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UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI - UNIVATES

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

A COMÉDIA COMO UM NEGÓCIO: OS FATORES RELEVANTES DO


STAND-UP COMEDY NO CENÁRIO GAÚCHO

Rodrigo Eduardo Becker

Lajeado/RS, junho de 2022


Rodrigo Eduardo Becker

A COMÉDIA COMO UM NEGÓCIO: OS FATORES RELEVANTES DO


STAND-UP COMEDY NO CENÁRIO GAÚCHO

Monografia para o Trabalho de Conclusão de


Curso II – Curso de Administração – Linha de
Formação Específica em Administração de Em-
presas, da Universidade do Vale do Taquari -
Univates, como parte da exigência para a obten-
ção do título de Bacharel em Administração de
Empresas.

Orientadora: Profa. Dra. Cíntia Agostini

Lajeado/RS, junho de 2022


Rodrigo Eduardo Becker

A COMÉDIA COMO UM NEGÓCIO: OS FATORES RELEVANTES DO


STAND-UP COMEDY NO CENÁRIO GAÚCHO

A Banca examinadora abaixo aprova a Monografia apresentada no componente cur-


ricular Trabalho de Conclusão de Curso II, do Curso de Administração – Linha de
Formação Específica em Administração de Empresas, da Universidade do Vale do
Taquari – Univates, como parte da exigência para a obtenção do título de Bacharel
em Administração de Empresas:

Profa. Dra. Cíntia Agostini – Orientadora


Universidade do Vale do Taquari – Univates

Prof. Dr. Marlon Dalmoro


Universidade do Vale do Taquari – Univates

Prof. Dr. Samuel Martim De Conto


Universidade do Vale do Taquari – Univates

Lajeado/RS, 30 de junho de 2022


RESUMO

A economia criativa é uma destacada área da economia, pois trata da criação e dis-
seminação de produtos e serviços baseados no uso da criatividade. Inserido nesse
contexto, as artes cênicas são consideradas uma ramificação desta área e o stand-up
comedy se apresenta como uma subdivisão dessa arte. A presente monografia aborda
o tema dos negócios da comédia stand-up e delimita-se a compreender os fatores que
a influenciam, no contexto da cena do Rio Grande do Sul, a partir das concepções da
economia criativa. Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório com abordagem
qualitativa, a qual busca responder os objetivos através de um levantamento teórico
baseado em uma pesquisa bibliográfica e documental, dividida em quatro dimensões
de análise, sendo elas dos agentes envolvidos, do próprio negócio, do cenário econô-
mico e da questão cultural e social, apoiada de uma coleta de dados realizada através
de entrevistas semiestruturadas, com indivíduos relevantes dentro do cenário da co-
média. Foram realizadas dez entrevistas, abordando três produtores, quatro comedi-
antes e três consumidores de comédia stand-up, as quais são transcritas e analisadas
visando atingir o objetivo proposto no trabalho. Todos os dados pesquisados foram
tratados através da análise de conteúdo. Os resultados destacam a importância dos
fatores determinados através da abordagem teórica e se complementam com as in-
formações obtidas através das entrevistas. Os fatores que apresentaram maior rele-
vância são a criatividade, a atitude empreendedora, a realização pessoal, o ecossis-
tema, a geração de emprego e renda e a rede de parcerias. Já o fator das políticas
públicas não se confirmou como relevante.

Palavras-chave: Economia Criativa. Negócios da comédia. Criatividade.


ABSTRACT

The creative economy is a prominent area of the economy, as it deals with the creation
and dissemination of products and services based on the use of creativity. Inserted in
this context, the performing arts are considered a branch of this area and stand-up
comedy presents itself as a subdivision of this art. This monograph addresses the topic
of stand-up comedy business and is limited to understanding the factors that influence
it, in the context of the Rio Grande do Sul scene, from the conceptions of the creative
economy. This is exploratory research with a qualitative approach, which seeks to an-
swer the objectives itself through a theoretical survey based on bibliographic and doc-
umentary research, divided into four dimensions of analysis, being the agents involved,
the business itself, the economic scenario and the cultural and social issue, supported
by data collection carried out through semi-structured interviews, with relevant individ-
uals within the comedy scene. Ten interviews were carried out, approaching three pro-
ducers, four comedians and three consumers of stand-up comedy, which are tran-
scribed and analyzed in order to achieve the objective proposed in the work. All re-
searched data were treated through content analysis. The results highlight the im-
portance of the factors determined through the theoretical approach and are comple-
mented by the information obtained through the interviews. The most relevant factors
were creativity, entrepreneurial attitude, personal fulfillment, the ecosystem, the gen-
eration of employment and income and the network of partnerships. The public policy
factor was not confirmed as relevant.

Keywords: Creative Economy. Comedy business. Creativity.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Máscaras da tragédia e da comédia ........................................................ 17

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Plano de coleta e análise de dados ........................................................ 36


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 8
1.1 Tema .......................................................................................................................... 10
1.1.1 Delimitação do tema .................................................................................. 11
1.2 Problema ................................................................................................................... 11
1.3 Objetivos ................................................................................................................... 12
1.3.1 Objetivo geral ............................................................................................ 12
1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................ 12
1.4 Justificativa ............................................................................................................... 12

2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................... 14


2.1 Compreendendo a economia criativa .................................................................... 14
2.2 Concepções e a história da comédia..................................................................... 16
2.3 A categorização do stand-up e o contexto brasileiro .......................................... 19
2.4 Os negócios da comédia ......................................................................................... 21
2.4.1 Fatores relevantes em um negócio criativo ............................................ 23
2.4.1.1 Os fatores que influenciam os negócios de stand-up comedy a partir da
dimensão agentes envolvidos .................................................................. 24
2.4.1.2 Os fatores que influenciam os negócios de stand-up comedy a partir da
dimensão do negócio ................................................................................ 28
2.4.1.3 Os fatores que influenciam os negócios de stand-up comedy a partir da
dimensão econômica ................................................................................ 30
2.4.1.4 Os fatores que influenciam os negócios de stand-up comedy a partir da
dimensão cultural/social ........................................................................... 31

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 34


3.1 Tipo de pesquisa ...................................................................................................... 34
3.1.1 Quanto aos seus objetivos ....................................................................... 34
3.1.2 Natureza da abordagem ............................................................................ 35
3.1.3 Procedimentos técnicos ........................................................................... 35
3.2 Plano de coleta e análise de dados ....................................................................... 35
3.3 Limitações do Método ............................................................................................. 37

4 ANÁLISE DOS FATORES QUE INFLUENCIAM OS NEGÓCIOS DA


COMÉDIA STAND-UP ................................................................................ 38
4.1 Dimensão dos agentes envolvidos ........................................................................ 38
4.2 Dimensão do negócio .............................................................................................. 47
4.3 Dimensão econômica .............................................................................................. 52
4.4 Dimensão cultural e social ...................................................................................... 57
4.5 As particularidades regionais, o caso do Vale Uma Comédia ........................... 63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 69

REFERÊNCIAS ........................................................................................... 75

APÊNDICES ............................................................................................... 81
8

1 INTRODUÇÃO

O mundo, sobretudo a economia mundial, sofre constantes mudanças ao longo


das décadas. Desde a Revolução Industrial até os dias atuais, diversas formas de criar
e entregar novos produtos e serviços vem surgindo e evoluindo. As transformações
se dão nos mais variados segmentos da economia, e nas últimas décadas, um espec-
tro específico tem destaque, a chamada economia criativa.
John Howkins (2013), pesquisador e especialista da área, entende que a eco-
nomia e a criatividade possuem uma ligação capaz de gerar valor e riqueza através
dos chamados produtos criativos, sendo eles tangíveis e intangíveis. Tendo isso claro,
é possível dizer que a utilização da criatividade para criar e desenvolver produtos e
serviços gera representatividade na chamada economia criativa. Para o autor, há
quinze setores de mercado que estão ligados à economia criativa, sendo um deles as
artes cênicas. Inserido no contexto das artes cênicas, todas compartilham de uma
mesma característica: as exibições em palcos ou em locais específicos para apresen-
tações, nos quais se insere o stand-up comedy, que é uma performance artística com
o objetivo direto de entreter o público através da comédia.
Segundo Lins (2009), o stand-up comedy tem destaque nos Estados Unidos já
na década de 1950, mas apresentações do mesmo estilo - realizando uma perfor-
mance cômica individual no palco - já aconteciam, mesmo sem uma definição do que
exatamente estava sendo feito, durante o século XIX. No Brasil, apesar de ser um
berço de grandes talentos artísticos na comédia durante o século XX, como Chico
Anysio, Jô Soares e Ronald Golias, o stand-up comedy, na sua forma mais pura, tem
seu início em meados de 2005.
9

Desde então, o gênero de comédia vem se popularizando, oportunizando a


abertura de empreendimentos focados especialmente para o recebimento destes es-
petáculos. Os chamados “comedy clubs” se tornaram a casa de shows para a comédia
stand-up, trazendo para o público uma experiência de proximidade com o artista, que
está somente com um banquinho e um microfone no palco - na maioria das vezes,
trazendo observações de sua realidade e experiências da própria vida.
Lima (2012) destaca que o humor vem se afirmando como um negócio, sobre-
tudo como um movimento dentro da economia criativa. A análise do autor, realizada
no estado do Ceará, traz aspectos que abrem para a possibilidade de se repetirem
em outros estados brasileiros, como o aumento no número de shows de comédia na
capital e também no interior do estado, a utilização de importantes teatros que surgi-
ram com o propósito de servir ao humor, bem como o crescimento da popularidade
dos humoristas cearenses em nível nacional. Lima (2012, p. 17), ao citar os aspectos
expostos anteriormente, compreende que a atividade econômica do humor não re-
sume apenas ao comediante em si, mas a um conjunto de figuras na economia:

Tais fatos possibilitam que essa atividade profissional, aparentemente indivi-


dual, envolva diferentes atores – empresas de produção de eventos de hu-
mor, fórum e associações ligados ao humorismo, teatros, restaurantes, bar-
racas de praia, shoppings, hotéis, órgãos governamentais, turistas, agências
de viagens, guias turísticos, taxistas profissionais ligados a cenografia, ma-
quiagem, serviços de som, dentre outros interessados que formam um campo
gerador de riqueza na economia cearense, sob a perspectiva de que campos
são redes de relacionamentos (LIMA, 2012, p. 17).

É importante compreender que a atividade humorística é capaz de trazer diver-


sos benefícios para uma cadeia de agentes, impactando economicamente, social-
mente e culturalmente (LIMA, 2012). Brasileiro Filho (2010) defende que o cresci-
mento e desenvolvimento da comédia como um negócio pode ter influência também
do empreendedorismo, auxiliando na geração de emprego e renda pois, conforme
Silva, Paiva e Lima (2019), o humorista é um empreendedor, inovador e criativo que
pode impactar na economia e na sociedade.
A proposição desta pesquisa está focada em analisar o mercado da comédia
stand-up no cenário gaúcho, procurando compreender os fatores relevantes para o
desenvolvimento da cena. Por cena da comédia, entende-se como o panorama da
comédia stand-up em determinada região, ou seja, quanto mais os artistas estão se
10

apresentando, quanto mais o público está consumindo e quanto mais os estabeleci-


mentos estão promovendo os eventos, mais forte é a cena da comédia. Para avaliar
a cena gaúcha do stand-up apresenta-se uma pesquisa, baseada no que está se de-
terminando como fatores relevantes, que serão avaliados tanto teoricamente, como
empiricamente.
O primeiro capítulo após essa introdução, o da fundamentação teórica, trata
sobre a compreensão da economia criativa, destacando seus aspectos relevantes. Na
sequência, apresenta-se as concepções e história da comédia, buscando contextua-
lizar e compreender o surgimento do stand-up comedy. A próxima seção categoriza o
stand-up e discorre sobre o contexto brasileiro desta arte. Depois, busca-se entender
os negócios da comédia e os fatores relevantes em um negócio criativo, para tanto,
tais fatores foram divididos em quatro dimensões, sendo elas: a dimensão dos agen-
tes envolvidos (comediantes e produtores); a dimensão do próprio negócio; a dimen-
são do cenário econômico; e por fim, a dimensão cultural e social, todas estas apre-
sentando fatores relevantes para cada área.
Após a fundamentação teórica, no capítulo três, são demonstrados os procedi-
mentos metodológicos, que determinam que esta pesquisa é exploratória e qualitativa,
analisando o conteúdo das entrevistas para auxiliar a responder o problema de pes-
quisa.
Por fim, o capítulo que fecha o trabalho trata das considerações finais, con-
tendo uma síntese dos fatores relevantes que impactam a cena de stand-up do Rio
Grande do Sul e as percepções gerais desta pesquisa científica.
Assim, considerando o exposto, são determinados tema, problema de pes-
quisa, objetivos e justificativas, que são expostos a seguir.

1.1 Tema

O tema do presente trabalho é a discussão dos negócios da comédia. A partir


do embasamento teórico da economia criativa, o texto discute os fatores que influen-
ciam a comédia stand-up como um negócio no Estado do Rio Grande do Sul.
11

1.1.1 Delimitação do tema

O presente estudo delimita-se a analisar, a partir das concepções teóricas da


economia criativa, os fatores que mais adequadamente influenciam o cenário da co-
média stand-up, contribuindo para o crescimento do stand-up como um negócio.
A delimitação teórica baseia-se nos fundamentos da economia criativa e, con-
siderando as dimensões econômica, social, cultural, dos agentes envolvidos e do ne-
gócio em si, traz diferentes concepções teóricas que dão luz aos indicados fatores que
influenciam os negócios da comédia.
Por fim, a delimitação territorial é do Estado do Rio Grande do Sul como foco
principal do trabalho. Cabe destacar que o trabalho ainda faz um recorte específico
de um grupo de stand-up chamado “Vale Uma Comédia”, que atua nos Vales do Ta-
quari e Rio Pardo, e que também será tema de uma análise exploratória.

1.2 Problema

Economia, cultura e criatividade estão ligadas sob diversas perspectivas, e,


mesmo em suas particularidades, há variados mercados como o da música, cinema e
artes, muito populares no mundo inteiro, que utilizam-se destes quesitos para desen-
volver seus produtos criativos (POLITIZE, 2017, texto digital). Cada mercado tem suas
potencialidades estabelecidas através do cenário cultural existente naquele local (o
hábito das pessoas consumirem), da visibilidade dos artistas e o próprio acesso à
informação por parte do público e também a estrutura física para promover determi-
nados eventos culturais.
Direcionando para o assunto desta pesquisa, as artes cênicas proporcionam
diversas maneiras de capitalizar e potencializar espetáculos artísticos, sendo parte
deles voltados ao humor. Assim, é relevante compreender que cada ramo artístico
tem sua popularidade.
Nestas condições, considerando a importância deste mercado, e entendendo
o stand-up comedy como um gênero que vem se popularizando no Brasil desde o
início do século XXI, o presente estudo tem como problema: Quais são os fatores
que influenciam, a partir da concepção da economia criativa, os negócios da
comédia stand-up no Estado do Rio Grande do Sul?
12

1.3 Objetivos

Os objetivos são apresentados na forma de objetivo geral e objetivos específi-


cos.

1.3.1 Objetivo geral

O objetivo geral do presente trabalho é, a partir da concepção da economia


criativa, analisar os fatores que influenciam os negócios da comédia stand-up no Es-
tado do Rio Grande do Sul.

1.3.2 Objetivos específicos

• Entender os aspectos da comédia stand-up vinculados à economia criativa;


• Compreender os fatores que envolvem os negócios da comédia;
• Identificar as razões pelas quais uma cena de comédia se cria e se estabe-
lece, no Rio Grande do Sul;
• Analisar os negócios da comédia stand-up nos Vales do Taquari e Rio
Pardo, a partir do caso Vale Uma Comédia.

1.4 Justificativa

O stand-up comedy, além de ser uma forma de entretenimento cultural base-


ado no humor, é também uma ramificação das artes cênicas com considerável poten-
cial econômico a ser explorado. Apresentado por uma única pessoa, sem a existência
de um personagem em si ou quaisquer cenários, ferramentas ou caracterizações, o
gênero vem ganhando espaço no Brasil e criando novas demandas e ofertas na eco-
nomia, seja de profissionais da comédia, como a construção ou transformação de es-
paços para a realização dos espetáculos e também do aspecto de produção e orga-
nização dos eventos.
Bendassolli et al. (2009) destacam que as indústrias criativas1 (e aqui se insere
o stand-up) vem crescendo e despertando interesse em pesquisadores da gestão,

1
Bendassolli et al. (2009) utilizam o termo indústrias criativas, que está atrelado ao conceito de econo-
mia criativa.
13

apesar da literatura disponível ainda ser um pouco dispersa e escassa. Compreender


como funciona o cenário da comédia stand-up traz um entendimento melhor e uma
base para o desenvolvimento de novas competências para os empreendedores e tra-
balhadores envolvidos nesse setor.
Além disso, na Universidade existem poucos trabalhos sobre essa temática,
também por ser um assunto novo na região ao tratarmos como um negócio. Ainda, é
de interesse do autor entender melhor a dinâmica da comédia atrelada aos negócios,
considerando a formação em Administração e também ao iniciar como ator dentro
deste mercado, como comediante stand-up e, certas vezes, realizando o trabalho de
produção, além da familiaridade do pesquisador com o assunto, por ser inclusive um
consumidor, tanto pela internet como presencialmente em bares, clubes e teatros.
Há interesse também do autor em poder auxiliar o crescimento da comédia
stand-up brasileira, principalmente no Rio Grande do Sul e na região dos Vales do
Taquari e Rio Pardo, podendo proporcionar ganhos tangíveis e intangíveis para a co-
munidade, seja através de geração de renda como também da propagação do gênero
como cultura.
14

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico abaixo apresenta, através dos subcapítulos deste capítulo,


a revisão bibliográfica necessária para atender aos objetivos da pesquisa, bem como
contextualizar a discussão da economia criativa, a presença do stand-up comedy e os
fatores considerados relevantes nos negócios da comédia.
Assim, inicialmente são destacados os aspectos da economia criativa e seu
contexto, considerando que a comédia stand up é parte dessa grande área da econo-
mia.
Na sequência, são discutidas as concepções e a história da comédia, e, a ca-
tegorização do stand-up comedy e o contexto brasileiro, trazendo ao trabalho o debate
histórico e teórico sobre o tema proposto.
O subcapítulo que dá conta de atender ao proposto no objetivo geral deste
trabalho se consolida na discussão dos negócios da comédia e a identificação dos
fatores relevantes para que tais negócios prosperem. Tais fatores foram sistematiza-
dos em quatro dimensões distintas: agentes envolvidos; negócios propriamente ditos;
econômica; e, social e cultural.

