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Ji-Paraná
2022
NILTON MOTA DE OLIVEIRA
Ji-Paraná
2022
Sumário
INTRODUÇÃO:........................................................................................................... 4
1 ESTUDO CONTEXTUAL.....................................................................................6
2 ESTUDO TEXTUAL...........................................................................................17
3 CONCLUSÃO:................................................................................................... 34
4 BIBLIOGRAFIA..................................................................................................35
Tabela 1 - Comparativo de relatos históricos com a data de escrita do livro.............11
INTRODUÇÃO:
Vemos que, ainda hoje, grande parte dos cristãos espalhados pelo mundo
ainda são perseguidos. Segundo o site Portas Abertas, existe mais de 360 milhões
de cristãos perseguidos por todo o mundo. 1 Diante disso, o que faz com que o
evangelho cresça mesmo com tanta perseguição? A resposta é que a igreja é
mantida e preservada pelo nosso Senhor e a porta do inferno não prevalecerá contra
ela. E segunda é que o evangelho tem o poder de transformar a vida das pessoas a
ponto de fazê-las resistir até a morte.
Foi o que aconteceu com a igreja em Jerusalém, que mesmo diante de
uma perseguição brutal os irmãos se espalharam por todo o canto pregando o
evangelho. Filipe, que estava entre os refugiados, fugiu para a região de Samaria e
pregou aos samaritanos levando o evangelho, fazendo Cristo conhecido e
produzindo alegria nos corações daquelas pessoas.
Atos dos Apóstolos é um livro fundamental para entendermos o
desenvolvimento do evangelho e da igreja no decorrer da história. Por isso esse
trabalho é de fundamental relevância, pois o nosso conhecimento sobre como o
evangelho se espalhou além das fronteiras de Jerusalém nos leva a um período da
história onde nós, os gentios, fomos incluídos entre o povo de Deus. Também
podemos perceber como a pregação do evangelho pode transformar toda uma
sociedade, e trazer aos seus moradores salvação e alegria.
Com esse trabalho temos o objetivo de trazer ao conhecimento do leitor
que o evangelho é poderoso para mudar a vida das pessoas, e que não é através de
políticas sociais materialistas ou uma economia forte e pujante que levaremos
alegria e satisfação a uma sociedade, esse objetivo só é alcançado através da
pregação do genuíno evangelho de Cristo.
A metodologia utilizada nesse trabalho é o histórico-gramatical que tem
por base os pressupostos de inspiração divina e proposicional das Escrituras, mas
ao mesmo tempo utiliza informações oriundas de abordagens hermenêuticas
reformadas coerentes com a natureza divino-humana das Escrituras.
Esse trabalho exegético está dividido em três partes. A primeira parte
1
PORTAS Abertas. Destaques: As Principais Informações sobre a Lista Mundial de Perseguição
2022, 2022. Disponível em: <https://portasabertas.org.br/lista-mundial/destaques>. Acesso em: 26
out. 2022.
5
1 ESTUDO CONTEXTUAL
2
TOUSSAINT, S. D. The Bible Knowledge Commentary: An Expisition og the Scriptures. Wheaton:
Victor Books, v. 2, 1985. Pg 349
3
GONZÁLES, J. L. Atos: O Evangelho do Espírito Santo. 1ª. ed. São Paulo: Hagnos, 2011. Pg 23-
24
7
4
(GONZÁLES, 2011, p. 24)
8
1.2.1.1 Título
O nome “Atos dos Apóstolos” foi dado ao livro no século II pelos pais da
igreja e tem levantado alguns questionamentos, um deles é o fato do título se referir
aos atos dos apóstolos, mas Lucas descreve os atos apenas de Pedro e Paulo e faz
5
KISTEMAKER, S. Comentário do Novo Testamento: Atos. 2ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, v. 1 e
2, 2016. Pg 373
6
(KISTEMAKER, 2016, p. 373)
9
uma breve citação do apóstolo João em (3.1) e (8.14), mas não fala sobre as ações
desse apóstolo. A solução seria nomear o livro de “Atos de Pedro e Paulo”, mas
