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Tema 9 - A contabilidade nacional

A contabilidade nacional é um conjunto de operações que se executam no sentido de apurar o valor de


certas grandezas económicas e sociais (produto, rendimento, rendimento disponível, despesa, consumo,
investimento, importações, exportações, etc.).
É indispensável conhecê-las para avaliar a situação socioeconómica do país e proceder à (re)definição
das políticas de gestão nacionais que respondam às necessidades da população e ao desenvolvimento e
crescimento económico.

Objetivos da contabilidade nacional


➔ Descrever quantitativamente a atividade económica;
➔ Constituir uma base informativa que permita definir ou redefinir as melhores estratégias de
desenvolvimento para um país;
➔ Medir, através dos seus agregados, o bem-estar da população.
Unidade institucional
Entidade económica caracterizada por ter autonomia de decisão no exercício da sua função principal.
Dispõe de um registo contabilístico completo ou é capaz de o elaborar.
Setor institucional
Agrupamento de unidades institucionais que têm um comportamento económico análogo (idêntico).
Território geográfico
Entende-se por todo o território existente dentro das fronteiras aceites por um país.
Território económico
O território económico entende-se por:
➔ território geográfico;
➔ zonas francas;
➔ espaço aéreo nacional, as águas territoriais e a plataforma continental;
➔ enclaves territoriais;
➔ jazigos mineiros.
Unidade residente
Unidade que possui um centro de interesse económico predominante no território económico de um
país, isto é, quando realiza atividades económicas entre territórios, durante pelo menos 1 ano ou mais.
Unidade não residente
Unidades residentes noutros territórios económicos que realizam uma atividade económica num país por
um período inferior a 1 ano.
Unidade de produção homogénea
Realizam um conjunto de operações específicas e exclusivas, decorrendo a um processo produtivo
comum e produzindo bens com características semelhantes.
Ramos de atividade
Agrupam as unidades que exercem uma atividade económica idêntica ou similar, tanto as que produzem
bens e serviços mercantis, como as que produzem bens e serviços não mercantis.
Produto
Conjunto de unidades de produção de bens semelhantes.

Óticas
Produção Nacional = Bens e Serviços
Rendimento Nacional = Salários + Rendas + Juros + Lucros
Despesa Nacional = Compra de Bens e Serviços
Produção Nacional = Rendimento Nacional = Despesa Nacional
∑R = ∑E
Isto é a identidade básica da contabilidade nacional.
A identidade básica da contabilidade nacional diz-nos que em toda a produção criada nos diversos
processos produtivos, vai ser igual ao valor distribuído pelos fatores produtivos (salários, rendas, juros
e lucros), dando origem ao rendimento. Com esses rendimentos, as Famílias, Empresas e Estado vão
efetuar gastos necessários ao desempenho das respetivas funções, adquirindo bens de consumo e
investimento. À soma total destes gastos dá-se o nome de despesa, daí a igualdade PN=RN=DP.
É assim possível obter o valor do produto de um país, segundo 3 processos ou óticas:
➔ Ótica da produção
◆ O produto é contabilizado por um setor institucional ou por um setor de atividade que
lhe dá origem, pois corresponde à soma de todos os valores acrescentados de todas as
unidades que produzem bens e serviços.
➔ Ótica do rendimento
◆ O produto é obtido através de todos os rendimentos obtidos no processo produtivo,
portanto S+R+J+L.
➔ Ótica da despesa
◆ O produto é obtido através de todas as despesas finais realizadas pelos agentes
económicos.
Nota: Apesar do resultado final obtido pelas 3 óticas ser o mesmo, cada uma transmite informações
diferentes.
Ótica da produção
Imaginemos que no fabrico de conservas de peixe participam apenas 2 empresas. A empresa piscatória A
que fornece peixe à empresa conserveira B por 4000 u.m. A empresa conserveira B fabrica as conservas
de peixe por 10000 u.m.
Problema da múltipla contagem
Consiste na contabilização de um bem/bens ser registado mais do que uma vez no valor do produto, o
que está totalmente errado.
Para ultrapassarmos este erro, utilizamos dois métodos:
➔ Método dos Valores Acrescentados
➔ Método dos Produtos Finais
Método dos Valores Acrescentados
Baseia-se na determinação do valor acrescentado por cada unidade produtiva, calculado através da
diferença entre o valor da produção (vendas) e o consumo intermédio (compras).
VA = VP - CI
VAB = VBP - CI
Valor Acrescentado (VA)
Valor gerado ao longo do processo produtivo e que corresponde à riqueza criada.
Consumo intermédio (CI)
Conjunto de bens e serviços que são consumidos durante o processo produtivo.
Conclusão
O valor do produto corresponde ao somatório do VA de todos os agentes económicos.
Método dos Produtos Finais
Baseia-se na determinação do produto através da venda de bens e serviços de consumo final, ou seja, os
consumos intermédios não são considerados neste método.
Conclusão
O valor do produto obtido através do Método dos Produtos Finais é igual ao valor do produto obtido
através do Método dos Valores Acrescentados.

