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METAS DE SEGURANÇA

DO PACIENTE
Profa. Dra. Cristiane Damiani Tomasi

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1 METAS DE SEGURANÇA
O PACIENTE

As metas de segurança do paciente foram estabelecidas em 2008 pela World Alliance


for Patient Safety (Aliança Mundial pela Segurança do Paciente) e foram posteriormen-
te adotadas pelo Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) do Ministério
da Saúde, este publicado em 2013. O objetivo geral do PNSP (BRASIL, 2013a) é
melhorar a qualidade do cuidado em todos os estabelecimentos de saúde do país.
Uma das estratégias para atingir esse objetivo é a elaboração e a implantação de
protocolos assistenciais específicos.

Ao adotar as metas de segurança do paciente, os estabelecimentos de saúde têm


a oportunidade de implementar mudanças em suas práticas de atendimento, treinar
seus profissionais de saúde e monitorar continuamente seus processos para garantir
a segurança do paciente. Elas também ajudam a padronizar as práticas de segurança
do paciente em todo o setor de saúde, independentemente do tamanho ou da locali-
zação do estabelecimento. Além disso, tais metas ajudam a aumentar a conscientiza-
ção dos pacientes e de suas famílias sobre a importância da segurança do paciente
e de sua participação ativa na própria segurança dele. Isso pode levar a uma melhor
comunicação entre pacientes e profissionais de saúde e, portanto, melhorar os resul-
tados de saúde.

As metas de segurança do paciente são importantes porque fornecem uma estrutu-


ra clara e consistente para a implementação de práticas de segurança em todos os
níveis do setor de saúde. Dessa forma, é garantido que a assistência prestada aos
pacientes seja segura e eficaz, de modo que melhora a qualidade do cuidado e a
segurança deles.

Figura 1 – Metas de segurança do paciente

Fonte: Brasil (2013b)

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Na Figura 1, estão ilustradas as metas de segurança do paciente preconizadas pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). São, portanto, seis metas de se-
gurança do paciente no Brasil, as quais serão apresentadas mais detalhadamente a
seguir.

1.1 IDENTIFICAÇÃO CORRETA DO PACIENTE

A primeira meta do protocolo tem como objetivo garantir a identificação precisa dos
pacientes que recebem atendimento nos serviços de saúde. Embora possa parecer
simples, é um desafio constante para os profissionais de saúde, pois envolve a identi-
ficação exata do paciente. A identificação equivocada de um paciente ocorre quando
ele é confundido com outro, o que pode acontecer quando dois pacientes possuem
nomes semelhantes, especialmente em comunidades ou famílias numerosas. Vale
ressaltar que é necessário considerar as diferentes dinâmicas de atendimento de pa-
cientes nos diversos serviços de saúde, ou seja, a forma de identificação do paciente
na Atenção Primária à Saúde (APS) vai ser diferente da forma em que se faz essa
identificação na atenção hospitalar.

A falta de identificação ou conferência inadequada podem resultar em equívocos du-


rante o atendimento aos pacientes. Esse problema pode ter um impacto significativo
nas decisões de gestão clínica, caso haja informações médicas imprecisas que in-
fluenciem indevidamente o plano de cuidados. Uma simples troca de prontuário de
paciente pode desencadear esse tipo de incidente tanto em uma unidade de saúde
quanto no hospital.

Trata-se de um erro administrativo que pode ocorrer facilmente na ausência de pa-


dronização do processo de trabalho e de um protocolo de segurança do paciente. Na
APS, existem diversos outros exemplos de erros administrativos que podem ocorrer,
incluindo equívocos na nomeação, na transição de cuidados e na realização ou entre-
ga de exames complementares (segurança no diagnóstico).

EXEMPLO

Um erro de identificação que pode ocorrer em um hospital é a confusão de prontuários de


pacientes. Essa situação pode acontecer quando dois pacientes têm nomes semelhantes ou
idênticos, e o profissional de saúde responsável por registrar as informações não confere
cuidadosamente os dados antes de inseri-los no prontuário.

Essa falha pode ter graves consequências, como o fornecimento de medicação ou tratamento
incorretos com base em informações de saúde imprecisas ou inapropriadas. Além disso,
pode levar a erros em testes diagnósticos, em cirurgias ou em procedimentos médicos.