2.1 Compreendendo a economia criativa

Na atualidade existem inúmeras concepções teóricas que aproximam a ciência


econômica às novas economias. São discussões que qualificam novos setores, novas
modelagens de negócios e outras dimensões econômicas. Uma dessas concepções
é da economia criativa.
15

Para Howkins (2013, p. 13) economia “é convencionalmente definida como um


sistema para a produção, troca e consumo de bens e serviços”. O autor entende que
a economia está inserida em um contexto onde as necessidades dos indivíduos e da
sociedade (que podem ser infinitas) tem ligação direta com os recursos disponíveis
(que são finitos), ou seja, é uma forma de destinar os recursos escassos para suprir
as demandas que possam surgir.
Já a criatividade “é a capacidade de gerar algo novo. Significa a produção por
parte de uma ou mais pessoas, de ideias e invenções que são pessoais, originais e
significativas” (HOWKINS, 2013, p. 13). Conforme entendimento do autor (2013), a
criatividade por si só não se caracteriza como uma atividade econômica, porém, a
partir do momento em que esta gera uma ideia com potencial econômico, seja através
de um produto ou serviço comercializável, é possível caracterizá-la como tal. E é atra-
vés dessa habilidade que negócios surgem, demandas são supridas e novos cargos
de trabalho são criados.
A economia criativa engloba todo tipo de negócio que tem como base a criati-
vidade. Segundo Vasconcelos (2008), o conceito de Economia Criativa tem como ori-
gem o termo indústrias criativas, o qual foi inspirado em um projeto australiano cha-
mado Creative Nations, do ano de 1994. De maneira sucinta, o objetivo do programa
era estimular o investimento nas artes como um todo, e reconhecer, através de políti-
cas públicas, a importância cultural dos povos nativos australianos na construção da
identidade do país.
De acordo com Reis (2008), ainda na década de 1990, no Reino Unido, moti-
vado por uma concorrência globalizada, o governo realizou um estudo com o objetivo
de identificar quais eram suas atividades criativas, descobrir as principais tendências
de mercado e quais as vantagens competitivas que possuíam no âmbito cultural. A
iniciativa, realizada em 1997, sob a tutela de Chris Smith, na época Secretário de
Cultura do Reino Unido, identificou treze setores com potencial econômico. Já para
Howkins (2013), existem quinze setores vinculados à economia criativa, os quais são:
propaganda, arquitetura, artes, artesanato, design, design de moda, cinema, música,
artes cênicas, editorial, pesquisa e desenvolvimento, software, brinquedos e jogos, TV
e rádio, e vídeo-games. A diferença entre as categorizações é que para o governo
britânico as categorias brinquedos e jogos e pesquisa e desenvolvimento não entra-
ram na lista, o que causou discussões sobre a ação de excluir este último item da
relação de setores.
16

Relevante destacar que Reis (2008) enfatiza que a compreensão da economia


criativa não pode ser limitada a uma mera classificação de setores na economia que
se utilizam da criatividade como base para o desenvolvimento de produtos e serviços,
mas sim por diversos fatores globais, dando à criatividade o poder de transformação:

A novidade reside no reconhecimento de que o contexto formado pela con-


vergência de tecnologias, a globalização e a insatisfação com o atual quadro
socioeconômico mundial atribui à criatividade o papel de motivar e embasar
novos modelos de negócios, processos organizacionais e uma arquitetura
institucional que galvaniza setores e agentes econômicos e sociais. (REIS,
2008, p. 13).

Na perspectiva de Amado (2019), a economia criativa tem como ideia central


abranger negócios, processos ou mesmo ideias que utilizam-se da criatividade como
pilar para o desenvolvimento de um produto. Consumir um produto criativo está tão
próximo que muitos não se dão conta: “uma música é um exemplo de economia cria-
tiva, assim como o Carnaval do Rio de Janeiro, o Copan de Niemeyer e uma produção
audiovisual, como Tropa de Elite” (AMADO, 2019, texto digital).
Conforme a pesquisa da FIRJAN intitulada “Mapeamento da Indústria Criativa
no Brasil”, somente no ano de 2017 a indústria criativa movimentou R$171,5 bilhões
de reais - o que representa cerca de 2,6% do PIB brasileiro, contando com um expres-
sivo número de trabalhadores, na faixa de 837 mil empregos formais.
Considerando os aspectos apresentados, a proposição do presente trabalho se
enquadra como um negócio vinculado à economia criativa. A comédia se utiliza de
processos criativos para acontecer, por isso, é arte e arte faz parte da economia cria-
tiva.
Na sequência são apresentadas as concepções e uma breve história da comé-
dia ao longo do tempo, para, na sequência, discutirmos a comédia stand-up e os ne-
gócios da comédia.

2.2 Concepções e a história da comédia

Uma das definições de comédia, de acordo com o dicionário Dicio é “Peça te-
atral cujo objetivo é entreter ou divertir, normalmente através da abordagem cômica
das situações, dos hábitos e de seus participantes ou personagens.” Muito além de
um substantivo feminino, a comédia faz parte da história do ser humano, e tem como
17

uma reação básica em quem a consome: o riso. Minois (2003, p. 445) expõe que rir
sobre fatos cotidianos não é algo novo, além de ser benéfico para quem o faz:

É provável que riamos hoje como se ria há três ou quatro mil anos, diante de
pequenos incidentes ridículos da vida cotidiana. Nesse caso, há grande per-
manência do riso, como expressão de uma alegria simples que é fonte de
benefícios para o corpo e para o espírito. Hoje, como outrora, o riso tem uma
multidão de significações possíveis, da zombaria sarcástica que exclui à com-
plexidade amigável que censura; ele pode ser bom, mau ou neutro. (MINOIS,
2003, p. 445).

Segundo Minois (2003), foi na Grécia Antiga que surgiu o teatro, muito por
conta do culto à Dionísio, dito como deus do vinho, das festas e da fertilidade. Essas
celebrações, baseadas na mitologia grega, deram origem à tragédia e a comédia. A
região Ática foi o local onde muitas dessas festividades ocorriam, enquanto as tragé-
dias se referiam a heróis e deuses, que já tinham seu caminho traçado e não tinham
como evitar por vezes o sofrimento, as comédias eram baseadas em pessoas comuns.
Conforme Drumond (2009), tanto para a tragédia como para a comédia haviam imita-
ções e referências: a primeira para os homens virtuosos, superiores; e a segunda,
para homens viciosos, inferiores. Um dos símbolos mais populares que representam
a tragédia e a comédia são as duas máscaras iguais, porém com expressões distintas:

Figura 1 - Máscaras da tragédia e da comédia

Fonte: INKBOX (2021).


18

Minois (2003) cita que na comédia eram realizadas procissões 2, no grego cha-
madas de “kômos”, onde os participantes saíam pelas ruas da cidade, com fantasias,
interagindo com os moradores e demais pessoas que estavam presentes, causando
o riso e a alegria. “É da kômodia que vem a comédia, os kômodoi eram os comedian-
tes” (MINOIS, 2003, p. 25). Além disso, o autor ressalta a presença de referências
fálicas nesses eventos, fazendo referência a fertilidade.
Conforme Lins (2020), o stand-up comedy tem uma base advinda dos MC's
(Mestres de Cerimônias) surgidos no século XVIII, que contavam piadas curtas e fa-
ziam intromissões rápidas entre as apresentações circenses. A função de MC se tor-
nou mais popular a partir dos séculos XIX e XX, seja em circos ou outras formas de
entretenimento como boates e cabarés. Os MC's realizavam uma importante função
nos espetáculos: manter a atenção e interesse do público do início ao fim, com rápidas
transições. Ainda de acordo com Lins (2020), foi na década de 1950 que o stand-up
teve uma mudança no estilo e duração da apresentação, trazendo textos mais elabo-
rados com visões da vida da época, e depois, na década de 1970 uma grande onda
de popularização nos Estados Unidos, com o surgimento de nomes como Bill Cosby,
George Carlin e Richard Pryor.
Da Grécia Antiga até a Idade Contemporânea a comédia evoluiu e se transfor-
mou junto com a sociedade. Atualmente, no século XXI, a comédia é consumida mun-
dialmente através da indústria do entretenimento, fazendo parte da economia criativa.
Diversos meios de propagação desta arte surgiram, seja desde a invenção da prensa
de Gutenberg3 até o advento da internet, através de mídias sociais. É possível consu-
mir comédia através de jornais, revistas, rádio, cinema, filmes, seriados, podcasts,
vídeos na internet e ainda, o método tradicional do palco, seja num bar, num salão ou
no teatro.
Os meios em que a comédia stand-up se propaga podem ser diversos, inclu-
sive, muitos comediantes hoje ganham projeção local, estadual, nacional e até inter-
nacional através de redes sociais como o Instagram, TikTok, Facebook e também o

2
Segundo Minois (2003, p. 25), as referidas procissões eram eventos festivos, similares a uma passe-
ata, cultuando Dionísio: “Tudo isso aparece ainda mais nas dionisíacas dos campos, que aconteciam
em dezembro nas comunidades rurais da Ática. Os camponeses, pintados ou mascarados, saíam em
procissão cantando refrões zombeteiros ou obscenos e carregando um enorme phallos, símbolo da
fecundidade.”
3
De acordo com DeFleur e Ball-Rokeach (1993) a prensa de Gutenberg foi criada no século XV, por
Johannes Gutenberg, que consistia em uma máquina de impressão feita com tipos móveis, impri-
mindo textos e livros em tempo recorde para a época, pois até então, todos escritos eram realizados
à mão.
19

site de vídeos YouTube. Além da internet, os comediantes stand-up utilizam-se da


visibilidade de podcasts e programas de rádio para divulgarem suas apresentações.
Estes espetáculos comumente são realizados em teatros, clubes de comédia - que é
um local exclusivo para apresentações de humor e que possuem uma infraestrutura
de bar ou pub, auditórios, e os próprios bares e pubs.
Contextualizada a história da comédia e compreendido o surgimento e desen-
volvimento do stand-up comedy, na sequência serão tratados conceitos do stand-up
e a conjuntura atual da arte no Brasil, entendendo o surgimento e o desenvolvimento
de espaços voltados para a realização de espetáculos de comédia

2.3 A categorização do stand-up e o contexto brasileiro

Stand-up comedy é um categoria dentro da comédia, caracterizado como uma


apresentação humorística realizada por um comediante, geralmente de pé (justifi-
cando a expressão da língua inglesa stand-up), sem a utilização de fantasias, aces-
sórios ou quaisquer outros adereços ou recursos teatrais, justificando inclusive o fato
de muitos comediantes caracterizarem o stand-up como “humor de cara limpa” (MEI-
RELLES, 2010).
Andrade (2017), ao categorizar os gêneros do humor, classifica o stand-up co-
medy como entretenimento, juntamente com a charge, o teatro de improviso, a es-
quete e o cartum. A autora cita que, com o avanço da tecnologia, principalmente a
internet, a forma de entregar o conteúdo humorístico vem passando por transforma-
ções. Um exemplo pode ser uma peça visual que não seja veiculada apenas de forma
impressa, mas também digital, através da internet.
Andrade (2017, p. 44) expõe que o stand-up também passa por esse processo
de convergência da tecnologia, além de utilizar os já espaços clássicos das apresen-
tações. Nota-se que inúmeros artistas norte-americanos iniciaram suas carreiras atra-
vés da comédia em pé:

No exterior, o comediante que apresenta o stand up é um profissional respei-


tado. Vários atores hollywoodianos como: Robin Williams, Eddie Murphy, Jim
Carrey, Steven Martin, Whoopi Goldberg, entre outros, iniciaram sua carreira
artística fazendo esse tipo de apresentação. Nas últimas décadas, esse gê-
nero começou a fazer parte das apresentações em programas televisivos,
internet, teatro, bares e casas de shows. Para fazer a apresentação, o come-
diante deve estar de ‘cara limpa’, valendo-se apenas de um microfone, sem
nenhum outro recurso de cenário (ANDRADE, 2017, p. 44).
20

A comédia stand-up pode trazer em seus conteúdos críticas sobre a sociedade,


podendo utilizar da licença poética, como cita Andrade (2017, p. 53): “O simples fato
de falar sobre algo que, muitas vezes, não é permitido socialmente (e, às vezes, de-
cretado por lei, como é o caso do preconceito racial), faz com que as pessoas se
reconheçam em uma determinada situação e se “libertem” no riso.” Aqui é importante
deixar claro que se trata também de expor modos de ver alguns assuntos que a mai-
oria das pessoas não estão habituadas: “[...] o comediante desperta na plateia emo-
ções contidas e libera, de certa forma, o que estava reprimido. Dessa forma, o indiví-
duo se sente aliviado e elimina o sentimento de culpa.” (ANDRADE, 2017, p. 53).
Próximo dessa concepção, Lins (2020) compreende que o stand-up comedy
está inserido no contexto da comédia, sendo uma vertente dela. De acordo com o
autor (2020), para uma apresentação de humor poder ser considerada stand-up ela
deve ter: piadas autorais e/ou originais; manter a persona em todo o show, ou seja,
ser fiel e coerente às características apresentadas (se for casado em uma piada, não
pode ser solteiro na seguinte, existe uma construção de uma ideia de persona); e por
fim, o riso é o objetivo final de toda piada, é preciso que haja graça.
Assim como Andrade (2017) cita o uso da crítica por parte do comediante, Lins
(2020) reforça esta ideia, complementando que o artista precisa ter criticidade: “O hu-
morista deve ser capaz de observar a realidade e formular piadas, sejam elas sobre
pegar um ônibus ou desvios de verba do governo” (LINS, 2020, p. 26). Outro fator
compreendido por Lins (2020) é a autenticidade, pois para a apresentação ter sucesso
é necessário que o comediante transpareça verdade e honestidade em seu espetá-
culo.
Compreendendo a veiculação e o seu conteúdo, é necessário entender tam-
bém o cenário brasileiro do stand-up. Em março de 2010 foi inaugurado em Curitiba o
primeiro comedy club do Brasil, o Curitiba Comedy Club. O negócio nasceu com a
proposta de, além de trazer os maiores nomes da comédia nacional, poder dar espaço
e estimular o desenvolvimento de novos comediantes (CURITIBA COMEDY CLUB,
2021, texto digital).
Beduhn (2021, texto digital) atribui aos grupos de comédia uma parcela de res-
ponsabilidade na popularização do gênero stand-up “os grupos de comédia também
tiveram uma grande importância para esse reconhecimento dessa modalidade, como,
por exemplo, Clube da Comédia Stand Up, Comédia em Pé, Comédia ao vivo e assim
por diante”. Além disso, a autora cita que a internet auxiliou muito a divulgação dos
21

artistas hoje já bem conhecidos como Whindersson Nunes, Thiago Ventura e Afonso
Padilha, que colocam trechos de suas apresentações em plataformas on-line, angari-
ando novos seguidores e divulgando e estimulando o consumo de stand-up comedy.
(BEDUHN, 2021, texto digital).
No Rio Grande do Sul, o primeiro empreendimento voltado especialmente para
a comédia stand-up foi o Buteco Comedy Bar. O bar de comédia fica localizado na
cidade de Canoas e foi inaugurado em 2017, e conforme o próprio local, variados
nomes com projeção nacional já realizaram suas apresentações, como Afonso Padi-
lha, Rodrigo Marques, Patrick Maia e Cris Pereira (BUTECO COMEDY, 2021, texto
digital). Já em Porto Alegre, há o POA Comedy Club, que, segundo o próprio clube, é
“um lugar pra encontrar amigos, dar risadas e comer bem.” (POA COMEDY CLUB,
2021, texto digital). O empreendimento surgiu em 2019 e é o principal espaço de co-
média stand-up da capital gaúcha, e dentre os cinco sócios proprietários, três deles
são comediantes, Afonso Padilha, Thiago Ventura e Nando Viana. O espaço surgiu
como uma necessidade dos próprios comediantes, que não encontravam um local
para realizar suas apresentações no estilo comedy club na capital do estado (POA
COMEDY CLUB, 2021, texto digital).
É importante ressaltar que nas regiões do Vale do Taquari e Rio Pardo, interior
do Rio Grande do Sul e locais que serão objetos de estudo neste trabalho, não há
empreendimentos voltados especificamente para a realização de comédia stand-up,
e por isso, os eventos que já ocorrem são realizados em bares e pubs já existentes.
Conhecidos os conceitos e as categorizações que envolvem a comédia, na se-
quência são discutidos os negócios vinculados à comédia e os fatores relevantes em
tais negócios.

2.4 Os negócios da comédia

Ao analisar a comédia como um negócio, é importante compreender a catego-


rização da comédia dentro da economia criativa. As artes cênicas, juntamente da in-
dústria do vídeo, música, TV e rádio, podem ser classificadas como indústrias centrais,
aquelas que estão diretamente ligadas nos processos de criar, fabricar, atuar, trans-
mitir e distribuir suas obras, protegidas pelos direitos autorais (CECILIO, 2016).
Pacheco (2016) afirma que foi a partir dos anos 2000, através de aspectos so-
ciais, culturais e econômicos que o Brasil passou a conceituar a economia criativa
22

como uma atividade econômica que tem como fundamento o uso da criatividade para
produzir bens e serviços.
Silva, Paiva e Lima (2019) afirmam que o cenário do humor tem uma parcela
de destaque dentro da indústria criativa. Para os autores, “a comédia tem alcançado
espaços distintos, como: cinema, teatro, televisão, internet, clubes e escolas de for-
mação de atores.” (SILVA; PAIVA; LIMA; 2019, p. 296). Os autores (2019) destacam
também que as apresentações de comédia vêm trazendo resultado financeiro, anga-
riando altos investimentos e consolidando um produto no mercado (SILVA; PAIVA;
LIMA; 2019).
Este cenário nos faz pensar sobre quais fatores são relevantes na compreen-
são da comédia stand-up como um negócio, seja da perspectiva do comediante, do
produtor, do dono do estabelecimento onde os eventos ocorrem, do consumidor e
também do cenário econômico no qual os negócios estão inseridos. A quantidade de
profissionais realizando comédia stand-up no país pode ser um aspecto a se relevar,
pois, de acordo com Esposte (2020), em matéria veiculada no Jornal da Paraíba, o
cenário brasileiro de comédia stand-up tem cerca de 30 artistas que realizam cerca
de até 50 apresentações mensais, com uma média de público que fica entre 200 e
1000 pessoas por espetáculo. Os números deste mercado ao se tratar de faturamento
anual ficam na casa dos 180 milhões de reais, considerando toda a cadeia produtiva,
incluindo empresários, produtores e demais agentes envolvidos.
Esposte (2020) ainda expõe, através de entrevista com o produtor do evento
Comedy Con, André Binnios, o crescimento do consumo de comédia stand-up, citando
que o boom do setor no país vem já de alguns anos, e que o período pós-pandemia
era esperado, naquele momento, como uma alavanca para retomar a cena da comé-
dia de forma geral.
Silva, Paiva e Lima (2019) destacam que cabe ao humorista a responsabilidade
de reconhecer oportunidades empreendedoras, isto é, avistar novos negócios e que
possam performar profissionalmente para torná-los um sucesso. É relevante citar tam-
bém que características empreendedoras não cabem somente ao artista, mas tam-
bém podem ser bem aproveitadas pelos empresários, sejam eles produtores de even-
tos humorísticos, como também donos de estabelecimentos, e aqui, os autores (2019)
citam competências:
23

Essas pesquisas resultaram em modelos teóricos de análise, dentre os quais


salienta-se o trabalho de McClelland (1973), o qual, baseado na ideia de que
o comportamento empreendedor pode ser construído e estimulado por varia-
das fontes, alocou 10 competências fundamentais para os empreendedores
em três grupos de atividades: de realização (que estão contidas as compe-
tências de busca de oportunidade e iniciativa, correr riscos calculados, exi-
gência de qualidade e eficiência, persistência e comprometimento), de plane-
jamento (agrupamento que envolve as competências de busca de informa-
ções, estabelecimento de metas e planejamento e monitoramento sistemáti-
cos) e de poder (sendo necessário o desenvolvimento das competências de
persuasão, rede de contatos, independência e autoconfiança). (SILVA;
PAIVA; LIMA; 2019, p. 300).

