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MÓDULO I
LITERATURA APÓCRIFA,
PSEUDEPÍGRAFA,
DEUTEROCANÔNICA E O CÂNON
BÍBLICO
EMENTA
Esta disciplina aborda o estudo de textos sagrados que estão fora do cânone bíblico, como
os apócrifos, pseudepígrafos e deuterocanônicos. É importante para compreender a história
da Bíblia e as diferentes tradições religiosas. Além disso, oferece uma visão ampla do
pensamento da época em que foram escritos. O cânone bíblico é a lista oficial de livros
considerados sagrados. Esta disciplina inclui a análise da história e interpretação dos textos
bíblicos. É essencial para entender a história e teologia da Bíblia.
OBJETIVOS
Conhecer textos sagrados que não foram incluídos no cânone bíblico, tais como os
livros apócrifos, pseudoepígrafos e deuterocanônicos, a fim de compreender a
história da Bíblia e das diferentes tradições religiosas que se desenvolveram a partir
dela.
Avaliar como a formação do Cânon bíblico trouxe segurança para a igreja em relação
aos textos espúrios e, como resgata a autoridade dos textos sagrados.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
2. Literatura Apócrifa
1
Doutorando em História – UAb – Lisboa, Portugal. Pós-Graduado em História e Arqueologia do Antigo Oriente Próximo e
Mediterrâneo – UNASP (Engenheiro Coelho – SP); Pós-Graduado em Filosofia - Centro Universitário Filadélfia - UNIFIL (Londrina – Pr);
Pós-Graduado em Docência do Ensino Superior - FAECAD (Faculdade Ev. de Ciências, Tecnologia e Biotecnologia – Rio de Janeiro – RJ);
Especializado em: “Biblical Geography and Archaeology”; “The Unknown Biblical Israel”; e “The Jewish Roots of Christianity” -
Moriah International Center certificado por Hebrew University of Jersusalem (Israel); Graduado em Teologia - FAECAD (Faculdade Ev. de
Ciências, Tecnologia e Biotecnologia da CGADB -Rio de Janeiro – RJ); Graduado em História - Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro,
RJ). Presidente da Living Stones Ministry.
3. Literatura Pseudepígrafa
4. Literatura Deuterocanônica
9. O Cânon Bíblico
Sumário
LITERATURA APÓCRIFA, PSEUDEPÍGRAFA, DEUTEROCANÔNICA E O CÂNON BÍBLICO ......................... 1
EMENTA..................................................................................................................................................... 1
OBJETIVOS ................................................................................................................................................ 1
CAPÍTULO 01 ....................................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO À LITERATURA APÓCRIFA, PSEUDEPÍGRAFA E DEUTEROCANÔNICA .............................. 7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................ 7
CONCLUSÃO............................................................................................................................................13
REVISÃO ..................................................................................................................................................14
CAPÍTULO 02 ..................................................................................................................................... 17
LITERATURA APÓCRIFA..............................................................................................................................17
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................17
CONCLUSÃO............................................................................................................................................23
REVISÃO ..................................................................................................................................................24
CAPÍTULO 03 ..................................................................................................................................... 27
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................27
CONCLUSÃO............................................................................................................................................33
REVISÃO ..................................................................................................................................................34
CAPÍTULO 04 ..................................................................................................................................... 37
LITERATURA DEUTEROCANÔNICA ............................................................................................................37
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................37
CONCLUSÃO............................................................................................................................................43
REVISÃO ..................................................................................................................................................44
CAPÍTULO 05 ..................................................................................................................................... 47
CONTEÚDO E SIGNIFICADO DA LITERATURA APÓCRIFA NO ANTIGO TESTAMENTO ..........................47
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................47
CONCLUSÃO............................................................................................................................................53
REVISÃO ..................................................................................................................................................54
CAPÍTULO 06 ..................................................................................................................................... 57
CONTEÚDO E SIGNIFICADO DA LITERATURA APÓCRIFA NO NOVO TESTAMENTO..............................57
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................57
CONCLUSÃO............................................................................................................................................63
REVISÃO ..................................................................................................................................................64
CAPÍTULO 07 ..................................................................................................................................... 67
O DEBATE ATUAL EM TORNO DA LITERATURA APÓCRIFA .....................................................................67
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................67
CONCLUSÃO............................................................................................................................................73
REVISÃO ..................................................................................................................................................73
CAPÍTULO 08 ..................................................................................................................................... 77
ORIGEM E HISTÓRIA DA BÍBLIA ................................................................................................................77
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................77
CONCLUSÃO............................................................................................................................................83
REVISÃO ..................................................................................................................................................84
CAPÍTULO 09 ..................................................................................................................................... 87
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................87
CONCLUSÃO............................................................................................................................................93
REVISÃO ..................................................................................................................................................93
CAPÍTULO 10 ..................................................................................................................................... 96
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................96
CONCLUSÃO..........................................................................................................................................102
REVISÃO ................................................................................................................................................102
CAPÍTULO 01
"A Literatura Apócrifa nos mostra o quanto os primeiros cristãos estavam engajados em
entender e interpretar a vida de Jesus."
Bart D. Ehrman
INTRODUÇÃO
A literatura religiosa cristã possui uma grande variedade de textos que, ao longo da história,
foram considerados com diferentes níveis de canonicidade. Entre estes encontram-se os
textos apócrifos, pseudepígrafos e deuterocanônicos, que se diferenciam em aspectos como
autenticidade, reconhecimento eclesiástico e função dentro da tradição religiosa. Esta
discussão permite uma visão mais ampla e completa sobre a formação da Bíblia e sobre a
construção da tradição cristã ao longo dos séculos.
Como afirma Ehrman (2003), são textos que em muitos casos possuem origens
obscuras, mas que oferecem uma visão alternativa do cristianismo antigo.
Por outro lado, os pseudepígrafos são textos que foram atribuídos a autores que
provavelmente não os escreveram, como é o caso do Livro de Enoque. Segundo
Charlesworth (1983), esse termo é frequentemente usado para se referir a textos
judaicos e cristãos antigos, fora do cânon estabelecido.
Já os livros deuterocanônicos são aqueles aceitos pela Igreja Católica e pela Igreja
Ortodoxa, mas que não foram incluídos no cânon judaico ou na Bíblia protestante.
Exemplos incluem livros como Tobias e Judite. Segundo Metzger (1997), estes livros
possuem uma aceitação diversa entre as diferentes tradições cristãs, demonstrando
a complexidade da formação do cânon bíblico.
Outra semelhança é que todos estes textos oferecem percepções e ensinamentos que
complementam, expandem ou contradizem os textos canônicos. Segundo Ehrman
(2003), os textos apócrifos e pseudepígrafos em particular apresentam narrativas
alternativas sobre personagens e eventos bíblicos que são fascinantes e
esclarecedoras.
Outra diferença é o conteúdo e o estilo literário desses textos. Conforme observado por
Charlesworth (1983), enquanto os pseudepígrafos são frequentemente textos
apocalípticos ou de sabedoria, os apócrifos podem variar mais amplamente em estilo
e conteúdo.
Apesar de não serem reconhecidos como parte do cânon bíblico, os textos apócrifos
têm uma importância histórica e teológica considerável. Como salientado por James
H. Charlesworth em Os Papiros do Mar Morto e o Cristianismo Primitivo (1987), esses
textos oferecem uma visão única das crenças e práticas de diferentes comunidades
judaicas e cristãs na antiguidade. Além disso, eles ajudam a lançar luz sobre a
formação do cânon bíblico e a história do cristianismo primitivo.
Magdala (2003), argumentam que a exclusão desses textos da Bíblia foi um ato
político, destinado a consolidar o poder e a autoridade da igreja. Por outro lado, há
aqueles que defendem a integridade do cânon bíblico, argumentando que os textos
apócrifos não possuem a mesma autoridade divina que os livros bíblicos.
Deuterocanônica
A importância teológica desses textos é evidenciada quando se observa que eles
contribuíram para a formação da teologia cristã primitiva. James H. Charlesworth
(1985), por exemplo, destaca como o Evangelho de Tomé influenciou o entendimento
da natureza de Cristo nos primeiros séculos. Assim como, a ascensão de Isaias ajudou
a moldar a concepção de céu e inferno. Apesar de não serem reconhecidos como
canônicos por todos, eles ainda proporcionam uma percepção mais profunda das
crenças e práticas das primeiras comunidades cristãs.
A leitura desses textos oferece uma chave interpretativa para entender passagens
bíblicas de difícil compreensão. Como observado por Collins (1998), o Primeiro Livro
de Enoque ajuda a elucidar referências enigmáticas a "filhos de Deus" em Gênesis
6:1-4. Assim, mesmo não sendo aceitos em todos os cânones, sua utilidade para a
exegese e hermenêutica bíblica é inquestionável.
