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André Arêa Página | 1

ESTUDO BÍBLICO
Rev. André Arêa

Data: 31/08/23
Local: IP Mutuaguaçu
Tema: As duas condenações no amanhecer daquela Sexta-Feira
Texto Bíblico: Mt 27.1-10
LEITURA BÍBLICA
Mateus 27.1-10
1
Ao romper o dia, todos os principais sacerdotes e os
anciãos do povo entraram em conselho contra Jesus,
para o matarem;
2
e, amarrando-o, levaram-no e o entregaram ao
governador Pilatos.
3
Então, Judas, o que o traiu, vendo que Jesus fora
condenado, tocado de remorso, devolveu as trinta
moedas de prata aos principais sacerdotes e aos
anciãos, dizendo:
4
Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém,
responderam: Que nos importa? Isso é contigo.
5
Então, Judas, atirando para o santuário as moedas de
prata, retirou-se e foi enforcar-se.
6
E os principais sacerdotes, tomando as moedas,
disseram: Não é lícito deitá-las no cofre das ofertas,
porque é preço de sangue.
7
E, tendo deliberado, compraram com elas o campo do
oleiro, para cemitério de forasteiros.
8
Por isso, aquele campo tem sido chamado, até ao dia
de hoje, Campo de Sangue.
9
Então, se cumpriu o que foi dito por intermédio do
profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata,
preço em que foi estimado aquele a quem alguns dos
filhos de Israel avaliaram;
10
e as deram pelo campo do oleiro, assim como me
ordenou o Senhor.1

1
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.1–10.
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INTRODUÇÃO
O trecho do Evangelho de Mateus que passamos a considerar
agora, narra dois fatos, duas condenações que aconteceram no
alvorecer daquela sexta-feira sombria, a saber, a sentença formal do
Sinédrio contra Jesus e sentença autoimposta por Judas.
Ambos foram sentenciados à morte; Jesus, em obediência ao Pai, e,
Judas, consumido pelo remorso por ter traído Cristo.

I) As Duas Condenações no Amanhecer Daquela Sexta-


Feira
a) A condenação formal do Sinédrio contra Cristo (v.1-2)
“Ao romper o dia, todos os principais sacerdotes e os anciãos do
povo entraram em conselho contra Jesus, para o matarem;” 2 (v.1).
Na sua narrativa, Marcos acrescenta os escribas ao grupo dos
principais sacerdotes e anciãos: “Logo pela manhã, entraram em
conselho os principais sacerdotes com os anciãos, os escribas e todo o
Sinédrio; e, amarrando a Jesus, levaram-no e o entregaram a Pilatos.”3
(Marcos 15.1).
Enquanto, que Lucas adiciona os termos da acusação fraudulenta:
“...Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar
tributo a César e afirmando ser ele o Cristo, o Rei.”4 (Lucas 23.2).
E João, por sua vez, dá mais detalhes, dizendo: “Depois, levaram
Jesus da casa de Caifás para o pretório. Era cedo de manhã. Eles não
entraram no pretório para não se contaminarem, mas poderem comer
a Páscoa.”5 (João 18.28).
A hipocrisia dessas pessoas é notória, pois, estavam preocupadas
em não se contaminarem com os pretorianos, mas, não se importavam
em contarem mentiras sobre Jesus.
A “assembleia” (cf. Lc 23.1) dos anciãos, sacerdotes e escribas
reuniu-se pela manhã para dar a sentença oficial contra Jesus, e, assim
o fizeram para dar à população a impressão de que todo o julgamento
transcorrera dentro da normalidade e legalidade.

