede social e ele seja repostado
por um comediante com maior projeção, há a possibilidade de angariar novos públicos
de forma muito rápida. Além de subir ao palco, o comediante C trabalha como roteirista
e expõe que bons trabalhos realizados anteriormente favorecem o surgimento de ou-
tros por conta da indicação, ou seja, mais um quesito importante para a rede de par-
cerias. O comediante D detalha que o networking é a segunda coisa mais importante
dentro da comédia stand-up, sendo a primeira um material de qualidade, como já foi
citado anteriormente pelo comediante C.
O quarto fator abordado na dimensão do negócio foi a localização geográfica,
e foi realizada a seguinte pergunta: Quão significativo é estar envolvido geografica-
mente no circuito? Estar no Vale do Taquari é menos favorável que na região da
Grande Porto Alegre? Se sim, a mesma dinâmica vale para a Grande POA em relação
à cidade de São Paulo?
O produtor A entende que tudo tem seus prós e contras. Ele relata que morou
em Florianópolis, e na época não havia nada de cultura de arte, ou seja, havia uma
lacuna a ser preenchida, uma demanda a ser criada e suprida. Ele relata que no Vale
do Taquari o acesso aos comediantes mais experientes da cena de Porto Alegre opor-
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tuniza que os artistas iniciantes locais possam testar coisas novas em suas perfor-
mances, com uma preocupação não tão grande de manter o show em grande energia
pois o comediante que virá de Porto Alegre é mais experiente e “garantirá a noite”.
Ainda assim, ele compreende que a cena de São Paulo é a mais forte do país e que
gera mais oportunidades e contatos, mas diz que Porto Alegre tem tido um cresci-
mento interessante, principalmente por ter dois comedy clubs, um na própria capital e
outro no município vizinho de Canoas.
Para o produtor B, também há vantagens e desvantagens. Ele relata que há
desvantagem em relação a São Paulo pois hoje a maioria dos comediantes de peso
moram lá, mas ao mesmo tempo ele relata ter facilidade de ter um planejamento para
trazer esses artistas de maneira eficaz e eficiente. Ele encurta essa distância com um
produto bom, um local que os comediantes gostam de se apresentar, além de con-
forto, como um hotel bom e uma boa alimentação. Ele cita que algumas pessoas não
acreditavam que um comedy funcionaria fora do eixo RJ-SP, mas ele provou, através
de planejamento que é possível. Para ele, gerar a sensação no artista de que ali é um
ótimo lugar para se apresentar, essa distância irá encurtar ainda mais, tanto para ele
voltar, como para ele indicar para outros artistas.
O produtor C revela que na visita que realizou em São Paulo, era possível as-
sistir a quatro shows de stand-up em uma única noite, inclusive com horários alterna-
tivos, com início à meia noite. Ele espera que as coisas ainda vão acontecer na cena
gaúcha, mas que é necessário mais artistas envolvidos para desenvolvê-la, e comple-
menta dizendo que, assim como a cena gaúcha tem certa dependência de artistas de
São Paulo, o interior do RS também tem uma dependência da capital. O comediante
A complementa que seu desejo é ter o RS soberano na comédia e com uma cena
auto sustentável ao ponto de não ter dependências, para que os artistas tenham o
poder de escolha em permanecer aqui ou ir para São Paulo.
A comediante B tem uma leitura de que em São Paulo o público já está habitu-
ado a consumir a comédia por si só, já no Rio Grande do Sul as pessoas aguardam
um nome de maior relevância para consumir. Além disso, cita que o networking na
capital paulista é muito maior e que gera mais oportunidades em menor espaço de
tempo. O comediante C volta a citar pontos negativos e positivos, sendo positivo estar
em uma cena mais distante, o oportuniza a ser a referência da região, marcando seu
espaço e aumentando o networking quando outros artistas vão para a cidade dele. O
lado negativo é estar longe de tudo, com uma menor frequência de shows, o que faz
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com que ele tenha que entregar ótimos shows localmente e precise sair de sua região
para aperfeiçoar seus textos. Ele destaca a importância de ter um comedy club em
uma cidade, pois é um motor no fomento da cena local, dando oportunidade para
novos comediantes e criando um novo público, não dependendo apenas de shows
nacionais - e que somente com esses de grande impacto, o negócio não sobrevive.