também quanto a isso o nome não condiz com o conteúdo do livro, pois Lucas
também relata sobre os atos de Estevão, Felipe, Barnabé, Silas e Timóteo. Outra
proposta seria chamar o livro de Atos do Espírito Santo, mas também encontramos
dificuldades nesse título pois no primeiro capítulo do livro, Lucas nos diz que está
escrevendo uma continuidade do seu evangelho, e diz que o livro relata “tudo o que
Jesus começou a fazer e a ensinar” (1.1), com isso a ênfase não recai sobre o
Espírito Santo, mas sim sobre o que Jesus está realizando na igreja em todo o
mundo. Comentando sobre o assunto Kistemaker diz o seguinte:
1.2.1.2 Autor
7
(KISTEMAKER, 2016, p. 17)
8
CHUNG-KIM, E. et al. Comentário Bíblico da Reforma: Atos. 1ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã,
2016. Pg 39
9
MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. 2ª. ed. São Paulo: Mundo
Cristão, 2011. Pg 329
10
1.1-4 onde é escrito sobre a existência de uma obra anterior que também foi
dedicada a Teófilo, que neste caso é o evangelho de Lucas, e as semelhanças
gramaticais entre os dois escritos apontam para um único escritor. A segunda
evidência é que o texto de Atos deixa claro que o autor foi um companheiro de
viagem de Paulo. Podemos perceber isso nas passagens escritas na primeira
pessoa do plural (16.10- 17; 20.5; 21:18; 27:1; 28:1-6). Em suas epístolas o próprio
Paulo testifica o fato de que Lucas era seu companheiro e colaborador (Cl4.14; 2Tm
4.11; Fm 24). Paulo também tinha outras pessoas que colaboravam com ele, como
Timóteo, Silas, Tito, Demas, Crescente e Lucas, mas entre estes o único que
podemos apontar como autor é Lucas. Kistemaker, comentando sobre isso escreve:
1.2.1.3 Data
da vida do apóstolo. Isso nos leva a crer que Lucas escreveu Atos antes da morte do
apóstolo datada entre 58-63 d.C.
Outro fator importante para a datação do livro, é a destruição de
Jerusalém ocorrida em 70 d.C. Alguns estudiosos argumentam que o livro foi escrito
depois dessa data, mas alguns fatos nos fazem questionar esse posicionamento: 1)
Por que Lucas não relata detalhes de um acontecimento tão importante para a
época, tendo em vista ser este um livro histórico? 2) No evangelho, Lucas fala sobre
esse acontecimento, (Lc 19.43-44; 21.20-24), mas não é um relato descritivo da
destruição, e sim um relato profético de Jesus. Isso nos leva a crer que a escrita se
deu antes desse acontecimento.12
Logo abaixo segue uma linha cronológica que traça os principais
acontecimentos narrados no livro de Atos e que fazem paralelo com a datação
histórica deles.
Com esses dados em mãos concluímos que uma data possível para a
escrita do livro foi um período entre 58 e 63 d.C., tendo a data tardia como mais
aceita.
1.2.1.4 Local
12
UTLEY, B. Comentário Bíblico: Atos. Marshall: Lições Bíblicas Internacional, v. 3b, 2010. Pg 16
12
“Não temos nenhuma indicação de onde Lucas escreveu Atos. Haveria ele
já escrito partes antes de acompanhar Paulo em sua viagem a Roma? Pôde
manter seus documentos a salvo durante o naufrágio em Malta? Terminou o
livro em Roma durante os dois anos da prisão domiciliar de Paulo?
Podemos multiplicar as perguntas, porém não podemos dar respostas
definidas. Alguns estudiosos apontam Acaia como o possível local da
composição de Atos. Outros apontam Roma.”13
1.2.1.5 Propósito
13
(KISTEMAKER, 2016, p. 43)
14
WALVOORD, J. F.; ROY, B. D. The Bible Knowledge Commentary. 1ª. ed. Wheaton: Victor
Books, 1985. Pg 350
15
(WALVOORD e ROY, 1985, p. 351)
13
16
MARSHALL, H. I. Atos: Introdução e Comentário. 1ª. ed. São Paulo: Vida Nova, 1982. Pg 18
17
(MARSHALL, 1982, p. 18)
18
(MARSHALL, 1982, p. 19)
19
(WALVOORD e ROY, 1985, p. 351)
20
(MARSHALL, 1982, p. 20)
14
evangelho de Jesus se espalhou por todo o mundo. Por isso o texto chave do livro é
Atos 1.8, onde Jesus, antes de subir aos céus, deu orientações aos seus discípulos
de que eles seriam suas testemunhas em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os
confins da terra.