CONCLUSÃO
exclusão do cânon bíblico, esses textos oferecem insights valiosos sobre as crenças e práticas
religiosas da antiguidade, bem como a formação do cânon bíblico.
A literatura pseudepígrafa representa uma rica tapeçaria de escritos que preenche as lacunas
da narrativa bíblica, oferece uma janela para o contexto do primeiro século, apresenta
desafios interpretativos e exerce uma profunda influência sobre a formação da teologia
cristã. Apesar dos desafios associados ao estudo desses textos, eles continuam a oferecer
um recurso valioso para o entendimento mais profundo da Bíblia e do desenvolvimento do
pensamento judaico-cristão.
REVISÃO
ajudam a lançar luz sobre a formação do cânon bíblico. Além disso, a análise desses
textos pode revelar perspectivas alternativas e vozes marginalizadas na história da
religião.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
__________. Os Papiros do Mar Morto e o Cristianismo Primitivo. 1 ed. São Paulo: Paulus, 1987.
__________. Para Além da Comunidade de Qumran: O Movimento Sectário dos Rolos do Mar
Morto. 1ª ed. São Paulo: Paulus, 2010.
DAVILA, James. A Pseudepígrafa do Antigo Testamento como pano de fundo para o Novo
Testamento. The Expository Times, v. 116, n. 5, p. 161-165, 2005.
DE JONGE, Marinus. Estudos dos Papiros do Mar Morto. 2 ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1992.
EHRMAN, Bart D. Cristianismo perdido: as batalhas pelas Escrituras e as crenças que nunca
conhecemos. Oxford: Oxford University Press, 2003.
__________. Textos Perdidos do Cristianismo Primitivo. 1 ed. São Paulo: Planeta, 2003.
__________. Os livros Deuterocanônicos do Antigo Testamento. 1 ed. São Paulo: Paulinas, 1990.
KING, Karen. O Evangelho de Maria de Magdala. 1 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
LEVINE, A-J. Compreendendo os livros Deuterocanônicos. São Paulo: Edições Loyola, 2011.
MARTÍNEZ, Florentino García; TIGCHELAAR, Eibert J.C. A Edição de Estudo dos Manuscritos do
Mar Morto. Grand Rapids: Eerdmans, 1997.
METZGER, Bruce; COOGAN, Michael. O cânon da escritura sagrada. São Paulo: Paulus, 1993.
STONE, Michael E. Pseudepígrafa e Escritos Canônicos. 1ª ed. Jerusalem: Magnes Press, 1980.
VERMES, Géza. Os Manuscritos Completos do Mar Morto em Inglês. Londres: Penguin, 2006.
CAPÍTULO 02
LITERATURA APÓCRIFA
IMPORTÂNCIA E CONTROVÉRSIAS
" Os livros apócrifos podem não fazer parte do cânon bíblico, mas eles nos oferecem uma
visão valiosa sobre as várias maneiras pelas quais os primeiros seguidores de Cristo
interpretaram seus ensinamentos."
Elaine Pagels
INTRODUÇÃO
A origem dos textos apócrifos também pode ser analisada sob a perspectiva
sociocultural. Pagels (1989) argumenta que muitos desses textos surgiram de
comunidades marginalizadas ou perseguidas, buscando afirmar suas crenças e
valores. Por exemplo, o Evangelho de Tomé, considerado apócrifo, expressa uma
visão gnosticista que contrasta com o cristianismo ortodoxo, dando mais ênfase ao
autoconhecimento do que à redenção através da crucificação de Cristo (PAGELS,
Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Rio de Janeiro: Rocco, 1989).
em "Jesus Fora dos Evangelhos" (1984), mesmo que esses textos não sejam
considerados autênticos ou inspirados, eles ainda têm valor histórico e cultural
significativo.
1. Contexto Histórico-Cultural
A literatura apócrifa nos oferece uma janela única para o mundo antigo. Como pontua
Ehrman (2003), "os escritos apócrifos revelam as crenças, esperanças, medos e
entendimentos daqueles que os escreveram e dos que os leram" (p. 45). Por exemplo,
o Livro de Enoque, um texto apócrifo do Antigo Testamento, nos proporciona uma
visão ampla sobre a concepção judaica do cosmos, a angelologia e a escatologia
durante o período do Segundo Templo. Deste modo, a literatura apócrifa pode ser
considerada uma fonte primária para a compreensão da história, das tradições e das
crenças antigas.
3. Influência Literária
A literatura apócrifa também exerceu influência no campo literário, sendo fonte de
inspiração para autores e artistas ao longo dos séculos. A figura de Lilith, por exemplo,
aparece no Alfabeto de Ben Sira, um texto judeu medieval, e desde então tem sido
adotada na literatura e na arte popular. Como ressalta Lewis (2012), "a imagem de
Lilith como a primeira mulher, que se rebelou contra a ordem estabelecida, tem
fascinado os artistas por séculos" (p. 78).
1. Contestação da Autoria
Uma das principais controvérsias envolve a autoria dos textos apócrifos. Uma série de
textos apócrifos, como o Evangelho de Tomé ou o Evangelho de Maria, são
atribuídos a figuras históricas significativas dentro da tradição cristã. No entanto,
como salientou Ehrman (2003), a maioria desses textos foram escritos muitos séculos
após os eventos que eles descrevem, o que torna a autoria real altamente duvidosa.
A contestação da autoria afeta diretamente a legitimidade desses textos e,
consequentemente, sua inclusão ou exclusão do cânon bíblico.
2. Divergências Doutrinárias
Os textos apócrifos, frequentemente, apresentam visões divergentes das doutrinas
estabelecidas. Um exemplo notável é o Evangelho de Judas, onde Judas Iscariotes é
retratado não como traidor, mas como o discípulo mais próximo de Jesus. Segundo
Pagels e King (2007), tal interpretação é conflitante com o relato canônico. Contudo,
é relevante observar que essa divergência doutrinária reflete a diversidade de crenças
no início do cristianismo, uma realidade muitas vezes obscurecida pela uniformidade
do cânon estabelecido.
3. Questões de Canonicidade
O que determina a inclusão ou exclusão de um texto no cânon bíblico é outra área
de debate intenso. A formação do cânon foi um processo longo, ocorrendo ao longo
de vários séculos. À medida que o cânon se estabelecia, textos que não se alinhavam
com o ensino e a tradição emergentes foram excluídos. Segundo Metzger (1987), este
processo foi fortemente influenciado por considerações teológicas, sociopolíticas e
1. O Estudo Acadêmico
A literatura apócrifa tem sido uma área de interesse crescente entre acadêmicos de
várias disciplinas, incluindo teologia, história e literatura. Segundo Gomes (2015), "Os
textos apócrifos oferecem uma visão diferenciada sobre o contexto do início do
cristianismo e judaísmo, que não é encontrada nos textos canônicos." As histórias e
ensinamentos contidos nos apócrifos frequentemente iluminam aspectos das
sociedades antigas e seus valores culturais e religiosos, trazendo uma nova
profundidade ao entendimento dos primeiros séculos da era cristã.
3. Prática Religiosa
Ainda que a literatura apócrifa não seja reconhecida por todas as denominações
cristãs, existem grupos que valorizam e incorporam esses textos em sua prática
religiosa. Conforme evidencia Ribeiro (2018), "Grupos gnósticos contemporâneos,
como o movimento Cátaro, mantém uma relação próxima com textos apócrifos, como
o Evangelho de Tomé e o Evangelho de Maria Madalena". Assim, a literatura apócrifa
tem relevância não só no plano histórico-cultural, mas também na esfera religiosa.
A mídia popular também tem apresentado um interesse cada vez maior na literatura
apócrifa. Filmes, séries de televisão e até mesmo videogames têm utilizado estes
textos como uma fonte de material para contar histórias envolventes e intrigantes.
Como exemplo, o romance "O Código da Vinci" (2003), de Dan Brown, traz elementos
de vários textos apócrifos, e teve um impacto significativo na cultura popular.
CONCLUSÃO
Os textos apócrifos, portanto, oferecem uma rica tapeçaria de vozes, ideias e interpretações
que expandem nossa compreensão do cristianismo primitivo. Eles nos convidam a ver além
do cânon bíblico e a explorar a diversidade de crenças e práticas que existiam nos primeiros
séculos do cristianismo. Além disso, os textos apócrifos nos desafiam a pensar criticamente
sobre a formação do cânon bíblico e a natureza da autoridade religiosa.
