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Nome: Mileni dos Santos de Andrade

Letras-2022.1
Leitura e produção de texto 1

Análise fílmica

Narradores de Javé, filme brasileiro que tem sua temática explícita no título, pois assim como o
nome da obra cinematográfica a própria história se desenrola a partir da narração dos
moradores de Javé que tem como objetivo evitar a construção da usina hidrelétrica por meio da
escrita para tornar a cidade um patrimônio histórico e garantir sua preservação. É de suma
importância a valorização dos patrimônios públicos, pois eles representam a cultura e a história
de um povo que visa por meio do registro da escrita resgatar a memória coletiva da formação
da cidade e defender o patrimônio histórico cultural que ela representa para os moradores.
Apesar de se tratar de fatos oriundos da oralidade, cada morador tem um olhar distinto para os
acontecimentos e cabe ao historiador analisar relevância das "verdades" citadas e a partir disso
reunir as informações pertinentes para a documentação científica da narrativa.
A escrita de fato contribui para o teor da veracidade dos fatos uma vez que a oralidade permite
a mudança da narrativa e abre espaço para diferentes interpretações além de conseguir
atravessar gerações. Já no filme torna-se a única forma de provar e credibilizar a cidade de
Javé para torná-la patrimônio e obter sua preservação contra a inundação pela construção da
hidrelétrica e garantir a permanência dos moradores na cidade. Entende-se que existe a
compreensão de leitura no ato de ouvir, no entanto os habitantes não possuem alfabetização e
não tem o domínio de escrita isso se torna um fator negativo quando escrever se torna a última
alternativa para preservar Javé, e apenas Antônio Biá é capaz de ser o escritor encarregado de
formular o documento do vilarejo.
A relação de comunicação que tanto a escrita quanto a oralidade é capaz de possibilitar e varia
de acordo com os sujeitos que as utilizam devido à variedade linguística que cada um adquire
no decorrer de sua vida e mesmo assim não afeta a compreensão entre aqueles com o mesmo
idioma. A língua falada pelos personagens é constituída pelos traços da oralidade que está
bastante atrelado ao fato de que são pessoas com pouco ou nenhum acesso a escolaridade e
alfabetização, por isso seu uso linguístico e característico pela informalidade e traços regionais
vistos nas expressões: "causo", "baitôla", " raspá", "escrivinhá" "te lascar", entre outros.

No filme Vida Maria, é possível observar a importância da leitura e escrita na vida de uma
pessoa, no entanto, o filme retrata a vida de muitas Marias que transcorre da mesma maneira e
não tem a possibilidade de interrupção de um ciclo. São mulheres privadas do direito e da
escolha de estudar para se dedicar toda a sua vida ao trabalho do Lar em um ambiente sofrido
e com pouco ou nenhum recurso e acesso à dignidade humana. Com isso todas já possuem
seu destino traçado ao nascer. Nesse curta metragem a escrita nada mais é do que desenho e
símbolos devido a incompreensão do seu significado dado que não se tem o conhecimento
necessário para decodificar as palavras e desenvolver a leitura.
São evidenciados diversos problemas dos quais se destaca a interrupção da infância onde as
crianças são privadas de brincar e de estudar para ajudar seus pais nos afazeres do Lar. E
também, lhes são retiradas as perspectivas de um futuro melhor e o do direito de aprender a ler
e a escrever para mudar sua percepção de mundo. E ainda com agravante de serem seus
próprios pais que não demonstram sensibilidade e preocupação para mudar o cenário e o
modo de vida de seus filhos ao repreendê-los e desmerecer ato de ler e escrever como
expresso pela mãe de Maria José ao indagar: "Maria José não perca tempo desenhando seu
nome"
Esse comportamento é fruto das gerações que perpetuaram essa prática mas ao ocorrer uma
mudança para interromper esse ciclo as próximas Marias terão a possibilidade de sonhar e
acreditar num futuro diferente e com mais qualidade de vida.

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