Outro exemplo de erro de identificação que pode ocorrer em hospitais é a confusão entre
pacientes com históricos médicos semelhantes ou idênticos. Essa situação pode levar a
confusões quanto aos diagnósticos, aos tratamentos e a medicamentos prescritos, o que
pode ter impactos significativos na segurança e no bem-estar do paciente.

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O erro associado à falha na identificação do paciente está relacionado a um erro ad-
ministrativo, e pode ser considerado menos prejudicial do que erros de medicação ou
diagnóstico. Há, no entanto, muita confusão e sobreposição entre essas categorias
e muitos erros de diagnóstico ou medicação têm um erro administrativo como sua
causa raiz. Existem muitos exemplos de graves danos e mortes resultantes de um erro
administrativo, como diagnósticos atrasados e perdidos devido à falha do sistema em
lembrar de pacientes com resultados anormais de exames.

Na APS, algumas boas práticas de identificação incluem:

• Perguntar ao paciente (ou a um familiar) "Qual é o seu nome completo?" e


verificar o documento de identificação com foto;

• Mesmo que o profissional conheça o paciente, deve-se sempre verificar as


informações no registro de atendimento;

• Nunca assumir que o paciente está no lugar certo – ou que é o paciente cor-
reto.

Algumas boas práticas de identificação no ambiente hospitalar incluem:

• Utilizar pulseiras de identificação com informações precisas sobre o paciente,


como nome completo, data de nascimento e número de prontuário;

• Verificar a identificação do paciente antes de realizar qualquer procedimento,


medicação ou administração de sangue ou hemoderivados;

• Checar o nome e a data de nascimento do paciente em todos os exames e


resultados de laboratório;

• Identificar pacientes com necessidades especiais, como alergias ou deficiên-


cias, e destacar essas informações na pulseira de identificação;

• Comunicar-se com o paciente sempre utilizando seu nome completo e confir-


mar se ele reconhece o nome;

• Evitar a utilização de abreviações ou siglas que possam gerar confusão na


identificação do paciente;

• Certificar-se de que a identificação do paciente esteja sempre atualizada e


correta, corrigindo eventuais erros ou inconsistências.

1.2 MELHORAR A COMUNICAÇÃO ENTRE PROFISSIONAIS DE SAÚDE

A segunda meta do PNSP tem como objetivo aprimorar a comunicação nos servi-
ços de saúde. As falhas na comunicação são uma das principais causas de eventos
adversos em todos os níveis de atenção à saúde. Um estudo realizado no Brasil,
por exemplo, constatou que as falhas na comunicação foram um fator significativo
na ocorrência de eventos adversos na APS (MARCHON; MENDES JUNIOR; PAVÃO,
2015).

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A comunicação é uma atividade constante e erros podem ocorrer em equipes de saú-
de. É fundamental estar atento a pontos críticos, como a prescrição ou a orientação
verbal ou telefônica, a transição de cuidados, a passagem de resultados de exames
e a orientação aos pacientes. O uso de ferramentas de comunicação pode contribuir
para uma comunicação mais eficaz, com um circuito fechado de informações. Isso
significa que a mensagem compreendida pelo receptor deve ser a mesma mensagem
transmitida pelo emissor. A comunicação eficaz é uma via de mão dupla.

Erros frequentemente acontecem na transferência de informações verbais ou escritas


de um provedor de cuidados de saúde ou de ambiente para outro. A interface entre
a APS e o ambiente hospitalar é uma fonte comum de erros. Por exemplo, quando
as pessoas deixam uma instalação hospitalar e voltam para casa na comunidade, as
mensagens sobre seu cuidado clínico em curso podem não ser entregues aos seus
provedores da APS. Resumos de alta podem não ser escritos, entregues ou podem
ser interpretados erroneamente, resultando em incidentes que prejudicam os pacien-
tes. A equipe da APS pode nem mesmo saber que um paciente foi internado na aten-
ção hospitalar se o paciente não a informar.

Esse tipo de erro pode resultar em custos consideráveis para o sistema de saúde e
pode levar a readmissões hospitalares. Um estudo descobriu que as pessoas tinham
seis vezes mais chances de serem readmitidas no hospital dentro de três meses após
a alta devido a erros de comunicação.

Falhas de comunicação também podem acontecer durante a transição do paciente


da APS para a atenção hospitalar. As informações no ambiente da APS podem não
ser fornecidas pela equipe de saúde da APS ou não solicitadas pela equipe da aten-
ção hospitalar.