Não somente características empreendedoras auxiliam neste processo de de-


senvolvimento do mercado da comédia, mas também a própria economia assume a
importância da dimensão cultural na geração de renda e também empregos, sejam
eles diretos ou indiretos (BRASILEIRO FILHO, 2010).
Assim, por opção do autor, a análise teórica e posteriormente, a análise da
pesquisa empírica, dividiu os fatores em quatro dimensões de análise: a primeira delas
é a dimensão dos agentes envolvidos, sendo estes comediantes e produtores; a se-
gunda dimensão é do próprio negócio; a terceira, trata-se da dimensão do cenário
econômico; e, a quarta é a dimensão cultural e social. Para cada dimensão são apre-
sentados fatores relevantes diversos, conforme explicitado nos próximos capítulos.

2.4.1 Fatores relevantes em um negócio criativo

Assim como nos negócios tradicionais, existem fatores que podem influenciar
um negócio criativo. No presente trabalho são destacados quesitos específicos dos
negócios criativos, considerando as dimensões apresentadas.
Vale aqui destacar que tais fatores foram determinados pelo autor a partir do
aprofundamento teórico no tema proposto e foram sistematizados em dimensões para
melhor compreensão e análise da pesquisa. Os detalhes da metodologia abordada
são apresentados em capítulo específico.
A primeira dimensão é a dos agentes envolvidos, que tem como fatores: criati-
vidade, autoconfiança, persistência, flexibilidade de relacionamento e negociação, ati-
tude empreendedora, conhecimento do negócio, realização pessoal e formas de
aprendizado.
24

Já a segunda dimensão a ser analisada se refere ao negócio e possui como


fatores: A indústria cultural, o ecossistema, as redes de parceria e a localização geo-
gráfica.
A dimensão econômica é a terceira a ser discutida, tendo como fatores: a ge-
ração de emprego e renda, vinculada à sustentabilidade do negócio; às políticas pú-
blicas de fomento aos negócios criativos; e à demanda de mercado.
Por fim, a quarta dimensão trata de questões culturais e sociais, tendo três
fatores discutidos no presente trabalho: diversidade cultural, disseminação dos produ-
tos culturais, e, alterações nas práticas de consumo dos produtos culturais.

2.4.1.1 Os fatores que influenciam os negócios de stand-up comedy a partir da


dimensão agentes envolvidos

Ao se tratar de características e competências que os agentes envolvidos em


um negócio criativo devem ter, é possível destacar certos atributos que, segundo os
autores, estão presentes no indivíduo, e que nessa pesquisa é analisado se também
são aplicáveis aos agentes que estão vinculados a comédia, neste caso, o comediante
e o produtor de stand-up comedy.
A criatividade é intrínseca aos negócios criativos. Almeida e Teixeira (2016)
destacam que essa característica em um empreendedor pode auxiliar tanto na tomada
de decisão, como também na capacidade de identificar novas oportunidades para o
negócio. O empreendedor cultural tem, além da responsabilidade de criar algo novo e
rentável, o trabalho de utilizar-se da criatividade e da combinação de elementos com
base na arte para realizar seu empreendimento. Além disso, essa junção de aspectos
gera crescimento econômico e principalmente novas formas de trabalho, sendo elas
envolvidas com criação, produção e/ou distribuição de produtos e serviços que tem
como base a criatividade (ALMEIDA; TEIXEIRA, 2016; PEREIRA, 2021).
Segundo Santos e Nanni (2018) a Economia Criativa é sustentável por se ba-
sear em recursos inesgotáveis e renováveis, que são o conhecimento, a criatividade
e as ideias. Por conta disso, as indústrias criativas vêm demonstrando crescimento
alicerçadas na arte, publicidade, músicas, softwares, rádio, TV, entre outros. A criati-
vidade se torna uma base e um caminho para a inovação, pois é através dela que são
25

conectados dois fatores já citados anteriormente, o conhecimento e a ideia (SANTOS;


NANNI, 2018).
De acordo com Mendes (2019) os negócios criativos vêm fazendo parte de uma
transformação no cenário socioeconômico do mundo todo, oportunizando uma forma
de trabalho com base na informação, versatilidade, aberto à cooperação e descentra-
lização, muito por conta do avanço tecnológico, o que traz a queda de várias barreiras,
como a de espaço e tempo. A criatividade é a chave para o surgimento de ideias com
considerável potencial econômico, gerando novas ligações entre os atores para solu-
cionar os problemas (MENDES, 2019).
Outros aspectos como a criatividade podem fazer parte do comportamento de
um empreendedor, como a predisposição para correr riscos, autoconfiança, persistên-
cia, tendência a ser flexível com o que é diferente ou novo, atitude, podendo se po-
tencializar ao estarem em um ambiente de apoio à criatividade, facilitando a criação
de ideias (SOUSA; NUNES; MONTEIRO, 2015).
A autoconfiança, para Venturim (2019), é um fator constantemente presente
em empreendedores, pois essa característica é vinculada à leitura do próprio indivíduo
sobre si, sabendo reconhecer seus pontos fortes, habilidades e capacidade de iniciar
e gerir um novo negócio. O autor (2019) cita também que a autoconfiança gera uma
propensão do empreendedor em inovar em um produto ou serviço, ou seja, há uma
ligação direta aos produtos criativos que tem como base a criação de algo novo.
Além de ter confiança no produto ou serviço que vai oferecer ao público, para
Greatti e Senhorini (2000) a persistência é fundamental para o sucesso de um negó-
cio, cabendo ao agente empreendedor tomar atitudes perante os problemas, man-
tendo suas estratégias ou ainda alterando-as conforme os desafios que se apresen-
tarem. As autoras (2000) também destacam que é necessário, em caso de falhas, ter
a capacidade de fazer uma leitura do ocorrido, compreendendo o que aconteceu como
não planejado e aprender com os erros.
A flexibilidade de relacionamento e negociação é presença constante como
fator de sucesso para um empreendedor, e Greatti e Senhorini (2000), apropriam-se
da temática para também desmistificar que o agente empreendedor é alguém que age
26

de forma solitária. Empreendedores bemmsucedidos são capazes de criar relaciona-


mentos com alicerces bem fundamentados com seus stakeholders4, sejam eles par-
ceiros de negócios ou sócios de um empreendimento, fornecedores, artistas, clientes
e demais agentes que têm contato com o negócio (GREATTI; SENHORINI, 2000).
Conforme Pereira (2021) o relacionamento entre as partes envolvidas, se for
construído de forma positiva, tem potencial para trazer melhoria nos resultados das
atividades - sejam aqui produtos ou serviços. Também, cabe ao agente empreendedor
possuir valências na parte comunicacional, pois terá que frequentemente negociar,
realizar acordos, influenciar pessoas para que compreendam e comprem a sua ideia,
criando laços comerciais e possíveis colaborações e parcerias futuras (GREATTI; SE-
NHORINI, 2000).
Outro aspecto relevante é a atitude empreendedora, e nesse contexto Schae-
fer e Minello (2017) entendem que o empreendedor baseia suas ações num conjunto
de ideias, o que pode-se chamar de mentalidade empreendedora. Esta mentalidade
é formada por crenças, valores e experiências pessoais. A forma de pensar molda as
ações dos indivíduos, e o empreendedor utiliza como fundamento a visão de encontrar
oportunidades, explorar novas ideias, tomar decisões e principalmente atitudes em
relação ao ambiente que o cerca, apesar das incertezas e inseguranças que possam
estar presentes (SCHAEFER; MINELLO, 2017).
Semelhante à mentalidade e ainda baseado na atitude empreendedora, outro
fator importante no que tange ao agente envolvido é possuir visão empreendedora. O
SEBRAE (2020, texto digital) classifica este aspecto como uma capacidade de identi-
ficar oportunidades:

Trata-se de enxergar além do que os outros enxergam, encontrando as me-


lhores oportunidades para se destacar. Muitos observam o mercado, mas não
vislumbram essas oportunidades. Somente quem tem uma visão empreen-
dedora consegue ver potencial em espaços onde os outros acreditam esta-
rem saturados.

4
De acordo com Leonardo Pereira, economista do portal Dicionário Financeiro, “Stakeholder é um
termo da língua inglesa definido como ‘grupo de interesse' ou ‘parte interessada’. É a união das pala-
vras 'stake' (participação) e 'holder' (detentor). Fazem parte deste grupo pessoas e instituições que
possuem alguma relação com os processos e resultados da empresa.” (2022, texto digital).
27

Além de ter a habilidade de enxergar as chances para se destacar, o SEBRAE


(2020) reitera algumas ações que podem ser realizadas para desenvolver a visão em-
preendedora, como estudar o mercado em que está inserido, realizar networking com
outros agentes envolvidos e aprender com eles, tudo para estar mais ambientado à
categoria de produtos ou serviços que esteja trabalhando. Estes aspectos fortalecem
a visão do negócio como um todo, trazendo para a discussão o próximo fator a ser
pontuado: o conhecimento do negócio.
Um negócio de sucesso pode ter como alicerce o conhecimento do empreen-
dedor na área em que atua, pois, para Vieira (1993), esta sabedoria garante uma ca-
pacidade de atuação plena no mercado e também o potencial de analisar, repetir ou
mesmo ensinar aos colaboradores que dirigem as ações que trazem resultados. O
entendimento de uma área pode ser dividido em teoria e prática, tendo o primeiro
como base a educação formal e o segundo sendo fruto da experiência profissional e
adaptações e aperfeiçoamento de situações rotineiras (VIEIRA, 1993).
O mercado dos produtos criativos, em especial o de stand-up comedy, está em
constante evolução, colocando à prova do público novas ideias. Como já citado ante-
riormente pelo SEBRAE (2020), o networking se faz presente em um processo muito
importante na construção da reputação de um produto criativo, o do aprendizado dos
agentes envolvidos.
Takahashi e Zampier (2011) apresentam o empreendedor como um indivíduo
que possui características comportamentais alinhadas a criação de ideias, uma leitura
sistêmica do ambiente mercadológico e principalmente o reconhecimento de oportu-
nidades de negócios. Deste modo, tem-se importância salientar que o processo de
aprendizagem de um empreendedor é, além de ser um processo contínuo, baseado
nas vivências práticas onde o indivíduo, através de atitudes, tem resultados satisfató-
rios e insatisfatórios, também tendo como fonte de conhecimento a observação de
outros semelhantes que atuam no mercado (TAKAHASHI; ZAMPIER, 2011). Ou seja,
uma aprendizagem prática, experimental e compartilhada com demais agentes afins.
Para Greatti e Senhorini (2000), o agente empreendedor é otimista e acredita
nos próprios sonhos e visões, sendo capaz de iniciar e gerir um novo empreendi-
mento, experienciando-o, descobrindo potencialidades e podendo também alinhar
tudo isso ao seu propósito de vida. Lima et al. (2019) compreendem que não são
apenas fatores financeiros que servem como satisfação no contexto dos trabalhadores
28

inseridos na Economia Criativa, mas também a satisfação pessoal pelo trabalho rea-
lizado, o reconhecimento, o prestígio e a realização das próprias capacidades e habi-
lidades.
Portanto, o fator de realização pessoal é relevante nos negócios da comédia
stand-up, pois a comédia é uma forma de arte, e sendo arte, faz parte de um conjunto
de benefícios que os artistas experienciam, indo além da questão financeira. Expostos
os fatores vinculados aos agentes envolvidos, na sequência são tratados os fatores
vinculados à dimensão do negócio.

2.4.1.2 Os fatores que influenciam os negócios de stand-up comedy a partir da


dimensão do negócio

Como segunda dimensão discutida no presente trabalho, temos a que se refere


ao negócio, nos quais são destacados como fatores de influência a indústria cultural,
o ecossistema, as redes de parceria e a localização geográfica.
Para Hanson (2012) a indústria cultural, apesar de ser dividida em categorias
(como a classificação de Howkins, 2013), se funde e conversa entre si. Como exem-
plo, a indústria do audiovisual que abrange a TV, o cinema e o vídeo não estão dis-
tantes dos espetáculos de palco, que podem, além de compartilhar os atores deste
mercado, auxiliar na divulgação entre si. Inserido no contexto audiovisual, mas tam-
bém abrangendo o espetáculo de palco, pode-se perceber a convergência e o alcance
destes aspectos com um caso específico do comediante stand-up brasileiro, Thiago
Ventura, que em março de 2022 realizou uma turnê em Portugal. A divulgação, tanto
do produto artístico (que aqui é o seu show solo 5 de comédia stand-up) em forma de
vídeos, como da venda e divulgação dos eventos na Europa são feitas diretamente
pelo artista na internet.
Esta convergência de um produto cultural em diversos meios desta indústria
expõe também os laços compartilhados das artes cênicas (onde a comédia stand-up
se insere) com demais ramificações, como cita UNCTAD (2010, p. 141): “A indústria
das artes cênicas é uma importante indústria criativa, devido particularmente à sua

5
Show solo é comumente conhecido no universo do stand-up comedy como uma apresentação indivi-
dual de um comediante que já está em um nível avançado, capaz de realizar um show de pelo menos
uma hora, com uma estrutura pensada especificamente para aquele espetáculo. Em plataformas de
streaming se encontram nomeados como especiais de comédia.
29

interação com outras atividades criativas, como a música, trajes e radiodifusão”. Isso
faz com que haja uma convergência entre as atividades e um auxílio na divulgação e
propagação desta arte, e como em casos práticos já foi possível visualizar o programa
da Rádio Atlântida, Pretinho Básico, sair dos estúdios para subir ao palco dos teatros
para realizar apresentações de humor.
De acordo com Limeira (2008) os profissionais das artes e da cultura necessi-
tam de um ecossistema (ou na linguagem da comédia stand-up, uma cena) na qual
possam se desenvolver, baseado em empreendimentos e parcerias. O ecossistema
contribui para o desenvolvimento do cenário como um todo, abrangendo tanto os ar-
tistas como os demais agentes envolvidos, como diretores, produtores, proprietários
de empreendimentos e demais responsáveis por espaços culturais.
Limeira (2008) ainda compreende a cadeia produtiva dos empreendimentos
culturais em dimensões distintas, sendo a primeira referente a autonomia dos traba-
lhadores criativos, onde realizam de forma individual, tanto funções criativas como
gerenciais, porém, integrados em uma rede de parceiros. Já a segunda, abrange tra-
balhadores alocados de forma pulverizada em pequenos empreendimentos que tem
como foco a criação, produção e distribuição de produtos culturais, porém, comparti-
lhando uma mesma característica que a primeira: a formação de redes de parcerias.
“A maioria dos grupos culturais participam de redes, formais ou informais, ou seja,
visitam feiras, festivais e encontros, conversam com seus pares pessoalmente ou atra-
vés da Internet” (Limeira, p. 10, 2008). Ou seja, o networking, já destacado como que-
sito no processo de aprendizagem, facilita muito o contato entre os agentes envolvidos
e contribui para a formação das redes de parceria.
Por fim, de acordo com a UNCTAD (2010), um fator relevante na organização
da economia criativa é o quesito referente à localização onde os agentes estão, tendo
em vista que os agentes envolvidos se organizam e se aproximam de forma geográ-
fica para obterem vantagens e crescimento conjunto. Esta proximidade proporciona o
compartilhamento de conhecimento e de experiências, podendo inclusive propiciar
uma expansão do mercado, aumentando a produção e o consumo, de forma a tam-
bém desenvolver novas tendências e promover a recontratação de colaboradores
neste circuito (UNCTAD, 2010).
É válido ressaltar que os agentes que não estão próximos, ou até mesmo iso-
lados destes locais, podem não obter o mesmo desenvolvimento, justamente por não
estarem participando desta troca como um todo.
30

Tendo destacado os fatores influenciadores no que se diz respeito ao negócio,


na sequência apresenta-se aspectos vinculados à dimensão econômica. Entende-se
tal dimensão de forma abrangente, considerando a demanda, ou seja, intenção de
consumo; a geração de emprego e renda vinculados aos negócios da comédia e as
políticas públicas voltadas para o setor, isto é, um fator visto a partir dos consumido-
res, outro visto a partir da empregabilidade e geração de renda no setor e outro da
influência do setor público nos negócios da comédia.

2.4.1.3 Os fatores que influenciam os negócios de stand-up comedy a partir da


dimensão econômica

De acordo com a UNCTAD (2010) a economia criativa vem crescendo também


por um fator econômico: o crescimento da demanda por produtos criativos. A tecno-
logia e o desenvolvimento econômico são os principais fatores apresentados no rela-
tório da UNCTAD. O primeiro se destaca pela própria evolução da tecnologia, ofere-
cendo produtos ou serviços mais modernos e com preços mais acessíveis conforme
este mercado cresce. Já o segundo tem relação ao aumento de renda dos consumi-
dores, principalmente nos países mais industrializados, possibilitando um maior con-
sumo de produtos e serviços criativos.
A economia criativa no Rio Grande do Sul, seja através de produtos ou servi-
ços, tem relevância quando se trata de geração de emprego e renda. De acordo com
o Departamento de Economia e Estatística (DEE, 2022), vinculado à Secretaria de
Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) do Governo do Rio Grande do Sul (RS),
em 2017 a economia criativa foi responsável por cerca de 4,1% dos trabalhadores do
Estado. O percentual representa, em números, aproximadamente 130 mil empregos
formais do segmento. As atividades profissionais baseadas na criatividade superam
inclusive os empregos do ramo calçadista, ficando próximo ao segmento da constru-
ção civil. O DEE afirma que apenas no Rio Grande do Sul, mais de 48 mil microem-
presas fazem parte desse ecossistema, que engloba segmentos da publicidade, ar-
quitetura, cultura, moda e artes visuais.
Ainda segundo o DEE, o estado do Rio Grande do Sul está em quarto lugar no
ranking brasileiro, tanto em empregos formais como nas empresas registradas. O De-
partamento de Economia e Estatística (DEE) cita que no Brasil quase duas milhões
de pessoas estão empregadas em áreas da Economia Criativa, e que os gaúchos
31

representam 6,5% desta população, perdendo apenas para São Paulo, Rio de Janeiro
e Minas Gerais. Os números no RS apresentam uma média maior em relação ao país,
sendo de 4,1% para empregos (onde a média brasileira é de 3,5%) e 6,6% para em-
presas (média no país sendo de 6,1%). Ainda, conforme Almeida e Teixeira (2016) os
empreendedores culturais possuem uma parcela no mérito da geração de ocupações
profissionais referentes às atividades criativas.
O relatório da UNCTAD (2010) afirma que determinadas atividades culturais
têm apoio financeiro advindo do Estado ou administrado por organizações sem fins
lucrativos, mas que há dificuldade em mensurar o impacto desses gastos, muito por
conta da falta de indicadores, e por vezes, se tratar de coisas subjetivas. Ainda assim,
vale ressaltar que dentro da indústria cultural há incentivos via políticas públicas,
através de subvenções ou benefícios, para manutenção de atividades que são prove-
nientes de processos de seleção de negócios, que cumprem determinadas exigên-
cias.
Para Hanson (2012) está clara a relevância econômica das atividades culturais
na geração de renda, empregos e tributos. Porém, o autor entende que há um consi-
derável potencial econômico a ser explorado, muito por conta das capacidades artís-
ticas do povo brasileiro, do seu vasto território e do próprio consumo de produtos cul-
turais. Ainda, Hanson (2012) compreende a importância e interesse do poder público
em fomentar a indústria cultural, porém destaca a dificuldade de mensurar o impacto
proveniente do recurso governamental.
Como última dimensão temos as questões culturais e sociais, sendo que são
compreendidos os fatores de diversidade cultural, disseminação dos produtos cultu-
rais, e, alterações nas práticas de consumo dos produtos culturais. Ou seja, nesse
contexto são tratadas as mudanças sociais na diversidade cultural da população em
geral, nas condições e formato de como os produtos culturais são ofertados para a
população, e como, a população acessa os produtos culturais e a comédia em geral.