2
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.1.
3
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mc 15.1.
4
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Lc 23.2b.
5
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 18.28.
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Mas, tudo foi feito às pressas e na calada da noite. Ao romper do


dia, lá estavam eles com a sentença pronta e com o objetivo de
condená-Lo à morte.
“e, amarrando-o, levaram-no e o entregaram ao governador
Pilatos.” 6 (v.2)
O sinédrio não tinha o direito de executar uma condenação sem a
autorização de Roma conforme Jo 18.31: “Replicou-lhes, pois, Pilatos:
Tomai-o vós outros e julgai-o segundo a vossa lei. Responderam-lhe os
judeus: A nós não nos é lícito matar ninguém;”7.
Possivelmente, Pilatos estava na fortaleza Antônia, na esquina
noroeste da área do templo. Ele tinha aposentos nessa fortaleza, bem
próximos à guarnição conforme Marcos 15.16: “Então, os soldados o
levaram para dentro do palácio, que é o pretório, e reuniram todo o
destacamento.”8.
Pilatos era o quinto governador da metade meridional da Palestina.
Era mais um procurador encarregado por Herodes. Não era benquisto
pelos judeus por conta de atitudes como aquela em que ele ordenou a
seus soldados que entrassem em Jerusalém levando as insígnias com as
imagens do imperador, o que para os judeus era um sacrilégio.
Em outra ocasião, Pilatos usou o dinheiro da tesouraria do templo
para fazer um aqueduto. Os judeus se queixaram e fizeram desordem,
o que foi coibido com a cavalaria de Pilatos.
Posteriormente, ele foi removido de seu cargo porque interferiu
mandando seus soldados matarem um grupo de fanáticos liderados por
um falso profeta, os quais subiram ao Monte Gerizim em busca de uns
vasos sagrados, que segundo criam, foram deixados por Moisés ali em
oculto.
Os samaritanos apresentaram uma queixa, e mesmo tendo ido à
Roma para se defender foi deposto. Eusébio refere-se à uma história não
confirmada a qual diz que ele se suicidou depois disso9.
Sobre Pilatos, veremos mais no próximo estudo.

b) O remorso e o suicídio de Judas (v.3-10)


6
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.2.
7
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 18.31.
8
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mc 15.16.
9
Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.2, p.620.
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“3Então, Judas, o que o traiu, vendo que Jesus fora condenado,


tocado de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais
sacerdotes e aos anciãos, dizendo: 4 Pequei, traindo sangue inocente.
Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo.” 10 (v.3-4).
Em que momento exatamente o remorso tomou conta do coração
de Judas Iscariotes, não sabemos. Sendo este fato relatado somente por
Mateus e por Lucas em Atos 1.18-19: “(Ora, este homem adquiriu um
campo com o preço da iniquidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo
meio, e todas as suas entranhas se derramaram;”11, pelo que podemos
ver, não temos muitos detalhes.
Mas, as informações que temos aqui são suficientes para vermos o
terror que apoderou do coração de Judas.
Ao que tudo indica, Mateus coloca o remorso e suicídio de Judas
neste momento de sua narrativa para mostrar que seu ato dependeu da
condenação do Sinédrio e não do julgamento de Pilatos12.
Ainda que tenha admitido que pecara “...traindo sangue
inocente...”13, o remorso de Judas não foi um arrependimento genuíno
que conduz à uma mudança de vida, mas, sim, foi um acúmulo de auto
recriminação.
Estava atormentado com o medo de sofrer alguma retaliação contra
si por ter feito o que fez. Como veremos a seguir, o seu suicídio
comprova a inexistência de verdadeiro arrependimento para a salvação.
Antes, mostra muito mais o desgosto por ter sido pego em flagrante14.
Decidiu primeiramente, devolver “as trinta moedas de prata aos
principais sacerdotes e aos anciãos,...” 15.
Mas, o que ouviu deles foi algo que lhe trouxe ainda mais agonia:
“Que nos importa? Isso é contigo.” 16, em outras palavras: “O problema
é seu; se vire com ele!”.
“Então, Judas, atirando para o santuário as moedas de prata,
retirou-se e foi enforcar-se.” (v. 5).17

