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CURSO DE PSICOLOGIA

DOUGLAS LOCK ARAUJO

ÉTICA PSICOLÓGICA E OS DIREITOS HUMANOS

Ética Profissional do Psicólogo

SANTA CRUZ DO SUL

2021
Ética psicológica e os Direitos Humanos – Campanha publicitária voltada para os
profissionais da psicologia.

O limite da opinião
“O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da
dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que
embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos”. O primeiro tópico dos
princípios fundamentais do código de ética profissional do psicólogo declara a
necessidade de exercer a profissão buscando garantir a dignidade do ser humano em
sua totalidade, independentemente de suas características, origem ou raça. A
profissão do psicólogo deve ser comprometida com o enfrentamento das
problemáticas sociais, como a discriminação, exploração, violação de direitos
humanos, entre outros. Nas últimas décadas, muitos avanços ocorreram no debate
de questões como racismo. No entanto, apesar do aumento da visibilidade de
questões que causam sofrimento psíquico nos grupos que são vítimas, ainda se faz
muito presente na sociedade a desvalorização do discurso que invalida a experiência
daquele que sofre. Para entendermos a existência desse pensamento segregacionista
que ocorre contra a população negra, precisamos considerar o histórico brasileiro,
desde sua colonização à formação de sua identidade como povo.
O Brasil desde o seu descobrimento foi explorado pelos povos europeus, a extração
de matéria prima com o pau-brasil e o trabalho compulsório dos povos nativos, foi o
marco inicial da “construção” da identidade brasileira colonialista: um povo soberano,
portador do conhecimento e das tecnologias, e um povo nativo que precisa ser guiado
ao progresso e à salvação pelo catolicismo. Com o decorrer dos anos, uma nova
opção muito mais viável e lucrativa de mão de obra passou a ser utilizada: os negros,
como mercadoria. A definição de escravidão é: sistema socioeconômico baseado na
escravização de pessoas, ou seja, adquirir, através da compra, um indivíduo como
propriedade integral do comprador. A partir daqui inicia-se o processo de
desvalorização e de exclusão forçada da identidade de um povo que foi retirado
involuntariamente de suas terras para ser utilizado como mercadoria em um país
estrangeiro. Desde as primeiras vindas dos navios negreiros, a população negra já
chegou nas terras brasileiras sendo vista apenas como moeda de troca e como mão
de obra, jamais como um povo que possuísse suas próprias crenças, rituais e cultura.
Com o passar de séculos de escravidão e serventia forçada por parte da população
negra, muitas formas de resistência ocorreram na busca da manutenção e resgate da
identidade de seu povo. Na maioria das vezes essas tentativas foram frustradas pelos
senhores que abominavam suas heranças culturais como algo demoníaco e
aplicavam punições físicas tanto quanto psicológicas aos seus escravos, suas
propriedades. A população negra resistiu e não desistiu do sonho de sua liberdade,
que acabou sendo oficializada em 13 de maio de 1888, com a abolição da escravidão
assinada pela Princesa Isabel. No entanto, na prática, não era essa a liberdade que
buscavam e que tanto sonhavam. Medidas para a inserção e valorização do povo
negro, sua cultura e identidade na sociedade foram inexistentes, contribuindo com a
marginalização desse povo e com a manutenção do pensamento racial hierárquico.
Pensamento esse que corrobora com a desigualdade enfrentada pela população
mesmo nos dias atuais, em que o racismo e a periferização desse povo não só ainda
existe, como é tratado como “mimimi”.
O Brasil foi fundamentado, construído e moldado em cima de uma ideologia
segregacionista. O termo racismo estrutural que define: “Racismo estrutural é a
formalização de um conjunto de práticas institucionais, históricas, culturais e
interpessoais dentro de uma sociedade que frequentemente coloca um grupo social
ou étnico em uma posição melhor para ter sucesso e ao mesmo tempo prejudica
outros grupos de modo consistente e constante causando disparidades que se
desenvolvem entre os grupos ao longo de um período de tempo”, é extremamente
presente na sociedade de forma sistêmica e permanente, que vai desde as relações
interpessoais, à formação subjetiva do inconsciente do indivíduo que aprendeu,
através do discurso do outro e culturalmente, que existe uma diferença racial que
impacta tanto em critérios morais e intelectuais, quanto nas habilidades e no limite do
desenvolvimento das capacidades do indivíduo “racialmente inferior”.
Portanto, é de extrema necessidade que os profissionais da psicologia lutem e
busquem formas de contribuir com a quebra do pensamento hierárquico racial que
ocorre na sociedade e que foi construído através de um processo histórico e social de
exploração e negação da identidade de um povo que sofre dessas consequências até
os dias atuais. As discussões de cunho psicológico acerca deste fenômeno só
começaram a ser mobilizadas em meados dos anos 2000 através de ONG 's que
visavam discutir questões político-jurídicas e psicológicas sobre o racismo e igualdade
racial no Brasil. Porém, somente em 2002 que, através da publicação da resolução
nº18/2002, que foram estabelecidas normas de atuação do psicólogo frente ao
preconceito e a discriminação racial. Sendo assim, essa história de muita luta e
resistência apenas passou a ter discussões acerca de suas questões psíquicas e seu
sofrimento no povo negro há pouco menos de 20 anos. Por consequência disso, é
dever do psicólogo auxiliar, combater e não se omitir perante as situações de racismo,
conforme o Art. 3º da resolução nº18/2002: Art. 3º - Os psicólogos, no exercício
profissional, não serão coniventes e nem se omitirão perante o crime do racismo. O
discurso do outro é a nossa ferramenta de trabalho, valorizá-lo e dar crédito ao seu
sofrimento é a característica mais importante para podermos ajudá-lo em seu
processo de cura. Entender o sofrimento daqueles que sofrem pelo racismo é nossa
obrigação. Racismo não é opinião, é crime!
Referências:

Conselho Federal de Psicologia Relações Raciais: Referências Técnicas para atuação


de psicólogas/os. Brasília: CFP, 2017. 147 p. ISBN: 9788589208673 1. Psicólogos 2.
Políticas Públicas 3. Relações Raciais 4. Título.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional dos Psicólogos,


Resolução n.º 10/05, 2005. ________. Psicologia, ética e direitos humanos.

RESOLUÇÃO CFP N.º 018/2002. Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação ao
preconceito e à discriminação racial. Disponível em:
https://site.cfp.org.br/wpcontent/uploads/2002/12/resolucao2002_18.PDF

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