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Acadêmicos
Docentes:
Jorge Trindade
Lúcio Sousa
Rosário Ramos
Paulo Costa
Pedro Serranho
29 de Maio de 2022
Introdução
Figura 1. Média decenal do número de mortes por desastres naturais no mundo (adaptado de Ritchie
& Roser, 2021).
Para entender melhor sobre o assunto, o presente estudo pretende fazer uma
comparação entre dois eventos de tsunami que ocorreram na Indonésia (2004) e no
Japão (2011).
Metodologia
Para a obtenção de um quadro sobre os dois eventos de tsunami — Indonésia
em 2004 e Japão em 2011 — foram acessados dados a partir de um plataforma de
acesso livre e aberto. A base de dados utilizada foi escolhida, preferenciais, com base
nos seguintes critérios:
- aquela que reúne o conjunto mais completo de dados, considerando as necessidades do
estudo;
- aquela que oferece os dados em formato mais adequado para a visualização (tabalas,
gráficos, etc.);
- aquela cujo acesso aos dados se dá de forma mais direta e intuitiva.
Dentre as diferentes bases de dados consultadas a que disponibiliza os dados
de forma mais direta e intuitiva e que ao mesmo tempo reúne o conjunto mais
completo de dados, os quais podem ainda ser obtidos em um formato o mais pronto
para uso foi “Our World in Data” (GCDL, [s.d.]).
Foram então extraídos dados que permitam a comparação dos dois eventos
bem como da condição socioeconômica dos dois países.
Resultados e Discussão
Figura 2. Dados anuais de 1970 a 2020 comparando a Indonésia e o Japão com o mundo (a, c, e) e
entre si (b, d, f) para: danos econômicos anuais causados por desastres (a, b), número total de pessoas
afetadas por desastre (c, d) e número total de mortes por desastre (e, f).
Os tsunamis, considerando os dados acima, apresentam características que os
distinguem. São eventos que, por um lado, não afetam um número total muito
grande de pessoas, mas, por outro, produzem impactos agudos consideráveis,
traduzidos em um grande número de mortes e grandes custos econômicos.
Quanto à gestão de desastres, a logística e a infraestrutura desempenham um
papel crucial para determinar se um evento natural extremo se transforma em um
desastre (Jeschonnek et al., 2016). No caso dos dois países alvo deste estudo
(Indonésia e Japão), as evidências revelam status diferentes em relação à gestão de
desastres. Embora há somente dados disponíveis desde 2011, estes podem oferecer
pistas das condições dos dois países para lidar com desastres.
Enquanto o Japão vem alcançando índice máximo de adoção de estratégias de
gestão de risco de desastre, a Indonésia só passou a pontuar a partir de 2018 (Fig.
3a). Quanto à parcela dos governos locais que implementam estratégias locais de
redução de riscos de desastres, enquanto no Japão 100% dos governos locais adotam,
na Indonésia a parcela de governos locais que as adotam fica abaixo de 40% (na
maioria das vezes abaixo de 20%). Tais dados sugerem que dos dois países o Japão
está melhor preparado para lidar com a ocorrência de desastres. Esta diferença é
reforçada pela diferença na pontuação para adoção e implementação de políticas para
redução de riscos (Fig. 4a), diferença esta que se acentua na pontuação do progresso
na redução de riscos de desastres (Fig. 4b). Ou seja, além da Indonésia apresentar
relativamente menos iniciativas em termos de gestão de riscos de desastres,
aparentemente apresenta uma efetividade menor das iniciativas adotadas.
Figura 4. Adoção e implementação de políticas para a redução de riscos de desastres (a) (GCDL,
2021) e pontuação do progresso na redução de risco de desastre a partir de autoavaliação (b) (GCDL,
2021).
Figura 5. Produto Interno Bruto (PIB) per capita (a), proporção dos diferentes estratos de
renda/pobreza (b) e quantidade relativa de pessoas subnutridas (c)1 na Indonésia e Japão de 2004 a
1 Não há dados completos para o Japão para o períodos. No entanto, para efeito de comparação,
considerando que não ocorreram mudanças consideráveis, como nos demais indicadores para o
mesmo país, optou-se por usar o dado.
2011 (Ritchie, 2019).
Figura 6. Tempo de frequência na escola (a) e taxa de alfabetização (b)2 nos dois países (Indonésia e
Japão) no período de 2004 a 2011 (Ritchie, 2019).
Figura 7. Expectativa de vida (a) e taxa de mortalidade infantil (b) nos dois países (Indonésia e
Japão) no período de 2004 a 2011 (Ritchie, 2019).
Outros fatores que revelam serviços de proteção social são o acesso a água
potável e saneamento, os quais revelam diferenças importantes. Enquanto o Japão
oferece acesso ao saneamento e água potável a 100% da população, a Indonésia
possui lacunas importantes em relação a estes serviços (Fig. 8a,b). O acesso a energia
também mostra diferenças no fornecimento destes serviços entre os dois países. Na
Indonésia tanto o acesso relativo da população é menor (Fig. 9a,c) quanto o consumo
2 Não há dados para o Japão no período. Porém, o dado mais próximo corresponde ao ano de 2002,
o qual foi incluído no gráfico para efeito de comparação, considerando o mesmo critério subjetivo
descrito na nota anterior.
per capita (Fig. 9b).
Figura 8. Acesso à água tratada (a) e saneamento (b) pela população nos dois países (Indonésia e
Japão) no período de 2004 a 2011 (Ritchie, 2019).
Figura 9. Acesso à eletricidade (a), consumo de energia (b) e acesso a combustíveis limpos para
cozinhar (c) pela população nos dois países (Indonésia e Japão) no período de 2004 a 2011 (Ritchie,
2019).
Finalmente as emissões de CO2 dos dois países são diferentes tanto em relação
à produção (Fig. 10a) como em relação às tendências de mudanças. Embora o Japão
apresente uma taxa de emissão bem mais alta que a Indonésia, o que reflete um
consumo maior de energia, o fato de o Japão estar apresentando uma tendência de
mudanças negativas pode significar melhoras na eficiência energética.
Finalizando este tópico, todos os indicadores apontam para uma diferença na
condição de cada país que os caracterizam como diferentes no que diz respeito às
condições de cada um para lidar com eventos de desastres. Enquanto o Japão goza de
condições mais favoráveis do ponto de vista socioeconômico, a Indonésia apresenta
fragilidades importantes que podem influenciar negativamente nas respostas que da
população aos eventos de desastres.
Figura 10. Taxas de emissão de dióxido de carbono (CO2) (a) e mudanças nas emissões de CO2 (b) na
Indonésia e Japão de 2004 a 2011 (Ritchie, 2019)
Considerações Finais
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