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Unidade II- Contribuições Teóricas e Práticas da

Psicologia para o Direito

Atuação da Psicologia
Jurídica no campo da

CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
Profa. Dhâmaris Fonseca do Amarante
Psicóloga - CRP 11/17528
SOBRE A PROTEÇÃO DA
CRIANÇA E O ADOLESCENTE
O Estatuto da Criança e do
Adolescente - ECA (Lei 8.069, de 13 de
julho de 1990) prevê a proteção integral
de crianças e adolescentes, orienta a
garantia dos direitos humanos
fundamentais, tais como educação,
lazer, dignidade, saúde, convivência
familiar e comunitária.
SOBRE A PROTEÇÃO DA
CRIANÇA E O ADOLESCENTE
O ECA coaduna com a Convenção sobre
os Direitos da Criança (ONU), ratificado
pelo Brasil em 1989, atribuindo
visibilidade à questão desse público
como sujeito de direitos e rompendo com
a lógica do menor, prevalecente na
perspectiva assistencialista e punitiva do
Estado, conforme o Código de Menores
de 1979, revogado pelo Estatuto.
SOBRE A PROTEÇÃO DA
CRIANÇA E O ADOLESCENTE
Após a criação do ECA, outras medidas foram
implantadas, tais como:

1) Conselho Nacional dos Direitos da Criança e


do Adolescente - CONANDA (1991);
2) Resolução no 113 (19 de abril de 2006), que
apresenta elementos sobre a
institucionalização e fortalecimento do
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e
do Adolescente;
3) Lei Nacional da Adoção em 2009;
4) a lei que versa sobre a alienação parental
(2010);
5) Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo - SINASE (2012);
6) Lei 13.509 sobre a adoção (2017).
SOBRE O SISTEMA DE
GARANTIA DOS DIREITOS DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Compreende-se como a articulação e integração


das instâncias públicas governamentais e da
sociedade civil na aplicação de instrumentos
normativos e no funcionamento dos mecanismos de
promoção, defesa e controle para a efetivação dos
direitos humanos da criança e do adolescente, nos
níveis federal, estadual, distrital e municipal.
SOBRE O SISTEMA DE
GARANTIA DOS DIREITOS DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O sistema tem como competências: promoção,


defesa, controle e efetivação dos direitos humanos,
civis, políticos, econômicos, sociais, culturais,
coletivos e difusos, das crianças e adolescentes.

O sistema visa garantir a proteção, a segurança e o


desenvolvimento saudável de crianças e
adolescentes, sem violências, discriminações,
preconceitos, salvos das condições de
vulnerabilidade e risco social.
ONDE O SISTEMA
ATUA?

Varas da
1 infância e da 3 Tribunais do júri; 5 Tribunais de justiça;
juventude;

Comissões
2 Varas criminais
especializadas; 4 judiciais de 6 Corregedorias gerais
de Justiça;
adoção;
ONDE O SISTEMA
ATUA?

Centros de apoio
Ministérios Procuradorias de
7 públicos; 9 operacional às
promotorias da 11 justiça;
infância;

Núcleos
8 Promotorias
de justiça; 10 especializados de
defensores 12 Procuradorias gerais
de justiça;
públicos;
ONDE O SISTEMA
ATUA?

Corregedorias Serviços de
gerais do assessoramento Procuradorias gerais
13 Ministério 15 jurídico e
assistência
17 dos estados;
Público; judiciária;

14 Defensorias
públicas; 16 advocacia geral
da união; 18 Polícia civil
judiciária;
ONDE O SISTEMA
ATUA?

Conselhos
19 Polícia militar; 21 tutelares;

Delegacias de
20 polícia 22 Ouvidorias.
especializadas,
A POLÍTICA DE ATENDIMENTO DOS
DIREITOS HUMANOS DE CRIANÇAS
E ADOLESCENTES É
OPERACIONALIZADA MEDIANTE O
ATENDIMENTO EM SERVIÇOS,
PROGRAMAS E PROJETOS EM
CASOS DE VIOLAÇÃO DE
1) serviços e programas das políticas públicas
DIREITOS, TAIS COMO: sociais;
2) Execução de medidas de proteção de direitos
humanos;
3) Execução de medidas socioeducativas para
adolescentes autores de ato infracional.
PROGRAMAS E SERVIÇOS
QUE CONSTITUEM AÇÕES
DAS MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS

1) Programas socioeducativos em meio


aberto - prestação de serviço à
comunidade;