Tendo este propósito em mente, e olhando para todo o livro de Atos, a
pergunta que nos vem à mente é: Onde o texto que vamos estudar se encaixa? Para
responder essa pergunta precisaremos recorrer a um esboço completo do livro como
segue:
Atos 8.4-8 não tem paralelos e nem citações diretas com o Antigo
Testamento. As inferências que podemos fazer são duas, e estão ligadas com o
17
Novo Testamento.
A primeira inferência tem cunho escatológico, pois em Mateus 24.14 em
seu sermão escatológico, Jesus profetiza que o evangelho do reino será pregado a
todas as nações e então virá o fim. Essa profecia vai se cumprindo em todo o livro
de Atos e tem seu ponto de partida quando Pedro prega em Jerusalém e três mil
pessoas são convertidas. Aqui em Atos 8.4-8, vemos a continuidade dessa profecia
quando Filipe prega aos Samaritanos, que é uma nação rejeitada por Israel, e que
nesse caso se encaixa na descrição de nação gentia.
A outra inferência também tem a ver com uma profecia de Jesus que está
registrada em Atos 1.8. Ali Jesus diz que os discípulos seriam suas testemunhas em
Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. Essa passagem também vai
se cumprindo em todo livro de Atos, mas ela tem uma ligação mais intima com o
capítulo 8.4-8, pois é aqui que o evangelho é pregado e os Samaritanos recebem o
Espírito Santo pela primeira vez.
2 ESTUDO TEXTUAL
Fonte: SBLGNT
Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort, The New Testament
in the Original Greek, vol. 1: Text; vol. 2: Introduction [and] Appendix (Cambridge:
Macmillan, 1881). Representantes da edição NA28 acrescentam o artigo definido τὴν
onde a leitura do texto fica: “Filipe descendo à cidade de Samaria”. Já os editores
Samuel Prideaux Tregelles, The Greek New Testament, Editado a partir de
autoridades antigas, com suas várias leituras na íntegra, e a versão latina de
Jerônimo (London: Bagster; Stewart, 1857–1879) e The New Testament in the
Original Greek: Byzantine Textform 2005, compilado e organizado por Maurice A.
Robinson e William G. Pierpont (Southborough, Mass.: Chilton, 2005), omitem o
artigo definido τὴν ficando a tradução da seguinte forma: “Filipe descendo a uma
cidade de Samaria”.
Conclusão:
Adotamos a primeira tradução, pois ela se encaixa melhor no contexto da
perícope. Se adotarmos a segunda tradução, temos que crer que Lucas está se
referindo a uma região específica e não a uma cidade, assim como Jesus fez em
Atos 1.8 onde nessa ocasião nosso Senhor estava se referindo à região de Samaria.
Mas neste caso Lucas se refere a uma cidade específica e podemos perceber isso
levando em consideração o verso 8 onde o autor diz que “e houve grande alegria
naquela cidade”, se Lucas estivesse se referindo a uma região, no verso 8 seria
mais lógico escrever: “e houve grande alegria naquela região”. O que não foi o caso.
Devido a isso adotamos a seguinte tradução: “Filipe descendo à cidade de
Samaria”.