São boas práticas para comunicação efetiva e promoção da segurança


do paciente:

• Estabelecer padrões claros de comunicação entre os membros da equi-


pe de saúde, incluindo canais formais e informais de comunicação;

• Garantir que as informações sejam transmitidas de forma clara, com-


pleta e compreensível, evitando jargões médicos e termos técnicos que
possam ser confusos para o paciente ou outros profissionais de saúde;

• Usar ferramentas de comunicação efetivas, como a técnica de leitura e


confirmação para verificar a compreensão mútua das informações trans-
mitidas;

• Incentivar a participação ativa do paciente e seus familiares no processo


de comunicação e na tomada de decisão, fornecendo informações claras
e precisas sobre o tratamento e as opções disponíveis;

• Garantir que a comunicação seja registrada e documentada adequada-


mente, incluindo o nome do profissional que transmitiu a informação e o
nome do profissional que a recebeu;

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• Realizar treinamentos regulares em comunicação para todos os mem-
bros da equipe de saúde, incluindo habilidades interpessoais, trabalho
em equipe e resolução de conflitos;

• Garantir que haja um sistema de acompanhamento e verificação das


informações transmitidas, para garantir que as informações cheguem ao
destinatário correto e sejam compreendidas adequadamente.

1.3 MELHORAR A SEGURANÇA NA PRESCRIÇÃO,


NO USO E NA ADMINISTRAÇÃO DOS MEDICAMENTOS

A terceira meta de segurança do PNSP está relacionada ao uso seguro de medica-


mentos, tema abordado em um protocolo publicado pelo Ministério da Saúde em
2013, com o objetivo de promover práticas seguras no uso de medicamentos em
estabelecimentos de saúde. As ocorrências envolvendo medicamentos na APS são
os principais incidentes com potencial de causar danos aos pacientes e, grande parte
deles, pode ser evitada com medidas para garantir seu uso seguro e racional (BRA-
SIL, 2013a).

O uso de medicamentos aumentou em todos os níveis de atenção à saúde, devido à


população cada vez mais idosa e com necessidades complexas de saúde, o que faz
com que mais medicamentos sejam introduzidos no sistema. Na APS, onde é pres-
tado o maior número de atendimentos em saúde, o uso de medicamentos é ainda
maior.

É fundamental considerar todos os processos que envolvem a cadeia medicamento-


sa, desde o registro até o monitoramento do uso. Esses processos incluem a assis-
tência farmacêutica, como seleção, programação, aquisição, armazenamento, distri-
buição e dispensação de medicamentos, além da administração, monitoramento de
uso e prescrição. Para cada processo, há normativas, boas práticas e diretrizes de
tratamento que auxiliam na garantia do uso seguro e racional de medicamentos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a temática tão importante que es-
colheu o tema "medicação sem danos" como o terceiro Desafio Global de Segurança
do Paciente, lançado em 2017. O protocolo do PNSP apresenta algumas medidas a
serem adotadas durante esses processos para garantir a segurança do paciente.

O processo de uso de medicamentos nos serviços de saúde segue um conjunto de


etapas bem definidas e integradas ao cuidado do paciente. A primeira etapa consiste
na coleta e organização de dados e informações sobre o paciente. Em seguida, um
diagnóstico é formulado, resultante do raciocínio clínico do profissional de saúde,
geralmente o médico. A terceira etapa envolve a definição de um plano terapêutico,
idealmente elaborado em conjunto com o paciente, incluindo a prescrição de um ou
mais medicamentos e medidas terapêuticas não farmacológicas. A dispensação e a

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orientação constituem a última etapa antes da administração ou utilização do medica-
mento pelo paciente. Essas etapas são representadas na figura a seguir.

Figura 2 – Modelo conceitual de assistência farmacêutica integrada ao processo de cuidado em saúde

Fonte: Correr, Otuki & Soler (2011).

É necessário atentar às condições de temperatura, iluminação, umidade, limpeza e


controle de pragas para o armazenamento adequado de medicamentos. Além disso,
é importante organizar os medicamentos para um bom controle de estoque, utilizan-
do o armazenamento segregado e sinalizado para medicamentos com maior risco de
troca (nomes e embalagens semelhantes), o sistema PEPS (o primeiro que entra é o
primeiro a sair), a separação de medicamentos próximos ao vencimento dos demais,
o armazenamento separado de medicamentos controlados e a ordenação alfabética
ou por forma farmacêutica.