10
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.1–10.
11
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), At 1.18.
12
Cf. CARSON, 2010, p.648.
13
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.4.
14
Cf. WIERSBE, 2010, vol.5, p.130.
15
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.3b.
16
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.1–10.
17
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.4c.
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O seu desespero explicita-se no seu ato de atirar as trinta moedas


na direção do santuário.
Trinta moedas era o preço de um escravo como podemos ver em
Êxodo 21.32: “Se o boi chifrar um escravo ou uma escrava, dar-se-ão
trinta siclos de prata ao senhor destes, e o boi será apedrejado.” 18.
O termo “santuário” no verso 5, provavelmente refere-se ao Santo
dos Santos ou Lugar Santo, aquela parte mais interna e especial do
templo.
Chegamos a essa conclusão quando vemos que o termo que aqui foi
traduzido por “santuário”, no grego é nao,j, e não i `ero,n – templo,
referindo-se assim ao templo e todas as suas adjacências.
Estaria Judas tentando uma forma de “compensação” entregando
aquelas moedas para alguma “causa santa” e religiosa? Provavelmente!
É sabido que junto ao muro no Pátio das Mulheres havia treze arcas
em forma de trombetas, nas quais o povo depositava suas ofertas para
causas religiosas19.
Pode ter sido numa delas que Judas lançara as moedas. Seu remorso
o levou ao suicídio, e por isso “...retirou-se e foi enforcar-se.” (v. 5)20.
Na narrativa de Lucas em Atos 1.18-19 lemos: “18(Ora, este homem
adquiriu um campo com o preço da iniquidade; e, precipitando-se,
rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram; 19 e
isto chegou ao conhecimento de todos os habitantes de Jerusalém, de
maneira que em sua própria língua esse campo era chamado Aceldama,
isto é, Campo de Sangue.)”21
Há algumas nuanças no texto que trazem duas dificuldades. A
primeira é que Lucas afirma que “...este homem adquiriu um campo
com o preço da iniquidade;...”22, enquanto, que Mateus dizem que
quem o fez foram os principais sacerdotes e anciãos como vemos nos
versos 6-8: “6 E os principais sacerdotes, tomando as moedas, disseram:
Não é lícito deitá-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue.
7
E, tendo deliberado, compraram com elas o campo do oleiro, para

18
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Êx 21.32.
19
Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.2, p.623.
20
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.4c.
21
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), At 1.18–19.
22
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), At 1.18a.
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cemitério de forasteiros. 8 Por isso, aquele campo tem sido chamado,


até ao dia de hoje, Campo de Sangue.” 23
A segunda dificuldade diz respeito aos detalhes que Lucas apresenta
da morte de Judas, a saber, ele precipitou-se partindo-se ao meio,
tendo suas entranhas espalhadas.
Quanto à primeira questão, não há dificuldade alguma, pois, foi com
o dinheiro de Judas que o campo foi comprado, o que o torna o “doador”
do dinheiro.
Quanto ao seu macabro fim, também não há dificuldade alguma,
pois, pode ser que ele tenha se dependurado numa árvore à beira de um
penhasco, e no momento em que pulou para se enforcar, a corda se
partiu, ou mesmo o galho da árvore se quebrou e, assim, ele caiu entre
as pedras, o que o partiu em pedaços, e assim, suas tripas se
espalharam.
“E os principais sacerdotes, tomando as moedas, disseram: Não é
lícito deitá-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue.” (v.6)24
Mas uma vez vemos a hipocrisia desses homens. Quão mais grave
fora o pecado deles contra Cristo do que esse “sacrilégio” contra o
templo?
“7E, tendo deliberado, compraram com elas o campo do oleiro, para
cemitério de forasteiros. 8 Por isso, aquele campo tem sido chamado,
até ao dia de hoje, Campo de Sangue.” (v.7)25
Decidiram usar o dinheiro não com uma causa relacionada
diretamente com o templo.
Assim, decidiram comprar o “campo do oleiro”26, ou seja, uma
propriedade que tinha esse nome a qual os oleiros utilizavam para dali
retirarem seu sustento27. Este campo foi adquirido “para cemitério de
forasteiros”.
William Hendriksen afirma:
Provavelmente estivessem pensando especialmente nos judeus que
moravam fora da Terra Santa e que vinham a Jerusalém para assistir uma
das grandes festas e que, surpreendidos pela morte e sem amigos nem
parentes, não tinham quem lhes proporcionasse os meios para um funeral.

23
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.6-8.
24
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.6.
25
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.6.
26
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.7.
27
Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.2, p.625.
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E assim o dinheiro de sangue, uma vez usado para o assassinato do amigo


dos pobres, agora podia servir para ajudar os próprios pobres em sua
última necessidade!