➔ Produção
◆ Corresponde ao valor das vendas de bens e serviços, produzidos por um determinado
período de tempo.
◆ Uma parte da produção do país é utilizada para produzir outros bens (CI).
➔ Produto
◆ Representa o valor da riqueza criada por todas as unidades institucionais num
determinado período de tempo.
◆ É calculado através da soma dos valores acrescentados.
Produto Nacional (PN ) e Produto Interno (PI)

Produto interno (PI)


Corresponde ao produto criado num determinado território económico pelas unidades residentes.
Produto nacional (PN)
Corresponde ao produto criado pelas unidades institucionais residentes, independentemente do
território económico onde a produção é efetuada.
PN = PI + SRRM
PI = PN - SRRM
SRRM = Rendimentos recebidos do RM - Rendimentos enviados para o RM

Produto Bruto (PB) e Produto Líquido (PL )

Produto bruto (PB)


É o produto que não tem em conta o custo da depreciação ou amortização do equipamento, isto é, o
produto é bruto quando integra as amortizações (CCF).
Produto líquido (PL)
É o produto que tem em conta o custo da depreciação do equipamento, isto é, não integra os valores
das amortizações (CCF).
Consumo de capital fixo (Amortizações/CCF)
Refere-se ao valor que corresponde à diminuição dos ativos fixos detidos, em resultado do desgaste e
da obsolescência normais.
PB = PL + CCF
PL = PB - CCF
CCF = PB - PL

Intervenção do Estado na economia

Impostos
➔ Diretos
➔ Indiretos
◆ Impostos sobre os produtos
◆ Impostos sobre a produção
◆ Impostos sobre a importação
Subsídios
➔ Subsídios sobre os produtos
➔ Subsídios sobre a produção
➔ Subsídios sobre a importação
Pm = Pb + impostos sobre os produtos - subsídios sobre os produtos
ou
Pm = Pb + impostos líquidos sobre os produtos
Ótica da produção:
PIBpm = ∑VAB + impostos sobre os produtos - subsídios sobre os produtos
PNBpm = PIBpm + SRRM
ou
PNBpm = ∑VAB + impostos líquidos de subsídios sobre os produtos + SRRM

Produto a preços correntes e produto a preços constantes

Produto a preços correntes/nominais


➔ O produto é contabilizado com base nos preços verificados no ano em causa.
➔ Existe uma variação na quantidade e no preço.
Produto a preços constantes/reais
➔ O produto é contabilizado de acordo com o nível médio de preços do ano base.
➔ Existe uma variação na quantidade.
Exemplo
Num dado ano x, o valor do produto foi de 5000€. Foi produzida uma certa quantidade, neste caso 100, a
um preço de 50€. No ano seguinte, x+1, o valor do produto foi 5700€, sendo que houve uma redução da
quantidade para 95 e um aumento no preço para 60€.
Ao analisarmos, vemos que o produto em termos correntes/nominais aumentou, mas o mesmo não se
pode ser dito em termos constantes/reais, pois:
Se calcularmos o produto do ano x+1 ao preço do ano base, ano x, o valor será menor, 90 * 50€ = 4750€
Concluindo, quando queremos passar o produto a preços correntes para produto a preços constantes,
utilizamos o IPC.
𝑃𝐼𝐵𝑝. 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
𝑃𝐼𝐵𝑝. 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 = 𝐼𝑃𝐶
× 100

Isto é deflacionar valores.