2.4.1.4 Os fatores que influenciam os negócios de stand-up comedy a partir da


dimensão cultural/social

O fator cultural também está presente no crescimento da economia criativa.


UNCTAD (2010) apresenta novamente a tecnologia como elemento transformador
32

nos hábitos de consumo de produtos criativos. A expansão do acesso à internet, smar-


tphones, e a popularização das redes sociais e demais mídias digitais servem como
base desta transformação, trazendo o indivíduo não apenas como consumidor, mas
também produtor de conteúdos digitais. Esta combinação proporciona uma dissemi-
nação dos produtos culturais de forma mais fácil e faz com que as pessoas tenham
acesso a uma maior variedade de produtos e experiências culturais.
Ao tratar da criatividade e dos produtos criativos, analisando no presente tra-
balho uma ramificação das artes cênicas, o Relatório Mundial da UNESCO (2009)
ainda cita que os limites da arte diferem entre uma cultura e outra, expõem diferentes
pontos de vista das sociedades e relata que o mundo caminha em direção a uma
generalização das tradições artísticas, ao mesmo tempo em que dentro delas há uma
diversificação de abordagens.
Conforme Almeida e Teixeira (2016), em 2011 o então Ministério da Cultura do
Brasil destacava a potencialidade da expansão dos negócios criativos, elencando al-
guns fatores que necessitavam desenvolvimento, entre eles o estímulo à criação de
infraestrutura para produção e consumo de bens criativos, e educação para que os
indivíduos pudessem desenvolver capacidades referentes a criatividade, gerando
oportunidades para os agentes envolvidos poderem explorá-las e desenvolverem eco-
nomicamente. Para as autoras (2016) o desenvolvimento das atividades culturais vin-
culadas à criatividade propicia à população a possibilidade de desenvolver novos há-
bitos de consumo, ou seja, possibilitando alterações nas práticas de consumo dos
produtos culturais.
De acordo com o Relatório Mundial da UNESCO (2009) a diversidade cultural
é uma grande variedade de culturas, podendo identificá-las e diferenciá-las através
dos estudos dos grupos sociais, ainda que muitos deles estejam interconectados de-
vido à expansão da globalização, o aumento das migrações e o crescimento das ci-
dades, transformando o mundo em uma “aldeia global”. Estes fatores aproximam as
multiculturas, miscigenando-as e os indivíduos que nelas estão operam através de
uma variedade de códigos sociais.
Essa diversidade cultural possibilita o consumo de produtos e serviços varia-
dos, ou seja, possibilita que a comédia avance como uma opção de consumo para
diversos grupos sociais.
33

Em suma, o presente capítulo discorreu sobre os principais fatores que influen-


ciam negócios vinculados à economia criativa. Para tanto, são destacadas quatro di-
ferentes dimensões de análise e sistematizados fatores dentro de cada uma delas.
Nestas condições, na dimensão dos agentes envolvidos nos negócios da co-
média são analisados os fatores da criatividade, autoconfiança, persistência, flexibili-
dade de relacionamento e negociação, atitude empreendedora, conhecimento do ne-
gócio, realização pessoal e formas de aprendizado. Na dimensão do negócio são ana-
lisados os fatores da indústria cultural, o ecossistema, as redes de parceria e a locali-
zação geográfica. Já na dimensão econômica os fatores destacados são a geração
de emprego e renda, as políticas públicas e a demanda de mercado. E na quarta
dimensão, social e cultural, são tratados os fatores da diversidade cultural, a dissemi-
nação dos produtos culturais, e, as alterações nas práticas de consumo dos produtos
culturais.
O próximo capítulo discorre sobre os procedimentos metodológicos que emba-
sam o presente trabalho. Após o capítulo metodológico, o capítulo quatro se dedica a
fazer a análise empírica, baseada nas entrevistas semi estruturadas, e compatibiliza
tais análises com a discussão teórica trazida no presente capítulo.
34

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A finalidade deste capítulo é demonstrar a metodologia utilizada para a realiza-


ção do estudo, apresentando o tipo de pesquisa, coleta de dados, análise de dados e
as limitações da pesquisa.

3.1 Tipo de pesquisa

Neste capítulo são apresentados como foram obtidas as informações do traba-


lho e a forma como os dados foram tratados. Ou seja, essa pesquisa se caracteriza
como exploratória, qualitativa, que coletou dados através de pesquisas semi estrutu-
radas e analisou estes através de uma análise de conteúdo.

3.1.1 Quanto aos seus objetivos

De acordo com Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa exploratória possui pla-


nejamento flexível, o que permite o estudo do tema sob diversos ângulos e aspectos.
Em geral envolve levantamento bibliográfico, entrevistas e análises de exemplos que
facilitem a compreensão.
Com base no conceito descrito e nos objetivos estudados, a pesquisa deste
estudo se utiliza do método exploratório, no qual busca-se o maior número de infor-
mações sobre o assunto, tanto nas discussões teóricas como através de entrevistas
com pessoas inseridas no contexto estudado.
35

3.1.2 Natureza da abordagem

A natureza da pesquisa é qualitativa, na qual é essencial interpretar e dar sig-


nificado aos dados coletados, provenientes do ambiente e do objeto de estudo. (PRO-
DANOV; FREITAS, 2013).
Como pesquisa qualitativa, o trabalho se ateve à qualificação das informações
coletadas, tanto das referências teóricas apuradas como das entrevistas feitas com
os agentes envolvidos com negócios da comédia.

3.1.3 Procedimentos técnicos

Aqui é apresentado o modo de obtenção dos dados necessários para a elabo-


ração do estudo, sendo eles: pesquisa bibliográfica e documental. Segundo Gil (2009),
a pesquisa bibliográfica utiliza materiais e outras pesquisas como fontes. No presente
estudo foram artigos, livros e textos de fontes secundárias, inclusive de base de dados
da internet.
No caso de pesquisa documental, foram utilizados documentos que exemplifi-
cam inserções e informações de comediantes, produtores e demais agentes envolvi-
dos nos negócios da comédia.

3.2 Plano de coleta e análise de dados

Os dados foram coletados através de entrevistas semi estruturadas, com pes-


soas chave no segmento do humor, sendo elas produtoras dos eventos, os próprios
comediantes e o público consumidor. Foram realizadas dez entrevistas qualitativas,
sendo quatro comediantes stand-up, três produtores de comédia stand-up e três con-
sumidores de comédia stand-up, identificando-os aqui como: Comediante A, B e C;
Produtor A, B, C e D; Consumidor A, B e C.
Os comediantes A, B e C já possuem projeção estadual na cena da comédia
gaúcha, sendo os dois primeiros de Porto Alegre, e o comediante C de Sapiranga. O
comediante D é do Vale do Taquari e integrante do grupo de stand-up comedy abor-
dado no presente trabalho, o Vale Uma Comédia.
O produtor A é também comediante stand-up, mas conta com a experiência de
produção na capital gaúcha e catarinense, além de ter relevância no cenário estadual
36

como comediante. O produtor B é gerente-proprietário de um comedy club no municí-


pio de Canoas e o produtor C é do Vale do Taquari, integrante do Vale Uma Comédia
e também comediante stand-up. Neste ramo é comum que um comediante faça o
trabalho também de produtor, e vice-versa.
Os consumidores A, B e C são do Vale do Taquari e Rio Pardo, residentes em
diferentes cidades, sendo respectivamente, Estrela, Venâncio Aires e Lajeado.
Assim, os objetivos propostos no trabalho são respondidos através de coleta
de dados bibliográficos, documentais e do conjunto de perguntas semiestruturadas
apresentadas em anexo, as quais são transcritas e analisadas de acordo com a per-
tinência ao proposto no trabalho.
A análise dos dados se dá através da análise de conteúdo, na qual os conteú-
dos da bibliografia, dos documentos e das entrevistas foram avaliados a partir da sis-
tematização dos dados conforme os objetivos da pesquisa. (PRODANOV; FREITAS,
2013).
De forma geral, observando os objetivos propostos no trabalho, a tabela a se-
guir expõe a maneira que cada informação será coletada, bem como a maneira que
será feita a análise dos dados:

Quadro 1 - Plano de coleta e análise de dados

Objetivo de pesquisa Coleta de dados Análise de dados

Entender os aspectos da comédia


stand-up vinculados à economia cria- Bibliográfico Análise de conteúdo
tiva.

Compreender os fatores que envol-


Bibliográfico e documental. Análise de conteúdo
vem os negócios da comédia.

Identificar as razões pelas quais uma


Bibliográfico, documental e
cena de comédia se cria e se estabe- Análise de conteúdo
entrevistas.
lece, no Rio Grande do Sul.

Analisar os negócios da comédia


stand-up nos Vales do Taquari e Rio Bibliográfico, documental e
Análise de conteúdo
Pardo, a partir do caso Vale Uma entrevistas.
Comédia.

Continua
37

Conclusão

O objetivo geral: A partir da concep-


ção da economia criativa, analisar os Bibliográfico, documental e
fatores que influenciam os negócios entrevistas. Análise de conteúdo
da comédia stand-up no Estado do
Rio Grande do Sul.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

3.3 Limitações do Método

Conforme Prodanov e Freitas (2013), na pesquisa bibliográfica há de se tomar


cuidado por parte do pesquisador em obter dados verídicos, observando possíveis
contradições ou problemas que as obras possam apresentar. De acordo com Gil
(2009), no que se refere à entrevista, pode-se encontrar limitações na disposição do
entrevistador, bem como na falta de veracidade das respostas do entrevistado, além
do quesito da subjetividade, baseadas no ponto de vista de um sujeito. Ainda, ao tratar
sobre a análise documental, a credibilidade de alguns arquivos pode ser questionada
pela facilidade no acesso à eles (GIL, 2009).
Dessa forma, nessa pesquisa há limites do próprio método qualitativo, dos limi-
tes dos entrevistados tanto em número como nas respostas aos questionamentos. Por
fim, existem limites dos próprios questionamentos feitos através das questões das
entrevistas e a referida análise, na qual a opção é por uma análise de conteúdo do
material acessado.
Na sequência, o próximo capítulo traz as análises dos dados coletados nas
entrevistas e faz as conexões com a bibliografia e os documentos acessados.
38

4 ANÁLISE DOS FATORES QUE INFLUENCIAM OS NEGÓCIOS DA


COMÉDIA STAND-UP

Apresentadas as discussões teóricas dos fatores que influenciam os negócios


de stand-up comedy através das dimensões sistematizadas, o presente capítulo se
propõe a realizar a análise do conteúdo coletado durante as entrevistas qualitativas,
vinculando-os de acordo com a literatura revisada.
As entrevistas foram feitas conforme o indicado nos procedimentos metodoló-
gicos e neste capítulo são apresentadas as principais respostas, conforme os questi-
onamentos semi-estruturados e as observações dos entrevistados durante as coletas
dos dados, divididos em subcapítulos de acordo com cada dimensão analisada.

4.1 Dimensão dos agentes envolvidos

A primeira dimensão tratada foi a dos agentes envolvidos, sendo eles os pro-
dutores e comediantes, e o primeiro fator abordado foi a criatividade através da per-
gunta: A criatividade é intrínseca aos negócios criativos. Como você relaciona a cria-
tividade com seu trabalho?
Para o produtor A, “a criatividade é fundamental porque ela é a que soluciona
nossos problemas, e produção nada mais é do que a arte de solucionar os problemas”.
O produtor acredita ser essencial destacar a palavra “arte”, pois numa produção de
39

entretenimento a arte precisa estar em evidência e trazer uma magia para o espetá-
culo. Não se pode resolver de uma maneira fria e calculada, mas sim de uma maneira
artística.
O produtor C se utiliza da criatividade para encontrar parceiros de negócio (ba-
res e pubs), e também maneiras de divulgar os shows (seja promoções de ingressos,
parcerias com influenciadores digitais ou descontos em clientes que tem boa assidui-
dade). No quesito operacional, a criatividade é aliada também à organização que a
produção de um evento exige.
O produtor B complementa dizendo que a criatividade está presente em todos
os aspectos de qualquer negócio, e que inclusive utiliza processos criativos desde a
inauguração do empreendimento em 2016. O produtor detalha que "a criatividade é
uma ferramenta essencial para a manutenção do meu negócio. Se não é a principal
ferramenta, é uma das principais, está sempre presente em tudo que eu faço, desde
a confecção de um flyer para um show até a entrega de um prato de maneira diferen-
ciada no bar”. Ainda, o mesmo produtor indica que criou diversos processos operaci-
onais com o uso da criatividade, buscando sempre fugir das primeiras ideias que são
mais óbvias e buscou alternativas para diferenciar seu negócio. Ele complementa o
que o produtor A relata sobre a solução de problemas: “A criatividade é uma ferra-
menta para solução de problemas. Ultimamente estou enfrentando um problema de
trazer comediantes a nível nacional, e montamos uma apresentação com vantagens
para o comediante se apresentar aqui, com cachê maior, possibilidade de gravar ví-
deo, etc”.
Para o comediante A, o ato de criar e ter essa capacidade é uma benção, e ele
utiliza a criatividade para criar piadas que são direcionadas à persona dele no palco.
“A criatividade manda em mim, não sei te explicar como eu faço, mas eu consigo
fazer”. O comediante A cita a importância também de sempre anotar todas as ideias
que tem. A comediante B também entende a criatividade como fundamental, pois,
para ela, o trabalho é autoral e a criatividade é a ferramenta para desenvolver a per-
sona de suas apresentações.
O comediante D entende que a criatividade está cem por cento ligada ao seu
trabalho, pois se ele não for criativo, não conseguirá produzir materiais cômicos. Ele
complementa afirmando que é necessário que o artista seja criativo o máximo de
tempo possível, aproveitando as oportunidades vividas no cotidiano para transformar
40

em piada, e para isso é necessário ser observador. Para ele, a criatividade é a ferra-
menta básica de um humorista e deve ser estimulada diariamente através de uma
rotina de escrita.
Para o comediante C, “todo dia é necessário criar material, afinal, eu vivo dela,
[a criatividade]”. Ele reforça a questão de ter o hábito da escrita e não esperar a ins-
piração para criar, além de relatar que existem técnicas para isso, sendo inclusive
coisas simples como se afastar das distrações (celular é o principal), buscar referên-
cias, fazer um brainstorm, e buscar informações sobre o assunto de interesse. Ele
também reforça a questão da observação, pois, para ele, “é importante olhar para
onde ninguém olhou, pois lá estão as piadas”. Outra técnica criativa é unir dois mun-
dos que não tem necessariamente uma relação e fazer duplas interpretações para
encontrar a distorção cômica, que gera o riso. O comediante C ainda relata que, em
caso de bloqueio criativo, é importante acalmar a mente, parar de pensar sobre isso
e realizar outra atividade, principalmente as que relaxam a mente. Ir caminhar, tomar
um banho, deitar na cama antes de dormir são momentos em que a mente está mais
relaxada e mais propensa a ter ideias.
Portanto, as informações relatadas nas entrevistas corroboram com a aborda-
gem teórica que cita a criatividade como essencial para criar e desenvolver os produ-
tos e serviços criativos, aqui referentes ao stand-up comedy, seja na produção do
evento em si, como no material da performance que é apresentada ao público.
O segundo fator abordado no que tange aos agentes foi a atitude empreen-
dedora, através da pergunta: O quão relevante é ter uma atitude empreendedora, que
busca oportunidades e coisas novas?
Para o produtor A, é relevante saber dividir bem o trabalho do artista com o de
produção, pois cada um tem um foco diferente em um evento, porém, ambos devem
ter uma visão empreendedora para ter a capacidade de ler o cenário econômico e
aproveitar as oportunidades quando elas surgirem.
O produtor C complementa que a atitude empreendedora se sobressai na ação
de buscar locais atrativos para realizar as noites, negociando com os bares e propor-
cionando uma experiência agradável para o público. Ele ainda destaca que é impor-
tante buscar referências em outros locais, como a principal cena de comédia brasi-
leira, na cidade de São Paulo, ou até mesmo no berço da comédia stand-up mundial,
nos Estados Unidos da América, em cidades como Los Angeles e Nova Iorque. O
41

produtor C exemplifica com a ideia de vender um ingresso consumado, prática que é


comum em alguns comedy clubs de Manhattan.
O produtor B vai além de buscar referências e cita a importância de visualizar
o negócio dele para que seja diferente dos outros, e que utilize-se de detalhes para
demonstrar essa diferença, seja uma comunicação com o cliente, no cardápio com
piadas e trocadilhos, a decoração do comedy, tudo entra nos detalhes. Ele cita que o
básico todo mundo faz, mas a preocupação com todos os detalhes do negócio, poucos
tem.
No âmbito dos artistas, o comediante A expõe que sua atitude empreendedora
se baseia em sempre buscar coisas novas e ter um material de apresentação muito
bom, buscando sempre se conectar com o contexto da cena. Ele destaca também a
ideia de realizar shows temáticos, ideias de piadas que podem virar esquetes e tam-
bém produções audiovisuais em multiplataformas. O comediante reitera a importância
de estar atualizado ao mundo, trazendo essa atualização também para o texto que
apresenta e o ambiente que se encontra.
A comediante B reforça a ideia de sempre procurar novas oportunidades e di-
ferenciar o seu show, pensando no que ainda não há no mercado e criar produtos
humorísticos novos, como um show baseado em música e piadas, podendo explorar
isso como um diferencial no momento de comercializar o espetáculo.
O comediante C destaca que na atitude empreendedora é fundamental ter ini-
ciativa, pois relata que conhece pessoas com um grande potencial que não tomam a
iniciativa, ficando na zona de conforto. O comediante faz inclusive uma autocrítica,
comentando que também peca em ter iniciativa em certos momentos, principalmente
no que diz respeito a regularidade de postagens de vídeos na internet. Outro ponto
relevante é postar fotos legais, que despertam um maior interesse, além de interagir
com o público na rede social.
O comediante D complementa os demais indicando as possibilidades de se
capitalizar com outros produtos, além do show, e cita o exemplo do que o comediante
e dono do comedy Clube do Minhoca, Patrick Maia, faz em São Paulo. Este possui
uma revista de humor chamada Miocazine e um podcast chamado Minhoca Show. O
comediante reforça que tais produtos têm uma maior aceitação do público em uma
cena de comédia já estabelecida, como a capital paulista. Pensando ainda em um bar,
há alternativas de inovar na cozinha ou na copa, trazendo um tipo diferente de chopp
ou lanche, como acontece no Buteco Comedy Bar, em Canoas. O comediante finaliza
42

reforçando que a atitude empreendedora também faz parte de uma divulgação bem
sucedida dos shows, baseada sempre em uma estratégia pré definida.
Portanto, as respostas encontradas através das entrevistas estão alinhadas à
literatura abordada, principalmente no que se refere a encontrar oportunidades, ex-
plorar novas ideias e estar atento ao ambiente que se está.
O terceiro fator abordado no que tange aos agentes envolvidos foi a autocon-
fiança através da pergunta: Um empreendedor normalmente possui autoconfiança.
Você entende que isso também se aplica ao stand-up?
Os produtores A e B citam que é necessário ter autoconfiança pois é preciso
vender seu negócio (ou produto) da melhor forma possível, e precisa estar confiante
em relação a ele para trazer público, inclusive comunicando isso para seus clientes,
que é um bom produto e que será um bom show. O produtor C parafraseia “É preciso
ter confiança no que tu vende e acredita”.
O comediante A entende também que ter autoconfiança é agir como empreen-
dedor de si e fazer uma projeção de crescimento próprio. A comediante B e o come-
diante D destacam a importância do artista saber tanto vender o próprio produto, como
entregá-lo depois no palco. O comediante C complementa que a falta de autoconfi-
ança te fecha portas, ou seja, o comediante precisa confiar naquilo que faz, pois isso
com o tempo gera novas oportunidades de crescimento. Por fim, o comediante D ainda
compreende que a autoconfiança tem ligação com a persistência (fator a ser explo-
rado na sequência), e cita: “A persistência alimenta a autoconfiança, e a autocon-
fiança faz tu vender teu produto melhor quando for te apresentar.”
Ou seja, a autoconfiança é um fator relevante nos negócios da comédia, pois a
literatura também indica a relevância desse aspecto para reconhecer os pontos fortes
e desenvolver um novo negócio.
Dando continuidade à temática, o quarto fator relevante foi a persistência, abor-
dada através da pergunta: O quanto a persistência é fundamental para o seu traba-
lho?
O produtor B deixa muito claro que é necessário ser persistente no trabalho de
produção, principalmente no momento de contratar um artista, pois as agendas dos
comediantes ganham corpo facilmente, e cabe ao produtor estar atrás para conseguir
uma data. O produtor C relata que é um fator determinante para a venda de ingressos,
bem como a divulgação do evento.
43