Antes de dispensar o medicamento ao paciente, é importante realizar a análise da


prescrição para garantir a segurança na administração. Deve-se observar os aspectos
que envolvem uma prescrição segura, como a identificação correta do medicamento
conforme prescrito, realizando uma dupla conferência para minimizar erros. É fun-
damental, ainda, observar as condições do ambiente de dispensação para garantir
a segurança na administração, como acesso restrito, ausência de fontes de ruído e
organização adequada.

Orientar e aconselhar o paciente também é essencial para interceptar possíveis erros


na administração do medicamento. Para isso, é importante verificar a compreensão
do paciente em relação à orientação prestada e comunicar-se adequadamente para
garantir a segurança na administração.

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1,4 ASSEGURAR A CIRURGIA EM LOCAL DE INTERVENÇÃO,
PROCEDIMENTO E PACIENTE CORRETOS

A OMS lançou, em 2008, o segundo desafio global, que é a segurança em proce-


dimentos cirúrgicos. Em consonância com esse objetivo, o Ministério da Saúde pu-
blicou em julho de 2013 o seu protocolo para a cirurgia segura no âmbito do PNSP
(BRASIL, 2013).

O protocolo contém uma lista de verificação para ser utilizada antes, durante e após
o procedimento cirúrgico, de modo a visar a redução da ocorrência de eventos ad-
versos cirúrgicos. É fundamental que esse protocolo seja implementado em todos os
estabelecimentos de saúde que realizem procedimentos que impliquem em incisão
no corpo ou introdução de equipamentos endoscópicos, tanto dentro quanto fora do
centro cirúrgico, por qualquer profissional de saúde.

EXEMPLO

Um paciente pode ser submetido a uma cirurgia de remoção do rim direito quando o proble-
ma estava no rim esquerdo. Esse tipo de erro é mais comum em casos nos quais há mais de
uma patologia ou quando há falha na comunicação entre a equipe médica e o paciente, re-
sultando em confusão sobre qual é o procedimento correto a ser realizado. Esse tipo de erro
pode causar danos irreparáveis ao paciente, como perda de função de um órgão saudável,
além de atrasar o tratamento para a condição real que necessita de intervenção cirúrgica.

Como aplicar a meta de cirurgia segura na APS e na Atenção Especializada (AE)?


Uma opção é utilizar uma lista de verificação cirúrgica em procedimentos como des-
bridamento de feridas, lavagem otológica, drenagem de abscesso, cantoplastia e em
procedimentos cirúrgicos odontológicos. Essa ferramenta auxilia o profissional a ve-
rificar cada etapa do trabalho e evita possíveis esquecimentos, aumentando a segu-
rança do paciente.

1.5 HIGIENIZAR AS MÃOS PARA EVITAR INFECÇÕES

A prevenção das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) é baseada em


diversas medidas, incluindo a higiene das mãos, a limpeza e a desinfecção do am-
biente, o correto armazenamento e o descarte de insumos e imunobiológicos, entre
outras. Embora a higiene das mãos seja reconhecida como a medida mais eficaz na
prevenção de infecções, a adesão dos profissionais de saúde ainda não atingiu níveis
aceitáveis em todas as áreas da assistência à saúde.

Mesmo sabendo da importância da higiene das mãos, muitos profissionais podem


esquecer ou burlar esse procedimento, o que pode ser influenciado por fatores opera-
cionais e cognitivos. Por exemplo, a higiene das mãos pode ser vista como uma tarefa
rotineira ou básica demais para ser lembrada com frequência.

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É importante lembrar dos cinco momentos para a higiene das mãos, conforme o
Quadro 1.

Quadro 1 – Cinco momentos para a higiene das mãos

Momento Comentário

Antes de qualquer contato com


Antes de tocar o o paciente, mesmo que não seja
paciente previsto o contato direto com áreas
do corpo do paciente.

Antes de realizar
procedimento Antes de procedimentos invasivos,
limpo ou limpeza de feridas ou curativos.
asséptico:

Após contato com sangue,


Após risco de secreções, excreções, mucosas e
exposição a outros fluidos corporais, mesmo
fluidos corporais: que utilize equipamentos de
proteção individual.

