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Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise

Kathya M T Barioni
Data 12/09/2023
Antropologia na Cultura Psicanalítica

Na psicanálise, o conceito de "sujeito" é central e complexo além de paradoxal,


com múltiplas nuances e interpretações. Ele se refere à pessoa em sua dimensão
psicológica, emocional e subjetiva, em contraposição ao indivíduo apenas como
uma entidade biológica ou social. O sujeito na psicanálise é uma entidade psíquica
e emocional única, com desejos, emoções, pensamentos e conflitos internos.

O Sujeito, só emerge como sujeito, por uma falta no nível do ser, que funda o
sujeito, mas requer em contrapartida, um ato do próprio sujeito para se estabelecer
como falta - sendo correlativo ativo da falta,

Isso ocorre por meio da fala, que separa o significante de significado e é usada
como via de acesso do inconsciente e que por sua vez, é um sistema de elementos
materiais articulados como cadeias desprovidos de significação intrínseca. Além
disso, a fala também, possibilita a transferência, pois através dela (fala) produz
algo que é além da palavra, mas nela ancorado, já que o sujeito desloca suas
vivências para o sujeito do analista, que acaba por substituir o objeto anterior
(que pode ser necessário, mas vira objeto de desejo quando o psiquismo procura
reencontrar o objeto nos seus registros psíquicos anteriores). Assim, por meio da
palavra, o Outro (um adulto, ou a mãe), exerce uma ação específica, então esse
sujeito é atendido em dois planos: um que traz o objeto necessário e outro que faz
com que alguém traga, fazendo assim com que esse sujeito precise do Outro
(enquanto material e simbólico da ordem social e cultural) para se manter vivo.
Nesse momento ele passa a existir a partir desse encontro com o Outro - ordem
significante - que lhe transmite estrutura significante e inconsciente.

A constituição do sujeito, é fortemente influenciada pelo contexto social, se torna


essencial à sua constituição. Por eliminação o sujeito se constitui e se realiza na
experiência. Quanto mais existe e se realiza, mais é abolido.

A teoria das pulsões, desempenha um papel crucial, que "apagaria o rosto" do


objeto que atenderia ao instinto caso não tivesse sido fragmentado pelo
significante, temos a necessidade (do objeto), que é mítica e não é possível
experimentar a realidade fora do campo da linguagem; o desejo que é articulado
no inconsciente porém não é articulável. Esse desejo, se situa entre sugestão e
transferência, mantendo-as separadas e distintas e faz com que o sujeito resista à
sugestão. Ele também só pode ser significado por meio do significante.

Jacques Lacan introduziu entre necessidade e desejo, o conceito de Demanda, que


introduz o Outro como tal, faz o sujeito se mover em direção ao Outro (um que
seja capaz de trazer o objeto de necessidade), eleva o objeto a categoria de Outro
(enquanto o desejo o rebaixa e destitui das prerrogativas positivas que a demanda
conferiu).
Portanto, o sujeito precisaria abordar seu desejo, situar-se em relação a ele, o
signifique pra si, o realize e o torne real, assim entraria no plano do amor, na
demanda de amor, onde pode se realizar em ordem simbólica (o simbólico
entrando no real). Demandando de objeto em objeto, o sujeito traça um mapa de
suas frustrações e fixações (através das cadeias de palavras - fala). Ao se deparar
com o fato estrutural de que sua demanda é o ser do Outro como tal, a mentira
estrutural se faz tornando impossível que a situação de satisfação plena da
demanda aconteça: ela faz crer que a demanda pode ser satisfeita.

O Falo por sua vez, atua como ponto de articulação, um significante ordenador
que como significante incide como faltoso, apesar de ser um objeto imaginário,
permite ao sujeito acesso a um ponto para o qual não há significante algum e
situa-se quanto ao seu desejo. A partir daí o sujeito formula e articula, objetos
orais e anais recusados e intercambiados que foram demandados através das
palavras.

O ponto de interseção vazio entre natureza e cultura, onde o pai mítico que nunca
existiu se situa e é "assassinado", ato esse, que funda o campo da experiência e
chamamos sujeito. Esse assassinato é a condição essencial da estrutura do sujeito,
sem a qual nenhuma realidade poderá existir como realidade de e para um sujeito.

A psicanálise busca entender como o sujeito lida com os conflitos internos, muitas
vezes inconscientes, que podem originar sintomas psicológicos. A terapia
psicanalítica explora esses aspectos inconscientes, a fim de trazer à consciência
questões não resolvidas e "...tratar daquilo que, de certo modo, todo mundo sabe,
mas ninguém quer saber." (Elia, p. 56)

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