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ESTUDO BÍBLICO
Rev. André Arêa

Data: 14/09/23
Local: IP Mutuaguaçu
Tema: O Sofrimento de Cristo
Texto Bíblico: Mt 27.27-31
LEITURA BÍBLICA
Mt 27.27-31
27
Logo a seguir, os soldados do governador, levando
Jesus para o pretório, reuniram em torno dele toda a
coorte.
28
Despojando-o das vestes, cobriram-no com um
manto escarlate;
29
tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na
cabeça e, na mão direita, um caniço; e, ajoelhando-se
diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos
judeus!
30
E, cuspindo nele, tomaram o caniço e davam-lhe com
ele na cabeça.
31
Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o
manto e o vestiram com as suas próprias vestes. Em
seguida, o levaram para ser crucificado.1

INTRODUÇÃO
Quando intitulamos o trecho de Mt 27.27-56 de “O sofrimento de
Cristo”, devemos levar em consideração o que diz o profeta Isaías sobre
o Messias ser “...homem de dores e que sabe o que é padecer;...”2 (Is
53.3).
O sofrimento de Cristo não aconteceu somente nesse momento de
Sua vida, mas, durante toda a Sua vida neste mundo.
A Teologia chama de “Estado da Humilhação” o período que
vai desde Sua encarnação até Sua ressurreição (com esta inicia-se o Seu
“Estado de Exaltação”).
A humilhação à qual Cristo Se submeteu não se restringe somente
ao que aconteceu na circunstância da crucificação, mas, em tornar-Se
1
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.27–31.
2
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Is 53.3.
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um ser humano. Os acontecimentos referentes ao Seu sacrifício


certamente, acentuaram ainda mais a dor e a humilhação.
Vejamos os vários sofrimentos que Cristo suportou ao longo daquele
dia começando com...

I) A Humilhação, Zombaria e Espancamento


O relato de Mateus sobre esse momento do sofrimento de Cristo
também é repetido por Marcos e João.
“Logo a seguir, os soldados do governador, levando Jesus para o
pretório, reuniram em torno dele toda a coorte.” 3 (v.27). Toda a tropa
pretoriana era em torno de seiscentos soldados; não devemos supor que
todos eles estivessem ali4.
É mais provável que “...toda a coorte.” se refira a todos os soldados
presentes ali naquela ocasião (embora Marcos relata que foi reunido
“todo o destacamento”, Mc 15.16).
Anteriormente, quando vimos que Pilatos lavou suas mãos alegando
inocência quanto à condenação de Jesus; porém, o fato dos seus
soldados estarem envolvidos nesses atos vergonhosos, desmente
qualquer sugestão de que Mateus estivesse isentando Pilatos da culpa
pela condenação.
As ações cruéis desses soldados contra Jesus são descritas por
Mateus, Marcos e João. O quadro a seguir nos dá uma ideia mais clara5:
Mateus Marcos João
Despiram-No 27.28a
Vestiram-No com um manto 27.28b 15.17a 19.2b
Coroaram-No 27.29a 15.17b 19.2a
Deram-Lhe um cetro 27.29b
Escarneceram fingindo adorá-Lo 27.29c 15.18 19.3a
Cuspiram-No 27.30a 15.19b
Espancaram-No 27.30b 15.19a
Anteriormente, Ele já havia sofrido cuspidas e espancamento na
casa de Caifás (cf. Mt 26.67-68). Agora, eles preparavam-se para
repetirem tudo.
3
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.27.
4
Cf. CARSON, 2010, p.662, e HENDRIKSEN, 2001, vol.2, p.644.
5
Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.2, p.644.
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“28 Despojando-o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate;


29
tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e, na mão
direita, um caniço; e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam,
dizendo: Salve, rei dos judeus! 30 E, cuspindo nele, tomaram o caniço e
davam-lhe com ele na cabeça.”6 (v.28-30).
Certamente esses soldados não faziam a mínima ideia de quem era
Aquele que estava diante deles7. Para eles, era só mais um criminoso
condenado.
Primeiramente, “28aDespojando-o das vestes,...”8, isto é, Suas
roupas de cima com o propósito de expô-Lo à vergonha deixando-O
praticamente nu diante do público.
Em seguida “28c...cobriram-no com um manto escarlate;...”9.
Possivelmente, este manto era uma peça velha que foi jogada fora por
algum soldado10, ou pertencido a algum outro condenado.
A cor escarlate (púrpura, cf. Jo 19.2) representava a realeza. Não
era Ele “29d ...rei dos judeus!”11? Que maneira mais sarcástica de tratá-
Lo do que colocando sobre Ele um tecido que representasse a realeza?
Mas, a zombaria continuou, pois, “29a tecendo uma coroa de
espinhos, puseram-lha na cabeça...”12
Reis usam coroas; então, fizeram para Ele uma coroa de espinhos.
Não sabemos de que planta retiraram esses espinhos, até mesmo porque
a vasta quantidade de plantas espinhosas que aquela região tem, não
nos permite fazer qualquer afirmação. Certamente, porém, eles
escolheram os espinhos mais pontiagudos e compridos que encontraram.
Os escárnios continuaram quando Lhe puseram em Suas mãos
“29c...um caniço;...”13.
Provavelmente, puseram-No assentado, pois, os reis seguravam seus
cetros estando sentados em seus tronos. Estando Ele assim, “29...e,
ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos
judeus!”14; fingindo um tipo de veneração que era típica e devida à