21
(διασπαρέντες) verbo, aoristo, passivo, particípio, plural, nominativo, masculino (ser disperso como
semente)
22
(διῆλθον) verbo, aoristo, ativo, indicativo, terceira pessoa, plural (Verbo “ir” – iam)
23
(εὐαγγελιζόμενοι) verbo, presente, médio, particípio, plural, nominativo, masculino (Anunciando as
boas novas)
24
(κατελθὼν) verbo, aoristo, ativo, particípio, singular, nominativo, masculino (descendo)
25
(ἐκήρυσσεν) verbo, imperfeito, ativo, indicativo, terceira pessoa, singular (anunciava)
26
(προσεῖχον) verbo, imperfeito, ativo, indicativo, terceira pessoa, plural (Atentando – prestando
atenção)
27
(λεγομένοις) verbo, presente, passivo, particípio, plural, dativo, neutro (dizia)
28
(ἀκούειν) verbo, presente, ativo, infinitivo (Compreendendo – Entender profundamente)
29
(βλέπειν) verbo, presente, ativo, infinitivo (Vendo)
30
(ἐποίει) verbo, imperfeito, ativo, indicativo, terceira pessoa, singular (Fazia)
31
(ἐχόντων) verbo, presente, ativo, particípio, plural, genitivo, masculino (Possuídos – ter em posse
de)
32
(βοῶντα) verbo, presente, ativo, particípio, plural, nominativo, neutro (Gritando)
33
(ἐξήρχοντο) verbo, imperfeito, médio-passivo, indicativo, terceira pessoa, plural (Saia)
34
(ἐθεραπεύθησαν) verbo, aoristo, passivo, indicativo, terceira pessoa, plural (Eram Curados)
35
(ἐγένετο) verbo, aoristo, médio, indicativo, terceira pessoa, singular (Houve)
20
2.4.1.1 Argumento
O texto grego inicia a perícope com a expressão (Οἱ μὲν οὖν διασπαρέντες –
Portanto, os que haviam sido dispersos...). Esta cláusula é chamada de
enquadramento tópico, e sua função é de apresentar novos participantes ou
conceitos, que neste caso, o novo conceito apresentado é a pregação da palavra
pelos que estavam sendo dispersos. Outra função do enquadramento tópico é de
chamar a atenção para a mudança no assunto, neste caso, a mudança ocorrida foi
que além da perseguição há o acréscimo da pregação da palavra.
Outra parte importante é que a expressão (οὖν – Portanto) forma um
contraponto, que tem uma função dupla de fazer uma ligação entre a perícope
anterior e chamar a atenção para uma nova perícope que se inicia.36
2.4.1.2 Personagem
Outro fator que nos leva a crer que se trata do início de uma nova
perícope é o reaparecimento de um personagem que estava inativo na narrativa,
neste caso, Filipe. Note que o evangelista aparece primeiro no capítulo 6.5 onde ele
é eleito um dos 7 diáconos. Logo após, ele sai de sena para a entrada de Estevão,
36
SILVA, C. M. D. D. Metodologia de Exegese Bíblica. 2ª. ed. São Paulo: Paulinas, 2000. Pg 70
22
que passa a ser o assunto até o capítulo 7.60. Filipe volta a aparecer no capítulo 8.5,
sendo um dos dispersos por causa da perseguição.37
2.5 COMENTÁRIO
Verso 4 - Portanto, (os que haviam sido) dispersos, iam (por toda a
37
(SILVA, 2000, p. 70, 71)
23
Em Atos 1.8 a ordem de Jesus para seus discípulos era de serem suas
testemunhas em todos os lugares começando por Jerusalém. Mas muitos ainda
permaneciam na cidade, sendo necessário que se levantasse uma perseguição para
que a ordem de Cristo fosse cumprida. E foi exatamente o que aconteceu.
No capítulo 8.1 vemos que após a morte de Estevão, se levantou uma
grande perseguição contra a igreja em Jerusalém, e todos, exceto os apóstolos,
foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria, cumprindo assim a ordem que o
Senhor deu em Atos 1.8.
Portanto: A perícope que se inicia em At 8.4 utiliza esta palavra que
serve de ligação com o parágrafo anterior. Indica que apesar da perseguição
levantada contra os cristãos, encabeçada por Paulo, e de terem que abandonar tudo
para fugir da morte, não desencorajou os cristãos de pregar o evangelho por onde
quer que passassem.
Os que haviam sido dispersos: Como vimos, a morte de Estevão
acarretou uma grande perseguição contra os cristãos (Atos 8.1), que os obrigou a
fugir para não serem mortos pelos judeus. Essa perseguição era encabeçada por
Saulo que assolava a igreja (At 8.3).
Outro detalhe muito importante é que os primeiros evangelistas
transculturais da igreja não foram os apóstolos, pois esses permaneciam em
Jerusalém (At 8.1), mas foram judeus de fala grega, ou seja, os helenistas. Tanto
Estevão, de forma indireta, quanto Filipe, de forma direta, instigaram a missão
mundial da igreja para fora dos arraiais de Jerusalém.
