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LETRAS FAFIRE 2023– Recife/PE

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ARNALDO BRANCO: UMA ADAPTAÇÃO DE VIDAS SECAS, DE GRACILIANO


RAMOS.

Mirella SANTOS
Glauco CUNHA
RESUMO
O presente artigo buscar investigar a adaptação da obra Vidas Secas de Graciliano
Ramos, feita for Arnaldo Branco. Visando a importância da história em quadrinho e o
quanto ela pode ser adicionada no âmbito educacional. Essa pesquisa foi motivada
pela leitura da adaptação em quadrinhos com o intuito de fazer uma breve
comparação com a obra original. Desse modo, foi com leituras e pesquisas sobre a
história do livro que este artigo foi criado, descobrindo assim que o leitor brasileiro
pode ler a adaptação de Arnaldo tranquilamente, que ele irá saber exatamente a
história que se passa na obra de Ramos.

Palavras-chave: Vidas Secas, Arnaldo, Graciliano, história em quadrinho, HQ,


obra, adaptação.

INTRODUÇÃO

A obra Vidas Secas do autor Graciliano Ramos, lançada no ano de 1938, é


com certeza um dos maiores clássicos da literatura brasileira. A partir da história de
vida de Fabiano e de sua família, retirantes que andam em busca de água e comida
para sobreviver, o autor expressa na obra as dificuldades enfrentadas para ter uma
boa vida no campo, além de falar também sobre poderes da classe alta da
sociedade. O conteúdo do livro ainda acompanha a realidade de muitas famílias hoje
em dia, este assunto não se torna antigo, pelo contrário, ele vai se tornando cada
vez mais atual devido as condições de vida da população do século 21.

Graciliano Ramos vivenciou a época do modernismo, então, suas prosas vão


para além dos significados do que ele deseja expressar, mostra uma riqueza nos
detalhes e principalmente uma busca para encontrar um estilo próprio dentro daquilo
que ele está expressando. Ele busca falar sobre o ser humano em todas as suas
fases, busca falar tanto sobre os desejos das pessoas, quanto do que está por trás
daquilo que eles tanto querem, aquela vida seca que eles levavam.

O autor fez parte do romance dos anos 30, depois do modernismo “heróico”,
partindo para uma crítica mais social que se diz a segunda geração modernista. A
geração de 30 também foi chamada de geração regionalista pois vai saindo do foco

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Graduanda em Licenciatura Plena Português/Inglês na Faculdade Frassinetti do Recife | E-mail:
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Professora de Linguística Aplicada, Estágio Supervisionado em Língua Portuguesa e Trabalho de Conclusão de Curso da
Faculdade Frassinetti do Recife e Orientadora da pesquisa | E-mail: edilzam@prof.fafire.br
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das cidades, da área urbana, para dar ênfase ao sertão, as coisas que geralmente a
sociedade não olha, coisas que se tornam invisíveis aos olhos de algumas pessoas.
O sertão se torna uma típica paisagem do romance de 30, mas não é a primeira vez
que ele aparece na nossa literatura, no romance brasileiro, houve uma fase em que
o romance era dito como regionalista.

Arnaldo Branco, que foi o roteirista da adaptação de Vidas Secas em 2015,


juntamente com o ilustrador Eloar Guazzelli, deram ao leitor o poder de interpretar a
obra de um outro ângulo. A adaptação é mostrada em HQ (Histórias em quadrinhos)
facilitando assim, o entendimento dos jovens de hoje em dia e fazendo que o
interesse deles por leitura aumente.

A adaptação em HQ busca atrair fãs de quadrinhos para imergirem dentro de


uma das obras mais importantes da literatura brasileira. Para isso acontecer,
Arnaldo e Eloar teriam que ser fiéis ao texto original.

As ilustrações feitas por Guazelli são de suma importância para a obra, pois é
nelas que ele retrata o roteiro de Graciliano em relação a vida que aquela família
levava. Mas vamos ver se essa retratação está clara. Ver se ilustrador demonstra
por meio de tons e expressões em seus desenhos, todos os sentimentos e dor dos
personagens, se passam a sensação de que aquele enredo, roteiro, história, pode
ser sobre qualquer pessoa tanto nos tempo antigos como agora.