Taxa de crescimento em termos correntes/nominais/monetários
𝑃𝐼𝐵𝑝.𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 (𝑥+1) − 𝑃𝐼𝐵𝑝.𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠(𝑥)
𝑃𝐼𝐵𝑝.𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠(𝑥)
× 100

Taxa de crescimento em termos constantes/reais/volumes


𝑃𝐼𝐵𝑝.𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 (𝑥+1) − 𝑃𝐼𝐵𝑝.𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠(𝑥)
𝑃𝐼𝐵𝑝.𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠(𝑥)
× 100

Deflator
𝑃𝐼𝐵𝑝.𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
𝐼𝑃𝐶 = 𝑃𝐼𝐵𝑝.𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠
× 100
Ótica do rendimento

Trabalho:
➔ Salários
➔ Vencimentos
➔ Ordenados


São as Remunerações do Trabalho (RT).
Capital:
➔ Rendas
➔ Juros
➔ Lucros


É o Excedente Bruto de Exploração (EBE)/Rendimento misto ou rendimento do capital ou rendimento de
empresa e propriedade.
PIB = RT + EBE e Rendimento Misto + Impostos líquidos sobre a produção e importação
PNB = PIB + SRRM
RDP = RT + REP + T.Int. + T.Ext. - Id - CSS
RDP = C + P
𝑃 𝐶
𝑇𝑥 𝑃 = 𝑅𝐷𝑃
× 100 𝑇𝑥 𝐶 = 𝑅𝐷𝑃
× 100

Ótica da despesa
Exportações = X
Importações = M
Procura Interna (PI) = C + G+ FBCF + VE
ou
PI = CT + FBC
Procura Global (PG) = PI + X
DI = PIB = PG - M
DN = PNB = PIB + SRRM
Exportações líquidas = X - M
PIB = C + G + FBCF + VE + X - M
PNB = C + G + FBCF + VE + X - M + SRRM
PIB + M = C + G + FBCF + VE + X
Oferta Global (OG)l = Procura Global (PG)
OG = PIB + M
PG = C +G + FBCF + VE +X
É a identidade básica da contabilidade nacional.

Limitações e insuficiências
A contabilidade nacional é o conjunto de operações que pretende apurar o valor de certas grandezas
económicas e sociais. Só que existem algumas situações que demonstram não só limitações no processo
de contabilização, mas também insuficiências das potencialidades para medir o bem-estar da população.
Limitações
Às atividades que não são comunicadas às autoridades dá-se o nome de economia não observada, e as
situações são as seguintes:
Autoconsumo
➔ As situações de autoconsumo são diversas, como, por exemplo, a produção para subsistência
de pequenos agricultores e trabalhos para a produção doméstica;
➔ Para além disso, serviços como serviços políticos e religiosos não detêm valor contabilístico
apesar de ter grande valor social.
Setor informal
➔ Existe produção que escapa facilmente à contabilização e que, portanto, constituem a economia
informal;
➔ Assim, os bens e serviços produzidos são legais, mas as empresas não se encontram registadas.
São exemplos desta atividade tomar conta de crianças, explicações e trabalho doméstico.
Economia subterrânea
➔ Por último, ainda se inclui a economia subterrânea, que podem ter interesse económico e serem
legais, mas fogem intencionalmente à contabilidade nacional;
➔ Por exemplo, evitar o pagamento de impostos e não declarar o valor total do produto;
➔ Para além disso, também tem uma variante ilegal, como produção e distribuição de
estupefacientes, qualquer tipo de tráfico e práticas realizadas por pessoas não qualificadas.
Externalidades
Existem outros defeitos, para além da produção de bens, que não são passíveis de seres medidos em
termos monetários e que afetam o bem-estar das populações. A isto chama-se externalidades que podem
ser positivas ou negativas.
Externalidades positivas
➔ Um grande exemplo de externalidade positiva é a educação, que se reflete nas práticas das
sociedades, sendo que por serem mais educados, são mais participativos, respeitadores e
saudáveis;
➔ Estes efeitos refletem-se no bem-estar e na saúde da economia, já que cidadãos mais instruídos
são mais produtivos, minimizam os desperdícios e são mais ativos ambientalmente;
➔ Para além da educação, a construção de um hospital ou estrada e maior investigação científica
são exemplos de externalidades positivas.
Externalidades negativas
➔ Existem atividades que causam efeitos nocivos no bem-estar das populações, como lançamento
de gases poluentes, excessiva extração de recursos, produção bélica, entre outros;
➔ Estas são externalidades negativas, já que trazem repercussões, tanto a curto como a longo
prazo, às populações.
Estes efeitos não são passíveis de contabilização e, portanto, escapam à contabilidade nacional.
Insuficiências
Outro dos problemas é medir a atividade económica, independentemente do seu interesse económico,
social ou político.
Para a contabilidade nacional, as condições de trabalho ou a maneira como os rendimentos são
distribuídos não interessa.
Vemos, assim, que a Contabilidade Nacional é insuficiente para traduzir o bem-estar.

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