A origem dos textos apócrifos é uma questão que se desdobra em diversas camadas de
análise. Seja histórica, sociocultural, teológica ou literária, cada perspectiva nos ajuda a
entender como esses textos se desenvolveram no contexto do cristianismo primitivo e que
significado eles podem ter para os cristãos de hoje.
Embora não sejam parte do cânon oficial, os textos apócrifos desempenham um papel
fundamental no estudo da teologia cristã. Eles fornecem um vislumbre valioso do mundo
antigo, influenciaram o desenvolvimento teológico, inspiraram a literatura e a arte, e ainda
podem enriquecer a prática pastoral.
O uso moderno da literatura apócrifa demonstra o valor desses textos, tanto na academia
como na cultura popular. Longe de serem meros artefatos históricos, os apócrifos oferecem
uma perspectiva distinta sobre o cristianismo primitivo, além de inspirar novos caminhos
para a literatura, a prática religiosa e a mídia.
REVISÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EHRMAN, Bart D. Cristianismo perdido: as batalhas pelas Escrituras e as crenças que nunca
conhecemos. 1ª ed. Nova York: Oxford University Press, 2003.
__________. Escrituras Perdidas: Livros que não entraram no Novo Testamento. São Paulo:
Planeta, 2006.
GOMES, Carlos. A relevância dos textos apócrifos no estudo do cristianismo primitivo. 1. ed.
São Paulo: Paulus, 2015.
HOFFMAN, R. Joseph. Jesus fora dos Evangelhos. São Paulo: Paulus, 1986.
KING, Karen L. O Evangelho de Maria de Magdala: Jesus e a Primeira Mulher Apóstola. 1ª ed.
Santa Rosa: Polebridge Press, 2003.
LEWIS, Elaine. Lilith: A Primeira Eva. São Paulo: Editora Pensamento, 2012.
PAGELS, Elaine; KING, Karen L. O Evangelho de Judas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
RIBEIRO, Maria Clara. O uso dos textos apócrifos nas práticas religiosas contemporâneas. 1.
ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2018.
ROBINSON, James. The Nag Hammadi Library in English. San Francisco: Harper & Row, 1990.
SARAMAGO, José. O Evangelho segundo Jesus Cristo. 1. ed. Lisboa: Caminho, 1991.
TAUSSIG, Hal. Um Novo Testamento: Uma Bíblia para o Século 21. 1ª ed. Boston: Houghton
Mifflin Harcourt, 2013.
VANDERKAM, James. O Livro dos Jubileus. Sheffield: Sheffield Academic Press, 2002.
VERMES, Geza. Os Manuscritos do Mar Morto. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
CAPÍTULO 03
LITERATURA PSEUDEPÍGRAFA
" A Bíblia não é apenas um livro. Ela é um conjunto de livros, uma biblioteca, e, como tal,
contém uma grande variedade de pontos de vista. Não devemos ignorar aqueles que estão
fora do cânon, como os apócrifos, que oferecem perspectivas valiosas."
Marcus Borg
INTRODUÇÃO
Os Pseudepígrafos são uma categoria de literatura judaica e cristã antiga que existe fora do
cânon tradicional da Bíblia. O termo "Pseudepígrafo" vem do grego e significa "escrito sob
um nome falso", referindo-se à prática comum desses textos de serem atribuídos a
personagens bíblicos ou líderes religiosos notáveis. Segundo Charlesworth (1983), essa
prática não era necessariamente uma forma de engano, mas uma maneira de honrar figuras
espirituais influentes e legitimar a mensagem do texto.
O valor dos pseudepígrafos não reside na sua legitimidade canônica, mas no que eles
revelam sobre a vida e o pensamento da época. Segundo J. H. Charlesworth, em sua
obra "Pseudepígrafa do Antigo Testamento" (2003), eles fornecem um rico retrato dos
primeiros séculos do judaísmo e do cristianismo. Estes textos são evidências de
diversas correntes de pensamento, mostrando como as tradições religiosas foram
adaptadas e reinterpretadas em diferentes contextos históricos e culturais.
4. O Desafio da Autenticidade
A determinação da autenticidade e da datação dos pseudepígrafos apresenta
desafios. Como os manuscritos foram transmitidos ao longo de séculos por diversas
comunidades e culturas, eles sofreram alterações e acréscimos, tornando a tarefa de
recuperar o "texto original" particularmente difícil (Boccaccini, Gabriele, 2005). No
entanto, por meio do trabalho cuidadoso de acadêmicos, tem sido possível construir
uma compreensão confiável desses textos.
2. Autoria Pseudepígrafa
A autoria pseudepígrafa, a prática de escrever em nome de outra pessoa, era comum
na antiguidade e servia a vários propósitos. Algumas vezes, autores escreveriam sob
um pseudônimo para homenagear a figura a quem a obra era atribuída. Em outros
casos, os autores utilizariam essa prática para emprestar autoridade à suas ideias,
fazendo-as parecer provenientes de uma figura apostólica ou bíblica respeitada.
Autores como Ehrman (2003) argumentam que essa prática de pseudepigrafia não
deve ser entendida pelos padrões modernos de falsificação, mas como uma convenção
literária aceitável na época.
CONCLUSÃO
A importância dos Pseudepígrafos para o estudo da Bíblia e da teologia cristã não pode ser
subestimada. Esses textos servem como uma janela para a teologia, tradição, contexto
histórico e crítica textual, oferecendo uma perspectiva única sobre o desenvolvimento da
religião cristã e judaica.
Longe de serem simples curiosidades históricas, esses textos desafiam nossas percepções
preconcebidas e enriquecem nossa apreciação da diversidade e complexidade das tradições
judaicas e cristãs.
REVISÃO
A resposta a essa pergunta envolve uma consideração cuidadosa das várias maneiras
pelas quais os pseudepígrafos informam nosso entendimento do judaísmo e do
cristianismo primitivo. Esses textos, em suas diversas formas, refletem os contextos
culturais e históricos em que foram produzidos, revelam uma variedade de crenças e
práticas religiosas, e ilustram a diversidade de pontos de vista dentro dessas tradições
religiosas. Assim, o estudo dos pseudepígrafos amplia significativamente nossa
compreensão dessas tradições, mostrando que o judaísmo e o cristianismo primitivo
foram caracterizados por uma grande diversidade e dinamismo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUCKHAM, Richard. O Destino dos Mortos: Estudos sobre os Apocalipses Judaico e Cristão.
Leiden: Brill, 1998.
__________. O Mundo Judaico em torno do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Editora
Paulinas, 2008.
COLLINS, John J. Entre o Antigo e o Novo: o mundo dos pseudepígrafos. São Paulo: Loyola,
2018.
EHRMAN, Bart D. Falsificado: Escrevendo em Nome de Deus - Por que os Autores da Bíblia
Não São Quem Pensamos que São. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2011.
__________. Evangelhos perdidos: as batalhas pelos escritos cristãos. São Paulo: Prestígio
Editorial, 2003.
NICKELSBURG, George W.E. 1 Enoch: Uma nova tradução. Minneapolis: Fortress Press,
2001.
PAGELS, Elaine. O Evangelho de Tomé: novas perspectivas sobre Jesus. 3ª ed. Petrópolis:
Vozes, 2005.
CAPÍTULO 04
LITERATURA DEUTEROCANÔNICA
ACEITAÇÃO E REJEIÇÃO
"Examinar os livros apócrifos é uma forma de escutar as vozes que, por uma razão ou outra,
foram deixadas de fora do cânon oficial da Bíblia."
Karen L. King
INTRODUÇÃO
A literatura deuterocanônica refere-se a uma coleção de escritos religiosos que, embora não
estejam incluídos na Bíblia hebraica, são aceitos como canônicos por certas tradições cristãs.
Ainda que contenham obras de significado espiritual, teológico e histórico, a legitimação
desses textos é um tema bastante discutido entre estudiosos de diversas correntes
teológicas.
A teologia cristã não é um monólito, mas sim um mosaico com muitas partes distintas.
Dentro deste amplo espectro, a literatura apócrifa do Antigo e Novo Testamento possui
um papel particularmente intrigante. Esses textos, que foram excluídos da Bíblia canônica
por vários motivos, oferecem uma perspectiva única sobre as crenças, tradições e
interpretações teológicas de várias comunidades cristãs primitivas. A seguir,
exploraremos a importância teológica e espiritual desses livros, examinando-os sob
quatro aspectos: seu papel no desenvolvimento da teologia cristã, sua influência sobre
as práticas espirituais, sua relação com a tradição oral e sua relevância para a teologia
contemporânea.
