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Contenido

Dedicatória
Prólogo
Agradecimentos
Introdução
1. Definições essenciais
2. Perguntas míticas sobre a hipnose
3. Pressuposições de toda experiência humana
4. Três princípios psicológicos
5. Sugestões e chaves pós-hipnóticas
6. Teste de sugestionabilidade
7. Aprofundizadores do estado de transe Aprofundizadores do estado de
transe
8. Diferença entre consciente e inconsciente
9. Hipnose e sua sequência básica
10. Estruturas de evocação: métodos para evocar em hipnose
11. Regras da mente
12.Induções
13. Ressignificar o vivenciado
14. Utilização: uma indução naturalista
15. Regressões e progressões
16. Exercícios
Padrões Terapêuticos Linguísticos: O Uso da Homofonia à “Erickson”
Biografia do autor
Outros livros do autor: Superando pessoal e auto-ajuda: Hipnose - PNL -
Leituras de transformação
Outros livros do autor: Liderança e Gestão: Coaching
DEDICATÓRIA

A Betty Alice Erickson,


que me ensinou como a hipnose transforma o dia a dia na alegria de viver,
desfrutando o transe do tempo.
PRÓLOGO

Conheci Paul em dezembro de 2008. Passava das três da tarde de um belo


dia de verão, e eu representava o paciente de um aluno do Curso de
Hipnose Clínica que estava prestando seus exames finais.
Alguns dias antes a secretária do local onde eu trabalhava comentou sobre
a possibilidade de ter acesso a sessões gratuitas de hipnose. Como não me
encontrava em um bom momento emocional, pensei que “seria bom tentar
e ver o que aconteceria”. A propósito, a sessão me ajudou muitíssimo, e
naquele momento ainda nem imaginava o que viria depois. Naquele dia
minha vida tomaria um rumo inesperado.
Um ano depois, também numa tarde de verão, recebi uma chamada
informando que Paul Anwandter e Andrea Castro Dussert, então
Coordenadora de Relações Estudantis, estavam me convidando para
trabalhar com eles no projeto denominado Academia Inpact.
A partir daquele momento Paul não só se transformou em meu chefe, mas
também em meu mentor, meu amigo, meu professor e muitas vezes em
meu confidente. Por isso, quando me pediu para escrever o prólogo deste
livro, Hipnose Ericksoniana - Competências Essenciais, além de me sentir
muito honrada, recordei imediatamente cada um dos passos que me
conduziram por este caminho.
Este livro fala disso, dos infinitos caminhos e possibilidades, de como
podemos mudar de rumo com uma decisão em nossas vidas, de como
estamos preparados para enfrentar mudanças ou dificuldades e transformá-
las em aprendizagem e otimismo.
Neste livro você encontrará uma linguagem simples, mas que muitas vezes
vai além do que nossa mente consciente pode compreender. Irá ajudá-lo a
entender que muitas das nossas ações, experiências, impulsos, sentimentos,
tristezas e alegrias provêm de nossa mente inconsciente. Como Paul diz
muito bem “…o paciente irá lhe dizer que não tem controle dos seus atos,
pois o que acontece com ele, não acontece no plano do que ele percebe,
mas no plano do que não se vê”.
Paul consegue cristalizar neste livro tudo o que ensina diariamente, não
apenas às centenas de alunos ou àqueles que tiveram a sorte de assistir
suas aulas como ouvintes, mas também àqueles que tiveram a
oportunidade de falar com ele.
O livro Hipnose Ericksoniana: Competências Essenciais traz a experiência
de mais de 12 anos de informações fornecidas por Paul Anwandter,
Andrea Castro Dussert e por mim no Curso de Hipnose Clínica da
Academia Inpact, descrevendo em cada uma de suas páginas as técnicas e
demonstrações reais observadas em aulas com resultados simplesmente
surpreendentes.
Em todos estes anos trabalhando com Paul, vi passar centenas de
pacientes, uns mais angustiados que outros, entrando pela porta número 21
e sempre, sempre, sempre, quando saem, são outros, com um sorriso, com
uma luz diferente, com uma semente cultivada que em breve dará frutos
em seu coração. Diante disso só posso pensar que “…um dia também fui
eu…” e imaginar que caminho essa pessoa irá seguir, que caminho
surpreendente.
O verão está quase terminando e o livro que você tem em mãos é um guia
para ajudar e se ajudar, um presente que fala sobre tudo o que somos
capazes de fazer, por nós e por outros; oferece a linguagem da mente em
forma de palavra, que é uma chave para abrir infinitas possibilidades,
talvez um novo caminho, ou talvez não, talvez, quem sabe, mas com
certeza algo a aprender.

Grimanesa González Díaz


Professora de Hipnose
Santiago do Chile, Março de 2017.
AGRADECIMENTOS

Muitíssimo obrigado a todos os professores de hipnose que tive em minha


vida, especialmente a Betty Alice Erickson pelas conversas diárias que me
proporcionou. De forma sábia e divertida ela ia me contando suas
experiências, ao mesmo tempo que me ensinava a transcendência e a
complexidade do simples. Também quero lhe agradecer por continuar o
trabalho de seu pai, Milton Erickson, cuja obra sempre me inspirou e
motivou a seguir um caminho similar.
Obrigado também a toda minha família, minha esposa Janet, meus filhos
Alex e Christian, seus cônjuges Sergio e Consuelo, minha mãe Rosa,
minha sogra Julia e minha neta Inés, com quem vivo meus transes diários.
Também quero agradecer a Andrea Castro Dussert e a Grimanesa
González, professoras da Academia Inpact, com quem compartilho há
mais de doze anos o ensino do Curso de Hipnose Clínica.
Também agradeço de todo coração a:
- Meus queridos amigos e colegas da HCN World: Olvin Cáceres, Ricardo
Escobar e Jørgen Svenstrup, o apoio constante apoio, confiança, suporte e
motivação.
- Os executivos e líderes da INPACT S.A.: Fernando Bacciarini, Jessica
Bulos, Rosa Del Corral, Silvana Trigo e Víctor Yáñez, pois sua
colaboração e apoio são essenciais em tudo o que faço.
- Eunice Letelier, que me ajuda, apoia e assiste com carinho e muita
paciência todos os dias através do seu trabalho, e assim permite que o meu
possa existir.
- Carolina De Ponti e Francisca Martin da Editora Chan!, a edição deste
livro e a diagramação tão bem realizada.
- Sergio Acuña, a linda ilustração que criou para este livro, a qual
transmite uma sensação que para muitos é viver o estado de transe.
- Professor Dr. Arnoldo Téllez López, que fomentou na cidade de
Monterrey a Asociación de Hipnoterapia de Nuevo León (da qual tenho
orgulho de ser membro honorário) e o Congresso Anual de Hipnose
Clínica Ericksoniana. Ambas as obras são referências mundiais deste tipo
de terapia e foram uma grande contribuição para a Hipnose Clínica
Ericksoniana.
- Minha amiga Lorena Gaytán, psicóloga e hipnoterapeuta, que com seu
trabalho e dedicação contribuiu levando o curso “Hipnose: Competências
Essenciais” para a cidade de Monterrey.
Finalmente quero agradecer aos meus queridos alunos a permanente
confiança no que faço, e a você, querido leitor com este livro em mãos,
com quem começaremos juntos uma nova viagem.

Santiago, 30 de Dezembro de 2016.


Paul Anwandter
INTRODUÇÃO

Sabe-se que Milton Erickson teve milhares de alunos em oficinas, no


entanto, somente alguns foram muito próximos dele. Betty Alice Erickson
foi uma de suas “primeiras” alunas, pois sendo sua filha, acompanhava-o
desde pequena no seu trabalho e apoiava-o como “sujeito hipnótico” nas
demonstrações dos fenômenos do transe.
Se você já teve contato com a Hipnose Ericksoniana, deve saber que a
dificuldade no ensino e aprendizagem desta disciplina reside no fato de
que Milton Erickson transmitia seus conhecimentos e técnicas com a firme
convicção de que quem devia aprender era a mente inconsciente, e não
necessariamente a mente consciente de seus alunos.
Deste modo, o material contido neste livro propõe uma desconstrução do
trabalho de Erickson e provém também de meus professores e suas
próprias versões. Portanto, somam-se a isso as minhas interpretações,
background e vivência, certamente questionáveis diante de quanto a minha
perspectiva poderia estar apegada em relação ao que o Mestre propunha.
O paradoxo seria que esta proposição (a minha) poderia ser uma
preocupação superficial para Milton Erickson, pois provavelmente, se a
minha compreensão inconsciente do seu trabalho fez com que eu perceba o
que percebo e tenha aprendido o que aprendi tal como estou escrevendo,
então, esta seria a coisa certa.
O conteúdo deste livro é uma condensação do material que fornecemos e
ensinamos no Curso de Hipnose Clínica Ericksoniana da Academia Inpact,
que ministro há mais de treze anos juntamente com as professoras Andrea
Castro Dussert e Grimanesa González Díaz. Este curso consiste em
dezoito dias em sala de aula e um forte incentivo adicional em práticas e
teoria, do qual selecionei o conteúdo e exercícios que possibilitam iniciar
os estudos de Hipnose, com um total equivalente a quatro dias. Este
mesmo material também foi utilizado nos últimos anos em vários países da
América Latina no formato de um workshop de quatro dias denominado
“Hipnose: Competências Essenciais” ou “Hypnosis: Essentials Skills”.
Além disso, este livro contém vários exercícios e exemplos com
fragmentos de sessões extraídos da minha própria prática como
profissional da hipnose, para que você possa verificar e observar processos
em que se aplica diretamente o que estamos abordando. Obviamente, a
identidade daqueles que participaram destas sessões foi preservada com
nomes fictícios, assim como me autorizaram utilizar este material.
Se você é terapeuta, coach, practitioner ou master practitioner em PNL,
psicólogo, médico, profissional da saúde, conselheiro, mediador,
consultor, interessado nas tecnologias de desenvolvimento humano
(TDH’s) ou simplesmente na comunicação humana, tenho certeza que este
livro será de grande auxílio para você, pois apresenta como a hipnose pode
ajudar as pessoas e como permite desconstruir adequadamente as
experiências comunicacionais que vivemos no dia a dia.
Espero que este livro possa ser uma contribuição para o seu trabalho e sua
curiosidade, e de alguma forma, hoje talvez inimaginável, incorpore parte
do que se propõe para melhorar sua qualidade de vida, e você e os seus
sejam mais felizes.

Santiago, 30 de dezembro de 2016.


Paul Anwandter
1. DEFINIÇÕES ESSENCIAIS

Hipnose (Estado Hipnótico)


Se você se interessa por questões de desenvolvimento humano e/ou leu
algum texto sobre hipnose, pode ter encontrado algumas definições
descrevendo a hipnose como:
- Um estado alterado de consciência.
- Um estado distinto de consciência.
- Um estado dissociado de consciência.
- Um estado dissociado que faz parte da fisiologia habitual do sistema
nervoso central.
Eu gostaria que você refletisse sobre estas definições, visto que, das
quatro, somente a última é completamente correta.
A primeira definição, uma das mais comumente conhecidas, indica que
hipnose é um “estado alterado de consciência”. Esta definição é incorreta,
porque a hipnose não altera a consciência. Para alterar a consciência, em
comparação com o estado de vigília que vivemos “normalmente”, seria
necessário a presença de algum fármaco e/ou droga no corpo.
A segunda definição indica que é um estado “distinto” de consciência, e
nesta definição percebemos que falta uma referência, pois é diferente do
quê? Não fica claro com o que está se comparando esse estado de
consciência e, portanto, torna-se difícil precisar sua definição.
A terceira definição indica que hipnose é um “estado dissociado de
consciência”, o que é parcialmente correto, pois, efetivamente, sempre que
nos encontramos num processo de dissociação da nossa realidade, dá-se o
fenômeno de transe.
À definição anterior devemos acrescentar algo essencial, pois este “estado
dissociado” faz parte da fisiologia habitual do Sistema Nervoso Central.
Assim, obtemos um conceito mais completo do que é hipnose, que não
somente traduz como se dá o fenômeno de transe, mas também indica que
existe em todos os seres humanos como uma condição própria da nossa
biologia.
Então, esta definição passa a ser essencial, visto que, tratando-se de uma
condição natural da nossa biologia e reconhecendo os momentos em que
as pessoas se encontram nesse estado de dissociação de consciência,
saberemos que estão num estado hipnótico. Esse estado hipnótico ocorre
naturalmente em ciclos de 90 a 120 minutos e se dá de acordo com o
chamado ritmo ultradiano. Este é um termo utilizado em cronobiologia,
relacionado com determinadas atividades biológicas que ocorrem nos
ciclos fisiológicos diários e que afetam nossas condutas, hábitos e formas
de aprender. Os especialistas em hipnose reproduzem esse estado natural
através do uso das palavras durante a terapia.
Transe
É o conjunto de manifestações psicofisiológicas que ocorre numa pessoa,
quando sua mente está totalmente absorta ou focada numa determinada
experiência. Então, se conectarmos esta definição com o conceito de
hipnose, podemos perceber que estamos trabalhando essencialmente a
partir da biologia e da fisiologia. Assim, o que visamos é facilitar ao nosso
paciente uma experiência em que esteja absorto, ou tão focado em algo,
interno ou externo a si mesmo, que tudo aquilo que não for objeto do seu
foco deixe de ser percebido a nível consciente.
Algumas situações em que ocorrem esses fenômenos podem ser, por
exemplo:
- Quando as crianças estão assistindo um filme na televisão, em que seu
grau de absorção é tal que muitas vezes não ouvem o que lhes
perguntamos e, sem perceber, parafraseiam o que os personagens estão
dizendo no filme.
- Ou quando os adultos assistem uma partida de futebol. Lembram como
são os jogos dos campeonatos mundiais de futebol? Milhões de pessoas
assistindo um jogo, absortas na própria experiência.
- Ou quando estamos dirigindo por uma estrada ou rua monótona e a
mente começa a vagar em outros pensamentos que não são próprios da
atividade de dirigir. De repente, paramos num semáforo e não percebemos
a mudança das luzes, até que o automóvel que está atrás toca a buzina para
nos avisar que podemos avançar. Por estarmos absortos em nossas próprias
ideias, não havíamos percebido isso.
A partir daí eu gostaria de despertar sua consciência sobre um transe que
muitos de nós vivemos no dia a dia e está relacionado com a
multiplicidade de atividades que realizamos ao dirigir, pois não somente
executamos tal ação, que em si é complexa, mas também falamos ao
celular e respondemos mensagens (coisas que obviamente não deveríamos
fazer).
Sugestão hipnótica
É uma frase fornecida pelo especialista em hipnose clínica ao paciente que
se encontra em estado de transe, com a qual lhe são apresentadas opções
de condutas, de comportamentos, de crenças, de ideias, de identidade etc.
Em algumas situações cotidianas também pode-se dar a sugestão
hipnótica, como nos seguintes exemplos:
- Quando um pai diz ao seu filho: “Se continuar fazendo isso, você vai
cair”. Neste caso, para que exista a compreensão da frase, a criança deve
gerar em sua mente a imagem dele mesmo caindo. Se a frase é repetida,
incrementará a probabilidade de queda. Nesse caso, o pai irá se dirigir ao
filho com um “eu disse”.
- Quando vamos ao médico e, na série de procedimentos que deve realizar,
ele avisa: “Isto não vai doer muito”. Então, para imaginar esse “não
muito”, devemos primeiramente imaginar “muito”, e nossa mente não sabe
quanto é isso em função da dor.
- Há situações semelhantes em que o médico nos diz: “Esta injeção vai
doer um pouco, mas vai acabar rapidamente com a sua dor” ou “Em cinco
minutos a dor vai passar”. Em todos estes casos percebemos que a
referência é a palavra ‘dor’.
- Ou quando alguém adverte: “Se continuar comendo assim, vai engordar”.
Aqui a pessoa entende que se continuar comendo engordará, pois o
“assim” não é claro.
Numa determinada ocasião um menino de sete anos chegou correndo para
entrar na sala de aula e se colocou no início da fila de alunos; então, o
inspetor lhe disse: “Seu sobrenome começa com a letra Z, você é dos
últimos, você é sempre dos últimos”. E foi o que fez depois em sua vida,
ele estava sempre entre os últimos. Para ele, a forma como o inspetor falou
foi tão forte, que ficou como uma marca, um selo indelével. O interessante
neste caso é que o menino só registrou “você é sempre dos últimos”,
atribuindo poder ao inspetor, e não registrou “é dos últimos na fila (em
ordem alfabética), pois seu sobrenome inicia com a letra Z.” Simplesmente
esqueceu essa parte.
Muitas vezes na vida as pessoas estão fornecendo sugestões hipnóticas a
outras pessoas, sem que haja consciência do que se transmite ou do que se
ouve, sejam estas sugestões positivas ou negativas.
Às vezes estas sugestões são muito positivas, como, por exemplo, aquelas
fornecidas por “mães auxiliadoras”: “Você é capaz meu (minha) filho(a),
você pode, você sempre consegue, é tão talentoso(a), é tão bonito(a) e
inteligente, ninguém é igual a você”.
Sugestionabilidade e Hipnotizabilidade
‘Sugestionabilidade’ é a aceitação sem críticas das opções fornecidas ao
paciente como sugestões hipnóticas. A partir daí a confiança do paciente
no terapeuta é essencial, pois disso dependerá que esteja aberto às
diferentes opções que lhe são apresentadas. Sob esse aspecto, o terapeuta
deve ter consciência da necessidade de estabelecer uma profunda empatia
e rapport com seu paciente. ‘Hipnotizabilidade’, por sua vez, seria a
facilidade para entrar em estado de transe.
Então, podemos fazer uma distinção importante, pois sugestionabilidade
tem a ver com a disposição para participar no âmbito da hipnose e com a
empatia, enquanto que hipnotizabilidade está relacionada com a biologia
do paciente, que lhe permitirá entrar em estado de transe com maior ou
menor facilidade. Por outro lado, por mais que exista hipnotizabilidade em
nosso paciente, se não estiver aberto às sugestões, não viverá a experiência
do transe que lhe está sendo proposta.
Vale ressaltar que, assim como existem pessoas que já têm essa
competência de hipnotizabilidade altamente desenvolvida, no Curso de
Hipnose Clínica Ericksoniana que ministro, cuja duração é de um ano,
uma parte importante do trabalho realizado com os alunos consiste em
desenvolver suas competências hipnóticas. Podemos afirmar que esta
competência biológica está centrada na capacidade que a pessoa possui de
se concentrar num objeto, ideia, experiência etc.
É interessante notar que as mensagens com sugestões hipnóticas
direcionadas ao hemisfério esquerdo ou hemisfério direito conseguem
produzir do mesmo modo o efeito de transe em diversas pessoas com
competências diferentes e, obviamente, em diferentes contextos. Todos
nós temos a capacidade de viver a experiência do estado de transe. No
entanto, no dia a dia percebemos que existem pessoas que têm uma
tendência natural para entrar em transe mais facilmente que outras, muitas
vezes em transes profundos. Ainda não foi definido pela ciência o que
causa o grau de profundidade e absorção do estado de transe nas diversas
pessoas, e por que esta vivência acarreta reações tão diferentes de uma
pessoa para outra, mesmo em contextos semelhantes. Mas está
comprovado que a competência de hipnotizabilidade pode ser
desenvolvida através de práticas de auto-hipnose .
Se você disser a uma pessoa que tenha um alto grau de hipnotizabilidade e
sugestionabilididade desenvolvidos: “imagine que está voando numa nave
espacial para Marte”, verá que ela pode viver a experiência como se
estivesse acontecendo realmente. No entanto, não é o especialista em
hipnose que consegue o efeito da experiência, mas a combinação de
hipnotizabilidade e sugestionabilidade que o paciente possui, a
combinação entre sua biologia e sua abertura para viver a experiência,
juntamente com a confiança que sente no especialista.
Portanto, numa primeira conversa com nosso paciente devemos estar
atentos tanto à sua “biologia” como ao desenvolvimento do rapport,
percebendo quais são os seus sinais e a sua linguagem, sem a necessidade
de realizar um teste de sugestionabilidade neste primeiro encontro.
Sugestão pós-hipnótica
É uma frase que se utiliza enquanto o paciente está em transe e lhe
apresenta opções, sejam estas de comportamento, de crenças, de identidade
etc., para que, uma vez concluída a sessão de hipnose, sejam consideradas
e adotadas como novas alternativas de vida pelo próprio paciente.
Uma situação que pode ser utilizada como exemplo:
- Para pacientes que têm pânico de viajar de avião, diz-se a eles que
estejam atentos ao ouvirem o aviso de apertar os cintos e, quando sentirem
o clique ao afivelarem o cinto de segurança, nesse instante eles vão se
sentir relaxados e tranquilos.
A visão Ericksoniana sobre a hipnose apresenta um paradoxo, que deve ser
considerado sob o contexto do que é uma sugestão pós-hipnótica e se dá
com a frase de Milton Erickson em que diz: “Tudo é hipnose”.
Se considerarmos que hipnose é um estado de sugestionabilidade, que
varia de acordo com as competências desenvolvidas e também em função
do rapport, o fato de dar uma sugestão muito específica a uma pessoa
facilita a possibilidade de que possa segui-la posteriormente para resolver
o que está tratando de resolver.
Por outro lado, se “tudo é hipnose”, isto implica que estamos sempre
concentrados, focados ou absortos em algo ou em alguma experiência, e
sob esse ponto de vista temos duas alternativas de estarmos focados:
- A primeira é estarmos concentrados em experiências externas, naquilo
que está acontecendo fora de nós mesmos, como um filme, uma aula, um
jogo etc.
- A segunda é estarmos concentrados numa experiência dentro de nós
mesmos, porque o que está acontecendo fora não é do nosso interesse, não
chama a nossa atenção, parece entediante ou simplesmente porque
preferimos focar nossa mente dentro de nós mesmos e estar com nossas
próprias ideias e pensamentos.
Então, sob a premissa Ericksoniana, o estado de transe nas pessoas dar-se-
á, seja porque algo (de fora) lhes é apresentado e capta seu interesse, ou
porque algo as faz ir para dentro delas e viver experiências internas.
O interessante em considerar esta ideia de que “tudo é hipnose” é assumir
que as pessoas sempre estão vivendo um transe e o especialista de hipnose
deve identificar se o transe é externo ou interno. A partir desta reflexão
surgem as perguntas: Se tudo é hipnose, como podemos dizer que há
sugestões pós-hipnóticas? E em que momento temos uma sugestão pós-
hipnótica?
Devemos entender que essa ideia Ericksoniana é simplesmente um
conceito facilitador de compreensão da realidade. Como terapeutas, o que
estamos buscando como sugestão pós- hipnótica é fornecer opções e
alternativas ao nosso paciente para que utilize depois da sessão. Portanto,
um termo mais adequado talvez fosse “sugestão pós-sessão de trabalho
terapêutico”.
Resumo
Hipnose (Estado Hipnótico)
- Estado dissociado que faz parte da fisiologia habitual do sistema nervoso
central.
Transe
- É o conjunto de manifestações psicofisiológicas que ocorrem numa
pessoa quando sua mente está totalmente absorta ou focada numa
determinada experiência.
Sugestão Hipnótica
- Frase que apresenta opções para a pessoa, sejam estas de comportamento,
de crenças, de identidade etc., quando se encontra em transe.
Sugestionabilidade
- A aceitabilidade sem críticas das opções fornecidas à pessoa.
Hipnotizabilidade
- A capacidade de entrar ou não em transe.
Sugestão Pós-Hipnótica
- Frase que apresenta opções para a pessoa, sejam estas de comportamento,
de crenças, de identidade etc., quando está em transe, para que, uma vez
concluída a sessão, sejam consideradas e adotadas pelo paciente.
2. PERGUNTAS MÍTICAS SOBRE A HIPNOSE

A hipnose está presente na história da humanidade desde os tempos


antigos. Já então lhe atribuíam poderes mágicos, pois não se conheciam as
explicações sobre o fenômeno biológico de transe e suas implicações.
Devido a essa falta de informação foram gerados uma série de mitos sobre
o que fazia a hipnose e o seu alcance, ou seja, quanto poder alguém tinha
sobre outras pessoas ao dominar estas técnicas, tendo sido associada à
magia e à bruxaria. Lamentavelmente algumas destas crenças perduram até
os dias de hoje.
A palavra hipnose é frequentemente associada a ‘poder’ em sua acepção
como verbo e substantivo. Parte desta ideia pode ter sido reforçada com o
denominado “efeito Svengali”, difundido e popularizado especialmente
por um filme lançado em 1931, baseado na novela Trilby de George du
Maurier, que já contava com uma versão no cinema mudo durante os anos
20. A trama descreve um professor, chamado Svengali, que possui
conhecimentos avançados de hipnose e os utiliza para manipular e dominar
os demais personagens, fazendo-os perder sua vontade - inclusive levando-
os à morte - para assim obter poder, sexo, dinheiro e outros resultados para
sua conveniência.
Também contribuiu para esta falta de informação o fato de um grande
número de pessoas terem assistido espetáculos de hipnose (ao vivo, na
televisão ou no cinema), nos quais esta disciplina é apresentada
parcialmente, realimentando exatamente os mitos existentes sobre essa
ideia do “poder”. Assim, consolidou-se uma visão equivocada do real
alcance desta ferramenta terapêutica.
A seguir responderei as perguntas mais frequentes dirigidas a nós, que
trabalhamos no mundo da hipnose, para esclarecer as dúvidas gerais que
existem sobre este tema, bem como contribuir para desmistificar as
crenças associadas ao “poder” e ao controle da mente de um indivíduo de
forma involuntária.
O que acontece se não puder sair do transe?
Para nós, que trabalhamos com Hipnose Ericksoniana, esta pergunta
sempre nos leva a uma complexidade. Se para Milton Erickson tudo é
transe, então, nunca se poderia sair de um estado hipnótico. No entanto,
para quem não conhece hipnose, a pergunta se refere ao fato de, uma vez
estando em transe, percebido como um estado semelhante ao de dormir, a
pessoa não despertar ou não sair desse estado. Por exemplo, se ao dar a um
paciente a sugestão de que está voando tranquilamente num avião, não
pudesse parar de pensar que está voando no avião. Ainda que isto não
possa realmente acontecer.
É importante ressaltar que, assim como estar num estado de transe é um
fenômeno biológico normal, também o é mudar nosso foco de atenção
após um período de tempo. Portanto, sempre vou sair do transe,
entendendo-se este como a absorção profunda em alguma experiência
específica.
O que pode acontecer é que um paciente, que esteja muito cansado, pode
passar de um transe hipnótico a um sono fisiológico no meio de uma
sessão. Dependendo do seu cansaço, pode permanecer adormecido por um
longo tempo… Então, o que acontece é uma confusão entre ambos os
estados. Se algo assim acontecer, o terapeuta deve apenas “despertar” o
paciente, como se ele estivesse dormindo.
Só as mentes fracas podem ser hipnotizadas?
Esta pergunta na realidade está mal formulada, pois carece de referência
comparativa para poder estabelecer uma medição desta “fraqueza”. Não há
clareza em relação àquilo que se considera uma “mente fraca”, pois,
embora alguns possam dizer que se trata de alguém muito “sugestionável”,
acontece que quem é sugestionável não é necessariamente fraco.
Se a competência da hipnotizabilidade está correlacionada com os fatores
biológicos da focalização e concentração, então, podemos aceitar que a
mente das pessoas muito inteligentes é geralmente muito focada e tem uma
excelente concentração nas áreas nas quais se desenvolvem com
excelência.
Para definir ‘inteligência’ gostaria que tivéssemos em mente a teoria de
Howard Gardner sobre as Inteligências Múltiplas, a qual propõe que os
seres humanos têm mais de uma “inteligência”, classificadas em oito tipos:
a linguística, a musical, a lógico-matemática, a espacial, a corporal-
cinestésica, a intrapessoal, a interpessoal e a naturalista.
Gostaria de salientar que, via de regra, as pessoas que são muito
preparadas educacionalmente e estudam ou estudaram muito, têm um
excelente treinamento para se concentrar e focar no objeto do seu estudo,
trabalho e/ou atividade. Portanto, se a pergunta se refere a “mente fraca”
entendida como carente de inteligência, podemos dizer que acontece
exatamente o contrário. Quando se acredita que a pessoa seja
sugestionável, isto tem a ver com o grau de confiança e não com as
competências intelectuais.
Eu perco o controle da mente quando estou em transe?
Nesta pergunta não fica muito claro a que se refere com "perder o controle
da mente". Trata-se de alguém pensando por mim?
Em determinadas situações não temos controle de nossas mentes e trata-se
da geração de nosso sistema fisiológico através de significados. Eu diria
que neste caso acontece aquilo que Alfred Korzybski denomina “reações
semânticas”. Por exemplo, se há um acidente ou algo escapa à minha
média normal de aceitabilidade de sucessos, e indo a um caso extremo em
que nesse acidente aconteça algo muito grave, pode acontecer que eu já
não tenha controle da minha mente e comece a funcionar meu sistema
límbico e reptiliano. Isto é, estou num processo automático e posso
descobrir depois que fiz muitas coisas sem ter consciência. Em outras
palavras, não tive o controle consciente de tudo o que aconteceu.
Uma pessoa embriagada devido à ingestão de álcool também pode perder
o controle do que faz e eventualmente se perguntar “como foi que eu fiz
isto?!” Neste caso a perda de controle ocorre devido ao álcool ter como
elemento principal o etanol, que é um depressor do sistema nervoso central
e altera a percepção sensorial, assim como determinadas funções do
cérebro.
Como podemos observar, em ambos os casos estamos falando de
circunstâncias extremas, pois efetivamente existem situações em que
podemos não ter o controle da nossa mente. No entanto, para que isto
aconteça, nossa mente deve estar num estado “alterado de consciência”
pelo contexto crítico ou pela existência de alguma droga.
Num estado de transe a pessoa tem pleno e absoluto controle da sua mente.
Se a pessoa recebesse uma sugestão para realizar uma ação ou uma
conduta, que viole seus princípios ético morais ou seus valores, ela
simplesmente a rejeitaria e sairia do estado de transe.
Posso dizer coisas que não quero?
Esta pergunta envolve implicitamente a dúvida sobre se alguém, que está
num estado de transe, pode “perder” o controle da sua mente diante de
alguém que tenha o poder de fazê-lo dizer coisas que não quer; obviamente
sem utilizar a força física, apenas por meio de palavras.
Realizei terapia com casais, e certa vez um dos membros de um casal me
disse: “Eu quero que meu cônjuge trabalhe com você. Às vezes desaparece
e, como lamentavelmente tem episódios de amnésia, não se lembra de
nada do que fez durante alguns dias”.
Meu primeiro impulso seria lhe dizer: “Aparentemente você precisa de
outro “tipo” de especialista, não de um especialista em Hipnose Clínica”.
E foi quando o outro membro do casal, o que desaparece, me perguntou:
“Eu poderia dizer coisas que não quero dizer?”
A realidade mostra que, se a pessoa não quer dizer algo que
conscientemente sabe, mas se nega a comunicá-lo, esta pessoa
simplesmente não o dirá, pois terá controle total durante o estado de transe
sobre o que quer contar ou se calar.
É diferente da condição existente em relação a determinadas recordações
que estão esquecidas e surgem no estado de transe, quando o inconsciente
da pessoa acredita que seja o momento destas se tornarem presentes e
esteja disposto a recordá-las e contá-las. Neste caso a pessoa terá
informação adicional à que tinha no início da sessão e irá mencioná-la, ou
não, somente se realmente lhe interessa.
Posso fazer coisas que não quero por perder o controle?
Esta pergunta é semelhante à anterior. No entanto, está mais orientada a
alguém que, num estado de transe, poderia ter comportamentos e condutas
que não lhe são próprios devido a alguém ter tomado “o controle” da sua
mente. A hipnose de espetáculo, que se apresenta nos shows ou programas
de televisão, bem como em vários filmes, gerou a crença de que isto é
verdadeiro, ou que a hipnose é uma tapeação e que está tudo previamente
combinado.
A partir da hipnose de espetáculo e em relação ao controle da mente sobre
outras pessoas costuma-se fazer a pergunta: É verdadeiro ou é falso? Na
realidade não é falso; é muito verdadeiro. No entanto, não está sendo
contada parte importante e significativa de como funciona este processo, e
a partir daí gera-se o mito.
O especialista de hipnose de espetáculo, antes de chamar as pessoas ao
palco, realizou uma seleção das mesmas de acordo com suas
“competências hipnóticas”. Só vai trabalhar com aquelas que tenham um
altíssimo grau de sugestionabilidade e hipnotizabilidade. Caso contrário,
seria extremamente arriscado para sua imagem e futuro profissional. Parte
importante do trabalho que estes profissionais realizam é a detecção destas
competências.
Então, na hipnose de espetáculo há uma série de situações que são básicas.
Primeiramente, a vontade com que os espectadores levantam a mão torna
evidente que querem estar no palco - pela razão que for - e isso é
fundamental, pois existe a “vontade” de querer participar. Além disso,
existe a vontade de não querer decepcionar o público, ou seja, a pessoa
pensa “como pode não funcionar comigo, se funcionou com todos?” E
lembrem-se de que foi feito um teste de sugestionabilidade e
hipnotizabilidade, seja através da linguagem ou outros através dos quais
foi “calibrado”.
Portanto, quando esta pessoa é chamada ao palco, o mais provável é que
tudo o que lhe pedirem para fazer, ela fará. Por exemplo, se o especialista
de hipnose de espetáculo lhe diz: “Vamos ver, imagine que agora está
cantando no chuveiro”. Se a pessoa alguma vez cantou no chuveiro, o mais
provável é que irá replicar isso no estado de transe, talvez tomando banho
como se não houvesse ninguém observando, e isso é o que torna a cena
cômica para alguns. O engraçado para muitas pessoas é estar fazendo algo
que está fora do contexto, mas não significa que a pessoa não saiba disso,
apenas não dá importância, uma vez que quer fazê-lo. Simplesmente não
tem noção de que não está no contexto adequado. Então, o que funciona
neste caso é o sentido do humor, e o humor, como você deve saber, joga
com os contextos para produzir o efeito desejado. Além disso, é muito
difícil que alguém diga em público: “Não, não quero ir”, e que do mesmo
modo lhe digam: “Venha de qualquer maneira e faça tudo o que eu pedir”.
Temos uma distinção interessante entre o que é hipnose clássica e o que é
hipnose Ericksoniana.
- Na hipnose clássica existe o que se denomina “o controle”. Existe um
operador e um sujeito. Então, o controle é exercido pelo operador sobre o
sujeito baseado em comandos, ou seja, não se fornecem sugestões e sim
comandos. Esta é uma palavra militar, “eu comando”, e quando é dita à
pessoa que veio do público, é ressaltada como se fosse um comando ou
uma ordem militar, e isto inconscientemente já implica poder.
Em sua encenação o especialista de hipnose de espetáculo utiliza seus
dotes teatrais quando fornece “comandos” e “ordens” à pessoa do público -
que nesse momento está no palco - e esta os segue (pois possui altas
competências hipnóticas). No entanto, o público geral terá a percepção de
que o especialista tem o poder e controle sobre a mente da pessoa.
Posso aprender a me hipnotizar?
Se retomamos a pressuposição Ericksoniana de que “tudo é transe” e que
de alguma forma estamos sempre “hipnotizados”, podemos mudar a
pergunta para “Posso ter eu mesmo o controle daquilo que quero viver
como transe?” Isto é, se posso estabelecer conscientemente a vida que
quero viver, seja a que esteja fora ou dentro de mim, e que eu tenha o
poder de escolher como viver.
Muitas vezes estamos vivendo esse transe. Uma experiência em que você
se concentra e não percebe o que está vivendo. Obviamente isso acontece
porque faz parte do próprio transe. E também quando temos a
possibilidade de reconstruir nossos significados e interpretações, como se
fosse um filme diferente do que se está vivendo, e depois se repete muitas
vezes esse mesmo filme. O que está fazendo é auto-hipnotizar-se.
Você deve conhecer crianças pequenas que têm um filme favorito e
frequentemente querem voltar a vê-lo. Podem repeti-lo dez ou quinze
vezes, e em cada ocasião vão adquirindo nova informação dos diálogos e
dos personagens, momentos em que se encontram totalmente absortos
naquilo que estão assistindo.
Podemos classificar de forma muito simples que vivemos transes positivos
e transes negativos com base no significado da emoção que essa
experiência nos provoca. Por exemplo, o transe de um duelo pelo
falecimento de um ente querido seria um transe negativo para muitas
pessoas em nossa cultura ocidental.
Sabemos que o transe do duelo tem certas etapas que se dão
sequencialmente. Dentre os vários modelos que descrevem o duelo,
Elisabeth Kübler-Ross, por exemplo, apresenta cinco etapas:
1. Negação
2. Ira
3. Negociação
4. Depressão
5. Aceitação
Quando uma pessoa está vivendo o processo de duelo e permanece um
tempo maior que o aceitável para si mesma em alguma das etapas, existe
uma alta probabilidade de que apresente condutas mescladas com o foco
da etapa em que se estabeleceu o transe negativo. Do mesmo modo, se
alguém vive um duelo e não passa por todas as etapas, se não o resolve, o
mais provável é que seu modo de viver, seu estado interno, estará sempre
como que drenado para o negativo, ou seja, não conseguirá sair desse
estado interno.
Isto parece com um conto popular que diz:
Alguém chega no campo e vê um cachorro latindo “auuuu, auuu” ao lado
de um camponês. Então, essa pessoa pergunta ao camponês:
- Mas o que acontece com o cachorrinho que está latindo?
Ao que o camponês lhe responde:
- Acontece que o cachorro está sobre um prego.
Então, a pessoa insiste:
- Mas por que não sai de cima desse prego? É tão fácil fazer isso e assim
parar de sofrer.
E o camponês lhe responde:
- Em primeiro lugar, o prego é seu. Segundo, ele está acostumado. E
terceiro, é que ainda não lhe dói o suficiente.
O interessante dos transes é que podemos simular o “transitar”, movendo-
nos de um transe negativo para um transe positivo, e mudar/imaginar em
nossa mente o que desejamos viver. Ao fazer isso, estou me hipnotizando
para conseguir coisas que são do meu interesse .
Existe perda de consciência?
Esta pergunta nos leva diretamente à necessidade de perguntar: “O que é
consciência?” E de acordo com a definição que nos apresenta o Novo
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, consciência é: “Faculdade de
estabelecer julgamentos morais dos atos realizados. Conhecimento
imediato da sua própria atividade psíquica. Conhecimento, noção, ideia.
Cuidado com que se executa um trabalho, se cumpre um dever; senso de
responsabilidade. Honradez, retidão, probidade.”
Por outro lado, com esta definição surgem novas perguntas, tais como:
- Quem é o observador da realidade “na realidade”?
- Quando falamos, quem é o que está falando?
- Quem é o que diz coisas a você?
- Quando tem consciência do seu ser, por exemplo, quem teve consciência
do mesmo?
- Intuímos que há alguém mais, já que consigo ter essa consciência, mas…
a partir de onde a consigo?
- Então, está claro que tenho consciência da consciência, e também poderia
perguntar: Quantos níveis de consciência posso ter?
Segundo a teoria dos sistemas de Gregory Bateson, temos quatro níveis de
aprendizagem que estão relacionados com essa consciência. No nível zero
vive-se a experiência e não existe a consciência dela mesma, portanto, não
tem correção. No nível um aprendemos e podemos gerar algumas
alternativas e correção de erros sobre o que se realizou e a experiência
pode ser analisada de forma dissociada. No nível dois temos uma mudança
sobre o realizado no nível um, onde já se podem gerar alternativas para
selecionar as melhores opções, estruturam-se estratégias e pode-se refletir
sobre como se pensava sobre a experiência que se viveu. E no nível três há
novamente um processo de consciência em relação à aprendizagem no
nível dois, pois nos encontramos com três saltos dissociativos, o que
produz muitíssima abstração e geralmente temos um pensamento e
desenvolvimento de consciência ligados ao transpessoal.
Acredito que estes níveis de consciência ainda estão nesta etapa, tal como
havia definido Bateson. Certamente, à medida que avançamos com nossa
capacidade de processar a informação em nossa mente, alcançaremos mais
níveis de abstração e distintos níveis de consciência.
Como estados internos biológicos ordinários ou normais de consciência
podemos definir que existem o estado de vigília e o estado de sono. O
primeiro acontece quando estou acordado e tenho atenção e conhecimento,
tanto do que acontece no contexto em que me encontro, como de mim
mesmo. E o segundo divide-se em sono profundo e sono REM.
O transe irá ocorrer no estado de vigília e este se dará quando o paciente se
encontrar isolado num dos focos da sua experiência. Por exemplo, quando
você está assistindo um filme na televisão e encontra-se totalmente
absorto, talvez não “preste atenção” a um comentário feito por alguém que
esteja com você. Você certamente o ouviu, mas não lembra
“conscientemente” o que foi com exatidão.
Não existe uma perda da consciência quando os pacientes estão em transe,
simplesmente a experiência primária que nossa mente seleciona, que em
terapia são as sugestões fornecidas pelo especialista de hipnose clínica,
passam a ser mais importantes que o contexto externo no qual está
inserido. Por exemplo, se houver um incêndio e o paciente estiver em
transe, ele certamente despertará e sairá para se proteger.
Existe perda de “vontade”?
A pergunta traz implicitamente a dúvida sobre o controle e poder da
hipnose sobre a mente das pessoas e, como já vimos, isto carece de total
fundamento. Esta dúvida se sustenta em casos de pessoas que fizeram
determinadas coisas que, dizem, não queriam fazer, mas que do mesmo
modo fizeram, e posteriormente atribuem a responsabilidade por terem
feito à hipnose para se liberar de qualquer responsabilidade.
Por exemplo, emulando o efeito “Svengali”, há pessoas que dizem ter sido
seduzidas por outras, pois estas as “hipnotizaram” e, como você sabe, isto
não pode acontecer, pois ela mantém normalmente as suas faculdades
mentais e o controle. O mais provável é que esta pessoa se permitiu viver
aquilo, usando a hipnose como responsável.
Note que em todos estes casos estamos falando de pessoas que não
tomaram drogas ou medicamentos.
Hipnose é o mesmo que dormir?
Hipnose ou estado de transe não é o mesmo que dormir.
Em termos de ondas cerebrais, num estado de transe hipnótico a frequência
é de aproximadamente 8-13 Hz (ondas Alfa). O estado é semelhante ao pré
sono, com um relaxamento agradável e com atenção ao que diz o
especialista de hipnose clínica. No estado de sono (dormindo), uma vez
que o cérebro já está totalmente relaxado, temos uma frequência de 4-8 Hz
(ondas Theta). Neste estado temos sono profundo e o paciente deixa de
seguir as instruções do especialista de hipnose clínica.
Se você, como terapeuta, trabalha com um paciente que não responde ao
que lhe diz, provavelmente ele está muito cansado e em estado de sono
profundo. Se você se deparar com isso na sua consulta, simplesmente
desperte-o como faria com qualquer pessoa que esteja nesse estado.
Todo mundo é hipnotizável?
Com certeza você já ouviu alguém comentar que determinado terapeuta se
esforçou muito e não conseguiu hipnotizá-lo. Então, estabelece-se a dúvida
a respeito, se a limitação neste caso está no paciente ou no terapeuta.
Podemos afirmar que a controvérsia se soluciona facilmente, pois isto
depende das técnicas que o terapeuta utiliza e é ele mesmo quem decide
quais irá utilizar. Muitas vezes em alguns modelos de hipnose existe uma
grande rigidez nos procedimentos utilizados na indução, o que pode ser
inadequado para um paciente ou outro. A hipnose Ericksoniana tem como
paradigma a adaptação dos seus procedimentos de indução à singularidade
de cada paciente, exatamente para evitar a limitação apresentada por
outros modelos.
Então, posso afirmar que todas as pessoas que tenham competência para
poder se concentrar, controlar a linguagem, não tenham nenhum
comprometimento neurológico e não estejam sendo medicadas com
fármaco ou droga que altere seu estado de consciência, são hipnotizáveis,
se utilizarmos as metodologias da hipnose Ericksoniana e, obviamente,
desde que se utilize a técnica adequada para o paciente.
3. PRESSUPOSIÇÕES DE TODA EXPERIÊNCIA
HUMANA

