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Concreto Armado II

Lajes Lisas
e
Lajes Cogumelo

Autor: Prof. Ronaldo Azevedo Chaves

2016

Uso exclusivo da disciplina Concreto Armado II do curso de Engenharia Civil da UFMG


LAJES COGUMELO OU LISAS

DEFINIÇÃO

São chamadas lajes lisas aquelas que apóiam diretamente sobre os pilares,
portanto, sem vigas de sustentação. Elas podem apresentar aumento de suas espessuras
na região dos apoios, capitéis, e são chamadas lajes cogumelo.
Essas lajes normalmente são maciças e em concreto armado, mas podem ser
nervuradas com o elemento inerte ou não. Estas últimas apresentam completas, ou
maciças, na região dos apoios para reforço ao efeito localizado de punção.
Tanto as lajes maciças quanto as nervuradas são também executadas em
concreto protendido.
Estas lajes são economicamente competitivas, quando o valor da sobrecarga é
muito grande. Ou, então, quando as distâncias entre os pilares for maior que 5,0m.
No entanto, por razões de arquitetura e funcionalidade, estas lajes continuam
sendo largamente adotadas como solução estrutural.

DADOS HISTÓRICOS

Essas lajes foram desenvolvidas no início do século XX nos Estados Unidos. Em


1904 C.A.P. Turner idealizou esta estrutura e, já em 1906, ele concluiu a primeira em
Mineápolis.
Desde então a aplicação deste tipo de estrutura foi adotada no mundo todo. E
com o desenvolvimento da indústria da construção, hoje estas lajes podem ser
concretadas “in loco”, ou então ser executadas no chão e depois içadas para a sua
posição (ou elevação) definitiva. Este último processo é conhecido como “lift-slab”.

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VANTAGENS E DESVANTAGENS

VANTAGENS

As vantagens destas lajes sobre as convencionais são listadas a seguir:

1 – Racionalização da fôrma (são planas, sem recortes e de menor metragem);


2 – Facilidade de concretagem (pode-se usar concreto mais seco, portanto com
menor consumo de cimento);
3 – Apresentam menor desnível entre um piso e outro, permitindo maior número
de andares para a mesma altura final do edifício;
4 – Para grandes ambientes confinados, frigoríficos, reservatórios e outros, estas
lajes permitem uma boa ventilação no teto. Elimina-se, assim, a existência de ar,
ou gases, confinados, o que não é o caso das lajes nervuradas sem o elemento
inerte ou enchimento;
5 – Apresentam facilidade para instalação de dutos de ar condicionado e/ou
bandejas de cabos e tubos;
6 – Exigem uma armadura muito simples (barras retas ou malhas soldadas), de
fácil execução e fixação;
7 – Apresentam acabamento final de aspecto muito bom;
8 – Permitem que o projeto arquitetônico seja bastante flexível, uma vez que as
paredes divisórias não precisam ficar somente numa posição para sempre.

DESVANTAGENS

A maior desvantagem destas lajes reside no fato de apresentarem deformações


grandes. E no caso específico de projetos onde haja alvenaria, estas “descolam” da laje
apresentando fissuras na ligação. Mas isto é solucionado com detalhes construtivos.

E quando os vãos, ou sobrecargas, são grandes, aquelas deformações crescem


mais ainda. Mas aí é que são adotadas as lajes cogumelo protendidas, as quais eliminam
essas deformações excessivas.

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ESTABILIDADE - NOÇÕES

A rigidez global de uma estrutura convencional constituída por lajes, vigas e


pilares, normalmente é maior, se comparada à rigidez de uma estrutura semelhante em
laje cogumelo (sem vigas). Quando a estrutura é pequena, tal diferença não tem muita
importância. Isto é sustentado no fato de a rigidez da estrutura, em laje cogumelo, ser
suficiente para conferir uma boa estabilidade global.
Este quadro muda de figura quando se tem edificações altas. Nestes casos
procuram-se desenvolver projetos arquitetônicos que permitam a existência de
elementos enrijecedores, por exemplo caixas de escadas e/ou de elevadores, os quais
conferem às estruturas estabilidade global. As figuras, em planta, exemplificam alguns
casos desses elementos ou expedientes.