O valor dos textos apócrifos também se deve em grande parte à sua relação com a
tradição oral do cristianismo primitivo. Muitos desses textos são atribuídos a
apóstolos ou outros personagens bíblicos importantes, sugerindo que eles podem
ter preservado ensinamentos que foram transmitidos oralmente antes de serem
registrados por escrito. Elaine Pagels, em "Os Evangelhos Gnósticos" (PAGELS, Elaine.
Os Evangelhos Gnósticos. São Paulo: Cultrix, 1989), destaca essa conexão,
argumentando que os textos gnósticos em particular podem ter preservado as
tradições orais que foram marginalizadas ou suprimidas pela igreja ortodoxa.
2. O Conceito de Canonicidade
3. Hebreus e o II Macabeus
A carta aos Hebreus desenvolve uma extensa teologia sobre o sacrifício, a expiação
e a intercessão de Jesus. Há similaridades notáveis entre essa teologia e os temas
encontrados em II Macabeus. Embora a influência direta seja discutível, parece
provável que o autor de Hebreus estava familiarizado com a teologia sacrificial e a
ideia de martírio encontrada em II Macabeus (OLIVEIRA, João M. O papel dos
deuterocanônicos no Novo Testamento. Recife: União, 2023).
notáveis com a Sabedoria de Jesus, filho de Sirac. Embora seja difícil provar uma
influência direta, a semelhança de temas sugere que Tiago estava pelo menos
familiarizado com a tradição de sabedoria judaica representada em Sirac (PEREIRA,
Maria A. Influências apócrifas no Novo Testamento. Lisboa: Gráfica, 2024).
CONCLUSÃO
A literatura deuterocanônica, embora não seja amplamente aceita como canônica por todas
as tradições cristãs, oferece uma perspectiva rica sobre a história, teologia e cultura judaicas
do período intertestamentário. Seu valor reside não apenas em seu significado espiritual e
teológico, mas também em seu papel na evolução do pensamento religioso judaico e na
compreensão do contexto histórico em que o Novo Testamento foi escrito.
Há indícios de que os escritores do Novo Testamento podem ter sido influenciados por
obras apócrifas. A evidência é variável, variando de citações diretas a paralelos conceituais.
No entanto, a complexidade da tradição literária do Primeiro Século torna difícil determinar
REVISÃO
4. Quais são as possíveis influências dos livros apócrifos nos escritos do Novo
Testamento e como essas influências moldaram a teologia do Novo
Testamento?
As influências dos livros apócrifos nos escritos do Novo Testamento podem ser
observadas através de citações diretas, paralelismos conceituais e temáticos. Por
exemplo, a Epístola de Judas cita explicitamente o Livro de Enoque, enquanto o
Evangelho de João e o livro de Tiago têm paralelismos temáticos com a Sabedoria de
Salomão e a Sabedoria de Jesus, filho de Sirac, respectivamente. Essas influências
podem ter moldado a teologia do Novo Testamento, oferecendo molduras de
referência e linguagem para expressar ideias sobre Jesus, a sabedoria, a ética e o
sacrifício.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia judaica e a Bíblia cristã. São Paulo: Paulus, 2017.
BRUCE, F.F. A formação do cânon do Novo Testamento. São Paulo: Shedd, 2008.
COLLINS, John J. A Sabedoria Judaica na Era Helenística. Louisville: Westminster John Knox
Press, 1997.
__________. Entre Atenas e Jerusalém: a identidade judaica na diáspora helenística. São Paulo:
Paulus, 2010.
KING, Karen L. O evangelho de Maria de Magdala: Jesus e a primeira mulher apóstolo. São
Paulo: Paulinas, 2005.
NICKELS, Heidi J. Os apócrifos e o Novo Testamento. Porto Alegre: Novo Século, 2021.
OLIVEIRA, João M. O papel dos deuterocanônicos no Novo Testamento. Recife: União, 2023.
SPROUL, R.C. Canonicidade: Um Estudo Histórico e Bíblico. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
WRIGHT, Benjamin G. and LEMBI, Giuseppe. Uma Edição Sinótica do Logos da Sabedoria.
Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007.
CAPÍTULO 05
" O estudo dos livros apócrifos pode oferecer uma perspectiva adicional para o entendimento
do Antigo Testamento, revelando como os textos bíblicos foram recebidos, interpretados e
vivenciados em diferentes comunidades judaicas."
John J. Collins.
INTRODUÇÃO
exemplo de fidelidade a Deus, mantendo sua devoção apesar das adversidades que
enfrenta. Conforme explica o estudioso Adonias Martins em "O Exílio e a Fé: uma
análise do Livro de Tobias" (2015), Tobias representa a confiança na providência
divina, mesmo em tempos de angústia e provação (TOB 1-14).
O Livro de Judite, por outro lado, é uma narrativa fictícia que retrata a história de
uma heroína que salva seu povo de um general assírio. Esta obra exemplifica a
intervenção divina em favor do povo de Deus através de uma figura feminina
surpreendentemente forte. O estudioso Eduardo Gonçalves, em sua obra "As
Mulheres no Antigo Testamento: a figura de Judite" (2017), ressalta o papel significativo
de Judite como um modelo de coragem e fé.
Na tradição cristã, os Livros dos Macabeus são parte dos livros deuterocanônicos,
isto é, escritos que, embora não estejam na lista principal dos livros bíblicos, são
considerados inspirados e úteis para a instrução moral e espiritual. Em "Os livros
deuterocanônicos na tradição cristã" (2018), Thomas O'Loughlin argumenta que os
Livros dos Macabeus têm uma influência considerável na teologia e prática cristãs,
incluindo a doutrina do martírio (2Mac 7) e a ideia de intercessão pelos mortos (2Mac
12:38-46).
1. A Sabedoria de Salomão
O Livro da Sabedoria, atribuído a Salomão, destaca-se por sua reflexão sobre a busca
da sabedoria, da justiça e da piedade. Segundo Ceresko (1999), o livro propõe uma
visão de mundo onde a sabedoria divina está disponível para todos que a procuram
com sinceridade. Nota-se em SAB 6:12, "A sabedoria é brilhante e nunca se ofusca.
Ela se faz facilmente ver pelos que a amam e encontrar pelos que a procuram". O ensino
moral é encorajado, enfatizando a sabedoria como caminho para uma vida plena.
2. O Eclesiástico
O Eclesiástico, por sua vez, é um manual prático de sabedoria. Escrito por Jesus, filho
de Sirá, este livro traz conselhos sobre diversos aspectos da vida cotidiana. Wright
(2001) aponta que o Eclesiástico serve como guia para a vida judaica, com conselhos
sobre amizade, casamento e trabalho. Por exemplo, em ECLE 6:14-15, o texto diz:
"Um amigo fiel é um refúgio seguro, quem o encontra, encontrou um tesouro. Um
amigo fiel não tem preço, não há medida para o seu valor".
1. Adições a Ester
As adições a Ester, conforme mencionadas no cânon da Septuaginta, oferecem uma
visão mais completa da história da rainha persa judia. Essas adições se tornam a pedra
angular na compreensão do papel de Ester e Mordecai no contexto maior da história
judaica. Segundo Fox (2000), a presença dessas adições fortalece a fé e o
compromisso dos personagens principais, realçando a providência divina e a piedade
daqueles que confiam no Senhor, como descrito em EST A-F.
3. Adições a Daniel
4. Fé frente à adversidade
CONCLUSÃO
Os livros apócrifos do Antigo Testamento, embora não reconhecidos por todas as tradições
cristãs, desempenham um papel importante na história judaica e cristã, fornecendo uma
visão adicional da fé, moralidade e experiências de seus autores e personagens. Eles
continuam a servir como um recurso valioso para a compreensão da diversidade do
pensamento religioso no período intertestamentário.
Tanto o Livro de Tobias quanto o Livro de Judite fornecem reflexões ricas e profundas sobre
a fidelidade a Deus, a confiança na providência divina e o papel de figuras humanas em
contextos de adversidade. Esses textos apócrifos, embora não sejam reconhecidos por todas
as tradições cristãs, contribuem valiosamente para a compreensão do pensamento e da fé
judaico-cristã.
O Livro da Sabedoria e o Eclesiástico, embora não sejam reconhecidos por todas as tradições
cristãs, são textos fundamentais para a compreensão da concepção judaico-cristã da
sabedoria. Eles revelam um conceito de sabedoria que vai além do conhecimento puramente
teórico, estando profundamente associado à prática virtuosa e à busca pela verdade.
