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11 edição: 2004

Esta edição é propriedade dos Autores.

Sumário
Editoração e composição:
Suliani Editografia Ltda.
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90610-280 - Porto Alegre, RS . Martin N. Dreher 9
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CONFERÊNCIAS

D771i Dreher, Martin N., org. Imprensa e Imigração Alemã em Santa Catarina
Imigração & imprensa/ org. Martin N.Dreher, Arthur Blásio Rambo e Marcos João Klug 13
Justo Tramontini.- Porto Alegre: EST / São Leopoldo: Instituto Histórico de São
Leopoldo, 2004. Imprensa e Imigração Italiana em Santa Catarina
584p. Roselys Izabel Correa dos Santos 26
ISBN: 857517.051-1
Imigração e Teorias Antropológicas no Brasil (1910-1920)
Conteúdo: Conferências e comunicações apresentadas no XV Simpósio de His- Tania Regina de Luca 35
tória da Imigração e Colonização.

1. Imigração - Imprensa - História - Rio Grande do Sul 2. Colonização - Im- o Almanaque (Kalender) na Imigração Alemã na Argentina, no Brasil e no Chile
prensa - História - Rio Grande do Sul 3. Imprensa - Imigração - História - Rio lmgart Griuzmann 48
Grande do Sul r.Rarnbo, Arthur Blásio, org. n.
Tramontini, Marcos Justo, org. Ill,
Simpósio de História da Imigração e Colonização, XV. IV. Título. A Participação do Imigrante na Imprensa Brasileira
Martin N. Dreher . 91
CDU: 325.14:070(816.5)
325.14:070(091 )
Imprensa e Imigração Alemã
Catalogação..Aglaé Castilho Oliva CRBlO/814
René E. Gertz 100

Instituto Histérico de São Leopoldo IMPRENSA E IMIGRAÇÃO ALEMÃ


Av. Dom João Becker, 491
CEP 93.010-010 - São Leopoldo - RS Discussões Acerca da Imprensa nos Congressos Católicos, Organizados
Fone: (51) 592.4557 pelos Jesuítas Alemães
A!ldréCarlos Werle 123
. I
A Educação dos Imigrantes Alemães em Curitiba sob a Ótica da Imprensa
EDIÇÕE,SEST . Ariclê Vechia 139
Rua Veríssirno Rosa, 311
90610-280 - Porto Alegre, RS o Ferrabraz:Um Veículo de Representações Anti-Mucker (1950-1965)
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A Imprensa em Língua Alemã no Acervo Benno Mentz
Eduardo Kersting 157
mente, de conversas sobre outros assuntos - ,:Sóse mantenha durante o tempo que se
gasta para tomar um ou dois copos de Culmbacher.'
Está prevista uma apresentação sobre um importante jornal do Paraná, o
Imprensa e imigração alemã Kompass; faltaria, naturalmente, algo sobre a imprensa espírito-santense, mas,
para tanto, há dificuldades de acesso aos jornais. Pode-se partir do pressuposto de
que a imprensa de outros estados, sobretudo a de algumas capitais do Nordeste,
René E. Gertz * tenha alguma semelhança com a do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Não que a imprensa de outros estados seja totalmente destituída de importân-
----------0---------- cia para um estudo de sua relação com os imigrantes e descendentes do Rio
Grande do Sul - notícias por ela veiculadas circulavam no Estado -, mas não há
dúvida de que somente com a publicação da Brasil Post, em São Paulo, após a
Segunda Guerra, um jornal externo ao Estado ganhou importância mais significa-
QuandO se trata do tema imP:e~sa e i,mi~ração alem~ n~ período anterior a tiva também para os teutos gaúchos, pois nesse momento a tradicional imprensa
1941, deve-se atentar para, no rrummo, tres tIpOSde publicações: almanaques, re- sul-rio-grandense de língua alemã havia desaparecido em função das medidas re-
vistas e jornais. I Como os almanaques constituem tema de outra contribuição pressivas durante o Estado Novo.
neste evento, serão considerados, aqui, unicamente revistas e jornais - e ainda as- Cabe também uma palavra sobre a categoria revistas - mesmo que não se ve-
sim sobretudo os últimos. Da mesma forma, o espaço geográfico a ser levado em nha a entrar em detalhes a seu respeito. Muitas vezes não se trata de revistas no
consideração será o do Rio Grande do Sul, pois a imprensa de Santa Catarina sentido contemporâneo da palavra, mas de encartes em jornais ou mesmo de pu-
também é tema de outra intervenção; e a imprensa de São Paulo e do Rio de Ja- blicações em formato físico de jornal. O que leva uma publicação a ser classifi-
neiro certamente merece tratamento à parte, tendo em vista as peculiaridades da cada, neste contexto, como revista é sua periodicidade e seu conteúdo. Se nos
imigração e da colônia alemã, ao menos nas capitais desses dois estados. Karl almanaques a edição é anual e nos jornais diária, semanal ou até quinzenal;' a pe-
von Koseritz já chamava a atenção, em 1883, para a significativa diferença entre riodicidade das revistas abrange um espaço temporal maior, mensal ou em espa-
os alemães do sul e os do Rio de Janeiro. Segundo ele, ços temporais que são múltiplos de mês. Quanto ao conteúdo, o jornal é um meio
os alemães daqui [do Rio de Janeiro], na sua maior parte, consideram o B~asilcomo que trata de notícias do dia-a-dia, com comentários rápidos, com poucos artigos
uma estação de passagem; os seus interesses básicos continuam a localizar-se na de informação ou de doutrinação mais amplos. A revista apresenta, em princípio,
Alemanha; eles se registram [nas instâncias diplomáticas alemãs] e, no que tange à textos mais elaborados, comentários mais aprofundados sobre os acontecimentos
sua segurança, confiam no poderio alemão. Nós aí [no Rio Gra~de do Sul] .somo,s numa perspectiva de tempo mais longa. Não há dúvida, é claro, de que em alguns
um povo de colonos, que permanece na terra, adq~ire bens de raiz e con.StltUlfamí-
casos a classificação não é fácil. Para nosso contexto, uma classificação muito ri-
lia' os nossos interesses básicos estão aqui no Brasil; fazemo-nos naturalizar e sabe-
mos que precisamos participar e ganhar influência na vida política do país, ~ fim de gorosa, no entanto, não é decisiva. Um exemplo típico de revista, no melhor sen-
que possamos nos fazer respeitar. A diferença é tão colossal que p~rece ~UltOnatu- tido da palavra, são os Deutsche Evangelische Bliitter [ür Brasilien, editados pelo
ral que entre as duas partes não existe nenhum ponto.de contato mais e~trelto e que o pastor Hermann Dohms, a partir de 1919.4 Mesmo que não se consiga definir, de
assunto da conversa entre os representantes dos dOISgrupos - abstraindo, natural-
2 KOSERITZ, C. von. Bilder aus Brasilien. LeipziglBerlim: Verlag von Wilhelm Friedrich, 1885, p.
138. Na versão portuguesa (Imagens do Brasil. São Paulo: Livraria Martins/EDUSP, 1972), a tradu-
ção - um pouco diferente - está nas p. 94-95.
J Um jornal que se enquadrava claramente nessa categoria foi Der freie Arbeiter, editado durante toda
a década de 1920, em Porto Alegre, por trabalhadores. Sobre esse jornal, cf. GERTZ, René E. "Der
freie Arbeiter: urnjornal anarquista da década de 1920". In: Anais da 42" Reunião Anual da SBPC (v.
• Professor nos Departamentos de História da PUCRS e da UFRGS. . . 2). Porto Alegre, 1990, p. 245-246; GERTZ, René E. "Um jornal anarquista em Porto Alegre: Der
Hoje em dia o conceito de imprensa está ampliado, incluindo rádio e televisão. Ness~ sentIdo,. se em freie Arbeiter". Veritas, Porto Alegre: PUCRS, v. 35, n. 140, 1990, p. 606-617.
Blumenau, Santa Catarina, já havia, nos anos 1930, uma estação de rádio, que constituiu um Impor- 4 Sobre Dohms, cf. DREHER, Martin N. Igreja e germanidade, São Leopoldo/Porto Alegre/Caxias do
tante meio de comunicação alternativo, no Rio Grande do Sul esse instrumento certamente ainda não Sul: SinodallESTIUCS, 1984, p. 109-125. Uma coleção de textos de Dohms, na maioria publicados
constituiu um fator de igual importância para a colônia alemã, apesar de que esse tema certa- nessa revista, encontra-se em DREHER, Martin N. (org.). Hermann Gottlieb Dohms: textos escolhi-
dos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
mente ainda carece de um estudo mais apurado.