Os comediantes A e B e o produtor A entendem que a persistência é necessária


também para aguentar as adversidades, como um show não tão bom. Outro ponto é
persistir na própria carreira, pois no início dificilmente o 6open-mic terá lucros.
O comediante C entende que a persistência faz toda diferença no stand-up,
pois quando se trata de arte, é um pouco diferente a visão na questão empreendedora,
pois segundo ele, a maioria dos empreendedores busca um negócio que dê lucro,
querem ganhar dinheiro. Já no stand-up, a persistência te faz continuar justamente
porque tu ama fazer aquilo, e ter um retorno financeiro não é algo rápido. Ele ainda
detalha que quem entra nessa arte não tem como foco principal o financeiro e se
mantém fazendo porque gosta e exemplifica dizendo que quem foca apenas no ganho
financeiro não se sujeitaria a subir num palco, a mercê de julgamentos, passando por
momentos embaraçosos e vergonhosos até que faça sucesso o suficiente para ter
retornos financeiros, e finaliza “O empreendedorismo sozinho dentro da arte, com o
objetivo de somente ganhar dinheiro, não acredito que funcione. A persistência é
justamente quando tu continua fazendo algo que não te dá lucro por um bom tempo,
mas continuar fazendo porque ama demais aquilo.”
O comediante D complementa a fala no tópico anterior e cita que está no de-
senvolvimento de uma cena de comédia nova na região em que mora (Vale do Ta-
quari), no processo de compreender como funciona cada cidade e que a persistência
é fundamental para a construção da cena e também do aperfeiçoamento do material
do comediante.
O quinto fator relevante a ser questionado aos entrevistados da dimensão dos
agentes foi a flexibilidade de relacionamento e negociação através da pergunta: O
quanto a flexibilidade de relacionamento e negociação impacta no seu trabalho?
O produtor A relata que é uma ferramenta para contornar problemas, e a mai-
oria dos problemas envolvem pessoas, e onde envolve pessoas, envolve emoções e
o produtor precisa ser flexível para lidar com as emoções destas pessoas envolvidas,
e cita: “A produção artística nada mais é do que a arte de solucionar problemas.” O
produtor B (proprietário de um estabelecimento) detalha que a flexibilidade impacta
diretamente na questão de negociar valores de cachês e também trocar datas de

6
Conforme o portal StandUp Comedy Brasil, o termo vem do inglês e significa ‘microfone aberto’, ou
seja, é um momento do show onde um espaço de tempo é cedido para pessoas que estão querendo
iniciar na arte do stand-up.
44

apresentações dos artistas. Já o produtor C expõe que é necessário ter jogo de cintura
com negociações, tanto com artistas como também com bares e pubs.
Para os comediantes, vale o mesmo quesito pois eles também precisam orga-
nizar as próprias agendas e encontrar um denominador comum para o cachê. A co-
mediante B ressalta que essa flexibilidade de relacionamento auxilia inclusive entre
os artistas, auxiliando na formação de grupos e consequentemente ajudando também
os bares que aumentam suas ofertas para o público. O comediante D destaca que,
por estar no início da carreira e numa construção de cena, é preciso abrir mão de
algumas coisas em detrimento de outras. Um exemplo é abrir mão de cachê para ter
espaço para se apresentar, como está fazendo agora no Vale do Taquari.
Tais respostas vão ao encontro ao que os autores citaram, tanto no quesito de
relacionamento entre as partes envolvidas, como na negociação envolvendo questões
financeiras.
O sexto fator a ser analisado se refere ao conhecimento do negócio, e foi
feita a pergunta: Quão importante é estar inserido na cena da comédia e ter conheci-
mentos sobre o negócio?
O produtor A parte do princípio de conquistar o cliente, e elenca três tipos de
público: O primeiro já conhece e gosta de stand-up, só precisa verificar se cabe no
orçamento e na disponibilidade de tempo; o segundo tem uma breve ideia do que é,
já ouviu falar, talvez até já consumiu virtualmente mas não compareceu ainda presen-
cialmente e tem interesse; e o terceiro não conhece o gênero, não tem ideia do que é
e como é feito. E para cada um deles é necessário um tipo de comunicação, portanto,
conhecer o negócio é conhecer também o cliente que te compra.
O produtor B entende que esse conhecimento faz a diferença e faz parte do
detalhe do negócio. Se produzem shows melhores por estarem mais inseridos no mer-
cado. Além disso, o produtor comenta que sabe de todos os processos de seu negó-
cio, e se precisar, consegue até mesmo executá-los, desde fritar a batata-frita na co-
zinha até subir no palco e se apresentar. Este know-how ajuda-o muito a produzir
comédia no estabelecimento.
O produtor C entende que conhecer os artistas também enriquece. Cabe ao
agente se permitir e consumir comédia também, o que facilita na captação de novos
artistas e principalmente dar oportunidades para quem ainda não tem uma visibilidade
interessante. Nesse ponto, é relevante se colocar como consumidor e conhecer os
artistas de nível estadual para fomentar as noites, entendendo que são artistas que
45

mesmo não tendo muita fama, são talentosos e podem proporcionar um ótimo espe-
táculo.
Para todos os comediantes entrevistados, é de suma importância compreender
como funciona o acesso aos comedy clubs e quais são as maneiras de ingressar neste
mercado; também reforçam a fala do produtor C que indica que consumir possibilita o
comediante se familiarizar com o negócio.
Expostas as opiniões dos entrevistados, conclui-se que o fator conhecimento
do negócio impacta os negócios da comédia, pois oportuniza um melhor desempenho
na função que o agente atua, podendo inclusive ter conhecimentos teóricos e práticos.
O que nos leva ao próximo fator, o aprendizado.
Para compreender como funciona o aprendizado, foi realizada a seguinte per-
gunta: Como acontece o processo de aprendizagem? A experiência de tentativa e erro
é comum? Demais colegas compartilham experiências?
O produtor A relata que no início da cena gaúcha, no início da década de 2010,
quase ninguém tinha o conhecimento de como fazer a produção de um show ou mon-
tar um set (set é a sequência de piadas que forma o show), o aprendizado era na
prática. Ele expõe que para produzir um evento existe uma base geral, mas tudo é
tentativa e erro, porque ainda não foi estabelecida uma cultura forte de consumo.
O produtor B entende que aprender com a tentativa e erro acontece até hoje,
mesmo com vários processos já definidos, e que faz parte de qualquer negócio, com-
plementando: “Não existe nenhum negócio no mundo que apenas acertou, e a tenta-
tiva e erro faz parte da construção dos processos. Tentativa e erro é essencial.” Já o
produtor C detalha que algumas coisas não permitem erros, como os cuidados bási-
cos de estrutura, com tripé, microfone, luz e banquinho. Tais erros não ocorrem com
locais já tradicionais, pois são evitados com planejamento, testando as coisas no dia
anterior ou horas antes, pelo menos.
Para todos os produtores entrevistados, entender as necessidades do bar e do
artista e ver soluções para possíveis problemas ou conflitos de interesses são coisas
que fazem parte do aprendizado contínuo.
Os comediantes A, B, C e D concordam que a tentativa e erro faz parte do
aprendizado, mas ponderam que é importante fazer uma leitura no estilo do público
também para determinar se um texto funciona de fato, ou não, ou seja, é necessário
ter atenção na plateia. O comediante D complementa que todo comediante pode
46

aprender e ter uma referência de outro. Ele entende que os comediantes não se en-
xergam como concorrentes, pois um auxilia o outro no aperfeiçoamento de suas apre-
sentações, e ajudar um colega auxilia no crescimento da cena.
É possível concluir que o aprendizado tem um papel fundamental no desenvol-
vimento e aperfeiçoamento da comédia, tanto na produção, como no palco. No en-
tanto, cabe aqui destacar que a maioria dos respondentes enfatizou a perspectiva da
aprendizagem a partir das tentativas e erros.
O último fator abordado na dimensão dos agentes é a realização pessoal, e
para tanto foi questionado: O negócio e a arte da comédia geram realização pessoal?
Para o produtor A, a arte tem grande importância no seu trabalho pois ele vive
dela e para ela, e cita: “No final das contas, seja de que forma for a produção, seja de
que forma for a apresentação, seja você o artista que for, a resposta para tudo é: a
arte salva”. Ele expõe que já ouviu de fãs que a arte dele ajudou a pessoa a sair da
depressão, e que isso traz uma grande satisfação pessoal. O produtor B já era con-
sumidor de comédia, e poder proporcionar um espaço para fomentar a cena é motivo
de realização. O produtor C cita que, por ainda estar no início, o trabalho é somente
por realização pessoal pois ainda não tem lucros, já que a receita dos ingressos serve
para os custos de cachê dos artistas. A ideia de promover os shows para ele é ter a
oportunidade de subir ao palco e não pelo financeiro, citando que o “dinheiro vem lá
na frente se tudo der certo”.
Os comediantes A, B, C e D concordam que a comédia traz realização pessoal
pois fazem algo que realmente gostam, sendo que o A e o C já tem a comédia como
renda principal. O comediante A complementa que desde o início foi estimulado a
subir no palco pois já tinha uma performance cômica em seu trabalho de professor e
o apoio dos alunos neste processo foi estimulante. Sendo assim, a realização pessoal
é um fator relevante para os negócios da comédia, pois auxilia na motivação de tra-
balhar com esta arte.
Expostos os fatores relacionados à dimensão dos agentes envolvidos, na se-
quência são apresentados os fatores relacionados à dimensão do negócio.
47

4.2 Dimensão do negócio

A segunda dimensão apresentada é a dos negócios e inicia a análise através


do fator da indústria cultural. O fator não foi abordado em uma pergunta específica,
mas durante outras discussões foram relatados aspectos desta temática.
Os comediantes e produtores entendem uma ligação direta entre o seu trabalho
como agente e a divulgação além do show, em outras plataformas. A comediante B já
recebeu espaços na rádio para divulgar seus espetáculos, e o produtor A cita que
existem alternativas dentro do próprio show para angariar a atenção do público, utili-
zando técnicas do teatro, o que chama a atenção e por vezes gera uma postagem na
rede social com um bom engajamento. Apesar do stand-up ainda ser novo no Brasil,
sobretudo no RS, existem momentos em que há interações e vínculos com demais
integrantes da indústria. O produtor A finaliza citando que existem estratégias de trá-
fego pago para a divulgação dos shows. É possível captar recursos de negócios par-
ceiros, em troca de divulgação, e com esse recurso investir na produção de material
de divulgação (estático, vídeo) para redes sociais. Ele cita que é importante realizar
um planejamento, escolher quais meios serão utilizados para a divulgação, e depois
analisar o que trouxe ou não resultado para assim ver o que fazer na próxima. Ou
seja, além de mídias auxiliarem na divulgação da arte de forma orgânica, como atra-
vés de convites para programas de rádio, TV ou podcasts, é possível também investir
recursos para divulgá-la em diferentes meios.
Na sequência, é abordada a relevância do ecossistema através da pergunta:
Um ecossistema forte contribui para o desenvolvimento do cenário como um todo? O
que é necessário ser feito inserido neste contexto?
O produtor B entende que para a cena se estabelecer são necessários espaços
de comédia que produzam de maneira eficiente e eficaz. Além disso, é preciso de
pessoas que estejam dispostas a estudar comédia para se apresentar e não apenas
aventureiros que estejam com vontade de ser famosos. Ou seja, para uma cena se
desenvolver precisa de profissionalismo. O produtor relata que, como não existe uma
faculdade de stand up comedy, seja para produtor ou comediante, a atividade ainda é
vista um pouco como algo à margem. Porém, a partir do momento que a pessoa en-
xerga a comédia como um trabalho, como uma profissão, e vai atrás de estudar, en-
tender e compreender sobre o assunto, levando de forma profissional, isso auxilia na
48

construção de uma cena forte. Tanto o produtor como o comediante precisam tratar o
assunto de maneira profissional.
O produtor A cita capacidades individuais destes agentes, sendo que para criar
uma cena é necessário: força de vontade, desejo e sagacidade, e para a manutenção
dela respeito, paciência e humildade.
Contextualizando o Vale do Taquari, o produtor C detalha que o ecossistema
se fortalece através de uma cena local de artistas, ou seja, mais pessoas buscando
trabalhar como comediante stand-up, além da necessidade de ter um público fiel para
frequentar os locais para consumir a arte stand-up em si, e não apenas o comediante
de projeção nacional. Ele ainda faz uma estimativa de público, considerando o Vale
do Taquari com mais de 300 mil pessoas, o produtor entende que é necessário ter
pelo menos 1 mil pessoas consumindo presencialmente para ter sustentabilidade
nesse ecossistema.
O comediante A expõe a necessidade do stand-up ser entendido como uma
arte, e complementa o produtor B citando que para isso é necessário um desenvolvi-
mento de forma profissional e artística, havendo dedicação e esforço de todas as par-
tes envolvidas: produtores qualificados e com bom relacionamento com os clubes,
teatros, bares e pubs, um portfólio de qualidade com bons artistas, e reforça a fala dos
dois produtores (A e B) da necessidade de dedicação ao trabalho por parte do artista,
focando na melhoria de sua escrita. Por fim, ele reitera a importância de um bom
networking entre todas as partes envolvidas, e finaliza citando que inclusive trabalhos
acadêmicos como este auxiliam e podem ser favoráveis para uma melhor compreen-
são do cenário como um todo.
A comediante B e os comediantes C e D citam que é necessário ter lugares
para os comediantes se apresentarem com regularidade, pois quanto mais shows
acontecerem, mais se estabelece uma cena. Por mais que seja necessário ter um bom
número de comediantes, estes só se desenvolvem quando há espaços para tal. O
comediante C relata que “os comedy clubs são fundamentais para o desenvolvimento
de uma cena.” Mas explica também que a internet vem alterando o caminho tradicional
de começar em um bar e ir evoluindo, pois com a criação de conteúdo para redes
sociais há comediantes surgindo por essa mídia e pulando direto para o teatro ou
mesmo lotando o bar, pois conseguiu captar um público de uma nova maneira.
O comediante D finaliza o assunto citando a necessidade de uma mentalidade
empreendedora (fator já citado na dimensão anterior) para os agentes produtores,
49