O Livro de Baruc e a Carta de Jeremias, apesar de sua classificação como apócrifos, oferecem
um rico manancial de conhecimento teológico. Eles retratam um povo em crise, tentando
manter sua fé em meio à diáspora. O lamento coletivo e a expectativa de redenção do Livro
de Baruc, bem como a forte denúncia da idolatria na Carta de Jeremias, são testemunhos
poderosos da luta contínua pela fidelidade a Deus. Esses textos, portanto, têm muito a
contribuir para nossa compreensão da teologia judaica do Segundo Templo e para o
discurso teológico cristão contemporâneo.
REVISÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARKER, Margaret. O Livro de Tobias: uma leitura judaica no exílio. São Paulo: Edições Loyola,
2003.
BLANCHARD, Yves-Marie. Os livros dos Macabeus: entre história e teologia. 1ª edição. Paris:
Cerf, 1998.
BLENKINSOPP, Joseph. O Livro de Baruc: Esperança em meio ao exílio. 1. ed. São Paulo:
Paulus, 1996.
BLUM, Erhard. Estudos no Livro de Baruc: Contexto histórico e teológico. 2. ed. Rio de Janeiro:
Loyola, 2000.
BRETTLER, Marc Zvi. Como ler a Bíblia judaica. 1ª edição. Oxford: Oxford University Press,
2005.
COSTA, Isabel. A mulher no Antigo Testamento: uma análise do Livro de Judite. 1ª edição.
Lisboa: Editora Lisboa, 2019.
FOX, Michael. Adições a Ester: Aprofundando a narrativa. 1ª ed. São Paulo: Editora Paulus,
2000.
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HAYWARD, Robert. Carta de Jeremias: uma crítica à idolatria. 1. ed. São Paulo: Vida Nova,
1992.
MARTINS, Adonias. O Exílio e a Fé: uma análise do Livro de Tobias. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Editora Vozes, 2015.
ORLOV, Andrei. Os Exorcismos Macabeus: uma tradição judaica nos tempos do segundo
Templo. 1ª edição. Nova York: Oxford University Press, 2012.
POLIAKOV, Léon. Os Macabeus e a Luta pela Autonomia Judaica. São Paulo: Perspectiva,
1981.
RIBEIRO, Maria Luísa. Anjos na literatura bíblica: a presença de Rafael em Tobias. 1ª edição.
Porto: Editora Porto, 2020.
VERNET, Gabrielle. Judite, uma heroína bíblica revisitada. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2018.
VESCO, Jean-Luc. Daniel e seus acréscimos: Fé frente à adversidade. Rio de Janeiro: Editora
Vozes, 2007.
CAPÍTULO 06
" Os textos apócrifos nos permitem ver que havia uma grande diversidade de crenças e
práticas no cristianismo primitivo, bem além do que é refletido no Novo Testamento."
David Brakke
INTRODUÇÃO
A. OS EVANGELHOS APÓCRIFOS
A literatura apócrifa do Novo Testamento é uma extensa coleção de textos escritos por
cristãos primitivos que não foram incluídos na Bíblia canônica. Dentre esses textos, os
Evangelhos Apócrifos representam uma fonte valiosa de conhecimento sobre os
primeiros séculos do cristianismo, oferecendo interpretações alternativas e, por vezes,
divergentes sobre a vida, os ensinamentos e a natureza de Jesus Cristo.
1. O Evangelho de Tomé
O Evangelho de Tomé é um dos mais conhecidos Evangelhos Apócrifos. Diferente
dos Evangelhos Canônicos, o de Tomé não apresenta uma narrativa linear da vida de
Jesus, mas é uma coletânea de 114 ditos atribuídos a Jesus, alguns dos quais se
assemelham aos encontrados nos Evangelhos Canônicos, enquanto outros são
bastante distintos (MAYER, Marvin W. O Evangelho de Tomé: As palavras secretas de
Jesus. 1ª ed. São Paulo: Paulus, 1992). Este texto nos oferece uma interpretação
gnóstica de Jesus e seus ensinamentos, onde a salvação é obtida através do
autoconhecimento.
2. O Evangelho de Pedro
O Evangelho de Pedro é outro exemplo fascinante de um Evangelho Apócrifo. A
versão mais completa deste texto foi descoberta no Egito em 1886 e apresenta uma
narrativa da paixão, morte e ressurreição de Jesus que se diferencia em vários
aspectos das encontradas nos Evangelhos Canônicos. Por exemplo, neste texto é
narrado que na ressurreição de Jesus, duas figuras angélicas e uma cruz saem do
túmulo, e a cruz fala (CROSSAN, John Dominic. O Evangelho de Pedro: A redescoberta
de um evangelho apócrifo. 1ª ed. São Paulo: Loyola, 2000). Este Evangelho, portanto,
contribui com uma visão alternativa da paixão e ressurreição de Jesus.
3. O Evangelho de Maria
O Evangelho de Maria, embora menos conhecido, é um texto de grande importância
para a compreensão do cristianismo primitivo. Este Evangelho, atribuído a Maria
Madalena, coloca-a como uma discípula proeminente de Jesus, oferecendo uma visão
do papel das mulheres na igreja primitiva. O texto também apresenta ensinamentos
gnósticos, e retrata um diálogo entre Maria e os outros discípulos após a ressurreição
de Jesus (KING, Karen L. O Evangelho de Maria Madalena. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2003). Assim, este texto oferece uma perspectiva única do papel de Maria Madalena
e das mulheres no início do cristianismo.
3. Os Atos de Pedro
Os Atos de Pedro são igualmente notáveis, apresentando histórias de milagres e
ensinamentos de Pedro que vão além das narrativas encontradas no Novo
Testamento. Por exemplo, o texto conta a história de Pedro ressuscitando uma atum
morta, um milagre que não é mencionado nos Atos canônicos. Segundo Lapham
(2003), os Atos de Pedro são um exemplo de como as comunidades cristãs primitivas
criaram narrativas para fortalecer a fé e demonstrar o poder dos apóstolos.
Embora os Atos Apócrifos dos Apóstolos não sejam considerados canônicos, eles
continuam a ser de interesse para teólogos e estudiosos por várias razões. Esses textos
oferecem vislumbres da diversidade do cristianismo primitivo, refletindo diferentes
crenças e práticas entre as comunidades cristãs. Além disso, eles expandem nosso
entendimento dos apóstolos, fornecendo histórias adicionais e insights sobre seus
ensinamentos e experiências. Como Klauck (2008) observa, os Atos Apócrifos dos
Apóstolos desafiam as visões simplistas do início do cristianismo e destacam a riqueza
e variedade de suas expressões históricas.
Testamento, têm sido objeto de fascínio e estudo intenso por teólogos, historiadores e
estudiosos bíblicos. Embora esses textos não tenham sido incorporados ao cânon bíblico,
eles trazem uma rica tapeçaria de tradições, interpretações e concepções religiosas que,
de maneira inequívoca, ampliam nossa compreensão da fé cristã.
1. A Epístola de Barnabé
A Epístola de Barnabé é um exemplo proeminente de epístola apócrifa que reflete o
diálogo contínuo entre o judaísmo e o cristianismo primitivo. Enquanto não é aceita
como parte do cânon bíblico, a Epístola de Barnabé oferece uma visão profunda das
tensões teológicas e sociais que caracterizaram essa época. Como afirmou David
DeSilva, professor de Novo Testamento e Estudos Judaicos, "A Epístola de Barnabé
mostra um esforço consciente para reinterpretar o judaísmo em termos cristãos"
(DESILVA, David. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2004).
2. O Apocalipse de Pedro
O Apocalipse de Pedro é um dos poucos textos apocalípticos apócrifos do Novo
Testamento que sobreviveram até nossos dias. Este texto descreve visões do céu e do
inferno e, como notou Elaine Pagels, professora de História do Cristianismo Primitivo,
"O Apocalipse de Pedro é o primeiro texto cristão que descreve o céu e o inferno em
detalhes visuais e sensoriais, influenciando profundamente a iconografia cristã
posterior" (PAGELS, Elaine. Revelações: Visões, Profecia e Política no Livro do
Apocalipse. São Paulo: Companhia das Letras, 2012).
Estudiosos como Elaine Pagels têm argumentado que esses textos podem oferecer
novas perspectivas sobre o cristianismo primitivo e desafiar algumas suposições
convencionais. Além disso, o interesse nos textos apócrifos reflete um desejo mais
amplo de entender a diversidade e a complexidade da tradição cristã.
CONCLUSÃO
Em suma, a literatura apócrifa do Novo Testamento, embora não canônica, é uma fonte
valiosa para a compreensão do cristianismo primitivo. Esses textos nos permitem apreciar a
diversidade de crenças e práticas presentes nos primeiros séculos do cristianismo e desafiam
nossas noções preconcebidas sobre a origem e o desenvolvimento da fé cristã.