100 Imigração & Imprensa O Conferências René E. Gertz O Imprensa e imigração alemã 101
forma inequívoca, sua importância e influência na época, não há dúvida de que sentido, Monatsblãtter des Germanischen Bundes, durante a Primeira Guerra, e
ela constitui uma fonte muito importante para o estudo da população de origem Fürs Dritte Reich, nos anos 1930, ambos publicados em Porto Alegre, o primeiro
alemã no período (anos 1920-1930). com a função de defender a causa alemã, o segundo para difundir a ideologia e
Mais importante é outra questão. Há uma enorme diferença entre os jornais e defender o governo nazista na Alemanha.' De outro lado, Aktion, Alann e Das
as revistas quanto ao público a que se destinavam. Talvez do ponto de vista nu- deutsche Buch foram criados, sucessivamente, por um mesmo grupo, também em
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mérico as publicações periódicas das igrejas sejam das mais duradouras e, even- Porto Alegre, para combater o nazismo, na Alemanha e no Brasil.
tualmente, com o maior número de exemplares por edição. Neste ano de 2002, o Mas não há dúvida de que os jornais que se auto-intitulavam políticos eram
Jornal Evangélico Luterano, por exemplo, deixou de publicar um encarte em os mais importantes no sentido de fomentar o estabelecimento da cidadania e de
alemão, língua na qual todo ele foi redigido durante décadas. Considerando-se fazer dos teutos cidadãos plenos do Brasil. Parte da opinião pública brasileira
seu surgimento em 1888, e abstraindo das interrupções durante as guerras mundi- acompanhava o conteúdo aí veiculado; muitas informações sobre a vida política
ais, temos aí um órgão centenário, que teve muita importância para os luteranos, no Brasil podem ser encontradas nesses jornais - eles, às vezes, até fornecem
mas possivelmente não tenha tido nenhuma importância para os católicos, mesmo mais informações do que os jornais de língua portuguesa, porque, em épocas de
os de descendência alemã, nem para os governos em nível municipal, estadual ou crise, não eram censurados como estes. Eles refletem tentativas de unificação da
federal.' Quem consultar a lista de jornais e revistas anexa a este texto verá um população de origem alemã ou dissensões e enfrentamentos internos à comunida-
grande número deles dedicado a um público muito específico. Alguns exemplos: de teu ta; dão o panorama mais amplo sobre a vida local, regional e estadual; re-
medicina alternativa (Die Naturheilkunde), esoterismo (Selbsterziehung), auto- fletem mais claramente posicionamentos frente ao panorama internacional.
ajuda (Alkoholgegner), humor (Der Brummbãr}, gênero (Für die Frau), escotis- O fato de serem políticos não exclui a possibilidade de defenderem causas de
mo (Am Lagerfeuer), esportes (Der Turnerbote; Deutsche Turnblãuer), economia ordem específica, não diretamente política. Os exemplos mais clássicos são os
(Der Landwirt; Die Wirtschaft). jornais Deutsches Volksblatt e Deutsche Posto Ambos se entendiam, inequivoca-
Poder-se-ia sugerir que importantes mesmo eram os jornais políticos. Mas, ·1 mente, como jornais políticos, e como tais agiam. Mas eram simultaneamente
mesmo que essa seja inclusive uma designação adotada pelos próprios, a classifi- destacados representantes de interesses religiosos, e, nessa qualidade, veiculavam
cação do que seja um jornal político em língua alemã não é simples. Tomemos interessantes matérias típicas de um jornal de caráter religioso. No caso do pri-
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dois exemplos. Comparável' ao Jornal Evangélico Luterano (antigo Sonntags- meiro, tratava-se de interesses católicos, no do segundo, de interesses luteranos.
blatt) é o Sankt Paulus Blatt, em termos de longevidade e também - ao menos São também, sobretudo, os jornais políticos os que, normalmente, são referi-
em parte - em termos de conteúdo, em circulação desde 1912. Foi criado como dos quando obras sobre a história da imigração alemã se reportam à imprensa.
órgão oficial da União Popular, organização sócio-econômico-religiosa teuto- Assim, encontramos no famoso Livro do Centenário, de 1924, a seguinte obser-
católica, e como tal apresentava em seu conteúdo temas que, sem sombra de dú- vação: "Colocamos a imprensa na vanguarda do desenvolvimento intelectual" da
vida, eram nitidamente políticos, pois, ao defender os interesses econômicos, so- colônia alemã no Rio Grande do Sul. Mesmo que o autor do texto inclua na sua
ciais e religiosos da população teuto-católica gaúcha, defendia, por definição, referência à imprensa livros e almanaques, não deixa de destacar a importância
questões que, no mínimo, envolviam variáveis políticas. Outro exemplo é o do fundamental dos jornais. Mais adiante, lê-se que "juntamente com a escola alemã,
Mitteilungsblatt der, Liga de Uniões Coloniais, que era o órgão oficial dessa Li- a imprensa constitui a base principal da manutenção da germanidade no Rio
ga, associação sócio-econômica (não confessional) que, porém, tivera como men-
tores intelectuais e líderes, pastores e leigos luteranos, mesmo que teu to-católicos
e, em grau menor, cidadãos de outras origens étnicas fossem sócios também."
Outro caso são os jornais que foram criados, especialmente em tempos de
7 Mesmo um jornal editado em língua portuguesa, fundado em Porto Alegre, em 1914, enquadra-se
crise internacional, para defender a política nacional alemã. Destacam-se, nesse nessa classificação. Era A guerra, que se destinava a divulgar notícias alternativas às das gran-
des agências noticiosas francesas e inglesas sobre o conflito mundial.
5 Sobre a história do jornal, ver WEBER, Bertholdo. ·"90 anos de imprensa evangélica". In: Imigração 8 A respeito do mentor intelectual dessas publicações, cf. GERTZ, René E. Memórias de um imigrante
e colonização alemã [Anais do 3° Simpósio de imigração e colonização alemã no Rio Grande do Sul). anarquista (Friedrich Kniestedi). Porto Alegre: EST, 1989.
Porto Alegre: EST, 1980, p. 294-296. Sobre Deutsches Volksblau, cf. DILLENBURG, Sérgio Roberto. "Deutsches Volksblatt - suga de um
6 Sobre essas organizações, cf. SCHALLENBERGER, Erneldo. O associativismo cristão 170 sul do jornal". Instituto Histórico de São Leopoldo (ed). Anais (vol.lI - 1979-1981). São Leopoldo, s. d., p.
Brasil: a contribuição da Sociedade União Popular e da Liga das Uniões Coloniais para a organiza- 135-151; sobre Deutsche Post, v: GERTZ, René E. O aviador e o carroceiro: política, etnia e reli-
ção e o desenvolvimento social sul-brasileiro. Porto Alegre: PUCRS, 2001 (tese de doutorado). gião no Rio Grande do Sul nos QIIOS 1920. Porto Alegre: EDlPUCRS, 2002, p. 28-50.
.I
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I
Grande do SUI".1OMas a lista que o autor apresenta como sendo de jornais inclui conservadores, socialistas e nazistas, teu to-brasileiros e imigrantes, mas, sobretu-
apenas jornais políticos. do, católicos e protestantes divulgavam suas idéias através da imprensa periódica,
Cronologicamente, o próximo trabalho de destaque sobre a imigração alemã que inúmeras vezes se tornou cenário de conflitos violentos". Mesmo admitindo
e seus efeitos no Estado foi o de Aurélio Porto, publicado em 1934, por ocasião que "só um trabalho mono gráfico baseado em análises minuciosas poderia pro-
dos festejos dos 110 anos d' O trabalho alemão no Rio Grande do Sul.ll Porto porcionar-nos informações seguras sobre a função que a imprensa teuto-brasileira
não faz mais do que, em uma página e meia, referir os primeiros jornais de língua realmente exerceu no que diz respeito à conservação ou substituição da cultura
alemã surgidos na província e citar alguns dos mais destacados jornalistas de seu originária", Willems emite a opinião conclusiva de que "na maioria das comuni-
tempo. Não há uma avaliação da imprensa nem de sua importância para a popu- dades locais constituídas por colonos teuto-brasileiros o papel da imprensa perió-
lação teuta. dica era bastante restrito". \3
Mesmo não sendo específicos sobre o Rio Grande do Sul, vieram, depois, os Em termos de espaço, também a extensa (806 páginas) e importante obra de
importantes livros de Emílio Willems, numa primeira edição, em 1940, sob o Jean Roche, dos anos 1950, não se detém muito demoradamente no tema impren-
título Assimilação e populações marginais no Brasil: estudo sociológico dos imi- sa - são menos de 6 páginas." Apesar de que o autor a admite como fator de con-
grantes germãnicos e seus descendentes; mais tarde, em 1946, numa edição am- servação da germanidade e como conseqüente fator de construção do grupo teu-
pliada, sob o título A aculturação dos alemães no Brasil: estudo antropológico to-gaúcho, destaca que seu efeito se verificou mais marcante na população urba-
dos imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil.12 Partindo do pressuposto na. Admite que os primeiros deputados de sobrenome alemão chegaram à As-
de que a segunda edição é a mais completa e definitiva, observa-se que nela o au- sembléia Provincial estribados, sobretudo, em sua atividade jornalística. Mas vê a
tor atribui um valor restrito aos jornais. Numa perspectiva em que assimilação imprensa de língua alemã entrar num processo de decadência após a morte de
e/ou aculturação ocupam espaço central, há longos e densos capítulos sobre lín- Koseritz, em 1890.15
gua, escola, família, sexo, religião, cultura recreativa e outros temas. A imprensa Entre as obras clássicas sobre a imigração alemã no Brasil como um todo ca-
é remetida a um capítulo em companhia da literatura. Num livro extenso, de 609 be, sem dúvida, lugar de destaque a Carlos Henrique Oberacker Júnior com A
páginas, esses temas ocupam apenas 13 páginas, e a imprensa, especificamente, contribuição teuta para a formação da nação brasileira.16 Mesmo que o livro
apenas sete (pouco mais de 1%). O relativamente pequeno espaço dedicado ao contenha dois capítulos sobre "Alemães e descendentes como promotores do pa-
tema também tem correspondência no conteúdo, quando o autor, de fato, não trimônio intelectual e da vida cultural nacional brasileira" e "Contribuições ale-
atribui muita importância à imprensa no processo de formação da comunidade mãs no campo cultural", não há uma única linha que se dedique, especificamente,
teu to-brasileira. "A extrema instabilidade da grande maioria dos jornais teuto- à imprensa como legado ou como fator de desenvolvimento nos campos intelec-
brasileiros, a sua tiragem insignificante e o baixo grau de periodicidade parecem tual, político ou religioso. Claro, há referências esparsas, quando, por exemplo,
constituir uma prova de que somente em casos excepcionais a imprensa chegou a fala de Koseritz, nominando, evidentemente, sua intensa atividade jornalística.
desempenhar papel vital na cultura teuto-brasileira". Mais adiante lembra que Mas não há nenhuma avaliação explícita da importância da imprensa.
"não havia nenhuma relação entre leitores e redatores, porque os últimos vinham, O Livro do Sesquicentenário, em 1974, não pode ser arrolado como fonte pa-
geralmente, da Alemanha. Daí a atitude dessa imprensa diante dos acontecimen- ra uma avaliação do valor atribuído à imprensa, pois o espaço dedicado a todos
tos dificilmente traduzia a atitude dos leitores". Também aponta para a heteroge- os assuntos é muito exíguo, e assim o texto de Walter Koch, bilíngüe, em duas
neidade entre os diferentes órgãos de imprensa: "As diferenças culturais não po- páginas, se refere muito genericamente ao tema numa perspectiva histórica, arro-
diam deixar de refletir-se também na imprensa. Clericais e anticlericais, liberais,