SOBRE A LINGUAGEM
O início da linguagem falada
Imagine por um momento que algum antepassado humano há 350.000
anos estivesse um pouco distraído observando o céu e, naquele momento,
um animal selvagem se aproximasse silenciosamente e estivesse pronto
para devorá-lo. Nesta hipotética situação, distante uns trinta metros,
também poderia haver outro antepassado humano presenciando a cena.
Com o objetivo de alertá-lo ou ajudá-lo para que reagisse e escapasse do
animal, emitiria um som como “gajigduagdjadft”, muito forte, com o qual
conseguiria chamar sua atenção, salvando-o do predador.
Esse som ou “ruído” permitiria que o antepassado humano o escutasse, e
àquele que o emitisse, que realizasse uma associação específica, pois
estaria relacionando o contexto de perigo com a condição de alerta e
possível fuga para se salvar. A relação existente nesse contexto entre esse
som e o sinal de alerta fornece o que denominamos um significado. Às
definições do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa podemos
acrescentar que um significado é o “sentido de uma palavra ou de uma
frase”, e também o “conteúdo semântico de qualquer tipo de sinal
condicionado pelo sistema e pelo contexto”.
À medida que este som se repita nas mesmas condições contextuais, a
associação som-significado se transforma num sinal ou numa palavra.
Então, como quando os bebês aprendem a falar, nós humanos começamos
a fazer as distinções de sons com contextos através do desenvolvimento de
nossa história. Essa necessidade surgiu quando o antepassado humano, que
havia emitido aquele som para salvar seu semelhante, já não podia usar o
mesmo som - hoje denominaríamos uma onomatopeia - para dizer “quero
comer uma banana” ou “tem que fazer uma fogueira”. Então, deve ter
usado outro som e outro e outro, para ir gerando novos conceitos e
significados.
Nós continuamos no nosso processo de desenvolvimento de linguagem,
criando conceitos a uma velocidade impressionante. O idioma inglês, por
exemplo, já possui mais de um milhão de palavras. No processo de
constituir novas palavras fez-se necessária uma estrutura que desse uma
melhor forma aos conceitos que se desejava transmitir e, dessa maneira,
fornecer melhores conteúdos semânticos. Para tanto começamos a compor
regras, formas e sintaxe, que deram origem ao que consideramos uma
linguagem.
A linguagem advém da nossa necessidade de nos comunicarmos. A partir
daí podemos inferir que no início da nossa história esta constituiu um
impulso e marca vital de distinção, que nos permitiu sobreviver e
desenvolver-nos em contextos que para nós eram hostis.
Sobre como falamos
O processo de nos comunicarmos e de falar utilizando uma linguagem
possibilitou o desenvolvimento de competências que não foram
desenvolvidas na mesma extensão em outras espécies do nosso planeta.
Por exemplo, se você lê obras de Platão ou textos transcritos de filósofos
do mundo helênico, irá notar a riqueza que os gregos tinham para escrever
e se expressar.
Atualmente também existem muitas pessoas que possuem essa mesma
exuberância e variedade expressiva. No entanto, a tecnologia fez com que
a linguagem - tal como era conhecida – se transformasse bastante devido à
necessidade de condensar informação e aumentar nossos processos
mentais, e assim falamos cada vez mais no estilo de “emoticons” e
tendemos a sintetizar utilizando siglas, tais como: ONU, OVNI, OTAN,
UE etc.
Quando mantemos uma conversação com outra pessoa, tenho a impressão
de que a estrutura está se tornando cada vez mais curta, como em rajadas.
Por exemplo:
1) - Como vai?
- Bem! E você?
2) – Onde está trabalhando?
- Lá, no mesmo lugar.
3) – Tem visto alguém?
- O pessoal da faculdade.
4) – Você pretende continuar lá até quando?
- Pergunta difícil! Quem sabe?!…
5) - Ah, foi bom falar com você!
- Igualmente!
Provavelmente você vai reconhecer este diálogo como alguma conversa
que possivelmente já teve ou escutou. Se observar, é extremamente
concisa e convida o interlocutor a utilizar informação que já está na sua
mente para dar sentido ao que está sendo transmitido.
Convido-o a imaginar que esteja na época do Renascimento e observar
como esta mesma conversa poderia se desenvolver até o ponto 2:
1) - Estivemos sem contato há bastante tempo e você é alguém muito
importante na minha vida. Então, estive me perguntando “onde andará?” E
portanto, gostaria de saber como está. O que tem feito ou pensado nos
últimos tempos? Há tanto que compartilhar para nos atualizarmos!
- Minha vida está muito agitada. Observo como o tempo passa... passam
dias e noites, semanas e meses, mas eu o tenho sempre muito presente. A
realidade é que vou dormir muito cansado, mas feliz por saber que as
coisas vão bem, muito bem. Só sinto porque gostaria de estar mais em
contato com meus amigos queridos, como você.
2) – Nestas andanças da vida soube que esteve realizando muitas
atividades e, claro, você tem muitas habilidades para realizar e se
desenvolver em qualquer coisa que lhe agrade, mas eu gostaria de saber
onde e com o que está trabalhando agora.
- No mesmo lugar que comentei na última vez em que nos encontramos. É
um lugar que me acolheu de tal maneira, que sinto que meu
desenvolvimento faz sentido e posso realmente contribuir com o meu
trabalho. Por tudo isso, parece que existe uma completa comunhão de
valores, que me faz feliz e me permite continuar lá com muita alegria e
devoção.
Pelo tipo de vida que levamos hoje, é pouco provável que você (ainda)
tenha um(a) amigo(a) que fale assim, com esse nível de detalhes e de
sutilezas em sua expressão linguística. E se um(a) amigo(a) liga no seu
telefone celular, quando está dirigindo no meio do trânsito da cidade,
talvez você apresente uma estrutura de pensamento “irradiante”, como na
figura que apresentamos a seguir:
Traduzido ao diálogo interno, isto poderia ser algo como:
“Aiii! Tenho que enviar um email ao João assim que chegar ao
escritório… Tenho que retornar a ligação do gerente do banco… Não
posso esquecer de comprar a geleia! Acho que vou aproveitar e ligar agora
para minha mãe… Esqueci de pagar a multa de estacionamento proibido,
melhor me apressar para não sair mais cara… Esta semana tenho que levar
o carro para a revisão… Estou sem dinheiro! Tenho que sacar no caixa
eletrônico… Ahhh… que vontade de voltar cedo para casa hoje… Tenho
que enviar um email ao João assim que chegar ao escritório… Tenho que
retornar a ligação do gerente do banco…”
Esta diferença entre o dia de hoje e o que tínhamos há uns quinhentos anos
atrás, transformou sem dúvida toda nossa linguagem. Para realizar
hipnose, necessitamos uma estrutura de pensamento distinta da que temos
hoje (conforme a figura acima), e a necessária se assemelha mais à que
existia antigamente, isto é, algo como a seguinte figura:

Essa estrutura de pensamento se assemelha a um grande trem, um grande


comboio contínuo. A forma de desenvolver as ideias era uma atrás da
outra, enlaçadas, um assunto após o outro, quando nos concedíamos o
tempo necessário para falar e para ouvir. Mas hoje em dia, com a
velocidade em que vivemos, a cultura de imagens e símbolos que
utilizamos, e a quantidade de tarefas e atividades que temos, torna-se
muito difícil.
Exercício 1:
Por favor, com algum objeto que você tenha próximo (por exemplo: um
lápis, um caderno, um chaveiro, um óculos etc. e que não seja telefone
celular, nem dispositivos eletrônicos), fale ininterruptamente por 5
minutos, sempre sobre o mesmo objeto que está diante de você, e gere em
outra pessoa, que está ouvindo, a imagem do mesmo objeto, mas situando-
o em muitos contextos diferentes. Fazendo isto, você conseguirá levar a
outra pessoa a um transe devido à quantidade de informações e ao "trem de
pensamentos" que foi gerado.
Suponhamos que você esteja segurando uma faca e fale para a outra pessoa
sobre a faca durante cinco minutos.
Pergunta para você:
- Como foi o exercício ao falar ininterruptamente durante 5 minutos sobre
o objeto que você escolheu?
AS PALAVRAS NÃO SÃO AS COISAS SOBRE AS QUAIS
FALAMOS
Falar de uma garrafa, não significa que seja somente da garrafa da qual se
está falando, pois a palavra, conforme vimos anteriormente, é apenas a
representação do objeto, e por meio desta representação conseguimos que
o nosso interlocutor gere a imagem do próprio objeto.
O fato de definir esse objeto produz uma infinita quantidade de
interpretações, já que não se sabe exatamente de que garrafa se está
falando. Não se determinou tamanho, forma, cor, material com que é feita.
Independentemente da pessoa ter ou não consciência do que está dizendo,
essa representação simbólica em sua mente não vem do nada. Deve existir
por alguma razão, talvez por ser um elemento de decoração, ou porque
serve para transportar algum líquido, ou até mesmo para guardar um
veneno e, portanto, a função principal dessa garrafa seria a segurança do
ambiente.
Além dos infinitos tipos de garrafas que existem, estas podem se conectar
com infinitos sistemas que podem existir no mundo. O interessante é que
esses sistemas, que estão fora do nosso paciente ou cliente, também têm
significados específicos para ele, e estes significados passam a ser o que se
torna realmente importante no mundo da hipnose. Estes significados estão
conectados a crenças e valores, e a partir daí têm sua raiz nas emoções. O
modelo de hipnose Ericksoniana trabalha exatamente com as emoções.
Se você procurar no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa o
significado da palavra ‘gato’, vai encontrar as seguintes definições (apenas
as sete primeiras, pois existem muitas!):
Gato (Do lat. cattu)S.m.
1. Animal mamífero, carnívoro, da família dos felídeos, digitígrado, de
unhas retráteis, domesticado pelo homem desde tempos remotos, e usado
comumente para combate aos ratos.
2. Indivíduo ligeiro, esperto.
3. Peça de metal que prende louça rachada ou quebrada.
4. Utensílio de tanoeiro, com que se arqueiam vasilhas e se endireitam
aduelas de pipas.
5. Grampo.
6. Erro, engano, descuido, lapso.
7. No jogo de bicho, o 14º grupo, que abrange as dezenas 53, 54, 55 e 56, e
corresponde ao número 14.
Então, podemos inferir que o Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa nos fornece o consenso do que significa ‘gato’ e, quando
alguém utiliza a palavra em Português, dependendo do contexto, as
pessoas sabem do que se está falando e, portanto, se estamos nos referindo
especificamente ao animal - cuja representação visual é bem diferente de
um cachorro, como espero que você saiba - ou a outra coisa.
O que o dicionário não fornece é a interpretação simbólica que essa
palavra tem para você, pois esta opera em função das suas experiências de
vida e de qual significado lhe atribuiu em cada contexto. Portanto, da
interpretação vamos ao mundo semântico, e podemos afirmar que cada
elemento possui significados diferentes para cada pessoa.
Por exemplo, se um pai castigasse o filho com um balde de água fria,
provavelmente, ao ver um balde, o menino diria internamente: “Oh,
nãooooo! Aqui tem outro balde! O que será da minha vida? Não pode ser,
existem tantos baldes!”
Uma paciente me contou que, quando era pequena, estava brincando com
sua irmã com uma régua de metal, até que num certo momento brigaram,
sua irmã a agrediu com a régua e machucou muito o seu olho direito. A
partir daquele momento não podia ver nada que se parecesse com uma
régua, pois desmaiava.
Então, se desde pequeno eu tive boas experiências com um gato,
provavelmente vou gostar de gatos. Se não foi assim, por ter sido
arranhado por um quando era pequeno, os gatos não serão necessariamente
bons para mim. Os significados que atribuímos aos símbolos são únicos
para cada pessoa.
Exercício 2:
Pense em algo que tenha a cor branca.
- O que poderia estar relacionado com a cor branca para você?
Pense agora num gato.
- O que poderia estar relacionado com gato?
Pense agora num automóvel.
- O que poderia estar relacionado com automóvel?
Comentários sobre o exercício 2:
Suponhamos que para as perguntas: “O que poderia estar relacionado com
a cor branca/gato/automóvel?” Você tenha respondido “cor
preta/cachorro/poluição”.
Quero ressaltar que não existe uma resposta certa ou errada, mas que a sua
resposta fornece informação sobre quais significados você atribui a esses
símbolos (palavras). Acontece que, ao falar de alguma coisa, sem que você
perceba, está falando também de coisas/elementos/ideias/experiências/etc.
que não diz. Isto acontece pelo fato de não poder constituir esse símbolo
(palavra) sem situá-lo num contexto, onde este se relacionará com outros
elementos que você considerou para compor seu sistema de significados.
Por exemplo, se eu falo de uma estrada que é de boa qualidade e tem uma
excelente manutenção, não estou falando dos automóveis que circulam por
ela, da segurança da mesma, da estrada ter sido construída porque as
pessoas necessitavam ir de um lugar a outro, de que a conexão entre esses
dois lugares deve ter gerado algum tipo de comércio, da poluição
ambiental, do ruído, do campo que deixará de ser como tal etc. Tudo
aquilo que não foi dito sobre a estrada será uma pressuposição implícita,
pois não foi dito explicitamente.
Portanto, se considerarmos as palavras (símbolos) ditas numa frase,
podemos assumir que cada uma destas palavras sempre tem uma
correlação com algo que não está sendo expresso. Sob esse aspecto
explica-se porque é tão importante em hipnose ouvir tanto o que se diz,
como aquilo que não se diz.
Exercício 3:
Uma pessoa diz:
- Não sei o que fazer… me sinto só… parece que ninguém quer estar
comigo.
Responda as seguintes perguntas:
- O que está dizendo realmente?
- O que quer dizer ‘não sei o que fazer’?
- O que não disse do que ‘não sabe fazer’?
- O que não disse em relação a ‘se sentir só’?
- O que não disse sobre ‘parecer que ninguém quer estar com ela’?

Exercício 4:
Uma pessoa diz:
- Não sei o que fazer… me sinto só… parece que ninguém quer estar
comigo.
- Ao “ouvir” o que não foi dito na frase anterior, que palavras dessa frase
você resgataria, que são sensíveis para seu cliente?
Comentários sobre o exercício 4:
A pressuposição tem a ver com o exercício de ouvir o que não se diz e a
partir daí resgatar palavras que sejam sensíveis na narrativa do
cliente/paciente.
Muitas vezes as palavras que você irá resgatar têm um peso específico
emocional para seu cliente, têm algo que lhe é fornecido e se conecta,
porque inconscientemente sabem que há uma outra “dimensão” desse
símbolo, como quando se falava da “faca” no exercício 1. Portanto,
quando dizemos que “as palavras não são as coisas sobre as quais
falamos”, deve-se ao fato de estarmos falando sempre em vários níveis de
conexões sintéticas, que por sua vez geram várias dimensões de
significados.
Agora, as perguntas para você deveriam ser: Em qual nível eu vou ficar?
Até onde vou descer? Onde quero estabelecer essa dimensão e essa
profundidade humana?
Como conclusão final podemos dizer que AS PALAVRAS NEM
SEMPRE FALAM daquilo que as relaciona com outras coisas.
NÃO EXISTE UM OBJETO EM ISOLAMENTO ABSOLUTO
Ao ouvir “o que seu paciente ou cliente não disse”, deve resgatar as
palavras que sejam sensíveis para ele(a) em sua própria narrativa. É
verdade que definir o que pode ser sensível para uma pessoa ou outra é
bastante subjetivo. No entanto, de acordo com o que extraímos dos
ensinamentos de Milton Erickson, o essencial será observar a relação que
se produz entre a palavra utilizada pelo paciente e as eventuais mudanças
fisiológicas que estas mesmas palavras podem originar.
Muitas vezes as palavras que o hipnoterapeuta resgata do seu paciente têm
um “peso específico” para ele(a), uma emoção que o conecta com sua
história. Diante disso você irá perceber que essa emoção existe sustentada
por essa palavra e, ao mesmo tempo, deve ter em mente a profunda
dimensão humana que está presente com uma imensidão de conexões
sistêmicas. Portanto, quando dizemos que “as palavras não são as coisas
sobre as quais falamos”, estamos nos referindo sempre a vários níveis de
conexões sistêmicas, em várias dimensões do constructo de realidade que
seu paciente moldou para si mesmo.
Diante disto, para você, como terapeuta, surgem as perguntas: Qual é o
nível em que devo trabalhar? Se fosse como as camadas do nosso planeta
Terra, até onde vai descer? Onde quer estabelecer essa dimensão e
profundidade humana?
É importante ter em mente que, quando dizemos que “não existe um objeto
em isolamento absoluto”, também estamos falando do conceito, palavra ou
símbolo, que não é do que se está falando precisamente, mas das inter-
relações sistêmicas.
Se tomarmos três, simplesmente três palavras ou "símbolos", e falarmos
delas separadamente e em seguida de forma combinada, teceríamos uma
espécie de rede de pesca feita por uma única raiz. Essa raiz pode vir a ser
muito profunda no ideário e no constructo mental da pessoa.
Por exemplo, se alguém tem uma crença muito arraigada, o mais provável
é que esta esteja consolidada e associada à identidade do paciente e,
portanto, inabalável, impedindo que ocorram outras possibilidades de
pensamento em função da sua própria constituição.
Ao ouvir a frase em que se encontra essa crença, selecionando as três
palavras e “tecendo a rede simbólica”, fará com que a crença tenha
centenas de possibilidades que antes não tinha, produzindo uma mudança a
nível da identidade da pessoa e uma reestruturação a nível emocional.
Por outro lado, não estamos apenas indo direto ao constructo de crenças, à
forma como a pessoa constitui sua realidade interpretativa do mundo, mas
também fornecendo uma dimensão a certos conceitos e símbolos que
produzem emoções e que, sem dúvida, vão necessitar de
reenquadramentos para que nosso paciente possa reordenar seu mapa
interpretativo. Esses reenquadramentos podem ser realizados selecionando
esta “arquitetura” de palavras.
Em sua narrativa um paciente geralmente utiliza uma grande quantidade de
palavras. No entanto, de tudo o que diz, procure ouvir atentamente e
identificar apenas três palavras que você percebe que têm uma grande
carga de emoção e constituem em si um elemento simbólico para seu
paciente.
Uma vez que tenha detectado essas três palavras, você deve falar de cada
uma delas e ao mesmo tempo inter-relacioná-las. A ideia é resgatar as
palavras do nosso paciente e em seguida devolvê-las, como o que foi feito
no Exercício 1, quando se falava da faca.
Tenha em mente que, neste caso, o símbolo (faca) que você seleciona, é
um símbolo do seu paciente e, se ele o tem, deve-se a muitas razões
possíveis. Quando seu paciente utiliza essa palavra, não o faz apenas por
fazer, mas porque faz parte da sua interpretação, é um constructo com o
qual constitui seu mundo.
Esta palavra ou símbolo, quando é selecionada e devolvida por você como
uma sugestão ou trabalho terapêutico numa nova narrativa, levará
implicitamente a essência do pensamento dialético. Neste se diz que todo
objeto existe em função da sua existência e de negação da sua própria
existência. Por exemplo, a próxima vez que você vir um gato, pode chamar
o gato de “não cachorro”. Ambas são válidas, pois um “não cachorro”
também pode incluir um gato.
Quando a pessoa tem um problema, ela o tem sobre o que não está vendo,
porque de outra forma seria simplesmente lógico resolvê-lo. Geralmente os
problemas são subjacentes, estão lá escondidos e se solucionam no plano
da não lógica.
Este poderia ser o caso de alguém que quer perder peso porque come
demais. Não bastaria que comesse somente o que o mantém num peso
adequado e também fizesse exercícios? Do mesmo modo alguém que
deseja parar de fumar. Não seria tão simples como não comprar mais (nem
pedir aos amigos) cigarros? Mas o paciente irá lhe dizer que simplesmente
não tem controle dos seus atos, pois o que acontece com ele, não acontece
no plano do que ele percebe, mas no plano do que ele não vê.
A hipnose aborda o plano das emoções e aquilo que não está sendo visto,
nesse constructo que parece ilógico, mas tem uma lógica própria. Acontece
que esta lógica está fundamentada na negação do constructo que se
percebe e é aí onde trabalhamos de forma muito concreta.
Exercício 5:
- Tenha uma conversa de quinze minutos com outra pessoa.
- Primeiramente, permita que essa pessoa faça um relato que tenha uma
relativa importância para ela, como tantas conversas que provavelmente
você já teve com amigos. Durante esse processo, ouça e detecte três
palavras que são importantes para seu interlocutor.
- Em segundo lugar, devolva uma narrativa que seja “auxiliadora" para
essa pessoa, utilizando as três palavras que você resgatou. Forneça uma
mensagem com uma rede sistêmica, onde as três palavras se conectem e
combinem como parte do próprio contexto do paciente com a finalidade de
ajudá-lo.
Se você conseguir falar de um lápis, de um caderno, de óculos, de facas, eu
lhe asseguro que será muito fácil quando você fizer uma malha com estas
três palavras e as devolver em forma de ajuda com uma mensagem.
Aqui é importante o conceito de ‘escuta ativa’, porque isto não significa
apenas ouvir e colocar-se no lugar do outro. ‘Escuta ativa’ significa ouvir e
devolver algo “ativamente”, para que o outro possa realizar uma mudança.
Pergunta relacionada com o exercício 5:
- Quais foram as três palavras que você conseguiu detectar na conversa
com seu interlocutor?
Obviamente é subjetivo quais palavras irá detectar. Cada pessoa irá sentir e
ouvir de uma forma diferente, porque a conexão que se estabelece entre as
pessoas é única.
Comentários sobre o exercício 5:
Quando você está no processo de escuta, considere que a informação está
entrando em sua mente consciente e inconsciente devido à grande
quantidade de informações que recebe. Certos fragmentos do trem de
pensamentos serão resgatados conscientemente, mas outros não. É aí que
devemos observar nossa biologia, onde as pessoas geralmente tendem a
racionalizar essa comunicação e torná-la lógica.
Devemos considerar que durante o tempo em que o paciente está falando e
o terapeuta ouvindo, a informação chega a este último e também dá voltas
dentro dele. Quando o terapeuta seleciona as palavras, sejam quais forem,
considerou sua intuição ou realizou um processo racional. Estas palavras
devem ser escolhidas em função da importância que o terapeuta pensa
terem para o seu cliente ou paciente. Quando o terapeuta fornecer uma
mensagem terapêutica utilizando essas três palavras, estas gerarão imagens
na mente do paciente. Deve-se considerar que essa transformação de
símbolos faz um loop paciente-terapeuta-paciente, e de alguma forma
também é um produto próprio do “mapa mental” do terapeuta.
4. TRÊS PRINCÍPIOS PSICOLÓGICOS

1. A lei da “Atenção Concentrada”


A lei da Atenção Concentrada indica que não há uma ação sem um
estímulo. Isto acontece devido à nossa biologia ser constituída para que
nosso foco de atenção seja imediatamente dirigido àquilo que surgir
devido a um estímulo ou causa externa (ou interna). Este conceito vem da
hipnose clássica e Milton Erickson o utilizava, assim como outros
elementos provenientes da mesma.
Como exemplo de que não existe uma ação sem um estímulo, imagine esta
situação:
- Você está lendo este livro, não é mesmo? E certamente está concentrado
em assimilar parte destes conceitos. No entanto, neste processo você se
esqueceu de algo que sempre esteve com você: suas orelhas direita e
esquerda.
Pode ser desagradável que alguém comece a falar da sua orelha direita ou
esquerda, e você pode dizer que é um assunto fútil, que não é adequado,
que não é construtivo, visto que não diz respeito ao tema deste livro, mas o
fato é que agora você está pensando em suas orelhas.
Se continuarmos e você se perguntar: Por que está me falando da orelha
esquerda e da orelha direita? Existe uma preferência pela esquerda em
relação à direita? Será uma questão política? Ou será apenas uma questão
inconsciente sobre manifestar uma preferência ou não, menosprezando as
preferências de uma orelha em relação à outra? Então, se você voltar a
refletir sobre este tema, talvez perceba que sua mente esteve “passeando”
de uma orelha a outra, apesar de nunca ter pensado que iria refletir sobre
ambas as orelhas, visto que seu propósito é ler este livro.
Se considerar a Lei da Atenção Concentrada pode perceber que você é
“quase” obrigado a pensar em suas orelhas. Independentemente deste
assunto ser ou não do seu interesse, deve processar a informação que se
apresenta. Este princípio serve para entender que as palavras são como
“acupuntura”, isto é, ao utilizar uma palavra, ela equivale a cravar uma
agulha para indicar ao nosso paciente um foco de atenção específico, onde
não sabe que estará necessariamente focado; mas você, como terapeuta,
pode ter certeza de que o está seguindo consciente ou inconscientemente.
Portanto, é muito importante que você adquira mais e mais consciência
sobre o uso correto das palavras, pois cada uma delas fará com que o
paciente foque no que significa.
Milton Erickson dizia que, se você quiser que seu paciente fale de seu
irmão, fale para ele primeiramente do seu. Pois, ao falar deste tema, ele irá
focar na experiência irmão (assumindo que teve ou tenha um) e
estabelecerá o contexto relacional entre o que você está contando e o que
ele viveu. Isso também está relacionado com as evocações, porque quando
uma palavra se estabelece na mente de um paciente, ela o faz em uma
dimensão humana específica, em que o paciente, para poder interpretar a
palavra mencionada pelo terapeuta, deve ir à sua palavra e encontrar a
referência da sua experiência.
Um dos exemplos que aprendemos com Milton Erickson é aquele em que
pedia às pessoas que contassem seu primeiro dia de escola:
“Meus primeiros dias na escola, no Fundamental, quando tinha 6 anos,
foram no campo. Era um menino do campo, pois meus pais viviam lá.
Estudei esses primeiros anos com filhos de outros camponeses. Era uma
sala de aula sem paredes. Tinha teto de sapé, como naqueles velhos filmes
de escolas rurais, e acho que havia somente uma professora para crianças
de 7 a 16 anos. Estávamos todos lá.”
É provável que você esteja indo às suas evocações do primeiro dia de
escola, fazendo um paralelo para interpretar e comparar, porque somos
animais "julgadores", e no processo de julgar, não podemos não julgar
(dupla negação).
2. A lei do “Esforço Reversível”
A lei do Esforço Reversível diz que quando a mente inconsciente e o
querer (aqui se refere à mente consciente) estão em oposição, prevalece a
mente inconsciente. Isto quer dizer, por exemplo, que muitas vezes quando
um paciente deseja parar de fumar e não consegue, apesar de querer
realmente, diz que existe algo nele que ele não controla e o impede de
conseguir o resultado desejado; esse algo, nós aqui denominamos mente
inconsciente.
A teoria das partes fala das divisões que existem dentro de nós, e que cada
uma delas tem uma razão de ser e uma razão de existir. No exemplo
anterior podemos considerar que a pessoa está dividida em duas partes:
uma quer realizar a mudança (vamos denominá-la A) e a outra parte não
quer (vamos denominá-la B). Geralmente damos mais possibilidades e
atenção a esta nossa parte que “fala” conscientemente, que tem lógica e
usa palavras (a parte A).
É importante ter em mente que, uma vez estabelecidas, as condutas muitas
vezes se mantêm automaticamente ao longo do tempo. Pode ter havido
uma negociação entre as partes (A e B), mas essa negociação já é
extemporânea. Por outro lado, se a negociação não terminou bem e uma
das partes venceu (por exemplo, a parte B) e a outra perdeu (a parte A), a
pessoa continuará fazendo a mesma coisa, o automatismo irá se manter,
juntamente com a queixa de mudança, que vem da parte não considerada
(parte A) e que se sente derrotada pela outra.
Normalmente a parte que se sente derrotada é a parte que se expressa
linguisticamente (parte A) e a parte vencedora é aquela que realiza a
conduta indesejada (parte B), que não tem uma comunicação
“convencional”, por assim dizer. Acontece que a parte B também está se
expressando, entretanto, sua forma de fazê-lo é através do soma. Como
essa forma de comunicação não é tão comum, simplesmente não
entendemos a mensagem que deseja comunicar.
Portanto, isto não tem muito a ver com a utilização de processos lógicos, o
inconsciente não vai pensar e simplesmente fazer “se X, então X”, como se
fosse um computador. Por exemplo, “se quiser parar de fumar, então, não
compre e nem peça cigarros” ou “se quiser emagrecer, então, deve comer
menos”. Como você pode perceber, estas “instruções” lógicas geralmente
não funcionam para muitas pessoas que desejam parar de fumar ou
emagrecer, pois a solução não está no plano da lógica.
Em termos práticos, devemos assumir que, se ambas as partes existem (A e
B), é porque têm uma função, que traz consigo um benefício. Portanto,
esse benefício deve ser entendido e, em termos de hipnose, quando
fornecer uma sugestão em transe, deve fazer com que a mensagem
considere a construção das imagens que vão junto com a linguagem. Isto é,
essa pessoa deve ver, ouvir e sentir o que está acontecendo no contexto
onde está realizando o que deve realizar.
Somente para 33,33% das pessoas que têm um alto grau de
sugestionabilidade, as sugestões diretivas funcionam de forma rápida e
imediata. As sugestões diretivas são como ordens, por exemplo, “toda vez
na hora da refeição, você vai comer exatamente o que seu organismo
necessita”. Também há algumas menos apropriadas que são fornecidas na
forma negativa: “ao ver um cigarro, você saberá que isso faz mal à sua
saúde, pois o alcatrão entra nos seus pulmões e impede que respire o ar
puro”.
A hipnose clássica funciona muito bem para as pessoas que têm um alto
grau de sugestionabilidade. Consequentemente, você pode entender como
certos profissionais usam textos genéricos, gravações padrão, ou realizam
sessões em grupo para obter a cura. Por exemplo, de um grupo de 12
pessoas que participam de um programa coletivo de hipnose (clássica) para
parar de fumar, de um modo geral o que pode acontecer é que 33,33% vai
parar de fumar imediatamente, 33,33% vai permanecer igual e 33,33% vai
parar de fumar por um tempo e em seguida voltará ao velho hábito.
Para aqueles que não têm um alto grau de sugestionabilidade, o trabalho
de Hipnose Ericksoniana considerará uma visão terapêutica sistêmica, na
qual o paciente possui todos os recursos inconscientes para realizar a
mudança que necessita. Cada mudança será única de acordo com o que
cada pessoa necessita para ela mesma.
Aqui está sendo utilizado o princípio da visualização positiva, isto é,
ajuda-se o paciente a gerar imagens do que necessita alcançar, a construir
uma espécie de filme daquilo que deseja, pois mostram os processos de
êxito. É o princípio da auto-hipnose .
3. A lei do “Efeito Dominante”
A lei do "Efeito Dominante” propõe que uma emoção mais forte em
intensidade sempre irá se sobrepor a uma emoção mais fraca.
Diz-se que numa determinada oportunidade, Milton Erickson estava
trabalhando com um paciente que tinha dores crônicas, e disse a ele que
essa dor não era nada, comparada com o que sentiria se naquele momento
entrasse na sala um tigre faminto que estivesse pronto para devorá-lo.
Quase instantaneamente o paciente deixou de sentir a sensação de dor que
tinha, pois, como pôde perceber, a emoção causada por um tigre faminto
entrando, pronto para devorá-lo, é muito superior à da dor.
Suponhamos que tenha ocorrido um acidente de automóvel, em que o
motorista tenha sofrido contusões. O fato é que o acidente ocorre de forma
totalmente imprevisível. O evento se dá em fração de segundos e não
temos tempo de absorver tudo o que realmente aconteceu. A emoção toma
conta da maioria dos processos que são realizados de forma autônoma.
Neste caso, a pessoa que sofreu a contusão desce do carro para verificar os
danos no seu veículo, conversa com o outro motorista sobre os possíveis
trâmites, consertos e seguros, se for o caso espera a polícia chegar, e em
seguida entra no seu automóvel e volta para casa. Só quando chega em
casa, percebe a grande pancada que recebeu numa perna, e a dor é tão forte
que praticamente não consegue andar.
Este é um exemplo claro de como uma emoção/sensação mais intensa
encobre a emoção/sensação mais fraca, visto que a própria condição de
choque faz com que a pessoa não tenha consciência da sua condição física
e da dor.
A lei do “Efeito Dominante” deve ser sempre considerada nas sugestões
que fornecemos aos nossos pacientes, pois são as emoções que guiam a
maioria das nossas decisões e lógica, e para que nós, como terapeutas,
alcancemos o efeito que nossos pacientes requerem, devemos considerar a
utilização de elementos simbólicos que evoquem neles emoção.
Então, agora a pergunta para você seria: Como saberá o que é emoção para
o seu paciente? E a resposta está relacionada com as palavras extraídas da
conversa que teve com o paciente.
Quando uma pessoa está falando de algo que é importante para ela, você
perceberá que algumas palavras vêm carregadas de emoção. Se você as
utilizar posteriormente na devolução como parte do trabalho terapêutico,
esta mensagem será traduzida em algo de grande importância para seu
paciente.
Fazendo uma analogia, imagine que você seja um especialista em
acupuntura, mas com uma diferença fundamental: ao invés de agulhas,
você utiliza palavras, que neste caso são os símbolos que contêm emoções
para seu paciente. Ao construir a narrativa num formato de filme e incluir
as três palavras – como tríade – o transe se estabelece e se aprofunda, pois
está falando ao seu paciente a partir da sua própria representação de
mundo.
É importante ressaltar que a sua voz deve ser congruente com a mensagem
que está transmitindo, pois não é necessário uma voz monótona para
produzir tédio e a partir do tédio gerar o transe. A mensagem terapêutica
será muito mais significativa se a sua voz acompanha a narrativa que está
apresentando.
Por exemplo, imagine que está fornecendo uma mensagem assim: “…
agora você vai ter muita energia, vai ter cada vez mais energia, e será
muito bem sucedido, extremamente bem sucedido”… e você diz tudo isso
sem energia, com a voz de alguém que nunca teve êxito. Obviamente, não
é necessário que você, no papel de terapeuta, fale com seu paciente como
se estivesse narrando uma partida de futebol pelo rádio, em que muitas
vezes o relato tem muito mais emoção do que a própria ação sugere.
Exercícios:
Peça que uma pessoa o ajude nos três exercícios que seguem:
Exercício 6:
Quando a pessoa estiver diante de você, indique todas as coisas que você
percebe que está vivendo, que se relacionam com a própria pessoa e com
as quais ela estará totalmente de acordo, pois de alguma maneira ela sabe
disso, seja porque observa ou porque é um fato constatável. Pode indicar
cada elemento visual, auditivo ou cinestésico que pode ser observado,
isento de julgamentos. Com isso busca-se demonstrar que cada frase que é
dita causa uma mudança de localização na mente do paciente.
Exercício 7:
Pergunte o que ela gostaria de fazer, que ainda não esteja fazendo, e em
seguida desenvolva uma narração para esta pessoa de como seria o
processo para obter e alcançar o que deseja e de como será a sua vida
fazendo isso.
Exercício 8:
Para esta mesma experiência, considere as emoções que são importantes
para a pessoa e depois encontre quais outras emoções poderiam ser ainda
mais importantes para a obtenção do sucesso desejado.
5. SUGESTÕES E CHAVES PÓS-HIPNÓTICAS