2) Liberdade assistida;

3) Programas socioeducativos com privação


de liberdade - semiliberdade;
PROGRAMAS E SERVIÇOS
QUE CONSTITUEM AÇÕES
DAS MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS

4) internação (auxiliares dos programas


socioeducativos, os programas
acautelatórios de atendimento inicial
(previsto no ECA), os programas de
internação provisória (ECA) e os programas
de apoio e assistência aos egressos.
ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NA ÁREA SOCIAL MEDIANTE
ORIENTAÇÕES AOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

Nas medidas socioeducativas observa-se o desenvolvimento de


estratégias de intervenção quanto à Liberdade Assistida (LA) e à
Prestação de Serviço à Comunidade (PSC), conforme orienta o
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).

No âmbito do Sistema Socioeducativo, as instituições responsáveis


pelo atendimento às demandas dos adolescentes e suas famílias
devem viabilizar o Plano Individual de Atendimento
Socioeducativo – PIA.
ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NA ÁREA SOCIAL MEDIANTE
ORIENTAÇÕES AOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

O Plano Individual de Atendimento Socioeducativo – PIA, é um


instrumento de caráter pedagógico que deve possibilitar a
construção do projeto de vida pessoal e social do adolescente,
visando a promoção da cidadania e da autonomia, a construção
de expectativas e projetos de vida futuros.

O atendimento socioeducativo deve primar e garantir a


intersetorialidade entre as políticas públicas.
SOBRE AS MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS
Previstas pela Lei 8.069/1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente – ECA) e
regulamentadas pela Lei 12.597/12
(Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo) são de responsabilidade
dos municípios, com a articulação da rede
composta por secretarias municipais e
órgãos do sistema de justiça e serviços das
organizações não governamentais visando
ao atendimento dos adolescentes em
cumprimento de medida de Liberdade
Assistida (LA) e Prestação de Serviços à
Comunidade (PSC). O sistema deve ser
articulado pela Política de Assistência
Social.
SOBRE AS MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS

O SINASE orienta que o atendimento


socioeducativo municipal deve
responsabilizar o adolescente pelo
cometimento de um ato infracional, com a
desaprovação das condutas e delitos, e
deve também garantir os direitos do
adolescente, visando a integração social e
comunitária, deve acompanhar e monitorar
o cumprimento das medidas e comunicar os
procedimentos aos órgãos do judiciário.
PRÁTICAS INTERVENTIVAS NAS
MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS

1) Plano Individual de Atendimento (PIA);

2) Prestação de Serviços à Comunidade (PSC): É a obrigatoriedade de


desenvolvimento de atividade (de interesse geral e adequadas as suas
aptidões) não remunerada em instituição pública ou privada sem fins
lucrativos, preferencialmente, na comunidade de origem do(a)
adolescente.

3) Liberdade Assistida (LA): É a concessão de liberdade sob condições,


ou seja, o(a) adolescente permanece em liberdade, mas com restrições
de direitos que estabelecem limites ao(a) adolescente (proibição de
frequentar certos locais, de aproximar-se de certa pessoa etc.; ou
obrigatoriedade de retirar documentos, de frequentar curso ou
instituição, de comparecer aos atendimentos etc.)
PRÁTICAS INTERVENTIVAS NAS
MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS

4) Fluxo de Procedimentos: É a sequência ordenada de procedimentos


que deve ser executada pela Equipe de Referência na execução da
Liberdade Assistida (Fluxo da LA), na execução da Prestação de Serviços
à Comunidade (Fluxo da PSC) ou para articular instituições parceiras da
Rede de Apoio para fortalecer o cumprimento das medidas (Fluxo de
Articulação Institucional e Comunitária).

5) Guia de Encaminhamento Socioeducativo: Guia de Execução é o


documento apto a iniciar o processo de execução de medidas
socioeducativas, expedido pelo respectivo Juízo de Conhecimento de
forma individual para cada adolescente, mesmo que um mesmo ato
infracional possua diversos autores diferentes, e encaminhado ao Serviço
de Execução das Medidas.
PRÁTICAS INTERVENTIVAS NAS
MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS

6) Notificação: Instrumento de convocação do adolescente ou de sua


família para comparecimento no CREAS ou em outra instituição a qual o
adolescente deva comparecer em virtude de obrigação assumida no PIA.
PROCEDIMENTOS REALIZADOS
PARA O ATENDIMENTO DOS
ADOLESCENTES:

Atendimentos Individuais - São atendimentos de acompanhamento do cumprimento do PIA,


realizados periodicamente no CREAS, apenas com o(a) adolescente e, excepcionalmente, em
caso de necessidade, com familiares.