10 VERBAND Deutscher Vereine (ed.). Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul. Porto Alegre:
Typographia do Centro, 1924, p. 280 e 291. respectivamente. (Existe uma edição em língua portu- 13 WILLEMS. A aculturação ...•p. 550. 551. 554 e 555. respectivamente. O grifo é meu.
guesa dessa obra. em tradução de Arthur Blasio Rambo: Cem anos de germc.iidade no Rio Grande 14 ROCHE, Jean. O Rio Grande do Sul e a colonização alemã. Porto Alegre: Globo. 1969. p. 658-664.
do Sul: 1824-1924. São Leopoldo: UNISINOS. 1999). 15 Cf. uma opinião divergente a esse respeito em RÜDIGER. Francisco. "Imprensa e esfera pública". In:
11 PORTO. Aurélio. O trabalho alemão no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Est. Graf. S. Terezinha, FISCHER. Luís Augusto; GERTZ. René E. (orgs.). Nós. os teuto-gaúchos. Porto Alegre: Editora da
1934. p. 228-229. Universidade. 1996. p. 131-137.
12
WILLEMS. Emílio. Assimilação e populações marginais 110 Brasil: estudo sociológico dos imigran- 16 Foi utilizada a segunda edição em língua alemã. OBERACKER. Karl H. Jr. Der deutsche Beitrag
tes germãnicos e seus descendentes. São Paulo: Nacional. 1940; WILLEMS. Emílio. A aculturação zum Aujbau der brasilianischen Nation. São Leopoldo: Federação dos Centros Culturais 25 de Julho.
dos alemães no Brasil. São Paulo: Nacional. 1946. 1978.

104 Imigração & Imprensa O Conferências René E. Gertz O Imprensa e imigração alemã 105
lando algumas poucas informações mais detalhadas sobre essa questão após a missão de despertar nos componentes das colônias o sentimento de que eram brasi-
Segunda Guerra e no momento da publicação do texto. 17 leiros descendentes de alemães [...).19
Mas, no contexto dos festejos do sesquicentenário da imigração alemã, apa- Como o autor faz uma análise normativa, a primeira citação coloca a impren-
receu também um livro de Carlos Fouquet sobre O imigrante alemão - mais uma sa numa luz depreciativa. Poderíamos, porém, dizer que, se seus efeitos efetiva-
vez, não específico do Rio Grande do Sul -, que dedica 11 páginas, de um total mente eram os que cita, eles antes demonstram que a influência e a eficácia dessa
de apenas 259, ao tema imprensa, e se detém com algum vagar naquilo que o au- imprensa eram muito grandes; os fatos apontados mostram que ela estava pro-
tor considera influências maléficas e benéficas sobre a população teuta." Vale a fundamente enraizada no cotidiano, mesmo que conflitivo, das comunidades.
pena fazer duas citações um tanto longas para caracterizar a opinião que esse au- Até hoje a obra básica, especifica, sobre a história da imprensa de língua
tor transmite aos seus leitores. A primeira destaca aspectos desagradáveis e dele- alemã no Brasil - mais uma vez: não só no Rio Grande do Sul - continua sendo
térios: uma tese de doutorado de Hans Gehse, publicada em 1931, na Alemanha, sob o
Vezes houve em que os jornalistas não se conseguiram manteralheios ao caso pes- título A imprensa alemã no Brasil, de 1852 até a atualidade?O O autor considera
soal ou à mesquinhez. Desavenças locais e mexericos passaram a figurar em suas co- que três instituições foram fundamentais para a construção de uma sociedade de
lunas. Problemas relativos à política municipal eram alvo de polêmicas, travadas no alemães e descendentes no Brasil: igreja, escola e imprensa. Na sua opinião, a
rude linguajar da roça. Divergências de ordem filosófica, religiosa ou mesmo refe- importância desta está no fato de que ela
rentes à concorrência comercial, eram tratadas em nível baixo, sendo que muita ma-
téria paga das seções "Escreve o leitor" e "A pedido" era vexatória para colônias in- defende os interesses dos imigrantes alemães frente ao governo e frente ao contexto
teiras, inclusive para as urbanas. Os piores anúncios não eram aqueles em que o ma- luso-brasileiro; dentro das colônias mantém vivo o sentimento de pertencimento ao
rido prevenia seus amigos para que não emprestassem dinheiro à mulher fugitiva, ou grupo étnico alemão e estabelece a ligação com a antiga pátria. Além disso, sua im-
os em que um vizinho prevenia a outro para que não invadisse suas terras, pois que portância se estende justamente aos alemães das colônias novas, onde, ao lado de al-
nelas havia instalado arapucas e colocado estrepes, não se responsabilizando pelas gum eventual livro popular trazido por um vendedor ambulante, a Bíblia e o jornal
conseqüências [...[. constituem a única leitura. Para o colono solitário, que haure do jornalzinho que lhe
vem, às vezes, lima vez ao mês pelo correio ou que toma emprestado ao vizinho, to-
A seguir o autor, porém, se dedica àquilo que considera os aspectos positivos dos os seus conhecimentos, para ele esse jornal simplesmente significa aquilo que o
e edificantes dessa imprensa, aspectos que teriam conferido a ela uma importân- livro didático significa para a criança. Deve-se levar isso em consideração se se quer
cia cujos frutos sobreviveriam até nossos dias. A citação a esse respeito é a se- apreender em sua plenitude a importância dos jornais alemães no Brasil e a respon-
guinte: sabilidade que lhes cabe."
Orientavam o leitor de maneira hábil e apropriada a respeito de acontecimentos da O livro de Gehse se divide em quatro partes, assim distribuídas: "Panorama
época, suscitando amor e compreensão em relação à nova pátria, à sua gente, ensi- geral e evolução", "Redatores e editores na imprensa teuto-brasileira", "Evolução
nando-os a enfrentar problemas que lhes apresentava a natureza estranha e o clima a econômica e técnica", "A imprensa teu to-brasileira na vida política, de 1852 até à
que ainda não se haviam habituado, incitando-os a cumprir suas obrigações e escla- atualidade". De 165 páginas de texto propriamente dito, 55 são ocupadas por esse
recendo-os a respeito de seus direitos. Transmitiam uma série de notícias seleciona- último capítulo, dando conta da importância que o autor atribui à imprensa como
das de todo o mundo [...). Assuntos de agricultura, indústria, comércio, ciências, ar- fator político. Conclui que durante os anos 1850 essa imprensa se restringiu a
te, religião ou literatura também eram tratados. Ao lado de contos e romances ale- aceitar de forma acrítica a política imigrantista do governo brasileiro, constituin-
mães, encontrava-se boa literatura..brasileira, em traduções por vezes primorosas.
do a imprensa, às vezes - como no caso do pioneiro Colonist, no Rio Grande do
Mais tarde, em coluna própria, passaram os periódicos a se ocupar do imigrante e a
dar a palavra a seus filhos e netos. Pelo visto, não havia falta de matéria, mas falta de
espaço. Nunca se perderam de vista as colônias, sendo que essa imprensa logrou 19 Ibid., p. 198 e 199, respecti varnente.
20 GEHSE, Hans. Die deutsche Presse in Brasilien VOI! 1852 -bis zur Gegenwart. Asehendorfsche Ver-
despertar-lhes o sentido de autoconsciência, por vezes até com certo exagero, em re-
lagsbuchhandlung, 1931. Lrn bom instrumento de trabalho sobre a imprensa de língua alemã - não só
lação a colônias vizinhas. Se bem que em escala um tanto modesta, teve êxito sua para o Brasil, mas para toda a América - é o livro de ARNDT, Karl J. R. & OLSON. May E. Die
deutsclisprachige Presse der Amerikas, 1732-1968: Geschiclue 1I1ld Bibliographie. Pullach bei
17 Sesquicentenário da imigração alemã - álbum oficial. Porto Alegre: Editora EDEL, 1974, p. 198- München: Verlag Dokurnentation, 1973. Não se trata: no entanto, de um texto analítico. Na parte re-
199. dacional, ao menos no que tange ao Brasil, se restringe a transcrever trechos de outros autores, em
18 FOUQUET, Carlos. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil, 1808-1824-1974. São Pau- especial de Gehse. Seu valor está no arrolamento sistemático dos dados sobre os jornais.
lo/São Leopoldo: Instituto Hans Staden/Federação dos Centros Culturais 25 de Julho, 1974. 21 Gehse, p. 13-14. O grifo é meu.