Após qualquer contato com o


paciente, sua cama ou seu entorno,
Após tocar o
mesmo que não tenha ocorrido
paciente
contato com áreas do corpo do
paciente.

Após tocar Após tocar superfícies próximas ao


superfícies paciente, como a cama, a mesa de
próximas ao cabeceira, o monitor cardíaco, entre
paciente outros.

SAIBA MAIS

Profissionais de saúde tendem a pensar que higienizam as mãos mais do que realmente
fazem. O estudo conduzido com profissionais (médicos e equipe de enfermagem) atuantes
em um pronto atendimento (PA) mostra isso. Em 2017, os participantes da pesquisa relata-
ram uma taxa de adesão de higienização das mãos entre 72,5% e 76%. No entanto, outro
estudo realizado com profissionais do mesmo segmento de atuação (PA), mas que foram
observados pelos pesquisadores, revelou uma taxa de adesão de apenas 19,4%. Isso indica
que os profissionais realizam a lavagem das mãos com muito menos frequência do que
pensam. A autopercepção dos profissionais superestima a higienização das mãos. Esse fato
pode ocorrer facilmente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Existem técnicas específicas para a higiene das mãos quando se utiliza água e sabão
e quando se realiza a assepsia alcoólica. As mãos devem ser higienizadas com água e
sabonete quando estiverem visivelmente sujas, com tempo de duração de 40 a 60 se-
gundos. Senão, friccione-as com preparações alcoólicas durante 20 a 30 segundos.

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Figura 3 – Higiene das mãos com água e sabão

Fonte: adaptado de Brasil (2013c)

Figura 4 – Assepsia alcoólica das mãos

Fonte: adaptado de Brasil (2013c)

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) criou estratégias multimodais para promover
a melhoria da higiene das mãos. Elas estão descritas no quadro a seguir:

Quadro 2 – Estratégias Multimodais para higiene das mãos

Estratégias Multimodais Descrição

Assegurar que a infraestrutura necessária esteja disponível para permitir a


prática de higiene das mãos pelos profissionais de saúde. Isso inclui dois
elementos essenciais:

Mudança de sistema – acesso a um fornecimento contínuo e seguro de água, bem como de sabo-
nete líquido e papel-toalha;

– acesso imediato a preparações alcoólicas para a higiene das mãos no ponto


de assistência.

Fornecer a todos os profissionais de saúde capacitação regular sobre a impor-


tância da higiene das mãos, com base na abordagem “Meus 5 Momentos para
Formação/Educação
a Higiene das Mãos” e os procedimentos corretos para a fricção antisséptica
das mãos e a higiene das mãos.

Monitorar as práticas de higiene das mãos e a infraestrutura, juntamente com


Avaliação e as percepções e os conhecimentos relacionados entre os profissionais da
retroalimentação saúde, fornecendo aos funcionários retroalimentação sobre desempenho e
resultados.

Lembretes no local de Alertar e lembrar os profissionais de saúde sobre a importância da higiene das
trabalho mãos e sobre as indicações e procedimentos adequados para realizá-la.

Criar um ambiente e percepções que facilitem a sensibilização sobre questões


de segurança do paciente, garantindo a consideração de melhoria da higiene
das mãos como máxima prioridade em todos os níveis, incluindo: – a partici-
Clima de segurança pação ativa em nível institucional e individual;
institucional
– a consciência da capacidade individual e institucional para mudar e melho-
rar (autoeficácia); e

– parcerias com pacientes e organizações de pacientes.

Fonte: OMS (2009)

1.6 REDUZIR O RISCO DE QUEDAS

A sexta meta de segurança do paciente está vinculada à redução do risco de quedas.


Aqui é válido definir como esta é compreendida:

[...] deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à po-


sição inicial, provocado por circunstâncias multifatoriais, resultando ou
não em dano. Considera-se queda quando o paciente é encontrado no
chão ou quando, durante o deslocamento, necessita de amparo, ainda
que não chegue ao chão (BRASIL, 2013d, p. 3).

As quedas podem ter diferentes impactos, como físico, psicológico ou social. A exem-
plo desses impactos podem ser citados: internações e óbito, diminuição da autocon-
fiança e atividades diárias, autonomia e independência.