Visita Domiciliar - Visitas realizadas por técnico de referência à residência do(a)


adolescente, com fins de estabelecer contato com este(a) e com sua família (avaliação e
execução do PIA).

Visita Institucional - Visitas realizadas por técnico de referência às instituições


frequentadas pelo adolescente (escola, curso profissionalizante, instituição de cumprimento
da PSC).
PROCEDIMENTOS REALIZADOS
PARA O ATENDIMENTO DOS
ADOLESCENTES:

Articulação Institucional e Comunitária - É a interação da equipe de referência do CREAS


com outros serviços, equipamentos públicos e privados de seu território, com o objetivo de
viabilizar a execução da medida socioeducativa em meio aberto, preferencialmente, dentro
da própria comunidade do adolescente, conforme preconiza o SINASE.
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI

Deve ser considerado a existência histórica da construção da ideia do


indivíduo perigoso, criado por meio do discurso médico e judiciário, como
forma de enquadrar o indivíduo entre aquele que nem é louco e nem
criminoso, mas que pode futuramente se tornar perigoso (SANTOS, 2011).

No contexto das medidas socioeducativas, o trabalho do psicólogo


deverá ser norteado com o envolvimento na construção de práticas que
possam contribuir para a efetivação das políticas públicas pautadas neste
paradigma, articulando ações entre o Estado, a família e a sociedade
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP, 2012).
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
É dever do profissional ser capaz de garantir os direitos das crianças e dos
adolescentes como também ser um agente transformador das instituições
envolvidas, construindo, assim, novas mentalidades, que geralmente encontram-
se orientadas pela doutrina da situação irregular (CFP, 2012).
Os programas de medidas socioeducativas encontram-se previstos na
política do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), que conta com
diversos equipamentos, como o Centro de Referência da Assistência Social
(CRAS), que oferta serviços de Proteção Social Básica às famílias e indivíduos
em situação de vulnerabilidade social e o Centro de Referência Especializado
de Assistência Social (CREAS), que oferta serviços de Proteção Social
Especial de Média Complexidade e oferece serviços especializados às famílias e
indivíduos que tiveram seus direitos violados.
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI

É dever do psicólogo que atua no âmbito jurídico identificar estes


equipamentos no seu território para que sejam realizados os devidos
encaminhamentos e as equipes multiprofissionais possam dar seguimentos
às suas atividades de acompanhamento dos envolvidos.

No Brasil, ocorre primeiro uma avaliação psicossocial no processo


socioeducativo, em vez da avaliação psicológica, realizada pela equipe
técnica responsável, somente depois que já foi aplicada a medida.
O PSICÓLOGO QUE ATUA EM PROJETOS DE LEI: UMA
ÁREA EMERGENTE
A lei, segundo Bicalho (2016), é uma prática social e deve ser tomada em
seu processo de construção e no qual a psicologia pode contribuir.

O psicólogo é, por muitas vezes, consultado como assessores de


parlamentares, é solicitado que ministre palestras em determinadas
audiências públicas para corroborar com a convicção particular dos
parlamentares acerca da verdade sobre as leis que eles desejam aprovar
ou não (BICALHO, 2016).

Quando um determinado projeto de lei é controverso e chega à mídia


nacional, os psicólogos podem ser consultados acerca de determinado
assunto e dessa forma sua participação é mais potencializada.
O PSICÓLOGO QUE ATUA EM PROJETOS DE LEI: UMA
ÁREA EMERGENTE

O psicólogo jurídico dentro deste contexto deve atender a esta demanda


que corresponde ao seu exercício profissional. A função do profissional,
neste momento, é o acompanhamento e a proposição de leis.

"A atividade legislativa – como atuação de uma Psicologia Jurídica – configura-


se pelo exercício de um poder discursivo. Não necessariamente repressivo, mas
como investimento à potencialidade de bifurcações às práticas sociais que,
cotidianamente, são estabelecidas. Discursos performáticos e que, portanto,
merecem um pouco de nossa atenção."
(Bicalho, 2016, p. 8)
“QUANDO A EDUCAÇÃO NÃO É
LIBERTADORA, O SONHO DO
OPRIMIDO É SER O OPRESSOR”.
-PAULO FREIRE, PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, 1987.

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