106 Imigração & Imprensa O Conferências René E. Gertz O Imprensa e imigração alemã 107
Sul -, antes um instrumento para cooptação dos imigrantes para fins escusas do Apesar de não ser exatamente um trabalho sobre imprensa, cabe referir, po-
que uma instância de representação e defesa de seus interesses. Do final dos anos rém, ainda, um estudo acadêmico mais recente, do final da década de 1970, que
1850 até 1864 o autor detecta inícios de uma oposição a essa realidade. Final- tem a ver com o assunto. Trata-se da dissertação de mestrado de Egon Frederico
mente, entre 1864 e 1890 se situaria o auge da era Koseritz; com a defesa da Steyer, intitulada Aspirações da população de origem alemã, no Rio Grande do
igualdade política, do ingresso na vida política brasileira de alemães e descenden- Sul, segundo a imprensa teuto-brasileira (l878-1891)?4 O trabalho aborda o pe-
tes. Os tempos conturbados do início da República teriam trazido consigo uma ríodo final daquilo que Gehse chamou de era Koseritz; período em que a popula-
grande dispersão, justamente por causa do profundo envolvimento político dos ção teuto-gaúcha estaria ocupando de forma planejada seu espaço na vida política
teuto-brasileiros, principalmente no sul, e da diversidade de posições assumidas do Estado. Mesmo que o estudo não seja sobre a imprensa e utilize apenas dois
pelos diferentes jornais. Terminada essa fase, a imprensa teuto-brasileira se teria jornais de Porto Alegre como fonte, apresenta um quadro das questões, demandas
adaptado à tendência geral da política brasileira, com sua descentralização extre- e interesses políticos que são referidos de forma intensa e repetida nas páginas da
ma e concentração da vida política no nível estadual; além disso, se teria visto às imprensa, e que podem ser pressupostos, portanto, como constituindo as preo-
voltas com o problema da crescente difusão da ideologia do perigo alemão. Esse cupações básicas, ao menos de uma parte dessa população. Reforma agrária, polí-
fato lhe causou os maiores transtornos durante a Primeira Guerra. Terminado o tica de transportes, política educacional, naturalização, Gaspar Silveira Martins,
conflito mundial, tiveram de ser gradativamente reconstruídos os ideais de Kose- liberdade de imprensa, liberdade religiosa, segurança e acesso a uma Justiça im-
ritz, no sentido de uma tentativa de incrementar a presença dos teutos na vida po- parcial e eficiente, ecologia são alguns dos temas recorrentes na Deutsche Zei-
lítica. Isso se notou, sobretudo, no Rio Grande do Sul, onde os teu tos marcaram tung e na Koseritz' Deutsche Zeitung, de Porto Alegre, durante a década de 1880.
forte presença na vida política desde os anos 1880; se esse ideal teria, por um la- Feito esse rápido levantamento sobre as referências e as avaliações em torno
do, marcado de forma clara a imprensa gaúcha, não se teria, por outro lado, che- da imprensa de língua alemã no Rio Grande do Sul, podemos constatar, no míni-
gado a um denominador comum a respeito da situação criada na Alemanha com a mo, dois aspectos. Há divergências entre os autores quanto ao valor e à influência
queda da monarquia. dessa imprensa na vida de imigrantes alemães e descendentes no Brasil, e - no
Na Enciclopédia Riograndense, editada por ele próprio, nos anos 1950, nosso caso - no Rio Grande do Sul. Mas todos aqueles autores que lhe atribuem
Klaus Becker inseriu um capítulo sobre a imprensa em língua alemã de 1852 a importância destacam, sobretudo, a influência política - política brasileira. Nes-
1889. Prometeu, no mesmo texto, escrever mais um artigo sobre essa imprensa se sentido, os jornais eram, de fato, jornais brasileiros de língua alemã e repeliam
no período posterior a 1889, mas esse empreendimento, aparentemente, foi aban- com razão a designação de imprensa estrangeira," e, por conseqüência, certa-
donado por alguma razão, pois não encontramos tal escrito nos volumes subse- mente tiveram algum papel na formação cidadã das populações de origem alemã.
qüentes da obra. De qualquer forma, o peso que atribui à imprensa é grande. Deve-se destacar, no entanto, que há também historiadores cuja forma de
Convém assinalar que aponta para a qualidade superior, sob certo aspecto, da im- abordar a imprensa de língua alemã no Brasil podem sugerir a classificação de
prensa de língua alemã em relação à de língua portuguesa, pois mais isenta e "imprensa estrangeira". Dois exemplos ilustram essa possibilidade. Em 1928, o
mais completa. Isso aconteceu, por exemplo, quando Koseritz enviou um corres- jornalista alemão Rudolf Peschke, com atuação na imprensa de língua alemã em
pondente próprio para a Guerra do Paraguai, "pois estava farto das notícias ten- território brasileiro, publicou na revista Der Auslanddeussche, de Stuttgart, um.
denciosas que enchiam a imprensa nacional,,?2 Destaca também a importância da artigo sobre a "imprensa alemã no Brasil".26 Apesar de haver nesse texto referên-
imprensa para a população de origem alemã em geral: cias sobre a imprensa como fator de representação dos interesses da população de
Nestes tempos [até 1889], sem as facilidades das comunicações rápidas que hoje nos
24 STEYER, Egon Frederico. Aspirações da população de origem alemã, no Rio Grande do Sul, segun·
parecem naturais, os moradores das colônias mais afastadas dos grandes centros,
do a imprensa teuto-brasileira (1878·1891). Porto Alegre: PUCRS, 1979 (dissertação de mestrado).
nem que os jornais chegassem atrasados por uma ou duas semanas, pelo menos po- 25 Um exemplo de investida contra a "imprensa estrangeira" do "bloco germânico meridional" encon-
diam acompanhar os principais acontecimentos nacionais e estrangeiros.P tramos em uma campanha de Gustavo Barroso em 1928 (Der Auslanddeutsche, Stuttgart, ano XII, n"
6, 1928, p. 175). No mesmo sentido, cf. o artigo intitulado "Arranjadores de encrencas", do mesmo
Gustavo Barroso, em Correio do Povo, Porto Alegre, 16 de junho de 1934. Caso bem concreto de uti-
lização da expressão "jornal estrangeiro" pode ser encontrado numa referência do Correio do Povo de
28 de setembro de 1928 contra a Deutsche Post, de São Leopoldo, e respectiva reação desta última
22 BECKER, Klaus. "Imprensa em língua alemã (1852-1889)". ln: Enciclopédia Riograndense (vol.Tl). em edição da mesma data.
Canoas: Editora Regional Ltda., 1957, p. 276. 26 Foi utilizado aqui o texto reproduzido em Arndt & Olson, op. cit., p. 98·102. As citações estão nas
23 Ibid., p. 282. páginas 98, 99 e IDO,respectivamente. .

108 Imigração & Imprensa O Conferências René E. Gertz D Imprensa e imigração alemã 109
origem alemã no contexto social e político brasileiros, há frases como: "o signifi- relação à atividade nazista no país. E, nesse sentido, os autores se restringem a
cado da imprensa em língua alemã em relação à política do país [o Brasil] é pe- repetir aquilo que já fora constatado muitos anos antes:
queno". "Só poucos editores e redatores vêm de regiões teu to-brasileiras, fazem Uma orientação através do partido nazista em direção ao Terceiro Reich mostrou-se,
parte do teuto-brasileirismo ...". Em contrapartida, o autor afirma: "Se a impor- por isso, muito restrita, o que não significava que a política da Alemanha fosse rejei-
tância da imprensa alemã no Brasil foi avaliada, acima, como pequena para a po- tada. Pelo contrário, defendia-se e justificava-se também no Brasil aquilo que acon-
lítica do país [Brasil], ela, no entanto, é muito importante para a formação de uma tecia na Alemanha, e assim, por exemplo, também a doutrina racista do nacional-
opinião sobre a Alemanha ...". Enfim, o autor enxerga a imprensa de língua alemã socialismo - ou ao menos alguns de seus elementos - pôde afetar o mundo das idéias.
no Brasil não tanto como uma imprensa brasileira, mas muito mais como uma es- Críticas em relação à política alemã só obtiveram espaço em muito poucas publica-
ções; em geral, o refortalecimento da Alemanha foi saudado com entusiasmo e os
pécie de extensão da imprensa alemã.
procedimentos brutais do Terceiro Reich foram justificados como necessários ou,
Mesmo que num sentido bem diferente, acontece algo comparável com uma
quando isso não era possível, simplesmente negados (p. 488).28
recente tese de doutorado sobre a imprensa de língua alemã na Argentina, no
Brasil e no Chile frente ao nazismo, nos anos 1930. Infelizmente os autores não Essas considerações permitem concluir que os autores abordaram a questão
puderam fazer-se presentes neste evento, para explicitar e defender suas conclu- da imprensa de língua alemã'" sob uma perspectiva muito alemã, como imprensa
sões?' Um dos problemas dos autores - na minha opinião - tem sua origem na "alemã", esquecendo-se de que era uma imprensa brasileira "em língua alemã",
contradição da bibliografia, que eles, aparentemente, não souberam utilizar de onde questões referentes à Alemanha eram tratadas, muito provavelmente, com
forma crítica. Assim, lê-se na página 29 que "uma das características dos descen- freqüência maior do que em jornais de língua portuguesa. Mas esses assuntos não
dentes de alemães da Argentina, do Brasil e do Chile é - apesar de sua grande in- constituíam a razão da existência desses jornais. A preocupação central sempre
fluência em muitos setores econômicos - sua relativa insignificância na vida polí-· foi a realidade política, social, econômica, cultural do Brasil e a inserção de ale-
tica desses países". Mas, já na página 33, lê-se que "a importância político-social mães e teu to-brasileiros nessa realidade:
e econômica da população de fala alemã na América Latina superava em muito Dessa forma, não é possível fazer uma avaliação definitiva a respeito da im-
sua importância numérica". Até prova em contrário, parece haver uma contradi- portância da imprensa a partir das referências a seu respeito na bibliografia sobre
ção flagrante entre as duas afirmações. a imigração alemã. Uma avaliação consistente só poderá ser feita mediante deta-
Mas, vamos à questão da imprensa e do nazismo, cuja análise não deixa de lhadas pesquisas empíricas. Um primeiro passo nesse sentido seria um levanta-
ser afetada por esses pressupostos. Racismo, anti-sernitismo, corporativismo, de- mento sobre a importância numérica das edições dos jornais, para poder estabele-
terminismo, nacionalismo alemão, antibolchevismo, antiliberalismo, tendências cer-se um tipo de "consumo per capita", Hans Gehse, em seu livro, porém, fala
anticapitalistas, condenação do parlamentarismo e dos partidos políticos, insis- da dificuldade de se chegar a números confiáveis. Ele afirma que, apesar das in-
tência numa comunidade étnica (Volksgemeinschaft), organização hierárquica, sistentes perguntas sobre esse assunto aos responsáveis pelos jornais existentes
glorificação da luta, do sacrifício ,e do martírio, além de eventuais concepções an- em torno de 1930, não conseguiu dados numéricos confiáveis.3o Se, por exemplo,
tieclesiásticas e anticristãs (p. 154-155) - praticamente todos esses elementos os não se encontram contestações ao número de 30,000 exemplares do Kalender für
autores afirmam ter encontrado na imprensa de língua alemã dós citados países e, die Deutschen in Brasilien, editado pela firma Rotermund, para as décadas de
assim, chegaram à conclusão de que "a conquista e a penetração da germanidade 1920/30, a situação é bastante diferente quando se trata de definir o número de
pelo nazismo foi facilitada pelas predisposições ideológicas existentes" (p. 485). exemplares da Deutsche Post, editada pela mesma firma. Enquanto Gehse encon-
Mesmo assim, os autores registram o fato empírico de que o nazismo, especifi- trouum dado oficial, público informando sobre 5.000 exemplares para o ano de
camente no Brasil, não só teve um sucesso muito limitado, como foi vigorosa- 1928, fontes de bastidores apontam para apenas 1.800 nas edições diárias e 3.000
mente combatido por vários setores da população teu to-brasileira (p. 393-400). A
explicação arrolada é a de que os teu to-brasileiros tinham vivido alguns anos an-
tes as perseguições da Primeira Guerra e, por isso, se mostravam reticentes em
28 Exatamente essas mesmas constatações haviam sido feitas vários anos antes por GERTZ, René E. O
fascismo no sul do Brasil: germanismo, nazismo e integralismo. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1987, p. 80-105.
29 E deve-se destacar que os autores não estão se referindo aos pequenos jornais confessadamente nazis-
27 GAUDIG, Olaf; VEIT, Peter. Der Widerschein des Nazismus: das Bild des Nationalsorialismus in
der deutschsprachigen Presse Argentiniens, Brasiliens 11l1dChiles 1932-1945. Berlim: Wissen- tas, mas sim à grande imprensa que estamos tratando como "política".
30 Gehse, op. cit., p, 95.
schaftlicher Verlag, 1997.