Os Atos Apócrifos dos Apóstolos fornecem uma visão fascinante do início do cristianismo,
expandindo nossa compreensão dos apóstolos e das primeiras comunidades cristãs. Embora
não sejam canônicos, esses textos são fundamentais para entender a rica diversidade e
variação de crenças e práticas no cristianismo primitivo.
A literatura apócrifa, apesar de não fazer parte do cânone bíblico oficial, tem um papel
relevante na teologia, arte e cultura cristãs. Tais textos proporcionam um olhar detalhado
sobre o desenvolvimento do cristianismo primitivo e são valiosos para a pesquisa acadêmica.
REVISÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUNE, David. O Novo Testamento em Seu Ambiente Literário. São Paulo: Vida Nova, 1995.
BOVON, François. Os Atos de Paulo e Tecla: Apócrifos do Novo Testamento. São Paulo: Paulus,
1996.
BURKE, Tony. Decepção e Revelação nos Primeiros Textos Cristãos. Palgrave Macmillan, 2021.
DESILVA, David. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2004.
EHRMAN, Bart D. A Verdade e a Ficção nos Atos Apócrifos dos Apóstolos: O que os Atos
Apócrifos dos Apóstolos Revelam sobre o Início do Cristianismo. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
__________. Cristianismos Perdidos: As Batalhas Pela Escritura e as Fés que Jamais Conhecemos.
São Paulo: Record, 2005.
HARMON, Amy. A Recepção dos Apócrifos do Novo Testamento na Igreja Primitiva. Londres:
Bloomsbury, 2022.
KING, Karen L. O Evangelho de Maria Madalena. 1ª ed. São Paulo: Paulus, 2003.
KLAUCK, Hans-Josef. Os Atos Apócrifos dos Apóstolos: Uma Introdução. São Paulo: Loyola,
2008.
KRUGER, Michael. A Questão do Cânon: Explorando a Autoridade das Escrituras. São Paulo:
Vida Nova, 2016.
LAPHAM, Fred. Uma Introdução aos Atos Apócrifos dos Apóstolos. São Paulo: Paulus, 2003.
MAYER, Marvin W. O Evangelho de Tomé: As palavras secretas de Jesus. 1ª ed. São Paulo:
Paulus, 1992.
MCDONALD, Lee Martin. Os Atos Apócrifos dos Apóstolos. São Paulo: Paulus, 2001.
CAPÍTULO 07
ACEITAÇÃO E REJEIÇÃO
" O debate em torno da literatura apócrifa não é tanto sobre sua autenticidade ou
autoridade, mas sobre o que ela revela sobre a diversidade de pensamento e interpretação
nas primeiras comunidades cristãs."
Karen L. King
INTRODUÇÃO
A literatura apócrifa sempre foi objeto de intensos debates na teologia cristã, pois são textos
que, embora não tenham sido canonizados, oferecem um panorama fascinante sobre as
diversas vertentes de pensamento que existiam nos primeiros séculos do cristianismo. A
abordagem contemporânea desses textos tem adquirido contornos variados, evidenciando
como o campo da teologia continua a evoluir e a dialogar com novos paradigmas
hermenêuticos.
2. Os apócrifos e o judaísmo
No contexto do judaísmo, os apócrifos podem fornecer insights valiosos. Como
observado por Vermes (2004), textos como o Livro de Enoch e os Salmos de Salomão
podem revelar a diversidade de pensamentos e tradições dentro do judaísmo do
Segundo Templo. Esses textos podem ser usados para iluminar discussões entre
judeus e cristãos, especialmente em relação à crença na ressurreição e no
messianismo.
3. Os apócrifos e o gnosticismo
A autenticidade dos textos apócrifos tem sido um tópico de intensa pesquisa e debate
entre teólogos, historiadores e estudiosos das Escrituras. Estes textos, que incluem uma
variedade de escritos, como o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Pedro e os Atos de
Paulo e Tecla, não foram incluídos na Bíblia canônica, mas ainda assim têm
desempenhado um papel significativo na formação do entendimento cristão da história
sagrada.
2
O mandeísmo é uma religião étnica classificada por estudiosos como gnóstica, remanescentes até os dias
atuais. Veneram João Batista como o Messias e praticam o ritual do batismo. Possuem cerca de 100 mil adeptos
em todo o mundo, principalmente no Iraque.
CONCLUSÃO
O estudo dos textos apócrifos levanta questões significativas sobre a natureza da autoridade
no cristianismo. Embora não sejam considerados canônicos, esses textos possuem formas
de autoridade que desafiam nossas concepções tradicionais, oferecendo novas maneiras de
entender a fé e a prática cristãs.
A literatura apócrifa oferece uma riqueza de informações e insights que podem ser úteis
para facilitar o diálogo inter-religioso. Ao explorar esses textos, podemos obter uma
compreensão mais completa e matizada das várias tradições religiosas, enriquecendo assim
o diálogo e o entendimento mútuo.
A busca pela autenticidade dos textos apócrifos é uma tarefa desafiadora que requer uma
análise cuidadosa e uma abordagem crítica. Embora esses textos possam não ter sido
incluídos na Bíblia canônica, eles ainda têm muito a oferecer para aqueles que buscam um
entendimento mais profundo da história e da tradição cristã.
REVISÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EHRMAN, Bart D. Escrituras perdidas: livros que não entraram no Novo Testamento. Oxford:
Oxford University Press, 2003.
__________. Estudando a Bíblia Apócrifa: Introdução aos evangelhos e escritos judeus cristãos.
São Paulo: Editora Unesp, 2005.
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ELIOR, Rachel. Os Manuscritos do Mar Morto: Uma introdução completa. Rio de Janeiro:
Editora Intrínseca, 2004.
HURTADO, Larry W. Senhor Jesus Cristo: Devoção a Jesus no Cristianismo Primitivo. São Paulo:
JENKINS, Philip. A Nova Face do Cristianismo: A chegada da era global. Rio de Janeiro: Editora
Thomas Nelson Brasil, 2011.
KLAUCK, Hans-Josef. Apócrifos do Novo Testamento: Volume I: Evangelhos. São Paulo: Loyola,
2005.
__________. Os Evangelhos Apócrifos: O que são e o que realmente dizem. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1997.
PAGELS, Elaine. Além da crença: O Evangelho Secreto de Tomé. São Paulo: Objetiva, 2004.
STANLEY, Arthur P. Didaché: O Ensino dos Doze Apóstolos. São Paulo: Paulus, 2003.
TUCKETT, Christopher M. O Pastor de Hermas: Um Estudo Crítico. São Paulo: Edições Loyola,
1992.
VERMES, Geza. O verdadeiro evangelho de Jesus: uma biografia baseada em seu próprio
testemunho. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
CAPÍTULO 08
"Não conhecemos o número exato de autores da Bíblia, porque muitos dos livros são
anônimos, tendo sido escritos por pessoas que não identificaram seus nomes e cujos nomes
nunca serão conhecidos."
Bart D. Ehrman
INTRODUÇÃO
1. Origem da Bíblia
Os primeiros textos que viriam a compor a Bíblia foram registrados entre os séculos
XIV e II a.C., durante o período conhecido como a Idade do Ferro do antigo Israel e
Judá. Esses textos foram escritos em diferentes momentos, por diferentes autores e
em diversos contextos sociais e políticos. Como Metzger (2001) e Ehrman (2005)
afirmam, a Bíblia não foi escrita por um único autor, mas é uma compilação de obras
de vários autores ao longo de muitos séculos.
(os cinco primeiros livros da Bíblia) tenha sido compilado em sua forma atual no
século V a.C., enquanto outros livros podem ter sido adicionados posteriormente.
2. Canonização Bíblica
A canonização bíblica refere-se ao processo pelo qual os livros foram reconhecidos
como inspirados por Deus e incorporados na Bíblia. Essa seleção não foi arbitrária;
como observado por Metzger (1987), cada livro passou por um escrutínio rigoroso
para determinar sua autenticidade e inspiração divina. O cânon do Antigo
Testamento, por exemplo, foi aceito pelos judeus e posteriormente adotado pela
igreja cristã primitiva. O cânon do Novo Testamento foi firmado pela Igreja no século
IV, com os 27 livros que conhecemos hoje.