Sugestão pós-hipnótica
Imagine que a quase totalidade do que fazemos hoje em hipnose deve-se à
genialidade dos descobrimentos que realizou Milton Erickson sem ter as
informações que foram fornecidas pelas neurociências. Mais do que
considerar a intuição de Milton Erickson como genial à medida que esteve
à frente do seu tempo, podemos assegurar que o grau de observação e
percepção que obtinha do seu paciente permitiam tirar conclusões que
eram certezas para si mesmo.
Conforme mencionado no Capítulo 1, uma sugestão pós-hipnótica é uma
frase que apresenta opções de comportamento, crenças, identidade etc.
para o paciente enquanto está em transe durante a sessão de hipnose com
seu terapeuta, para que, uma vez concluída a sessão, sejam consideradas e
adotadas por ele.
No dia a dia, fora do contexto terapêutico, nós recebemos sugestões ou nos
autossugestionamos sem percebermos o que estamos fazendo. Se estas
sugestões são repetidas e fornecidas com emoção e, se além disso, damos
credibilidade a quem nos fala, existe uma alta probabilidade de que estas
sugestões sejam adotadas.
Por exemplo, suponhamos que um menino não goste de praticar esportes
porque não tem coordenação motora desenvolvida para esse fim. Diante
disso, seus pais simplesmente lhe dizem que “praticar esportes será difícil,
pois seu pai e seu avô também tiveram MUITOS problemas com
esportes… e provavelmente por toda a vida será MUITO difícil para ele…
visto que para eles também foi MUITO MUITO DIFÍCIL e… várias vezes
quase foram reprovados só por causa de educação física… apesar de terem
sido excelentes alunos”. Essa sugestão em formato de crença pode ser
adotada pela criança, fazendo com que ela nunca mais realize uma
tentativa para desenvolver sua coordenação motora e ter sucesso nessa
disciplina.
Algo que sempre funciona muito bem é considerar em toda sugestão a lei
do efeito dominante. Isto é, você deve levar em consideração a existência
de emoções que sejam importantes para seu paciente. A etimologia da
palavra emoção está relacionada com “mover”. Então, à medida que a
sugestão fornecida ao nosso paciente possua muita emoção para ele
mesmo, terá força para movê-lo, colocá-lo em ação e facilitar as mudanças
de que necessita.
Chave pós-hipnótica
Uma chave pós-hipnótica é qualquer ação, pensamento(s), palavra(s),
imagem(ns) ou evento(s) que dispara ou “gatilha” uma sugestão pós-
hipnótica.
É importante mencionar que uma chave pós-hipnótica é diferente de uma
“âncora”, sob o ponto de vista da Programação Neurolinguística, uma vez
que uma âncora é qualquer elemento de uma experiência, que existe fora
ou dentro de você, que permite evocar uma série de experiências que tenha
vivido ou experimentado.
Por exemplo, se você está caminhando por uma rua e, de repente, escuta
uma música que é exatamente a música que o faz evocar parte da sua
juventude, você irá se conectar com as próprias experiências que viveu
naquele tempo, quando tocava aquela música. Ou você pode estar
passeando, sentir um aroma de canela vindo de uma padaria e se lembrar
daqueles biscoitos de canela que sua avó preparava e eram tão gostosos.
Em neurolinguística, ambos os exemplos acima denominam-se âncoras,
porque permitem à pessoa evocar e reviver toda uma série de experiências
que foram vividas somente pelo fato de ter presente parte dessa
experiência. A diferença entre uma âncora e a chave pós-hipnótica é que,
no segundo caso, queremos que qualquer elemento que se encontre numa
experiência gere uma nova sequência de comportamentos, que não existia
previamente, e comece a se estabelecer uma nova conduta.
Por que utilizar sugestões e chaves pós-hipnóticas?
Quando trabalhamos com um paciente numa sessão de hipnose, muito
provavelmente o que acontecer nessa sessão será aquilo que o paciente
espera. Mas o fato de acontecer o que o paciente espera durante a sessão
não significa que ele fará mudanças na sua vida real. No final da sessão o
paciente pode até mesmo estar bem convencido de que mudou. Mas
quando estiver no seu próprio contexto, com as mesmas variáveis do dia a
dia e estando presentes os antigos automatismos, pode ser que ele volte
para onde estava antes da sessão. Agora provavelmente com alguma
consciência do que não ocorreu.
O modelo de Prochaska e DiClemente dos estados de mudança de um
paciente detalha a etapa mencionada anteriormente.
Modelo dos estados da mudança de Prochaska e DiClemente
Por esta razão, a partir da Hipnose Clássica considera-se que uma sugestão
pós-hipnótica é aquela que atuará e estará presente no contexto real do
paciente, facilitando as mudanças e melhorias de comportamento não
apenas enquanto estiver em transe durante a sessão de hipnose, mas
também na sua própria vida.
O terapeuta necessita que algum elemento permita ao paciente “gatilhar”
inconscientemente essa sugestão pós-hipnótica. Então, utilizamos as
chamadas “chaves” pós-hipnóticas, que são qualquer ação, pensamento(s),
palavra(s), imagem(ns) ou evento(s) que disparam ou “gatilham” uma
sugestão pós-hipnótica onde o paciente requer realizar a mudança, e assim
permitam “disparar” a sugestão e “colocar em prática” o novo
comportamento ou conduta desejado.
Por exemplo, para uma pessoa que tenha fobia de falar em público, pode-
se associar como “chave” pós-hipnótica o momento em que pega o
microfone e o leva diante da boca para realizar a primeira prova de som, e
assim sentir-se tranquila. Num outro exemplo, para alguém que tenha
problemas de comunicação com alguma pessoa, a “chave” pode ser o
momento em que percebe uma expressão ou vê o rosto dessa pessoa,
permitindo “disparar” a sugestão pós-hipnótica.
Atualmente sabe-se que isto tem a ver com a Lei de Hebb, também
denominada “Aprendizagem de Coincidência”, apresentada por Donald
Hebb no seu livro A Organização do Comportamento (The Organization of
Behavior: A Neuropsychological Theory), de 1949. O autor propõe que a
sinapse entre neurônios próximos pode se reforçar se forem ativados
continuamente, ou seja, que é possível treinar este tipo de conexões para
produzir determinada aprendizagem.
Também para pacientes com câncer, que fazem químio e radioterapia,
pode-se fornecer a eles uma sugestão para que evoquem um lugar
tranquilo e o relacionem com uma palavra que seja importante e
significativa para eles. Assim, ao entrarem em sua químio ou radioterapia,
podem retomar essa palavra e sentir o estado de tranquilidade que tinham,
para assim obter um melhor resultado do tratamento.
Pode-se resistir a sugestões e chaves pós-hipnóticas?
Para o paciente é sempre possível tomar a decisão de não ter um
comportamento específico, pois a vontade da pessoa domina acima de tudo
e no momento que quiser.
Quando há mecanismos automáticos já instalados, uma sugestão simples
não funcionará necessariamente, pois , como já vimos, esta sugestão deve
conter muitos elementos simbólicos que permitam ao paciente aceitá-la e
adotá-la pela emoção e significados que existem para ele(a) na própria
sugestão.
Em determinados atos compulsivos, como, por exemplo, fumar, roer unhas
etc. as sugestões pós-hipnóticas serão parte de um conjunto simbólico
sistêmico, pois o ato compulsivo é o sintoma de algo mais complexo, que
é o motivo da própria sessão.
De qualquer maneira, independentemente da efetividade ou não da
sugestão, esta proporciona ao paciente consciência de que não está
colocando em prática o que deveria fazer. Portanto, uma vez que o
paciente se conscientize do que antes não tinha controle, fazê-lo ou não
agora passa a ser uma opção.
Outro caso a se considerar é quando a sugestão está atuando de forma
pouco ecológica, no sentido de não considerar todas as variáveis
sistêmicas que estão afetando a vida do paciente. Por exemplo,
suponhamos que uma paciente tenha obesidade e você, como terapeuta,
trata explicitamente a obesidade como algo relacionado a maus hábitos de
alimentação e ansiedade. Num caso hipotético, pode ser que essa paciente
não se dê bem com o seu marido, mas não queira se separar dele para
manter a família unida. Portanto, a obesidade para ela pode ter a função de
mantê-la distante e resguardada de alguma aventura amorosa, que pudesse
romper o seu casamento. No fundo, o que se deveria trabalhar é a sua
assertividade para controlar a situação que está vivendo, aprender a dizer
sim e não, assumir as consequências ou, por outro lado, aceitar o que vive
atribuindo-lhe outros significados, sem a necessidade de se iludir com a
ingestão excessiva de alimentos.
Quando existem sugestões pós-hipnóticas que vão contra os valores do
paciente ou existe um ganho secundário do sintoma presente, há uma alta
probabilidade de que a sugestão não atue adequadamente. Portanto, é
necessário averiguar bem a relação entre os valores do paciente e a
mensagem fornecida, pois deve existir congruência entre eles.
Havendo um ganho secundário, ou seja, um objetivo ou função do estado
presente ou propósito do próprio sintoma, o terapeuta deve averiguar qual
é a essência dessa função e considerá-la na sua mensagem. Por exemplo,
uma pessoa que sente dor de cabeça todas as segundas-feiras pela manhã,
exatamente quando começa a sua semana de trabalho. Neste caso, a
primeira coisa que você deve perguntar ao paciente é se foi a um médico
para checar seu estado de saúde. Assumindo que já tenha feito isso e esteja
descartado o fator biológico, podemos trabalhar o fator psicológico. Então,
devemos perguntar ao paciente o que ele obtém com esse sintoma, e o
mais provável é que ele responda que não obtém nada, que o sintoma está
presente só para irritá-lo. Se voltar a lhe perguntar como esse sintoma (dor
de cabeça) desaparece ou começa a amenizar, provavelmente ele dirá que é
quando fica em casa. Portanto, neste caso, vemos que o sintoma é uma
expressão somática de que “algo” está acontecendo no trabalho, e seu
corpo está lhe comunicando que é melhor ficar em casa.
Outra situação em que não funcionam as sugestões pós-hipnóticas é
quando as condições do contexto mudam e a pessoa tem a opção de decidir
o que fazer. Suponhamos que um paciente intervenha muito em
desavenças familiares. Você trabalha com ele(a) para que esteja
relativamente dissociado e se mantenha afastado e tranquilo,
independentemente da ocorrência de tais desavenças. No entanto, num
dado momento, há um ato de violência e alguém da sua família pode sair
ferido. Então, por opção própria, o paciente pode agir de uma forma
diferente de como vinha agindo. Agora o contexto é diferente e ele faz isso
por sua própria decisão, por necessidade e por seus valores, pois não quer
ver ninguém ferido.
Motivação e lógica
As sugestões e as chaves pós-hipnóticas devem ser específicas para que
obtenham seu melhor efeito. Por exemplo, suponhamos que alguém queira
melhorar sua concentração. Mas o que seria melhorar a concentração? Em
que áreas específicas? Em que momentos deseja que isto aconteça?
Portanto, especificar o máximo de dados relacionados com o contexto
facilitará a identificação de onde deve estar presente a “chave” para que a
“sugestão” atue, permitindo que a própria chave posteriormente se
expanda para outros contextos.
Uma forma muito ampla e pouco específica de fornecer sugestões seria
dizer a seu paciente:
- …e agora você será cada vez mais feliz.
O que seria diferente de dizer a mesma coisa, mas com um grau maior de
especificação:
- …toda vez que estiver abrindo a porta da sua casa, irá se ver no espelho
da entrada, que está ao seu lado direito, onde deixa as chaves quando
volta do trabalho, e recordará tudo o que conseguiu na sua vida… e
com isso será cada vez mais feliz”.
No caso desta sugestão temos como “chave” pós-hipnótica o “espelho da
entrada” da casa, e a sugestão está conectada a um contexto específico. Ao
mesmo tempo está sendo construída para o paciente uma imagem do que
ele irá viver, e juntamente com isso fornecemos motivação ao
proporcionar uma retrospectiva de uma seleção de seus êxitos.
Neste caso a lógica implica que tudo o que fazemos, fazemos em algum
lugar e, portanto, sempre existe uma contextualização da conduta. No
próprio contexto algo deve “gatilhar" a sugestão (a “chave”) para que se
estabeleça a relação causa-efeito: “chave” → “sugestão”.
Portanto, em termos gerais, temos o seguinte esquema:
É importante salientar que às vezes as sugestões, apesar de serem
contextualizadas e específicas, podem ser indiretas, já que você, como
terapeuta, não saberá necessariamente o que acontece na mente do seu
paciente. Por exemplo, se alguém quer melhorar a relação com o cônjuge,
você pode dizer:
- Uma vez estando sozinho(a) com seu cônjuge no seu apartamento no
próximo fim de semana, você irá ouvir o que sempre diz, verá seu rosto
com atenção e, nesse instante, irá se ver encontrando novas e diferentes
formas de se relacionar, de aprender, de ouvir… sentindo que esse é um
momento único na sua vida… uma oportunidade de crescer, amar e
construir.
No fragmento anterior está presente um contexto (o apartamento e o fim de
semana), uma chave (a voz do cônjuge e seu rosto), também há emoções
(uma oportunidade para crescer, amar) e há uma sugestão que gera
alternativas e imagens, as quais são suficientemente vagas para que a
mente inconsciente do paciente tome as opções que acredite sejam
necessárias.
Linguagem direta e indireta
De acordo com o exemplo anterior, podemos definir que existem dois tipos
de linguagem: uma direta e outra indireta.
Suponhamos que você queira que alguém tome água e há um copo de água
exatamente diante da pessoa. Se utilizar a linguagem diretiva, pode dizer
ao seu paciente algo como:
- … e uma vez sentindo necessidade de saciar sua sede, percebe que diante
de você existe um copo e naturalmente sua mão vai pegar o copo e levá-lo
à boca… e, quando levar o copo à boca, vai sentir como a água entra pelo
seu corpo, e assim seu corpo se sente cada vez melhor…
Como você pode perceber, a linguagem utilizada acima é bastante direta,
são quase ordens do que deve fazer. Esta linguagem é muito usada em
Hipnose de Espetáculos e também em Hipnose Clássica.
Para a mesma situação a linguagem indireta pode ser:
- …no mundo… a vida está diretamente conectada com a água… e sempre
que tivermos necessidade de apreciar algo que nos é necessário para viver,
pode ser que olhando ao redor encontremos diante de nós a essência da
vida, e agora, por exemplo, seria tão fácil estender a mão para que a
essência da vida entre em nosso corpo… nós necessitamos dela…
apreciamos em tantos momentos… está presente em quase 75% do nosso
corpo e à medida que está em nós… nos sentimos cada vez melhor…
A mensagem acima contém sugestões indiretas e do mesmo modo está
fornecendo uma sugestão para tomar água.
Agora, isto é para você: Quer fazer uma pausa para tomar um copo de
água?
A construção de uma sugestão
Primeiramente devemos selecionar o assunto que o paciente deseja
trabalhar, e isto já pode ser considerado como “A expectativa de algo”. O
que vamos fazer então é construir um filme, que deve ter: um início, um
processo ou desenvolvimento e um fim.
A pessoa tem que se ver e saber como vai iniciar o processo. Nesse
momento deve ser considerada a “chave” para gatilhar o início. Por
exemplo, um paciente vai fazer uma reunião com o diretor de uma
empresa que o deixa muito nervoso, e deve subir pelo elevador para
encontrá-lo em seu escritório. Então, ao entrar no elevador, quando o
paciente apertar o número do andar onde está o diretor, esse será o
momento em que adquirirá consciência da experiência e, para ele, esse
instante se estabelecerá como um “disparador” para que comece seu
“filme”.
Você deve ajudá-lo a se imaginar entrando no elevador, apertando o botão
do elevador e se sentindo internamente tranquilo e relaxado. Ele já sabe
como vai falar, vê-se entrando pela porta do escritório, cumprimentando
tranquilamente o diretor, conversando naturalmente como sempre em sua
vida, e finalmente se despede relaxado e contente, pois conseguiu o que
queria, obteve o processo esperado.
Essa sequência deve estar na mente da pessoa e, ao mesmo tempo, você,
no papel de terapeuta, deve resgatar palavras para introduzi-las
posteriormente na sugestão – do mesmo modo como fez quando usou as
três palavras. Neste caso, também deve considerar as imagens que existem
na mente do seu paciente para tornar a sugestão mais autêntica. Tenha em
mente que quem realmente constrói este “filme” é o paciente. Você, como
terapeuta, simplesmente ajuda com perguntas, tais como:
- Qual é a sua expectativa disto?
Então, o paciente diz:
- Quero alcançar tal e tal objetivo, ou quero emagrecer, etc.
O terapeuta pode então perguntar:
- Como se vê fazendo isso ou como se sente conseguindo isso?
O paciente, então, expressa como imagina isso e visualiza o que é dito, o
que sente, e desta maneira terá construído seu próprio “filme”.
Você, como terapeuta, deve estar muito atento e focado na expressão
linguística, e resgatar palavras para ter elementos ao transmitir as
sugestões que o paciente requer durante o transe.
Exercício 9:
Escolha um assunto que pode ser do interesse do seu paciente e construa
uma sugestão que permita conseguir o que ele(a) deseja. Esteja atento à
fisiologia do seu paciente, bem como às suas palavras. Detecte a chave
pós-hipnótica e forneça a sugestão na forma narrativa, como se fosse um
filme, considerando as palavras que o próprio paciente utilizou.
O início da Hipnose Conversacional
Uma pergunta que você pode se fazer é como denominamos o que estamos
fazendo até este momento, pois não estamos falando do que você já viu e é
conhecido como Hipnose Ritualística, em que o paciente está com os olhos
fechados e totalmente relaxado. O que estamos desenvolvendo denomina-
se Hipnose Conversacional, em que o paciente pode manter os olhos
fechados ou abertos, mas igualmente estará num transe.
Desde o momento do primeiro contato com seu paciente, você deve
estabelecer os princípios da Hipnose Conversacional. Em outras palavras,
assim que você cumprimentar o seu paciente, já o estará induzindo e
convidando a um transe, seja por meio da linguagem ou pelo seu estado
interno.
Como terapeuta, você também deve ter seu estado interno em transe.
Como quando você está alegre e convida os outros ao seu estado de
alegria. Neste caso, o convite que seu inconsciente fará à mente
inconsciente do seu paciente será para que ele também entre num estado de
transe.
Para produzir o estado de transe de forma conversacional, você deve
simplesmente começar a fazer perguntas socialmente aceitáveis, tais como:
- O que gostaria de solucionar com hipnose?
- O que o trouxe aqui? (Em muitos países falariam do trânsito)
- Como era esse momento?
- O que mais acontecia?
- O que diziam as pessoas?
- etc.
Perguntas orientadas a que o paciente construa o contexto como se fosse
um “filme” e volte a reviver a experiência. Portanto, enquanto o paciente
vai falando, você foca em ouvi-lo, em selecionar as três palavras, irá
aprofundando seu transe com mais perguntas e utilizará as leis dos três
princípios psicológicos inseridos em sua sugestão pós-hipnótica
“auxiliadora”. E lembre que é muito importante que sua narrativa seja
como a construção de um filme que deve ter emoção.
Exercício 10:
- Trabalhe com alguém e peça que fale de algum tema que seja importante
para ele(a).
- Enquanto o paciente faz o relato, foque em ouvi-lo e em selecionar as
“três palavras”.
- Aprofunde o transe com perguntas (muito curtas e de contexto); forneça-
lhe uma sugestão pós-hipnótica “auxiliadora” e considere utilizar as leis
dos três princípios psicológicos.
6. TESTE DE SUGESTIONABILIDADE

A origem dos testes


A Hipnose Ritualística tem sua origem na Hipnose Clássica e, entre outras
coisas, não conta com as mesmas premissas que a Hipnose Ericksoniana
em relação ao uso de testes de sugestionabilidade. Em Hipnose Clássica ou
Tradicional os testes de sugestionabilidade são exames para medir a
capacidade do paciente responder a sugestões e também servem para que o
especialista em hipnose possa inferir qual é a melhor “técnica” para
indução e aprofundamento do transe.
Existem muitos testes para classificar os níveis de sugestionabilidade de
um paciente, como por exemplo:
- Escala de Susceptibilidade Hipnótica de Stanford (Weitzenhoffer e
Hilgard, 1959).
- Escala de Grupo de Suscetibilidade Hipnótica de Harvard (Shor e E.
Orne, 1962).
- Perfil de Indução Hipnótica (H. Spiegel, 1974).
Todos estes testes são realizados num procedimento laboratorial. Portanto,
não são práticos para o ambiente de uma sessão de hipnose, em que o
paciente comparece para que seu caso seja tratado prioritariamente.
Se você está começando a trabalhar com hipnose, a sua “calibração” do
grau de sugestionabilidade do seu paciente pode não estar ainda totalmente
desenvolvida, e talvez tenha a curiosidade de saber quão sugestionável ou
receptivo às sugestões ele é. Neste caso, antes de realizar o teste de
sugestionabilidade, recomendo que você diga ao seu paciente: “Nesta
oportunidade eu gostaria que você descobrisse o poder da sua
imaginação”. O propósito desta frase é que o paciente perceba como um
convite a se conhecer, sem a necessidade de resistir ao que lhe está sendo
proposto, já que é ele quem está descobrindo algo sobre si mesmo.
Alguns dos (muitos) testes de sugestionabilidade que podem ser utilizados
na sessão são:
1. Dedos magnéticos.
2. Mãos magnéticas.
3. O balde de areia e os balões.
4. Fechamento dos olhos (técnica de Dave Elman).
É interessante salientar que em Hipnose Ericksoniana prefere-se utilizar
aquilo que o próprio paciente nos traz para verificar seu grau de
sugestionabilidade, sem utilizar um teste para isso. Quem pratica este tipo
de hipnose geralmente não utiliza testes de sugestionabilidade porque são
muito padronizados e não medem necessariamente o que têm como
objetivo, pois uma sessão com um paciente não permite dispor do mesmo
ambiente de teste que um laboratório.
De qualquer maneira, estes testes podem ser levados à prática com o
propósito de ajudar o paciente a adquirir consciência da experiência
hipnótica e aprender com o fenômeno de transe que irá viver. A técnica de
fechamento dos olhos, ou pálpebras, de Dave Elman, é fundamental no
processo de indução. Este teste é proveniente do mundo da Hipnose de
Espetáculos e sua vantagem é produzir rapidamente um transe leve.
Exemplo de teste de sugestionabilidade: Balde de Areia
Apresenta-se a seguir uma sessão em que se demonstra a utilização de um
teste de sugestionabilidade denominado “O balde de areia e os balões” .
Paul: Quando você era pequeno, brincou alguma vez com baldes de areia?
Aluno: Sim, na praia.
P: Lembra a cor desses baldes?
A: Vermelhos.
P: E, quando era pequeno, você brincou com balões de gás?
A: Sim.
P: Então, vou lhe pedir que segure numa das mãos, faça como se estivesse
segurando, não sei o que seria... São os balões ou é o balde?
A: O balde.
P: O balde, então, aí está o balde. E na outra mão, se puder segurar os
balões... E gostaria de lhe perguntar: quantos balões você tem nesta mão?
A: Dois.
P: Dois balões, e de que cor são esses balões?
A: Vermelho e azul.
P: E o balde?
A: Vermelho.
P: Então, vai segurar na sua mão direita o balde vermelho, e na mão
esquerda seus balões vermelho e azul. À medida que os tem aí, olhando
para mim ou para onde quiser, ou talvez pensando como era quando era
pequeno, sem perceber, vai ser transportado para lá, sentindo que na mão
direita tem um peso, tal como quando era pequeno, e vai começar a ficar
mais pesado… mais pesado, como quando… já carregou coisas muito
pesadas, talvez na mão direita? Sente como o peso fica maior, maior, até o
mais pesado que já segurou quando era pequeno. E a mão direita vai
ficando pouco a pouco mais pesada. Mas na mão esquerda estão seus
sonhos de criança, e você começa a sentir como esses sonhos cresciam e
voavam, e às vezes não sabia quantas coisas podiam acontecer, mas
estavam aí e lentamente eles começavam a subir, e os balões subiam,
subiam, subiam, sem que você quisesse…
Enquanto carregar essa areia era muito pesado, muito pesado, muito
pesado, e quando isso vai acontecendo, o balão fica mais leve, mais leve e
sobe, sobe, vai subindo… o vermelho talvez um pouco mais para cima,
mais para cima, como os sonhos que voam, como o ar que sopra… e na
mão direita o peso de carregar areia, pesada, molhada, cada vez mais
pesada e a mão vai subindo, porque os balões querem chegar ao céu, acima
e é tão lindo permitir que voem e voem mais para cima, e são como a lua
que está tão além… como as estrelas que vão subindo ou como quando, de
repente, não percebo, uma estava muito pesada, muito pesada e a mão vai
subindo, vai subindo, muito acima, cada vez mais acima, mais acima, isso,
excelente…
E, de repente… algo acontece e você se permite abrir os olhos e observar
como estão seus braços, isso, e só os observa como estão, o esquerdo, o
direito (um está muito acima e o outro muito abaixo) e lentamente… faz
com que as duas mãos voltem para suas pernas e sente a alegria de ter
visitado parte da sua infância e está feliz aqui, muito feliz.
Como está?
A: Bem.
Nota: A primeira coisa que se faz, que é essencial e você trabalhará de
imediato, tem a ver com evocação, para tanto pergunta-se se a pessoa teve
a experiência em sua vida. Comigo, por exemplo, aconteceu de perguntar a
alguém sobre evocações de coisas que eu acreditava serem óbvias e, no
entanto, não são tão óbvias. Como, por exemplo, a experiência de andar de
trem, pois existem pessoas que nunca andaram de trem. Então, se você
deseja que essa pessoa evoque o que é andar de trem, não vai funcionar,
não vai ser a mesma coisa, talvez tenha a recordação de ter visto um filme
ou algo assim, mas não igual a ter a própria experiência.
Ao iniciar deve-se perguntar se já brincou com baldes de areia, e de que
cor eram. E a mesma coisa com os balões. Uma vez que seja feita a
evocação, você já sabe que está instalada a possibilidade de voltar a
“revivificar" aquilo, ou seja, “reviver” e “edificar”; “revivificar”. Então,
constrói-se a partir da própria experiência, para que a pessoa mostre seu
grau de sugestionabilidade.
Em termos terapêuticos tem efeito inócuo, mas é muito parecido ao que
fazem em hipnose de espetáculo. Se, como no caso de “A”, o paciente
possui um alto grau de sugestionabilidade, o mais provável é que a hipnose
funcione muito bem com ele, independentemente do grau de transe ou de
aprofundamento do transe que venha a experimentar.
Exemplo de teste de sugestionabilidade: Catalepsia de Pálpebras (teste
de David Elman)
Este segundo teste, denominado catalepsia de pálpebras, é muito simples,
muito rápido e pode ser utilizado a todo momento, porque faz parte de uma
indução.
Paul: vou pedir que sente confortavelmente e posicione seus pés
comodamente, que sinta suas costas bem acomodadas no encosto da
cadeira e, se quiser, não sei se quer fazer isso, comece a respirar mais
profundamente… Isso… tendo consciência de como o ar entra em seu
corpo, num processo de relaxamento progressivo. Se quiser, se sentir que é
o momento, permita-se fechar os olhos… e… à medida que fecha os olhos,
quero lhe pedir que vá até quando era pequena e brincava, e fingia que
talvez fosse enfermeira, professora, mamãe, não sei do que brincava, mas
aquilo do que brincava…
E à medida que esteja brincando, fingindo, finja agora que tem suas
pálpebras muito coladas e finja intensamente, honestamente, e aí “teste"
abri-las e vá mais profundo, rapidamente, e quanto mais “testar" abri-las,
mais profundo vai estar em seu relaxamento e pode “testar" mais…
E quando estiverem mais profundamente relaxadas, isso… a partir daí vai
se reencontrar com muitas coisas que pôde fazer e que conseguiu, e vai
apreciar tranquilamente. Uma vez que comprove tudo o que conseguiu,
lentamente, permita-se voltar para cá, e aí … abrindo os olhos, facilmente,
permitindo que a musculatura esteja novamente flexível… ágil.
Muito bem, muito obrigado.
Nota: Se perceber, este teste pode ser realizado em qualquer momento de
um processo de relaxamento. Então, se a pessoa alcança a catalepsia das
pálpebras, sabemos que está num transe leve, ou talvez médio, mas pelo
menos leve; se não fosse assim, não ocorreria catalepsia das pálpebras.
Busca-se também a evocação da infância, em que está fingindo, brincando
de determinadas coisas. Então, parte da pessoa se divide e se dá
permissão para fingir e, em seguida, diz-se que tem as pálpebras coladas
e que finja que estão muito coladas. Lembre que quando éramos pequenos
e fingíamos, realmente acreditávamos que aquilo acontecia.
Nesse momento utiliza-se a palavra ‘testar,’ que é muito melhor do que
‘tentar ou provar’. ‘Testar' é mais inócua, pois as pessoas entendem, mas
não tomam como um desafio. A palavra que considero menos adequada
para isso é ‘tentar’, pois, se dissermos para alguém “tente para ver se
você consegue”, pode entender como um desafio e talvez consiga. Mas
‘testar' é mais simples, como “teste se isso funciona”. Além disso, é um
anglicismo que em português não tem o mesmo significado. Uma vez que a
pessoa teste e verifique, produz-se a causa e o efeito, pois quanto mais
testa, mais relaxada está, aprofunda e aumenta o transe. Passa-se, então,
a outro nível de conversação , já sabendo que o paciente está num transe
médio ou leve.
Vale ressaltar que a “Catalepsia” pode se dar com qualquer musculatura,
por exemplo, com a mão ou com o braço.
Exemplo de teste de sugestionabilidade: Mãos Magnéticas
Por favor, coloque suas mãos sobre suas pernas. Esta será uma experiência
curiosa, pois irá vivê-la tal como deseja experimentá-la. O importante é
imaginar que num dado momento você segura uma bola de futebol, de
voleibol… Suponho que em algum momento da sua vida você fez isso.
Então, imagine que você tem essa bola, que você conhece, que está aí
diante de você e tem um determinado peso, uma determinada forma e uma
determinada cor…
Agora vou pedir que você a veja em suas mãos… Imagine que está aí, e
você a observa… E uma vez que a tenha diante de você, feche os olhos e
suponha que a esteja vendo… com os olhos fechados… Sinta o peso e
perceba a cor que tinha, e enquanto essa bola está aí… vou pedir que você
inspire profundamente, e depois, quando exalar, solte esse ar para o
interior da bola. E, quando exalar, vai perceber que o ar que está chegando
até a bola vai transformá-la em energia… E pouco a pouco a bola se
transforma em energia, lentamente… muito lentamente… isso…
À medida que vai chegando mais ar até a bola, mais energia sua chega até
a bola, e nesse momento suas mãos têm magnetismo com essa energia e
vão poder sentir uma pequena repulsão, como se fossem imãs…
Experimente sentir isso um pouquinho… E continue com o ar alimentando
a energia que está aí, nesse espaço… E aos poucos vai perceber a
temperatura, talvez mais quente da que estava antes, e começa a sentir a
temperatura, como quando está sob o sol e sente muito calor… Quando
você esteve algumas vezes na praia ou mesmo na rua, e isso vai tendo mais
energia… E a temperatura sobe, mais calor… isso… E pode brincar com a
energia que está lá dentro. Move um pouquinho, muito lentamente suas
mãos, para sentir o magnetismo que existe aí… E brinque um minutinho,
só um minuto e meio, e quando terminar, abra seus olhos e coloque as
mãos novamente sobre suas pernas…
Um teste naturalista
Você pode usar os testes de sugestionabilidade anteriores em qualquer
momento e, além disso, tenha em mente que não servem apenas para medir
sugestionabilidade, pois também podem ser utilizados para realizar
induções. Podem ser utilizados, por exemplo, depois de ter tido uma
conversa preliminar, quando começa a utilizar “as três palavras” e a
“reestruturar e fazer reenquandramentos".
Conforme mencionei anteriormente, lembre que Erickson não utilizava
testes de sugestionabilidade, ao invés disso, ele percebia o que o paciente
estava vivendo e com isso calibrava seu grau de sugestionabilidade.
Porque nós, como terapeutas, aceitamos o que o paciente nos apresenta e
simplesmente utilizamos seu foco para que amplifique a experiência.
Então, como você testaria o grau de sugestionabilidade sem aplicar um
teste? O que usaria? Pode testar isto com algum movimento, por exemplo,
se seu paciente está mexendo a perna, ou qualquer coisa que esteja
vivendo e seja constatada externamente.
Suponha que um paciente tenha transtorno obsessivo-compulsivo e chega
com um telefone celular. Então, ele lhe diz: “Tem um barulho… não, não
tem…” Você pode pedir o telefone dele emprestado e faz a mesma coisa,
dizendo a ele: “Sim, tem um barulho”. Em seguida, passa o seu telefone
para ele e diz: “Tente o meu…” Ele começa a fazer a mesma coisa: “…
Tem um barulho…” “…Parece que o meu tem mais barulho que o seu..”
“Não, o meu tem mais…” “Vamos ver… sim, quando começou isto?”.
“Não sei, os celulares sempre têm problemas”… “E quando percebeu que
tinha problemas?”... “Foi quando uma mulher me deixou porque saía com
outro…”
Esse seria o transe, e o grau de sugestionabilidade é verificado na
utilização do que o paciente demonstra. Então, o teste de
sugestionabilidade se dá pelo próprio ato. Assim, qualquer coisa que se
apresente, qualquer comentário, qualquer frase, pode servir como um
aprofundizador, como um indutor, ou como um teste de
sugestionabilidade. Quanto mais evidente for, mais fácil ainda.
7. APROFUNDIZADORES DO ESTADO DE TRANSE
APROFUNDIZADORES DO ESTADO DE TRANSE