Para o comediante D, há influência também no tamanho da população da ci-
dade, já que São Paulo tem a maior população do país. E relata: “Entendo que
quanto menor a região ou a cidade, mais difícil é ter uma cena de comédia, pois
a população é menor, e consequentemente o consumo. E quanto mais afastada
for a cena, mais caro fica para trazer comediantes do primeiro escalão, o que
dificulta mais o desenvolvimento da cena”. Ele complementa que, em comparação
de um comediante do Vale do Taquari para um da região metropolitana de Porto Ale-
gre, o que está próximo da capital tem mais chances de crescimento pois é fácil con-
seguir shows quase que diariamente, pelo menos semanalmente, pois há shows em
cidades como: Esteio, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Gravataí, Canoas e Porto Ale-
gre. E se comparar a São Paulo, a diferença é maior ainda. Em Caxias do Sul, ele
relata que não há uma cena estabelecida, mesmo sendo o segundo maior município
do estado, e sente a ausência de um agente com visão empreendedora para desen-
volver a cena.
Conclui-se que a localização geográfica é um fator de grande influência nos
negócios da comédia stand-up, pois é conforme a localização que uma cena se de-
senvolve mais que a outra, muito influenciada pela quantidade de estabelecimentos
para o desenvolvimento desta arte, bem como de agentes capazes de trabalharem de
forma satisfatória.
Expostos os fatores que fazem parte da dimensão do negócio, na sequência
são apresentados os fatores relacionados à dimensão econômica.
uma ação conjunta colocando nas mesas um flyer com um cupom desconto, elemen-
tos para mostrar ao público que essa empresa apoia e acredita no evento e na comé-
dia em si. O produtor relata que ainda há outras diversas maneiras de potencializar o
evento para torná-lo mais atrativo e lucrativo.
O produtor B também concorda que a cena gaúcha se auto sustenta e relata
que no estado do RS há mais de trinta comediantes com potencial de venda de in-
gressos. Para ele, é um crescimento expressivo pois em 2016 não existia uma cena
de comédia no estado. O produtor detalha que emprega cerca de dez pessoas direta-
mente, sejam elas garçons, recepcionistas, cozinheiros e social media, e finaliza di-
zendo que o mercado está em uma tendência de alta.
O produtor C aposta na criação de uma cena no Vale do Taquari para no futuro
ter um comedy club, possivelmente em Lajeado. Ele relata que no Estado, entre inici-
antes e profissionais, há menos de 100 comediantes e que eventos na região do Vale
tendem a serem mais custosos pelos gastos com logística na contratação de profissi-
onais da região metropolitana de Porto Alegre. Portanto, é importante ter um ecossis-
tema de artistas locais para fortalecer o circuito e público para consumir. Para ele, um
comedy não se sustenta apenas com os shows grandes, é necessário ter um público
que goste de comédia stand-up no geral. E esse público se constrói com o movimento
que o grupo está realizando, promovendo shows na região pelos municípios de Laje-
ado, Estrela, Teutônia e Taquari. O produtor C acredita que só há uma oportunidade
de causar uma boa primeira impressão, e para promover a sustentabilidade do negó-
cio é necessário ter uma boa estrutura, como luz e som, além de investir em artistas
maiores no início para promover a noite e causar uma boa impressão em quem está
consumindo presencialmente pela primeira vez. A ideia, segundo ele, é criar algo a
longo prazo, não apenas por seis meses, mas sim perpetuar por anos e seguir cres-
cendo.