sejam eles donos de estabelecimentos, como também produtores independentes que


fazem parcerias comerciais com os locais, de forma que consigam rotatividade de
profissionais, conseguindo vender melhor o produto e criando o desejo de consumo
nas pessoas. Ele cita a necessidade da estrutura caminhar junto com os comediantes,
pois um sem o outro não há progresso e não se fortalece o ecossistema.
O terceiro fator classificado na dimensão do negócio foi a rede de parcerias,
e para tanto, foi questionado: Qual a importância de manter uma rede de contatos,
buscando conexões e parcerias?
Todos os produtores e comediantes destacaram a grande importância destas
parcerias. O produtor A entende as redes de contato como fundamentais e que elas
fazem toda a diferença, inclusive cita que as informações que ele traz nesta pesquisa
só são possíveis de serem compartilhadas pois houve networking entre as partes en-
volvidas, e completa: “Redes de contato são fundamentais, tanto para produtores,
como para ter acesso aos artistas.” Para o produtor B, além de existirem, as redes
de parcerias precisam ser continuamente fomentadas pois o mercado sempre está
crescendo e novos artistas estão surgindo. Ele ainda cita que é importante estar atento
também aos contatos de fornecedores, pois como possui um comedy, é sempre inte-
ressante diminuir custos ou melhorar prazos.
O produtor C detalha também que os open-mics precisam levar público ao es-
tabelecimento em troca da oportunidade de subir ao palco (em média cinco convida-
dos), ressaltando a importância dos contatos desde o início da carreira do comediante.
Além disso, revela que o networking entre os comediantes gera troca de experiências,
gerando ideias no sentido cômico ou técnico da piada, como também de produção
(pois como citado na apresentação do produtor A, é comum que um produtor seja
também um comediante). Ele ressalta que quando viajou à cidade de São Paulo teve
a chance de conhecer muitos produtores e comediantes, aumentando sua rede. O
produtor também complementa que é relevante para o produtor do Vale do Taquari e
também de outras regiões do estado manter contato com produtores estaduais que
agenciam grandes artistas, para assim, aproveitar a logística e inserir grandes nomes
de nível nacional para shows no interior, assim quando for possível devido a apresen-
tações desses artistas na região metropolitana. Ele finaliza reiterando a importância
do contato com artistas locais também, para fortalecer os elos e desenvolver a cena
local.
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O comediante A diz que as redes de contato têm muito a contribuir, desde que
sejam usadas de maneira positiva e não para gerar intrigas, fofocas e guerras de ego.
É importante que um comediante reconheça o mérito do colega quando assim acon-
tecer, e não insinue que ele ou ela tenha alcançado sucesso somente por ser amigo
de alguém influente, e complementa “quem dita o que é bom ou não é o palco, é o
público.” Ele finaliza dizendo que o sucesso de um fortalece o outro e que essa har-
monia pode trazer ganhos impensáveis para a cena gaúcha, citando inclusive o Vale
Uma Comédia como exemplo de união, trazendo artistas do circuito estadual e abrindo
uma cena de forma bacana. O comediante A e C detalham a importância do artista,
além de tudo, ser uma pessoa legal, agradável, que ajuda a resolver um problema, ao
invés de apenas reclamar sobre ele.
A comediante B reitera que o networking é fundamental, e que sem ele até é
possível crescer, mas é um trabalho muito mais árduo. O comediante C complementa
que uma boa rede de contatos pode inclusive encurtar caminhos e possibilitar o artista
evoluir mais rapidamente, e complementa que para isso é necessário combinar esses
contatos com um material (texto) de qualidade. Ele cita o impacto da internet nesse
meio, pois caso o comediante publique um vídeo na rede social e ele seja repostado
por um comediante com maior projeção, há a possibilidade de angariar novos públicos
de forma muito rápida. Além de subir ao palco, o comediante C trabalha como roteirista
e expõe que bons trabalhos realizados anteriormente favorecem o surgimento de ou-
tros por conta da indicação, ou seja, mais um quesito importante para a rede de par-
cerias. O comediante D detalha que o networking é a segunda coisa mais importante
dentro da comédia stand-up, sendo a primeira um material de qualidade, como já foi
citado anteriormente pelo comediante C.
O quarto fator abordado na dimensão do negócio foi a localização geográfica,
e foi realizada a seguinte pergunta: Quão significativo é estar envolvido geografica-
mente no circuito? Estar no Vale do Taquari é menos favorável que na região da
Grande Porto Alegre? Se sim, a mesma dinâmica vale para a Grande POA em relação
à cidade de São Paulo?
O produtor A entende que tudo tem seus prós e contras. Ele relata que morou
em Florianópolis, e na época não havia nada de cultura de arte, ou seja, havia uma
lacuna a ser preenchida, uma demanda a ser criada e suprida. Ele relata que no Vale
do Taquari o acesso aos comediantes mais experientes da cena de Porto Alegre opor-
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tuniza que os artistas iniciantes locais possam testar coisas novas em suas perfor-
mances, com uma preocupação não tão grande de manter o show em grande energia
pois o comediante que virá de Porto Alegre é mais experiente e “garantirá a noite”.
Ainda assim, ele compreende que a cena de São Paulo é a mais forte do país e que
gera mais oportunidades e contatos, mas diz que Porto Alegre tem tido um cresci-
mento interessante, principalmente por ter dois comedy clubs, um na própria capital e
outro no município vizinho de Canoas.
Para o produtor B, também há vantagens e desvantagens. Ele relata que há
desvantagem em relação a São Paulo pois hoje a maioria dos comediantes de peso
moram lá, mas ao mesmo tempo ele relata ter facilidade de ter um planejamento para
trazer esses artistas de maneira eficaz e eficiente. Ele encurta essa distância com um
produto bom, um local que os comediantes gostam de se apresentar, além de con-
forto, como um hotel bom e uma boa alimentação. Ele cita que algumas pessoas não
acreditavam que um comedy funcionaria fora do eixo RJ-SP, mas ele provou, através
de planejamento que é possível. Para ele, gerar a sensação no artista de que ali é um
ótimo lugar para se apresentar, essa distância irá encurtar ainda mais, tanto para ele
voltar, como para ele indicar para outros artistas.
O produtor C revela que na visita que realizou em São Paulo, era possível as-
sistir a quatro shows de stand-up em uma única noite, inclusive com horários alterna-
tivos, com início à meia noite. Ele espera que as coisas ainda vão acontecer na cena
gaúcha, mas que é necessário mais artistas envolvidos para desenvolvê-la, e comple-
menta dizendo que, assim como a cena gaúcha tem certa dependência de artistas de
São Paulo, o interior do RS também tem uma dependência da capital. O comediante
A complementa que seu desejo é ter o RS soberano na comédia e com uma cena
auto sustentável ao ponto de não ter dependências, para que os artistas tenham o
poder de escolha em permanecer aqui ou ir para São Paulo.
A comediante B tem uma leitura de que em São Paulo o público já está habitu-
ado a consumir a comédia por si só, já no Rio Grande do Sul as pessoas aguardam
um nome de maior relevância para consumir. Além disso, cita que o networking na
capital paulista é muito maior e que gera mais oportunidades em menor espaço de
tempo. O comediante C volta a citar pontos negativos e positivos, sendo positivo estar
em uma cena mais distante, o oportuniza a ser a referência da região, marcando seu
espaço e aumentando o networking quando outros artistas vão para a cidade dele. O
lado negativo é estar longe de tudo, com uma menor frequência de shows, o que faz
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com que ele tenha que entregar ótimos shows localmente e precise sair de sua região
para aperfeiçoar seus textos. Ele destaca a importância de ter um comedy club em
uma cidade, pois é um motor no fomento da cena local, dando oportunidade para
novos comediantes e criando um novo público, não dependendo apenas de shows
nacionais - e que somente com esses de grande impacto, o negócio não sobrevive.
Para o comediante D, há influência também no tamanho da população da ci-
dade, já que São Paulo tem a maior população do país. E relata: “Entendo que
quanto menor a região ou a cidade, mais difícil é ter uma cena de comédia, pois
a população é menor, e consequentemente o consumo. E quanto mais afastada
for a cena, mais caro fica para trazer comediantes do primeiro escalão, o que
dificulta mais o desenvolvimento da cena”. Ele complementa que, em comparação
de um comediante do Vale do Taquari para um da região metropolitana de Porto Ale-
gre, o que está próximo da capital tem mais chances de crescimento pois é fácil con-
seguir shows quase que diariamente, pelo menos semanalmente, pois há shows em
cidades como: Esteio, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Gravataí, Canoas e Porto Ale-
gre. E se comparar a São Paulo, a diferença é maior ainda. Em Caxias do Sul, ele
relata que não há uma cena estabelecida, mesmo sendo o segundo maior município
do estado, e sente a ausência de um agente com visão empreendedora para desen-
volver a cena.
Conclui-se que a localização geográfica é um fator de grande influência nos
negócios da comédia stand-up, pois é conforme a localização que uma cena se de-
senvolve mais que a outra, muito influenciada pela quantidade de estabelecimentos
para o desenvolvimento desta arte, bem como de agentes capazes de trabalharem de
forma satisfatória.
Expostos os fatores que fazem parte da dimensão do negócio, na sequência
são apresentados os fatores relacionados à dimensão econômica.

4.3 Dimensão econômica

A terceira dimensão abordada é a econômica, e parte da discussão do fator


demanda. Assim como o fator da indústria cultural, aqui, as informações foram cole-
tadas através da discussão de outras temáticas.
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O produtor C percebe que a demanda por stand-up comedy vem aumentando


nos últimos anos, principalmente após a abertura dos comedy clubs no Estado. Po-
rém, para atender essa demanda de forma satisfatória e sustentável, ele expõe a ne-
cessidade de manter um tripé em funcionamento: Primeiro, o bar lucrar (ou seja, trazer
movimento para o local através do consumo), depois, o artista ter um local bacana
para se apresentar (que o público compareça e esteja predisposto a curtir o show), e
o próprio público aprovar (obtendo uma opção de entretenimento diferente e divertida).
Ele entende que, através da manutenção deste tripé, é possível atender a demanda e
potencializá-la ao longo do tempo.
O fator demanda tem ligação direta com o próximo elemento abordado, a ge-
ração de emprego e renda, que inclusive terão respostas que se complementam,
pois a primeira determina os resultados da segunda, e para tanto foi questionado:
Como você enxerga a comédia dentro de um cenário econômico? É sustentável? Gera
empregos e renda?
O produtor A entende que sim, o cenário gaúcho é sustentável. Não que tenha
sido criada uma cultura de consumo, mas sim uma moda, e há interesse de várias
pessoas para entrar nesse mercado como artistas, bem como curiosidade muito aflo-
rada do público pela arte. Ou seja, já há o conhecimento do público sobre o que é
stand-up, o trabalho é despertar o interesse para eles comparecerem aos shows, atra-
vés das estratégias já expostas no fator da indústria cultural. A renda pode ser poten-
cializada quando uma estratégia de promoção do show é bem feita. O produtor cita a
importância de realizar uma reunião com um possível parceiro de negócio (patrocina-
dor) tendo posse de material um visual, apresentando os benefícios, o que vai agregar
de valor para a marca, e fazer o empresário perceber que vai vincular sua marca com
alegria, bem-estar, em um lugar descontraído, com o público rindo, podendo inclusive
apresentar a ele quais são benefícios do riso, usar a criatividade e fazer que ele en-
tenda que a marca vai ser lembrada com isso. Para captar estes recursos, ele cita que
é mais fácil apresentar a ideia se você já conhece o estabelecimento e o proprietário.
É relevante também nessa captação de recursos utilizar-se do ambiente para a pro-
moção do evento e da marca do patrocinador, seja através de um ambiente para fotos,
um banner, um balanço, uma parede com desenhos, vale usar a criatividade e apro-
veitar a publicidade gratuita, pois as pessoas vão postar as fotos depois nas rede
sociais. Outra maneira é apresentar a marca como apoiadora no início do show em
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uma ação conjunta colocando nas mesas um flyer com um cupom desconto, elemen-
tos para mostrar ao público que essa empresa apoia e acredita no evento e na comé-
dia em si. O produtor relata que ainda há outras diversas maneiras de potencializar o
evento para torná-lo mais atrativo e lucrativo.
O produtor B também concorda que a cena gaúcha se auto sustenta e relata
que no estado do RS há mais de trinta comediantes com potencial de venda de in-
gressos. Para ele, é um crescimento expressivo pois em 2016 não existia uma cena
de comédia no estado. O produtor detalha que emprega cerca de dez pessoas direta-
mente, sejam elas garçons, recepcionistas, cozinheiros e social media, e finaliza di-
zendo que o mercado está em uma tendência de alta.
O produtor C aposta na criação de uma cena no Vale do Taquari para no futuro
ter um comedy club, possivelmente em Lajeado. Ele relata que no Estado, entre inici-
antes e profissionais, há menos de 100 comediantes e que eventos na região do Vale
tendem a serem mais custosos pelos gastos com logística na contratação de profissi-
onais da região metropolitana de Porto Alegre. Portanto, é importante ter um ecossis-
tema de artistas locais para fortalecer o circuito e público para consumir. Para ele, um
comedy não se sustenta apenas com os shows grandes, é necessário ter um público
que goste de comédia stand-up no geral. E esse público se constrói com o movimento
que o grupo está realizando, promovendo shows na região pelos municípios de Laje-
ado, Estrela, Teutônia e Taquari. O produtor C acredita que só há uma oportunidade
de causar uma boa primeira impressão, e para promover a sustentabilidade do negó-
cio é necessário ter uma boa estrutura, como luz e som, além de investir em artistas
maiores no início para promover a noite e causar uma boa impressão em quem está
consumindo presencialmente pela primeira vez. A ideia, segundo ele, é criar algo a
longo prazo, não apenas por seis meses, mas sim perpetuar por anos e seguir cres-
cendo.
Para o comediante A a sustentabilidade do negócio ainda é discutível, porém a
comédia já gera renda para os artistas, produtores, pubs e bares, ao mesmo tempo
que está crescendo muito o consumo de entretenimento, principalmente de arte no
geral. Ele relata que diversos espetáculos artísticos vêm lotando casas importantes
em Porto Alegre, como o auditório Araújo Vianna, seja para música ou para comédia.
Para ele, o stand-up está crescendo, principalmente depois da pandemia a comédia
está sendo um alívio para as pessoas. “O stand-up está se consolidando como
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arte e se tornando uma opção de agenda cultural, porém, para se sustentar na


cena gaúcha ainda há um trecho a ser trilhado”.
Para a comediante B, o stand-up ainda não é sustentável no RS. Ela relata que
há alguns poucos comediantes que conseguem viver da comédia, por mérito próprio.
Se ela não tivesse emprego, não conseguiria viver apenas da comédia, apesar de ter
uma frequência interessante de shows. Ela ressalta que os comedy clubs ainda inves-
tem muito esforço para se manterem, pois o público ainda não comprou totalmente a
ideia de consumir stand-up como entretenimento, por exemplo: “Ao invés de ir ao ci-
nema assistir um filme, hoje vou no comedy para dar risada.” Para a comediante B, o
público ainda apresenta certa resistência ao consumir uma noite de stand-up quando
não há nomes de projeção nacional. “Na minha visão, as pessoas aqui no RS têm
o hábito de ir ao comedy quando veem que é alguém de fora que vai vir se apre-
sentar. Se é um artista regional, se não tem um nome um pouco mais forte, as
pessoas têm preconceito.” A comediante cita que em São Paulo é diferente, pois
muitas pessoas já vão ao comedy com o intuito de consumir comédia de forma geral,
sem buscar especificamente um artista grande e também tem a segurança de que
será um show bom.
O comediante C entende que gera renda e emprego, mas a sustentabilidade
ainda é questionável. Ele relata que já recebe cachê de show e sobrevive de comédia
(tanto como comediante stand-up, como de roteirista), mas o crescimento do fatura-
mento depende de quanto as pessoas te conhecem, e cita: “Enquanto tu não tiver
um grande público, apesar de ter um show bom, não será tão rentável.” As ren-
das são, além do palco, o trabalho de roteirista para outros comediantes e também
para canais de esquetes na internet. O artista criou uma empresa que oferece o tra-
balho de criação de roteiros, e foi conquistando clientes no boca a boca após bons
trabalhos. Para finalizar, ele comenta que esporadicamente produz shows, mas mais
por necessidade do que por desejo, pois enquanto ele não tem um público forte para
consumir o show, é necessário encontrar alternativas de geração de renda. O come-
diante D acredita que a geração de renda dependa do local, e cita que em grandes
centros isso já é possível, mas ainda não se aplica a uma cena que está iniciando,
como no Vale do Taquari, que ainda está em construção.
Portanto, é fato que a comédia stand-up no Rio Grande do Sul é capaz de gerar
renda, mesmo que a sustentabilidade financeira ainda seja discutível. O número de
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comediantes que sobrevivem apenas da arte é ainda muito restrito, além de que algu-
mas dessas pessoas buscam alternativas para complementar sua renda, mesmo den-
tro da comédia, seja como roteirista ou mesmo produtor.
O último fator a ser discorrido na dimensão econômica se refere às políticas
públicas, e para entender a relevância desse aspecto foi realizado o seguinte questi-
onamento: Você já teve ou tem apoio de verba pública para produzir e vender o show?
Se não, entende que há diferença?
O produtor A expõe algumas barreiras, explicando que a verba pública é extre-
mamente burocrática e ao mesmo tempo extremamente competitiva, e que para entrar
nessa disputa é preciso ter conhecimento dos trâmites, sendo necessário ter (ou ser)
um produtor que trabalha mais diretamente com leis de incentivo, estando atento ao
lançamento de editais, questões de contrapartidas sociais e demais processos buro-
cráticos. Ele detalha que no trabalho de produção de stand-up é preciso solucionar os
problemas de forma tão rápida que não vale a pena investir o tempo atrás destes
incentivos públicos. O produtor, que já teve experiência no tablado, relata que produ-
tores de teatro utilizam-se mais destes benefícios, pois o espetáculo exige muito en-
saio e tem um custo muito mais alto, pois precisa de cenário, figurino, maquiagem, há
dança, canto, então envolve muito mais profissionais e, consequentemente, o custo
fica mais alto. O produtor entende que a verba para o teatro é essencial, mas não para
a comédia stand-up.
O produtor B não tem relação com verbas públicas e não tem interesse em ter.
No seu estabelecimento nunca teve apoio de órgãos de cultura, seja do município ou
do estado. Para ele, não utilizar verba pública faz parte da filosofia de manutenção do
negócio, pois é necessário que seja auto sustentável através do capital privado. Ele
complementa que sempre administrou o comedy com recurso próprio e pretende ser
assim sempre, além de ter uma filosofia política contrária à cobrança de impostos.
O produtor C relata que, com o grupo Vale Uma Comédia, teve uma experiência
com a Secretaria de Cultura de Estrela para uma apresentação com duas sessões. O
produtor acredita que há leis de incentivo para isso, mas é necessário pesquisar e ver
quais são os pré-requisitos e critérios. Porém, ele ressalta que, sem esses incentivos
públicos, há mais autonomia e não se corre o risco de precisar adaptar alguns assun-
tos para os textos.
O comediante A não tem relação com verba pública e não enxerga um movi-
mento na cena para que se tenha, pois, na visão dele, a comédia não liga para o
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Estado. Ele ressalta que para o fortalecimento da soberania da comédia estadual tal-
vez seria benéfico, mas é algo a se analisar com calma e pensar a respeito. A come-
diante B reforça a fala do Produtor A em relação à burocracia e o tempo investido para
conseguir tais benefícios, citando que os comediantes fixam mais a atenção no setor
privado, tratando direto com os comedys, salvo quando uma produtora faz esse ser-
viço.
O comediante C é a favor de leis de incentivo que possibilitem o desconto no
Imposto de Renda para fomentar a arte e apoiar esses projetos, pois, para ele, a arte
é fundamental para a população. Ele relata que nunca se envolveu com a elaboração
de projetos, e que artistas de pequeno porte têm mais dificuldade em acessar tais
recursos do que artistas maiores. Em relação às contrapartidas sociais, ele dá dois
exemplos: a arrecadação de alimentos e a transmissão ao vivo do evento com tradu-
ção em Libras.
O comediante D também relatou o evento apoiado pela prefeitura que o produ-
tor C abordou anteriormente, e reforçou a ideia de vários entrevistados que é neces-
sário estar atento às condições atreladas aos editais para lançar um projeto, e claro,
ter o know-how. Por fim, os comediantes A e D ressaltam que, economicamente, um
show com apoio de verbas pode ser interessante (com cachê fechado), mas deve ser
entendido que nem sempre o público que estará lá esteja totalmente familiarizado com
o stand-up.
É possível entender que a verba pública não é um fator de grande relevância
na construção ou manutenção de uma cena de stand-up comedy, visto que as razões
estão relacionadas com a burocracia, competitividade, desconhecimento e, em partes,
falta de interesse.
Vistos os fatores relacionados à dimensão econômica, o próximo subcapítulo
tratará dos fatores relacionados à dimensão cultural e social.

4.4 Dimensão cultural e social

Os dois próximos fatores a serem analisados, agora a partir da dimensão cul-


tural e social, são: alterações nas práticas de consumo dos produtos culturais e
disseminação dos produtos criativos e para tanto, foram coletadas informações
nas discussões das temáticas sobre cultura.
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O produtor A entende que o stand-up tem crescido muito mais que as outras
artes, mesmo que no Brasil ainda esteja no “início”. Ele cita que a comédia stand-up
já tomou uma proporção muito grande, ao ponto das pessoas já conhecerem o gênero
e saber como funciona, pois tem fácil acesso à ela através da internet, e consequen-
temente, tem um consumo muito maior se comparado a outras artes, como o teatro.
Para ele, o teatro tem o intuito de tocar as pessoas de forma singular e não se importa
muito com o tamanho da plateia, já o stand-up é disseminado muito rapidamente pelas
mídias sociais pois não exige muito esforço para a divulgação, basta um celular gra-
vando a apresentação, um corte de um minuto em determinado trecho e o conteúdo
está pronto para ser divulgado. Ele ainda cita que uma vantagem do stand-up perante
ao teatro é a facilidade de divulgação, já que uma peça de teatro perderia o contexto
se fosse divulgada de forma tão curta, e também ao cinema que exige um custo de
produção e edição muito maior. Tais fatos levam o produtor a compreender a evolução
mais rápida do stand-up perante outras artes.
O produtor B detalha que iniciou consumindo stand-up através da internet há
cerca de três anos antes de iniciar seu empreendimento. Após os primeiros contatos
online com a arte que despertou grande interesse, ele relata que isso o levou a con-
sumir presencialmente em teatros. O produtor A já era ator por formação e isso facili-
tou o acesso ao stand-up, pois sempre gostou de humor. O produtor C relata que teve
o primeiro contato com a arte no teatro em uma apresentação em Lajeado, apesar de
já conhecer o artista por outros trabalhos na televisão. Na mesma época, passou a
consumir pela internet, hábito que tem até hoje. O produtor também comenta que em
seu trabalho de conclusão em Administração realizou um estudo sobre a viabilidade
financeira de um Comedy Club em Lajeado e teve resultados positivos.
O comediante A expõe que antigamente havia um padrão de consumo na co-
média, por exemplo: assistir o programa x no canal y na televisão, e que a dissemina-
ção da televisão conectava todo mundo, gerava assuntos no outro dia, seja no ambi-
ente que for, escola, trabalho, reuniões de amigos, se percebia uma maior conexão
sobre um assunto. Ele ainda relata que no passado, pessoas famosas eram realmente
muito populares e conhecidas por uma grande massa de pessoas. Hoje, com a disse-
minação de novos meios de consumo de cultura, principalmente a internet, através de
seus mais variados canais, existem pessoas que são famosas para uma grande audi-
ência nichada, mas a grande massa não a conhece, seja um influenciador da área
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financeira, uma blogueira ou mesmo comediantes que dentro do stand-up trabalham


com assuntos nichados.
O comediante C percebe a alteração no consumo da arte, principalmente na
comédia pois há diversos produtores de conteúdo online, criando esquetes de humor,
pequenos vídeos de situações do cotidiano, enfim, muito humor de identificação e que
isso oportuniza o crescimento dos comediantes ou artistas sem depender de terceiros
e relata que possui um podcast, o que atrai também novos públicos para ele. O come-
diante D relata que a internet vem ajudando a disseminar o stand-up, e relata que
também é necessária uma maturidade desta arte por parte do público, e lembra que
antigamente os atores que interpretavam vilões de novela eram xingados nas ruas,
até que essas foram entendo que era ficção e hoje é muito claro que é um trabalho de
ator, e com a comédia não é diferente.
O produtor A complementa que para ele, com a experiência e o background do
teatro, o stand-up é a arte que mais vem crescendo nos últimos tempos, aliada a in-
ternet e também com o aumento de bares e estabelecimentos abrindo as portas para
a comédia.
O consumidor A assiste comédia stand-up desde 2010 e conheceu o gênero
através da TV a cabo, no canal Comedy Central. Comenta que iniciou assistindo ar-
tistas estrangeiros pois haviam poucos brasileiros com destaque na época. O consu-
midor B conheceu o stand-up por volta de 2009 assistindo apresentações do George
Carlin e do Chris Rock, comediantes norte-americanos, através do download de tre-
chos de shows e gostou, mesmo sem entender muito o que era. O consumidor C teve
o primeiro contato com a comédia em 2012, no teatro, com o show de personagens
do artista Cris Pereira.
Os três consumidores entrevistados hoje continuam consumindo muito stand-
up através da internet, seja pelo YouTube, Reels no Instagram, ou plataformas de
streaming, como a Netflix. Os consumidores A e C já estiveram presentes em pelo
menos uma noite do Vale Uma Comédia, e o comediante B relata o desejo de com-
parecer quando for oportuno, além de citar que ouve podcasts. Todos os consumido-
res relataram que têm o hábito de consumir a arte presencialmente, seja em bares ou
no teatro.
Ou seja, se percebe uma disseminação de formatos para o consumo da comé-
dia, ajudando a popularizar a arte, principalmente através de mídias digitais, sejam
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elas plataformas de streaming, redes sociais, ou agregadores de conteúdo como You-