René E. Gertz O Imprensa e imigração alemã 111


110 Imigração & Imprensa O Conferências
para as edições semanais." Isso significa, no mínimo, uma certa distorção na so-
óperas que estavam sendo apresentadas no Th _
ma das edições diárias com as semanais." tando o transcurso de uma ._ . eatro São Pedro, um a pedido rela-
Na verdade, encontram-se grandes polêmicas entre os jornais sobre o verda- reuruao realIzada e P A I "
a fundação de uma associa - . dusrri morto .-:.egre para discutir sobre
deiro número de suas edições. Esses números eram invariavelmente inflacionados intitulada Os mor,angos . çao in ustrial (Gewerbeverem) e uma história cômica
para atrair publicidade. Quando os concorrentes contestavam os números arrola- mlgrantes.
dos, os jornais recorriam aos mais exóticos expedientes para tentar provar a cor- Na terceira página, ainda continuava o f lh .
30% são dedicados à continua ão da hi ,.0 etirn, em cerca de 30% do espaço,
reção de seus números. No caso de Porto Alegre, iam, por exemplo, à Direção ao relato dos efeitos de um t ç 1 sto~la dos morangos; 20% são dedicados
dos Correios e solicitavam atestados de que expediam determinado número de d o Comercial do dia 4 de "' empora .
em RIO Grand b .
e, com ase em informações
exemplares para o interior, números aos quais acrescentavam, então, as supostas . levereIfO Em 209f t . "' -
prussiana. Toda a quarta pãgí " o emos mlormaçoes sobre a marinha
vendas em bancaa." ma e ocupada por anúncios
Como é impossível resolver esse problema no contexto dessa pequena comu- . A mesma Deutsche Zeitung, de 10 de f .' .
gina o capítulo de um folhetim' tit I d everelro de 1872, traz na pnmeira pá-
nicação, se partirá aqui para uma estratégia bem diferente. A pergunta a que se Roman aus dem deutsch-n ..I~ IhUa o Der Tambour von Worth: historischer
tentará responder é: quais são os temas abordados nos jornais e em que medida J ranZOSISCen Krie 1870
tanto uma história ambientad ge von , de Karl Tornow, por-
esses temas eram de interesse para as populações de origem alemã. O objetivo é - a na recente guerra f '.
to sao ocupados por uma I _ ranco-prussmna. Vinte por cen-
verificar se os jornais, independente do número de suas edições, podem ter con- cone amaçao de uma '-
construção de uma escola " ',. .. . comlssao nomeada para tratar da
tribuído para a formação da cidadania e, portanto, em que medida esses jornais
Em 40% há uma matéria i~:~~~~a ~la cO~ulll~ade evangélica de Porto Alegre.
constituíam uma "imprensa estrangeira", como diziam as vozes críticas, ou era blicanas) na qual com bas u a ai epublzkamsche Zustande (Realidades repu-
uma imprensa "brasileira de língua alemã", como ela mesma se auto-avaliava. , , e num re ato da DIZ .
apresenta um quadro da sit - d . eutsc te eltung de Buenos Aires, se
Para isso foram escolhidas as edições de algumas datas dos 'grandes jornais de -. I uaçao escrita como 'f "
çao se Justifica a apresentaç- d ' . cao rca no Uruguai, Na introdu-
Porto Alegre, para serem listados os conteúdos veiculados. Isso pode ser um tan- . ,
d o Ideario republicano no Brasil.ao essa matena em f - d ',. ,
unçao o InICIOda dIVulgação
to maçante, mas mostrará de que temas, efetivamente, tratavam os jornais.
Na segunda página, encontra-se a co ti _ .
A Deutsche Zeitung, de Koseritz, do dia 12 de fevereiro de 1862, tinha o se- Uruguai, ambos ocupando 60% d n llluaçao do folhetim e do texto sobre o
guinte conteúdo: 60% da primeira página eram ocupados por um editorial bastan- na são ocupados por nota o o espaço. Os 40% restantes dessa segunda pagí-
te incisivo com críticas ao ex-presidente e ao atual presidente da Província, por- s, como uma longa cart d idadã
relatando a situação e os Ilti . a e um CI adao de Passo Fundo
que a colônia estaria cheia de gente que procurava extorquir a terra aos colonos, u Imos aconteCImento I . , .
mações de São Leopoldo b s. naque e mUlllclplO; duas infor-
prornetendo-lhes terras devolutas. Apesar de reiterados pedidos por providências , uma so re uma reu .- " _
clubes recreativos locais e o t b ruao para tratar da umfIcaçao dos
às autoridades, nada teria sido feito para acabar com esse inconveniente. "Os co- u ra so re o trabalh d r ' ,
to por um barco, para facilitar a nave _, o e impeza do no dos SInOS fei-
lonos, para não serem mais incomodados em seu trabalho, mandaram vários pe- nente Albin Brodt para res I' ga~ao, outras notas sobre problemas do te-
didos escritos às autoridades e esgotaram todos os meios imagináveis, mas, até "U anzar sua SItuação c E" .
do Paraguai; sobre tratativas t d orn o xercim depois da Guerra
agora, sem qualquer sucesso, pois as autoridades trataram desses pedidos de uma , em orno a solução d d
apos a guerra' sobre o ence d e pen engas com o Paraguai
forma imperdoável, quase, diríamos, irritante". Os outros 40% dessa primeira pá- , rramento o caso d ' id
Brasil e a Alemanha em 1871' br os mCI entes diplomáticos entre o
gina são ocupados por um folhetim intitulado Os jurados e seu juiz, uma história ' , SO Ie a abertura de U I .
so bre a sl,tu~ção política na Argentina. ma esco a em Santa Mana;
de Cevin Schücking.
Na pagina 3, encontramos em 20% d .
Cinqüenta e cinco por cento da segunda página são ocupados pela continua- tros 20% são dedicados a t ' o espaço a contmuação do folhetim' ou-
ção do folhetim e do editorial iniciado na primeira. Nos restantes 45% encontra- no as muito rápida b ' '
escravos na Alfândeo-a' sob d' _ s so re a necessidade de matricular
mos três textos de tamanho bastante semelhante, com uma crítica à temporada de b' re a ISCussao de U r h d
tre a Alemanha e a Argentl'na' b . ma III a e navegação regular en-
. so re a pubhcaçã d b
Gehse, p. 96; GERTZ. René E. O aviador e o carroceiro: política. etnia e religião 110 Rio Grande do .
pelo apoio recebido dos cato'II'COSb '1' o e um reve papal agradecendo
31 rasr erros nos di diff . ..
Sul dos anos 1920. Porto Alegre: EDIPUCRS. 2002. p. 42. cano. Aproximadamente 3501 _ IaS I icers VIVIdos pelo Vati-
. vo sao ocupados po
32 Claro. as edições semanais. que todos os grandes jornais políticos publicavam e que constituíam um nonetes em Paris; em outros 10% está u r u~ texto sobre o teatro de ma-
tipo de "compacto" do conteúdo publicado durante a semana. atingiam um público maior, por- professor de Lomba Grande ' d . m a pedido, declarando que a casa do
que eram aqueles que iam em maior número para o interior do estado. através do correio.
33 Cf. a respeito. por exemplo. Neue Deutsche Zeitung, 14 e 17 de janeiro de 1927.
ca local, solicitando que se e 1e pro~~ed:de exclusiva da comunidade evangéli-
, a gurn CI adao pensa ter direitos sobre ela, que se
112 Imigração & Imprensa O Conferências