“Por isso, aquele campo tem sido chamado, até ao dia de hoje,
Campo de Sangue.” 28 (v.8)
O novo nome dado àquele campo seguiria sendo um testemunho
contra Judas Iscariotes, contra os líderes dos judeus, e contra todos que
anuíram a eles contra Cristo.
Conforme relatos históricos, desde o século IV há uma localidade
com esse nome ao sul da cidade de Jerusalém no Vale de Hinom, onde
este vale se junta ao Vale de Cedrom.
Alguns entendem que o sangue ao qual se relaciona o nome desse
campo é o de Judas, enquanto, que o mais plausível é que o
consideremos em relação ao sangue de Cristo.
“9 Então, se cumpriu o que foi dito por intermédio do profeta
Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi
estimado aquele a quem alguns dos filhos de Israel avaliaram; 10 e as
deram pelo campo do oleiro, assim como me ordenou o Senhor.”(v.9-
10).29
Mais uma vez, Mateus faz questão de mostrar que outra profecia do
Antigo Testamento estava se cumprindo no Novo Testamento.
Porém, temos uma dificuldade aqui. Mateus diz que é uma profecia
de Jeremias, porém, essa profecia se parece muito com o que está
registrado em Zacarias 11.12-13, o que coloca Zacarias em vez de
Jeremias como o profeta em questão, como ver: “12 Eu lhes disse: se vos
parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois,
por meu salário trinta moedas de prata. 13 Então, o SENHOR me disse:
Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles.
Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do
SENHOR.”30
Algumas explicações são oferecidas. Primeiramente mostraremos as
que não devem ser consideradas, e, depois, a que devemos considerar
a correta.

28
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.8.
29
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.1–10.
30
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Zc 11.12–13.
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1) Soluções improváveis e as objeções:


Erro de Mateus: Mateus errou e trocou os nomes.
Objeção: não cremos que os originais tenham sofrido com erros por
parte de quem os escreveu, porque cremos que o Espírito Santo os
inspirou (cf. 2Tm 3.16-17) e os dirigiu (cf. 2Pe 1.20-21);
Erro de um copista: no texto original de Mateus não consta o nome
de nenhum profeta, mas, um copista desatento acrescentou o nome
de Jeremias, em vez do de Zacarias.
Objeção: não há qualquer consistência nessa afirmação.
A forma como o Antigo Testamento era agrupado: segundo alguns,
os livros do Antigo Testamento eram agrupados em três volumes: a
Lei, os Salmos e Jeremias. Cada uma dessas porções trazia esses
títulos. Dessa forma, o rolo designado como “Jeremias” trazia todos
os demais profetas no seu conteúdo, logo, a profecia a qual Mateus
se refere estava mesmo no livro de Zacarias que por sua vez estava
agrupado no volume “Jeremias”.
Objeção: ainda que atrativa essa alternativa, ela é muito engenhosa,
e nada mais, pois, a fonte em que se baseia essa teoria não pode ser
considerada válida, além do que a forma como os autores inspirados
do Antigo Testamento o dividia era bem diferente31.

2) Solução provável
Alguns intérpretes e exegetas bíblicos apresentam a seguinte
solução que é a mais provável.
O texto de Zc 11.12-13 em nenhum momento refere-se a algum
campo comprado, mas, sim, ao próprio profeta Zacarias que teve o seu
serviço avaliado por trinta moedas de prata, como ele mesmo disse:
“...esse magnífico preço em que fui avaliado por eles.” 32. Ainda que
ele tenha arrojado (jogado) essas trinta moedas na Casa do SENHOR,
semelhante ao que fez Judas, definitivamente, não é a esse ocorrido
com Zacarias que Mateus aplica a Judas como uma profecia.
A citação de Mateus a Jeremias nos sugere que devemos analisar
este profeta e seu livro.