Para o comediante A a sustentabilidade do negócio ainda é discutível, porém a
comédia já gera renda para os artistas, produtores, pubs e bares, ao mesmo tempo
que está crescendo muito o consumo de entretenimento, principalmente de arte no
geral. Ele relata que diversos espetáculos artísticos vêm lotando casas importantes
em Porto Alegre, como o auditório Araújo Vianna, seja para música ou para comédia.
Para ele, o stand-up está crescendo, principalmente depois da pandemia a comédia
está sendo um alívio para as pessoas. “O stand-up está se consolidando como
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comediantes que sobrevivem apenas da arte é ainda muito restrito, além de que algu-
mas dessas pessoas buscam alternativas para complementar sua renda, mesmo den-
tro da comédia, seja como roteirista ou mesmo produtor.
O último fator a ser discorrido na dimensão econômica se refere às políticas
públicas, e para entender a relevância desse aspecto foi realizado o seguinte questi-
onamento: Você já teve ou tem apoio de verba pública para produzir e vender o show?
Se não, entende que há diferença?
O produtor A expõe algumas barreiras, explicando que a verba pública é extre-
mamente burocrática e ao mesmo tempo extremamente competitiva, e que para entrar
nessa disputa é preciso ter conhecimento dos trâmites, sendo necessário ter (ou ser)
um produtor que trabalha mais diretamente com leis de incentivo, estando atento ao
lançamento de editais, questões de contrapartidas sociais e demais processos buro-
cráticos. Ele detalha que no trabalho de produção de stand-up é preciso solucionar os
problemas de forma tão rápida que não vale a pena investir o tempo atrás destes
incentivos públicos. O produtor, que já teve experiência no tablado, relata que produ-
tores de teatro utilizam-se mais destes benefícios, pois o espetáculo exige muito en-
saio e tem um custo muito mais alto, pois precisa de cenário, figurino, maquiagem, há
dança, canto, então envolve muito mais profissionais e, consequentemente, o custo
fica mais alto. O produtor entende que a verba para o teatro é essencial, mas não para
a comédia stand-up.
O produtor B não tem relação com verbas públicas e não tem interesse em ter.
No seu estabelecimento nunca teve apoio de órgãos de cultura, seja do município ou
do estado. Para ele, não utilizar verba pública faz parte da filosofia de manutenção do
negócio, pois é necessário que seja auto sustentável através do capital privado. Ele
complementa que sempre administrou o comedy com recurso próprio e pretende ser
assim sempre, além de ter uma filosofia política contrária à cobrança de impostos.
O produtor C relata que, com o grupo Vale Uma Comédia, teve uma experiência
com a Secretaria de Cultura de Estrela para uma apresentação com duas sessões. O
produtor acredita que há leis de incentivo para isso, mas é necessário pesquisar e ver
quais são os pré-requisitos e critérios. Porém, ele ressalta que, sem esses incentivos
públicos, há mais autonomia e não se corre o risco de precisar adaptar alguns assun-
tos para os textos.
O comediante A não tem relação com verba pública e não enxerga um movi-
mento na cena para que se tenha, pois, na visão dele, a comédia não liga para o
57
Estado. Ele ressalta que para o fortalecimento da soberania da comédia estadual tal-
vez seria benéfico, mas é algo a se analisar com calma e pensar a respeito. A come-
diante B reforça a fala do Produtor A em relação à burocracia e o tempo investido para
conseguir tais benefícios, citando que os comediantes fixam mais a atenção no setor
privado, tratando direto com os comedys, salvo quando uma produtora faz esse ser-
viço.
O comediante C é a favor de leis de incentivo que possibilitem o desconto no
Imposto de Renda para fomentar a arte e apoiar esses projetos, pois, para ele, a arte
é fundamental para a população. Ele relata que nunca se envolveu com a elaboração
de projetos, e que artistas de pequeno porte têm mais dificuldade em acessar tais
recursos do que artistas maiores. Em relação às contrapartidas sociais, ele dá dois
exemplos: a arrecadação de alimentos e a transmissão ao vivo do evento com tradu-
ção em Libras.