René E. Gertz O Imprensa e imigração alemã


113
, . 15% restantes há uma breve nota reafirm~ndo o
manifest~ ate 24 d~ março, nos. Alemanha (essa nota foi inserida ao final da jornais de língua alemã em São Paulo e no Rio de Janeiro; e há, ainda, notícias
fim do citado conflito entr,e .Brastl : che adas pelo navio São Pedro), e uma sobre a Amazônia e a Argentina.
edição em função de nOtiCiaS, ~ecemierec!ndo terras para venda, e outros anún- ..
'
Na quinta e na sexta páginas há, basicamente, anúncios, mas em um quarto
série de anúncios de pessoas físicas o, . amente era toda ela ocupada por
cios de tipo semelhante. A quarta pagma nov desta última encontram-se curiosidades sobre maneiras de eliminar insetos e so-
bre "barbeiros reais na Idade Média".
anúncios diversos. . K serit ' Deutsche Zeitung trouxe em mais ou A Deutsche Zeitung, do mesmo dia 11 de fevereiro de 1882, agora não mais
Em 10 de fevereiro de 1882, a o ..: . d folhetim sobre O senhor e a
. . , 'na uma sequencla o l' dirigida por Koseritz, mas sim por Hermann von Ihering, tinha 40% de sua pri-
menos 30% da pnrneira pagl I L' d Aproximadamente 60% eram ocu- meira página ocupada pelo folhetim, 50% também com um texto sobre Silveira
a novela de Pau mau. ..
senhora Bewer, um . lidade de Gaspar Silveira Martins, Martins e os 10% restantes eram dedicados a um congresso médico em Londres.
pados por uma matéria que analisava a perfsona Imotl'vo pelo qual ele é tão extra- ""
. .", es de sua orça O folhetim continuava por 30% da segunda página, da mesma forma que o
onde se tentava explicar as raiz I _ a' quem ajuda fielmente e cuja im-
.. imnáti o ao elemento a emao, d congresso médico londrino Ocupava 25%. Nos demais 45% havia notas diversas,
ordinariamente simpa c lítico" Dez por cento são ocupa os que em parte coincidiam com as da Koseritr' Deutsche Zeitung: a acusação do
portância sabe avaliar como ne~humzou.tro po I~re ':os alemães na floresta" (uma
por uma matéria baseada n.a Kolner ettung so Mercantil contra a cervejaria de Christoffel; os ladrões em Cachoeira; mas havia
também notícias diferentes: a eleição do deputado provincial Lepper por Joinvil-
reportagem sobre a B~umplkade~. d 35% da segunda página. No restante do es- le; a inauguração de uma destilaria de cachaça em São Paulo; novas determina-
Esta última matéria ocupa am a I obre a pintura em vidraças", com ções dos correios; número de imigrantes chegados a Porto Alegre em janeiro.
,. h' "uma pa avra s
paço desta segunda pagina, a. a referência específica a Joseph Woll- Na terceira página, 25% eram ocupados por anúncios; outro tanto pela polê-
um comentário geral sobre ess~ arte e. udm exposição germano-brasileira, de
. (C ') q e fOI premia o na , . mica com Koseritz em torno da exposição germano-brasileira, ao que se agregava
mann, de Pareci ar, u . F B umpikade é o tema do último uma suposta carta do interior contestando a liderança de Koseritz na colônia. Os
1881, por vitrais feitos em sua oficina. esta na a
demais 40% eram ocupados por uma miscelânea de informações como: incêndios
quarto da página. . m 15% da terceira página, onde ou- em Michigan; o mais veloz transatlântico; curiosidades sobre as medidas da pas-
Informações sobre essa festa uo sobre No Petrópolis 10% são dedicados a sada de uma pessoa; coleta de auxílio para as vítimas de um incêndio na Áustria;
- d di d a um relato so re ova, ,
tros 15% sao e ica os ~ A d) e Lavras de Caçapava. Em 60% e referência do jornal inglês Export sobre as condições da barra de Rio Grande; re-
notícias breves sobre Santo Angelo ( g~ o tuação de Silveira Martins no Se-
ferência à publicação do livro Wanderungen durch die Tropen, de Avé-
arrolada uma série de pequenas nota;e~o d~~ ~n:eresses da comunidade evangélica Lallement. Na quarta página só havia anúncios.

de São Leopoldo.; sobre uma a


congresso republicano em Porto
~l:
nado, e sobre a defesa que o m~~~o d Martinho Campos na Câmara; sobre u~
re: sobre problemas com a barra de RIO
fgd ' 1 em autorizar o Sr. Primanha em ins-
Na tentativa de abreviar essa simples e cansativa enumeração, deu-se um sal-
to cronológico até a virada da década de 1920 para a de 1930. Tendo em vista al-
b tiva do governo e era guma dificuldade de acesso ao Deutsches Volksblatt, um dos grandes jornais des-
Grande; so re ah nega d I ' ar na Província; ,. so br e o resultado da loteria; uma das sa época, de orientação católica, tomou-se a edição de II de fevereiro de 1929 _
talar um engen o e açuc " . sição germano-brasileira; finalmente, e não a do ano 1932.
notas defende a integridade d~ jun na expo do Brasil que arrola números so-
um comentário sobre a dívida interna e externa . hari " O folhetim estava presente também nesse jornal, ocupando cerca de 30% da
. d a expressão' "essa mn ana .... primeira página; 55% eram ocupados por uma seqüência intitulada Como foi o
bre essa dívida, terrrunan o com ;. algumas mais extensas, outras apunlzalamento pelas costas de 1918, uma referência clara à Alemanha no final
' t da a quarta pagllla, .
Notas tambem ocup~m o ntram-se assuntos como: referência a um da Primeira Guerra. Um texto sobre O presente de Natal de Belgrado fazia refe-
bem breves. Entre as mais extensa~ en~o S I' acusação do Mercantil de que a
rência a um recente golpe de Estado na região baJcânica (15%). Assim, a primei-
bando de criminosos em Cachoellra °d u.'t '010 na cerveia em vez de lúpulo; ra página era essencialmente internacional
. ff I tari a co ocan o VI fi c J ,
cervejaria de Chnsto e es an AI t tou matar o marido' incêndio na Esse mesmo tema ainda continuava por 10% da segunda página, acrescido de
' . Ih e em Porto egre, en ,
histona de uma. I dmuJ er bquKrãmer, em S an ta, Clara Montravel: , uma carta de Mon- outro texto sobre a situação mundial (15%). Notas diversas, como baile de más-
casa comercia e aco ,. ' iornal de ue Hugo Dãhn estaria morto; uma caras, eleições em Bagé e crise no Banco do Brasil perfaziam outros 45%. Notí-
tenegro desmentindo a notlcl~ do J b "I q- s em Pelotas", outra falando dos cias eclesiásticas, como uma referência à comunidade São José e ao Tratado de
nota dando algumas informaçoes so re a emae
Latrão estavam em 10%. Notícias de diversos municípios e da capital federal to-

114 Imigração & Imprensa O Conferências


René E. Gertz O Imprensa e imigração alemã 115
mavam outro tanto do espaço, sobrando 10% para miscelânea, que incluía coisas
como Os fabulosos tesouros dos sultões. , . de autores alemães, mesmo que se saiba que em alguns momentos foram publi-
cadas também traduções de autores brasileiros.
As páginas 3 e 4 eram totalmente tomados por anuncios. .
P or fiim, a edição de 10 de fevereiro de 1932 da Neue Deutsche Zeitung, o . No entanto, não há dúvida de que o conjunto do conteúdo de todos esses jor-
, N..
segundo grande jornal de língua alemã de Porto Alegre, nessa epoc_a. a.?r:melra nais estava profundamente enraizado na realidade brasileira. Política, economia,
,. havia um editorial (15%) sobre a fala do. chanceler . alemao Brüning na cultura, crônica policial - em nível local, regional, nacional, tudo isso estava pre-
pagma , . ,
C onlerenCla
l'
h • do Desarmamento em Genebra , mais 20% dedicados a notícias . va- h
sente e fornecia ao leitor um quadro muito claro da realidade brasileira, desper-
rias sobre a Alemanha (exército, processos anti-sernitas, problen:as com a Lituâ- tando seu senso de cidadania. Possivelmente tenha sido diferente com outros jor-
. )., 15m eram dedicados à Inglaterra, à Espanha e ao Uruguai. BPortanto, 65% _ nais, talvez os de caráter religioso ou mesmo os que se dedicavam a assuntos es-
ma -/0 .1
eram dedicados a assuntos internacionais. Sobravam 35% par~ o rasu: o gover- portivos tenham tido um caráter mais estrangeiro, mas os jornais políticos surgi-
no do Paraná, incidentes no Espírito Santo, acordo sobre cafe entre os. gov~r~os ram da necessidade de atender a uma população de leitores que se inseria perfei-
federal e estadual paulista, extinção de consulados brasileiros no extenor, dívida tamente na realidade brasileira, mesmo que isso se desse em língua alemã.
interna e externa. . . Não fora~ examinados os editoriais dos números de lançamento desses jor-
O folhetim começava aqui na segunda página (35%); outros 35% se ref~na~ nais, nos qUaIS, provavelmente, foram apresentados os programas, os objetivos, a
a Desarmamento e economia mundial; uma notícia sobre o trabalho da comissao linha editorial. Mas possivelmente conste ali algo semelhante ao que se lê no edi-
de finanças do Brasil preenchia os 30% de espaço que sobravam. torial do primeiro número (dezembro de 1929) de Die Neue Zeit, de Candelária:
Na terceira página, continuava o folhetim (35%); 10% falavam s~~re o de- "Quanto trabalho e esforço foi necessário para alcançar a emancipação [rnunici-
semprego na Alemanha; 20% sobre os avanços na velocidade dos avioes; 35% pai]! Mas ela veio. Quantos pedidos e quanta dedicação precederam a ligação
eram notícias sobre o interior do Rio Grande do Sul. , . com o trem! Mas agora ela está em vias de ser concretizada, e em menos de dois
Os relatos do interior do Estado continuavam por 35% da quarta pagina; o anos e meio o primeiro apito da locomotiva constituirá o sinal de que uma nova
restante eram notícias das mais diferentes sobre o Brasil: greve em. São Paulo, era está começando para nossa região. Além disso, a estrada da serra será defini-
caixa de aposentadoria dos funcionários públicos, demissão do prefeIto de Tere- tivamente concluída neste verão; a estrada Candelária-Santa Cruz- Venâncio Ai-
sópolis, investimento obtido pelo interventor do Mato Grosso Junto ao governo res será a~sumida pelo governo estadual e sofrerá um conserto geral _ Será que
federal, crimes no Paraná etc. com tudo ISSOnã? está mais do que na hora que nossos municípios [Candelária e
Nas 5ª e 7ª páginas só havia anúncios. . Jacuí] tenham um jornal próprio?" E para que serve o jornal? "Para fazer propa-
A 6ª página estava destinada ao entretenimento, com textos sobre O enigma ganda para fora, para fortalecer o patriotismo local e o sentimento pátrio, para a
de Matuschka, Fogo a bordo, poesias em discos. , . . expansão das relações comerciais e as comunicações, em suma: para o fortaleci-
mento de toda a nossa vida municipal e econômica";"
A última página, a oitava, era variada, com 35% de notícias gerais de Porto
Alegre, 25% para associativismo e esportes locais, 10% para as escolas e 30% Portanto, o editor anunciava aqui um programa muito claro em defesa de in-
para livros e revistas. . _ .. ~eresses políticos, econômicos, sociais e culturais muito brasileiros _ mesmo que
ISSOse desse em língua alemã.
Como essa enumeração do conteúdo de algumas edições dos grandes jornais
políticos de Porto Alegre é cansativa, paremos por aqui. Evidentemente, não se É natural, os exemplos analisados não podem ser vistos como inequivoca-
pode pretender que esse arrolamento reprod.u:a de ~orma ~i~temática o cont~údo mente representativos de 80 anos de imprensa política em língua alemã no Rio
desses jornais, mas como a escolha das edições foi aleatona, pode-se partI~ do Gr~nde do Sul (1860-1940). Só estudos mais sistemáticos, metodologicamente
pressuposto de que os números apresentado~ tenham. algum valor repr~s~ntatlvo, mais elaborados, poderão dar uma palavra final sobre o assunto. Mas muito pro-
isto é, que aquilo que neles transparece não e excepcional, mas algo mimmamen- vavelmente mostrarão, de forma mais consistente, a importância dessa imprensa
para a vida brasileira de alemães e descendentes.
te típico. . ..
Nesse sentido, pode-se constatar que, sem dúvida, os temas internacionais,
em especial aqueles referentes à Alemanha estã,o mais pres~nte,s em torno de
1930 - e talvez tenham aumentado durante essa decada. Tambem e verdade que o
folhetim, que parece ter sido uma parte inseparável desses jornais, trazia textos
34 Apud Arndt e OIson, p. 119.

