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Cae Rodrigues2
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Sergipe – Aracaju – SE - Brasil
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O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – Brasil.
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Professor Adjunto do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Introdução e Métodos
últimas décadas, ideário que ganha força (no contexto dos embates de força que fazem
propostos pelos PCN (BRASIL, 1998a), ideia reforçada pelas novas Diretrizes
ambiental como meta universal”. Nesse sentido, os discursos têm de ser analisados tanto
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Sugere-se a leitura de Lopes (2006) para melhor compreensão sobre as principais influências na
constituição da questão ambiental.
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Há uma série de tensões discursivas no âmbito internacional em torno de diferentes termos atribuídos à
construção/institucionalização do “ambiental” no contexto educativo (educação ambiental, educação
sustentável/para a sustentabilidade, educação para o desenvolvimento sustentável,
alfabetização/letramento ambiental), especialmente considerando a transição de um discurso que
reconhece apenas os aspectos “biofísicos” do ambiente para discursos que englobam também os aspectos
socioeconômicos e culturais. Essas tensões não serão abordadas nesse artigo, considerando a limitação de
caracteres e o foco central do trabalho. Para leitura mais aprofundada sobre o tema sugere-se a leitura de
Stubbs; Schapper, 2011; O'Connell et al., 2005; Moore, 2005; Down, 2006; Kyburz-Graber e col., 2006;
Sherren, 2008; Johnson, 2011; Francis, 2011.
a partir das condições contextuais que estão na base da sua formulação e disseminação
como a partir das referências, estruturas e dinâmicas que fazem funcionar cada campo
pesquisa apresentada nesse artigo foi investigar as sinergias emergentes entre o discurso
finais da pesquisa, decidiu-se por um foco mais específico na composição desse artigo:
universo acadêmico), uma vez que são submetidos à avaliação de atores que são
Os seguintes critérios foram usados para a seleção dos periódicos que fizeram
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Compreende-se por institucionalização o processo pelo qual uma sociedade desenvolve suas próprias
estruturas de funcionamento (FARIAS, 2008).
dados digitalizado de livre acesso com possibilidade de pesquisa por palavra chave; (c)
apresentam uma descrição de “foco e escopo” com abertura para a possível publicação
de artigos com ênfase em educação física, meio ambiente e educação ambiental. Não foi
definido, a priori, um espaço temporal para a seleção dos artigos. Esse espaço foi
pesquisa, foram realizadas buscas nos bancos de dados digitais de cada periódico
são apresentados no quadro a seguir pela ordem em que os artigos foram encontrados
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Osborne et al. (2011b) também apresentam uma análise de artigos sobre meio ambiente e
sustentabilidade publicados em periódicos nacionais de educação física. Apesar de não concordarmos
com alguns critérios de seleção adotados nos procedimentos de coleta de dados, o artigo apresenta
interessantes dados quantitativos sobre a evolução da temática em periódicos nacionais.
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A amostra não inclui artigos com autoria ou co-autoria do autor desse artigo. A escolha pela exclusão
desses artigos da amostra se justifica pela possibilidade de conflito de interesse que se apresentaria diante
de uma análise de textos de própria autoria.
construídos ao longo das etapas anteriores. Desse modo, com base nas unidades de
Para facilitar a organização das unidades cada uma foi caracterizada por um
código indicativo de sua origem dentro de cada texto. Essa codificação foi feita
destacada no texto. Assim, o texto codificado com o número 1 (Texto 1), por exemplo,
deu origem às unidades (1.1), (1.2), etc.; o documento codificado com o número 2
(Texto 2) deu origem as unidades (2.1), (2.2), etc., e assim por diante.
quais historicamente dialoga, como, por exemplo, esporte, lazer e turismo. Desse
resultados da pesquisa que fazem referência aos objetivos desse artigo, buscando expor
do ideário ambiental8.
à emergência e evolução sociopolítica dos jogos, dos esportes e do lazer, quais são as
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A pesquisa completa está publicada na Tese de Doutorado do autor (RODRIGUES, 2013).
décadas de 1950 e 1960. Nesse sentido, a representatividade dos jogos e dos esportes
intersubjetiva entre seres humanos que se dá não só de maneira verbal, mas por todo
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Segundo Manuel Sérgio (1999) trata-se a motricidade de “[...] movimento intencional da transcendência,
ou seja, o movimento de significação mais profunda” (p.17), na qual o essencial “[...] é a experiência
originária, donde emerge também a história das condutas motoras do sujeito, dado que não há experiência
vivida sem a intersubjetividade que a práxis supõe” (p.17).
apresentada nesse artigo. Sobre os jogos tradicionais (jogos com origem em culturas
Como possível meio para a reversão dessa situação, assim como para o potencial
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“Comportamento corpóreo-mundano e existencial, no qual se constitui e reconstitui o mundo
significado” (FIORI, 1986, p.4).
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O termo “com-vivência” é apresentado dessa maneira objetivando a ênfase no caráter humano implícito
na expressão, ou seja, o “viver com”, que significa considerar a complexa teia de relações de seres
humanos sendo-uns-com-os-outros. O caráter dinâmico da expressão também deve ser salientado,
apresentado especialmente pelo uso do hífen (usual principalmente na fenomenologia), pois homens e
mulheres não são no mundo como objetos estáticos, estão sendo ao mundo num movimento constante e
transformador (STEVAUX; RODRIGUES, 2012).