Tube e Spotify, para o consumo de vídeos e podcasts.
A discussão da dimensão cultural e social finaliza com o fator da diversidade
cultural, e portanto, foi feito o seguinte questionamento: O stand up ainda é algo novo
no Brasil, sobretudo no RS. Você enxerga a diversidade cultural e também da socie-
dade como algo positivo para o stand up? Entenda diversidade como diferentes ida-
des, ideologias, estilos de vida e consumo de produtos culturais no geral (artes, mú-
sica, teatro, etc).
O produtor B entende que a cena de stand-up brasileira ainda é muito nova,
certamente menos de 50 anos, e que depois de um tempo é natural que se divida em
nichos, geralmente baseados em ideologias, tribos ou estilos de vida. Para ele, o nicho
acaba segregando e é visto de forma ruim pois geram-se conflitos nessa separação,
ao mesmo tempo em que é positivo pois esses artistas que promovem nichos estão
construindo seu próprio público, e de uma forma ou outra angariam mais pessoas para
o consumo da comédia stand-up, estimulando as cenas pelo país como um todo. Ele
relata que os nichos também proporcionam especializações, e exemplifica: “Quando
o comediante Rodrigo Marques decide que vai falar somente sobre bebida alcoólica,
ele vai se especializando nesse assunto e isso vai tornar o stand up dele cada vez
melhor.” Para o produtor, a criação de bolhas é normal, basta as pessoas entenderem
que não precisam rivalizar entre si, e não é necessário não gostar de um comediante
em detrimento de outro, é possível apreciar ambos.
O produtor C compreende que determinados artistas são capazes de furar al-
gumas bolhas, como Whindersson Nunes, Rafinha Bastos e o grupo 4 Amigos. Porém,
reforça a fala do produtor B que os nichos são inevitáveis, surgindo comediantes que
falam de futebol, de educação, de política, de relacionamentos, de drogas, e qualquer
outro assunto que gere interesse de um grupo ou categoria, e diz: “A comédia é para
todos, cada um tem um estilo.”
Para ele, além de dar risada, é interessante compreender, em determinados
momentos, a ideia que o artista está querendo passar. O produtor acredita que não é
necessário haver cancelamentos ou campanhas contra determinado artista caso uma
parcela do público não concorde com o que o comediante fala: “Se não gostou, não
dê risada, não consuma, mas há público pra tudo, coisas mais simples, outras mais
61

profundas, outras mais pesadas.” Ele relata que também é necessária uma maturi-
dade do público em compreender que quem está no palco é uma persona do comedi-
ante, e não uma opinião literal do artista.
O comediante A enxerga a diversificação de forma positiva. Para ele, ter nichos
é bom pois assim se cria um público identificado, porém a parte ruim é que o artista
fica condicionado a falar sobre certos assuntos. Ele relata ainda que uma mudança
de tema em suas publicações em redes sociais faz com que o algoritmo da rede não
distribua o conteúdo da mesma forma, pois foge do habitual. O comediante compre-
ende que nichos focam, mas também isolam, e que a arte não é linear. Ele detalha
que em suas apresentações tenta sempre manter-se o mais fiel possível a sua per-
sona, independente de público, mas que diversifica seus temas de acordo com o hu-
mor da platéia, buscando, quando necessário, abranger assuntos mais generalistas
como família e relacionamentos, para atingir mais pessoas através da identificação.
Para finalizar, ele, que também é licenciado em história, diz que o Brasil precisa
ter a própria régua em seus temas, e não apenas se basear no que os Estados Unidos
consomem, pois são culturas diferentes e abordagens diferentes. Apesar do stand-up
ter raízes norte-americanas, cabe aos brasileiros referenciarem suas piadas com a
própria realidade, além de entender que a maturidade do público dos dois países ainda
diverge muito, pois nos EUA a arte já ocorre há muito tempo.
A comediante B entende que a diversidade cultural tem relação com a comédia.
No RS ela enxerga que o público leva muito a sério a questão dos nichos, e que se
discordam do texto do comediante, realizam comentários na rede social com reclama-
ções. Já em São Paulo ela entende que o público dá menos bola para a divergência
de opiniões dentro do stand-up. Ainda, ela cita que já recebeu comentários irônicos
quando realizava piadas mais pesadas, na comédia chamadas de humor negro; po-
rém não via o mesmo comportamento do público quando quem realizada a piada era
um homem, portanto, via diferença no tratamento de algumas pessoas por conta do
gênero do artista.
O comediante C entende que quanto mais pessoas consumindo, melhor. Ni-
char a arte significa que ela está se tornando popular. Ele relata que o humorista Thi-
ago Ventura conseguiu se comunicar com um público que até então não consumia
stand-up e ele trouxe essas pessoas pro bar e pro teatro. Quanto mais pessoas fa-
zendo comédia, melhor, é benéfico para todo mundo. O comediante disse que tam-
bém acompanha outros comediantes de projeção nacional, como Fábio Rabin e Diogo
62

Portugal, e diz que esses artistas, ao perceber o crescimento do grupo 4 Amigos (e a


popularização do stand-up), notaram um aumento nas vendas dos ingressos por ta-
bela, ou seja, as pessoas conheciam o stand-up através dos 4 Amigos e depois disso
passaram a consumir outros comediantes.
O comediante C reforça a ideia do comediante A, da necessidade do artista
fazer uma leitura do público onde vai se apresentar. Em caso de um show corporativo
ou em um lugar onde o stand-up não é tão popular, o melhor é sempre focar nas
piadas mais populares, que causam mais identificação, e sempre ter um plano A e um
plano B.
O comediante D relata que a diversidade em grandes centros é maior, seja pela
população oriunda naturalmente de diversas regiões e cidades, como também a dife-
rença de ideologias e estilos de vida. No interior do RS ele entende que ainda não há
tamanha diversificação. Para o artista, o aumento de consumo de cultura, principal-
mente de stand-up, ajudou a mais camadas da população terem acesso à arte, pois
agora não é apenas no teatro que os shows acontecem, mas também nos bares. Ele
reforça a ideia dos entrevistados anteriores sobre os nichos, e cita que a tendência,
com a popularização da arte, é que isso seja cada vez mais frequente, e já cita exem-
plos de comediantes e suas vertentes: o Igor Guimarães fazendo humor nonsense, o
Maurício Meirelles mais filosófico, o Emerson Ceará com assuntos adultos, Dihh Lo-
pes e Léo Lins com humor negro, a Bruna Louise com humor feminino, o Júnior Chicó
com assuntos LGBT+. O mesmo relata que está evoluindo também a abertura de as-
suntos, com os comediantes falando sobre drogas, armas, e outros temas polêmicos,
por exemplo. Ao mesmo tempo, o comediante entende que a liberdade de expressão
tem suas limitações, pois há processos de difamação relacionados à comédia, o que
é diferente dos Estados Unidos, onde isso não acontece.
Diante dos relatos dos entrevistados é possível perceber que existem vanta-
gens e desvantagens para a comédia na diversificação da sociedade, e que há espaço
para todos, mesmo que para isso sejam formados grupos específicos (ali chamados
de nichos). A consequência disso é a popularização da arte, a especialização dos
artistas nas temáticas e a necessidade de respeitar opiniões e pensamentos diferen-
tes.
Por fim, além de discutir teórica e empiricamente a comédia na cena gaúcha, o
trabalho destaca um caso específico, o do Vale uma Comédia. O destaque objetiva
analisar a cena gaúcha e comparar os caminhos iniciais percorridos por esse caso,
63

ou seja, possibilidades e limitações da construção da cena da comédia do Vale do


Taquari e do Rio Pardo.

4.5 As particularidades regionais, o caso do Vale Uma Comédia

O Vale Uma Comédia é um grupo de comédia stand-up idealizado em 2020,


mas criado em 2021, no Vale do Taquari, e seus integrantes são das cidades de La-
jeado, Bom Retiro do Sul e Venâncio Aires. O grupo é composto por Rodrigo Sivinski,
Cassiá Araújo, Jonas Fontoura e Rodrigo Becker. A proposta do grupo é criar e de-
senvolver uma cena de comédia nos Vales do Taquari e Rio Pardo, realizando parce-
rias com bares e pubs, trazendo artistas com relevância no estado do Rio Grande do
Sul, de forma que as pessoas criem o hábito e o desejo de consumir o stand-up. Com
isso, há o desejo no grupo de futuramente conseguir ter o próprio comedy club, pos-
sivelmente na cidade de Lajeado, além de desenvolverem as próprias carreiras como
comediantes.
Para compreender melhor o cenário, é preciso salientar que a maioria dos co-
mediantes encontram maiores oportunidades de crescimento na cidade de São Paulo.
A capital paulista recebe shows de comédia stand-up desde 2005 e tem os maiores
artistas lá estabelecidos, como Afonso Padilha, Thiago Ventura, Rodrigo Marques,
Bruna Louise, Murilo Couto, Léo Lins, Patrick Maia, entre outros.
Mas, procurando estabelecer uma cena de comédia no Vale do Taquari e Rio
Pardo, o grupo Vale Uma Comédia já realizou suas apresentações em bares e pubs
da região, e até o momento oportunizou noites de stand-up comedy nos municípios
de Estrela, Teutônia, Encantado, Taquari e Lajeado. Com exceção do último municí-
pio, nos demais a produção da noite é feita pelos integrantes do grupo. Das mais de
dez apresentações já realizadas pelo Vale (pelo menos metade delas em Estrela), o
grupo teve bons retornos do público, lotando os espaços em diversas noites, princi-
palmente na noite de estreia em cada município. Para o grupo, são números expres-
sivos pois entende-se que é comum no início da carreira muitos comediantes fazerem
shows para públicos pequenos, seja meia casa ou até menos.
Através da análise do cenário local e de entrevistas com profissionais envolvi-
dos no ramo da comédia stand-up, sejam eles comediantes, produtores, donos de
estabelecimentos e até mesmo o público, na sequência apresenta-se uma avaliação
dos potenciais e limitações da cena nos Vales do Taquari e Rio Pardo, baseado na
64

discussão da economia criativa e abordando os fatores que influenciam a comédia


stand-up, já citados no capítulo anterior.
Expostas as entrevistas e demais informações sobre o stand-up comedy é pos-
sível identificar que todos os fatores abordados na dimensão agentes envolvidos tam-
bém fazem diferença nos negócios da comédia para os Vales do Taquari e Rio Pardo,
pois são características individuais necessárias para que haja bons shows e bons re-
sultados. A criatividade pode ser usada tanto para criação de novas piadas para o
palco, como também para produtos em multiplataformas (podcasts, vídeos para redes
sociais), tais produtos que ainda não foram criados pelo grupo, mas que há interesse.
Já a atitude empreendedora é exposta através de iniciativa (fundamental na cons-
trução de uma cena), mas também com visão empreendedora para oferecer ao pú-
blico não apenas um show de stand-up, mas uma experiência completa, com um local
agradável, uma estrutura que atenda às necessidades e qualidade no palco, o que
vem sendo aplicado seguidamente nas apresentações, principalmente no pub de Es-
trela, que possui uma estrutura muito convidativa para o stand-up comedy, como um
pé direito baixo e não interferência de ruídos da rua. Cabe ao Vale buscar parcerias
comerciais para diminuir seus custos, utilizando estratégias já citadas na discussão
das dimensões.
A autoconfiança também se faz presente pois é necessária tanto para uma
boa performance do artista no palco quanto para a divulgação do evento. De todos os
fatores, talvez o que se mais destaca seja a persistência, pois fomentar a comédia
stand-up em um local onde ela ainda não existe não é fácil e exige resiliência dos
agentes que ali estão trabalhando, o que se aplica ao grupo pois até agora o trabalho
não vem gerando lucros relevantes.
A flexibilidade de relacionamento e negociação também se destaca, pois o
grupo precisa estabelecer bons laços com outros artistas e potencializar o crescimento
da arte como um todo, seja da cena local, como do comediante que vier de fora, e
este último também para questões financeiras como valores de cachê. A negociação
traz outro fator importante que é o conhecimento do negócio, e aqui, é possível
destacar que o grupo está ciente das necessidades que o negócio exige pois todos os
integrantes já consumiam a arte há anos, e possuem a característica de observar para
aprender, como cita o produtor C (e integrante do Vale Uma Comédia): “Ter um bar
para vender chopp, batata-frita? Tá, legal, mas eu quero ter um bar para vender
comédia, então tudo no bar tem que ser pensado para maximizar ao máximo a
65

comédia: disposição de mesa, luz, som, o ambiente, o tipo de comida e bebida


que vai servir para agregar ao show, tem que ser um diferencial”. O produtor cita
que essas essas especificidades foram aprendidas observando os locais que já fre-
quentou, tanto os que têm esses aspectos, como os que não tem, e como isso impacta
na qualidade do evento. Ele completa que detalhes fazem a diferença, como o cuidado
do garçom para não parar de pé na frente de outro cliente e tapar a visão do palco,
como a cozinha do bar ou pub tomar cuidado com o barulho de utensílios, como um
liquidificador, durante o show.
Como já citado pelo produtor C durante a discussão das dimensões, por en-
quanto o grupo tem como motivação a realização pessoal para seguir fomentando e
desenvolvendo a cena local, já que o negócio ainda não possui sustentabilidade fi-
nanceira para gerar lucros significativos aos envolvidos.
Na dimensão do negócio, o fator da indústria cultural tem potencial a ser de-
senvolvido pois o grupo pode se utilizar de mídias tradicionais como os jornais e rádios
locais como forma de divulgação, mostrando para a população da região que o stand-
up não está só na internet ou em grandes centros, mas também nos municípios da
região dos Vales do Taquari e Rio Pardo. Em relação ao ecossistema, há a preocu-
pação dos produtores em sempre realizar eventos com qualidade, fortalecendo a ex-
periência do público e a parceria com os bares. Já citado no capítulo das análises, é
importante que haja uma combinação de dois fatores: mais pessoas interessadas em
fazer stand-up e mais pessoas dispostas a consumir de forma frequente, desta forma
a cena se fortalece.
Já sobre a rede de parcerias, reforça-se a importância de manter contato com
produtores de nível estadual, oportunizando eventos de maior impacto com artistas
renomados na cena gaúcha, e aproveitando-se da logística para proporcionar um
show nacional, assim quando for oportuno. Ao se tratar da localização geográfica, o
grupo ainda enfrenta desafios logísticos, pois a periodicidade de eventos na Grande
Porto Alegre é muito maior, oportunizando aos artistas de lá uma evolução mais rápida
comparado aos comediantes dos Vales.
Na dimensão econômica, é possível perceber através das respostas dos entre-
vistados que a demanda pelo stand-up vem crescendo, e esse reflexo se dá nos Vales
quando há shows de nível nacional, pois o público que esses artistas possuem estão
66

espalhados por todo o Brasil. Porém, cabe ao grupo seguir fomentando a cena, apro-
ximando o público da arte em si, sem depender de nomes grandes para vender um
show, dependência essa que mesmo na capital do estado é sentida.
O comediante D espera que possa ser aproveitado o potencial do município de
Lajeado para expandir a cena regional e fortalecer os municípios do entorno, criando
um circuito, ou ecossistema. Ele também relata que o crescimento da cena nos Vales
do Taquari e Rio Pardo potencializa a cena gaúcha, pois quanto mais cenas ativas,
mais comediantes estão trabalhando, mais produtores estão envolvidos, e mais pú-
blico tem a oportunidade de consumir comédia, fortalecendo a geração de emprego
e renda.
Ao se tratar de políticas públicas, alguns municípios dos Vales possuem pro-
gramas e projetos direcionados à cultura, tendo destaque os seguintes municípios:
Em Venâncio Aires, conforme o site da Secretaria de Cultura e Esporte, há a
lei nº 5991/2017, intitulada Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Venâncio Aires
(LEMIC), onde fomenta eventos culturais das mais diversas expressões artísticas,
como: Artes Visuais; Artesanato; Audiovisual; Circo; Culturas Populares; Dança; Livro;
Memória e Patrimônio; Museus; Música; Teatro. No edital de 2019, foram direcionados
R$100.000,00 (cem mil reais) para seis projetos, variando de R$10.000,00 (dez mil
reais) a R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais) por projeto.
No município de Estrela, de acordo com o portal online da Câmara Municipal,
há o projeto de lei nº 052-03/2019, intitulado Programa Municipal de Incentivo à Cul-
tura -PROCULTURA, com o objetivo de proporcionar acesso aos bens culturais e ar-
tísticos para a população, incentivando a produção cultural no município. O projeto
abrange a Literatura, as Artes Visuais, a Música, as Artes Cênicas, a Dança, o Arte-
sanato, o Folclore, a Memória, o Patrimônio Histórico (Artístico, Natural e Cultural) em
seu acervo material e imaterial, a Dança, o Cinema e Vídeo, e as Manifestações Po-
pulares (Culturais e Tradicionais).
Demais municípios relevantes no Vale do Taquari e Rio Pardo, como Lajeado
e Santa Cruz do Sul, apresentam nos portais (2022) de suas respectivas prefeituras
informações referentes à Lei Aldir Blanc que dispõe sobre ações emergenciais desti-
nadas ao setor cultural a serem adotadas durante o estado de calamidade pública,
diretamente influenciado pelo início da pandemia de COVID-19 em março de 2020.
Ainda, o portal online da Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul (2022) disponibiliza
um formulário onde é possível se registrar no Cadastro Municipal de Entes e Agentes
67