116 Imigração & Imprensa O Conferências


René E. Gertz O Imprensa e imigração alemã 117
Jornais e revistas em língua alemã do Rio Grande do Sul Colonist (Der) (AO), Porto Alegre, 1852;
(1852-1941 )35 Deutsche Auswanderer (Der) (AO), Porto Alegre, 1836?;
Deutsche Buch (Das) (AO), Porto Alegre, 1937;
A lista se baseia em Arndt e Olson (AO), onde podem ser encontradas maio- Deutsche Buchdrucker (Der) (AO), Porto Alegre, (1930);
res informações sobre os jornais e as revistas; a lista foi conferida com Gehse e Deutsche Colonist (Der) (AO), Porto Alegre, 1850?;39
com Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul, e outros, do que resulta- Deutsche Einwander (Der) (AO), Porto Alegre, 1852;
ram algumas notas, destacando eventuais divergências entre os autores. Algumas Deutsche Evangelische Bliitter fiir Brasilien (AO), São Leopoldo, 1919;
poucas complementações foram feitas a partir de Acervo Benno Mentz (B~) e de Deutsche Post (AO), São Leopoldo, 1880;
Gaudig e Veit (GV). A data indica o ano de surgimento; quando entre p~renteses, Deutsche Presse (AO), Pelotas, 1881;
significa que naquele ano o jornal ou a revista circulava, sem que se saiba a data Deutscher Anzeiger für die Serra'" (AO), Neu-Württemberg (Panambi),
exata de surgimento. 1923;
Ach du liebe Schule (AO), Pelotas, 1916?; Deutsches Junghandwerkerblatt (AO), Porto Alegre, 1933;
Acker und Ambos, (AO), Ijuí, 1931; Deutsche Katholische Lehrerreltung (AO), vários, 1899;
Aktion (AO), Porto Alegre, 1933; Deutsche Nachrichten (AO), Porto Alegre, 1913;
Alarm (AO), Porto Alegre, 1937; Deutsche Turnblãtter (AO), Porto Alegre, 1915;
Alkoholgegner (AO), Porto Alegre, 1910; Deutsches Volksblatt (AO), São Leopoldo e Porto Alegre, 1871;
Allgemeine Lehrerzeitung für Rio Grande do Sul (AO), vários lugares, Deutsche Wacht (AO), Pelotas, 1914;
1903?; Deutsche Zeitung (AO), Porto Alegre, 1861;
Am Lagerfeuer (AO), Porto Alegre, 1924; f!iaspora-Bote (Der) (AO), Colônia Guarani (então município de Santo
Anzeiger (Der) (AO), Santa Cruz do Sul, 1905; Angelo das Missões), 1913;
Anzeiger (Der) (AO), Santa Rosa, 1932; Einwanderer (Der) (AO), (Rio de Janeiro e) Porto Alegre, 1854;
Anzeiger (DeryJ6 (AO), Ijuí, 1932; Evangelische lugend (AO), São Leopoldo, 1936;
Ausstellung (Die) (AO), Porto Alegre, 1881; Evangelischer Gemeinde-Bote (AO), General Osório (Neu-
Austria (AO), Porto Alegre, 1928; Württemberg/Panambi), 1915;
Band (Das) (AO), Porto Alegre, 1929; Evangelischer Kinderfreund für Brasilien (AO), São Leopoldo, 1930;
Bauern-Freund (AO), São Leopoldo (?), 1900; Evangelisches Gemeindcblatt fiir die Gemeinden VWa Thereza und An-
Bote [iir die Evangelische Frauenwelt in Brasilien (Der) (AO), São Leo- dreas mil den dazugehôrigea Pikaden (AO), Santa Cruz do Sul, 1931;
poldo, 1930; . Evangelisches Gemeindeblatt fiir Neu- Wiirttemberg (AO), Neu-
Bote von São Leopoldo (Der) (AO), São Leopoldo, 1867; Württemberg (Panambi), 1926;
Bote von São Lourenço (Der) (AO), São Lourenço do Sul, 1892; Evangelisches Volksblattfiir Brasilien (AO), São Leopoldo, 1915;
Brasilianische Bienenpflege (AO), Porto Alegre e outros, 1897;37 Evangelisch-Lutherischer Kirchenbote fur Brasilien (AO), Porto Alegre,
_ Brummbiir (DeryJ8 (AO), Arroio do Meio, 1932; 1922;
Cahy Zeitung (AO), Montenegro, 1916; Evangelisch-Lutherischer Kirchenbote (AO), Porto Alegre, 1930;
Chossebeling, (AO), Porto Alegre, 1914?; Evangelisch-Lutherisches Kinderblatt für Südamerika (AO), Porto Alegre,
Chosse Greid, (AO), Porto Alegre, 1914; 1930;
Christliches Leben (AO), São Leopoldo, 1923; - Evangelisch-Lutherisches Kirchenblatt für Siidamerika (AO), Porto Ale-
gre, 1903;41
35 Não estão incluídos os alrnanaques.
36 Apesar de a fonte indicar pessoas diferentes como editores para o jornal de S~nta Rosa e de Ijuí, o
proprietário é o mesmo (Otto J. CJebsch). Considerando que Santa Rosa e ~UI estavam ligados por 39 Sobre Der Deutsclie Colonist e Der Deutsche Einwanderer, cf. os comentários ele Arndt & Olson re-
trem desde 1931, deve tratar-se de um mesmo jornal com eventuais duas edições regIOnaIs. 40 Iativos a dúvidas quanto à sua existência (p. 150-151).
41 Gehse indica o nome de Deutscher Anreiger [ür Neu- wiirncmberg.
37 Gehse indica o ano de 1896.
Gehse dá como ano de surgimento 1906.
38 Não confundir com o Brwlllllbiir-Kalender, editado no mesmo local e na mesma época.