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ATENÇÃO

A ocorrência de quedas dentro dos espaços dos serviços de saúde afeta a confiança do
paciente e da família naquela equipe e serviço, afeta a forma como é avaliada a qualidade
do cuidado, uma vez que o serviço de saúde é responsável pela garantia da segurança nos
espaços de atendimento.

Alguns passos que podem ser pensados para a prevenção de quedas são os seguin-
tes: 1) identificação do risco de queda; 2) avaliação do risco de queda; 3) prevenção
de quedas.

A identificação do risco de queda considera os principais fatores de risco para que-


da, quais sejam: demográfico (crianças até 5 anos e idosos com mais de 65), psicog-
nitivos (declínio cognitivo, depressão, ansiedade), condições de saúde e presença de
doenças crônicas, funcionalidade (dificuldade no desenvolvimento das atividades da
vida diária, amputação de membros inferiores, deformidades de membros inferiores),
comprometimento sensorial (visão, audição, tato), equilíbrio corporal (alteração na
marcha), uso de medicamentos (benzodiazepínicos; antiarrítmicos; anti-histamínicos;
antipsicóticos; antidepressivos; digoxina; diuréticos; laxativos; relaxantes musculares;
vasodilatadores; hipoglicemiantes orais; insulina; e polifarmácia – uso de quatro ou
mais medicamentos), obesidade severa e história prévia de queda.

Na avaliação do risco de queda podem ser considerados os itens identificados


anteriormente ou usar uma escala de avaliação de risco. São considerados com alto
risco para queda o paciente que: é independente, que se locomove e realiza suas
atividades sem ajuda de terceiros, mas possui pelo menos um fator de risco; depen-
dente da ajuda de terceiros para realizar suas atividades, com ou sem a presença de
algum fator de risco. Anda com auxílio (de pessoa ou de dispositivo) ou se locomove
em cadeira de rodas; acomodado em maca, por exemplo, aguardando a realização
de exames ou transferência, com ou sem a presença de fatores risco.

A prevenção de quedas considera a adoção de medidas que visem à adequação


do ambiente, como o uso de pisos antiderrapantes, instalação de barras de apoio no
banheiro e no chuveiro, mobiliário e iluminação adequados e corredores livres de obs-
táculos. Além disso, é importante orientar pacientes, familiares, cuidadores e a equipe
de saúde quanto ao uso de vestuário e calçados adequados e manutenção de grades
no leito, quando necessário. A sinalização visual em prontuários para identificar o risco
de queda do paciente é outra medida importante. A educação dos pacientes, fami-
liares e cuidadores sobre o risco, dano e prevenção de quedas é fundamental e pode
ser desafiadora. Uma estratégia útil é a orientação sobre medicamentos que podem
levar a tonturas e fraquezas, como diuréticos, anti-hipertensivos, benzodiazepínicos,
antidepressivos e hipoglicemiantes.

Caso venha a ocorrer a queda, os passos para avaliar o paciente são os seguintes:
• Identificar as lesões pós-queda e ofertar tratamento adequado;
• Identificar as causas intrínsecas e extrínsecas envolvidas na queda;

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• Implantar medidas preventivas com base nas causas identificadas;
• Notificar a queda e trazer a discussão dos fatores de risco e medidas de prevenção
junto à equipe de saúde, como forma de aprendizagem. Na APS, orientar pacientes
e familiares exemplificando os fatores de risco e construindo um plano de prevenção
conjunto.

A redução da lesão por pressão (LP) está também englobada nas metas para segu-
rança do paciente. A LP é caracterizada como uma lesão localizada na pele e/ou nos
tecidos moles subjacentes e normalmente ocorre em áreas de proeminências ósseas
ou em locais relacionados ao uso de dispositivos médicos. Essas lesões ocorrem de-
vido à pressão intensa e/ou prolongada combinada com o cisalhamento.

A LP pode causar complicações graves, como infecções ósseas, sepse e até mesmo
a morte. Embora a prevenção de LP possa parecer uma tarefa complexa, medidas
simples de cuidados regulares podem ajudar a prevenir a maioria dos casos. No Bra-
sil, o Ministério da Saúde publicou o Protocolo de Prevenção de Úlceras por Pressão,
como parte do Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), para ajudar a
prevenir o desenvolvimento de lesões por pressão e outras lesões de pele em todos
os níveis de cuidado, em todos os grupos etários de indivíduos vulneráveis.