31
Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.2, p.627, nota.
32
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Zc 11.13b.
Rev. André Arêa Página | 9

Ainda que em Jeremias 18 se fala da “casa do oleiro” e Jeremias 32


se refira a um campo que fora comprado, não são estas passagens que
devem estar em nossa análise aqui, mas sim, Jeremias 19.1-13: “1 Assim
diz o SENHOR: Vai, compra uma botija de oleiro e leva contigo alguns dos
anciãos do povo e dos anciãos dos sacerdotes; 2 sai ao vale do filho de
Hinom, que está à entrada da Porta do Oleiro, e apregoa ali as palavras
que eu te disser; 3 e dize: Ouvi a palavra do SENHOR, ó reis de Judá e
moradores de Jerusalém. Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de
Israel: Eis que trarei mal sobre este lugar, e quem quer que dele ouvir
retinir-lhe-ão os ouvidos. 4 Porquanto me deixaram e profanaram este
lugar, queimando nele incenso a outros deuses, que nunca conheceram,
nem eles, nem seus pais, nem os reis de Judá; e encheram este lugar
de sangue de inocentes; 5 e edificaram os altos de Baal, para queimarem
os seus filhos no fogo em holocaustos a Baal, o que nunca lhes ordenei,
nem falei, nem me passou pela mente. 6 Por isso, eis que vêm dias, diz
o SENHOR, em que este lugar já não se chamará Tofete, nem vale do filho
de Hinom, mas o vale da Matança. 7 Porque dissiparei o conselho de
Judá e de Jerusalém neste lugar e os farei cair à espada diante de seus
inimigos e pela mão dos que procuram tirar-lhes a vida; e darei o seu
cadáver por pasto às aves dos céus e aos animais da terra. 8 Porei esta
cidade por espanto e objeto de assobios; todo aquele que passar por ela
se espantará e assobiará, por causa de todas as suas pragas. 9 Fá-los-ei
comer as carnes de seus filhos e as carnes de suas filhas, e cada um
comerá a carne do seu próximo, no cerco e na angústia em que os
apertarão os seus inimigos e os que buscam tirar-lhes a vida. 10 Então,
quebrarás a botija à vista dos homens que foram contigo 11 e lhes dirás:
Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Deste modo quebrarei eu este povo e
esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais
refazer-se, e os enterrarão em Tofete, porque não haverá outro lugar
para os enterrar. 12 Assim farei a este lugar, diz o SENHOR, e aos seus
moradores; e farei desta cidade um Tofete. 13 As casas de Jerusalém e
as casas dos reis de Judá serão imundas como o lugar de Tofete; também
todas as casas sobre cujos terraços queimaram incenso a todo o exército
dos céus e ofereceram libações a outros deuses.” 33

33
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jr 19.1–13.
Rev. André Arêa Página | 10

D. A. Carson faz um comentário bem esclarecedor sobre Jr 19.1-13


apresentando algumas ligações linguísticas e temáticas entre os textos:
Nela, e dito a Jeremias para comprar um vaso de barro de um oleiro e
levar alguns líderes do povo e sacerdotes ao vale de Ben-Hinom, onde ele
deve advertir sobre a destruição de Jerusalém por causa dos pecados da
cidade, advertência ilustrada pelo vaso que se estragou na mão do oleiro.
Mais uma ligação linguística é “sangue de inocentes” (Jr 19.4); e as
ligações temáticas incluem dar novo nome ao lugar associado com oleiros
(19.1) com um nome (“vale da Matança”) denotando violência (19.6).
Assim, o lugar será usado como cemitério (19.11), como um sinal do
julgamento de Deus.

Para Pensarmos e Praticarmos


Com o acontecido a Judas aprendemos uma lição muito importante
sobre o arrependimento.
Um coração verdadeiramente arrependido, ao se deparar com a
monstruosidade de seu pecado, não tenta “pagar” por ele ou coisa
parecida. Pelo contrário, um coração arrependido humilha-se diante de
Deus e busca o Seu perdão.
Em sua arrogância, Judas pensou que entregando sua vida ele
pagaria pela de Jesus, quando na verdade seria a vida de Jesus que
pagaria pela vida de milhares de milhares de eleitos.
O remorso engana o nosso coração fazendo-nos pensar que podemos
pegar pelo que fizemos.
Dessa forma, não só não pagamos pelos pecados cometidos, como
ainda cometemos outro ainda pior, a saber, o de desconsiderar o
sacrifício de Cristo.

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