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Estudo de Caso

Aluno R. com 9 anos de idade portador de síndrome de Down.

Quando chegou na C. A . – Classe de Alfabetização, havia uma grande


expectativa tanto da família quanto minha. Seria a primeira vez que eu teria em sala de
aula um aluno com síndrome de down. A princípio ele tinha dificuldade de interagir
com os colegas e comigo. Não conversava, não aceitava que colocassem qualquer
objeto sobre sua carteira e muitas vezes saía da sala e não aceitava voltar. Possuía
fixação em objetos circulares e redondos e os manipulava com muita destreza. Seu
controle motor fino era difícil, mas o amplo era excelente. Escalava as janelas, segurava
com segurança em barras e não tinha desequilíbrio em tais movimentos.

Mas o aluno estava matriculado na classe de alfabetização e havia o objetivo de


alfabetizá-lo junto com a turma. Mesmo R. sendo aluno da escola e conhecido, fiz um
trabalho de conscientização com todos os alunos sobre o que era síndrome de down.
Para isso utilizei o livro “Meu amigo down na escola” de Cláudia Werneck. Fui de sala
em sala ler o livro para as turmas e explicar para as crianças o que era essa síndrome.
Pelas observações pude notar que o aluno não tinha seu EU totalmente construído e
evitava olhar-se no espelho. De acordo com leituras feitas por mim, essa não aceitação
de si mesmo estava relacionado com a não aceitação do outro pela pessoa de R. Muitas
vezes eu ficava com ele diante do espelho e mostrava o quanto ele era bonito. Falava
sobre os olhos, cabelos, boca, como também da importância que ele tinha para as
pessoas que conviviam com ele. Saía da minha zona de conforto que era alfabetizar e ia
buscar o que era necessário para obter algum resultado. Precisava conhecer meu aluno e
mais detalhadamente sua família. Apesar de conhecer a família e saber que eram
pessoas bem sucedidas socialmente, via que faltava algo para que R. desenvolvesse. Ao
ler o livro “ Dibs em busca de si mesmo”. O livro não é sobre síndrome de down, mas
relata a alfabetização através do método de Glenn Domann. Li o livro e fui conversar
com a mãe. Ela relatou fatos de desde a época do nascimento até quando ele foi
matriculado na escola. Pedi primeiro que ela lesse o livro que eu havia lido e solicitei
que me emprestasse fotos desde o tempo que ela e o pai namoravam, noivado
casamento, nascimento do primeiro filho, nascimento de R. e de cada aniversário até os
dias atuais. Montei um livro sobre a vida de R. e contei para seus colegas de sala de
aula. Dessa forma estava dando continuidade à construção de sua identidade. Ele ouvia
e suspirava dando a entender para mim que estava compreendendo seu papel como
pessoa inserida na família e na escola. Seu aniversário de 10 anos foi comemorado na
escola. Pedi a mãe que toda a festa, desde o convite até o bolo e painel, fosse com a foto
de R. Levei-o em todas as salas para que entregasse pessoalmente o convite a cada
criança da escola. Nas salas que ele não conseguia entrar os convites eram entregues
pela janela. No dia da festa todas as crianças vieram cumprimentá-lo. Seu
comportamento foi mudando e a alguns hábitos que ele possuía foram sumindo, como
arremessar objetos por cima do muro da escola para a rua.

Durante todo esse processo de trabalho de identidade, auto-estima a


alfabetização ia com muita dificuldade. Utilizava revistas para recortar, livros para
folhear junto com ele, mas não via muito sucesso. Um dia folheando um livro mostrei
para ele a placa de trânsito PARE e continuei folheando o livro, de repente ele apontou
para uma imagem igual a anterior e repetiu PARE. Naquele momento notei que ele
tinha uma memória visual e comecei a utilizar o método de Glenn Domann para
alfabetizá-lo.Confeccionava as palavras que possuíam algum significado para ele em
tiras de 7cmx 10cm, escritas em letras de imprensa maiúscula em vermelho, falava a
palavra e ele repetia. Todos os dias eu mostrava as palavras anteriores e acrescentava
mais algumas. Ele não aprendeu a ler tudo o que via pela frente, mas aprendeu a
reconhecer o nome de seus pais, seu irmão, sua cadelinha e várias outras significativas.

R. já não saía da sala sem autorização, após a merenda retornava junto com os
colegas, não atirava objetos, brincava com os colegas da sala e com algumas crianças
das outras turmas e participava de todas as atividades propostas pela escola.

No seu dia a dia R. tinha acompanhamento com psicoterapeuta, fonoaudiólogo e


fazia natação. A escola dava o suporte necessário para o bem estar de R. E através de
informações recebidas pela mãe o convívio de R. com a família melhorou.

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