118 Imigração & Imprensa O Conferências


René E. Gertz O Imprensa e imigração alemã 119
Feierabend (Der), (AO), Porto Alegre, 1881; - Mitteilungen der Graphischen Vereinigung zu Porto Alegre (AO), Porto
_ Fortschritt (AO), Santa Cruz do Sul, 1901; Alegre, 1922;44
Freie Arbeiter (Der) (AO), Porto Alegre, 1920; Mitteilungen des Õsterreichischen Auslandsbundes "Wien ", Zweigverein
- Für die Frau (AO), Porto Alegre, 1934;
Fürs Dritte Reich (AO), Porto Alegre, 1932;
I Porto Alegre (AO), Porto Alegre, 1932;
- Mitteilungen der St. Josefs-Gemeinde (AO), Porto Alegre, 1930;
Für unsere Jugend (AO), São Leopoldo, 1927; Mitteilungsblatt der Deutschen-Evangelischen Christus-Gemeinde zu
Gebetsapostolat (AO), Porto Alegre, 1926; Porto Alegre, der Konkordia-Schule und der Vereine innerhalb der
Gemeinde-Bote (Der) (AO), Porto Alegre, 1921; Gemeinde (AO), Porto Alegre, 1933;
Gemeindebote (Der) (AO), Santa Cruz do Sul, 1931; - Mitteilungsblatt der Deutschen Evangelischen Gemeinde Neu-
Gemeinde-Bote des Deutschen Evangelischen Pfarrbezirks Montenegro Württemberg (AO), Neu-Württemberg (Panambi), 1934;
(AO), Montenegro, 1931; Mitteilungsblatt des Verbandes Deutscher Kranken- und Sterbekassen
Gemeinnütziger Ratgeber für Stadt und Land (AO), São Leopoldo, (1905); (AO), Porto Alegre, 1931;
Glocke von São Lourenço (AO), SãoLourenço do Sul, 1912 Monatsblatt der Evangelischen Gemeinde in Porto Alegre (AO), Porto
Grosstadtbrille (Die) (AO), Porto Alegre, 1930 Alegre, 1931;
Guahyba (AO), Porto Alegre, 1938; Monatsbliitter des Germanischen Bundes fiir Südamerika (AO), Porto
_ Hacke und Pflug (AO), Porto Alegre, 1938?; Alegre, 1916;
Halb-Jahrhundert (AO), Agudo, 1907; Moskito (AO), Pelotas, 1914;
Handwerk (Das) (AO), Porto Alegre, 1931; Nach der Arbeit (AO), Porto Alegre, 1934;
Heimatkldnge (AO), Porto Alegre, 1927; Nachrichtenblatt (AO), São Leopoldo, 1928;
Hinkende Teufel (Der) (AO), Porto Alegre, 1855;42 Nachrichtenblatt (AO), Porto Alegre, 1932;
Ijuhyer Gemeindeblatt (AO), Ijuí, 1927; Nachrichtenblatt der Liga das Uniões Coloniais Riograndenses (AO), Ijuí,
_ Jugend-ZeitscJzrift (AO), Porto Alegre, 1934; 1929;
Junge Front (AO), Porto Alegre, 1934; Naturheilkunde (Die) (AO), Porto Alegre, 1923;
_ Junge Kãmpfer (Der) (AO), São Leopoldo, 1935; Neue Deutsche Zeitung (AO), Porto Alegre, 1905;
_ Kameradschaft (Die) (AO), Porto Alegre, 1936; Neue Heim (Das) (AO), Porto Alegre, 1921?;
Kampf(Der) (AO), Novo Hamburgo, 1936; Neue Heimat (AO), Porto Alegre, 1912;
Kindervolksblatt (AO), Porto Alegre, 1937; Neue Lesehalle (AO), Pelotas, 1916;
Kolonie (AO), Santa Cruz do Sul, 1890; Neue Zeit (AO), São Leopoldo, 1879;
Kolonist (Der) (AO), Porto Alegre, 1915; Neue Zeit (Die) Candelária, 1929;
Konkordianer (Der) (AO), Porto Alegre, 1932?; Pionier (Der) (AO), Porto Alegre, 1891;
Koseritz' Deutsche Zeitung (AO), Porto Alegre, 1881; Rein Seel und Leib45 (GV), São Leopoldo, 1935;
Landwirt (Der) (sucessor de Brasitianische Bienenpflege) (AO), Porto Riograndenser Sonntagsblatt (AO), Porto Alegre, 1887;
Alegre, 1897?; Rio Grandenser Vaterland (AO), Porto Alegre, 1902;
Landwirtschaftliche Presse43 (AO), Estrela, 1881; Sankt Paukus-Blatt (AO), Porto Alegre, 1912;
Landwirtschaftliche Zeitung (AO), Estrela, 1881; Santa Cruzer Anzeiger (AO), Santa Cruz do Sul, 1905;
Linke Klaue (AO), Porto Alegre, 19l7; Santa Rosa Zeitung (AO), Santa Rosa, 1937?;
Mein Heim (AO), Porto Alegre, 1935; Schulungsbrief der Evangelischen Jugend (Wartburgjugend) (AO), Porto
_ Missionsfreund (AO), São Leopoldo, 1892; Alegre, 1937;
Schulbucli (Das) (AO), São Leopoldo, 1917;
42 °
Klaus Becker manifesta dúvidas sobre a existência desse jornal. Afirma que que realmente existiu
44
°
foi almanaque Der Ileue hinkende Teufel (1856) (Becker, loco cit., p. 270!. . .. Hllndert Jahre Deutsclitum in Rio Grande do Sul indica 1920 como ano de surgimento (p. 282).
43 Não foi possível estabelecer se este e o próximo título são efetivamente dOISJornais diferentes. 45 Não foi possível confirmar a existência deste jornal através de outra fonte.

120 Imigração & Imprensa O Conferências René E. Gertz O Imprensa e imigração alemã 121
Schulzeitung (AO), São Leopaldo, 1938;
Schwankende Erdkugel (Die) (1\0), Porto Alegre, 1925;
Schwert des Herrn (AO), Taquara, 1937;
Selbsterziehung (AO), Neu-Württemberg (Panambi), 1916;
Discussões acerca da imprensa nos congressos
Serra-Post (AO), ljuí, 1911; católicos organizados pelos jesuítas alemães
Sonntags-Blatt (AO), Porto Alegre, 1905; _ .46
Sonntagsblatt der Riograndenser Synode 0.0), Sao Le~p~ldo, 18.86, (1898 a 1940)
Sonntagsblatt der Werktiitigen in Sudbrasilien (AO), Glrua, 1931,
Sonntagsstimmen (AO), Porto Alegre, 1925; André Carlos Werle*
Südbrasilianisches Logenblatt (AO), Porto Alegre, 1934;
Tiiglicher Anzeiger (AO), Porto Alegre, 1899;47
Turnerbote (Der) (AO), São Leopoldo, 1933;
----------01----------
Unsere Schule (AO), Porto Alegre, 1933;
Unterm südlicl1e1i KréUZ (AO), São Leopoldo, (1912);
Uruguay-Bote (AO), Porto Alegre, 1933; Um antigo provérbio dizia: "Dize-me com quem andas e eu te
Vaterland (sucessor de Rio Grandeser Vaterland) (AO), Porto Alegre, direi quem és." Hoje em dia acrescento: "Dize-me o que lês e
1919?; eu te direi quem és e o que será de ti !"I
Verlorene Zeit (Die) (AO), Candelária, 1931;
Volksstimme (Die) (AO), Santa Cruz do Sul, 1907;
A presença de padres e religiosos europeus no sul do Brasil, a partir de meados
do século XIX, promoveu significativas mudanças na cultura religiosa, caracteri-
Vorwiirts (AO), Porto Alegre, 1880;
zada pelo que alguns autores denominam de "substituição do tradicional catoli-
Wacht und Weide (AO), Porto Alegre, 1936;
cismo luso-brasileiro pelo catolicismo ultramontano, europeizado e romaniza-
Waltherliga-Bote (Der), (AO), Porto Alegre, 1929;
do"," ou, segundo' a expressão de Arthur Rabuske deram uma nova "fisionomia
Wau-Wau (AO), São Leopoldo, 1914; . ,,3' '
para a Igreja . No que se refere ao Rio Grande do Sul e oeste catarinense, os re-
Wegweiser (Der) (AO), Porto Alegre, 1927;
ligiosos que mais tiveram destaque foram os jesuítas alemães, principalmente de-
Wirtschaft (Die) (AO), Porto Alegre, 1931; . ..
Wochenblatt für die Interessen der Deutschen tn Brasilien (AO), Monte- vido a atividades desenvolvidas junto aos imigrantes da Alemanha. Trata-se de
práticas e instituições que não se referiam abertamente à vida religiosa dos fiéis,
negro, 1907; mas se direcionavam à sua vida social, econômica e cultural."
Zeitung für die Koloniezone (BM), Agudo, 1907;
Zoo Zeitung (AO), Porto Alegre, 1934.
.Mestre (2001) e doutorando (a partir de 2002) pelo Programa de Pós-Graduação em História a Uni-
versidade Federal de Santa Catarina.
METZLER, Hugo. Yerhandiungen der II Generalversammlung der deutschen Katholiken VOIl Rio
Grande do Sul zu Santa Clara. 15-17 Apri11899. Porto Alegre: Typografia do Centro, 1899, p. 44.
WERNET, Augustin. Prefácio. In: SERPA, Élio C. Igreja e poder em Santa Catarina. Florianópolis:
EDUFSC, 1997, p. u.
RABUSKE, SJ, Arthur. Nova fisionomia da Igreja no Rio Grande do Sul a partir de 1850. In. Pesqui-
4 sasHistária, Revista do Instituto Anchietano de Pesquisas, São Leopoldo, n. 25, 1986.
A partir de 1889 formaram-se diversas instituições em torno do imigrante alemão e seu descendente,
que procuravam contemplar todas as esferas de sua vida, na política os jesuítas criaram o Partido Ca-
tólico (oCentro Católico ou o Zentrumsparteir; na esfera econômica organizaram o sistema de crédito
das Caixas Rurais União Popular, ou como os colonos a chamavam. a Sparkasse, inspirada no siste-
ma de crédito desenvolvido pelo alemão Friedrich Wilhelm Raiffeisen (1818-1888); na educação, a
Asso~iação de Professores (Lehrerverein]; formaram a associação de agricultores (Bauernve rein} que
46 Weber indica o ano de 1888 como data de surgimento, na forma de encurte da Deutsche Post (Weber,
a partir de 1912 passou a ser Sociedade União Popular para Alemães, a Yolksverein; criaram as Asso-
loc. cit., p. 295). d . (282) ciações Paroquiais (Pfarreivereine); formaram um núcleo colonial (Colônia Porto Novo) no oeste ca-
47 Hundert Iahre Deutschtum in Rio Grande do Sul indica 190 I como ano e surglmento p. .

André Carlos Werle O Discussões acerca da imprensa nos congressos católicos ... 123
122 Imigração & Imprensa O Conferências

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