6
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.28–30.
7
MACARTHUR, 2003, p.188.
8
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.28a.
9
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.28b.
10
O substantivo clamu,j, indica a vestimenta de um soldado, uma capa militar
11
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.28–30.
12
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.29a.
13
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.29c.
14
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.29d.
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realeza, mas, em vez de honrá-Lo como o Rei que é, eles “...cuspindo


nele,...”15 humilharam-No ainda mais. Depois de vários (senão todos!)
terem feito isso, “30...tomaram o caniço e davam-lhe com ele na
cabeça.”16 como que dizendo: “Que tipo de rei és tu que recebe
pancadas na cabeça com seu próprio cetro?”.
A cada pancada, os espinhos entravam ainda mais fundo em Sua
cabeça. João acrescenta que além das pancadas, eles também Lhe
esbofetearam (Jo 19.3b).
“31 Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto e o
vestiram com as suas próprias vestes. Em seguida, o levaram para ser
crucificado.”17(v.31).
Não se tratava apenas de escarnecê-Lo, mas, também, causar-Lhe
intensos sofrimentos. Conforme Jo 19.4ss, Pilatos novamente entre em
cena.
Havendo despido-O daquele manto velho de cor escarlate,
trouxeram Jesus para fora, diante da multidão. Lá estava o Rei dos reis,
não só dos judeus (que O rejeitaram), com Seu corpo e rosto
ensanguentados, em cuja cabeça, uma coroa estava de espinhos. Então
Pilatos diz: “...Eis o homem!” 18 (Jo 19.5).
Seria essa uma tentativa de despertar a compaixão do povo?
Provavelmente. Mas, a resposta que obteve tanto por parte dos
principais sacerdotes quanto do povo foi: “Crucifica-o! Crucifica-o!”19,
e Pilatos ainda tentou esquivar-se dizendo: “...Tomai-o vós outros e
crucificai-o; porque eu não acho nele crime algum.”20 (Jo 19.6).
Eles se aferraram ainda mais na acusação que Lhe fizeram antes de
Se declarar Filho de Deus, e por isso cometera o crime de blasfêmia
como vemos em Jo 19.7: “Responderam-lhe os judeus: Temos uma lei,
e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se
fez Filho de Deus.”21
Tal declaração trouxe ainda mais pavor a Pilatos como podemos ver
em Jo 19.8: “Pilatos, ouvindo tal declaração, ainda mais atemorizado

15
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.30a.
16
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.30c.
17
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Mt 27.31.
18
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 19.5.
19
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 19.6c.
20
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 19.6.
21
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 19.7.
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ficou,”22, e ele ainda tentou fazer Jesus Se defender (Jo 19.9-10). Jesus
lhe respondeu mostrando que a autoridade que ele (Pilatos) tinha foi
dada por Ele próprio, como podemos ver em Jo 19.11: “Respondeu
Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse
dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem.” 23, e Pilatos
ficou ainda mais angustiado, como podemos ver em Jo 19.12: “A partir
deste momento, Pilatos procurava soltá-lo, mas os judeus clamavam:
Se soltas a este, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei é
contra César!” 24.
Diante da multidão Jesus foi trazido e entregue para ser
crucificado conforme Jo 19.13-16: “13 Ouvindo Pilatos estas palavras,
trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado
Pavimento, no hebraico Gabatá. 14 E era a parasceve pascal, cerca da
hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei. 15 Eles, porém,
clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar
o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei,
senão César! 16 Então, Pilatos o entregou para ser crucificado.” 25.

Para Pensarmos e Praticarmos


Uma falsa acusação, um falso julgamento, um falso manto, uma
falsa coroa, um falso trono, um falso cetro, uma falsa adoração, mas, o
Rei era Verdadeiro, Seu amor era verdadeiro, Sua dor era verdadeira,
Seu sangue derramado era verdadeiro, Seu sacrifício foi verdadeiro.
Diante de Cristo não há como ficarmos inertes; ou zombaremos
Dele, ou nos renderemos a Ele.
“Jesus recebeu toda essa humilhação e dor sem falar nem lutar,
como vemos em 1 Pedro 2.18: Servos, sede submissos, com todo o temor
ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao
perverso; 26 Sua submissão não foi um sinal de fraqueza, mas sim de
força”27.

22
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 19.8.
23
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 19.11.
24
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 19.12.
25
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Jo 19.13–16.
26
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), 1Pe 2.18.
27
WIERSBE, 2010, vol.5, p.133.

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