3. Traduções da Bíblia
Desde a sua formação, a Bíblia foi traduzida para várias línguas para atender à
necessidade de torná-la acessível a diferentes povos. O exemplo mais antigo é a
Septuaginta, uma tradução do Antigo Testamento do hebraico para o grego feita no
século III a.C. Posteriormente, São Jerônimo produziu a Vulgata, tradução do Antigo
e do Novo Testamento para o latim no século IV (Metzger, 1977). Com o passar dos
séculos, a Bíblia foi traduzida para uma multiplicidade de idiomas, inclusive o
português, tornando-se o livro mais traduzido na história.
2. O Aramaico na Bíblia
Algumas partes da Bíblia foram escritas em aramaico, uma língua semítica
intimamente relacionada ao hebraico. Os livros de Daniel e Esdras, por exemplo,
contêm seções escritas nesta língua. De acordo com Emanuel Tov (1992), o aramaico
tornou-se a língua franca do Oriente Médio durante o período do exílio babilônico,
refletindo assim seu uso em partes do Antigo Testamento (TOV, Emanuel. Textual
Criticism of the Hebrew Bible. Minneapolis: Fortress Press, 1992).
Todos esses manuscritos são importantes por fornecerem evidências valiosas sobre a
história da Bíblia, permitindo aos estudiosos entender melhor a origem e a
transmissão dos textos sagrados. Eles também são importantes por oferecerem uma
visão sobre a forma como a Bíblia foi entendida e interpretada ao longo dos séculos,
influenciando profundamente a cultura e a história.
2. Septuaginta
A Septuaginta, também conhecida como a versão dos "setenta", é uma tradução
grega do Antigo Testamento feita em Alexandria, no Egito, por volta do século III a.C.
3. Vulgata Latina
A Vulgata Latina, traduzida por Jerônimo no final do século IV, foi a primeira tradução
oficial da Bíblia para o latim e se tornou a Bíblia da Igreja Latina por mais de um
milênio. A sua importância para o desenvolvimento da teologia cristã não pode ser
exagerada. Pelikan (2005) destaca que a Vulgata Latina foi "uma ferramenta poderosa
para a cristianização do Império Romano". Além disso, esta versão moldou o
vocabulário e a sintaxe do latim eclesiástico, influenciando a linguagem teológica por
séculos.
4. Textus Receptus
O Textus Receptus refere-se ao texto grego do Novo Testamento publicado por Erasmo
de Roterdã no século XVI. Apesar de algumas críticas à sua precisão, o Textus
Receptus desempenhou um papel significativo na formação do texto bíblico recebido
pela tradição protestante, pois foi a base para as primeiras traduções da Bíblia para o
inglês, alemão e outras línguas. Metzger (2005) lembrou que, apesar de suas
limitações, o Textus Receptus tem "uma importância inestimável na história da Bíblia".
CONCLUSÃO
As versões antigas do Antigo e Novo Testamento são uma janela para o mundo da
formação da Bíblia e fornecem um fundamento sólido para o estudo da literatura bíblica.
Cada uma dessas versões tem sua contribuição única e insubstituível para a compreensão
da tradição cristã.
REVISÃO
2. Quais foram os critérios usados para determinar quais livros seriam incluídos
na Bíblia durante o processo de canonização e como isso se reflete na
diversidade dos gêneros literários presentes na Bíblia?
Durante o processo de canonização, os livros foram avaliados de acordo com critérios
rigorosos. Um dos principais era a autenticidade do livro - a igreja precisava ter
segurança de que o livro tinha sido escrito por quem se alegava ser o autor. Outro
critério fundamental era a conformidade com a doutrina da fé cristã. Se o livro
ensinasse algo contrário à doutrina aceita, era excluído. Além disso, a aceitação geral
do livro pelos cristãos primitivos era um fator importante. Esse processo levou à
inclusão de uma diversidade de gêneros literários na Bíblia, desde histórias e poesias
até leis e profecias, refletindo a variedade de formas pelas quais a verdade divina
pode ser expressa e compreendida.
Os manuscritos apócrifos, apesar de não fazerem parte do cânon bíblico oficial, são
uma fonte inestimável para o entendimento do cristianismo primitivo. Eles oferecem
uma visão ampla da variedade de crenças e práticas que existiam entre as
comunidades cristãs antigas, muitas das quais não estão presentes nos textos
canônicos. Além disso, estes manuscritos podem fornecer informações sobre as
origens de certas tradições ou crenças, assim como insights sobre o contexto histórico
e cultural no qual o cristianismo se desenvolveu.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. O Texto do Novo Testamento: Introdução às edições científicas
do Novo Testamento Grego bem como à Teoria e Prática da Moderna Crítica Textual. 2. ed.
São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.
BRUCE, F.F. O Cânon do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1981.
DANIELL, David. A Bíblia em inglês: sua história e influência. Londres: Yale University Press,
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EHRMAN, Bart D. Evangelhos perdidos: As batalhas pelo Novo Testamento. São Paulo:
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__________. História da Bíblia: Como alguns livros sagrados se tornaram a Palavra de Deus. Rio
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__________. Citando erroneamente Jesus: A história por trás de quem mudou a Bíblia e por quê.
São Paulo: Editora Planeta, 2005.
FRIEDMAN, Richard E. Quem escreveu a Bíblia? São Paulo: Imago Editora, 1997.
HENGEL, Martin. Septuaginta: A Bíblia da Igreja Primitiva. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
METZGER, Bruce M. A Bíblia através dos séculos. São Paulo: Vida Nova, 1977.
METZGER, Bruce; EHRMAN, Bart. O texto do Novo Testamento: sua transmissão, corrupção e
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NOTLEY, Steven. Hebraico: a língua do Antigo Testamento. São Paulo: Ed. Paulinas, 2011.
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TOV, Emanuel. Crítica Textual da Bíblia Hebraica. Minneapolis: Fortress Press, 1992.
WISE, Michael; ABEGG JR., Martin; COOK, Edward. Os Manuscritos do Mar Morto. 1. ed. São
Paulo: Mercuryo, 1997.
CAPÍTULO 09
O CÂNON BÍBLICO
" A Bíblia é a Palavra de Deus na medida em que ela é a testemunha de sua revelação em
Jesus Cristo."
Karl Barth
INTRODUÇÃO
O Cânon Bíblico é um tópico de suma importância no campo da teologia cristã. Ele aborda
a seleção e a organização dos livros que compõem a Bíblia, conforme reconhecidos pelas
várias tradições cristãs. Isso implica na análise das considerações históricas, culturais e
teológicas que influenciaram o processo de formação do cânon. Entender este assunto não
apenas ilumina as origens e a evolução do cristianismo, mas também molda o modo como
os crentes interpretam e aplicam as Escrituras Sagradas.
1. A Torah
2. Os Profetas
Os Nevi'im, ou livros proféticos, constituem a segunda divisão do cânon judaico. Eles
consistem nos Livros dos Profetas Anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e nos
Livros dos Profetas Posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas
Menores). De acordo com Barton (1986), a seleção desses livros sugere um esforço
para preservar a mensagem profética, frequentemente desafiadora, como uma parte
essencial da fé e prática judaicas.
3. Os Escritos
Os Ketuvim, ou "Escritos", representam a última seção do cânon do Antigo
Testamento. Essa categoria inclui uma variedade de livros, como Salmos, Provérbios,
Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras-Neemias
e Crônicas. Embora seja difícil precisar quando exatamente esses livros foram
considerados sagrados e incluídos no cânon, parece que sua aceitação final ocorreu
por volta do final do primeiro século d.C. Essa conclusão é corroborada por
pesquisadores como Lim (2010), que argumenta que o processo de canonização foi,
em parte, uma resposta à necessidade de uma identidade e coesão nacional, além da
espiritualidade e sabedoria dos livros.
4. O Cânon e a Comunidade
A formação do cânon do Antigo Testamento foi fortemente influenciada pelas
necessidades da comunidade judaica em diferentes períodos históricos. De acordo
com a pesquisa de Sanders (1992), a escolha de livros específicos para inclusão no
cânon não foi meramente um ato teológico, mas também um reflexo das
necessidades sociopolíticas e culturais dos judeus.
2. Os Critérios de Canonicidade
O processo de canonicidade não foi aleatório, mas seguiu certos critérios. Conforme
apontado por Metzger em "O Cânon do Novo Testamento: Seu Desenvolvimento e
Significado" (1997), o principal critério foi a apostolicidade, que diz respeito à autoria
do livro por um apóstolo ou um companheiro de apóstolo. Além disso, outros
critérios como a antiguidade, a aceitação universal pela igreja, e a conformidade com
a "regra da fé" (a doutrina ortodoxa) também foram essenciais no processo de
formação do cânon (METZGER, Bruce M. O Cânon do Novo Testamento: Seu
Desenvolvimento e Significado. São Paulo: Editora Vida Nova, 1997).