Um aprofundizador é uma sugestão realizada em estado de transe que


permite chegar a níveis mais profundos de relaxamento. É importante
recordar que a essência do que se faz com os aprofundizadores considera
que o paciente deve estar dissociado, caso contrário, só aprofundaríamos o
seu relaxamento e não necessariamente o transe.
Para dissociar o paciente deve-se separar a pessoa verbalmente, dizendo a
ela que uma parte sua está aqui e a outra está em algum lugar diferente, por
exemplo, ouvindo ou fazendo algo que poderia ajudá-la. Ou, então,
dizendo a ela que sua mente consciente está ouvindo o que você diz,
enquanto a sua mente inconsciente começa a pensar como irá conseguir o
que deseja no futuro.
A seguir apresentamos alguns aprofundizadores:
1. Respiração
2. Contagem regressiva ou progressiva
3. Escada/Elevador
4. Televisão/Quadro-negro
5. Descer uma colina
6. Levitação do braço (sugestão in/direta)
7. Visualização guiada
8. Fracionamento
9. Utilização e incorporação
Respiração
O primeiro aprofundizador a se utilizar é a respiração. O que fazemos
neste método é simplesmente ter em mente a “Lei da Atenção
Concentrada”, em que podemos dizer algo como:
- Concentre-se na sua respiração e comece a se conscientizar de quando
está inalando… e agora exalando… e enquanto continua respirando, sinta
como o ar entra em você e com isto vai relaxando cada vez mais.
Entretanto, uma parte sua está me ouvindo e a outra parte vai aprendendo
aquilo que necessita aprender e… assim… vai se aprofundando cada vez
mais em seu estado de relaxamento.
Contagem regressiva ou progressiva
Normalmente utiliza-se a contagem de forma regressiva para entrar num
estado mais profundo de relaxamento, e progressiva para sair desse mesmo
estado. No entanto, existem terapeutas que fazem o contrário.
Para utilizar a contagem regressiva pode-se dizer ao paciente, por
exemplo:
- Quando disser o número 10, você está num certo grau de relaxamento
e… uma vez que surge em sua mente o número 9… estará duplamente
relaxado… e depois, em algum momento aparecerá o número 8 … e vai
estar três vezes mais relaxado… etc... (E você continua avançando até o
número zero).
Uma vez realizado o trabalho terapêutico propriamente dito, pode iniciar o
processo de reorientação a partir do estado de transe até o estado de vigília,
utilizando a contagem progressiva, de zero a dez, dizendo ao seu paciente
que em cada número - a partir do número zero – estará mais alerta, até que
chegue ao número 10, quando poderá abrir totalmente os olhos.
Escada/Elevador
Com este aprofundizador deve-se levar em consideração que algumas
pessoas têm fobia a escadas e/ou elevadores. Portanto, deve-se tomar
cuidado ao utilizá-los, perguntando primeiramente ao paciente se existe
algum inconveniente em relação aos mesmos.
Então, uma vez verificado que não existe tal conflito ao usar a escada (seja
rolante ou de degraus), indica-se ao paciente que, quando começar a descer
(degrau a degrau, ou à medida que vá se movendo para baixo
automaticamente), começa a relaxar cada vez mais, e vai aprofundando em
seu estado de relaxamento.
A reorientação seria feita da mesma maneira, no sentido inverso, visando
que o corpo do paciente esteja cada vez mais alerta.
Televisão/Quadro-negro
O aprofundizador denominado “Televisão” é utilizado considerando que
alguém, em algum momento, está assistindo um programa que geralmente
assiste e, de repente, aparece na tela o número 10, por exemplo. Uma vez
estando na tela, a pessoa começa a relaxar mais e mais… e então o número
10 desaparece para dar lugar ao número 9… e o relaxamento se torna duas
a três vezes mais profundo em relação ao que existia antes... até que o
número 9 desaparece para dar lugar ao número 8 etc. Esta contagem é feita
até o número zero e posteriormente, uma vez concluído o trabalho
terapêutico, a reorientação é feita com uma contagem a partir do zero até o
número 10, quando o paciente volta a estar totalmente em vigília.
O aprofundizador denominado “Quadro-negro” é semelhante à
“Televisão” e é interessante ressaltar que estão sendo ativados processos
visuais, ou seja, na contagem está somente a parte auditiva: 10, 9… mas
tanto na “Televisão”, como no “Quadro-negro”, o paciente também vê o
número e o apaga, e então vai se aprofundando no relaxamento.
Ambos os aprofundizadores são muito bons para serem utilizados tanto
com crianças, como com adultos. No caso das crianças você deve saber
qual é o filme ou a série preferida. Se não souber, pede-se que a criança
ligue uma televisão e, então, lhe pergunta “o que está vendo na televisão?
E quem está? E o que faz? E como faz?” E no meio vai se inserindo a
mensagem, mesclando para que se relaxe. Enquanto a criança vai falando,
você vai intervindo para que ela esteja ouvindo e, de repente, parece que já
não o ouve, mas tenha certeza de que sua mensagem está sendo recebida
do mesmo modo.
Descer uma colina
Este aprofundizador considera visualização positiva guiada e é muito
adequado quando o paciente gosta de fazer trekking, subindo e/ou
descendo colinas. No entanto, subir colinas não dá necessariamente a ideia
de relaxamento. Dependendo da colina e do esforço a se realizar, pode
significar exatamente o contrário.
Então, se o seu paciente gosta de fazer trekking e conhece uma colina que
já subiu, você pode pedir que ele descreva como foi a descida da mesma,
assumindo que foi prazerosa e que o fez de forma relaxada. Neste caso,
pode lhe dizer com uma descrição da paisagem que, à medida que desce,
relaxa cada vez mais.
Ao utilizar este aprofundizador, você deve levar em consideração que a
reorientação do paciente não deve fazer com que ele volte a subir, pois
seria estranho que ao final da sessão o paciente termine no topo de uma
colina.
A levitação do braço
Este aprofundizador é excelente, seja quando utilizado com sugestões
indiretas como diretas, devido ao processo de dissociação fisiológico que o
paciente experimenta, percebendo que sua mão desenvolve movimentos
independentemente de seus processos mentais.
Há pessoas que iniciam este exercício com a mão em repouso sobre a
perna (direita ou esquerda). Milton Erickson simplesmente tomava a mão
do paciente, deixando-a suspensa no ar, e a partir daí iniciava o processo.
A linguagem utilizada parece à que se utiliza com “O Balão”.
Um exemplo de utilização da técnica de “Levitação do Braço” pode ser:
Vou levar sua mão direita a uma altura de uns 30 centímetros em relação à
sua perna direita e vou pedir que a observe… isso, por favor, observe sua
mão… E com os olhos fechados… se quiser, volte a olhar, mas com os
olhos fechados, como sua mão estava aí quando a observava com os olhos
abertos. E à medida que está em sua mente como é sua mão, como são
seus dedos, talvez ocorra alguma recordação, de quando era pequeno e
queria fazer uma pergunta na sala de aula, e a mão automaticamente subia
um pouco, porque era tão automático… Ou às vezes queria chamar a
atenção de alguém e levantava a mão, e a mão subia sozinha. E também,
muitas vezes, quando está num restaurante e quer pedir a conta,
simplesmente não tem consciência, mas a mão sobe, ela vai subindo. É
como se quisesse alcançar algo lá em cima. Ou às vezes, quando está na
rua e tem que chamar um taxi, a mão vai subindo, isso… assim como fez
agora… e sobe mais um pouquinho, muito lentamente, mas de repente
sobe mais e mais, e enquanto isso vai acontecendo, você vai relaxando
cada vez mais…
Às vezes é como uma necessidade, que não se percebe, mas ela vai
subindo… isso, muito lentamente, como se tivesse vida própria. E há
tantos movimentos que fazemos, que não percebemos, são como esses
pequenos tremorezinhos que ocorrem, e aqui a mão continua com vida
própria subindo, e você cada vez mais em transe, olhando com os olhos
fechados como ela continua subindo, cada vez mais, e sobe, sobe, sobe,
sobe, como quando queria chamar uma amiga que estava vendo e a
chamava pelo nome… “oi”, e sua mão subia, subia, subia, subia e talvez,
uma vez que a mão chegue aí, tenha vontade de tocar o rosto e saber quem
realmente você é, ou talvez, não sei… já chegou a um nível muito
profundo de relaxamento.
Porque muitas vezes, de manhã, olhamos no espelho e a mão tem vontade
de saber quem somos, isso, e sentir e amar e apreciar a nossa essência,
isso, com carinho, com ternura… Porque estar aqui é um ato de carinho e
de ternura, isso, o queixo, tantas recordações, tantas imagens, tantas
estórias…
E à medida que esteja satisfeito, suavemente, tranquilamente, com alegria,
recordando viagens a alguns lugares, mudanças, idiomas, pessoas, sempre
com alegria… a mão começa a descer, e quando ela chegar na perna, vai
poder abrir os olhos e estar muito contente, muito feliz de estar aqui,
novamente alerta ao que ocorre no meio ambiente.
Visualização guiada
Como aprofundizador, a visualização guiada é uma técnica bastante
simples e eficaz para se utilizar. Trata-se de facilitar que o paciente reviva
alguma experiência que tenha sido agradável para ele(a), e desta forma
possa relaxar e ao mesmo tempo dissociar-se.
Algo importante que deve ser considerado ao utilizar a visualização guiada
é validar com o próprio paciente que a experiência seja do seu agrado. Por
exemplo, seria bastante incômodo se você, como terapeuta, descrevesse
detalhadamente um dia na praia, com a presença das ondas, o som do mar,
gaivotas sobrevoando o céu, o aroma da maresia, e o paciente não gostasse
de ir à praia ou tivesse medo do mar.
Se não temos um bom grau de certeza sobre a experiência que estamos
detalhando para o nosso paciente, é conveniente ser mais ambíguo com a
linguagem.
Fracionamento
A técnica deste aprofundizador considera o processo de relaxamento que o
paciente está vivendo. Uma vez que obtenha um certo nível de
relaxamento, pede-se que o paciente volte a abrir os olhos e, uma vez que
os abra, imediatamente volta-se a solicitar que os feche e vá mais
profundamente. Repete-se isto várias vezes, até que o paciente esteja o
mais relaxado e profundo em seu estado de relaxamento.
Vale ressaltar aqui, que este princípio também é utilizado quando o
paciente, por qualquer razão, abre os olhos durante um transe em que os
tinha fechados. Então, se isto acontecer, da maneira mais natural possível,
você solicita que o seu paciente volte a fechar os olhos e que vá muito
mais profundo desta vez. Se desejar, pode pedir que volte a abrir os olhos e
volte a fechá-los, para que assim alcance níveis profundos de relaxamento.
Utilização e incorporação
Este aprofundizador contempla o uso de qualquer elemento externo que
possa surgir fora da sessão de hipnose, e que você, como terapeuta,
considere que possa ser disruptivo para o processo. Por exemplo, no meio
da sessão, você tem seu paciente em transe e toca um telefone ou o alarme
de um automóvel, ou alguém do lado de fora da sala de consulta começa a
falar muito alto. Nestes casos, eu recomendo que primeiramente observe a
fisiologia do seu paciente para perceber se essa interferência externa é
incômoda ou não para ele(a). Há casos em que se considera incômoda e
para o paciente não é, enquanto que em outros casos percebe-se que pode
ser incômodo para ele(a). Neste último caso, podemos dizer ao nosso
paciente:
- Enquanto continua nesse estado de profundo relaxamento… qualquer
coisa que ouça de fora da sua mente e seja diferente da minha voz… será
como tantas coisas que estão presentes, mas que na realidade… não são
importantes… e com isso pode ir mais e mais profundo em seu estado de
relaxamento.
Exercício com aprofundizadores
Por favor, concentre-se na sua respiração… Vou lhe pedir que respire
profundamente cinco vezes… E, se quiser, pode fechar os olhos… À
medida que percebe o ar entrando no seu corpo e percorrendo o caminho
até os seus pulmões, vai se relaxando…
E há uma parte sua que está aqui me ouvindo e há outra parte do seu corpo
que começa a relaxar profundamente… E vai permitindo que o ar vá
entrando, e vai se aprofundando cada vez mais neste estado de
relaxamento…
E agora vou começar a contar de 10 a 0 para que comece a se aprofundar
ainda mais neste estado de relaxamento. Um lado seu me ouve atentamente
e o outro lado continua se aprofundando no relaxamento…
10, e você tem consciência dos seus ombros, que relaxam…
9, mais profundamente relaxado, essa parte está relaxando cada vez
mais…
8, soltando o ar, cada vez mais relaxado…
7, quase chegando à metade… isso…
6, excelente, cada vez mais profundo neste relaxamento, enquanto uma
parte sua me ouve…
5, isso… muito profundamente relaxado.
4,… com o corpo pesadamente relaxado.
3, cada vez mais e mais… profundamente relaxado…
2…
1, aí chegou, profundamente relaxado e, uma vez estando aí, vai se
encontrar com as coisas que geralmente faz, que gosta de fazer e que lhe
trazem felicidade, que permitem que se desenvolva, e aprecie esse
encontro…
Então, a partir desse momento se realiza o trabalho terapêutico e, em
seguida, faz-se a reorientação, tal como segue.
E lentamente você se permite voltar para cá…
1, saindo de onde estava…
2, fazendo com que seus músculos comecem a estar com sua tensão
normal…
3, um pouco mais alerta…
4, com a respiração mais normal…
5, endireitando o corpo....
6, com a cabeça já quase na posição normal…
7, com vontade de abrir os olhos...
8, com os músculos muito mais alertas...
9, já praticamente desperto...
10, e agora, abrindo completamente os olhos e sentindo um grande bem-
estar.
8. DIFERENÇA ENTRE CONSCIENTE E
INCONSCIENTE

Ao utilizar os termos “consciente” ou “inconsciente” estamos falando de


constructos lógicos que nos permitem entender melhor os processos
realizados por nossa mente. O consciente constitui o nível mais superficial
da mente, que percebe e armazena todas as vivências, emoções,
recordações, pensamentos, sentimentos e desejos que o indivíduo acessa
num ato simples de percepção interna e pode descrever com facilidade. O
inconsciente, por sua vez, contém uma fração muito mais ampla de
informação que o consciente, onde repousam todo tipo de experiências em
sua complexidade e são difíceis de recordar ou acessar. Todas estas
vivências são armazenadas sob a forma de impressões, recordações ou
desejos reprimidos, impulsos, pensamentos fragmentários, instintivos etc.
que estão determinando nossa vida consciente, influenciando nossos
comportamentos sem uma lógica clara, presentes em nosso cotidiano a
partir de um fluxo que opera sob outras regras de raciocínio muito
diferentes daquelas do consciente.
A ideia apresentada aqui considera que você, ao falar com seu paciente,
sempre lhe envie as mensagens terapêuticas considerando que tem diante
de você duas pessoas: a consciente e a inconsciente. O paciente não
identifica essa dupla mensagem. Pode ser algo como:
- Seria bom fazer isso da forma que acredita ser melhor e depois… fosse lá
e falasse… assim como se imaginasse que voar é natural e fácil para os
pássaros e… que em algum momento se comunicam e chegam aonde
querem chegar…
No caso acima estamos dizendo uma coisa ao consciente e outra ao
inconsciente, de tal modo que a mensagem seja recebida por ambos.
Portanto, deve-se estar sempre dizendo um tipo de mensagem ao
consciente e outro ao inconsciente, e deve-se alternar constantemente.
É importante ressaltar a necessidade da dissociação, pois se isto não
acontece, as mensagens terapêuticas podem vir a ser apenas uma
massagem de relaxamento. Portanto, deve-se considerar a “separação” de
seu paciente em termos da recepção da mensagem para mente consciente e
inconsciente.
Ao falar ao consciente e ao inconsciente devemos contemplar as variáveis
apresentadas na seguinte tabela, que contém as diferenças específicas
destes dois conceitos num contexto de dissociação:
Os segmentos
A segmentação está relacionada com a quantidade de variáveis que podem
ser mantidas e processadas simultaneamente pela mente consciente e
inconsciente. Antigamente falava-se do número mágico sete. Este
representava a quantidade média máxima de variáveis que uma pessoa
podia controlar simultaneamente. Dizia-se, então, que a variação dessa
média poderia ser sete mais ou menos duas variáveis, isto é, que a
quantidade de variáveis que podiam ser processadas oscilaria entre cinco e
nove segmentos de informação.
Um segmento de informação seria qualquer parte de uma experiência que
se pudesse manter na consciência num dado momento. Por exemplo,
poderíamos dizer ao nosso paciente:
- Por favor, ouça o som dos automóveis na rua (1), sinta suas costas
coladas no encosto da poltrona (2)… e agora observe a cor das paredes (3)
… sinta também a temperatura ambiente (4), observe como o teto possui
certas ondulações (5)… ouça sua própria respiração (6)… e olhe com
atenção as suas mãos (7)…
Foram fornecidos acima sete segmentos de informação ao paciente.
Uma das formas de produzir transe numa pessoa é através da via de
saturação de variáveis ou segmentos de informação de uma experiência.
Então, se se considerava que a mente consciente era capaz de estar absorta
no máximo em sete mais ou menos dois segmentos de informação
simultânea, uma vez superada essa quantidade, o restante da informação já
não estaria sendo controlado pela mente consciente, mas pela mente
inconsciente.
Atualmente relativiza-se essa quantidade de segmentos de informação e
considera-se que pode ser muito menor do que a indicada anteriormente,
pois agora considera-se a variável do contexto e as diferenças existentes
entre as pessoas. Portanto, a quantidade de segmentos de informação que
podem produzir transe está diretamente relacionada com a capacidade da
pessoa focar em distintos contextos, podendo ser igual a duas, três ou
quatro variáveis, por exemplo.
Se você diz ao seu paciente:
- “…olhe para mim (1)… pode ser que neste momento comece a ouvir o
som do ar condicionado (2) e tenha consciência das suas mãos (3) e ao
mesmo tempo se acomode (4), cruze os braços (5) ou tenha sensações em
seus pés (6)… como quer que seja (7) e …talvez esteja me ouvindo
atentamente (8) e outro lado seu comece a vagar (9) e talvez um terceiro
(10)…”
Neste caso, como resultado da frase acima, seu paciente provavelmente
estará em transe, pois esteve indicando à sua mente uma grande quantidade
de segmentos de informação, que já não podem ser mantidos
simultaneamente pela mente consciente. Portanto, nesse momento, já está
falando à mente inconsciente de seu paciente.
Sequencial / Simultâneo
Podemos dizer que parte dos processos da mente consciente são de alguma
maneira “sequenciais”, à medida que deve focar num processo por vez. Ao
mesmo tempo, o que não está sendo processado pela mente consciente será
igualmente processado, mas simultaneamente pela mente inconsciente.
Por exemplo, você pode estar muito concentrado ouvindo uma conversa ou
uma aula que lhe interessa muito, em que vai seguindo sequencialmente o
que está sendo dito. No entanto, uma vez que a conversação faça
referência a experiências que você também teve, sua mente inconsciente
acessa simultaneamente essas experiências, que se tornam presentes para
que possa entender melhor aquilo que está sendo exposto.
Lógico / Intuitivo, associativo
Queremos dizer que a mente consciente considera a lógica como parte
essencial de seus processos, enquanto que a mente inconsciente trabalha
com a intuição, juntamente com os processos associativos. Por exemplo, se
você sabe que hoje é sexta-feira e outra pessoa diz que hoje é segunda-
feira, mas você tem certeza que hoje é sexta-feira, então, o que a outra
pessoa diz não é lógico, e você entende isso por seus processos conscientes
como ilógico.
No entanto, pode ser que de forma associativa, conhecendo a vida desta
pessoa, você soubesse que ela trabalha em regime de turnos e que sua
semana começa na sexta-feira. Então, você aceita o que é ilógico, pois
realizou processos associativos, em que sabe que se trata do início da sua
semana de trabalho e, portanto, considera como segunda-feira.
Nossa mente consciente necessita realizar "fechamentos" lógicos para
aquilo que tem como experiência, o que se denomina “fechamento
cognitivo”.
Suponha que:
- ..havia um cavalo que estava cansado, muito cansado, muito cansado, e o
cavalo estava uma jornada inteira sem água, estava com muita sede, muita
sede, pois já caminhava há muitas horas e horas sob o sol escaldante, como
o do Saara, e fazia muito calor, muito calor, muito calor, muito calor,
muito calor, muito calor, muito calor, muito calor, muito calor, muito
calor, muito calor, e tinha muita sede, muita sede, muita sede… talvez
fizesse 42 graus, 46 graus sob o sol… e passavam as horas e horas e horas,
e fazia muito calor, muito calor, muito calor, muito calor, muito calor,
muito calor… muito calor, muito calor, muito calor… muito calor, muito
calor, muito calor, muito calor, muito calor, muito calor… e, de repente, o
cavalo, muito muito cansado… cheira que no ar há um frescor… observa
que do lado esquerdo há uma lagoa com água e está a apenas uns
cinquenta metros… e tem o terreno livre até essa lagoa…
Pergunta:
- O que aconteceu com o cavalo?
O mais provável é que você tenha projetado, como conclusão desse relato,
que o cavalo galopou em direção à lagoa e bebeu água. Isso seria o lógico.
Linear / Cibernético
Nos primórdios da era da informação denomina-se cibernético aquilo que
se associa às teorias de controle e de sistemas (sistemas regulados com
retroalimentação). Para uma rápida compreensão, associe cibernético a
processos sistêmicos retroalimentados.
A partir daí podemos nos referir ao pensamento linear e ao pensamento
circular. No pensamento linear uma relação causa e efeito é processada
diretamente. Por exemplo, se sinto frio, eu me agasalho; se tenho fome,
posso comer; e se estou cansado, simplesmente descanso. Assim soluciono
o problema de maneira simples. Isto é o que Paul Watzlawick denomina
“soluções de primeira ordem”.
Por outro lado, o pensamento circular nos apresenta uma relação de causa
e efeito, em que a possível causa do problema pode ser o próprio efeito,
que volte a afetar a causa, ou outra variável do sistema que não foi
considerada na relação de causa-efeito. Por exemplo, suponha que seu
paciente lhe diga:
- Estou fumando… pois o que acontece comigo é que, quando vou fazer
apresentações para meus chefes, eu me sinto tenso… e me sinto tenso
porque minha esposa está exigindo que eu ganhe muito mais do que ganho
hoje… Bem… ela tem uma questão de status com sua família e quer que
nós demonstremos que estamos melhor… para demonstrar a eles que não
se equivocou ao se casar comigo…
Como você pode perceber, isto não significa simplesmente dizer ao seu
cliente “pare de fumar e converse com sua esposa”, ou dizer à pessoa
“sabe que o cigarro pode provocar câncer?” O sistema passa a ser muito
mais complexo, e existe uma pressão das variáveis implícitas e explícitas,
motivo pelo qual o paciente está envolvido num pensamento sistêmico,
que também podemos denominar pensamento circular.
Neste modelo, a mente consciente tende a solucionar de forma “racional” e
direta aquilo que se apresenta, utilizando um pensamento linear, enquanto
a mente inconsciente busca naturalmente as conexões sistêmicas
existentes, trabalhando com um pensamento cibernético.
O “por quê”
No modelo consciente/inconsciente, assumimos que a mente consciente
está sempre questionando o por quê das coisas, avaliando-as, comparando-
as e julgando-as. Enquanto que a mente inconsciente naturalmente “sabe”
intuitivamente qual é a razão desse por quê.
Como vimos anteriormente, a mente consciente busca ter um fechamento
cognitivo, e este chega com os elementos que pode resgatar da experiência
para concluir o fechamento a partir deles.
É interessante ressaltar que ambos os conceitos são constructos e
pressuposições que não existem na vida real. No entanto, esta
pressuposição decorre da observação de diferentes processos realizados
por nossa mente. Por exemplo, suponha que, de repente, você não sabe
como resolver um problema. Esteve estudando-o conscientemente e
analisando o que deve fazer para isso, e mesmo assim não consegue
resolvê-lo. Passou o dia todo dando voltas no problema e está cansado, já é
tarde da noite quando finalmente decide ir se deitar para dormir, mesmo
sem tê-lo resolvido. Na manhã seguinte você acorda bem e, de repente,
percebe que tem a solução para aquilo que parecia muito complexo. A
mente inconsciente encontrou por si só a solução para aquilo que
conscientemente não era fácil resolver.
Pensamento / Sentimento - Emoções
No modelo consciente/inconsciente estamos considerando que a mente
consciente controla os pensamentos associados à razão ou julgamentos,
enquanto a mente inconsciente realiza os processos associados aos
sentimentos e às emoções. Portanto, no processo de separar seu paciente
para que esteja dissociado, você pode assumir desde o início que falará a
uma parte de forma mais racional e à outra parte de uma maneira que lhe
permita conectar-se com suas próprias emoções. Por exemplo, podemos
dizer a alguém que tem dificuldade em tomar decisões:
- Agora começa a perceber que todos os dias tem diante de você novas
oportunidades para tomar decisões, e que estas certamente implicam várias
alternativas, algumas complexas à primeira vista, e todas simples quando
as observa atentamente e… então… saberá que as avaliará com a certeza
de que poder decidir é um grande sucesso, e que este sucesso irá levá-lo a
entender cada vez mais e mais como vai conseguindo tomar melhores e
melhores decisões… para obter o reconhecimento de tudo o que
conseguiu…
Acordado, desperto / Adormecido,sonhador
Neste modelo, a mente consciente está sempre alerta, querendo entender,
processar, generalizar, e a mente inconsciente simplesmente está sempre
na expectativa, relaxada, tranquila. No entanto, a mente consciente,
estando alerta, também quer controlar a mente inconsciente, para que faça
tudo o que deseja. Lamentavelmente não é tão simples. Se fosse, as
pessoas que sabem que fumar faz mal para a saúde e desejam parar, fariam
isso simplesmente com uma instrução da mente consciente para a sua
mente inconsciente.
No entanto, às vezes, a mente inconsciente não entende a linguagem
específica com a qual lhe foi comunicado o que se espera dela. Outras
vezes entende literalmente. Por este motivo, temos o problema que a
mente inconsciente não sabe tudo o que deve fazer, tal como a mente
consciente projetou como expectativa.
Movimentos
A mente "consciente" pode provocar movimentos musculares
“voluntários”, enquanto que a mente “inconsciente” provoca movimentos
“involuntários”. Como você sabe, a mente consciente pode levantar uma
mão, um braço etc. somente com a intenção de realizá-lo.
Com certeza você já viu um cachorrinho dormindo, que em algum
momento produz automaticamente movimentos involuntários, por
exemplo, numa de suas patas traseiras. Os humanos também realizam
certos movimentos que não são intencionais. Então, esses movimentos,
denominados ideomotores, podem ser reproduzidos em transe e são
utilizados para nos comunicarmos com a mente inconsciente, que é fonte
geradora dos mesmos.
Consciência do agora / Contém o armazenamento de todas as
memórias
No modelo consciente/inconsciente assumimos que o consciente está
sempre alerta, presente no agora, enquanto o inconsciente tem o
armazenamento de todas as experiências que temos vivido, e não
necessariamente com os rótulos que permitem identificá-las de forma
cognitiva.
Como a mente consciente está sempre julgando, preocupa-se com o que
aconteceu, comparando com o que não aconteceu, para poder rotular,
codificar e classificar a experiência. Então, a partir do presente, deve-se
buscar referências que possam ter existido no passado e que poderiam
acontecer no presente.
A distinção especial com a mente inconsciente é que seus processos
consideram a linha temporal como um todo, e todas as memórias são
inseridas através das emoções de cada uma das experiências.
Trata de atender os problemas / Conhece as soluções
Neste modelo a mente consciente - sendo julgadora e racional - por estar
analisando os problemas, trata de atender aquilo que para ela é um
problema e pode, por exemplo, obviamente aprender ou querer resolvê-los
de forma lógica.
No caso da mente inconsciente Erickson nos ensina como um princípio
básico do modelo, que devemos confiar que ela sabe e tem a(s)
solução(ões) daquilo que o paciente necessita ou quer encontrar. Acontece
que a pessoa ou paciente não sabe que sabe.
Este princípio Ericksoniano aparece em muitas de suas terapias, em que o
transe é um facilitador para que a mente inconsciente possa encontrar os
recursos, que com certeza existem nessa ou em outra experiência, e assim
o cliente possa “transportá-los” aos contextos em que se faz necessário tê-
los. A mente inconsciente encontra estes recursos devido à busca
simultânea em “paralelo” (e não serial) de todas as experiências que
existem na mente do paciente.
Dirige os objetivos/ Acelera os objetivos
Nesta distinção é a mente consciente que solicita aquilo que se quer
trabalhar e define como e quando. No entanto, uma vez que a mente
consciente assume o controle dos objetivos, é a mente inconsciente que
tem a possibilidade de buscar numa infinidade de experiências os recursos
necessários para que a mente consciente possa dar por concluído o
processo.
Delibera / Automático
Como já vimos anteriormente, a mente consciente está sempre deliberando
sobre aquilo que deve ou não deve fazer, mesmo quando, de repente, fizer
coisas que já não quer fazer, pois do mesmo modo continua no processo de
se perguntar por que as faz e por que não deixa de fazer aquilo que não
quer fazer.
Ao mesmo tempo, sabemos que a mente inconsciente tem uma linguagem
distinta da mente consciente e, portanto, estas mensagens devem conter a
sua própria linguagem, que corresponde essencialmente à visualização.
Uma vez estabelecida a comunicação com a mente inconsciente na sua
própria linguagem, esta tende a executar esses processos automaticamente,
quase literalmente como lhe foi solicitado.
Verbal / Não verbal
A mente consciente opera com linguagem verbal, enquanto a mente
inconsciente funciona com linguagem não verbal e especialmente com
imagens. Leve também em consideração que a mente inconsciente é muito
favorável à compreensão de imagens, juntamente com as emoções que
estão associadas à própria experiência, pois essa linguagem não verbal é
processada como uma metacomunicação do que se está experimentando.
Analítico / Sintético
Conforme já vimos anteriormente, a mente consciente tende a estabelecer
marcos comparativos, utilizando como referência de uma experiência a
relação com outras semelhantes ou diferentes para extrair análise e
julgamentos através disso. A mente inconsciente, por sua vez, tende a ter
presente todas as experiências e a produzir uma síntese da aprendizagem
do todo vivido.
Serve à informação / Serve, grava a informação
Se considerarmos que a mente consciente tem como função analisar e
julgar, podemos também inferir que ela está sempre a serviço da
informação, para que possa acessar, como já vimos, um fechamento
cognitivo.
Os processos da mente inconsciente também servem à informação, mas de
uma maneira diferente, visto que está permanentemente gravando tudo o
que acontece conosco, embora não tenha tempo de rotular e classificar
toda a experiência em se tratando de uma grande quantidade de dados a
armazenar. Grande parte da informação registrada pela mente inconsciente
pode se fazer presente posteriormente na experiência do nosso paciente
através de comunicações somáticas.
Foco limitado / Foco ilimitado, expansivo
O modelo consciente/inconsciente me faz recordar uma analogia com o
comportamento de um cachorro. Se você imagina que o consciente é um
cachorro e a mente inconsciente é a casa em que desejo entrar, então,
pode-se distrair esse cachorro atirando-lhe um osso. Geralmente o
cachorro correrá atrás do osso e, uma vez que esteja entretido com este
osso, deixará o caminho até a casa desprotegido por algum momento.
Então, parte do que temos que fazer neste processo de dissociação, é
sempre fornecer um “ossinho para o cachorro”, ou melhor, várias
"distrações" para a mente consciente, para que esta diga: “Ah que
interessante! Aqui está isto, mas não estou de acordo”, ou “Sim, eu acho
que sim”. No fundo a mente consciente gera um diálogo interno disparado
pela "distração" que o terapeuta lhe apresenta, pois esse seria o seu “osso”.
Enquanto a mente consciente realiza processos que se conectam com
aquilo que lhe foi apresentado como "distração", as mensagens do
terapeuta continuam chegando à sua mente inconsciente, e já não tem
tempo para se deter em muitas delas, pois continua em seu próprio
“transe” de querer entender ou decodificar algumas das mensagens que
foram fornecidas como "distrações".
Portanto, lembre que a mente consciente manterá o foco atento naquilo que
você lhe apresenta, e a mente inconsciente estará percebendo tudo o que
foi apresentado e que a mente consciente não tem capacidade de localizar.
Aprendizagem cognitiva / Aprendizagem experiência
Também podemos dizer que a mente consciente realiza suas aprendizagens
por meio de sua cognição devido aos seus julgamentos e análises que a
levam a interpretar o que é vivido, enquanto a mente inconsciente extrai
suas aprendizagens da própria experiência em termos das emoções,
sensações e do fazer.
Leve em consideração que a mente consciente é sempre crítica, e essa é a
razão pela qual fornecemos uma "distração" ao paciente. A mente
inconsciente, entretanto, nesse processo de múltiplas associações, tomando
todas as dimensões de uma experiência, é extremamente criativa ao
conectar as variáveis que racionalmente não se conectariam.
9. HIPNOSE E SUA SEQUÊNCIA BÁSICA