Os passos para a prevenção da LP são: 1) identificação do risco; 2) avaliação do ris-


co; 3) prevenção da LP. Na identificação do risco busca-se identificar os seguintes
fatores de risco: a presença de fatores de risco como: baixa mobilidade; incontinência
urinária e/ou fecal; déficit sensorial; desnutrição e/ou desidratação.

Para a avaliação do risco podem ser utilizadas escalas próprias para essa avalia-
ção. Ela pode ser feita durante o exame físico, especialmente em pacientes com
mobilidade prejudicada e essa avaliação deve ser registrada no prontuário. É crucial
a colaboração da equipe multiprofissional na avaliação do risco do paciente, uma vez
que cada membro pode oferecer contribuições valiosas para o cuidado do paciente,
como a realização de ajustes nutricionais, intervenções para auxiliar na mobilização
ou mobilidade do paciente, observação da umidade e hidratação da pele, entre outras
medidas importantes.

A prevenção de LP inclui melhora do estado nutricional e hidratação, inspeção diária


da pele (da cabeça aos pés), manejo da umidade, reposicionamento do paciente no
leito e cuidados preventivos com a pele.

CONCLUSÃO
As metas de segurança do paciente são um conjunto de diretrizes estabelecidas para
melhorar a qualidade da assistência em saúde e prevenir eventos adversos e podem
ajudar Cláudia, a personagem que entende como necessária a melhora da seguran-
ça do paciente no local onde trabalha. Embora as metas tenham sido desenvolvidas
originalmente para hospitais, elas se aplicam a todos os níveis de atenção à saúde.

Ao implementar essas metas, as instituições de saúde podem melhorar a segurança

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do paciente e evitar danos desnecessários. As metas de segurança do paciente são
uma iniciativa importante e contínua para melhorar a qualidade do cuidado em saúde
e devem ser amplamente divulgadas e incentivadas para garantir que a assistência em
saúde seja segura, efetiva e de alta qualidade.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013. Institui o
Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União:
Brasília, DF, abr. 2013a. Disponível em: https://bit.ly/429IJrY. Acesso em: 05 maio
2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).


Resolução da diretoria colegiada- RDC nº 36, de 25 de julho de 2013. Institui ações
para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências.
Diário Oficial da União: Brasília, DF, jul. 2013b. Disponível em: https://bit.
ly/3NHBHGr. Acesso em: 05 maio 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Anexo 01: Protocolo para a Prática de Higiene das
Mãos em Serviços de Saúde. Distrito Federal: Ministério da Saúde, Anvisa, Fiocruz,
09 jul. 2013c. Disponível em: https://bit.ly/3HHrQgj. Acesso em: 05 maio 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Anexo 01: Protocolo de Prevenção de Quedas.


Brasília, DF: Ministério da Saúde, Anvisa, Fiocruz, 2013d. Disponível em: https://bit.
ly/3VCsIbI. Acesso em: 05 maio 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Anexo 03: Protocolo para Cirurgia Segura. Distrito
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ly/3nzP15g. Acesso em: 05 maio 2023.

CORRER, Cassyano Januário; OTUKI, Michel Fleith; SOLER, Orenzio. Assistência


farmacêutica integrada ao processo de cuidado em saúde: gestão clínica do
medicamento. Revista Pan-amazônica de Saúde, [s.l.], v. 2, n. 3, p. 41-49, set.
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MARCHON, Simone Grativol; MENDES JUNIOR, Walter Vieira; PAVÃO, Ana Luiza
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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Segundo desafio global para a segurança


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Acesso em: 05 maio 2023.

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Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC
Reitora Luciane Bisognin Ceretta

Pró-Reitoria de Ensino
Graziela Amboni

Diretoria de Ensino de Graduação


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Diretoria de Ensino a Distância


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Setor de Educação a Distância


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PRODUÇÃO DO MATERIAL

Autora
Profa. Dra. Cristiane Damiani Tomasi

Assessoria Pedagógica
Fernanda Cizescki

Design Instrucional
Amanda Kestering Tramontin
Angélica Manenti
Natassia D’Agostin Alano

Revisão
Ana Paula Dias Fernandes de Oliveira
Bruno Estevam Pereira
Emilly Estevam Machado
Vitória Lobo Gonçalves

Projeto gráfico e Diagramação


Lucíola da Silva de Melo
Suamy Fujita

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