Neste artigo, no primeiro momento vamos fazer uma referência a obra Vidas
Secas falando também da importância de uma HQ, no segundo momento vamos
analisar se partes, sejam eles pequenas ou grandes, da obra original de Vidas
Secas, estão faltando ou estão completas na adaptação de Arnaldo. E em terceiro
momento, ver se por um acaso a adaptação pode prejudicar o leitor que vê a obra
pela primeira vez e com isso saber se o recurso imaginático facilita a compreensão
do texto para esses leitores.
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1. O mundo da HQ
1.1 A história da HQ (HISTÓRIA EM QUADRINHO)
A linguagem dos quadrinhos é tão rica, que as pessoas não percebem
que quando estamos lendo uma história em quadrinhos, hoje em dia, tanto
digital quanto impressa – apesar da impressa ser muito importante ainda –
nós estamos interpretando aquele personagem, quem está dando voz para o
personagens, somos nós, é uma interpretação teatral que ocorre dentro da
cabeça das pessoas e elas não percebem porque é natural.

É uma linguagem que respeita o tempo do leitor, pois quando você está
lendo e gosta da ilustração mostrada, você pode segurar um pouquinho mais,
mas se quiser ter uma leitura mais rápida, pode efetuar essa leitura sem
nenhum problema. A questão de respeitar o tempo, é essencial para o leitor
absorver ensinamentos.

As histórias em quadrinhos são a base para você levar os leitores


jovens, para várias outras profissões e ajudar na comunicação.

[...] as histórias em quadrinhos vão ao encontro das necessidades do ser


humano, na medida em que utilizam fartamente um elemento de comunicação que
esteve presente [...]: a imagem gráfica. O homem primitivo [...] transformou a
parede das cavernas em um grande mural, em que registrava elementos da
comunicação para seus contemporâneos: o relato de uma caçada bem sucedida [...]
O advento do alfabeto fonético fez com que a imagem passasse a ter menor
importância como elo de comunicação entre os homens [...] (VERGUEIRO, 2004, p.
8 e 9)

As HQ’s têm uma versatilidade necessária na comunicação por várias razões.


Elas são um meio visual e narrativo muito poderoso, capaz de transmitir
informações, ideias e emoções de forma acessível e cativante.
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1.1.1 Acessibilidade
As histórias em quadrinhos são de fácil compreensão para pessoas de
diferentes faixas etárias, com níveis de leitura distintos e até mesmo origens
culturais. As combinações de texto e imagens abrem a mente do leitor e fazem com
que ele entenda o que está sendo transmitido de maneira clara e precisa. Há
algumas considerações sobre acessibilidade em HQs: Texto alternativo, legenda,
tamanho de texto, traduções e etc.

Incluir texto alternativo nas imagens é essencial para tornar as histórias em


quadrinhos acessíveis a pessoas com deficiência visual. Isso permite que leitores de
tela descrevam as imagens e transmitam as informações visuais aos usuários.
Adicionar legendas a balões de fala é útil para pessoas com deficiência auditiva ou
para aqueles que preferem ler as histórias sem áudio. As legendas podem incluir
diálogos, efeitos sonoros e informações adicionais relevantes para a história.

Oferecer a opção de aumentar ou diminuir o tamanho do texto para que os


leitores possam ajustá-lo de acordo com suas necessidades visuais. Considerar a
possibilidade de traduzir e localizar as histórias em quadrinhos para diferentes
idiomas, ampliando assim o alcance e tornando-as acessíveis a uma audiência mais
ampla.

Essas são apenas algumas das maneiras pelas quais as histórias em


quadrinhos podem ser tornadas mais acessíveis. É importante considerar as
necessidades específicas do público-alvo e buscar maneiras de fornecer uma
experiência inclusiva para todos os leitores.

1.1.2 Síntese de informações


Conveniente ao espaço limitado nos quadrinhos, os autores precisam
sintetizar informações e transmitir ideias de forma direta. Isso faz com que o leitor se
interesse mais na obra e com que ele veja a história com mais clareza e objetividade
para a comunicação, ajudando a transmitir mensagens de um modo eficiente.
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Esses são apenas pontos de maneiras pelas quais as histórias em quadrinhos
desempenham um papel importante na comunicação. Seja como um modo de
entreter o leitor, de educar ou até de um modo de se expressar artístico, as HQ’s
tem o poder de chegar até o público e os impactar de uma maneira única.