Culturais, vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, informando, além de dados


pessoais, o setor e segmento cultural vinculado para cadastro na pasta.
São informações disponíveis nos sites das prefeituras, e apresenta-se uma
possibilidade de angariar recursos para fomentar a cena de comédia. Para isso, é
necessário que os agentes envolvidos na região busquem apresentar projetos, caso
assim haja interesse. É importante lembrar que essa prática não é habitual no mer-
cado do stand-up por conta da burocracia e tempo despendido pelos trâmites, apesar
do grupo ter experienciado uma parceria com a prefeitura de Estrela em 2021.
Ao analisar a última dimensão, que trata dos aspectos culturais e sociais, pode-
se considerar que o grupo precisa estar atento às alterações nas práticas de con-
sumo dos produtos culturais e disseminação dos produtos criativos, justamente
por toda discussão já exposta sobre métodos de divulgação, utilizar-se da internet
para promoção dos shows e nome do grupo em si, pois os consumidores entrevista-
dos relataram que só souberam que os shows iriam acontecer porque viram a rede
social dos comediantes que têm contato, mas ao mesmo tempo expuseram que a
experiência na noite de comédia em Estrela foi completa. Os integrantes do grupo já
são consumidores assíduos de stand-up, seja presencialmente ou pela internet, por-
tanto, é relevante se manter atualizado e aprender, através da observação, os méto-
dos que os comediantes de grande influência utilizam para promover seus espetácu-
los.
Por fim, a diversidade cultural também impacta os negócios da comédia no
Vales, pois conforme o comediante D, há diferenças nos públicos de cada cidade. Ele
relata que as plateias de Estrela e Lajeado comumente reagem de forma mais expres-
siva nos espetáculos, e atrela essa reação a uma cultura de consumo mais aflorada
que os demais municípios. Tanto o produtor C, quanto o comediante D, entendem que
a formação de nichos de consumidores poderá aflorar nos Vales conforme a arte se
torna mais difundida.
O Vale Uma Comédia, a partir das dimensões e fatores analisados, têm a res-
ponsabilidade de fomentar a cena de stand-up na região, dando ênfase na qualidade
de produção e divulgação dos espetáculos, bem como do aperfeiçoamento das apre-
sentações dos comediantes, mantendo e promovendo uma rede de parcerias com o
objetivo de tornar o consumo de stand-up comedy cada vez mais comum na popula-
ção da região, para no futuro ter um público com potencial de consumo capaz de
68

manter um comedy club em Lajeado sustentável financeiramente, sendo referência


nos Vales.
Expostos os fatores envolvidos na análise regional a partir do grupo Vale Uma
Comédia, o próximo capítulo faz um fechamento de toda temática abordada no traba-
lho, demonstrando como cada objetivo proposto foi alcançado.
69

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo analisar os fatores que influenciam os negó-
cios da comédia stand-up no Estado do Rio Grande do Sul, a partir da concepção da
economia criativa. Para tanto, foram elencados fatores, definidos pelo autor com
base na fundamentação teórica, e categorizados através de dimensões para facilitar
o entendimento da pesquisa.
Os dois primeiros objetivos específicos eram entender os aspectos da comédia
stand-up vinculados à economia criativa e compreender os fatores que envolvem os
negócios da comédia. Para tanto, foi possível confirmar que no fator criatividade, além
de ela auxiliar na criação e desenvolvimento de produtos e serviços, ela é capaz de
ajudar na solução de problemas do negócio, encontrar parcerias e criar maneiras cri-
ativas de divulgar os shows, poder aperfeiçoar o negócio através de processos criati-
vos, possibilitar lucrar com diferentes atividades e possibilitar escritas criativas através
de determinadas técnicas.
No fator autoconfiança, além de ela proporcionar o reconhecimento dos pontos
fortes do agente, fazer com que ele acredite no que vende ou oferta e auxiliar na
criatividade, a autoconfiança também se provou uma ferramenta eficaz para comuni-
car ao público que o produto ofertado tem qualidade, auxiliou na segurança do artista
para performar melhor, e quando ela estava ausente, foi determinante para o desper-
dício de oportunidades, ou fechamento de portas.
O fator persistência demonstrou, através da teoria, a capacidade de agir pe-
rante os problemas e reconhecer e aprender com os erros cometidos, e se confirmou
com ações dos agentes envolvidos, como se adaptar a agenda dos outros, insistir na
70

venda de ingressos no início de uma cena, ter a compreensão de que é difícil obter
lucros no início da carreira, além de demonstrar a necessidade do artista em realmente
gostar do que faz para que se sustente fazendo stand-up.
O fator flexibilidade de relacionamento e negociação fundamentou-se inicial-
mente na capacidade de criar relacionamentos bem consolidados com outras partes
e também de negociar cachês, prazos e agendas. Além disso, se confirmou através
do auxílio na resolução de problemas, sabendo gerir as emoções da outra parte, a
criação de grupos entre os agentes para evoluírem um com o outro, além da compre-
ensão que no início de uma cena, é necessário abrir mão de cachê em troca de opor-
tunidades de apresentações.
Na atitude empreendedora, o fator inicialmente baseou-se na mentalidade do
agente, tendo crenças e valores bem fundamentados e o intuito de encontrar oportu-
nidades, o que se confirmou através dos agentes buscarem referências bem sucedi-
das, aproveitar as oportunidades que surgirem, procurar diferenciar seu produto (seja
o bar ou o show), ter iniciativas na condução de suas redes sociais produzindo conte-
údo e capitalizando o negócio através de outros produtos, como revistas e podcasts.
O conhecimento do negócio se apresentou no conhecimento de como funciona
o mercado, o entendimento das necessidades dos clientes e a entrega do produto da
melhor forma possível. Na prática, se mostrou necessário conhecer o público que o
agente se comunica, entender os processos do negócio (know-how), conhecer um
bom número de artistas e entender como se inserir no mercado como comediante.
Já nas formas de aprendizado, foram levantados tópicos como aprender no
método da tentativa e erro e também aprender com os agentes afins, o que se confir-
mou na prática, pois o stand-up ainda é novo no RS e cabe aos agentes entender as
necessidades do público, realizando uma boa leitura sobre ele.
A realização pessoal foi teorizada considerando que o agente envolvido aprecia
e experiencia a arte e faz aquilo porque realmente gosta. Foi possível confirmar que
receber o feedback do público relatando a diferença positiva que o show causou na
vida dela, faz parte da realização pessoal do artista. Outras duas constatações foram
que, ser proprietário de um comedy club gera satisfação pois o agente está oportuni-
zando o crescimento da comédia, e por fim, comediantes iniciantes relataram que o
que sustenta sua ação é a realização pessoal, pois o início geralmente não gera lu-
cros.
71

A discussão da indústria cultural se baseou principalmente na convergência de


um produto criativo em outros meios culturais, e foi possível observar que os comedi-
antes e produtores utilizavam-se das multiplataformas para a divulgação de seus
shows, promovendo-os principalmente através de vídeos.
O fator do ecossistema foi fundamentado pela necessidade de existirem em-
preendimentos e parcerias focados em proporcionar desenvolvimento a todos agentes
envolvidos, o que foi confirmado, pois foi relatada a importância da existência de casas
de comédia, bares ou pubs dispostos a abrirem as portas para o stand-up. Além disso,
percebeu-se a necessidade de terem pessoas comprometidas para realizarem o tra-
balho de comediante e de produtor de forma profissional, para que um público seja
criado e fidelizado. Portanto, estrutura e pessoal devem caminhar juntos.

A rede de parcerias é outro fator importante que foi teorizado no potencial do


networking para proporcionar aprendizado e potencializar o negócio - o que foi confir-
mado, inclusive demonstrando a necessidade de uma constante atualização da rede
de parcerias, pois sempre há gente nova no mercado. Também foi constatada a ne-
cessidade de ter uma boa rede de contatos desde o início da carreira de comediante,
pois é necessário levar público em troca de uma oportunidade de apresentação em
um estabelecimento. Ainda, se mostrou importante ter contatos com produtores de
nível estadual para um crescimento mais preciso, se pontuou o cuidado em usar a
rede de parcerias de forma construtiva e não destrutiva, além de que boas parcerias
encurtam caminhos, e o contrário, dificulta muito o desenvolvimento da carreira ou do
negócio.
A localização geográfica foi exposta inicialmente na vantagem do crescimento
em conjunto dos agentes envolvidos, e pode-se confirmar ao ponto de que, quanto
mais empreendimentos dedicados à comédia e mais pessoas próximas realizando
apresentações, mais se fortalece uma cena. Além disso, uma cidade maior oferece
mais oportunidades pela questão demográfica e pela possibilidade maior de encontrar
pessoas interessadas no consumo do stand-up, pois já é uma arte cosmopolita. Por
fim, apresentaram-se pontos positivos em estar longe da cena, como ser a referência
daquele local, mas que levando em consideração o todo, não é vantajoso pois dificulta
o processo de evolução do artista por questões logísticas. Percebeu-se uma depen-
dência da cena do interior do estado do Rio Grande do Sul perante à Grande Porto
Alegre, bem como da Grande Porto Alegre para a cena paulistana.
72

A questão da demanda foi abordada na teoria levando em consideração aspec-


tos como a evolução da tecnologia e o aumento do interesse das pessoas. Na prática,
se confirmou a necessidade de três coisas estarem alinhadas: a sustentabilidade fi-
nanceira do bar (ou pub, ou comedy), um espaço pensado para o comediante perfor-
mar o stand-up e um ambiente e também uma experiência marcante para o público
que vai consumir.
Já no fator da geração de emprego e renda inicialmente foi destacado o poten-
cial de empregar pessoas e de gerar renda para os todos agentes envolvidos, o que
se confirmou, pois artistas de relevância estadual já conseguem cachês relevantes
com suas apresentações ou demais atividades criativas (como roteirista), porém não
são todos que conseguem viver exclusivamente de comédia, por isso a sustentabili-
dade financeira foi discutível. Também foi relatado que são gerados empregos diretos
nos comedys e a possibilidade da criação de um estabelecimento voltado à comédia
em Lajeado assim que a cena estiver mais fortalecida, gerando renda e emprego lo-
calmente.
O fator de políticas públicas não teve a relevância que propôs a teoria, que
argumentava a possibilidade de fomentar o stand-up, sobretudo disseminando a arte
em geral. Empiricamente, foi percebido um processo burocrático e concorrido, além
da falta de interesse por parte dos agentes, também por terem poucas experiências
nesse fator, mesmo que alguns deles relataram achar importante e benéfico para a
cena de comédia estadual, caso assim fosse executado.
A disseminação dos produtos culturais foi embasada na evolução da tecnolo-
gia, proporcionando um acesso mais fácil aos produtos criativos, o que se confirmou,
pois a internet se provou como a ferramenta mais efetiva e fácil de promover a divul-
gação da arte, o que consequentemente eleva o número de pessoas que tenham con-
tato e interesse pelo stand-up. Fator este que tem ligação direta com a alteração nas
práticas de consumo dos produtos culturais, fundamentados em novos hábitos de con-
sumo da população e corroborados com a popularização do acesso à internet, sobre-
tudo às mídias sociais, descentralizando o potencial de popularizar uma figura que a
televisão antigamente tinha quase que exclusivamente.
Por fim, a diversidade cultural baseou-se teoricamente na diversidade de públi-
cos, que consomem mais produtos culturais e consequentemente popularizam mais
as artes. Na prática, foi percebido que a popularização do stand-up faz com que sur-
73

jam nichos e estilos, e que se por um lado os públicos são divididos, por outro a es-
pecificidade do comediante faz com que ele se aperfeiçoe na temática escolhida. Os
nichos são uma consequência da popularidade da arte, e se reforça que o stand-up é
livre e tem espaço para todos.
Portanto, os dois primeiros objetivos específicos foram respondidos através do
levantamento teórico e também dos resultados obtidos através das entrevistas. O ter-
ceiro objetivo trata de identificar as razões pelas quais uma cena de comédia se cria
e se estabelece, no Rio Grande do Sul, e para tanto foi respondido também vinculado
aos fatores expostos nos objetivos anteriores, questões como: a existência de bares,
pubs, teatros ou mesmo comedy clubs abertos a promoverem o stand-up, ter pessoas
comprometidas com a qualidade das atividades que realizem, sejam elas produtores,
comediantes, donos dos estabelecimentos, ou qualquer outro agente envolvido, ter
uma boa rede de parcerias para potencializar os espetáculos, criar e cultivar um pú-
blico consumidor da arte do stand-up e não apenas de grandes artistas, e principal-
mente ter força de vontade, atitude, resiliência e paciência.
O último objetivo específico trata de analisar os negócios da comédia stand-up
nos Vales do Taquari e Rio Pardo, a partir do caso Vale Uma Comédia. A cena de
comédia nos Vales ainda é nova e o grupo, até o momento do desenvolvimento deste
trabalho, não possui ainda um ano de existência. Assim como na cena do RS, nos
Vales é preciso ter pessoas querendo iniciar no mundo da comédia, seja como come-
diante ou produtor, e que estejam realmente comprometidas com a causa, pois uma
cena nova precisa ser bem alicerçada, evitando ser feita de qualquer maneira pois
isso pode acarretar uma péssima primeira impressão, e que, consequentemente, pode
comprometer o desenvolvimento da cena na região.
É importante também que o grupo realize divulgações eficientes sobre suas
noites de comédia, pois ele ainda é desconhecido pela maioria das pessoas, salvo os
amigos, conhecidos e pessoas próximas que gostam da arte. Essas divulgações po-
dem ser tanto das noites em si, como da produção de conteúdo para redes sociais
através de piadas, esquetes ou podcasts. Ainda, é relevante seguir proporcionando
uma experiência marcante para o público consumidor, através de um local propício e
convidativo para o stand-up, além de oferecer serviços de copa e cozinha de quali-
dade.
Por fim, após uma cena mais forte estabelecida, o grupo pretende ser o pioneiro
na região ao abrir o primeiro comedy club dos Vales do Taquari e Rio Pardo, porém,
74

é um plano de longo prazo, já que uma decisão como essa precisa ser bem analisada
e calculada para que haja êxito.
O presente estudo traz contribuições importantes para a temática do stand-up
comedy, ainda pouco abordado e estudado academicamente. Espera-se que a pes-
quisa realizada possa auxiliar no desenvolvimento de novas cenas de comédia não
só na região do Vale do Taquari, como também em outras regiões do estado do Rio
Grande do Sul, e quiçá, do Brasil.
75

REFERÊNCIAS

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81

APÊNDICES

APÊNDICE A - PERGUNTAS PARA OS PRODUTORES

1. Quem é você e qual a sua relação com a comédia? Como iniciou no mundo da
comédia e do stand up? Como iniciou o trabalho de produção?

2. Como você enxerga a comédia dentro de um cenário econômico? É sustentá-


vel? Gera empregos e renda?

3. A criatividade é intrínseca aos negócios criativos. Como você relaciona a cria-


tividade com seu trabalho de produção?

4. O quão relevante é ter uma atitude empreendedora, que busca oportunidades


e coisas novas?

5. Qual a importância de manter uma rede de contatos, buscando conexões e


parcerias?

6. Quão importante é estar inserido na cena da comédia e ter conhecimentos so-


bre o negócio?

7. Um empreendedor normalmente possui autoconfiança. Você entende que isso


também se aplica ao stand-up?

8. O quanto a persistência é fundamental para o seu trabalho?

9. O quanto a flexibilidade de relacionamento e negociação impacta no seu traba-


lho?

10. Quão significativo é estar envolvido geograficamente no circuito? Estar no Vale


do Taquari é menos favorável que na região da Grande Porto Alegre? Se sim,
a mesma dinâmica vale para a Grande POA em relação à cidade de São Paulo?
82

11. Como acontece o processo de aprendizagem? A experiência de tentativa e erro


é comum? Demais colegas compartilham experiências?

12. O negócio e a arte da comédia geram realização pessoal?

13. Um ecossistema forte contribui para o desenvolvimento do cenário como um


todo? O que é necessário ser feito inserido neste contexto?

14. Que estrutura é necessária para produzir um show? É possível fazer sem?
Como você lida quando há falta de estrutura?

15. Você já teve ou tem apoio de verba pública para produzir e vender o show? Se
não, entende que há diferença?

16. O stand up ainda é algo novo no Brasil, sobretudo no RS. Você enxerga a di-
versidade cultural e também da sociedade como algo positivo para o stand up?
Entenda diversidade como diferentes idades, ideologias, estilos de vida e con-
sumo de produtos culturais no geral (artes, música, teatro, etc).

17. Quais razões você atribui para uma cena de comédia se criar e se estabelecer?
83

APÊNDICE B - PERGUNTAS PARA OS COMEDIANTES

1. Quem é você e qual a sua relação com a comédia? Como iniciou no mundo da
comédia e do stand up?

2. Como você enxerga a comédia dentro de um cenário econômico? É sustentá-


vel? Gera empregos e renda?

3. A criatividade é intrínseca aos negócios criativos. Como você relaciona a cria-


tividade com seu trabalho de comediante?

4. Você identifica diferenças em relação a resposta do público considerando rea-


lizar um show na Grande Porto Alegre e no interior do estado, como exemplo,
Vale do Taquari?

5. O quão relevante é ter uma atitude empreendedora, que busca oportunidades


e coisas novas?

6. Qual a importância de manter uma rede de contatos, buscando conexões e


parcerias?

7. Um empreendedor normalmente possui autoconfiança. Você entende que isso


também se aplica ao stand-up?

8. O quanto a persistência é fundamental para o seu trabalho?

9. O quanto a flexibilidade de relacionamento e negociação impacta no seu traba-


lho?

10. Quão importante é estar inserido na cena da comédia e ter conhecimentos so-
bre o negócio?
84

11. Como acontece o processo de aprendizagem? A experiência de tentativa e erro


é comum? Demais colegas compartilham experiências?

12. O negócio e a arte da comédia geram realização pessoal?

13. Um ecossistema forte contribui para o desenvolvimento do cenário como um


todo? O que é necessário ser feito inserido neste contexto?

14. Quão significativo é estar envolvido geograficamente no circuito? Estar no Vale


do Taquari é menos favorável que na região da Grande Porto Alegre? Se sim,
a mesma dinâmica vale para a Grande POA em relação à cidade de São Paulo?
Por quê?

15. Você já teve ou tem apoio de verba pública para produzir e vender o show? Se
não, entende que há diferença?

16. O stand up ainda é algo novo no Brasil, sobretudo no RS. Você enxerga a di-
versidade cultural e também da sociedade como algo positivo para o stand up?
Entenda diversidade como diferentes idades, ideologias, estilos de vida e con-
sumo de produtos culturais no geral (artes, música, teatro, etc).

17. Que impressão você teve ao realizar apresentações na região da Grande Porto
Alegre e no interior do estado, como nos Vales do Taquari e Rio Pardo?

18. Quais razões você atribui para uma cena de comédia se criar e se estabelecer?
85

APÊNDICE C - PERGUNTAS PARA OS CONSUMIDORES

1. Desde quando você assiste stand-up comedy e como conheceu o gênero?

2. Através de quais meios você consome a comédia stand-up? (Internet, ba-


res/pubs, teatros)

3. A estrutura oferecida nos eventos que você participou te causou uma experi-
ência boa?

4. Você entende que falta alguma coisa em específico nos shows de comédia
stand up que consome presencialmente?

5. Qual sua percepção sobre a possibilidade de existir um clube de comédia nos


Vales do Taquari e Rio Pardo, com apresentações semanais? Frequentaria?

6. Você tem algum amigo ou conhecido que está envolvido no mercado da comé-
dia, seja ele produtor ou comediante?

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