[...] jogos com uma estrutura alternativa onde os participantes jogam com o
outro, e não contra o outro. Joga-se para superar os desafios do próprio jogo e
o não o outro, joga-se por gostar do jogo. Geralmente são jogos já
conhecidos, com regras adaptadas, onde se procura desenvolver valores de
solidariedade e cooperação, onde os praticantes tendem a se sentir
pessoalmente valorizados e apoiados por seus colegas e passam a preocupar-
se com a aprendizagem de seus pares, sentimento que acaba contagiando todo
o grupo. Os Jogos Cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas,
jogos que eliminam o medo e o sentimento de fracasso “e que reforçam a
confiança em si mesmo”. São jogos onde o esforço cooperativo é necessário
para atingir um objetivo comum e não fins mutuamente exclusivos
(BROTTO, 1997, p.66).
uma vez que seus participantes passariam a vivenciar uma situação que não faz parte de
suas vidas cotidianas, mesmo que joguem todos os dias. No entanto, compreendendo
que não seria possível desmembrar o momento do jogo da vida do sujeito que o pratica,
uma vez que a vida não para no momento do jogo (enquanto se joga se vive), o que
muda é a atitude daquele que joga, pois ele se dispõe a uma prática que contribui para
RODRIGUES, 2009).
Dessa forma, apesar do jogo ser visto como um momento isolado, tendo suas
para o jogo seus valores e preconceitos. Nesse sentido, durante a execução do jogo não
indivíduo que joga podem ser questionados na preparação para o jogo, no momento do
jogo e nos momentos de com-vivência após o jogo e isso seria um elemento essencial na
indivíduo que joga pode transformar o jogo em mais uma ferramenta de legitimação de
jogo e o esporte como meios potencialmente críticos para abordagens pedagógicas, não
são raras, por outro lado, críticas relacionadas ao caráter de desenvolvimento “físico” do
indivíduo que se encontra nas raízes da educação física, assim como à evolução do
“alienante” dos jogos e dos esportes. Soares (2001, p.50), por exemplo, afirma que:
propostas pedagógicas por meio dos esportes e dos jogos também pode ser encontrada
pelo fortalecimento de uma sociedade regida pela produção industrial. Em uma época
frente à nova fase de produção e do consumo, situação que sem dúvida favoreceu a
grande influência de uma indústria cultural que gerava necessidades padronizadas para
artigo, a seção seguinte será dedicada à análise mais específica das propostas de
artigo.
Segundo Osborne e Batista (2010, p.34 – Unidade 6.1), “[...] quanto à discussão
também o esporte, que deve ser mais compreendido”. Para uma “melhor compreensão”
tradicionais os autores destacam o “jogar com o outro” inerente aos jogos cooperativos,
assim como a potencial visão questionadora de alguns padrões modernos que podem ser
gerações e culturas e recuperando o espírito lúdico dos jogos perdido em parte com o
advento dos esportes modernos, seria igualmente importante refletir sobre a questão da
padrões da sociedade moderna, entre eles alguns das principais tensões na relação ser
humano-natureza.
(2007, p.168 - Unidade 10.1): “os esportes da natureza, por exemplo, são excelentes
afirmam que:
natureza.
natureza) como alguns dos principais pilares das teorias (ambientais) críticas e pós-
trás” desses discursos. Entre esses raros questionamentos destaca-se a Unidade 8.2, na
ambiental compreendem uma ação que “[...] não apenas transmita conhecimentos
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Para leitura mais aprofundada sobre os desenvolvimentos críticos e pós-críticos dos discursos
ambientais sugere-se a leitura de Payne e Rodrigues, 2012.
higienismo) estão atreladas à gênese da educação física no Brasil. Desse modo, fazem
esse discurso), da saúde “física e mental” (em geral associado ao slogan “mente sã,
hábitos de higiene corporal (uma vez que isso também estaria associado ao “corpo”).
ainda há uma forte associação com a área da saúde e isso pode ser observado, inclusive,
da educação física brasileira pode ser em grande parte responsabilizada pela visão
com hábitos de higiene pessoal destaca-se a influência do advogado baiano Rui Barbosa
física enraizar em nossa juventude hábitos higiênicos. No entanto, mesmo tendo raízes
(que em certa medida permanecem até os dias atuais; alguns diriam até
como os discursos da saúde também adotam elementos dos discursos críticos, como, por
Considerações Finais
que esses valores “alternativos” são apresentados, uma vez que são raras as discussões
mais legitimados.
enfraquecer os discursos que emergem nas sinergias entre o campo ambiental e o campo
da educação física.
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O termo “greenwashing” (tradução literal seria algo como “lavagem verde”) é usado na língua inglesa
para se referir a uma estratégia de marketing “verde” maliciosamente/enganosamente usada para
promover a percepção de que os objetivos e políticas de uma organização são ambientalmente
corretas/amigáveis.
conduzida, sendo que nos dois pólos opostos dentre múltiplas possibilidades se
(possivelmente) levantar questionamentos aos postulados dessa indústria, por outro lado
antigos das Américas, passando pelos “jogos de guerra” e olímpicos desde a Grécia
atores da área da educação física, resultando em textos que abrangem uma grande
acontece na direção oposta, sendo que são muito raros os atores da educação física que
educação física foi de grande importância num primeiro momento, legitimando (mesmo
educação física (incluindo jogos, esportes e lazer, como proposto nesse artigo) e vice-
versa. Nesse processo há uma real possibilidade de que sinergias entre o campo
ambiental e o campo da educação física contribuam para discussões que busquem mais
REFERÊNCIAS
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Cae Rodrigues
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