O modelo
O modelo Ericksoniano foge dos esquemas e estruturas, pois o cliente é o
principal guia livre para dar orientação à terapia, ao mesmo tempo utiliza a
criatividade e a arte da observação como elementos básicos da sua
estratégia.
Se considerarmos algumas disciplinas do mundo da arte, como, por
exemplo, a pintura, e selecionarmos um pintor como Pablo Picasso,
observamos que ele teve que passar por todos os processos de
aprendizagem tradicionais e clássicos existentes antes de chegar ao
Cubismo, estilo pelo qual hoje é mundialmente reconhecido.
Do mesmo modo, se falarmos de música e tomarmos como exemplo o
jazz, podemos depreender que muitos daqueles que são excelentes
improvisadores têm uma formação musical bastante rigorosa, o que lhes
permite chegar ao ponto de poder se liberar das regras para simplesmente
se deixar fluir.
Portanto, gostaria de lhes apresentar um modelo básico, que tem a função
acadêmica de fornecer uma estrutura mínima para que você, uma vez que
o domine, possa se liberar do mesmo e dar-se a possibilidade de criar.
O modelo consiste em seis passos:
1. Concentrar / Focar a atenção.
2. Despotencializar o consciente e potencializar o inconsciente.
3. Definir e alcançar o nível de aprofundamento do transe (conversacional,
leve, médio, profundo).
4. Realizar o trabalho terapêutico durante o transe.
5. Sair do transe.
6. Sugestões pós-hipnóticas.
1. Concentrar / Focar a atenção
Para iniciar um processo de transe é essencial que o paciente foque sua
atenção em algo e, portanto, a primeira coisa que faremos é ajudá-lo a
permanecer absorto em alguma experiência.
Vale também ressaltar que geralmente, quando aparece um paciente
buscando apoio ou ajuda e começa a contar algo que o aflige, ele já está
absorto na sua própria experiência. Isto é, quando a pessoa começa a lhe
contar alguma coisa, ela já está em transe. O importante é que você, como
terapeuta, possa identificar o transe e potencializá-lo para que possa se
expandir e se manifestar com o objetivo de utilizá-lo posteriormente.
Uma forma simples de potencializar o transe e a absorção é utilizando
perguntas que permitam que seu paciente se aprofunde e vivencie muito
mais intensamente a recordação da própria experiência que está narrando.
Pode utilizar perguntas, tais como:
- O que mais havia?
- Quem era?
- Como era?
- Como era o lugar? / Que sons existiam e o que diziam? / Como sentia o
lugar?
- etc.
Se perceber, são perguntas que você faz normalmente quando está
conversando com um(a) amigo(a) e está interessado em saber mais sobre o
que está lhe contando.
Então, tenha em mente que essas perguntas colocam seu interlocutor num
estado de absorção na própria experiência que está narrando e, além disso,
se a experiência é negativa – como por exemplo um acidente – você está
fazendo com que essa pessoa volte a reviver a própria experiência.
Suponhamos que apareça alguém chamado João e me diga: "Bati o carro!"
Então, eu lhe digo:
- João, como foi isso?
- Um carro veio no sentido contrário e antes atingiu dois ou três carros na
minha frente; sorte que comigo não aconteceu nada… Mas foi bem feio!
E eu lhe pergunto:
- Alguém se feriu?
Então, começam-se a fazer perguntas bem próprias para se aprofundar um
transe. No entanto, trata-se de um transe negativo. Portanto, tome muito
cuidado com o relato que lhe é apresentado para não se aprofundar
equivocadamente. A ideia principal é que no início da sessão você tenha
plena consciência do grau de absorção (e transe) que seu paciente deve ter
e possa ajudá-lo no processo do foco.
2. Despotencializar o consciente e potencializar o inconsciente
Uma das considerações importantes no processo de indução do estado de
transe é que você não produza somente relaxamento, mas também
dissociação.
Portanto, quando você começar a falar com seu paciente, considere que ele
representa duas pessoas. Para nós, uma pessoa é a que possui a Mente
Consciente e a outra possui a Mente Inconsciente. Uma parte da mente
dessa pessoa está aqui com você e a outra está em algum outro lugar, tanto
no tempo como no espaço. O importante é que você sempre considere que
seu paciente deve estar dissociado. Se isso não ocorrer, só irá produzir
relaxamento.
“Potencializar o Inconsciente e Despotencializar o Consciente” significa,
portanto, separar a mente do paciente, considerando o modelo
consciente/inconsciente, dizendo a ele, por exemplo:
- …Enquanto você está aqui, sentado, relaxado… ouvindo… uma outra
parte sua pode estar pensando em quando era criança e, sem perceber, está
lá… junto com seus amigos, brincando…
3. Definir e alcançar o nível de aprofundamento do transe
(conversacional, leve, médio, profundo).
Quando nos referimos ao nível de aprofundamento do transe, estamos
falando do conjunto de variáveis que estão relacionadas com o
relaxamento físico e mental, a absorção na experiência e também a
dissociação do paciente. Este aprofundamento pode ocorrer tanto em
Hipnose Conversacional como em Hipnose Ritualística. Se na sessão está
sendo utilizada Hipnose Ritualística, é essencial definir que nível de transe
está sendo visado e concomitantemente a quantidade de aprofundizadores
que serão utilizados.
Se utilizarmos um dos postulados de Milton Erickson, que diz que “tudo é
hipnose”, também podemos assumir o que apresentamos anteriormente,
isto é, que quando um paciente comparece a uma sessão para trabalhar
algo que o aflige, esse tema em particular é motivo para sua absorção e,
portanto, podemos assumir que ele já chega num transe.
Então, podemos nos perguntar: “Qual é a profundidade desse transe?” “De
que maneira podemos utilizar esse transe?”
Uma vez que temos certos “protocolos” com as pessoas, podemos
considerar que uma sessão de hipnose deve geralmente começar com uma
“conversa”. Portanto, a partir do momento em que o paciente entra no seu
consultório, você pode considerar que já está utilizando ferramentas e
técnicas de Hipnose Conversacional.
Assim, durante o processo de questionamento da informação necessária
para realizar o trabalho terapêutico, você, como terapeuta, deve tomar a
decisão de utilizar Hipnose Ritualística ou Conversacional.
É interessante ressaltar que geralmente não é necessário que as sessões se
desenvolvam com o paciente num estado de transe profundo, a menos que
se trabalhe com anestesia ou temas relacionados com o controle da dor.
Por outro lado, algumas pessoas só geram amnésia (como fenômeno
hipnótico) em transe profundo. No entanto, este fenômeno hipnótico
também pode ser gerado em transes médios e leves.
Ao me referir à dor, estou me referindo tanto à dor física como emocional,
visto que esta é o resultado de uma tríade física, emocional e psicológica.
Toda dor possui esses três elementos e a composição pode ser variável. Às
vezes uma dor física é incrementada pelo emocional. Em outras ocasiões,
o emocional pode ser mais forte que a dor física, até o ponto em que esta
quase não exista. O fator psicológico também pode influir em como a dor é
percebida, como se experimenta de acordo com a própria escala interna.
Se visamos estabelecer transes profundos para nos assegurarmos da
utilização do fenômeno hipnótico da amnésia, eu recomendo que, antes de
utilizá-la na sessão, você se assegure da existência da competência
hipnótica no paciente, ou seja, que possa gerá-la. Uma vez que você tenha
essa certeza, poderá utilizá-la com confiança neste paciente como um dos
elementos próprios da terapia.
4. Realizar o trabalho terapêutico durante o transe
Visamos que o nosso paciente sempre encontre os recursos que possui para
que possa detectar o que necessita conseguir no estado de transe. Uma vez
que o paciente esteja no estado de transe leve, médio ou profundo, seja
este decorrente de um processo conversacional ou ritualístico, deve-se
trabalhar reenquadramentos e distintas técnicas terapêuticas, que fogem ao
escopo deste livro e são abordadas no Curso de Hipnose Clínica que
ministramos na Academia Inpact.
O objetivo essencial é ajudar o nosso paciente para que o transe seja um
catalisador a fim de reestruturar o seu quadro de realidade e desta forma,
juntamente com os recursos que possui, possa encontrar a solução que
procura.
Os reenquadramentos são realizados durante o transe através da utilização
de uma linguagem direta ou indireta, que podem ser utilizadas para:
● Encontrar e estabelecer uma nova conexão, agora positiva (mudança de
significado - ressignificar).
Por exemplo, para alguém que estava apaixonado e vem à terapia porque
sofreu uma desilusão amorosa, pode-se ressignificar dizendo ao paciente
que foi bem-afortunado, pois teve a sorte de conhecer quem realmente era
essa pessoa. Assim, apesar do sofrimento atual, esta foi uma experiência
menor comparada com o que poderia acontecer, e graças a isso aprendeu a
estar mais alerta, podendo evitar que isto volte a acontecer.
● Externalizar.
Neste caso restringe-se o âmbito de ação para que possa minimizar a área
de sua responsabilidade e também preparar-se para o futuro. Por exemplo,
para alguém que não alcançou um resultado e se sente o único responsável,
podemos dizer ao paciente: “Com tudo o que você faz, era muito
complexo estar em todas as áreas simultaneamente. Parte das pessoas que
o acompanham também são responsáveis por isto. Com certeza você
obteve uma importante lição para viver isso de uma maneira diferente
numa próxima ocasião, não é verdade?”
● Mudança de tempo verbal.
Utiliza-se aqui o tempo verbal tanto no passado como no futuro para
mudar o ângulo de perspectiva existente. Por exemplo: “Com certeza
alguma vez você já fez isso antes” ou “com certeza, depois que se preparar
e trabalhar sua concentração, você conseguirá estar bem, como já
conseguiu outras vezes”.
● Mudança de contexto - recontextualizar
Muitas vezes determinadas coisas que fazemos parecem ser ruins para nós,
no entanto, podem ser muito boas para outros. Portanto, neste caso, ajuda-
se o paciente a ter mais distinções daquilo que o aflige, sem a necessidade
de generalizá-lo, para que possa apreciar em quais contextos isto é
benéfico para ele. Por exemplo, para alguém que está sempre esquecendo
determinadas coisas, dar a essa pessoa a dimensão de que, na realidade,
deve aprender a recordar o que é importante recordar, e apreciar que, de
repente, é bom poder esquecer o que tem que esquecer.
5. Sair do transe.
“Sair do estado de transe” também denominamos "reorientação".
Reorientar é levar o paciente do estado de relaxamento e absorção
introspectivo no qual se encontra para um estado de alerta em que seu foco
seja o aqui e o agora.
Para realizar isto, uma vez concluído o processo terapêutico, diz-se ao
paciente que já pode começar a retornar a um estado em que seus
músculos estão mais alertas, e vai sair desse estado naturalmente para
voltar ao estado de atenção semelhante ao que começou a sessão.
Você pode utilizar os aprofundizadores de forma inversa. Por exemplo, se
para relaxar seu paciente você contou de 10 a 0, para voltar ao estado
inicial conte de 0 a 10 e diga que pode começar a voltar lentamente, para
estar aqui, neste espaço, com você.
É importante ter em mente que seu paciente, ao retornar do estado de
transe, pode estar muito relaxado e um pouco confuso, algo que pode
acontecer com algumas pessoas quando recém despertam depois de uma
noite de sono.
Baseado nisso, considere que seu paciente simplesmente mudou de um
estado de transe para outro estado de transe. Portanto, é recomendável
fazer todas as considerações próprias da função desse estado, bem como
conceder ao seu paciente o espaço e o tempo necessários até que volte a se
sentir num estado fisiológico semelhante àquele em que chegou.
6. Sugestões pós-hipnóticas
Uma vez que seu paciente esteja no processo de reorientação, conforme
mencionado anteriormente, ele está passando de um estado de transe a
outro. Portanto, neste momento, você pode utilizar sugestões pós-
hipnóticas (Capítulo 5) com o objetivo de reforçar o trabalho terapêutico.
Geralmente utilizamos algumas das palavras utilizadas durante o trabalho
terapêutico com este objetivo.
Exemplo de uma sessão de Hipnose
Para exemplificar, apresentamos a seguir a transcrição resumida de uma
sessão de hipnose, onde a letra P corresponde a quem escreve (Paul) e a
letra C ao cliente:
P: O que gostaria de trabalhar nesta sessão para se sentir melhor?
C: Eu me iludi com um rapaz que conheci no trabalho. Quando o vejo, não
sei o que acontece comigo e muitas vezes fico confusa. Então, penso na
minha vida, volto a repassar minha história e não sei o que fazer …
P: Em função do que está me dizendo, do que gostaria e que proveito
poderia tirar desta conversa que estamos tendo?
C: Gostaria de saber o que fazer… sem sentir culpa.
P: Como colocaria isso de uma forma mais positiva?
C: Chegar, me sentir tranquila e vê-lo como um simples colega de
trabalho.
P: O que mais?
C: Poder realizar meu trabalho normalmente, sem me sentir incomodada e
ter de sair de lá.
P: Ok.
C: E tratá-lo como nos tratamos no início, porque sinto que minha maneira
de vê-lo mudou.
P: Ok.
C: E isso afetou meu tratamento em relação a ele.
P: Como gostaria de se relacionar com ele?
C: Como sempre, cordial, despreocupada, que eu seja capaz de continuar a
vê-lo como um colega, e não assim: “Ai! O que vou fazer agora que o
conheci? Pois eu sou casada”…
P: Poderia imaginar como vai acontecer isso e descrever como seria?
C: Tem que começar a acontecer amanhã no trabalho.
P: Poderia começar um pouco antes? Na sua casa… como seria?
C: Ok! Seria desde a saída da garagem, no carro, saindo da minha casa.
Saio de casa relativamente tranquila, pois sou bastante organizada…
P: Como vai ao trabalho?
C: Vou no meu automóvel e assim chego no estacionamento do local onde
trabalho. Dirijo até minha vaga no estacionamento, e a partir daí caminho
para pegar o elevador até o andar em que trabalho. Saio do elevador e
começo a cumprimentar as pessoas. Como “seu local” de trabalho está no
meu caminho de entrada, eu vou cumprimentá-lo logo ao chegar.
P: E depois, o que acontece?
C: Ligo meu computador e guardo minhas coisas para começar a jornada
de trabalho.
P: E o que faz para começar a jornada de trabalho?
C: Verifico os pendentes que eu tenho. Reviso se tenho chamadas
pendentes e solicitações urgentes via email, e procuro resolver o que é
imediato. Aí começam a chegar cada vez mais e mais emails.
P: O que mais está acontecendo agora?
C: De repente, recebo uma mensagem dele, perguntando como estou.
P: O que faz então?
C: Respondo que estou muito bem e pergunto como ele está.
P: O que acontece em seguida?
C: Agora penso que devo me concentrar nas coisas que estão me pedindo e
sinto que meus dedos estão se movendo rapidamente sobre o teclado.
P: E poderia mostrar como é o movimento?
C: Claro.
P: Ok, você faz assim?
C: Sim, é assim que eu faço, talvez até um pouco mais rápido.
P: Então, o que está fazendo agora?
C: Recebo uma ligação do meu chefe, e me pergunto por que ele é meu
chefe, se não sabe nada de nada.
P: O que isso significa realmente?
C: É que já o conheço bem. Não é verdade que não sabe nada de nada, mas
é tão pouca coisa, que me faz sentir pequena tê-lo como chefe.
P: E pode imaginar que continua aí digitando no teclado?
C: Claro, pois é o que faço sempre.
P: E continua aí digitando... Por favor, olhe de fora para você mesma…
Pode ver que continua movendo seus dedos rapidamente, enquanto fala e
também olha a tela do computador?
C: Sim…
P: Enquanto eu for falando, gostaria que continuasse se movendo, e isso
vai fazer você estar nessa ação, nesse ritmo, entendendo que talvez
existam coisas que já não têm mais atrativos, ou pessoas das quais
descobrimos outros ângulos, que não nos interessam mais. Tantas vezes
mudamos nosso interesse, que nem percebemos. Assim como temos
diversos tipos de amigos, roupas que não necessariamente continuamos
usando… e mudamos.
E tantas coisas que não nos interessam mais, porque uma parte sua sabe
que não é o momento, não é o que importa, e outra parte sua continua se
movendo, movendo. E talvez essa parte sua, que continua se movendo e
movendo, é aquela que vive e encontra tantas coisas que pode fazer e que
sabe profundamente, sabe que quando algo não é mais do seu interesse,
pode considerá-lo de outra maneira, como uma roupa antiga, uma amiga
que já foi, um amigo que já não é mais, tantas coisas que às vezes nós
deixamos para trás. E talvez olhemos para elas com alegria, com humor, e
dizemos: Como pude? Como isso me atraía? E tantas vezes pensa-se assim
e muda-se e muda-se, porque a gente vai mudando, todos os dias vamos
mudando, como os milhões de células que aparecem e desaparecem todos
os dias, e não percebemos, mas sabe que se aprofunda mais no seu estado
de descobrir quem realmente é… e o que quer para você…
E nesse processo em que continua se movendo, mais emails respondidos,
outras chamadas realizadas, descobre que, se quiser, agora pode falar e
expressar o que necessita e da forma como necessita…
Enquanto continua movendo seu corpo, movendo também seus dedos e
totalmente concentrada, parte da sua vida passa diante de você e descobre
quantos amigos e amigas teve, quais realmente foram importantes, quais
continuaram na sua história e quais são simplesmente um esquecimento…
porque esse processo de mudar é tão natural, como há dias nublados e há
dias com sol, todos os dias têm seu atrativo e facilmente são deixados para
trás, porque está preocupada com o que vem… e é tão interessante o que
vem…
… mas o importante é que quando vier a próxima vez, talvez o movimento
a leve para outros lados, para entender outras partes de você, talvez queira
definir como vai continuar se movendo e que teclas vai usar com mais
frequência, para escolher e saber distinguir aqueles que estarão com você,
aqueles que serão reconhecidos, e com certeza saber selecionar melhor as
opções que o futuro irá lhe apresentar.
E como vai considerar isso, como vai escolher, talvez com mais prudência,
talvez com mais tranquilidade, talvez seja como escolhe a roupa e sabe que
uma calça preta, por exemplo, combina muito bem com uma blusa de cor
específica, e que isso se usa com uns anéis que ficam muito bem e com um
cinto que combina perfeitamente. E como já sabe escolher, vai levar isso
para outras partes da sua vida, sabendo que escolher faz parte do que
fazemos a todo momento, a cada instante…
Mas às vezes ouvimos coisas que estão aí fora, e essas coisas que estão aí
fora nos permitem ir mais adentro, aprendendo como escolhemos e como
esquecemos, e como às vezes aprendemos a escolher melhor e melhor, no
processo de avançar, de saber o que queremos ter e quantas vezes
queremos escolher…
E talvez neste momento, em que está se movendo de um lado para outro,
me ouvindo, há uma menina pequena que também está descobrindo como
vai escolher e como quer escolher, e o que vai ensinar à outra parte sua que
está aqui comigo, como vai fazer…
Por outro lado você já se encontra no futuro, descobrindo como vai fazer.
E eu vou perguntar a você e, se quiser, pode me responder em voz alta, ou
pode responder para você…
- Como vai fazer no futuro, quando estiver diante da possibilidade de
escolher?
- Como vai fazer?
Você sabe que será diferente e sabe que a aprendizagem que fez, vai estar
aí, vai ajudá-la a saber selecionar e, uma vez sabendo selecionar com
elegância, como só você sabe fazer, escolher é um privilégio, porque é
você quem toma a decisão… E à medida que se aprofunda, aprendendo,
descobrindo, sabendo como vai realizar conscientemente este processo, vai
avançar na vida, e num outro momento, quando não estiver aí no trabalho
se movendo, parte da sua mente sai para descobrir como vai ser essa nova
vida e como vai renascer e se reencantar.
Você se vê em diferentes cenários, em diversos momentos, com diversas
pessoas e vai entender as chaves e… vai saber escolher e… vai poder
descobrir quando realmente tomar decisões, pois são como roupas que não
quer mais usar, ou é algo que quer deixar para trás, e talvez transformar e
permitir que se libere.
Isso, muito bem, libere, isso… e é muito bom liberar, liberar, muito bom
liberar, e uma vez que tenha liberado, olhar isso com humor e recordar
quão divertido foi o que passou, e se encontrar com todas essas vezes em
que se divertiu tanto… e usa esse sentido do humor, que você sabe que
tem, para escolher e para esquecer o que quiser esquecer, e recordar só o
que quiser recordar.
E uma vez que isso já seja parte de você, talvez queira terminar a jornada
de trabalho, vivendo naturalmente, caminhando de volta ao seu automóvel,
divertindo-se, sabendo que inicia outra etapa da sua vida, com humor, com
esperança, com alegria, sabendo que esta etapa era necessária para que
aprendesse, porque a partir de agora você sabe como fazer isso.
E com absoluta honestidade da sua parte, uma vez que tenha plena certeza
de que sabe fazer isso e como fará, somente então vai se permitir voltar,
saindo do estacionamento, para estar muito bem, com muita alegria,
somente quando já for um fato como vai viver o que tem que viver,
quando isso for uma realidade para você, permita-se voltar para estar aqui.
10. ESTRUTURAS DE EVOCAÇÃO: MÉTODOS PARA
EVOCAR EM HIPNOSE

Os marcos de referência
Quando uma pessoa começa a nos contar uma estória ou parte de uma
experiência que teve, para que possamos entender essa estória ou
experiência, inevitavelmente necessitamos buscar referências comparativas
semelhantes ou diferentes em nosso banco de memórias.
Por exemplo, se alguém começa a narrar como foi seu primeiro dia de aula
na escola e a explicar que não queria ir e que esse dia foi muito difícil para
ele porque era extremamente tímido, e que sofreu ao encontrar tantas
crianças que não conhecia, você pode perceber que, enquanto escuta, você
começa a pensar no seu caso, se foi semelhante ou talvez totalmente
diferente.
Ao mesmo tempo “evocou” algo que não queria necessariamente evocar
“naquele” momento. Foi estimulado a fazer isso devido à narrativa que
ouviu. Talvez até sentiu a inevitável necessidade de compartilhar essa
recordação com a pessoa que estava narrando a sua experiência. Isto vai
acontecer quando alguém lhe falar de qualquer experiência, pois você irá
precisar de elementos comparativos ou de referências para poder conduzir
a estória a um contexto de compreensão.
Na realidade, essas estórias e experiências são infinitas, estão aí por toda
parte, e com elas vão surgir em você muitas evocações de experiências que
teve, ou que outros tiveram, pois são seus marcos de referência
comparativa para conseguir compreender o que lhe está sendo apresentado.
Por esta razão, frequentemente, a simples estória de uma pessoa pode tocar
profundamente milhões de pessoas, pois, para entendê-la, necessitam
torná-la própria e voltam a vivê-la.
Na Escola Ericksoniana as estórias e anedotas têm um lugar central, pois
Erickson tinha plena consciência do que produziam como processos
internos no interlocutor e pacientes. Durante seus ensinamentos Milton
Erickson falava essencialmente de suas estórias de vida e muito sobre sua
família.
Deve-se esclarecer que sua família não é necessariamente um estereótipo
da família norte americana dos anos 40, 50, agricultores, composta de pai,
mãe, filhos, filhas. Atualmente o conceito de família é bastante diverso,
múltiplo e inclusivo. A partir deste ponto de vista, por exemplo, ser feliz
atualmente em termos de relações sociais e afetivas é muito diferente do
que havia nos anos 40, 50 e início dos anos 60. Portanto, as evocações já
não podem ser feitas como se faziam antigamente. Deve-se conhecer
muito bem a estrutura de interpretação do mundo dessa pessoa para depois
devolvê-la, pois existem infinitas possibilidades.
Tive o privilégio de compartilhar experiência e ensinamentos com Betty
Alice Erickson, filha de Milton Erickson e muitas vezes sua assistente em
sessões e trabalhos terapêuticos. Seu trabalho segue a tradição mais
clássica Ericksoniana do relato das estórias e casos. No caso de Betty
Alice, cada estória de seus filhos traz não só a informação relacionada ao
que aconteceu com ela como mãe ou com algum dos seus filhos, mas
também, em distintos níveis e dimensões, ensinamentos práticos, éticos,
orientações de como se desenvolvem as mudanças com esperança e
otimismo.
Os Relatos
Uma excelente forma de estabelecer um ambiente de evocação é contar um
caso, uma estória. Estas estórias ou casos são transmitidos à mente do
nosso paciente de tal modo, que ele deve imediatamente buscar em sua
memória estórias semelhantes para ter seu próprio marco comparativo.
Continuando com o mesmo exemplo, se você relatar que seu primeiro dia
de escola foi difícil, pode ter certeza que seu paciente está pensando em
como foi o primeiro dia de escola dele, e talvez conclua que também foi
difícil, ou que não foi nada difícil, ou que na realidade nem se lembra, pois
foi algo irrelevante. Como você pode perceber, seja qual for o pensamento
do seu paciente, de qualquer maneira a sua estória faz com que ele pense
naquilo que você está contando e compare com a sua própria estória de
vida.
Do mesmo modo, analogias, processos diários comuns da vida, assim
como experiências ou objetos universais, fazem com que o paciente
comece a evocar suas próprias experiências e a revivê-las para poder
entender o que você está contando e também para estabelecer o marco
comparativo com a sua própria vida.
Por exemplo, se você diz simplesmente “gosto de lavar pratos”, o paciente
irá pensar – podendo dizer ou não – “eu também”, “eu detesto”, “para mim
é indiferente”. Do mesmo modo, quando se utiliza uma simples analogia
do tipo: “João é cabeça-dura como uma pedra”, seu interlocutor deve
pensar na pedra e compará-la com o que João deve ser.
Estes processos narrativos para estabelecer a evocação podem ser
específicos de acordo com a experiência de vida da pessoa (obtida de
forma direta ou indireta) ou eventualmente transmitidos de experiências
indiretas, como, por exemplo, dizendo: “meu filho me contou que para um
menino do colégio era muito difícil fazer ginástica, mas preparou-se tanto
para reverter essa situação, que outro dia foi impressionante vê-lo em
ação”.
A experiência anterior não foi vivida diretamente por você, mas você a
transmite do mesmo modo e, ao fazer isso, seu paciente deve estar se
conectando a situações em que teve dificuldade e se preparou
adequadamente para conseguir o que queria alcançar.
Algo que também é importante para propiciar a evocação é ter em mente
que você está apresentando uma “visualização” e, portanto, a menos que
tenha muita certeza do que está descrevendo, é recomendável que esta
tenha uma forma mais geral, um tanto vaga, provando diferentes
modalidades sensoriais e situações ou atividades.
Pressuposições e expectativas
Outra forma de estabelecer um ambiente de evocação é através da
utilização de pressuposições e expectativas sobre como uma pessoa
realizaria uma determinada atividade que realiza habitualmente.
Com certeza isso traz uma cadência, à medida que em algum momento
começa ser realizada automaticamente, como, por exemplo, evocar um
baile ou sentar numa cadeira de balanço, em que se pode utilizar um
pequeno movimento e o paciente começa a reviver essa cadência.
Nessa condição pergunta-se ao paciente: “Como ele(a) faz esse movimento
na cadeira?” Talvez seja uma cadeira de balanço ou a mãe que segura um
bebê. E pode-se perguntar também: “Como sente o peso do bebê?” E ainda
perguntar sobre qualquer outro elemento que esteja presente na
experiência do paciente e possua uma certa cadência. Essa cadência já é
suficiente para que o paciente volte a reviver parte da experiência em sua
mente.
Assumindo que seja alguém que goste de pintar, pode-se perguntar:
“Como você pinta?” Existem pessoas que pintam com frequência (e
pressupomos que esta pessoa, quando faz isso, está num transe) e você
pode lhe dizer: “Imagine que tem um quadro diante de você, o que
aconteceria se começasse a pintar agora (sem o quadro) normalmente?”
Nesse momento o braço do paciente começa a gerar um movimento
automático, e já está estabelecida a evocação pela associação com a
pintura.
Outra forma de evocar transe é através de variações. Por exemplo, se
realizarmos uma variação naquilo que fazemos sempre, causa-nos uma
certa estranheza. Suponhamos que alguém diz: “Vou ao escritório todos os
dias e faço o mesmo trajeto há 20 anos, nunca mudo o trajeto”. Então,
você pergunta ao seu paciente: “Muito bem, me diga como seria o trajeto
-– com os mesmos pontos de partida e destino – se fizesse de uma forma
diferente?” Nesse instante o paciente tem que focar/concentrar-se quase
completamente em algo que não havia feito com frequência, e devido a
isso estará num estado de transe.
Além disso, quando pedimos que o nosso paciente procure experiências
que se encontram “antes, depois ou durante” um certo período de tempo,
estamos utilizando o conceito de linha do tempo e dissociando-o. Isto é, o
paciente observa a experiência a partir do presente e “visita” o que
aconteceu “antes”, ou projeta o que acontecerá “depois”, ou pode ver o
processo “durante” a ocorrência de determinados eventos.
Suponha que eu esteja mantendo uma conversa com alguém e você
imagina a seguinte experiência:
P: - Você gosta de alguma fruta?
C: - Sim, claro. Gosto de banana.
P: - Então, suponha que você tenha essa fruta na boca na última vez que a
degustou. Pode ser?
Agora imagine a textura dessa fruta na sua boca. Obviamente você
conhece bem a cor da sua fruta, conhece também a sua consistência, se é
mais dura ou mais macia, se essa estava mais verde ou exatamente no
ponto, e a quantidade de açúcar e acidez, ou a sensação que provocou em
sua boca, e as papilas gustativas podem reconhecê-la imediatamente.
Neste momento eu vou pedir que você viaje ao passado e esteja numa
outra ocasião, em que tenha saboreado essa fruta da qual você gosta e…
pense como era servida, ao natural ou preparada com outras coisas?
Depois volte mais no passado e encontre outra situação em que tenha
provado essa fruta, e continue viajando com essa fruta no tempo, até que
em algum momento você se depara com a primeira vez em que
experimentou essa fruta e observa quem estava ao seu lado ou se estava só
e… como essa banana era servida. O que fez com que você gostasse tanto
da banana e a que se deve o significado que deu a essa fruta, qual é a razão
pela qual gostou ou talvez veio a gostar depois, não sei.
E uma vez que tenha isso, gostaria de lhe pedir que rapidamente, ou na sua
velocidade, você volte ao presente…
Agora pense: O que viveu nesta rápida viagem com a banana?
C: - Eu me lembrei das vitaminas de banana que minha avó preparava para
mim, e de quando tomávamos lanche com meu avô durante as férias. Não
sabia que isso era felicidade para mim.

O interessante desta experiência é a dimensão humana sobre o símbolo


“banana” que levamos em consideração, em que a “banana” é muito mais
que a fruta em si. O transe foi evocado por meio do uso da linha do tempo
e é um facilitador dessa conexão que toca muitas dimensões.
Gostaria de mencionar duas alternativas adicionais, que também permitem
evocar, e são: conscientizar uma pessoa sobre algo que está falando, e
também gerar alternativas com múltiplas possibilidades.
Na primeira, quando você começa a fazer perguntas de “consciência”, tais
como: “O que mais aconteceu?”, “O que mais viu?”, “Como sabe disso?”,
“Como estavam as pessoas?” etc., o paciente se vê estimulado a estar
imerso na experiência, e essa imersão para ele(a) é um estado de transe.
Na segunda, ao apresentar ao paciente alternativas com múltiplas
possibilidades, ele(a) tem a possibilidade de completar com aquilo que
mais lhe interessa ou é mais familiar. Por exemplo, se você disser ao seu
paciente: “Imagine que está caminhando num bosque, pode ser numa
praia, ou também por algum lugar que para você seja muito importante ou
agradável”, pode ter certeza de que ele(a) começará a evocar algo que seja
importante para ele, ou aceitará o bosque ou a praia.
11. REGRAS DA MENTE

Intercalação e homofonia
A intercalação também é conhecida por alguns profissionais como
marcação analógica, no entanto, eu considero que existe uma diferença.
A intercalação pode ser uma palavra, frase, ideia ou sugestão, inserida pelo
terapeuta no meio de uma frase ou conversação com o objetivo de não ser
captada pela mente consciente, mas que a mente inconsciente perceba
como uma mensagem com informação relevante.
A marcação analógica, para mim, é muito mais sutil, porque pode ser uma
ênfase, uma entonação numa palavra, um tom de voz, articulação, gesto ou
informação paraverbal, fornecida para realçar parte do que queremos
enfatizar como importante na transmissão de uma mensagem.
Muitas vezes numa frase existe a combinação da intercalação que traz
consigo marcações analógicas, o que levou algumas pessoas a
considerarem-nas sinônimas. Milton Erickson também era conhecido por
sua maestria na utilização de intercalações e marcações analógicas, pois
transmitia mensagens com vários níveis de significados e interpretações.
Nós falamos com intercalações e marcações analógicas diariamente sem
perceber. A todo momento em que estamos falando, estamos fazendo
marcações analógicas. Seria como dizer a alguém que está atrasado:
- Corra, corra! Vamos! Você sempre se atrasa, tomara que você mude
esse hábito. Estamos esperando!
Neste exemplo, as palavras “corra, corra, vamos e esperando” são
marcações analógicas, e “tomara que você mude esse hábito” corresponde
a uma intercalação.
Se não usássemos marcações analógicas, falaríamos com uma voz
monocórdia, como as caricaturas de robôs dos anos 60. Através das
marcações analógicas expressam-se as emoções e a linguagem ganha
interpretação semântica, além do significado do próprio texto.
Em Português, talvez não tenhamos tanta consciência das palavras
homófonas em comparação com o idioma Inglês. Ao utilizar palavras
homófonas podemos gerar em nosso paciente um processo inconsciente,
no qual ele, na dúvida em interpretar adequadamente a mensagem que lhe
está sendo transmitida, deve buscar ambos os significados apresentados
pela palavra homófona, evocando assim um estado de transe.
Por exemplo, se você disser a um paciente que tenha um problema afetivo:
- Quando... "des-amor"... é uma questão evidente, sabe o que resolveria?...
"Con-sciência"... isso!
Ambas as palavras, quando ditas com marcações analógicas, são
entendidas tanto pela mente consciente como pela mente inconsciente com
seus dois significados devido à homofonia presente. Então, des-amor será
decodificado como "desamor" e como "diz amor" (ou como "dês amor",
em função da pronúncia específica). Enquanto que con-sciencia será
interpretada como "consciência" e como "com ciência” .
Sugestões Permissivas Diretas
Outra maneira de evocar condutas específicas a um paciente em estado de
transe é por meio do fornecimento de sugestões permissivas diretas e
frases que ofereçam diferentes possibilidades. Por exemplo, podemos dizer
ao paciente: “Agora sua mão pode começar a se mover automaticamente,
como quando chama um taxi ou pede a conta num restaurante e
inconscientemente, de repente, ela já está levantada”.
As evocações de atos naturais e mecânicos são rapidamente interpretadas
pela mente inconsciente, visto que se depara com um automatismo e a
partir dele estabelece a resposta de comportamento. Por exemplo, podemos
dizer a um paciente que tenha dificuldade em dizer algo a outra pessoa:
"Pode ser curioso como, sem que ela perceba, você sinta um impulso de
querer dizer algo que está presente e simplesmente sairá no momento
certo, como quando conta alguma coisa a uma amiga com muito carinho e
consideração, ou como quando falou de algo que era importante para você
e poderia ter pensado nisso ou não, mas de repente se viu falando do que
queria".
Como terapeuta, leve em consideração que para ativar uma conduta
específica é necessário que esta seja antecipada por uma evocação de atos,
comportamentos ou experiências, em que de alguma forma esteja presente
o que você quer que se produza no paciente, independentemente da
experiência estar diretamente relacionada. Portanto, se você quer que
"algo" se produza em hipnose, deve ajudar seu paciente a evocar, uma vez
que já esteja dissociado.
Por exemplo, suponhamos que temos um paciente se queixando de tomar
péssimas decisões, que devido a isso toda sua vida é uma confusão, e que
gostaria de saber como tomar decisões. Então, você pode dizer ao seu
paciente que tomar decisões é algo natural... que a todo momento está
tomando uma decisão, decisões de todo tipo. Por exemplo, decidindo o que
vai comer, até onde vai, que coisas quer fazer durante o dia, que direção
vai tomar, o que quer estudar, que roupa vai vestir, em que momento
decide sentar ou estar de pé...
Você sabe que, quando diz “toma decisões” e fornece um amplo leque de
possibilidades, a neurologia do paciente começa a buscar os paralelos e a
partir daí, ao extrapolá-los, a aprendizagem será muito mais fácil para ele.
Além disso, estas evocações podem ser estabelecidas de muitas maneiras,
por exemplo, através de estórias, contos ou metáforas. Por esta razão
Milton Erickson contava tantas estórias, pois através delas estava sempre
buscando a evocação em quem o ouvia.
Exercício 11:
Procure evocar numa pessoa a experiência de felicidade, satisfação
pessoal, decisão e liberdade.
Todo pensamento ou ideia causa uma reação física e biológica
Um exemplo desta pressuposição é a experiência de assistir um filme de
terror, assumindo que você não goste. Provavelmente, no decorrer do
mesmo, você terá a pulsação cardíaca e a respiração alteradas. Isto também
ocorre com experiências que são previamente rotuladas com um alto grau
de importância, por exemplo, uma entrevista de trabalho, um exame final,
uma maratona, entre outras.
A pessoa atribui tal grau de importância ao sucesso, imaginando
consequências negativas se não obtiver o resultado desejado, que esta se
torna uma experiência mais difícil. Nessa condição, a pessoa pode ter
transtornos de sono, de alimentação, estomacais, como consequência do
estado emocional.
O lado bom desta pressuposição é levar em consideração que, se o
paciente foi capaz de estabelecer uma imagem que lhe causa tal alteração
físico-biológica, também será capaz de substituí-la por outras imagens que
sejam favoráveis para manter um estado interno adequado e viver cada
uma dessas experiências da maneira que deseja.
Então, para prestar um exame final ou comparecer a uma entrevista, o
terapeuta pode ajudar o paciente a ter em sua mente a visualização de
como será, da forma mais adequada para ele(a), estando tranquilo,
confiante, tal como fez em outras ocasiões. Pode-se inclusive visualizar
verificando o resultado e vendo como está contente com o que conseguiu.
Evidentemente, também é necessário que a pessoa estude e faça o que
deve ser feito, como qualquer aluno, só que terá em seu estado interior a
certeza e tranquilidade que lhe permitirão fazê-lo bem-feito.
O que se espera tende a ser realizado (em nossa mente...)
Quando projetamos um evento que pode acontecer, nossa mente foca nessa
expectativa e gera a partir dela uma árvore lógica de probabilidades em
torno das possíveis situações que se desencadeiam do evento inicial. Por
esta razão é muito importante que os nossos pacientes não só enunciem
verbalmente o que eles desejam, mas que também os ajudemos a construir
imagens que, uma vez repetidas em sua mente, facilitem a obtenção dos
resultados esperados.
Lembre-se que é necessário que aquilo que o nosso paciente deseja obter
seja estabelecido numa linguagem positiva, pois nossa mente não gera
imagens de experiências na forma negativa, visto que a negação é um
constructo lógico que implica oposição daquilo que criamos como
imagem. Então, alguém que diga "não quero fumar", irá gerar uma
imagem em que está fumando, e ele não só nega a experiência no sentido
de dizer "é o oposto a fumar”, sem fornecer ao paciente uma clara
definição do que deve fazer como alternativa ao que não quer.
Portanto, neste caso é necessário que o paciente articule a imagem do que
realmente quer. Por exemplo, adquirir consciência daquilo que antes o
impelia a fumar, e ter a imagem de si mesmo no presente, em que respira
fundo e diz a si mesmo: “estou conseguindo!".
A imaginação é mais poderosa que o conhecimento
Esta pressuposição nos diz que quando a mente consciente – no sentido de
ter o conhecimento – está em conflito com a mente inconsciente, esta irá
geralmente prevalecer em termos do resultado final esperado. Quando a
“imaginação” e a lógica estão em conflito, a imaginação geralmente
“vence”.
Por exemplo, uma pessoa que quer chegar a um peso específico, reduzindo
25 quilos em relação ao que pesa hoje, sabe muito bem que deve comer
menos e talvez até saiba exatamente o que deve comer. No entanto, na sua
mente existem imagens que não são conscientes, que a estimulam a
continuar no mesmo ciclo de alimentação indevida. Estamos nos referindo
aqui à Segunda Lei do Esforço Reversível vista no Capítulo 4.
Com esta pressuposição estamos novamente reforçando a ideia da
importância da criação das imagens, que sejam positivas, assim como das
evocações, pois estas por si nos trazem imagens específicas de situações e
experiências já vividas.
Ideias contraditórias não podem ser “sustentadas” simultaneamente
Esta pressuposição diz que, se alguém acredita em algo, não pode
simultaneamente não acreditar naquilo em que já sabe que acredita. Por
exemplo, se alguém não confia em uma pessoa – por qualquer razão – é
muito difícil que simultaneamente também confie. O que pode ocorrer é
que esta pessoa desenvolva uma conduta, na qual simula que confia diante
da outra pessoa, mas realmente não confia. Então, quando falamos de
ideias, estamos nos referindo a imagens que representam crenças, e não
podem ser afirmadas e negadas simultaneamente.
Quando você era pequeno(a), talvez tenha acreditado em Papai Noel. No
entanto, no seu processo de desenvolvimento, em algum momento, torna-
se presente que Papai Noel não existe (espero que isto não seja uma má
notícia para você a esta altura da sua vida). Uma vez sabendo que Papai
Noel não existe, seria muito difícil para você acreditar que existe ou não
existe. Poderia passar por uma etapa de dúvidas sobre a sua existência, e
nesse momento busca evidências, tanto de existir como de não existir, mas,
uma vez validada a sua não existência, já não pode mais acreditar nele.
Uma vez que uma ideia tenha sido aceita pela mente inconsciente,
permanece até que seja substituída por outra ideia (E quanto mais
tempo a ideia permanecer, mais resistência ela irá oferecer para ser
substituída)
Quando seu paciente já tem uma crença estabelecida, para ele é difícil
mudá-la, já que essa era sua melhor opção para automatizar processos. A
menos que, por alguma razão, algo venha a gerar um contraexemplo da
mesma e, portanto, provocar a sua mudança. Se, além disso, o paciente
está convencido de que sua crença é uma “realidade” porque a viveu, será
mais difícil modificá-la. E se isto se deu ao longo do tempo, por exemplo,
quando já faz parte da quarta idade, será ainda mais difícil modificá-la.
Deste modo deve-se levar em consideração que, ao mudar uma crença,
você está ajudando seu paciente a modificar ou mesmo invalidar outras
experiências do passado. Então, tenha em mente que, para que um paciente
realize a mudança de uma ideia, esta deve ser “aceita”, e será reconhecida
como válida enquanto for funcional.
Por outro lado, é muito comum nos depararmos com situações em que a
pessoa mantém a ideia (ou uma crença, por exemplo) apesar dela já não ser
funcional. Isto é, a ideia se manteve de forma “a-contextual”, sem levar em
consideração as mudanças que ocorreram.
Na terapia a nossa função é catalisar o processo de mudança do que está
presente por alguma ideia que seja mais funcional. Enquanto não se
perceber o valor da nova ideia ou crença, permanecerá a antiga.
Uma indução de um sintoma emocional tende a causar mudanças
orgânicas se persistir ao longo do tempo
Se entendemos que homeóstase (de acordo com o Novo Dicionário
Aurélio Da Língua Portuguesa) é:
1. f. Fisiol. Tendência à estabilidade do meio interno do organismo.
2. f. Cibern. Propriedade autorreguladora de um sistema ou organismo que
permite manter o estado de equilíbrio de suas variáveis essenciais ou de
seu meio ambiente.
Temos que as emoções produzem uma alteração em nossa homeóstase e à
medida que esta se mantenha ao longo do tempo, por exemplo, alterando o
pH do corpo, produzindo mudanças hormonais, debilitando o sistema
imunológico, nosso organismo estará em desequilíbrio e irá exigir esforços
adicionais de outros órgãos para que exista a compensação, causando no
decorrer do tempo um eventual problema de saúde. Por exemplo, alguém
que vive constantemente num estado de raiva e insegurança,
provavelmente sofrerá determinadas alterações, tais como síndrome do
cólon irritável, gastrite, enxaqueca etc.
Novamente, o aspecto interessante é que esses estados estão presentes no
paciente porque ele(a) não consegue “deixá-los” partir. Acontece que para
ele(a) encontram-se como que congelados no tempo, e muitas vezes
passam a fazer parte da sua própria identidade. Para ajudá-lo a
“descongelar” esse estado, visamos que o nosso paciente possa acessar
estados internos em que esteja sem o estado emocional que o mantém
numa situação prejudicial, fornecendo-lhe os recursos necessários para que
possa acessar outros estados emocionais que lhe trarão um benefício
maior.
Cada sugestão aceita permite que novas e sucessivas sugestões sejam
aceitas com menos resistência
Provavelmente em alguma ocasião você conversou com alguém que não
era necessariamente do seu agrado ou com quem não tinha afinidade, e
repentinamente esta pessoa disse alguma coisa como recomendação, que
poderia ter sido até congruente ou racional, entretanto, você não aceitou
muito bem aquilo que lhe foi comunicado. Obviamente estamos falando
que entre vocês não existia “rapport” , e na “ausência deste” havia pouca
empatia e/ou sintonia. Ao contrário da experiência anterior, em que a
pessoa com quem falamos é alguém que apreciamos e valorizamos muito,
e a mensagem comunicada será muito bem recebida.
Portanto, é essencial o desenvolvimento de rapport numa sessão, pois
havendo rapport as sugestões serão bem recebidas e, se estas forem
fornecidas inicialmente com uma linguagem indireta, será ainda mais fácil
a sua aceitação. Ao mesmo tempo, à medida que estas mensagens indiretas
são aceitas, é possível incrementar a quantidade de mensagens diretas em
função da profundidade do transe.
Ao trabalhar com a mente inconsciente e suas funções, quanto maior
for o esforço da mente consciente, menor será a resposta do
inconsciente
Esta é outra forma de nos conectarmos com a Lei do Esforço Reversível,
onde estamos dizendo que, quanto maior for o esforço da mente consciente
– isto é, repetir coisas que eventualmente não quero que aconteçam –
como, por exemplo, “NÃO quero mais fumar”, menor será a resposta da
mente inconsciente, que realmente entende muitíssimo melhor as
mensagens por meio da visualização.
No caso de “parar de fumar”, teremos que ajudar o nosso paciente a se
permitir gerar imagens de como faria isso a partir do momento em que
antes tinha um “disparador” que iniciava o processo denominado “fumar”,
sem que continue dizendo a si mesmo “tenho que parar de fumar” ou
“quero fumar menos”, mas estabelecendo uma sequência de imagens
representando o novo processo
12.INDUÇÕES