O comediante D também relatou o evento apoiado pela prefeitura que o produ-
tor C abordou anteriormente, e reforçou a ideia de vários entrevistados que é neces-
sário estar atento às condições atreladas aos editais para lançar um projeto, e claro,
ter o know-how. Por fim, os comediantes A e D ressaltam que, economicamente, um
show com apoio de verbas pode ser interessante (com cachê fechado), mas deve ser
entendido que nem sempre o público que estará lá esteja totalmente familiarizado com
o stand-up.
É possível entender que a verba pública não é um fator de grande relevância
na construção ou manutenção de uma cena de stand-up comedy, visto que as razões
estão relacionadas com a burocracia, competitividade, desconhecimento e, em partes,
falta de interesse.
Vistos os fatores relacionados à dimensão econômica, o próximo subcapítulo
tratará dos fatores relacionados à dimensão cultural e social.
O produtor A entende que o stand-up tem crescido muito mais que as outras
artes, mesmo que no Brasil ainda esteja no “início”. Ele cita que a comédia stand-up
já tomou uma proporção muito grande, ao ponto das pessoas já conhecerem o gênero
e saber como funciona, pois tem fácil acesso à ela através da internet, e consequen-
temente, tem um consumo muito maior se comparado a outras artes, como o teatro.
Para ele, o teatro tem o intuito de tocar as pessoas de forma singular e não se importa
muito com o tamanho da plateia, já o stand-up é disseminado muito rapidamente pelas
mídias sociais pois não exige muito esforço para a divulgação, basta um celular gra-
vando a apresentação, um corte de um minuto em determinado trecho e o conteúdo
está pronto para ser divulgado. Ele ainda cita que uma vantagem do stand-up perante
ao teatro é a facilidade de divulgação, já que uma peça de teatro perderia o contexto
se fosse divulgada de forma tão curta, e também ao cinema que exige um custo de
produção e edição muito maior. Tais fatos levam o produtor a compreender a evolução
mais rápida do stand-up perante outras artes.
O produtor B detalha que iniciou consumindo stand-up através da internet há
cerca de três anos antes de iniciar seu empreendimento. Após os primeiros contatos
online com a arte que despertou grande interesse, ele relata que isso o levou a con-
sumir presencialmente em teatros. O produtor A já era ator por formação e isso facili-
tou o acesso ao stand-up, pois sempre gostou de humor. O produtor C relata que teve
o primeiro contato com a arte no teatro em uma apresentação em Lajeado, apesar de
já conhecer o artista por outros trabalhos na televisão. Na mesma época, passou a
consumir pela internet, hábito que tem até hoje. O produtor também comenta que em
seu trabalho de conclusão em Administração realizou um estudo sobre a viabilidade
financeira de um Comedy Club em Lajeado e teve resultados positivos.
O comediante A expõe que antigamente havia um padrão de consumo na co-
média, por exemplo: assistir o programa x no canal y na televisão, e que a dissemina-
ção da televisão conectava todo mundo, gerava assuntos no outro dia, seja no ambi-
ente que for, escola, trabalho, reuniões de amigos, se percebia uma maior conexão
sobre um assunto. Ele ainda relata que no passado, pessoas famosas eram realmente
muito populares e conhecidas por uma grande massa de pessoas. Hoje, com a disse-
minação de novos meios de consumo de cultura, principalmente a internet, através de
seus mais variados canais, existem pessoas que são famosas para uma grande audi-
ência nichada, mas a grande massa não a conhece, seja um influenciador da área
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profundas, outras mais pesadas.” Ele relata que também é necessária uma maturi-
dade do público em compreender que quem está no palco é uma persona do comedi-
ante, e não uma opinião literal do artista.