A palavra grega traduzida por “dispersos”, é o termo usado para indicar
sementeira, semeadura ou espalhar sementes. A perseguição fez com a igreja
aquilo que o vento faz com a semente, espalhando com o fim de aumentar a
colheita.38
...iam (por toda a parte). A palavra grega utilizada para “iam por toda a
parte” é (διῆλθον – diēlthon), essa palavra é utilizada com muita frequência por Lucas
tanto no evangelho (10 vezes) quanto no livro de Atos (20 vezes), sendo que em
todo o novo testamento a ocorrência é de 41 vezes. E neste contexto ela é
normalmente empregada para descrever viagens missionárias.
38
LOPES, H. D. Atos: A Ação do Espírito Santo na Vida da Igreja. 1ª. ed. São Paulo: Hagnos, 2012.
Pg 169 - 170
24
Dos sete diáconos escolhidos para servir as mesas em Atos 6.1-7, dois
exerceram papéis importantes. O primeiro foi Estevão, que foi morto pelo sinédrio, e
sua morte acarretou a perseguição que obrigou os cristãos a se espalharem (Atos
7.54-60). E Filipe que foi o primeiro a ser chamado de evangelista em Atos 21.8, e
não pode ser confundido com o apóstolo com o mesmo nome (Mt 10.2-4).
Podemos ver o ministério do evangelista Filipe retratado em três cenários
25
evangelísticos: Samaria (At 8.4-25), Eunuco Etíope (At 8.26-40), na região costeira
da Palestina (At 8.40).
Filipe, também, descendo à cidade de Samaria... Apesar de Samaria
estar no norte da Judéia, geograficamente, quem saísse de Jerusalém precisaria
subir à Samaria. Mas na tradição judaica as pessoas “subiam” à Jerusalém e
“desciam” de lá para qualquer lugar.39
Outro detalhe importante para ponderarmos, é que Samaria era um local
estratégico para iniciar a missão de pregação do evangelho, pois a cidade estava no
meio do caminho entre Jerusalém e os confins da terra.
No antigo testamento Samaria era a capital do Reino do Norte de Israel e
posteriormente foi reconstruída por Herodes o Grande e passou a se chamar
Sebaste.
Havia uma grande rivalidade entre os Samaritanos e os Judeus pelo fato
de os samaritanos serem uma raça de ascendência mestiça, e isso criava barreira
entre os judeus de linhagem pura.
No século VIII a.C., os assírios invadiram o reino do Norte de Israel cuja
capital era Samaria, e deportaram a maioria de seus habitantes para uma cidade
estrangeira, e foi aí que os samaritanos se misturaram com esse povo e se tornaram
uma raça mestiça, e isto era um crime imperdoável para um judeu.
Por outro lado, quando o reino do Sul foi invadido pela Babilônia no
século VI a.C, e foi levado cativo para um país estrangeiro, eles se recusaram a se
misturar com os moradores da babilônia, mantendo assim a pureza racial do povo.
No século V a.C, o rei da Babilônia permitiu que os judeus voltassem para
reconstruir a cidade, o que foi feito através de Esdras e Neemias. Neste tempo o
povo que tinha ficado em Samaria se ofereceu para ajudar na reconstrução o que foi
negado porque não eram judeus puros. E a partir daí houve um ódio incurável entre
judeus e samaritanos.
O fato de Filipe fazer milagres e sinais enquanto pregava era uma forma
de autenticar sua mensagem diante da multidão, isso fazia com que o povo se
atentasse ao que o evangelista dizia. Esse fato também aconteceu com os apóstolos
como podemos ver em Atos 2.43.44
O conteúdo da pregação de Filipe era a mensagem do Reino de Deus e
do nome de Jesus, o Messias, como nos informa Lucas em Atos 8.12. Com isso
podemos perceber que desde o início, o conteúdo do evangelho é o Reino de Deus
através do nome de Jesus, e essa é a substância do evangelho até o último livro da
Bíblia.
Verso 7 – Pois, os espíritos impuros de muitos possuídos, saiam
gritando (em) alta voz; muitos paralíticos e coxos eram curados.