O clássico
De uma maneira simples podemos dizer que uma indução em hipnose é o
processo pelo qual levamos um paciente ao transe. Este processo consiste
de várias etapas, que apresentarão diferenças dependendo do modelo
considerado – Hipnose Clássica ou Ericksoniana. Vale recordar que a
hipnose Ericksoniana tem sua base na hipnose clássica e extrai desta parte
de suas técnicas. Neste capítulo vamos abordar as induções de acordo com
a Hipnose Clássica.
Fixação da vista
Inicialmente utilizava-se como indução fazer com que a pessoa olhasse um
ponto remoto na parede, ou um pêndulo, ou mostrava-se a ela uma espiral
girando, ou outros elementos que visavam a fadiga e o tédio do paciente, e
assim acessasse o estado de transe. Enquanto se mantinha a pessoa
olhando o ponto/objeto/etc. o terapeuta fornecia ao paciente mensagens
que permitissem tanto o relaxamento como a dissociação.
Também se utilizava (e muitos ainda fazem isso) dois dedos voltados para
baixo – simultaneamente à mensagem – para que o paciente, observando
os dedos do terapeuta a uns trinta centímetros de seus olhos, tendesse a
segui-los e fosse baixando sua própria vista até o ponto em que suas
pálpebras se fechassem naturalmente.
Estas técnicas eram utilizadas para produzir fadiga e tédio que, somados a
uma voz monocórdia ou plana (para alguns enfadonha), completavam o
estado e consequentemente produziam a indução ao transe. Esse estilo de
voz e de falar ainda é um estereótipo do que se denominava “voz
hipnótica”.
Aqueles mais próximos da Hipnose Clássica consideram que não pode
haver hipnose se a voz carregar emoções e não for “plana e monocórdia”.
No entanto, como uma evolução natural da Hipnose Contemporânea,
acredito que pode ser muito mais indutor que a voz tenha as emoções e
características necessárias do contexto para produzir e aprofundar o estado
de transe. Atualmente pode parecer trivial e até engraçado para você, mas
para a hipnose foi muito importante descobrir que o importante não era só
a fadiga e o tédio, mas também o relaxamento com a dissociação, e com
isso simplesmente solicitar ao paciente “agora pode fechar os olhos”.
Muitas vezes também havia a preocupação por parte do especialista de
hipnose com o fato dos olhos do paciente estarem fechados ou abertos, e
ainda pode haver uma sensação de desconforto no terapeuta se o paciente
mantém os olhos abertos. Na verdade, hoje sabemos que não é necessário
que os olhos permaneçam fechados para estabelecer o estado de transe.
Muitos dos transes podem ser desenvolvidos em vigília e acontecer, por
exemplo, mediante uma conversa (hipnose conversacional).
Relaxamento ou fadiga do sistema nervoso
Em Hipnose Clássica denomina-se relaxamento progressivo o processo de
utilização da Lei da Atenção Dirigida para o relaxamento do corpo do
paciente. Em geral, diz-se ao paciente que ele(a) sentirá os ombros muito
relaxados, o tronco, os músculos das pernas, panturrilhas e os pés também
relaxados, e que aos poucos começará a sentir todo seu corpo muito
relaxado. Enquanto se comunica ao paciente a frase anterior, pode-se
começar uma intercalação com o início do trabalho terapêutico.
Outra forma de se produzir fadiga do sistema nervoso, cansaço e/ou tédio,
é através da utilização de visualização guiada. Por exemplo, propor ao
paciente que vá caminhando num lugar muito agradável, ou uma última
viagem que tenha realizado e tenha sido agradável. Neste caso, recomendo
que inicialmente o paciente conte ao terapeuta parte do que aconteceu na
viagem, de modo que a devolução realizada pelo terapeuta tenha
elementos mais precisos. Para tanto são feitas perguntas básicas de
contexto, tais como: Para onde foi a viagem? Como era o lugar? Como
você viajou? Com quem estava? Como estava o clima? O que dizia a si
mesmo? O que comia? etc. e com isso o paciente começa a estabelecer o
seu próprio estado de transe.
É importante ressaltar que deve haver uma mudança de tempo verbal
quando você começar a comunicar ao paciente a mensagem com a
visualização que reproduz parte da viagem. No início você está falando no
passado e, em seguida, no presente. Isto pode ser utilizado desde o início
da conversação.
Confusão mental
As confusões mentais podem ser estabelecidas de forma linguística,
utilizando variações no tempo (passado/presente/futuro), no contexto
espacial (aqui/lá/em outro lugar), ou também por forma
(correto/equivocado). Com isso visa-se que alguém racional, que esteja
tentando seguir a mensagem fornecida pelo terapeuta, sinta uma confusão.
Por exemplo, você pode dizer ao paciente:
- Que bom que você está aqui, porque estar aqui é muito melhor que ter
parte da sua mente em outro lugar. Este é o lugar correto para melhorar.
Este é o tempo e não outro, porque talvez tenha tido no passado uma
perspectiva diferente da que vai ter no futuro, mas não sabemos se aqui ou
lá, no passado ou no futuro, você vai ter a aprendizagem que vai realizar
agora. Como vai fazer isso? Talvez diferente, ou igual? Mas sei que tanto
lá, como aqui, tanto no futuro, como no passado, vai ser absolutamente
diferente de como vai acontecer agora.
Como você pode notar, a mensagem faz sentido ao ser lida. No entanto,
apenas ouvindo, gera uma confusão à medida que suas referências
produzem muitas polaridades e a própria sequência impede uma
compreensão total a nível consciente pelo paciente, acarretando um estado
de transe. Isto é, enquanto o paciente, utilizando suas competências
racionais, tenta decodificar a mensagem no nível consciente, a velocidade
com que lhe são fornecidas as diferentes alternativas não facilita a sua
decodificação, gerando transe.
Em termos neurolinguísticos estão sendo fornecidas nominalizações ao
paciente, verbos transformados em substantivos, que não têm um correlato
com uma concretização específica na mente do nosso paciente. A pessoa
deve realizar três processos de decodificação simultâneos e, enquanto está
terminando o processo da primeira frase, já vem uma segunda ou uma
terceira. O importante neste processo é que, uma vez que seu paciente já
esteja em transe, você pode considerar que sua mente inconsciente está
alerta, ouvindo a mensagem terapêutica que vai lhe comunicar.
Outra forma de induzir o transe utilizando a linguagem seria adicionar ao
que foi feito acima a Catalepsia de Pálpebras de Dave Elman. Para tanto,
deve incluir somente como intercalação, juntamente com a mensagem de
confusão, o que foi visto no Capítulo 6.
Outra forma de induzir o transe através da conversação é por meio das
Realidades Empilhadas. São estórias que vão se interconectando umas com
as outras, abrindo possibilidades e novas realidades, para depois ir
fechando cada uma no sentido inverso ao qual foram abertas. Por exemplo:
“Quando eu era pequeno, viajava com meu avô, adorava viajar numa
caminhonete que ele tinha, e íamos para o campo, e quando chegávamos
no campo – ele era médico veterinário – ele trabalhava com cavalos de
corrida e tinha cem cavalos de corrida, então, naqueles momentos não era
tão divertido ver tantos cavalos, e eu ficava de lado e começava a ler, e
lembro que tinha um livro do qual eu gostava muito, que era do Ursinho
Pooh, então, abria o livro do Ursinho Pooh e começava a ler aquelas
estórias maravilhosas daquele ursinho. Quando se encontrava em situações
muito complexas e ele queria ser apreciado e querido, seu amigo Tigrão
lhe dizia certas coisas que realmente eram pouco animadoras, ou seja, o
menosprezava, mas o Ursinho Pooh sempre tinha um espírito positivo e
brincava e seguia adiante, apesar dos descasos e do Tigrão, que estava ao
seu lado. Numa ocasião, lembro que o Ursinho Pooh fez uma viagem, e
nessa viagem ele vai para outro lugar, e ele não conhecia esse lugar, e esse
lugar era como um lugar mágico, e ele já não existia, havia outros seres,
outras pessoas, e nesse existir, nesse lugar estranho, com outros seres e
outras pessoas, aconteciam coisas mágicas. Tudo o que eu acreditava que
podia acontecer, acontecia lá, e a gente conseguia as coisas que queria, as
coisas eram absolutamente fantásticas e idílicas. Então, quando o Ursinho
Pooh descobria que estava lá, voltava e podia dizer ao Tigrão “olha o que
acontece, olha, existe este lugar, as coisas são passíveis de serem
realizadas”. E eu fechava o livro e ficava super contente quando estava
com meu avô, e voltávamos na caminhonete para sua casa”.
Como você pode perceber, começa-se com uma estória, que abre outra, e
esta uma outra, para depois fechá-las, e em cada uma delas há mensagens
terapêuticas.
Direção equivocada da mente
Uma forma de induzir um paciente ao estado de transe é simplesmente
apresentar-lhe algo como:
- O que você acha de fazer um teste para ver como funciona a sua mente?
Assim pode entender melhor como processa e constrói imagens.
Uma vez aceito o teste pelo paciente, as técnicas vistas no Capítulo 6
também são utilizadas como “portas” de entrada para um estado de transe.
Lembre-se, por exemplo, de utilizar um teste de sugestionabilidade para
comprovar que está em transe, ou qualquer técnica que incorpore uma
resposta física a algo que é imaginado, talvez catalepsia de pálpebras ou
fechamento de olhos.
Perda do equilíbrio
Você já deve ter tido a experiência de viajar de trem, ou de estar num
barco, ou de andar a cavalo. Se teve a experiência, provavelmente você se
lembra que no início você tem muita consciência dos movimentos que está
vivendo, no entanto, num dado momento esses movimentos tornam-se
mais naturais e posteriormente parte dos seus próprios movimentos.
Algo que também acontece em tal experiência é que a sua fisiologia
adquire esses movimentos, ou seja, você começa a ver os objetos e pessoas
com esse mesmo movimento relativo, e pode distinguir inconscientemente
quem se move como você (outras pessoas no trem, por exemplo) e quem
está fora desse movimento (árvores). Até o ponto em que, uma vez
concluída a experiência, você continua sentindo esses movimentos, como
se eles ainda estivessem presentes. Quando esses movimentos já foram
internalizados por nós, fazem parte da nossa memória.
Portanto, se você percebe que uma pessoa começa a falar de uma viagem
de trem, e muito sutilmente apresenta um movimento lateral, como o que
produz um vagão de trem, você pode evocar na mente inconsciente do
paciente informação daqueles movimentos, que somados ao relato e às
outras evocações, aprofundam o estado de transe.
Por exemplo, se uma pessoa diz a você:
- Na semana passada eu viajei para o sul e me lembrei muito de como
eram minhas viagens na época de estudante.
Então, você pode lhe dizer:
- Sério, de trem? E como foi? (e você pode começar um movimento lateral
muito sutil – como o que ocorre num trem – e pode incrementá-lo à
medida que percebe o aprofundamento do estado de transe).
Algo que também pode ser utilizado em termos de movimento são cadeiras
de balanço, jogos de crianças que tenham determinados vaivens que
incluem cadências, viagens de ônibus, de metrô, ou fazer com que a pessoa
imagine os movimentos das ondas do mar, ou quando a mãe o ninava para
fazê-lo dormir.
Sistema nervoso em choque
Esta indução é raramente utilizada numa sessão de hipnose, a menos que
exista alguma condição especial que a justifique, como, por exemplo, um
paciente que esteja fora de controle, com histeria. Neste caso você pode
fazer qualquer coisa fora do que o paciente espera como conduta com o
objetivo de obter sua atenção, e passar de um transe a outro transe.
Por exemplo, se a pessoa está tendo um ataque de histeria, você pode
eventualmente dizer a ela “CALE-SE” e, em seguida, você continua
falando como se nada tivesse acontecido, tanto por parte do paciente como
pela sua. Sua mudança de conduta está tão fora do esperado pelo paciente,
que produz um choque. Uma vez nesse estado, o paciente está mudando o
foco da sua atenção de interno para externo, e é o momento de ajudá-lo a
estabelecer um novo transe.
Também podemos dizer que parte desse choque é provocado pela confusão
que se dá em sua mente, entre o que estava vivendo internamente e o que,
de repente, ocorre fora de si, que não é o normal.
Conta-se que Milton Erickson em seus primórdios, quando ia pelos
corredores do hospital onde trabalhava e vinha uma pessoa em sentido
contrário, esbarrava nela intencionalmente, voltava-se e dizia “são 10” e,
então, dizia “quem perguntou a hora?”, gerando com isso confusão e
choque.
Qualquer tipo de padrão de conduta que esteja automatizado e seja cortado
ou interrompido, tem uma alta probabilidade de produzir um tipo de
catalepsia momentânea. Esse é o momento em que se pode aprofundar o
estado de transe, assumindo que essa seja uma porta para sua entrada.
Algo que indubitavelmente gera muitíssima surpresa e estupefação é a
interrupção do padrão do cumprimento. Quando alguém estende a mão
para cumprimentá-lo, tem automatizado que você responderá
imediatamente. Se não for assim, haverá uma interrupção da conduta,
abrindo uma porta para o estado de transe.
Também é utilizada como técnica de indução a sobrecarga de informação,
que consiste em nada mais do que falar em cada um dos canais VAC
(visual, auditivo e cinestésico), incrementando a velocidade, até o ponto
em que para a pessoa seja muito difícil acompanhá-lo, gerando confusão e
oferecendo assim uma oportunidade para o estado de transe.
Algo que também produz indução é o poder da autoridade. Em geral, um
profissional da saúde, como um médico, por exemplo, já o tem assegurado
de antemão (o poder do avental branco!) com o paciente, e o que lhe disser
será recebido com o peso da sua autoridade e conhecimento,
transformando-se em algo real e abrindo naturalmente a possibilidade de
falar com ele já num estado de transe.
13. RESSIGNIFICAR O VIVENCIADO

A necessidade
Grande parte dos problemas que os pacientes trazem para a terapia está
relacionada com o fato de terem tido experiências em suas vidas que não
foram aquelas que teriam gostado de viver. No entanto, ocorreram, e sob
esse aspecto não têm a possibilidade de modificá-las. O interessante disto é
que, independentemente da experiência ter acontecido e não podermos
apagá-la, é possível conseguir que tenha na mente da pessoa um
significado diferente do que lhe foi atribuído inicialmente.
As perguntas
Tomemos o modo natural de falar do paciente, permitindo que se expresse
e facilitando para que continue a narrativa do seu interesse, ajudando-o a
contextualizar ao máximo o que quer contar. Por exemplo, se o paciente
começa a contextualizar e diz “outro dia eu fui pescar”, e “fui pescar com
dois amigos”… Você, como terapeuta, deve apenas ajudá-lo a evocar mais
detalhes com perguntas, tais como: “Ah, e onde foram?” que redundam em
respostas, tais como: “Fomos a tal lugar”. Então, seguindo a mesma linha,
pergunta: “E como foram?” “Fomos de carro”. “E quem foi nesse carro?”
“E do que falavam?” “E como era a paisagem?" “E como estava o
trânsito?” “E a temperatura?” “Tinha muito barulho?” “Ouviram música?”
etc.
Isto é, você começa a ajudar o seu paciente a construir aquilo que viveu de
forma muito mais nítida, como um filme e, sem perceber, o paciente vai se
ver imerso no próprio filme ou experiência que já viveu. À medida que a
vai enriquecendo e avançando no tempo, já está estabelecido o estado de
transe. Como pode perceber, a indução a um transe conversacional é
bastante simples e natural, basta apenas utilizar perguntas específicas para
evocar a experiência.
Perguntas do tipo:
- Quando? Onde? Como? Com quem? O que?
Lembre-se também de utilizar “conectores” (e, ou etc.) para ajudar seu
paciente a “conectar” as distintas experiências, dizendo, por exemplo,
juntamente com as perguntas: “e o que mais acontecia?”
Do mesmo modo é importante que, ao perceber que o transe está se
estabelecendo, você faça uma mudança no uso dos tempos verbais, do
passado para o presente. Por exemplo, você pode modificar a mesma
pergunta feita anteriormente, e em vez de lhe dizer: “E o que mais
acontecia?”, agora você diz: “E o que mais está acontecendo?” A partir
dessa pequena diferença você continua falando no tempo presente. Uma
vez realizada essa mudança, permita que seu paciente faça uma mudança
de foco, do que está vivendo externamente para o que vive internamente.
Neste caso, ao invés de perguntar coisas do contexto, pode-se dizer: “O
que significa para você estar aí agora?”
Liderar
Uma vez que seu paciente já esteja num transe, você pode mudar o foco da
sua atenção do seu interior para o exterior a fim de se aprofundar em tal
estado. Ou pode fazer o contrário, isto é, do exterior para o interior. Então,
você pode começar a repetir as respostas verbais e não verbais que o
paciente fornece, e paulatinamente “liderar” o modelo de fisiologia que o
estado de transe estabelece à medida que o diálogo continua durante a
sessão.
O propósito de repetir as respostas verbais e não verbais é incrementar
ainda mais o rapport com o paciente. Para tanto é recomendável a
repetição literal das frases utilizadas pelo paciente, mais do que começar a
modificá-las buscando um reenquadramento através delas. A razão
principal é devido ao fato de haver pessoas que, num estado de transe leve,
podem se incomodar com a mudança de palavras, a menos que estas sejam
colocadas no formato de perguntas: “Está feliz aí?” Assim você dá ao
paciente a oportunidade de dizer o que acredita que corresponde àquela
situação.
Se você acha interessante conscientizar o paciente sobre a experiência que
está vivendo, também pode lhe perguntar:
- Como se sente agora?
O mais provável é que o paciente diga algo como “estou me sentindo meio
estranho, sonolento, meio adormecido e me sinto esquisito. Estou me
sentindo assim”. Como o paciente está em vigília e também num transe,
caso seja sua primeira vez numa sessão de hipnose, é provável que
identifique isso como uma experiência nova. Nesse instante pode
perguntar ao seu paciente se agora percebe que esse seria um estado de
transe e “como saberia reconhecer estados de transe no futuro?”
Os símbolos
Com a segurança de que o paciente esteja em transe, devemos identificar
uma palavra chave ou frase que “capture” o estado interno do paciente, de
tal forma que esta palavra sirva como uma chave pós-hipnótica.
Nesta etapa utilizaremos a palavra para marcar algo específico. Esta
palavra deve significar para o paciente esse estado que está vivendo e deve
ser muito importante, porque posteriormente será utilizada juntamente com
outras duas palavras, que também serão extraídas da mesma situação, e
cuja intercalação irá gerar um reenquadramento da experiência do cliente.
É essencial que você evoque a palavra ou frase com exemplos específicos
para que o paciente possa reconhecer como “vive” esse estado.
Considere também que essa palavra irá se transformar num elemento
psicodinâmico, e como tal adquire carga simbólica que, uma vez dentro da
trama que produz o reenquadramento, modificará o simbolismo da
experiência vivida. Portanto, nesta etapa considera-se que você identifique
uma palavra chave ou frase que “captura” o estado, e deve realizar o
seguinte:
- “Evocar” a palavra chave.
- Incluir exemplos de transe.
- Reativar a “palavra chave” juntamente com as outras palavras para
produzir reenquadramento.
A sugestão
Uma vez concluída a fase de revivificação e estabelecimento do
reenquadramento de acordo com o contexto apresentado pelo paciente,
você deve levar em consideração que todo o trabalho que realizou com
ele(a) deve ser ecológico e funcionar no seu mundo cotidiano. A
implicação disto é que serão necessárias sugestões pós-hipnóticas, que
permitam ao paciente imaginar como será sua vida no futuro imediato, a
médio prazo e no futuro com essa nova visão que adquiriu do passado
recém revivido.
Exercício de ressignificar o vivenciado
Onde temos que:
- P: Paul.
- C: Cliente.
P: Sobre o que você gostaria de conversar?
C: Bem, eu sempre tive um pouco de medo do mar, mas a partir de alguns
eventos parece que aumentou muito mais, e já fica difícil fazer algumas
coisas que eu fazia.
P: O que gostaria que acontecesse depois desta conversa?
C: Gostaria de poder aproveitar a praia como fazia antes.
P: Que coisas você fazia antes?
C: Antes eu entrava no mar ou pelo menos me aproximava da beira do
mar. Mas fui me afastando, não entrava mais no mar e depois já nem me
aproximava da areia.
P: Pode me contar como era antes?
C: Sim, todo ano íamos para a praia.
P: Quantos anos tinha então?
C: Uns seis.
P: Seis anos?
C: Seis ou sete.
P: Ok.
C: A família da minha mãe é da praia, vivem no litoral. Todo os anos nós
íamos para lá, e chegavam também tios de outros lugares. Então, era como
um ponto de encontro. Chegavam todos e se organizavam ficando em
diferentes casas. Já pela manhã nos reuníamos e íamos todos juntos para a
praia, logo cedo.
P: A que horas chegavam aí na praia?
C: Mais ou menos às 7, 8 da manhã.
P: E aí o que você fazia, quando chegavam na praia? Com quem estavam?
C: Estava com todos os meus tios, primos, minha mãe, meu pai, minhas
irmãs. Bem, os adultos começavam se organizando para as refeições, para
ver o que íamos comer, o que iam fazer, se podíamos ir à praia ou não e,
enquanto eles se organizavam, nós íamos trocar de roupa. Vestíamos os
trajes de banho e, quando chegávamos à praia, logo começávamos a
brincar na areia, todos juntos.
P: Brincavam do quê?
C: Brincávamos fazendo esculturas ou nos enterrando na areia.
P: Quando vocês se enterravam, a areia estava úmida ou estava seca?
C: Estava úmida.
P: E além de fazer esculturas e se enterrar?
C: Corríamos, conversávamos, quando estávamos sentados
conversávamos. E depois que chegasse um tio ou minha mãe, entrávamos
no mar, íamos até onde quebravam as ondas e brincávamos. Se vinha uma
onda grande, passávamos por baixo, e se fosse pequena pulávamos para
que arrebentasse em nossas costas.
P: E por quanto tempo ficava fazendo isso?
C: Não sei, o tempo passava rápido, ficávamos um bom tempo.
P: O que mais fazia quando estava na água?
C: Brincávamos. Depois mandavam nos chamar para que fossemos comer.
Então, saíamos da água, comíamos e caminhávamos por toda a orla para
fazer a digestão e poder voltar para a praia.
P: Ok, e o que fazia depois que comia e voltava à praia?
C: Entrávamos no mar, brincávamos com as ondas, ou ficávamos na areia
conversando. Iam todos os meus primos e nos divertíamos muito.
P: Como se chamam os seus primos que estão aí?
C: João, José e Júlia.
P: E estando aí, o que está dizendo a João, José e Júlia?
C: Que fazia muito tempo que não nos víamos, conversamos sobre o que
tinham feito neste tempo que não estivemos juntos, se estavam na escola.
P: E eles estão na água com você, nas ondas? E o que você grita para o
João, José e Júlia?
C: Para "furarem" as ondas, que é divertido, e eles me acompanham.
P: Grita algo mais para eles?
C: Não, nada mais, brincamos.
P: E o que eles dizem?
C: Riem, brincam e se divertem.
P: E você?
C: Eu também.
P: O que mais acontece quando está na água, o que passa na sua cabeça?
C: Estou tranquila. São férias, não tenho nenhuma preocupação. Está tudo
bem.
P: E agora que está aí, como se sente nesse momento?
C: Tranquila, em paz, sinto confiança.
P: O que mais João, José e Júlia dizem para você?
C: Para brincarmos, conversarmos. Inicialmente estão envergonhados,
porque faz muito tempo que não nos vemos, mas depois já conversamos
bastante. Brincamos muito.
P: Do que estão brincando?
C: De repente, Júlia tropeça, fica de cabeça para baixo, vem uma onda e
ela engole água. Começa a chorar. Eu me assusto. Mas passa rápido, para
mim também. Continuamos brincando.
P: E depois disso?
C: Continuamos fazendo um poço para entrar a água do mar…
P: Quando está fazendo esse poço para que entre a água do mar, o que está
pensando?
C: A ideia é que a água do mar entre no poço, algo quase impossível, mas
essa é a ideia.
P: Nesse momento, o que mais quer que aconteça?
C: Que o dia não acabe logo para continuar aí brincando.
P: E agora, que sabe que esse dia está dentro de você, o que pensa?
C: Que é um bom dia, que se deve aproveitá-lo, porque nem todos os dias
vemos a família e tem essa tranquilidade.
P: E quando está conectada com esse dia que está dentro de você, o que
mais há dentro de você sobre o que é sua vida no mar, com as ondas e com
a areia?
C: Nesse dia, união, felicidade, muita tranquilidade.
P: E talvez esse seja o momento em que descobre o que realmente o mar
significa para você, independentemente do que tenha acontecido ou não,
ou talvez se conecte com a areia, e como o que existia antes se dissolve e o
que existe agora é o dia com essa menina de seis ou sete anos, entrando
nas ondas. Se elas vêm altas, pulando, e se vêm baixas, vira-se de costas,
aproveita, e tantas coisas podem ter acontecido ou não acontecido, mas
tem João, José e Júlia, e sempre vai existir aí esse dia, e talvez outros dias
de suas férias. Quantos dias iguais a esse tem agora presente?
C: Muitos.
P: O que pensa desses muitos dias que estão aí agora presentes?
C: Estou feliz em vê-los.
P: O que mais significa para você ter João, José e Júlia?
C: Apoio.
P: O que mais?
C: Nada mais.
P: Como se sente tendo esse apoio?
C: Muito bem.
P: Quem mais a apoia?
C: Toda minha família, minha mãe, meus irmãos.
P: O que mais você sente?
C: União, tranquilidade, me sinto em paz.
P: E agora suponha que volte a pensar naquilo que você queria que
falássemos, sobre o mar, como se sente sabendo que isso faz parte destas
recordações, mas que há apoio, união e família?
C: Sinto-me melhor.
P: Então, como será quando caminhar pela praia, talvez nas próximas
férias, ou em alguma outra viagem à praia?
C: Espero sentir-me mais tranquila e ter confiança em mim mesma.
P: E quando caminhar pela praia e perceber que talvez seja a menina de
seis ou sete anos aproveitando o mar, aquela que começa a sentir a
umidade da areia, como se conecta com essa menina?
C: Se sou outra vez essa menina, está bem.
P: O que mais pode fazer para ser essa menina?
C: Talvez me aproximar do que fui algum dia.
P: O que mais pode fazer para estar aí com João, José e Júlia?
C: Não sei.
P: Além disso, quando mais você é essa menina na areia, no mar?
C: Agora, na vida atual? Quando tenho sucesso, toda vez que termino um
projeto, toda vez que me proponho a fazer algo.
P: Então, como será caminhar pela areia, sentindo a umidade, o vento,
sendo essa menina e ao mesmo tempo uma mulher?
C: Vai ser melhor, melhor do que já é.
P: Gostaria de falar de algo mais? Está bem?
C: Sim.
P: Muito obrigado!
14. UTILIZAÇÃO: UMA INDUÇÃO NATURALISTA

A utilização
Um dos princípios mais conhecidos como parte do trabalho
“Ericksoniano” é a utilização, que também foi considerada essencial em
todos os seus ensinamentos. O princípio ericksoniano da utilização
consiste na aceitação daquilo que é fornecido pelo cliente e na adoção
destes elementos como guia para iniciar a indução, estabelecimento do
estado de transe e orientação da própria terapia. Consiste também em
reconhecer que o paciente está num transe e dar as boas-vindas ao que traz
para a sessão, para que aquilo que o está afligindo possa migrar para outros
estados, diferentes daquele em que se encontra, e assim mover-se,
passando de um transe a outro transe.
Milton Erickson não tinha um modelo para a “utilização”, pois existem
infinitas possibilidades. No entanto, com fins didáticos, gostaria de
apresentar um modelo para que você possa utilizar este princípio.
Na prática, quando o paciente chega para a sessão, você deve
imediatamente aceitar e adotar a sua linguagem, frases, corporalidade e
tudo o que ele fornece para que a frase de Erickson “tudo é água para o
moinho” – ou seja, o que o paciente apresenta é útil – seja uma realidade.
Por exemplo, para um paciente que já consultou diversos médicos, que
descartaram qualquer possibilidade de tratamento, mas continua igual e
traz como necessidade “deixar de ter essas terríveis dores de cabeça"
(enxaqueca/cefaleia/etc.), podemos pedir que nos conte como é isso,
questionando-o sobre o sintoma utilizando perguntas, tais como:
- Como sabe quando vai tê-las?
- Como sabe que está começando?
- O que acontece momentos antes?
- E o que mais acontece?
- Sente algum aroma?
- Vê algo?
- E, então, como melhora?
- E como começa a sentir a diferença?
- O que está fazendo no processo?
- etc.
Como você pode perceber, a partir dessas perguntas já está se induzindo
um estado de transe.
O modelo
Adicionalmente ao princípio básico descrito acima e a fim de que você
perceba o seu alcance, apresentamos o modelo que consiste nos seguintes
passos:
1. Centrar-se.
2. Escuta Ativa.
3. 5-4-3-2-1.
4. Aceitação e utilização da situação apresentada.
5. Trabalho/Mensagem (Terapêutica).
6. Reorientar.
Centrar-se
No modelo apresentado, a primeira coisa a se levar em consideração é que
tanto você no papel de terapeuta, como o paciente, estejam “centrados”
(focados) ou em estado de transe. Obviamente você deve estar centrado ou
focado no seu paciente e deve calibrar quão focado ele está no seu próprio
problema. A ideia fundamental no “centramento” é que, à medida que
você, como terapeuta, esteja totalmente centrado no seu paciente, esse será
seu estado de transe, e o próprio estado interno irá facilitar ainda mais (e
convidará) que o seu paciente aprofunde seu próprio estado de transe.
Escuta ativa
Podemos definir "escuta ativa" como o processo de ouvir as palavras que
seu paciente está dizendo, o sentido e o significado fornecidos por todos os
elementos paraverbais que emite, incluindo sua fisiologia (corpo, rosto) e
emoções, e o reposicionamento que esta mensagem implica devido ao
feedback contínuo que está obtendo do seu interlocutor. Para mim, esse
processo faz com que isso seja uma “escuta ativa” e não apenas “escutar”,
sem que se faça alguma mudança naquilo que o terapeuta está
comunicando.
5-4-3-2-1
• 5 = 4 comportamentos presentes e comprováveis + 1 subjetivo não
comprovável.
• 4 = 3 comportamentos presentes e comprováveis + 2 subjetivos não
comprováveis.
• 3 = 2 comportamentos presentes e comprováveis + 3 subjetivos não
comprováveis.
• 2 = 1 comportamento presente e comprovável + 4 subjetivos não
comprováveis.
• 1 = 1 experiência subjetiva.
Continuando o processo, com a finalidade de aprofundar o estado de
transe, Erickson utilizava o que hoje se denomina “yes set” ou “sucessão
de sins”. Consiste essencialmente em fazer um conjunto de afirmações no
fluir da conversação com o paciente, que sejam verdadeiras e irrefutáveis
para ele, e que no final incluam uma afirmação de caráter subjetivo e seja a
prévia do próximo passo do processo de indução naturalista.
Neste caso específico você faz quatro afirmações que são reais para o
paciente e uma que é subjetiva, por exemplo:
- Você está aqui, está me ouvindo, tem duas filhas, estudou arquitetura e
aprenderá algo novo no final desta sessão.
Como consequência das quatro afirmações iniciais serem uma realidade
para o paciente, ele não questionará a quinta, pois é subjetiva e auxiliadora
para ele. Em termos lógicos você pode perceber que não é porque o
paciente está, ouve, tem filhas e estudou arquitetura, que ele fará uma nova
aprendizagem no final de uma sessão.
A frase anterior tem quatro afirmações verdadeiras e uma subjetiva (5). O
processo continua, quando em seguida você começa três afirmações
verdadeiras e uma subjetiva (4), depois duas afirmações verdadeiras e uma
subjetiva (3), uma afirmação verdadeira e uma subjetiva (2) e finalmente
uma subjetiva.
A cada novo conjunto de afirmações você está obtendo rapport e
induzindo o processo de melhoria que o paciente terá com o processo
terapêutico, assegurando uma boa receptividade das suas mensagens e do
rapport.
Aceitação e utilização da situação apresentada
Muitas vezes você pode ter a tendência de querer ajudar o seu paciente
dizendo para ele não se preocupar tanto, que logo tudo estará bem, e que
aquilo que o aflige não é tanto, comparado com o que um outro paciente
pode ter tido. Então, você pensa até em comparar com o drama de outra
pessoa. Na realidade isso pode ser bastante infrutífero, pois o que é fácil
para uma pessoa não é para outra. Tudo tem a ver com as estruturas de
processos e significados que seu paciente atribui ao que viveu, que fazem
com que isto seja um problema para ele e para outra pessoa não.
Evidentemente isto também é diferente de pessoa para pessoa. Tenho
certeza que você conhece, por exemplo, irmãos(ãs) que passaram por
processos de criação muito semelhantes, pois têm os mesmos pais e, no
entanto, têm visões quase contrárias de como eles são. Portanto, quando
um paciente traz algo para a consulta, considere que não existem temas
simples, nem complexos, nem fáceis, nem difíceis. Considere que existem
apenas temas, cujas interpretações de realidade fazem com que um seja
tolerável e funcional, e outro não tão tolerável e inclusive bastante
disfuncional para seu paciente. Então, parte do que você vai fazer será
ajudá-lo a reinterpretar essa realidade, para que possa controlá-la com os
novos significados e saiba como viver o que teve e como será seu futuro,
entendendo o mundo de outra maneira.
De modo que, aceite o que for motivo de conversação para o seu paciente
e tenha presente cada palavra que ele disser, pois elas mostram o contexto
geral de interpretação da realidade do paciente. Uma vez aceita essa
realidade, então, você já sabe por onde pode começar, e esse ponto de
partida é o mesmo que seu cliente está lhe mostrando.
Por exemplo, para alguém que gostaria de ter um hábito mais saudável do
que fumar, você pode pedir que ele imagine como são os momentos em
que surge a vontade de fumar e, então, verifique o que acontece na sua
mente quando isso ocorre, e tudo isso sem a existência do cigarro.
No fundo, o comportamento apresentado também faz parte da indução do
transe e utiliza-se uma modalidade da resposta presente como uma parte
integral da terapia para obter respostas em outras modalidades.
Trabalho terapêutico e reorientação
Uma vez que seu paciente esteja num transe leve, médio ou profundo, no
qual está sendo utilizado aquilo que o aflige, você pode ajudá-lo no
processo de descoberta dos significados, selecionando palavras chaves que
posteriormente, graças ao reenquadramento, irão facilitar a atribuição de
novos significados ao que experimentava.
Uma vez concluído o trabalho terapêutico, você pode solicitar que o
paciente comece a retornar ao seu estado de vigília, à medida que para ele
seja mais confortável ou rapidamente, realizando sempre as últimas
aprendizagens e processos da experiência, e extraindo novas
aprendizagens dos significados, de tal maneira que adquira uma
compreensão distinta e mais auxiliadora para sua vida.
15. REGRESSÕES E PROGRESSÕES

O tempo e sua linha

O tempo é uma constante em nossa vida, apesar de muitas vezes deixar de


existir em nossos atos conscientes, como se fossemos eternos e de uma
forma mágica nossas relações com o ambiente e o contexto se
mantivessem para sempre. Muitas novelas, filmes ou estórias de amor
costumam terminar dando a impressão que, uma vez estabelecida a relação
e solucionados todos os conflitos que impediam o casal de estarem juntos,
serão felizes para “sempre”.
Ao longo do tempo as pessoas vão registrando na mente os eventos que
fazem parte do desenvolvimento da sua vida, e estes registros podem ser
estabelecidos num formato de “linha” do tempo. Existem duas formas de
se relacionar com sua linha do tempo: “no tempo” e “através do tempo”.
Uma linha no tempo passa através do seu corpo. As pessoas que têm uma
linha “no tempo” estão associadas à sua linha do tempo no “agora”. Em
geral, o passado está atrás delas e o futuro à frente. Uma linha através do
tempo está fora do seu corpo. Em geral, o passado está de um lado e o
futuro do outro. (Nas culturas ocidentais o passado geralmente está à
esquerda e o futuro à direita, devido à sequência de leitura padrão e chaves
ou pistas de acesso).
O transe permite identificar o modo como a mente registra os dados
relacionados com o tempo e também propicia ao paciente tanto viajar a
momentos do passado, que não são conscientes, como acreditar em novos
futuros. Por exemplo, se a linguagem do paciente apresenta poucas
distinções de passado, isso demonstra qual é a sua estrutura de registros e
relação com o tempo em sua mente.
Se pensarmos nas pessoas que não são consideradas “pontuais”, aquelas
que chegam com duas horas de atraso ou simplesmente não chegam, talvez
não tenham consciência de como registram e armazenam a informação
relacionada com o tempo. Provavelmente o registro de tempo, onde são
projetados eventos futuros, é muito pequeno e estes não são registrados
adequadamente porque não têm um espaço designado na projeção
temporal. Sua linha de registros temporais pode ser, por exemplo, como se
tudo terminasse agora ou amanhã, como se tivesse uma “agenda” muito
curta. Então, anota o compromisso num pequeno pedaço de papel, que
depois se perde e não sabe onde o deixou.
Transe e tempo
Através da hipnose conversacional qualquer conversação pode se
transformar num transe ao ter consciência da utilização dos princípios de
focalização, dissociação e da linha do tempo. Isto implica que estamos
sempre em três perspectivas temporais individuais, sem mencionar o
coletivo:
- a primeira corresponde a termos um passado, não nascemos do nada e
contamos com nosso contexto histórico, ou seja, há um passado que está
por trás de nós.
- a segunda é que temos um presente, que é aqui e agora, e que a cada
segundo vai se reatualizando, transformando-se num passado próximo.
- a terceira considera que cada segundo que chega faz parte de um futuro,
que continua chegando em distintas métricas e projeções do que poderia
vir (o porvir).
O transe permite que estas três perspectivas possam ser vividas
simultaneamente. Consequentemente, o paciente viverá em sua mente três
tempos num mesmo momento. Motivo pelo qual pode, por exemplo,
contar com a sabedoria de alguém mais velho e ao mesmo tempo com a
perspectiva de uma criança que ensine à pessoa do presente coisas que não
está vivendo. Ou seja, isto oferece a possibilidade de efetuar diferentes
reenquadramentos no tempo, que afetam e modificam os significados dos
outros tempos.
Na conversação hipnótica estabelecida utilizando a linha temporal, o
paciente pode estar fazendo um exercício que dificilmente faz, por
exemplo, situando-se no futuro, imaginando que esteja com seus oitenta
anos, e dessa etapa observar simultaneamente quando tinha sete anos e
como aos trinta e quatro pode resgatar e modificar percepções, e tomar ou
buscar recursos que o aproximem desse futuro de desenvolvimento de sua
vida.
As regressões
De um modo geral, no mundo da hipnose deu-se um único sentido ao
termo “regressão”, assumindo que esta nos conecta com “vidas passadas”.
Não é minha intenção julgar ou afirmar a existência ou não de vidas
passadas. No entanto, gostaria de esclarecer que, para mim, o termo
“regressão no tempo” significa qualquer evocação que me permita
“visitar” na mente do nosso paciente algum momento do passado.
Portanto, ao apresentar uma pergunta bem simples, do tipo: “Como passou
antes de ontem o seu aniversário?” Estou fazendo com que a pessoa realize
um processo de “regressão na linha do tempo”.
Obviamente, se buscar experiências muito distantes, por exemplo,
ocorridas na sua infância, e a pessoa estiver em vigília, ela não irá
necessariamente se lembrar de tudo. No entanto, durante o estado de
transe, o processo de “regressão no tempo” permitirá recordar com mais
detalhes elementos que provavelmente não estavam presentes na sua
memória.
Como consequência do sentido que atribuí a “regressões no tempo”, as
“progressões no tempo” seriam aquelas experiências que uma pessoa pode
projetar como eventos no futuro da sua vida.
Exemplo de sessão de Hipnose Conversacional utilizando Linha do
Tempo
P: Muito bem, sobre o que gostaria de conversar?
C: Sobre meu filho que está a caminho.
P: Sobre seu filho?
C: Sim.
P: O que quer conversar sobre seu filho que está a caminho?
C: Ele chega dentro de quatro meses. São novas mudanças, diferentes, é
um tempo de realizar, para aplicar tudo o que sabemos, para passar nossos
conhecimentos, sabedoria e criar boas pessoas, que tanta falta faz no
mundo…
P: Parece um excelente projeto.
C: Esperemos que o bebê esteja de acordo.
P: Suponha que hoje esteja esperando o que vai acontecer em quatro meses
adiante, pode ser?
C: Hoje?
P: Hoje. Aqui. Está falando que daqui a quatro meses chega seu filho.
Como se chama?
C: Silvio.
P: Silvio, lindo nome. E vai haver um Joãozinho, não sei como era
chamado quando era pequeno e tinha seus 5 anos, 6 anos, 10 anos...
C: Joca.
P: Joca.
C: É, me chamavam assim.
P: E, de repente, Joca está imaginando que, quando for adulto, dentro de
quatro meses vai ter um filho, Silvio. E suponhamos que uma outra parte
sua, que talvez vá crescer uns 20, 25, 30 anos. Talvez você esteja com seus
75, 80 anos, no outro extremo, como gostaria de ser chamado pelos seus
netos?
C: De vovô.
P: Ou por algum outro nome que seus netos escolham e do mesmo modo
você vai gostar. E do outro extremo você observa o que acontece com
João. O que Joca e o avô dos filhos de Silvio lhe diriam sobre a chegada de
Silvio, pois Joca tem muita vontade de conhecê-lo, e agora é Joca quem
fala, não você (João) por ele.
C: Estou nervoso, fico chocado, porque ainda estou brincando, não sei se
esconde-esconde ou jogando futebol.
P: E o que você diria que João, como pai, deve fazer com Silvio, sabendo o
que você viveu na sua infância?
C: A vida é assim, tem que ser flexível e às vezes tem que dosar a rigidez
com que se impõem as regras. Não devem ser nem tão flexíveis, nem tão
rígidas, mas um ponto intermediário em que ambos estejam de acordo,
você e seus filhos, porque ou não vai ter problemas, ou vai ser uma
educação indesejável.
P: Você teria gostado disso, que tivessem sido mais flexíveis com você,
Joca?
C: Um pouquinho mais flexíveis em algumas coisas e mais rígidos em
outras, eu teria gostado.
P: E em que coisas João teria que ser mais flexível? E em quais mais
rígido?
C: Talvez me permitir fazer determinadas coisas. Às vezes não me permito
aproveitar tanto a vida, foco mais no trabalho ou coisas assim, que
felizmente já eram...
P: Quem está falando aí?
C: Todos … (risos), acho que eu (risos) … que já mudei um pouquinho
isso, ainda falta ser um pouquinho mais rígido em outros aspectos, com a
saúde, ver um pouco além, o que a gente come e faz especificamente em
relação à saúde, ou seja, exercícios, coisas assim, tenho que ser um
pouquinho mais rígido.
P: Ok, e agora o que o avô diz ao João do presente sobre o nascimento do
Silvio?
C: Que é algo muito bonito e que nunca vai esquecer, que vai viver isso
para sempre, que vai ser uma recordação para toda a vida e vai ser uma
recordação muito boa.
P: O que mais ele diz?
C: Que vai dar muitas alegrias e muitas preocupações, mas tudo vai valer a
pena, todos os momentos, bons e maus, porque no fim todas as coisas ruins
vão ter uma conotação positiva, vai terminar bem, como uma experiência
muito boa.
P: O que mais ele diria?
C: Que tem que aprender com todos, com todas as pessoas que encontrar,
com quem conversar, e não deve menosprezar ninguém, nada. Toda pessoa
tem algo a ensinar, toda pessoa tem sabedoria e tem que aprender a vê-la,
porque às vezes, quando era jovem, não via tanto como agora.
P: Ok, e voltando a ser o João daqui, do presente, do que escutou de uma
idade mais jovem e do seu futuro mais sábio, o que você vai guardar disso
tudo para quando Silvio chegar?
C: Eu acredito que apreciar todos os momentos que tiver, prestar mais
atenção e não estar divagando tanto quando encontrar as pessoas, em
especial nas experiências que meu filho me der, mas realmente com todas
as pessoas que se envolverem em minha vida daqui em diante, dar a sua
conotação. Não é apenas mais uma pessoa que cumprimentei na rua, mas
vê-la um pouquinho mais profundamente, como sendo alguém que deixou
alguma coisa.
P: Ok, está bem?
C: Sim, está bem.
P: Muito obrigado!
16. EXERCÍCIOS