O comediante A enxerga a diversificação de forma positiva. Para ele, ter nichos
é bom pois assim se cria um público identificado, porém a parte ruim é que o artista
fica condicionado a falar sobre certos assuntos. Ele relata ainda que uma mudança
de tema em suas publicações em redes sociais faz com que o algoritmo da rede não
distribua o conteúdo da mesma forma, pois foge do habitual. O comediante compre-
ende que nichos focam, mas também isolam, e que a arte não é linear. Ele detalha
que em suas apresentações tenta sempre manter-se o mais fiel possível a sua per-
sona, independente de público, mas que diversifica seus temas de acordo com o hu-
mor da platéia, buscando, quando necessário, abranger assuntos mais generalistas
como família e relacionamentos, para atingir mais pessoas através da identificação.
Para finalizar, ele, que também é licenciado em história, diz que o Brasil precisa
ter a própria régua em seus temas, e não apenas se basear no que os Estados Unidos
consomem, pois são culturas diferentes e abordagens diferentes. Apesar do stand-up
ter raízes norte-americanas, cabe aos brasileiros referenciarem suas piadas com a
própria realidade, além de entender que a maturidade do público dos dois países ainda
diverge muito, pois nos EUA a arte já ocorre há muito tempo.
A comediante B entende que a diversidade cultural tem relação com a comédia.
No RS ela enxerga que o público leva muito a sério a questão dos nichos, e que se
discordam do texto do comediante, realizam comentários na rede social com reclama-
ções. Já em São Paulo ela entende que o público dá menos bola para a divergência
de opiniões dentro do stand-up. Ainda, ela cita que já recebeu comentários irônicos
quando realizava piadas mais pesadas, na comédia chamadas de humor negro; po-
rém não via o mesmo comportamento do público quando quem realizada a piada era
um homem, portanto, via diferença no tratamento de algumas pessoas por conta do
gênero do artista.
O comediante C entende que quanto mais pessoas consumindo, melhor. Ni-
char a arte significa que ela está se tornando popular. Ele relata que o humorista Thi-
ago Ventura conseguiu se comunicar com um público que até então não consumia
stand-up e ele trouxe essas pessoas pro bar e pro teatro. Quanto mais pessoas fa-
zendo comédia, melhor, é benéfico para todo mundo. O comediante disse que tam-
bém acompanha outros comediantes de projeção nacional, como Fábio Rabin e Diogo
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espalhados por todo o Brasil. Porém, cabe ao grupo seguir fomentando a cena, apro-
ximando o público da arte em si, sem depender de nomes grandes para vender um
show, dependência essa que mesmo na capital do estado é sentida.
O comediante D espera que possa ser aproveitado o potencial do município de
Lajeado para expandir a cena regional e fortalecer os municípios do entorno, criando
um circuito, ou ecossistema. Ele também relata que o crescimento da cena nos Vales
do Taquari e Rio Pardo potencializa a cena gaúcha, pois quanto mais cenas ativas,
mais comediantes estão trabalhando, mais produtores estão envolvidos, e mais pú-
blico tem a oportunidade de consumir comédia, fortalecendo a geração de emprego
e renda.
Ao se tratar de políticas públicas, alguns municípios dos Vales possuem pro-
gramas e projetos direcionados à cultura, tendo destaque os seguintes municípios:
Em Venâncio Aires, conforme o site da Secretaria de Cultura e Esporte, há a
lei nº 5991/2017, intitulada Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Venâncio Aires
(LEMIC), onde fomenta eventos culturais das mais diversas expressões artísticas,
como: Artes Visuais; Artesanato; Audiovisual; Circo; Culturas Populares; Dança; Livro;
Memória e Patrimônio; Museus; Música; Teatro. No edital de 2019, foram direcionados
R$100.000,00 (cem mil reais) para seis projetos, variando de R$10.000,00 (dez mil
reais) a R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais) por projeto.