1. O Cânon Protestante
E. A AUTORIDADE DO CÂNON
A formação do cânon bíblico, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, é um marco
crucial na história do cristianismo. A autoridade do cânon se baseia na convicção da sua
inspiração divina, mesmo que envolva processos humanos em sua composição. A Bíblia,
portanto, se tornou a norma primária de fé e prática para a igreja cristã.
1. A Formação do Cânon
O processo de formação do cânon bíblico foi longo e gradual. O Antigo Testamento,
também conhecido como a Bíblia hebraica, levou séculos para ser formado. O Novo
Testamento também não foi imediatamente aceito como cânon pela igreja primitiva.
De acordo com Bruce Metzger em "O Cânon do Novo Testamento: Seu
Desenvolvimento e Significado" (1987), a formação do cânon do Novo Testamento foi
influenciada por fatores teológicos, culturais e políticos. Por exemplo, a perseguição
aos cristãos forçou a igreja a determinar quais escritos eram verdadeiramente
inspirados e, portanto, dignos de serem preservados a todo custo.
2. Inspiração Divina
A inspiração divina é o núcleo da autoridade do cânon. A igreja cristã acredita que
Deus, através do Espírito Santo, inspirou os autores humanos da Bíblia a escreverem
suas palavras. Como observado por Paul Achtemeier no "Inspiração e Autoridade:
Natureza e Função da Autoridade Cristã" (1999), a inspiração divina é vista não apenas
como um mero sopro divino, mas como um diálogo dinâmico entre Deus e o autor
humano. Em outras palavras, a Bíblia é o produto da ação simultânea de Deus e do
homem.
4. Questões Contemporâneas
Apesar da autoridade do cânon ser amplamente aceita no cristianismo, ainda existem
questões contemporâneas que desafiam essa autoridade. Estas incluem o debate
sobre os livros apócrifos, a questão do cânon dentro do cânon (ou seja, a prioridade
dada a certos livros da Bíblia sobre outros) e a interação entre a interpretação bíblica
e a cultura moderna. Como apontou James Barr em "Escritura Sagrada: Canon,
Autoridade, Crítica" (1983), essas questões exigem uma reflexão séria por parte da
igreja cristã.
CONCLUSÃO
Assim, a formação do cânon do Novo Testamento foi um processo extenso e detalhado, que
envolveu debates teológicos, critérios de seleção e a aceitação comunitária. Este processo
histórico deu origem à coleção de livros que hoje conhecemos como Novo Testamento, que
servem como a base da fé cristã.
O cânon bíblico varia entre as diferentes tradições cristãs. Cada cânon reflete a história, a
teologia e as práticas distintas de cada tradição. No entanto, é importante observar que,
apesar dessas diferenças, há um núcleo comum de livros que todas as tradições cristãs
reconhecem como autoritativos e inspirados por Deus.
REVISÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARR, James. Escritura Sagrada: Canon, Autoridade, Crítica. São Paulo: Loyola, 1983.
BARTH, Karl. A Palavra de Deus e a Palavra do Homem. São Paulo: Fonte Editorial, 1928.
BRUCE, F.F. O Cânon do Novo Testamento: Sua Origem, Desenvolvimento e Significado. São
Paulo: Editora Vida Nova, 1987.
CHILDS, Brevard S. Introdução ao Antigo Testamento como Escritura. São Paulo: Paulus, 1979.
EHRMAN, Bart D. A história perdida do Cristianismo: as origens cristãs. Rio de Janeiro: Record,
2003.
__________. O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse? Quem Mudou a Bíblia e Por Quê. Rio
de Janeiro: Prestígio Editorial, 2006.
FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil Asher. A Bíblia Não Tinha Razão: Arqueologia
Desmente a Bíblia Sagrada. São Paulo: A Girafa, 2002.
CAPÍTULO 10
" A inspiração bíblica, em sua totalidade, é a operação divina pelo Espírito Santo, pela qual
os escritores sagrados foram guardados de erro e guiados para registrar de modo infalível a
revelação de Deus para a humanidade."
Louis Berkhof
INTRODUÇÃO
Criação reflete a glória de Deus e proclama Sua existência. Isso está em linha com o
conceito de revelação geral, que é acessível a todos e oferece um conhecimento
básico de Deus.
A inspiração divina e o papel do Espírito Santo na composição das Escrituras têm sido
objeto de investigação e reflexão teológica desde os primórdios do cristianismo. A ideia
de que os autores da Bíblia, embora mantendo suas personalidades e estilos individuais,
foram guiados pelo Espírito Santo em suas escritas é fundamental para a compreensão
da natureza da revelação bíblica (Pinnock, 1996).
1. A Natureza da Inspiração
Segundo a tradição cristã, a inspiração divina se caracteriza por um processo no qual
Deus se comunica com a humanidade por meio de agentes humanos, revelando-lhes
sua vontade e seus propósitos. Em seu livro "A Inspiração Divina da Bíblia", Pink (2007)
argumenta que a inspiração não deve ser entendida simplesmente como uma
iluminação da mente humana, mas como um movimento divino que guiou os autores
bíblicos a registrarem precisamente o que Deus queria comunicar. Nesse sentido, a
inspiração se conecta intimamente com a doutrina da inerrância bíblica, que postula
que as Escrituras, em seus autógrafos originais, estão livres de erros devido à
supervisão do Espírito Santo (Warfield, 2012).
cristã. Neste contexto, vamos explorar em profundidade cada um destes três elementos
fundamentais da autoridade cristã.
Apesar do seu papel vital, aceitar e viver de acordo com a autoridade cristã pode ser
um desafio. Kierkegaard (1846) fala sobre o paradoxo da fé, a dificuldade inerente de
viver de acordo com os mandamentos de Deus num mundo que muitas vezes parece
oposto aos seus ensinamentos. No entanto, é através deste desafio que a
transformação verdadeira e profunda pode ocorrer, levando à renovação da mente e
ao amadurecimento na fé (Romanos 12:2).
CONCLUSÃO
A autoridade cristã é mais do que uma entidade reguladora; é uma força formativa e
transformadora. Ela guia os crentes através dos desafios da vida, moldando-os para se
alinharem mais à imagem de Cristo. Além disso, a autoridade cristã também tem um papel
fundamental na formação da comunidade de fé, criando um reflexo do reino de Deus na
Terra. Embora viver de acordo com a autoridade cristã possa ser um desafio, é através deste
desafio que a verdadeira transformação ocorre.
REVISÃO
5. Qual é a função dual da autoridade cristã, como ela age nos indivíduos e na
comunidade de fé, e quais são os desafios inerentes em aceitar e viver de
acordo com a autoridade cristã?
A autoridade cristã tem uma função dual: ela guia e transforma. Ela age como uma
bússola para os crentes, guiando-os através dos desafios da vida e direcionando-os
para um caminho que reflete a vontade divina. Além disso, ela tem um papel
formativo, moldando a vida e o caráter dos crentes para se alinharem mais à imagem
de Cristo. A autoridade cristã também tem um papel fundamental na comunidade de
fé, ajudando a criar um reflexo do reino de Deus na Terra. No entanto, aceitar e viver
de acordo com a autoridade cristã pode ser um desafio, já que muitas vezes envolve
viver de maneira contrária aos padrões mundanos. No entanto, é através deste
desafio que a verdadeira transformação pode ocorrer.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARTH, Karl. Dogmática da Igreja I.1: A Doutrina da Palavra de Deus. 2 ed. Edinburgh: T&T
Clark, 1961.
BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador: ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo.
Petrópolis: Vozes, 1999.
CALVINO, João. Instituição da religião cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1999.
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2013.
FEE, Gordon; STUART, Douglas. Entendendo a Bíblia: Uma introdução à sua mensagem. São
Paulo: Vida, 2014.
HAUERWAS, Stanley. Uma Comunidade de Caráter: para uma estratégia social cristã. São
Paulo: Edições Loyola, 1981.
LUTERO, Martinho. As 95 Teses e a Essência da Igreja. 5 ed. São Leopoldo: Sinodal, 2018.
ODEN, Thomas C. A autoridade da fé cristã: Escritura, Tradição e Razão. 1ª ed. São Paulo:
Editora Vida Nova, 1989.
PINNOCK, Clark H. Escritura Sagrada: Inerrância Bíblica, Revelação e Inspiração. São Paulo:
Mundo Cristão, 1996.
RAHNER, Karl. Ouvir a Palavra: Escritos em Teologia Fundamental. São Paulo: Paulus, 1997.
SILVA, Moisés. Fundamentos de interpretação bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1996.