Possíveis respostas aos exercícios


Exercício 1:
Suponhamos que você está segurando uma faca e durante cinco minutos
fala para outra pessoa sobre a faca: “Diante de mim há uma faca. Dentro
dela existem mil corações que poderia ter atravessado ou não. Não sei
quanto de estória existe através deste pedaço de ferro ou aço, que é
cortante. Muitas pessoas podem ter sentido dor, ter sentido prazer, ter
reconhecido que isso tem uma utilidade, ou essa utilidade que tantas vezes
acreditávamos estar disponível para nós representa somente um fio dentro
do que é a liberdade e a possibilidade de ser quem queremos ser. Outras
vezes pegamos uma faca ou um canivete simplesmente para abrir uma
carta, para abrir um pacote, aquelas cartas que às vezes esperávamos e já
não existem, porque agora chegam por via eletrônica. Mas aqueles que
viveram isso sabem que muitas vezes havia cartas que eram esperadas,
eram ansiosamente esperadas, e depois levávamos um tempo para
respondê-las porque tínhamos que amadurecer o que se iria dizer. Mas, ao
abrir a carta, havia a sensação e a emoção que nos conectava com aquilo
que poderia ter sido dito, e não sabíamos se viria ou não escrito. Outras
vezes, talvez, esta mesma ferramenta pode ter servido até para matar, ou
mesmo para ajudar alguém a sobreviver, ou defender suas ideias, a ser
quem queria ter sido, pode ter servido de tantas maneiras que não sabemos.
Através da história e dos primórdios de nossa vida ancestral sabemos que
começaram a usar estas ferramentas para se defender, para comer, para
fazer tantas coisas, que depois se traduzem no desenvolvimento da nossa
espécie. Também sabemos que desta faca podem ter saído expressões de
angústia, ameaças, portas que se abrem e se fecham, gente que ouve e não
sabe o que é ouvir de dentro e de fora. Mas sabemos que às vezes as
próprias palavras podem ser tão fortes como uma faca; uma palavra de
amor pode abrir um coração para fazer com que a pessoa se derreta por
você, ou se abra e mostre seus sonhos e todo o íntimo do seu ser. Por trás
de uma faca podem haver sonhos, temores, angústias. Dentro da mesma
faca podem haver outras ferramentas, não só esta que está aqui, porque
podem ter tamanhos diferentes, tamanhos que podem ser úteis para certas
funções ou outras funções que nem conhecemos, com as quais poderiam se
desenvolver.
A realidade é que, em nossa ideia, as facas representam uma essência do
que é o nosso pensamento. Sempre estamos querendo abrir algo, e a partir
desse abrir podemos usar nossa mente, nossas ideias, que são as próprias
palavras como facas, palavras que podem ser "cortantes", que podem ser
ternas, palavras que podem ser brancas ou pretas, mas no fundo podem vir
a ferir ou podem abrir, no sentido mais amplo e positivo que conhecemos,
nesse sentido positivo em que abrir significa estar disponível para cada um
de nós, estar receptivo e aberto. E esta mesma faca, que se encontra aqui
conosco, poderia fazer parte do que é a minha essência, parte do que eu
sou e do que talvez vier a ser no futuro. Porque tantas vezes nos
conectamos com esta simples ferramenta, mas não temos consciência.
Tantas vezes necessitamos ter uma faca, mas essa faca não está aí presente
para nós. Talvez, no momento exato e justo, eu devesse saber como
transformar meu ser numa faca, essa faca que pode estar aí, ou não, e
torná-la presente, mentalizá-la, criá-la e poder desenvolver todo meu ser
em função desta forma de perfurar, desta forma de entrar, desta maneira de
criar e me desenvolver. E tantas vezes quis, tantas vezes soube, outras
vezes não soube. Para mim a faca deve ser essencialmente parte do que
tenho em minha mente, na minha imaginação. Outras vezes pensei em
como forneço facas aos outros, como ensino os outros a serem facas, de
que forma eles podem se desenvolver como facas.

Exercício 2:
- Pense agora em algo que tenha a cor branca.
- O que pode estar relacionado com a cor branca para você?
R: Preto.
- Pense agora num gato.
- O que pode estar relacionado com gato?
R: Cachorro.
- Pense agora num automóvel.
- O que pode estar relacionado com automóvel?
R: Estrada.
Exercício 3:
Uma pessoa diz:
- Não sei o que fazer… me sinto só… parece que ninguém quer estar
comigo.
Responda estas perguntas:
- O que está dizendo realmente?
R: Que deseja estar acompanhada. Fez uma projeção de estar só e a partir
daí gerou uma confusão, pois não sabe o que fazer. Provavelmente tentou
muitas coisas e não funcionou.
- O que quer dizer “não sei o que fazer”?
R: Quer fazer alguma coisa que possivelmente não tentou ou que tem
medo de colocar em prática.
- O que não disse do que “não sabe fazer”?
R: Que não tem certeza se vai funcionar, e só o fato de pensar que pode
novamente não dar resultado já a deixa paralisada.
- O que não disse em relação a “se sente só”?
R: Que não gosta de estar só e isso lhe dá tristeza ao se comparar com
outras pessoas que têm um(a) companheiro(a).
- O que não disse sobre “parece que ninguém quer estar com ela”?
R: Que as pessoas são muito diferentes dela e isso a faz sentir-se diferente.
Exercício 4:
Uma pessoa diz: “Não sei o que fazer… me sinto só… parece que
ninguém quer estar comigo”.
- Ao “ouvir” o que não foi dito na frase anterior, que palavras dessa frase
você resgataria, que são sensíveis para o seu cliente?
R: Fazer, só, quer (querer).
Exercício 5:
- Tenha uma conversa de quinze minutos com uma pessoa.
- Em primeiro lugar, permita que essa pessoa faça um relato que tenha uma
relativa importância para ela, como tantas conversas que provavelmente
você já teve com amigas ou amigos. Nesse processo, ouça e detecte três
palavras que você perceba que são importantes para seu interlocutor.
- Em segundo lugar, devolva uma narrativa que seja auxiliadora para essa
pessoa, utilizando as três palavras que você resgatou.
Exemplo:
P: Muito obrigado, Maria. O que gostaria de comentar agora?
M: Eu vivi muitas coisas neste período em que estive na escola, e uma das
coisas de que gostei muito, que mais me impressionou, foi quando fui
voluntária na Fundação da Ajuda. Tratava-se de psicologia da saúde e
qualidade de vida para pacientes com enfermidade crônica.
P: Fundação da Ajuda?
M: A Fundação da Ajuda era dirigida à mulher. Era um albergue onde
chegavam mulheres que vinham de vários lugares. Não só daqui, vinham
até de vilarejos que não conhecíamos para serem atendidas aqui.
Hospedavam-se, recebiam alimentação, atendimento psicológico e tinham
atividades recreativas. Quando estive lá, fiquei impressionada. Gostei
muito de todo o trabalho, que me impressionou porque a psicologia visa
dar qualidade de vida a uma pessoa. E o que pode ter um impacto mais
direto do que uma enfermidade crônica?
Também gostei muito de tratar das pessoas, não somente pelo lado
psicológico, mas também pelo lado humano. É como ir além. Percebi que
não é a mesma coisa tratar um paciente adolescente e um com enfermidade
crônica. Estes são mais sensíveis, às vezes hipersensíveis, e sinto que se
apegam um pouco mais que qualquer paciente normal. Foi do que eu
gostei.
P: E o que mais?
M: Gostei muito da convivência que existe entre as pessoas, percebi que
ainda há muita coisa em que as pessoas podem se dar uma mão. Alguém
que já tinha passado por um processo ajudava uma colega a seguir adiante
compartilhando a sua experiência. Tranquiliza muito saber que as coisas
vão dar certo, porque a incerteza preocupa ou não oferece a mesma
confiança de algo que já se conhece. Compartilhar sua experiência com
uma pessoa, ainda que não esteja exatamente na mesma situação, pode
tranquilizá-la. Algumas vezes se recomendava: “não, não coma isso
porque pode fazer mal” ou “não coma isto, veja o caso da outra paciente”.
A gente se sentia feliz em ver como as pessoas se ajudavam, isto é, como
elas se "davam uma mão". Nas consultas: “não se preocupe, este médico é
bom” ou “não se preocupe, mais cedo ou mais tarde o tratamento que está
fazendo vai dar resultado”.
Familiares também apareciam por lá. Era um paciente e um familiar, uma
filha, um filho ou o marido, alguém muito próximo da família, e se sentia
que a união familiar continuava a existir. Isto é, apesar dos momentos
difíceis, continuavam todos juntos, apoiando-se nas visitas e conversando
por telefone. Desse tipo de coisa é que eu gostava.
P: O que mais?
M: Na instituição eles davam todo tipo de apoio, inclusive religioso. Como
a instituição é católica, eles faziam sessões de oração, e eu percebi que isso
ajuda muito os pacientes. Ter fé em algo, ainda que não tenham certeza de
que isso exista, faz com que se concentrem. Também apareciam senhoras
ou jovens para realizar atividades recreativas: pulseirinhas para os
familiares ou pulseirinhas para outro tipo de albergue, cachecóis quando
fazia frio, cachecóis para um orfanato, e também se apoiavam entre eles. E
o orfanato mandava lembrancinhas para elas, um terço de contas ou algo
assim. Havia esse lado humano nas pessoas, que mesmo nos momentos
difíceis continuavam doando, ainda que fosse só um pouquinho.
P: E o que mais?
M: Pelas manhãs havia um transporte que as levava ao hospital. Elas
faziam consultas em várias clínicas e o transporte se dividia. Na viagem de
volta faziam um mini tour, apesar de já estarem um pouco cansadinhas,
mas isto as distraía e assim saiam um pouco da rotina: albergue-hospital,
hospital-albergue. Levavam-nas passear, às vezes para ver a cidade, outros
hospitais, ou davam algumas “dicas” do tipo: “aqui podem fazer compras
de supermercado”, “aqui tem um frango assado que é muito bom, mas
talvez aquele seja mais conveniente, porque é mais barato”. Nos finais de
semana iam para casa. Iam na sexta-feira e regressavam no domingo, ou às
vezes iam numa semana e regressavam na seguinte, dependendo do
tratamento que faziam, se era rádio ou químio.
Descobri que há muitos tipos de câncer. Não existem apenas os típicos que
eu conhecia, como o de mama. Na realidade em quase todo o corpo, menos
na pélvis e nas unhas, ou seja, em todo o corpo pode haver um câncer. Foi
o que me disseram, e afeta diferentemente as pessoas, ou seja, o mesmo
câncer não afeta do mesmo modo as diversas pessoas. Há alguns mais
agressivos e outros menos. O tratamento também não é o mesmo, como eu
pensava, químio igual para todas. Percebi que algumas faziam
radioterapia, ou às vezes os dois tratamentos alternadamente.
Havia ajuda psicológica, havia psicólogos. Também existiam os
voluntários, que era a minha parte, e realizavam atividades em grupo,
como na escola. Então, utilizava-se muito o relaxamento. Também
recebiam a visita de podólogos que as ajudavam a cuidar dos pés.
No dia dos pais ou das mães apareciam crianças para dar chocolate quente.
Na hora da refeição uma senhora preparava o que estava no menu, mas
também algo de que gostavam. Aos domingos perguntavam a elas: “O que
querem comer esta semana? Porque podem comer isto e aquilo”.
Ofereciam opções e assim organizavam: “às segundas-feiras isto, às terças
aquilo”. As pacientes quase nunca jantavam, mas sempre tomavam café da
manhã e almoçavam.
P: O que eu percebo do que você está me contando é que há uma grande
descoberta, e a partir dessa descoberta começa a explorar não só o que há
fora de você, mas também o que começa a existir dentro de você, e como
você relaciona isso com o que está fora. Descobrir o lado humano e que
este não tem apenas a dimensão que você conhecia, mas começa a
descobrir outra dimensão, e essa parte é a que faz você se conectar, é a que
faz você vibrar e ser feliz.
E quando você percebe que as pessoas estão "dando uma mão", como você
diz, e mostrando seu lado que chama de “humano”, é o lado que mais lhe
interessa, como o desenvolvimento do seu ser, de saber quem é e para
onde vai. Eu sinto e percebo que desse modo está o descobrimento de
quem você é, quem quer ser, e como vai construir e se constituir em
função desta atividade.
E vejo a importância que esse desenvolvimento tem para você em tudo o
que foi a sua vida para lhe dar um sentido e uma missão. Sinto isso
profundamente e agradeço muito o carinho com que você me conta isso,
porque percebo que há respeito e seriedade no que quer fazer na sua vida
ajudando os outros.
É verdade que há momentos em que a insegurança e a segurança são
importantes, mas você sabe que a única coisa segura é que há coisas
inseguras, e irá se deparar com isso a cada passo, a todo momento, com a
certeza de quem é, para onde vai, dos valores que tem, das coisas que são
importantes para você e estando ciente de como está aprendendo isso,
apreciando e calibrando. Porque cada vez que você vai, observa e conhece,
isso entra na sua mente e se estrutura, e a partir daí gera o mundo no qual
quer estar, começa a se reconhecer, começa a se identificar e saber que
realmente essa é a pessoa que quer ser, e é muito bom poder perceber isso
de fora com a sua juventude, com a sua força, com a sua paixão. Vai poder
dar uma mão a tantas pessoas, e a partir desse "dar uma mão", descobrir
também o seu lado humano, e vai ser cada vez mais humana,
independentemente da certeza. Essa é a única certeza que você vai ter, e
ninguém vai poder transformá-la, só você.
M: Obrigado.
P: Obrigado a você.
Comentários ao exercício 5:
- Pode-se perceber que M tem uma necessidade enorme de conhecer, de se
abrir, de aprender, e a partir daí descobrir quem é e saber como vai se
desenvolver.
- Das palavras de M, juntamente com a minha projeção, pois a gente
sempre tem algo projetado, resgato o que ela não disse e para mim tem o
seguinte significado, isto é, o que ela não disse é que se maravilhava com o
mundo.
- Quando alguém diz que quer ajudar, é interessante que você se pergunte:
O que não está dizendo? De onde vem a intenção de ajudar que resultou
nisso? Talvez essa necessidade de ajudar venha de uma experiência, por
exemplo, da sua família. Talvez sua mãe tenha tido câncer, ou um familiar,
ou alguém e, de repente, decide se envolver, e isso não está sendo dito.
- Deve-se inferir sempre sobre o que a sua narrativa fornece e sobre o que
não foi dito, porque sabemos que isso pode ser projetado e ligado com
muitas conexões sistêmicas.
- Quando ela fala da união é porque tem como base a desunião. Assim
como existe a homofonia do amor, em que alguém que fale da necessidade
de amor é porque tem desamor, por algum motivo está falando da
necessidade de amor. No entanto, não vamos utilizá-la como tal, na forma
negativa, podemos tê-la como ideia, mas não se usa.
Exercício 6:
1. A lei da “Atenção Concentrada”
Peça que uma pessoa o ajude neste exercício:
1. Enquanto a pessoa está diante de você, indique todas as coisas que
percebe que está vivendo.
2. Pergunte o que gostaria de fazer que ainda não está fazendo e depois
faça uma narração para esta pessoa de como seria o processo para obter e
alcançar o que quer, e como será fazendo isso.
3. Para esta mesma experiência considere as emoções que são importantes
para a pessoa e depois encontre quais outras emoções poderiam ser ainda
mais importantes para ter êxito.
Utilizamos muito o primeiro princípio no início do processo de
relaxamento, quando dizemos:
“… bem, agora pode se sentar mais confortavelmente…”
O que estamos dizendo ao nosso paciente?
No fundo é uma “agulhinha” com as palavras “sente-se confortavelmente”.
Estamos indicando ao nosso paciente para onde queremos que dirija o seu
foco.
Certamente você vê como a pessoa se acomoda e em seguida nós lhe
dizemos: “pode apoiar seus pés no chão e relaxar”.
O que a pessoa faz?
Mexe os pés, porque, sem perceber, está ativando cada uma dessas partes.
Então, à medida que temos consciência disso, cada palavra vai atuando. É
como acupuntura com palavras.
Julia, do que gostaria de falar?
J: Fazia faculdade de filosofia numa classe com 50 alunos. Era um curso
muito básico. No início eu me sentia nervosa, tensa. Eu mesma sentia que
meus braços estavam encolhidos, mas à medida que o tempo foi passando,
comecei a relaxar e aproveitei muito. Então, estava fazendo o curso, muito
encolhida, aos poucos fui relaxando e me tranquilizei. De repente, estava
contando uma piada e todos riam.
P: Suponhamos que está nesse dia, o que fez aí para encontrar as ideias do
que queria expressar?
J: Eliminei a pressão que eu sentia, simplesmente deixei as ideias fluírem e
vieram, isto é, não coloquei tanta lógica, como se dissesse “tudo bem, ok,
você sabe tudo, o que quer demonstrar a eles?”. E assim, de repente, as
ideias vieram. Parei de me pressionar e, de repente, tinha toda a
informação, conhecia todos os livros e sabia tudo, tudo, tudo… ou seja,
quando me liberei e disse “bem, isto você já sabe”, as ideias simplesmente
apareceram.
P: Ok, então, poderia dizer a mesma coisa agora?
J: A mesma coisa?
P: Isto você já sabe, o que acontece quando diz a si mesma ‘isto você já
sabe’?
J: O que acontece quando me digo ‘isto eu já sei’?
P: Sim, pode dizer isso, por favor?
J: Isto você já sabe, apenas deixe fluir.
P: Outra vez, quando diz isso, o que acontece?
J: Ok, isto você já sabe, apenas deixe fluir.
P: E as mãos, por que estão assim?
J: Não sei, sempre mexo muito as mãos, é como se complementassem as
ideias, não sei.
P: E onde você sente isso?
J: Onde eu sinto isso?
P: Sim.
J: Não sei, mas me sinto tranquila.
P: Tranquila em que parte do corpo?
J: Nos meus ombros.
P: Nos ombros. Então, pode relaxar os ombros, tranquila?
J: Sim.
P: O que mais você faz? Quando isto você já sabe, relaxa os ombros, está
tranquila.
J: Se volto àquela situação, simplesmente deixei que saísse tudo da minha
mente e pude expressar isso com palavras.
Comentários ao exercício 6:
Quando a paciente diz “sente” e eu pergunto “em que parte sente”, ela diz
“tranquila”; posteriormente faz-se com que ela leve essa tranquilidade a
outras partes do seu corpo.
Para mim é importante que ela reflita, simplesmente isso, ou seja, uma
“agulhinha” aqui, outra nas mãos, nada além de indicar parte de seus
processos aqui, ali etc.
Pode-se perceber que há uma certa “paternidade” no que está ocorrendo na
conversação com nossa paciente, pois o terapeuta está controlando os
processos, ele a está guiando para onde quer que processe, não o conteúdo
do processo, mas sim as pautas do mesmo, que são fornecidas
externamente.
Posteriormente poderemos utilizar parte do que estamos obtendo nesta
conversação e combinar com as três palavras.
Exercício 7:
2. A lei do “Esforço Reversível”
Lembre que estamos falando de um tema que teoricamente não tem muita
relevância, eventualmente poucas emoções, e você perceberá que a
narrativa tem outra estória por trás. Nesta outra estória que você percebe
tudo tem emoção e vai depender de onde quer chegar, pois sempre existe
uma conexão, o que vai depender da dimensão humana que você
considerar necessária para ajudar seu paciente.
J: Para mim é difícil fluir e muitas vezes não sei do que falar…
P: Ok. E se tivesse que se imaginar agora falando com fluidez sobre algo
que quisesse, como seria a imagem disso? Sem me dizer, pode gerar isso
para você mesma? E se depois tivesse que contar o seu filme para alguém,
como faria?
J: A imagem: fumaça.
P: Fumaça, como assim?
J: Sim, como uma nuvem cinza.
P: E aí onde está você?
J: No meio da nuvem.
P: No meio da nuvem?
J: Sim.
P: E como sabe que está fluindo no meio da nuvem?
J: Eu acredito que seja o ponto em que não flui. Mas se for quando já estou
fluindo, eu acredito que no momento em que começa a avançar, quando
começa, aí a imagem sou eu caminhando, tratando de sair dessa nuvem.
Comentário ao exercício 7:
No início ela diz que não sabe do que falar, lembra? Mas ao mesmo tempo
sabemos que há outra parte dela que sabe fluir. Portanto, essa parte que
não sabe do que falar, ou que não quer que algo aconteça com ela, deve
aprender com a outra.
Mas não vamos dizer a ela: “Julia, você é competente, você é capaz,
quando quer você pode!”. Isso seria muito evidente, muito fácil e lógico
demais! Fazemos com que ela gere como seria no seu constructo, na sua
interpretação de mundo, a forma de alcançar isso. Estamos aprendendo
com ela, estamos coletando palavras, obtendo informações para depois
devolvê-las. Na realidade é a sua própria mensagem, e esta mensagem será
muito potente em termos de emoções porque é dela, é seu próprio
constructo de mundo.
P: Então, como seria Julia fluindo e falando do que quer falar?
J: Como seria?
P: Sim, num filme.
J: Contente.
P: Contente, ah... ok.
J: De fato, há semanas vinha pensando que não me dá medo falar diante de
muitas pessoas. Surgiram muitas ideias nestas semanas, e eu me
perguntava por que tem gente que tem "pânico de palco", e eu não tenho.
Então, comecei a me lembrar de quando era menina. Eu acredito que meu
primeiro encontro com o público foi engraçado, foi no quebra-pote de uma
festa junina. Eu me vesti de palhaço, contava piadas e todos estavam
alegres. Então, acredito que de alguma forma comecei a fluir desde
menina. E pensava que muitas vezes há coisas que você mesmo freia, ou
são seus medos de adulto, ou de alguma coisa. No entanto, em seguida
surge essa menina novamente e faz com que Julia flua.
P: Então, como seria seu filme?
J: Como seria?
P: Seu filme fluindo e falando, sem se importar com o que pode haver,
como seria?
J: Seria quase como sou.
Seria falando contente diante das pessoas. Eu gosto das pessoas, então, não
tenho nenhum problema em relação a isso. Quando falo de emoções já é
um problema para mim, mas se falo de algum tema que posso dominar,
sou feliz.
P: Ok, então, imagine-se falando de algo que possa dominar, pode ser?
Pode imaginar isso algumas vezes sem me dizer. Quanto mais detalhado
melhor.
Comentários adicionais:
- Percebe-se que Julia está muito complicada com o fato de parecer um
pouco emocional diante do público. Portanto, não é que não possa falar,
simplesmente não quer que seu tema seja conhecido. O que Julia de uma
forma ou de outra pode estar pedindo é que não entremos em áreas nas
quais ela não quer entrar.
Bem, então, assumindo que há duas partes do nosso paciente, em que uma
não quer ser uma coisa e a outra quer, a forma de gerar uma sugestão para
sua mente inconsciente não é dizendo isso necessariamente de uma forma
lógica, mas pedindo que ela crie a visualização positiva com o fato.
Isto funciona assim porque biologicamente nós aceitamos a geração de
imagens como um fato possível, real, ou não real mas possível, e a partir
dessa repetição existe uma alta probabilidade de que funcione o que se
deseja, com uma probabilidade maior do que dizendo isso diretamente.
Após ela gerar a imagem, o ideal é ajudá-la verbalmente. Então, o filme
começa a ter imagens, a ter som, e começa a ter a emoção que depois lhe
dará.
Exercício 8:
3. A lei do “Efeito dominante”
- Quando você estiver ouvindo o relato do seu paciente (normalmente algo
negativo), pergunte que emoção poderia retirá-lo positivamente do próprio
relato e faça o teste, perguntando o que existe para ele(a) neste novo tema.
- Verifique se existem outras emoções positivas que possam ser ainda mais
significativas e volte a comprovar perguntando isso ao seu paciente,
pedindo simplesmente que fale sobre estes novos temas que o conectam
com tais emoções positivas.
- Verifique como o estado emocional do seu paciente é diferente do início
do exercício.
Então, voltaremos a trabalhar com Julia neste exercício, em que uma
emoção mais forte encobre a outra, e vamos abordar outro tema para que
fique tranquila.
P: Alguma vez você se chateou com alguém de algum tipo de serviço
público?
J: Sim.
P: Peço desculpas por fazê-la reviver esse caso, mas gostaria de lhe
perguntar: o que aconteceu?
J: Qualquer tipo de serviço?
P: Qualquer tipo.
J: Bem, foi com um policial de trânsito.
P: O que aconteceu?
J: Fui parada porque teoricamente eu estava em excesso de velocidade,
mas não era demais.
P: Mas o que aconteceu com o policial?
J: Foi muito prepotente.
P: Ok.
J: Sim, o policial me disse: “você bebeu”, e eu respondi: “sim, claro que
bebi”.
Então, naquela época ia com meu marido, e ele não queria dirigir, isso faz
uns 6 anos. Eu ia dirigindo uma caminhonete e o policial me parou. Ah,
não! Meu marido ia em outro carro, nunca andávamos juntos, ele ia no
outro carro e eu na minha caminhonete. Em seguida o policial me disse:
“Você bebeu?” “Sim, mas faz tempo, já estou bem e estou indo para casa”.
Ele me disse: “Vamos fazer o teste de teor alcoólico e chamar um guincho
para remover seu veículo”.
Eu perguntei: “Vai me levar e guinchar a minha caminhonete? Vou me
amarrar aqui, e daqui não saio”.
Ele respondeu: “Você vai em outra viatura com os policiais, que vão levá-
la para não sei para qual delegacia”. Então, eu lhe disse: “Não, não, não,
vocês estão me sequestrando, e eu não vou com vocês”.
P: Ummm, obrigado. Há pouco você comentava que agora seu filho está
trabalhando, como é isso?
J: É muito bonito! Já cresceu e está ficando independente.
P: Para você ele cresceu?
J: Sim, está amadurecendo, quer ser independente, quer ganhar em dólares.
Ele está se formando e está bem contente com a sua carteira de trabalho.
Foi retirá-la. Disse que com o que ganhar ele vai construir um avião,
porque ele adora voar.
Comentários ao exercício 8:
- Se você percebe, eu peço a Julia que evoque uma emoção relativamente
incômoda: a situação com o policial, em que ela entra num estado “não
muito bom”, mas também não podemos dizer que fosse ruim demais.
Posteriormente, muda-se a conversa para que ela evoque uma emoção que
é muito mais importante para ela e está relacionada com o orgulho de ver
que seu filho está crescendo e já tem seu primeiro emprego.
Esta técnica reside basicamente na evocação de emoções que sejam
positivas e muito mais fortes, significativas e importantes do que a emoção
que desejamos que o nosso paciente modifique.
- Assumindo que alguém tenha uma queixa, uma divergência, uma
expectativa que não esteja se realizando, ou como queira rotular isso,
sempre existe uma projeção de como deveria ser, que normalmente não
está aí, ou seja, é inconsciente. Então, simplesmente, quem construirá “o
filme” será a própria pessoa. Depois você, como terapeuta, auxilia para
que esse filme se repita na mente do paciente.
- Lembre que existem pessoas que têm preferências e quando dizemos
“como você vê isso?” às vezes não processam isso do mesmo modo como
“e o que diria nesse processo?" ou "o que sentiria no desenvolvimento
desse processo?” Isto porque têm certa preferência por canais sensoriais.
Então, às vezes essas pessoas podem dizer “não vejo, não vejo nada”, mas
funcionaria ao perguntar “o que diria?” ou “como sentiria isso?" E aí sim,
surgirá a informação.
Exercício 9:
Escolha um tema que possa ser do interesse do seu paciente e construa
uma sugestão que lhe permita alcançar o que deseja. Preste atenção à
fisiologia do seu paciente, bem como às palavras do que ele(a) diz. Detecte
a chave pós-hipnótica e forneça a sugestão sob a forma narrativa, como se
fosse um filme, considerando as palavras que o próprio paciente utilizou.
Neste caso o paciente chamado João diz que tem como tema “falar em
público”.
P: Quer dizer que você quer falar em público?
E como gostaria que fosse isso?
J: Que eu pudesse falar com fluidez, com ideias claras, que fosse
convincente, que despertasse o interesse do auditório, que fosse
organizado na minha apresentação e tirasse conclusões úteis.
P: Ok, estaria bem com isto?
- Fluidez.
- Ideias claras.
- Que fosse convincente.
- Que despertasse o interesse do auditório.
- Organizado.
- E que tirasse conclusões úteis.
J: Seria excelente!
P: Bem, então, gostaria que você construísse este processo na sua mente.
Como seria? Se puder imaginá-lo, eu gostaria que me contasse como vai
construindo isso.
J: Primeiramente, eu teria que preparar minha apresentação, um processo
em que pensaria no tema e procuraria ter um esquema para partir dele.
P: Primeiro vem a preparação. E como sabe quando começa a preparação?
J: Penso no tema.
P: Onde você faz isso? Como faz isso? Como seria isso na prática?
J: Usaria meu laptop para preparar os slides, faria meus quadros de texto e
os preencheria com esquemas, figuras, fotografias.
P: Ok. Suponhamos que depois disso passa um certo tempo e, então, você
faz sua apresentação em público.
J: No processo eu tenho que chegar a um auditório, a uma sala, para me
instalar e procurar estar tranquilo. Existem algumas técnicas para
apresentação quando se está nervoso, tal como focar-se numa pessoa como
se fosse a única pessoa para quem está falando, tratando de não se distrair
com o restante do auditório. Isso seria para controlar o nervoso, as
emoções.
P: Uma pergunta: para que você acredita que existe esse estado emocional
quando vai falar em público?
J: Bem, eu o vejo como negativo, pois eu gostaria de chegar lá e não ter
esse nervosismo.
P: Mas suponhamos que esteja presente por alguma razão especial, e sua
mente e seu corpo, que sabem muito, querem lhe dizer alguma coisa, o que
gostariam de lhe dizer então?
J: Que eu faça bem isso e realmente capte a atenção do público.
P: Que faça bem isso, e além de fazer bem?
J: Transmita, transmita conhecimento, transmita comunicação.
P: Como percebe, então, essa sensação que você tinha antes? Se o que está
pedindo é que faça bem isso, nada mais, para que você acredita que existe?
Vai fazer bem isso João?
J: Sim, vou fazer, espero que bem, mas tendo controle das minhas
emoções, e para conseguir isso eu volto ao início, pensando que tenho as
ferramentas e sei como fazer bem isso.
P: João, é possível controlar as emoções?
J: Vou lhe contar uma coisa. Eu era gago e, então, no ensino fundamental
eu me inscrevia em todos os concursos de declamação e oratória, e
geralmente acabava parando na metade da declamação, e no concurso
seguinte lá estava eu outra vez inscrito.
P: Bem, e com todos esses recursos que você tem, para que quer controlar
as emoções se você faz bem isso?
J: Sempre é um desafio. Dependendo do auditório, acho que vou ter que
fazer um esforço para me dominar. Depende do auditório, se tem gente que
sabe muito, ou gente muito inexperiente, ou são jovens muito irrequietos e
vou ter problemas para atrair sua atenção, e se não atrair sua atenção,
então, fico nervoso.
P: Como deveria ser este processo independentemente das pessoas estarem
atentas ou não?
J: Deveria ser fluido, e eu estando seguro e tranquilo.
P: E quando você está seguro, como é a imagem que gera aqui?
J: Boa, boa, então atraio a atenção das pessoas e sou convincente.
P: Suponha que possa gerar uma imagem falando em público, convincente,
seguro, como seria?
J: Começaria a apresentação dos meus slides, iniciaria com um slide que
atraísse a atenção, às vezes que desperte o riso ou a curiosidade, porque
posso saber o que vem em seguida, e depois abordaria o tema a tratar, e
cuidaria que meus slides não tivessem informação demais, somente o
básico e chegassem a uma conclusão clara.
P: Ok, e no final como teria que se sentir?
J: Muito satisfeito, emocionalmente contente por ter conseguido algo.
P: O que mais?
J: Bem, satisfeito e feliz, feliz de ter dominado meu "pânico de palco", a
dificuldade de falar em público.
P: Como colocaria isso de forma positiva?
J: Posso conseguir isso, ou consegui, consigo fazer isso.
P: Então, peço que me diga qual seria o ponto de início, para saber que
começou o processo de falar em público.
J: Bem, o início é provavelmente quando eu chego, é o momento da
chegada no auditório.
P: Não é a preparação?
J: Não, isso já está bem, mas estou pensando em qual pode ser o
disparador para que este processo inicie.
P: Ok, está certo.
J: Eu abro a porta da sala e, então, cumprimento as pessoas.
P: É um auditório específico ou qualquer auditório?
J: Pode ser um grupo de jovens estudantes ou um grupo de colegas.
P: Ok, quando você cumprimenta esse grupo de pessoas.
J: Nesse momento já preciso estar bem.
P: Ok, então, suponha que comece antes, com seu laptop, trabalha nos
slides, no esquema e faz o que tinha que fazer, colocando menos
informação e tem a informação exata e necessária. A partir daí vai saber
que essa etapa está pronta, você está pronto e chega o momento de fazer a
apresentação. Você chega e sabe que vai fazê-la muito bem. Uma vez que
cumprimente as pessoas, um grupo de estudantes, ou colegas, você entra
no auditório e provavelmente instala, ou talvez já esteja instalado, o laptop.
Vai carregar a apresentação, ou já está instalada, e nesse momento começa
a falar. Diante das pessoas que estão lá, você vê internamente como está
seguro, tranquilo e talvez evocando todas as vezes em que conseguiu isso,
sabendo que sempre quis fazer isso. É estar bem, estar seguro, estar
tranquilo, e o auditório – independentemente do que demonstre – vai estar
atento ao que você diz, e vai aumentar sua percepção do que está dizendo,
talvez movendo-se como quiser nesse auditório, e enquanto vai se
movendo, vai se sentindo mais e mais seguro, até que, no final, percebe
que já está quase no último slide, está muito satisfeito, e realmente diz a si
mesmo: “consegui, consegui, finalmente consegui”, e isto é cada vez
melhor e melhor.
J: É essa emoção…
P: Então, isto seria para você uma possível sugestão que pode ser inserida
para este tema.
Exercício 10:
Trabalhe com alguém que fale de algum tema que seja importante para ele.
Enquanto o paciente faz o relato, foque em ouvi-lo e em selecionar as “três
palavras”. Aprofunde o transe com perguntas curtas e de contexto; forneça
a ele uma sugestão pós-hipnótica “auxiliadora”, e, inserindo nela,
considere utilizar as leis dos três princípios psicológicos.
Neste caso iremos trabalhar com uma paciente chamada Denise.
P: Sobre o que gostaria de conversar, que possa ajudá-la?
D: Bem, a questão é que não sei distinguir entre amor e uma simples
amizade em relação ao sexo oposto.
P: Sim. O que mais?
D: Tendo a confundir as coisas e isso faz com que eu me iluda e comece a
voar, depois percebo que não é nada disso e vem tudo abaixo, e no final a
afetada com tudo isto sou eu mesma.
P: Ok. E o que mais?
D: Não aconteceu só uma vez, foram cerca de cinco vezes. Um deles é
casado e eu descobri isso depois. Agora sei que devo evitá-lo, mas uma
parte de mim diz “deixe a ferida cicatrizar, espere que se recomponha e,
então, poderá vê-lo normalmente”, pois não posso evitá-lo por tanto
tempo.
Agora posso evitá-lo porque tenho outros compromissos, mas não toda
esta semana, não posso, é impossível, não tenho nenhum compromisso
para poder evitá-lo, a coisa está assim.
P: O que mais Denise?
D: E além do mais, sou muito insegura e não me sinto confortável com o
que estou fazendo agora. Sei que é um trabalho estável, mas não me
agrada, não é para isso que eu estudei, não faço isso com a paixão com que
faria o que estudei, sei que faço bem-feito, mas não me satisfaz, então, eu
tentei procurar outras coisas e até agora nada.
Eu acredito que esses seriam os únicos aspectos da minha vida que me
causam um choque. Não saber realmente se estou fazendo bem as coisas, e
se realmente sei quem sou e para onde vou.
P: O que gostaria que acontecesse na primeira coisa que me disse?
D: Poder ver essa pessoa, continuar tratando-a do mesmo modo, sem me
sentir mal.
P: Como gostaria de se sentir?
D: Não sei, poder vê-lo normalmente, saber que apesar de tudo somos
amigos e que posso contar com ele. Essa pessoa já demonstrou que eu
posso contar com ela. Afinal de contas, eu sei que fui eu que confundi as
coisas e não quero, ao vê-lo, ter que sair de perto dele e ir para outro lado
para evitar essa situação.
P: Ok. Eu sei que às vezes na vida a gente quer evitar algumas coisas e,
quando as quer evitar, não percebe que à medida que as evita, elas estão
sempre presentes, e isto é um paradoxo. Querer evitar e tê-las presentes, e
às vezes enfrentando e entendendo o que acontece, talvez poder se entregar
de outra forma e poder distinguir as cores que têm, porque existem tantas
cores, e talvez tenha que distinguir quais são as cores de que realmente
gosta mais e as que estão aí disponíveis para você.
D: Mas como distinguir?
P: É isso, como vai fazer isso? De repente, é como quando você escolhe
uma roupa ou escolhe outra, e essa roupa está disponível para você, porque
você sabe que essa roupa é para você. Essa roupa serve em você, entra,
gosta da forma, e talvez seja o momento de usá-la pelo clima, pelo tempo e
dessa maneira você pode ter um closet, onde sabe que cada roupa tem seu
estilo, tem seu momento e tem seu ambiente para ser usada, e há muitas
roupas, algumas vão vestir melhor e outras menos. Talvez algumas sejam
realmente do seu agrado, e outras você veste e as descarta, como tantas
vezes a gente usa uma roupa e, de repente, deixa de usar porque o gosto
muda, mudou a moda, e há algumas roupas que sempre ficam bem, que
talvez você queira mantê-las ao longo do tempo, porque não se sabe, talvez
sejam roupas de estimação, e você sabe como escolher a roupa para você.
Agora, quando você encontrar essa pessoa, talvez em outra situação já não
tenha que evitá-la, mas sim saber qual é a paixão que vai movê-la, para ser
quem você quer ser, sabendo que sempre é quem você é, apesar de às
vezes se confundir e acreditar que não sabe quem é, sempre sabe e sabe o
que procura. Talvez não esteja fora, mas dentro de você, nem dentro, nem
fora, mas sempre em você, está em você, em sua essência, em seu espírito,
e quando voltar a encontrá-lo e voltar a vê-lo, verá que não precisa evitar.
Simplesmente deixar ser, deixar expressar-se, deixar que as coisas fluam,
poder escolher, poder saber que é você que está tomando as decisões, e a
partir daí assumir a responsabilidade, não só disso, mas de outras coisas, e
não apenas dizer “uma parte minha não sabe o que fazer e outra sabe”.
Saber que ambas vão estar aí, escolhendo, diferenciando, não mais
evitando ou talvez evitando o evitar.
E essa será sua nova forma de caminhar, de se desenvolver e, nesse
momento, quando ele surgir, talvez você o ache normal, sabendo que você
tinha escolhido algo que não era para esse momento, talvez não era para
esse instante, para esse tempo, para essa temporada, talvez para outra.
Quem sabe, talvez você tenha que ver de outra maneira para poder saber
quem realmente é, ou que tipo de situação será do seu agrado, para
diferenciar, e a partir daí poder começar o que vamos falar num outro
momento.
O que você acha? Ok?
Este é o início…
Exercício 11:
Procure evocar em alguém a experiência de felicidade, desfrute, decisão e
liberdade.
Gostaria de compartilhar com você que muitas vezes caminho pela cidade
e vou olhando as árvores, às vezes um tanto distraído, sem olhar mas
olhando. Vejo os automóveis, vejo as pessoas passando e normalmente do
meu lado esquerdo, às vezes do lado direito, não sei por quê, sinto um
aroma muito agradável. É um cheiro de pão! Pão saído do forno! E esse
aroma entra em mim e me dá tanta alegria, que às vezes penso comigo
mesmo “esta é uma oportunidade de me dar um prazer e parar para isso, de
me dar permissão juntamente com uma decisão”. Quem não pensou nisso
alguma vez? Não é verdade? Dizendo “é importante saber desfrutar”, que
não seja só na teoria, e que nesta ocasião o mais importante seja me
entregar à paixão desse momento, desse instante, e de sentir que estou vivo
e pegar esse pãozinho quentinho e, quando entrar em minha boca, perceber
que parei o tempo nesse instante e que com ele posso aprender muito.
Exercício 12:
Exemplo de uma sessão em que se utiliza hipnose conversacional.
P: Sobre o que gostaria de conversar?
C: É que estou para iniciar um projeto dentro de alguns dias, ou melhor,
gostaria de me concentrar um pouco mais ou estar um pouquinho mais
relaxado.
P: O que chama concentrar-se mais ou estar um pouquinho mais relaxado?
C: Tomar as decisões um pouco mais friamente e ser assertivo nas
decisões que tomo.
P: Ok, o que mais?
C: Buscar um pouco de tranquilidade e fazer bem as coisas. Ter uma boa
gestão das pessoas, que possa negociar bem e ter um bom resultado neste
projeto.
P: Poderia, então, detalhar como vai ser o processo? Tal como tem que
ser?
C: Bem, é cobrar o adiantamento, contratar gente, fazer a parte técnica,
realizar todo o processo e isso leva tempo, a forma como deve ser.
Negociar bem os pagamentos seguintes, dar a liquidação total e entregar o
produto já processado. Essa é a forma como vai ser executado.
P: E como você está aí mais concentrado?
C: A pergunta é: como eu estaria mais concentrado?
P: Sim, você disse algo assim, que queria estar mais...
C: …concentrado.
P: Concentrado, como vai perceber que está mais concentrado?
C: Não é um problema, afinal de contas, eu vejo como uma qualidade
fazer várias coisas ao mesmo tempo. Sempre estou fazendo uma coisa e já
estou tratando de começar outra. Mas é aproximadamente um mês e meio
de trabalho e quero dedicar toda atenção a isso.
P: Ok, e como vai fazer isso?
C: Essa é uma boa pergunta. Focando, dando uma certa prioridade às
coisas que devo controlar.
P: O que vai ter mais prioridade agora?
C: No momento, tocar este projeto.
P: Para realizar isso, o que está fazendo efetivamente?
C: Tudo foi indo para o devido lugar e agora estou indo bem, não
aconteceu nada, mas quero que as coisas continuem indo bem.
P: Então, o que vai conseguir evitar nesse processo para que continue indo
bem?
C: Estar focado no projeto, concentrar minha atenção aí.
P: E quando você se concentrou, como fez isso em outras situações?
C: Há algo em que sempre tenho 100% de atenção. É quando estou
escalando e não tenho tempo para pensar em outra coisa. Quando você está
num desfiladeiro perigoso, você se esquece de tudo e se concentra 100%.
Foi quando estive muito mais concentrado, ou quando fiz algum resgate.
P: Resgates também.
C: Não me dediquei a isso, mas participei de vários.
P: E que tipo de escalada você faz?
C: Em rocha.
P: Sozinho ou com colegas?
C: Com colegas.
P: O que existe aí que faz você focar?
C: O risco, quando as coisas estão no limite, minha mente não pode estar
divagando, ou não tinha a mente divagando nesses momentos.
P: Ok, quando está escalando uma rocha.
C: Quando se está num desfiladeiro perigoso ou num momento de muito
risco, ou quando há um acidentado e deve-se fazer as coisas o mais rápido
possível para socorrer a pessoa, imobilizá-la ou o que tiver que ser feito de
uma forma rápida e segura. Acredito que assim tive mais concentração ou
estive mais focado.
P: Poderia voltar a se colocar numa situação, não sei se está escalando uma
rocha, sozinho ou com alguém, para recordar o que aconteceu aí?
C: Sim.
P: Como seria?
C: O que aconteceu naquele momento?
P: Sim.
C: Certa vez estávamos escalando e se desprenderam alguns blocos de
pedra acima de nós. Éramos quatro numa parte alta, uns 300 metros, e
estávamos sem corda porque era um local fácil, naquele momento não
exigia muito, mas uma das pedras atingiu um colega.
P: Onde você está?
C: Adiante dele.
P: Acima?
C: Sim, e as pedras se desprenderam muito acima.
P: E as cordas onde estavam?
C: Na mochila.
P: Estavam sem cordas?
C: Estávamos sem cordas, mas aí tivemos que amarrar as cordas para
baixar, e eu tive que baixar o acidentado que tinha fraturado a perna.
P: Como você fez?
C: Estabelecemos um sistema, amarrei-o a mim e baixei-o pelas cordas,
mas aí, como éramos três pessoas que não haviam sofrido nada, tomei o
controle e coordenei. Disse a cada um o que tinha que fazer, enquanto eu
baixava o colega.
P: E depois, o que aconteceu?
C: Nós conseguimos baixá-lo e levá-lo a um posto de primeiros socorros e
depois ao hospital, e todos saímos bem.
P: E aí você pode perceber que tinha controle.
C: Sim.
P: E que estava num projeto.
C: Sim.
P: E que estava com colegas.
C: Sim.
P: E que independentemente de existirem todos os recursos, porque
estavam sem as cordas, conseguiram realizá-lo. E é assim que às vezes não
percebe onde estão os projetos, porque tudo pode ser um projeto, e às
vezes não existem todos os recursos e do mesmo modo existe a sua
vontade de realizá-lo, e consegue. E tantas vezes percebe que projeto é
aquilo que para você é importante realizar, e se existem ou não os
controles, é algo que você vai decidir se quer tê-los ou não, e se decidir
que sim, vai conseguir. No fundo, o projeto vai ser qualquer coisa que para
você seja importante realizar e que dê prioridade para empregar seu
controle, o controle do que realmente quer. E é a partir daí que você vai
tomar as decisões agora, talvez transformando sua vida para constatar que
o controle é a questão, que fazer muitas coisas é muito bom, desde que
você controle o que quer ou não fazer, e avance na direção do que é
importante para você.
E nesse processo vai se encontrar cada vez mais dentro de você,
profundamente consciente do que é significativo, importante, e você vai
colocar ou tirar o controle, e nunca mais vai dizer que isso é bom ou aquilo
é bom, sem que você decida. A decisão é sempre sua, sempre vai ser sua,
sempre.
Que bom saber disso, não é verdade?
C: Sim!
P: Como fica isso para você agora?
C: Bem! Muito obrigado.
P: Então, como vai ser o seu projeto?
C: Vai ser muito bom.
P: Sim, que certeza você pode ter disso?
C: Toda.
P: Toda. Ok! Muito obrigado.
PADRÕES TERAPÊUTICOS LINGUÍSTICOS: O USO DA
HOMOFONIA À “ERICKSON”