No município de Estrela, de acordo com o portal online da Câmara Municipal,
há o projeto de lei nº 052-03/2019, intitulado Programa Municipal de Incentivo à Cul-
tura -PROCULTURA, com o objetivo de proporcionar acesso aos bens culturais e ar-
tísticos para a população, incentivando a produção cultural no município. O projeto
abrange a Literatura, as Artes Visuais, a Música, as Artes Cênicas, a Dança, o Arte-
sanato, o Folclore, a Memória, o Patrimônio Histórico (Artístico, Natural e Cultural) em
seu acervo material e imaterial, a Dança, o Cinema e Vídeo, e as Manifestações Po-
pulares (Culturais e Tradicionais).
Demais municípios relevantes no Vale do Taquari e Rio Pardo, como Lajeado
e Santa Cruz do Sul, apresentam nos portais (2022) de suas respectivas prefeituras
informações referentes à Lei Aldir Blanc que dispõe sobre ações emergenciais desti-
nadas ao setor cultural a serem adotadas durante o estado de calamidade pública,
diretamente influenciado pelo início da pandemia de COVID-19 em março de 2020.
Ainda, o portal online da Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul (2022) disponibiliza
um formulário onde é possível se registrar no Cadastro Municipal de Entes e Agentes
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo analisar os fatores que influenciam os negó-
cios da comédia stand-up no Estado do Rio Grande do Sul, a partir da concepção da
economia criativa. Para tanto, foram elencados fatores, definidos pelo autor com
base na fundamentação teórica, e categorizados através de dimensões para facilitar
o entendimento da pesquisa.
Os dois primeiros objetivos específicos eram entender os aspectos da comédia
stand-up vinculados à economia criativa e compreender os fatores que envolvem os
negócios da comédia. Para tanto, foi possível confirmar que no fator criatividade, além
de ela auxiliar na criação e desenvolvimento de produtos e serviços, ela é capaz de
ajudar na solução de problemas do negócio, encontrar parcerias e criar maneiras cri-
ativas de divulgar os shows, poder aperfeiçoar o negócio através de processos criati-
vos, possibilitar lucrar com diferentes atividades e possibilitar escritas criativas através
de determinadas técnicas.
No fator autoconfiança, além de ela proporcionar o reconhecimento dos pontos
fortes do agente, fazer com que ele acredite no que vende ou oferta e auxiliar na
criatividade, a autoconfiança também se provou uma ferramenta eficaz para comuni-
car ao público que o produto ofertado tem qualidade, auxiliou na segurança do artista
para performar melhor, e quando ela estava ausente, foi determinante para o desper-
dício de oportunidades, ou fechamento de portas.
O fator persistência demonstrou, através da teoria, a capacidade de agir pe-
rante os problemas e reconhecer e aprender com os erros cometidos, e se confirmou
com ações dos agentes envolvidos, como se adaptar a agenda dos outros, insistir na
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venda de ingressos no início de uma cena, ter a compreensão de que é difícil obter
lucros no início da carreira, além de demonstrar a necessidade do artista em realmente
gostar do que faz para que se sustente fazendo stand-up.
O fator flexibilidade de relacionamento e negociação fundamentou-se inicial-
mente na capacidade de criar relacionamentos bem consolidados com outras partes
e também de negociar cachês, prazos e agendas. Além disso, se confirmou através
do auxílio na resolução de problemas, sabendo gerir as emoções da outra parte, a
criação de grupos entre os agentes para evoluírem um com o outro, além da compre-
ensão que no início de uma cena, é necessário abrir mão de cachê em troca de opor-
tunidades de apresentações.