A história em quadrinho não tinha espaço na literatura brasileira, mas aos


poucos ela foi entrando e conquistando leitores de todas as idades, se tornando uma
opção diferente para o público leitor que já havia visto alguns quadrinhos
estrangeiros antes do gênero entrar no Brasil. Segundo Coelho:

[...] a literatura-em-quadrinhos, a partir dos anos 50, cresce em importância


como produto dos mais lucrativos na área da imprensa. As editoras especializadas
vão-se organizando cada vez mais com eficiência [...] para atender ao crescente
público em todo o Brasil (ou pelo menos nos centros urbanos mais importantes).
(COELHO, 1991, p. 252)

O estilo da história colocada em quadrinhos, em meados dos anos 50, obteve


uma grande proporção e alcance com o público. Foi nessa época que foram criados
os comics books que são populares até hoje. Apesar de que na época os quadrinhos
já eram conhecidos, pois foram criados pelos anos de 1938, a sua publicação era
feita em tiras de jornal.

Algumas pessoas, e principalmente docentes, não achavam as histórias em


quadrinhos um bom instrumento para ser lido pelos jovens, por não conter conteúdo
educativo eles não implementavam este meio de linguagem em aulas.

Essa inegável popularidade dos quadrinhos, no entanto, talvez tenha sido também
responsável por uma espécie de “desconfiança” quanto aos efeitos que elas
poderiam provocar em seus leitores. [...] os adultos tinham dificuldade para acreditar
que, por possuírem objetivos essencialmente comerciais, os quadrinhos pudessem
também contribuir para o aprimoramento cultural e moral de seus jovens leitores.
[...] Pais e mestres desconfiavam das aventuras fantasiosas das páginas
multicoloridas das HQS, supondo que elas poderiam afastar crianças e jovens das
leituras “mais profundas” (VERGUEIRO, 2004, p. 8).

Podem haver sim, preocupações, mas as HQ’s podem ser uma ferramenta
educacional eficaz e envolvente podendo proporcionar uma quantidade significativa
de benefícios como o abranger seus conhecimentos e até conhecer coisas novas.
Demorou para a história em quadrinho ser reconhecida como um meio de estudo,
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mas ela pode ser sim usada como um instrumento didático para os jovens de hoje.
Amelia Hamze (2008), afirma que:
Apesar das histórias em quadrinhos terem sofrido acirradas críticas,
acabou suplantando a visão de alguns educadores e provando (sendo bem
escolhida) que têm grande importância e eficácia nos trabalhos escolares.
[...] As histórias em quadrinhos possuem potencialidade pedagógica
especial e podem dar suporte a novas modalidades educativas, podendo
ser aproveitadas nas aulas de Língua Portuguesa, História, Geografia,
Matemática, Ciências, Arte, de maneira interdisciplinar, fazendo com que
o aprendizado se torne ao mesmo tempo, mais reflexivo e prazeroso em
nossas salas de aula. (HAMZE, 2008).

Todas as pessoas sabem o sucesso que tem e pode a vir ter mais e mais
uma história em quadrinho, e diante desse sucesso, é que elas com certeza entram
como um meio de estudo e entrada no âmbito educacional. As HQ não param de ser
uma leitura divertida que atraem diversas pessoas de várias idades. A popularidade
da história em quadrinho fez com que ela se tornasse parte de um grande meio de
autores e editoras que querem trazer esse material para dentro de revistas, bancas
e até na internet.
Tamanha popularidade das histórias em quadrinhos, as HQS, não se deu
por acaso. A produção, divulgação e comercialização, organizada em uma
escala industrial, permitiu a profissionalização das várias etapas de sua
elaboração, possibilitando-lhes atingir tiragens astronômicas.
(VERGUEIRO, 2004, p. 7).

As histórias em quadrinhos têm desfrutado de uma popularidade duradoura e


significativa ao longo dos anos. Elas conquistaram um lugar especial na cultura
popular, cativando públicos de todas as idades ao redor do mundo.

Uma das razões pára a popularidade das histórias em quadrinhos é a sua


capacidade única de contar histórias de maneira visualmente estimulante. A
combinação de texto e arte permite uma experiência narrativa envolvente, na qual os
leitores podem se transportar para mundos fictícios e até se sentirem como um
personagem da história.