PROCESSO DE CÁLCULO

Muitos sãos os processos de cálculo para as lajes cogumelo. A NBR-6118, que


rege o assunto, preconiza um desses procedimentos que também é indicado por várias
normas estrangeiras.
Tal método exige a divisão dos painéis das lajes em faixas internas e externas
como indicado na figura:

Para o cálculo dos esforços atuantes, considera-se que o conjunto laje - pilares forme
pórticos, ou vigas, perpendiculares entre si. E neste procedimento considera-se o
carregamento total atuando, em cada direção, isoladamente. Naturalmente que, para o
cálculo das reações nos pilares, isto não deve ser considerado.

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Como passo seguinte carregam-se os pórticos com as cargas atuantes. E como o
carregamento pode ter parcelas de cargas de naturezas diferentes (cargas permanentes e
acidentais), deve-se comparar os valores dessas cargas a fim de se considerar suas
combinações mais desfavoráveis.

a) Pórtico carregado para q ≤ 0,75g

p=g+q

p - carga total
g - carga permanente
q - carga acidental

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b) Pórtico carregado para q > 0,75g (pesquisa de “maior momento” nas seções
indicadas)

b.1

p g p g

b.2

g p p
g g

b.3

p g p g p

Como última etapa deste processo, deve-se “distribuir” os momentos fletores


encontrados, pelas faixas internas e externas nos seguintes percentuais:

-22,5% dos momentos positivos para cada faixa interna


-12,5% dos momentos negativos para cada faixa interna
-27,5% dos momentos positivos para cada faixa externa
-37,5% dos momentos negativos para cada faixa externa

Somente após esta divisão é que se parte para o dimensionamento das seções à
flexão no Estado Limite Último.

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VALIDADE E CONDIÇÕES DO PROCESSO

Conseguem-se bons resultados com este processo quando a relação entre vãos
ortogonais atende à seguinte expressão:

0,75 ≤ ℓx/ℓy ≤ 1,33

Nem sempre se consegue que os pilares estejam alinhados, como até agora estão
mostrados nas figuras. Mas para conseguir melhores resultados com esse método,
permite-se um desalinhamento máximo entre pilares como a seguir:

DIMENSÕES DOS ELEMENTOS

As lajes cogumelo devem ter espessura mínima de 14 cm. E deverão ter, no


mínimo, 16 cm quando são lajes lisas, inclusive quando destinadas a passagem de
veículos. Estas dimensões são preconizadas pela NBR-6118.
Para os pilares que suportam essas lajes, são recomendadas dimensões mínimas
da seção transversal, as quais não poderão ser reduzidas em nenhuma hipótese. Essas
dimensões mínimas são:

-30cm
-1/20 da distância entre eixos dos pilares naquela direção
-1/15 da altura livre do pilar (1/10 para os pilares cintados)
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Para se avaliar a espessura h de uma laje cogumelo ou lisa, recomenda-se o
seguinte, tomando ℓ como o maior vão:
h = ℓ/36 a ℓ/40 para lajes maciças em concreto armado
h = ℓ/30 para lajes nervuradas em concreto armado
h = ℓ/42 para lajes de piso em concreto protendido
h = ℓ/48 para lajes de forro em concreto protendido

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EXEMPLO

Seja dimensionar e detalhar a laje da figura usando CA-50 e fck = 30 MPa. Trata-
se de um piso de prédio residencial. O desnível entre andares é de 3,05 m.

-Escolha da espessura da laje

ℓx = ℓy = 600
h = 600/36 = 16,7 cm ou h = 600/40=15 cm
Será adotada h = 16 cm

-Dimensões dos pilares

a≥ -30 cm
b≥ -ℓ/20 = 600/20 = 30 cm
-ℓo/15 = (305-16)/15 = 19,3 cm

a x b = 30 x 30

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-Carregamento

 Peso da alvenaria externa (0,25 m em blocos)

P = 0,25x(3,05-0,16)x13,00 = 9,39 kN/m

 Cargas distribuídas

Peso próprio 4,00


Revestimento e Pavimentação 0,80
Alvenaria 1,00
g (carga permanente) 5,80

sobrecarga (q) 1,50

p = (g + q) 7,30 kN/m²

Observar que q < 0,75g

-Cálculo dos esforços

 Direção X

Iv = 4,00x0,16³/12 = 0,001365 m4 (eixos A e C)


Iv = 6,00x0,16³/12 = 0,002048 m4 (eixo B)
Ip = 0,30x0,30³/12 = 0,000675 m4

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Eixo B

Eixos A e C

Os valores entre parênteses são os mínimos exigidos pela NBR-6118.