Na atitude empreendedora, o fator inicialmente baseou-se na mentalidade do
agente, tendo crenças e valores bem fundamentados e o intuito de encontrar oportu-
nidades, o que se confirmou através dos agentes buscarem referências bem sucedi-
das, aproveitar as oportunidades que surgirem, procurar diferenciar seu produto (seja
o bar ou o show), ter iniciativas na condução de suas redes sociais produzindo conte-
údo e capitalizando o negócio através de outros produtos, como revistas e podcasts.
O conhecimento do negócio se apresentou no conhecimento de como funciona
o mercado, o entendimento das necessidades dos clientes e a entrega do produto da
melhor forma possível. Na prática, se mostrou necessário conhecer o público que o
agente se comunica, entender os processos do negócio (know-how), conhecer um
bom número de artistas e entender como se inserir no mercado como comediante.
Já nas formas de aprendizado, foram levantados tópicos como aprender no
método da tentativa e erro e também aprender com os agentes afins, o que se confir-
mou na prática, pois o stand-up ainda é novo no RS e cabe aos agentes entender as
necessidades do público, realizando uma boa leitura sobre ele.
A realização pessoal foi teorizada considerando que o agente envolvido aprecia
e experiencia a arte e faz aquilo porque realmente gosta. Foi possível confirmar que
receber o feedback do público relatando a diferença positiva que o show causou na
vida dela, faz parte da realização pessoal do artista. Outras duas constatações foram
que, ser proprietário de um comedy club gera satisfação pois o agente está oportuni-
zando o crescimento da comédia, e por fim, comediantes iniciantes relataram que o
que sustenta sua ação é a realização pessoal, pois o início geralmente não gera lu-
cros.
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jam nichos e estilos, e que se por um lado os públicos são divididos, por outro a es-
pecificidade do comediante faz com que ele se aperfeiçoe na temática escolhida. Os
nichos são uma consequência da popularidade da arte, e se reforça que o stand-up é
livre e tem espaço para todos.
Portanto, os dois primeiros objetivos específicos foram respondidos através do
levantamento teórico e também dos resultados obtidos através das entrevistas. O ter-
ceiro objetivo trata de identificar as razões pelas quais uma cena de comédia se cria
e se estabelece, no Rio Grande do Sul, e para tanto foi respondido também vinculado
aos fatores expostos nos objetivos anteriores, questões como: a existência de bares,
pubs, teatros ou mesmo comedy clubs abertos a promoverem o stand-up, ter pessoas
comprometidas com a qualidade das atividades que realizem, sejam elas produtores,
comediantes, donos dos estabelecimentos, ou qualquer outro agente envolvido, ter
uma boa rede de parcerias para potencializar os espetáculos, criar e cultivar um pú-
blico consumidor da arte do stand-up e não apenas de grandes artistas, e principal-
mente ter força de vontade, atitude, resiliência e paciência.
O último objetivo específico trata de analisar os negócios da comédia stand-up
nos Vales do Taquari e Rio Pardo, a partir do caso Vale Uma Comédia. A cena de
comédia nos Vales ainda é nova e o grupo, até o momento do desenvolvimento deste
trabalho, não possui ainda um ano de existência. Assim como na cena do RS, nos
Vales é preciso ter pessoas querendo iniciar no mundo da comédia, seja como come-
diante ou produtor, e que estejam realmente comprometidas com a causa, pois uma
cena nova precisa ser bem alicerçada, evitando ser feita de qualquer maneira pois
isso pode acarretar uma péssima primeira impressão, e que, consequentemente, pode
comprometer o desenvolvimento da cena na região.
É importante também que o grupo realize divulgações eficientes sobre suas
noites de comédia, pois ele ainda é desconhecido pela maioria das pessoas, salvo os
amigos, conhecidos e pessoas próximas que gostam da arte. Essas divulgações po-
dem ser tanto das noites em si, como da produção de conteúdo para redes sociais
através de piadas, esquetes ou podcasts. Ainda, é relevante seguir proporcionando
uma experiência marcante para o público consumidor, através de um local propício e
convidativo para o stand-up, além de oferecer serviços de copa e cozinha de quali-
dade.