Maurílio Palmieri
Este artigo é baseado no original elaborado por Georgette Sarrás e Paul
Anwandter para o idioma espanhol.
Assim como nós, vocês com certeza já puderam apreciar a magia existente
nas palavras e frases de Milton Erickson. Desde que adquirimos
consciência do uso da linguagem para ajudar outras pessoas e estudamos
como Erickson fazia isso, percebemos o seu uso magnífico.
Estes padrões foram "desconstruídos" por vários autores e são conhecidos
como Padrões de Linguagem de Milton Erickson, ou simplesmente
Padrões de “Milton". Dentre os quais existe um Padrão muito utilizado por
M. Erickson, que foi traduzido para o português como "Jogo de Palavras"
(ou trocadilho), no qual se produzem semelhanças fonéticas. No entanto,
considerando a imensa riqueza do idioma Português, comprovamos uma
carência de disponibilidade destes mesmos padrões para o uso terapêutico.
O propósito deste artigo é apresentar Padrões Terapêuticos Linguísticos de
Homofonia em Português e gerar consciência do benefício do seu uso num
ambiente de "ajuda", ao estilo de Milton Erickson no idioma inglês. Após
investigar um vasto conjunto de palavras, finalmente chegamos ao
conjunto que exemplificamos aqui, considerando que estes padrões podem
ser úteis para a maioria das pessoas que falam Português. No entanto, é
necessário ressaltar que determinadas palavras podem produzir os efeitos
desejados, mas podem não ser válidos ou compreensíveis para todos
aqueles que falam Português, em função da pronúncia ou significado
típicos de cada região ou país.
Além do aspecto regional, outra restrição reside particularmente no
vocabulário de que cada pessoa dispõe, o que geralmente é determinado
por seu nível educacional e cultural. Sob este aspecto queremos observar
novamente que o objeto deste trabalho é levar ao nosso idioma, de uma
forma estruturada e sistemática, algo que M. Erickson realizava
espontânea e naturalmente no idioma inglês.
É bom lembrar que Erickson não sabia que falava de forma
“Ericksoniana”. Sua forma e estrutura terapêutica de falar foi
desconstruída posteriormente por seus discípulos.
Uma das motivações que nos levou a escrever este artigo foi a
pressuposição de que estes padrões, que em inglês são tão naturais, ao
serem traduzidos para o Português, são muito difíceis de se concretizar.
Por exemplo, temos esta frase tipicamente Ericksoniana: "Please, do it...
right now"... que também poderia ser escrita como: "Please, do it... write
now”. Devemos observar que a palavra right (direita) possui homofonia
com a palavra write (escrever). Traduzida para o Português, a primeira
frase ficaria: "Por favor, faça isso... agora"... e a homofonia que existe no
idioma Inglês desaparece em Português, pois a tradução da segunda frase
seria: "Por favor, faça isso... escreva agora"... Ou seja, terapeuticamente
deixa de produzir o efeito desejado.
Neste processo detectamos uma grande dificuldade para fazer a tradução
"literal" para o Português das palavras que M. Erickson utilizava em inglês
para produzir homofonia.
Vimos que é possível sistematizar o conceito destes padrões homófonos
em Português com os mesmos benefícios que encontramos em inglês. O
uso destes Padrões de Homofonia vem completar os Padrões de Milton, e a
riqueza da sua utilização permite fornecer mensagens diretas de forma
indireta, de tal modo que sempre reste alguma dúvida. Neste caso, a pessoa
deve processar as mensagens fornecidas e fazer as análises
correspondentes.
Com isso o paciente ou coachee não faz uma codificação verbal direta.
Consequentemente, para vir a entender o que está sendo dito numa "busca
transderivacional”, como diriam Bandler & Grinder, ou mais direta e
simplesmente num transe em vigília, nosso paciente inicia um processo de
dissociação.
Poderíamos atribuir vários nomes a estes padrões, baseados em como são
conhecidos em termos linguísticos, entretanto, pouco utilizados
terapeuticamente falando. Gostaríamos de apresentar aqui as seguintes
definições, que são comumente utilizadas em linguística sobre as palavras
e frases, fornecendo os exemplos correspondentes:
Palavras homônimas ou homônimos
Duas ou mais palavras são homônimas se forem foneticamente idênticas, e
possuírem significados distintos.
Em Português as palavras homônimas são classificadas em três tipos:
- Homógrafas são palavras que apresentam a mesma grafia, mas pronúncia
e significados diferentes. Por exemplo:
• Eu gosto de viajar. (verbo)
• Sua decoração tinha um gosto duvidoso. (substantivo)
- Homófonas são palavras que apresentam a mesma pronúncia, mas grafia
e significados diferentes. Por exemplo:
• O concerto será no Teatro Municipal. (espetáculo musical)
• O conserto do carro ficou muito caro. (reparo)
- Homônimos Perfeitos são palavras homógrafas e homófonas, ou seja,
apresentam a mesma grafia e a mesma pronúncia, mas significados
diferentes. Por exemplo:
• Hoje começa o horário de verão. (estação do ano)
• Eles verão o que pode acontecer. (verbo ver)
Em Hipnose, Coaching ou Neurolinguística, basta que exista homofonia
para lhe dar um uso terapêutico.
Palavras Homófonas
Exemplos:
Homógrafas
prescrever (ordenar) / prescrever (receitar) / prescrever (ficar sem efeito)
anular (dedo) / anular (suprimir)
dever (obrigação) / dever (ter dívida)
bota (verbo botar) / bota (calçado)
consciente (acordado) / consciente (responsável)
Não homógrafas
cem / sem
seção / sessão / cessão
cento / sento
cinto /sinto
cauda / calda
trás / traz
cesto / sexto
alto / auto
houve / ouve
acender / ascender
Também podemos formar expressões homófonas com duas ou mais
palavras.
Exemplos:
dever / de ver
afim / a fim
acerca de / há cerca de
Podemos encontrar algumas estruturas que geram expressões homófonas:
Preposição + [verbo ou substantivo ou adjetivo]
As preposições ligam os elementos de uma oração, estabelecendo uma
relação entre eles. Podem indicar origem, destino, direção, lugar, modo,
finalidade, tempo, causa etc.
São preposições:
a, ante, após, até, com, como, conforme, contra, de, desde, durante, em,
entre, exceto, mediante, para, perante, por, salvo, segundo, sem, sob,
sobre, trás etc.
Algumas delas seguidas por um verbo/substantivo/adjetivo produzem
homofonia com outras palavras.
Exemplos:
a tensão / atenção *
ante ceder / anteceder
com bater / combater
com ciência / consciência *
com descendência / condescendência *
com parar / comparar
com paixão / compaixão
com posição / composição
com sequência / consequência *
com tensão / contenção *
com fusão / confusão *
com verso / converso (de conversar) *
contra posição / contraposição
de posição / deposição
para normal / paranormal
por menor / pormenor
* Nestes casos deve-se modificar a ortografia ao fazer a combinação.
Prefixo + [verbo / substantivo / adjetivo / advérbio]
Alguns casos:
Prefixo i + [substantivo abstrato / adjetivo / advérbio]
A forma negativa de alguns substantivos, adjetivos e advérbios é obtida
antepondo-se o prefixo i.
No caso das palavras que começam com L e R, o prefixo i gera homofonia
ao se utilizar a conjunção e, quando sua pronúncia no Português coloquial
passa a ter o som de "i".
Exemplos:
e legalidade / ilegalidade
e real / irreal
e regularidade / irregularidade
e responsável / irresponsável
e lógico / ilógico
e moral / imoral
Prefixo des + [verbo/substantivo / adjetivo / advérbio]
O prefixo des antecedendo alguns verbos, substantivos, adjetivos e
advérbios gera sua forma negativa, produzindo homofonia ao se utilizar
dês como segunda pessoa do singular (tu) do verbo dar no Presente do
Subjuntivo (que tu dês). Obviamente, aplica-se somente quando o
pronome de tratamento da segunda pessoa (tu) é utilizado na conversação
regular. Por outro lado, quando a pronúncia em Português tem o som de
"i" na forma coloquial, passa a ter o som de "diz", terceira pessoa do
singular do verbo dizer no Presente do Indicativo. Aplica-se, portanto,
quando o pronome de tratamento da terceira pessoa (você/ele/ela) é
utilizado na conversação regular.
O resultado é uma expressão que significa dar a qualidade positiva da
palavra.
Exemplos:
desabrigo / des abrigo (diz abrigo)
desacerto / des acerto (diz acerto)
desativação / des ativação (diz ativação)
desacordo / des acordo (diz acordo)
desafeto / des afeto (diz afeto)
desafinação / des afinação (diz afinação)
desagrado / des agrado (diz agrado)
desajuste / des ajuste (diz ajuste)
desamparo / des amparo (diz amparo)
desânimo / des ânimo (diz ânimo)
desarma / des arma (diz arma)
desconhecimento/des conhecimento (diz conhecimento)
descontente / des contente (diz contente)
desesperança / des esperança (diz esperança)
desmotivação / des motivação (diz motivação)
desnutrição / des nutrição (diz nutrição)
desequilíbrio/ des equilíbrio (diz equilíbrio)
desânimo/ des ânimo (diz ânimo)
desrespeito/des respeito (diz respeito)
Exemplos com alguns verbos no próprio Infinitivo:
desenergizar/ diz energizar
desacreditar/ diz acreditar
desagradar/ diz agradar
Prefixo dis + [verbo/substantivo / adjetivo / advérbio]
O prefixo dis antecedendo alguns verbos, substantivos, adjetivos e
advérbios gera sua forma negativa, produzindo homofonia ao se utilizar
diz como terceira pessoa do singular (você/ele/ela) do verbo dizer no
Presente do Indicativo.
Exemplos:
distorcer/ diz torcer
dissimular/ diz simular
dissolver/ diz solver
dispensar/ diz pensar
distrair/ diz trair
disparar/ diz parar
dispor/ diz por
dissabor/ diz sabor
disfunção/ diz função
dissolução/ diz solução
A diferença entre "des" e "dis" é apenas etimológica. O prefixo "des"
junta-se à palavra portuguesa, enquanto que "dis" junta-se à palavra latina,
evoluindo esta depois para o Português.
Utilizando estas expressões podemos construir frases homófonas.
As frases homófonas são popularmente conhecidas como "frases de duplo
sentido".
As expressões homófonas que mudam seu significado quando suas sílabas
são agrupadas de modo diferente são denominadas "trocadilhos" (Se eu
pudesse, amá-la-ia / ... a mala ia).
Este tipo de expressão requer o uso de marcação analógica para se orientar
a um ou outro significado.
Os "Padrões Terapêuticos" que fazem parte dos Padrões de Milton, que
incluem palavras homônimas – homófonas ou homógrafas – e/ou
trocadilhos com uma orientação terapêutica, serão aqui denominados
simplesmente "Padrões de Homofonia", independentemente destes
incluírem os conceitos anteriores de homofonia, homografia ou
trocadilhos.
Os "Padrões de Homofonia" que serão apresentados aqui também podem
ser utilizados em muitos modelos terapêuticos.
Sem dúvida, serão de maior utilidade para aqueles que têm uma raiz
comum de utilização da linguagem e que incluem em seus modelos
conceituais Padrões de Linguagem Hipnóticos, tais como a própria
Hipnose, o Coaching e a PNL.
Se necessário, para efeito do que seria uma medição comparativa destes
"Padrões de Homofonia", podemos definir perfeitamente o grau de
profundidade de transe que estes produzem em determinado contexto de
laboratório através dos métodos e procedimentos usuais para classificar os
níveis de profundidade de transe.
Por outro lado, devemos considerar que num contexto terapêutico ou de
ajuda, e não laboratorial, é praticamente impossível “controlar” de forma
sistemática o conjunto de variáveis que cada paciente apresenta, bem como
o próprio terapeuta. Portanto, o trabalho de uma medição comparativa do
efeito destes “Padrões de Homofonia” torna-se algo bastante complexo de
se executar num ambiente “não controlado”.
Certamente todos vocês, de uma maneira ou de outra, já experimentaram
os "Padrões de Homofonia" que apresentaremos a seguir.
No entanto, a simples presença destes numa estrutura sintática faz com que
nossa mente se direcione totalmente à interpretação semântica da própria
frase e suas múltiplas possibilidades, mais do que à detecção do próprio
padrão.
O fato de termos distintos significados para diferentes significadores no
nosso desenvolvimento de consciência, torna ainda mais rica a busca de
informação por parte da nossa mente inconsciente e, quando agregamos a
variável de jogo e semelhança fonética, geramos indiscutivelmente um
processo de surpresa e confusão.
Quando estes padrões são utilizados constantemente numa estrutura de
sessão terapêutica, em comunicação com múltiplas direções, o transe se
torna uma ação espontânea. Os benefícios do estado de transe em vigília
foram tema de estudo de vários autores e não são objeto de análise neste
livro.
Sem dúvida, toda vez que ouvimos uma palavra (ou frase) que "soa"
parecida com outra, necessitamos trazer à nossa mente todos os
significados possíveis que conhecemos e compará-los uns com os outros.
O principal atributo dos "Padrões de Homofonia" é que permitem por si
mesmos transmitir mensagens em múltiplos níveis, sem a necessidade de
uma linguagem direta explícita para a mente consciente.
Uma coisa interessante destes "Padrões de Homofonia" é que sempre
estiveram disponíveis, mas não necessariamente colocados a serviço do
uso terapêutico.
Assim como existe a hipnose de espetáculo para divertir, notamos que
muitos destes padrões são eventualmente utilizados num contexto
humorístico.
Também é importante observar as palavras que muitas vezes o próprio
paciente nos traz, pois com elas nós geramos um novo contexto semântico
utilizando estes "Padrões de Homofonia".
A utilização dos "Padrões de Homofonia" num contexto terapêutico
trazem um grande benefício, sejam estes utilizados numa conversação ou
num transe.
Temos plena consciência de que estes "Padrões de Homofonia" requerem
experiência e prática de um profissional da linguagem, assim como vêm a
ser um convite à sua descoberta para aqueles que entram neste mundo.

PADRÕES TERAPÊUTICOS LINGUÍSTICOS DE HOMOFONIA


Palavras Homófonas
Homógrafas
• …Você pode [prescrever (ordenar, receitar) / prescrever (tornar sem
efeito)] algumas condutas para conseguir...
• …sempre é bom retribuir ao [ser querido (sendo querido)/ ser querido
(pessoa querida)]…
Não Homógrafas
• … [com posição / composição] conveniente poderemos ser bem
sucedidos…
• …assim, se [houve (de haver) / ouve (de ouvir)] uma resposta positiva, o
restante é fácil…
• …sempre que subo um degrau, posso ir [acendendo / ascendendo] outras
soluções em minha mente…
• …pode deixar para trás o que fazia antes para [apreender/ aprender] o
que de bom existe em você…
• ...assim, quando quiser, pode vir [acessar / a cessar] a conduta
calmamente...
• …se você tem disposição e [consciência / com ciência], a mudança pode
se dar naturalmente…
• ...e você sabe que condutas lhe convém [apressar (agilizar)/ apreçar
(avaliar)]…
• Para proteger seu [bem (pessoa querida) / bem (propriedade privada)],
seu parecer é valioso...
Expressões Homófonas
• … poderia conseguir isso indicando com seu [dedo anular / dedo, anular]
o que neste momento seja desnecessário... {neste exemplo, a vírgula
mostra a marcação analógica que muda o significado da expressão}
• …e na sua imaginação [acena / a cena / há cena] com a possibilidade de
obter os recursos…
• …[ante ver / antever] a situação pode lhe dar paz…
• …[a tensão / atenção], na medida exata, permite fazer o necessário…
• …se você tem um ponto fraco, pode [compensar, / com pensar] ajudar a
saná-lo...
• …A mudança se dará [com sequência / consequência] natural…
• ...Como no contexto [comporta mentes / comportamentos] diferentes
vêm auxiliar nas soluções…
• ...recordando-se do [alto / auto] reconhecimento nas suas conquistas...
Preposição + [verbo ou substantivo abstrato ou adjetivo]
• …para melhorar-deixar-mudar esse hábito, talvez baste [compará-lo /
com pará-lo,] com o que surgirá em troca [,]...
• …às vezes é conveniente sentir-buscar [compaixão / com paixão] para
encontrar a resposta
• …melhor do que com preconceito, [com ciência / consciência,] você
poderia compreender…
• …é provável que [com provar / comprovar] certos feitos ajude a
compreender e mudar…
• …às vezes é bom fazer [com tensão / contenção]…
• …[dever / de ver] tanto assim, pode vir a entender...
Prefixo + [verbo / substantivo abstrato / adjetivo / advérbio]
Prefixo i + [verbo / substantivo abstrato / adjetivo / advérbio]
• …Já que você acredita que o conflito é, dessa forma, [irreparável, / e
reparável,] então a solução poderia surgir daí mesmo…
• Como, para você, o que escreveu em transe é verdade [ilegível / e
legível], talvez você queira interpretá-lo de alguma maneira…
Prefixo des / dis + [verbo / substantivo abstrato / adjetivo / advérbio]
• …para que assim, quando [desabrigado, / diz abrigado,] possa gerar o
calor necessário...
• …para que assim, quando [desequilíbrio, / diz equilíbrio,] possa gerar a
segurança necessária...
• …para que assim, quando [desconfortável, / diz confortável], possa gerar
a estabilidade necessária...
• …quando [desativa / diz ativa] o necessário…
• …para que assim, quando [desencontro, / diz encontro,] possa melhorar a
relação...
• …para que assim, quando [desafeto, / diz afeto,] possa gerar amor...
• …de modo que, então, quando [desacertar / diz acertar] a postura…
• …para que assim, quando [desvalorizado, / diz valorizado,] se reconheça
a sua contribuição...
• …para que assim, quando [desagradar, / diz agradar,] consiga um
ambiente melhor...
• …para que quando [desnecessário, / diz necessário,] se expresse de
maneira adequada...
• …para que assim, quando [desajustado, / diz ajustado,] volte ao
equilíbrio...
• …para que assim, quando [desamparado, / diz amparado,] tenha cuidado
e proteção…
• …para que assim, quando [desanimado, / diz animado,] obtenha
esperança e otimismo...
• …para que assim, quando [dispensar, / diz pensar], confirme a sua
identidade…
• …para que assim, quando [disparado, / diz parado,] reconheça os limites
necessários…
BIOGRAFIA DO AUTOR

Autor de livros de Coaching, PNL, Mentoring e Hipnose traduzidos para o Inglês e para o
Português. Seu amplo conhecimento sobre Coaching levou-o a ser o criador do modelo "Coaching
Integral ICI", cujo trabalho resultou na publicação do livro"Introdução ao Coaching Integral ICI".
Além disso, Paul Anwandter é:
• Master Trainer Coach Integral ICI e Master Trainer Coach pela International Association of
Coaching Institutes (ICI) da Alemanha.
• Master Trainer Coach Internacional certificado pela HCN World (HCN).
• Master Developmental Coach and Consultant, certificado pelo Interdevelopmental Institute (IDM)
dos EUA.
• Master Trainer em PNL certificado pela International Association of NLP-Institutes (IN) da
Alemanha e pela International Community of NLP (ICNLP) da Suécia.
• Fellow Member Trainer certificado pela IANLP da Suíça.
• Trainer de Mentoring Certificado pela Coaching and Mentoring International (CMI) da Inglaterra.
• Business Coach, Certificado pela Worldwide Association of Business Coaches (WABC).
• Mentor Professional da EMCC - European Mentoring and Coaching Council.
• Professor de Hipnose Clínica e Hipnoterapia Avançada certificado pela International Hypnosis
Association LLC (IHA).
• Professor dos Diplomados Internacionais de Coaching Neurolinguístico, Coaching Integral ICI,
Mentoring Profissional e Hipnose Clínica na Academia Inpact S.A.
• Professor das Especializações em Equipes, Negócios e Coaching Executivo na Academia Inpact
S.A.
• Professor dos cursos de Practitioner, Master Practitioner, Neurolinguistic Psychology e Trainer en
PNL na Academia Inpact S.A.
• Engenheiro Eletrônico - Escola de Engenharia Mauá do IMT de São Paulo, Brasil.
• Criador da Revista ICIMAG.
• Fundador e Diretor Gerente daInpact S.A.desde 1985.
• Sócio-fundador da HCN World (HCN).
• WABC Full Member, Worldwide Association of Business Coaches (WABC).
• Membro da EMCC, European Mentoring and Coaching Council.
• Presidente da Asociación Chilena de Coaching y Mentoring (ACCM).
• Diretor da Sociedad Chilena de Hipnosis (sOhi)e da Asociación Chilena de PNL (APNL).
• Membro da Sociedad de Escritores do Chile (SECH).
• Membro do Colegio de Ingenieros de Chile.
• Membro do Institute of Electrical and Electronic Engineers (I.E.E.E.) dos EUA.
• Membro da Systems, Man and Cybernetics Society e da Society on Social Implications of
Technology do I.E.E.E.
• Membro honorário da Asociación de Hipnoterapia de Nuevo León A.C
• Conferencista internacional de congressos, seminários e palestras na Argentina, Brasil, Chile,
Colômbia, Equador, México, Panamá, Peru, Portugal e Venezuela.
OUTROS LIVROS DO AUTOR: SUPERANDO PESSOAL
E AUTO-AJUDA: HIPNOSE - PNL - LEITURAS DE
TRANSFORMAÇÃO

“Como conseguir o que quero ou contos de crianças para adultos”


Recria uma ponte entre o mundo das crianças que brincam de viver e o dos adultos que só vivem e
brincam para ganhar. Propõe que aqueles que acreditam que sabem, dediquem-se a observar e
aprender com aqueles que “a partir do seu inconsciente” realmente sabem, aqueles que pensam
menos, mas conseguem mais, divertem-se mais, e suas brincadeiras os unem e não os separam.

“Contos de jardineiros e porcos-espinhos”


Do que você precisa para ser feliz? Talvez este livro tenha chegado às suas mãos no momento
exato. Contos de jardineiros e porcos-espinhos é um livro para todas as idades. Uma oportunidade
para se conectar com o ser, com a essência do que realmente você é.

“Fragmentos de um coração climático”


Um caminho para se percorrer frequentemente e aproximar-se de pensamentos internos que nos
ensinam a desfrutar o cotidiano e a se conectar com aqueles momentos que sempre existem. Uma
leitura de transformação que deve fazer parte de uma biblioteca viva, que nos convida a reler e
reencontrar significado a cada página virada, gerando novas ideias a cada aproximação, respirando
palavras que, como o clima, geram reações na vida do leitor.

“Duzentos e quarenta e três apontamentos de vida”


Para aqueles que gostam de ler sobre Coaching, PNL e/ou Hipnose. Esta obra molda numerosas
reflexões e estruturas semânticas, cuja paixão surpreenderá o leitor com o que acontece a cada nova
visão. De forma suave e divertida o autor nos aproxima da excelência do que somos e do que
queremos ser, da excelência de como podemos ser construtores dos nossos próprios sonhos.
“Momentos Mágicos ou um guia para viajar no tempo”
Leituras de transformação para leitores de coaching, PNL e hipnose. Como se tivessem vida
própria, as reflexões e pensamentos deste livro nos transportam, ano após ano num voo mágico por
toda uma vida, na qual o tempo se manifesta como elemento de cura.

“Um dia cada dia ou a próxima estação”


Através de pequenos contos o autor vai relatando situações cotidianas que fazem com que nos
identifiquemos tanto, que, sem percebermos, nos encontramos discutindo com os personagens,
compreendendo, analisando e assimilando suas ideias.

“Auto-hipnose: Treine a sua mente”


Irá situá-lo no plano do “todo”, fazendo-o entender sua importância, ensinando como funciona a sua
mente e, desse modo, como dialogar com ela para que seja quem realmente deseja ser.
OUTROS LIVROS DO AUTOR: LIDERANÇA E
GESTÃO: COACHING

“Team Coaching, como desenvolver equipes de alto desempenho”


Se você trabalha como diretor de uma organização ou empresa, é um consultor ou assessor, trabalha
como coach, é psicólogo, está no mundo dos esportes, ou simplesmente quer conhecer mais sobre
como funcionam as equipes, podemos dizer que este livro contém toda a nossa experiência de mais
de trinta anos sobre como grupos se transformam em equipes, e como estas se desenvolvem para
apresentar um alto rendimento.

“Manual de Coaching Neurolingüístico”


El material que contiene el Manual de Coaching Neurolingüístico de HCN World está basado en la
Neurolingüística de tercera generación y posee una clara orientación hacia la aplicación de las
técnicas al servicio del modelo del Coaching.
Hemos desarrollado este manual como parte del material que reciben el primer día de clases los
alumnos que se inscriben en el curso de Coaching Neurolingüístico de HCN World y en él se
integra el trabajo de Paul ANWANDTER, Ricardo ESCOBAR, y Jørgen SVENSTRUP y todos los
años de experiencia como profesionales del Coaching.

“Usos e Perspectivas do Coaching”


A partir da visão de dez reconhecidos e experientes Coaches Internacionais da América Latina,
Espanha e México revisam-se os distintos enfoques, escolas e aplicações do Coaching atual. Os
especialistas refletem profundamente sobre o que é a Liderança e o Coaching, e como ambos
influem nas pessoas e nas organizações para gerar processos de mudança e transformação. Este
livro foi coeditado pelo autor.

“Manual de Mentoring Profissional”


Este livro é orientado a quem deseja conhecer uma maneira estruturada de aplicar mentoring numa
organização, bem como aos líderes de equipes de trabalho e àqueles que se dedicam ao
Desenvolvimento Organizacional, uma vez que têm em suas mãos um valioso material para
estimular seus talentos e avançar à velocidade dos novos tempos para não ser deixado para trás.

“Ferramentas de coaching avançado”


Este livro é destinado a coaches profissionais, estudantes de coaching, consultores, psicólogos e
pessoas que trabalham em desenvolvimento humano, fornecendo uma forma de instruir seu
pensamento a partir de vários modelos para que possam entender melhor uma parte do que fazem
no seu dia a dia.

“Coaching Executivo de Líderes”


Este livro oferece uma visão integral do mundo do Coaching Executivo, de como podemos realizar
as intervenções e de como os executivos podem obter os benefícios ao receber serviços de Coaching
para alcançar os resultados desejados.

“Coaching: Fatores e Estratégias”


Com este livro você poderá progredir compartilhando as reflexões de Paul Anwandter, que
apresenta novos ângulos mentais, ideias, reflexões e modelos, que serão uma fonte de inspiração
para seu trabalho diário, o que lhe permitirá inovar em suas atividades e também levar uma vida
melhor. Visite o mundo dos negócios e das organizações a partir da visão mais acadêmica do autor
para oferecer diversas reflexões e propor diversas perguntas.

“Coaching Integral nos Negócios”


Através do modelo NEGOCIO do Coaching Integral ICI, o autor demonstra como esta disciplina
pode ajudar uma empresa a atingir suas metas e objetivos com resultados de excelência.
“Introdução ao Coaching Integral ICI”
A Filosofia Integral de Ken Wilber, a Hipnose Ericksoniana, o Pensamento Sistêmico, a PNL, a
Inteligência Emocional e o Coaching são combinados e dão vida a este livro, que concentra sua
atenção na pessoa para resgatar o seu inconsciente como parte ativa e fonte de informação para a
melhoria de condutas.

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