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 Direção Y

Iv = 0,001365m4 (eixos 1 e 4)
Iv = 0,002048m4 (eixos 2 e 3)
Ip = 0,000675m4

Eixos 1 e 4

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Eixos 2 e 3

-Dimensionamento

O cálculo é feito para os valores máximos encontrados para cada trecho. Será
feito aqui um dimensionamento único para todos os eixos em cada direção, tendo em
vista as pequenas diferenças dos valores encontrados.

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Direção X Largura da faixa – 6,00/4 = 1,50

Faixas Externas
Momentos no Momento AS AS
% por d
painel por faixa (total) (por m) Ø c/
faixa [cm]
[kN].[m] [kN].[m] [cm2] [cm2]/[m]
-17,66x6 = -105,96 37,5 -39,74 12,3 11,21 7,47 Ø10 c/ 10
-23,36x6 = -140,16 37,5 -52,56 12,1 15,57 10,38 Ø12,5 c/ 12
12,85x6 = 77,10 27,5 21,20 13,6 5,17 3,45 Ø8,0 c/ 15
10,95x6 = 65,70 27,5 18,07 12,8 4,67 3,11 Ø8,0 c/ 16

Faixas Internas
Momentos no Momento AS AS
% por d
painel por faixa (total) (por m) Ø c/
faixa [cm]
[kN].[m] [kN].[m] [cm2] [cm2]/[m]
-105,96 12,5 -13,25 13,6 3,19 2,60* Ø8,0 c/ 19
-140,16 12,5 -17,52 13,6 4,25 2,83 Ø8,0 c/ 18
77,10 22,5 17,35 13,6 4,20 2,80 Ø8,0 c/ 18
65,70 22,5 14,78 12,8 3,8 2,60* Ø8,0 c/ 19
*AS min = 0,173%bh = 2,60 cm²/m  Ø 8,0 c/ 19

Direção Y

Faixas Externas
Momentos no Momento AS AS
% por d
painel por faixa (total) (por m) Ø c/
faixa [cm]
[kN].[m] [kN].[m] [cm2] [cm2]/[m]
-17,47x6 = -104,82 37,5 -39,31 12,3 11,08 7,39 Ø10 c/ 11
-24,56x6 = -147,36 37,5 -55,26 13,4 14,52 9,68 Ø12,5 c/ 12
11,28x6 = 67,68 27,5 18,61 12,8 4,82 3,21 Ø8,0 c/ 16

Faixas Internas
Momentos no Momento AS AS
% por d
painel por faixa (total) (por m) Ø c/
faixa [cm]
[kN].[m] [kN].[m] [cm2] [cm2]/[m]
-104,82 12,5 -13,10 12,8 3,36 2,60* Ø8,0 c/ 19
-147,36 12,5 -18,42 12,8 4,77 3,18 Ø8,0 c/ 16
67,68 22,5 15,23 12,8 3,92 2,61 Ø8,0 c/ 19
*AS min = 0,173%bh = 2,60 cm²/m  Ø 8,0 c/ 19

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Detalhamento – Armadura Principal

Armadura Positiva

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Armadura Negativa

BIBLIOGRAFIA

- NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento.


- FUSCO Jr., Francisco Brasiliense e CHOLFE, Luiz – Lajes, projeto com tela soldada.
Ed. Pini – São Paulo – 1989.
- MORETTO, Oreste – Curso de hormigón armado. Editorial “El Ateneo” – Buenos
Aires – 2a ed. – 1970.
- MONTOYA, P. Jiménez et al. – Hormigón armado. Editorial Gustavo Gili S.A. –
Barcelona – 7a ed.
- SHTARERMAN, M. I. e IVIANSKI, A. M. – Entrepisos sin vigas – Editora Inter
Ciência – Montevidéo – 1960.
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