A pregação de Filipe foi acompanhada pelos mesmos sinais que já tinham
sido vistos nos ministérios de Jesus e dos apóstolos, e serviam de base para
autenticar o ministério desses irmãos diante do povo que os ouvia. Porém a ênfase
não estava nos feitos miraculosos, mas na mensagem. A principal função de Filipe
não era realizar milagres e sim pregar o evangelho do Reino.
Quando Jesus começou seu ministério Satanás tinha sobre sua posse
inúmeras pessoas que eram possuídas e escravizadas por ele (Mc 1.23-26). No
tempo dos apóstolos a possessão demoníaca continuou. Temos registro de Pedro
expulsando demônios das pessoas das cidades vizinhas que vinham até ele (At
5.16), vemos também Paulo libertando uma escrava que estava possessa (At 16.16-
18) e quando pregava em Éfeso (At 19.12). Pedro Paulo e Filipe sabiam que
estavam confrontando a oposição de Satanás contra Jesus e que ao libertarem as
pessoas da escravidão de Satanás estavam anunciando a chegada do Reino de
Deus àquelas pessoas (Lc 11.20).
Verso 8 – E houve grande alegria naquela cidade
Com a pregação do Evangelho, a cura de várias pessoas e a expulsão de
demônios que mantinham aquelas pessoas cativas o resultado não podia ser outro.
Neste verso nós podemos conferir o resultado da pregação e dos milagres feitos por
Filipe em Samaria. Por meio do ministério de Filipe os samaritanos recebiam cura
física e libertação espiritual, e isso trazia grande alegria àquele povo. Além do mais,
eles estavam produzindo um dos frutos do Espírito que é a alegria, como disso
Paulo ao escrever aos gálatas (Gl 5.22).
44
(TOUSSAINT, 1985, p. 372)
28
Toussaint diz que um dos subtemas do livro de Atos é a alegria, pois uma
igreja vitoriosa é uma igreja alegre.45 Quando a igreja crescia, e o Senhor ia
acrescentando dia a dia os que iam sendo salvos, Lucas registra que o sentimento
que invadia a igreja naquele momento era a alegria (At 2.42-47). E com os
samaritanos não era diferente, pois o mesmo Espírito que gerava alegria no coração
dos irmãos em Jerusalém infundia esse mesmo sentimento nos corações dos
samaritanos.
45
(TOUSSAINT, 1985, p. 360)
46
(KISTEMAKER, 2016, p. 55)
29
47
ALEXANDER, D.; ROSNER, B. S. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. 1ª. ed. São Paulo: Vida,
2009. Pg 421
48
FRAME, J. A Doutrina da Palavra de Deus. 1ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. Pg 222 - 223
31
A fé trabalha nos corações dos pecadores, conduzida pelo Espírito Santo, gerando
arrependimento e consequentemente salvação, a consequência disso é a alegria
experimentada por aquele povo, pois eram pecadores condenados, agora são
crentes justificados.
Curas e Milagres: Uma das consequências da pregação da Palavra no
meio dos samaritanos foi a expulsão de demônios e a cura dos enfermos. Esses
acontecimentos extraordinários serviram para testificar o ministério de Filipe e provar
a veracidade da mensagem pregada por ele.
Hoje temos aqueles que acreditam que esses milagres ainda são
necessários, são os chamados continuístas. Já a outra vertente entende que, apesar
de Deus ter o poder de curar de forma miraculosa, esses acontecimentos não são
mais necessários nos dias de hoje pelo fato do cânon das Escrituras estarem
concluídos, esses teólogos são chamados de cessacionistas. Berkhof é um dos
teólogos que defendem a ideia da cessação dos dons de cura:
“Entre os cristãos primitivos havia alguns que tinham o dom de cura e que
podiam fazer milagres, 1Co 12.9,10,28,30; Mc 16.17,18. Todavia, esta
condição extraordinária logo cedeu lugar às condições comuns, nas quais a
Igreja efetua o seu trabalho pelos meios ordinários.”49
uma obrigação que cabe a todo aquele que é chamado. Por isso a prática da
evangelização através da pregação do evangelho deve ser cultivada, pois o não
cumprimento desse mandamento acarretará um grave pecado contra o Senhor.