Assim, as histórias em quadrinhos, além de serem um dos primeiros veículos


a caminhar para a padronização de conteúdos, também incorporavam a
globalização econômica em seus processos de produção, garantindo, dessa
forma, a sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo.
(VERGUEIRO , 2004, p. 7)
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As HQs continuam sendo populares no mercado, apesar de enfrentarem várias


transformações e desafios ao longo do tempo. A popularidade das histórias em
quadrinhos varia de acordo com diversos fatores, como personagens, editores,
estilos de arte e narrativas.

2. Adaptando o clássico

As adaptações de obras clássicas para histórias em quadrinhos são


bastantes comuns e mostram um modo único de revelar as histórias clássicas
para um público novo. Várias obras clássicas já foram adaptadas ao longo
dos anos e Vidas Secas se tornou parte dessa lista incrível de livros literários
que foram transformados em imagens, imagens essas que mostram a
narrativa passada na história de vida que Graciliano aborda em sua obra.

A mistura de textos originais da obra com elementos visuais cria uma nova
experiência, uma nova forma de ver a literatura, fazendo com que os jovens
entendam e se sintam atraídos pela história querendo ir atrás de outros meios
de leitura e de mais obras clássicas, que são essenciais para o nosso mundo
literário e para a nossa educação

Arnaldo Branco, roteirista da HQ de Vidas Secas, quis transparecer em sua


adaptação, a história tocante e melancólica que ao mesmo tempo é forte e
dura, sentimentos que um poeta como Graciliano sabia expressar bem em
cada linha.
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Leitores da leitura original de Graciliano, quando pegarem a adaptação e
começarem a ler, com certeza vão ver as semelhanças e o que essa
adaptação trás da obra original, que Arnaldo manteve a fidelidade a obra, e
não deixou passar nada o que tem em todos os capítulos.

As cores usadas na adaptação para transparecer a dor e a melancolia


dos personagens foram exatas, Eloa acertou na escolha da paleta de cores,
pois em uma história de seca, usar cores primárias seria uma grande mentira
e estaria escondendo a trama da obra.

Os tons marrons e vermelhos escolhidos pelo ilustrador para os


desenhos, ajudam na interpretação da história. O vermelho e marrom que
aparecem na HQ, só mudam algumas vezes em momentos em que o inverno
é citado e no capítulo final onde é retratado os sonhos dos personagens de
sair daquela vida seca e terem um novo começo na cidade.

Essa interpretação de Vidas Secas pelo Arnaldo Branco, é uma


interpretação riquíssima, que em uma primeira lida, fãs e leitores de obras de
Graciliano podem até não gostarem, mas quando se mergulha dentro da
história, dentro daquele sertão, na dor e na valentia dos personagens e até
mesmo na licença poética que Arnaldo utiliza em colocar diálogos diretos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desse modo, Arnaldo e Eloa foram cirúrgicos, eles se apropriaram da
linguagem crua que Graciliano utilizou e colocam na adaptação uma trama com
traços igualmente crus, áridos, e uma linguagem bruta, seca. Os traços do ilustrador
e a paleta de cores que ele escolheu são enxutos, são precisos e transmitem para o
leitor a força da imagem e da personalidade de cada personagem. A interpretação
de Arnaldo é uma interpretação forte, rica, que em uma primeira olhada e na
primeira palavra lida, o leitor tenha um brilho nos olhos e um anseio por mais obras
adaptadas.
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REFERÊNCIAS

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. ed.1. São Paulo: Record, 2019. 176

Vidas Secas: Graphic novel. Adaptação de Arnaldo Branco, ilustrações de Eloar


Guazelli. 6ªed. Rio de Janeiro, Galera Record, 2019 e RAMOS, Graciliano.

VERGUEIRO, W. Uso das HQ no ensino, Como usar as histórias em quadrinhos


em sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.

COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da Literatura Infantil/Juvenil. 4. ed.


São Paulo: Ática, 1991.

HAMZE, Amelia. História em quadrinhos e os Parâmetros Curriculares


Nacionais. São Paulo. Disponível em: <
https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/historia-quadrinhos.htm>
Acesso em: 21/06/2023.

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