Por fim, após uma cena mais forte estabelecida, o grupo pretende ser o pioneiro
na região ao abrir o primeiro comedy club dos Vales do Taquari e Rio Pardo, porém,
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é um plano de longo prazo, já que uma decisão como essa precisa ser bem analisada
e calculada para que haja êxito.
O presente estudo traz contribuições importantes para a temática do stand-up
comedy, ainda pouco abordado e estudado academicamente. Espera-se que a pes-
quisa realizada possa auxiliar no desenvolvimento de novas cenas de comédia não
só na região do Vale do Taquari, como também em outras regiões do estado do Rio
Grande do Sul, e quiçá, do Brasil.
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REFERÊNCIAS
BUTECO COMEDY CLUB. Buteco Comedy. Canoas, RS, 2021. Disponível em:
https://www.butecocomedy.com.br/o-buteco. Acesso em: 21 nov. 2021.
CHEDID, S. Economia Criativa: você sabe o que é? POLITIZE, [s.l], 25 out. 2017.
Disponível em: https://www.politize.com.br/economia-criativa/. Acesso em: 18 nov.
2021.
HOWKINS, J. Economia criativa: Como ganhar dinheiro com ideias criativas. 1 ed.
São Paulo: M. Books do Brasil, 2013.
LINS, L. OPEN MIC - Como dar os primeiros passos? Stand Up Comedy Brasil,
[s.l], 2022. Disponível em: https://www.standupcomedy.com.br/OpenMic. Acesso em:
03 jun. 2022.
SILVA, M. R. R.; PAIVA, L. E. B.; LIMA, T. C. B. de. Entre Risos e Negócios: Uma
Análise das Competências Empreendedoras dos Humoristas Revista de Empreen-
dedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, [s.l], v. 8, n. 2, p. 292-318, 2019.
Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=561566630004. Acesso em:
24 out. 2021.
APÊNDICES
1. Quem é você e qual a sua relação com a comédia? Como iniciou no mundo da
comédia e do stand up? Como iniciou o trabalho de produção?
14. Que estrutura é necessária para produzir um show? É possível fazer sem?
Como você lida quando há falta de estrutura?
15. Você já teve ou tem apoio de verba pública para produzir e vender o show? Se
não, entende que há diferença?
16. O stand up ainda é algo novo no Brasil, sobretudo no RS. Você enxerga a di-
versidade cultural e também da sociedade como algo positivo para o stand up?
Entenda diversidade como diferentes idades, ideologias, estilos de vida e con-
sumo de produtos culturais no geral (artes, música, teatro, etc).
17. Quais razões você atribui para uma cena de comédia se criar e se estabelecer?
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1. Quem é você e qual a sua relação com a comédia? Como iniciou no mundo da
comédia e do stand up?
10. Quão importante é estar inserido na cena da comédia e ter conhecimentos so-
bre o negócio?
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15. Você já teve ou tem apoio de verba pública para produzir e vender o show? Se
não, entende que há diferença?
16. O stand up ainda é algo novo no Brasil, sobretudo no RS. Você enxerga a di-
versidade cultural e também da sociedade como algo positivo para o stand up?
Entenda diversidade como diferentes idades, ideologias, estilos de vida e con-
sumo de produtos culturais no geral (artes, música, teatro, etc).
17. Que impressão você teve ao realizar apresentações na região da Grande Porto
Alegre e no interior do estado, como nos Vales do Taquari e Rio Pardo?
18. Quais razões você atribui para uma cena de comédia se criar e se estabelecer?
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3. A estrutura oferecida nos eventos que você participou te causou uma experi-
ência boa?
4. Você entende que falta alguma coisa em específico nos shows de comédia
stand up que consome presencialmente?
6. Você tem algum amigo ou conhecido que está envolvido no mercado da comé-
dia, seja ele produtor ou comediante?