Uma característica marcante desse texto é a forma como ele demonstra o
poder transformador do evangelho. Quando Filipe anuncia a verdade falando de
Cristo, aquela cidade enfrenta uma transformação nunca vista antes, pessoas sendo
curadas, demônios sendo expulsos, charlatões sendo revelados. Aqui vemos que a
chave para a transformação da sociedade não está em técnicas ou projetos sociais,
está na pregação e prática das Escrituras. Uma sociedade só será perfeita quando
ela conseguir ser parecida com Cristo, em seu caráter, sua justiça e seus preceitos.
Por isso a igreja não deve abandonar a pregação genuína do Evangelho, esse deve
ser o propósito de todo líder ao subir em um púlpito no domingo, não falar de si
mesmo, mas falar de Cristo, levando as pessoas ao arrependimento.
2.9 SERMÃO
2.10 ESBOÇO
Introdução:
Estevão estava diante do Sinédrio sendo interrogado, e diante das
acusações feitas, ele se defende discorrendo sobre a vida dos patriarcas e a partir
daí anuncia a Cristo àquelas autoridades. No final do seu discurso ele acusa aqueles
homens de terem traído e matado o Messias e isso acendeu a ira desses homens
que resolveram matar Estevão.
Este episódio fez levantar uma grande perseguição contra os cristãos em
Jerusalém o que levou os irmãos a fugirem para as regiões vizinhas, e por onde eles
iam pregavam o evangelho. Um dos fugitivos era Filipe, o evangelista que foi eleito
diácono junto com Estevão no capítulo 6. Ele chega em Samaria e começa a
anunciar Cristo aos samaritanos que se arrependem e creem no evangelho.
Diante disso, quero falar sobre os resultados da pregação do evangelho
em Samaria:
Conclusão
Vemos que não precisamos de estratégias mirabolantes para anunciar
Cristo aos perdidos. O que precisamos é de conhecimento de quem é Jesus e qual o
seu plano para salvar o perdido, de sermos conduzidos pelo Espírito Santo para que
nossa mensagem seja confirmada pelo poder do evangelho e por fim mostrar as
pessoas que a verdadeira alegria está em conhecer e fazer Cristo ser conhecido.
Aplicação:
A pregação do evangelho de Cristo ainda é urgente para nós hoje, a
ordem dada por Cristo no início da igreja não foi revogada, ela durará até a vinda do
Senhor e a restauração de toda as coisas, onde o evangelho não precisará mais ser
34
pregado. A pregação do evangelho não pode ser negligenciada pela igreja, pois
esse é o meio pelo qual glorificaremos a Deus. Como as pessoas podem glorificar
um Deus que elas não conhecem? Por isso que o apóstolo Paulo, quando escreveu
aos coríntios disse:
3 CONCLUSÃO:
50
ALMEIDA, J. F. D. Bíblia Sagrada Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. 2ª. ed.
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
35
4 BIBLIOGRAFIA
ALEXANDER, D.; ROSNER, B. S. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. 1ª. ed. São Paulo:
Vida, 2009.
BERKHOF, L. Teologia Sistemática. 4ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.
CHUNG-KIM, E. et al. Comentário Bíblico da Reforma: Atos. 1ª. ed. São Paulo: Cultura
Cristã, 2016.
EARLE, R.; MAYFIELD, J. H. Comentário Bíblico Beacon: João a Atos. 1ª. ed. Rio de
Janeiro: CPAD, v. 7, 2006.
FRAME, J. A Doutrina da Palavra de Deus. 1ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2013.
GONZÁLES, J. L. Atos: O Evangelho do Espírito Santo. 1ª. ed. São Paulo: Hagnos, 2011.
36
HOMES, M. W. The Greek New Testament: SBL Edition. 1ª. ed. Lexham Press: Society of
Biblical Literature, 2011-2013.
KISTEMAKER, S. Comentário do Novo Testament: Atos. 2ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã,
v. 1 e 2, 2016.
LOPES, H. D. Atos: A Ação do Espírito Santo na Vida da Igreja. 1ª. ed. São Paulo: Hagnos,
2012.
MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. 2ª. ed. São Paulo:
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