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SEMINÁRIO PRESBITERIANO NOROESTE DO BRASIL

NILTON MOTA DE OLIVEIRA

Até os Confins da Terra: Samaria


Atos 8.4-8

Ji-Paraná
2022
NILTON MOTA DE OLIVEIRA

Até os Confins da Terra: Samaria


Atos 8.4-8

Trabalho apresentado à SPNB – Seminário


Presbiteriano Noroeste do Brasil, como parte dos
requisitos da disciplina de Exegese do Novo
Testamento 2 - Atos, entregue como
cumprimento parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Teologia.

Prof. Rev. Luciano Marinho Amorim

Ji-Paraná
2022
Sumário
INTRODUÇÃO:........................................................................................................... 4

1 ESTUDO CONTEXTUAL.....................................................................................6

1.1 Contexto histórico......................................................................................................6


1.1.1 Contexto Remoto...................................................................................................6
1.1.2 Contexto próximo..................................................................................................7
1.2 Contexto Literário......................................................................................................8
1.2.1 Contexto Geral......................................................................................................8
1.2.2 Contexto Remoto.................................................................................................13
1.2.3 Contexto próximo................................................................................................15
1.3 Contexto Canônico...................................................................................................16

2 ESTUDO TEXTUAL...........................................................................................17

2.1 Variante Textual – Atos 8.5.....................................................................................17


2.1.1 Leitura da Variante.............................................................................................17
2.2 Tradução Literal do Texto......................................................................................18
2.3 Esboço Mecânico do Texto......................................................................................19
2.3.1 Texto em português.............................................................................................19
2.3.2 Texto em Grego:.................................................................................................20
2.4 Justificação dos Limites e Divisões da Perícope....................................................20
2.4.1 Delimitação inicial da perícope..........................................................................20
2.4.2 Delimitação Final da Perícope...........................................................................21
2.4.3 Elementos que aparecem ao longo do texto.......................................................21
2.5 Comentário...............................................................................................................22
2.5.1 Filipe prega em Samaria (4-8)...........................................................................22
2.6 Mensagem para a época da escrita.........................................................................27
2.7 Mensagem para todas as épocas.............................................................................28
2.8 Teologia do Texto.....................................................................................................28
2.8.1 Implicações para a teologia bíblica...................................................................28
2.8.2 Implicações para a teologia sistemática.............................................................29
2.8.3 Implicações para a teologia prática...................................................................31
2.9 Sermão.......................................................................................................................31
2.10 Esboço....................................................................................................................32

3 CONCLUSÃO:................................................................................................... 34

4 BIBLIOGRAFIA..................................................................................................35
Tabela 1 - Comparativo de relatos históricos com a data de escrita do livro.............11

Tabela 2 - Esboço do livro de Atos............................................................................14

Tabela 3 - Variante Textual 1.....................................................................................17

Tabela 4 - Tradução Literal........................................................................................18

Figura 1 - Texto NA28 Apresentando a Variante 1......................................................17


4

INTRODUÇÃO:

Vemos que, ainda hoje, grande parte dos cristãos espalhados pelo mundo
ainda são perseguidos. Segundo o site Portas Abertas, existe mais de 360 milhões
de cristãos perseguidos por todo o mundo. 1 Diante disso, o que faz com que o
evangelho cresça mesmo com tanta perseguição? A resposta é que a igreja é
mantida e preservada pelo nosso Senhor e a porta do inferno não prevalecerá contra
ela. E segunda é que o evangelho tem o poder de transformar a vida das pessoas a
ponto de fazê-las resistir até a morte.
Foi o que aconteceu com a igreja em Jerusalém, que mesmo diante de
uma perseguição brutal os irmãos se espalharam por todo o canto pregando o
evangelho. Filipe, que estava entre os refugiados, fugiu para a região de Samaria e
pregou aos samaritanos levando o evangelho, fazendo Cristo conhecido e
produzindo alegria nos corações daquelas pessoas.
Atos dos Apóstolos é um livro fundamental para entendermos o
desenvolvimento do evangelho e da igreja no decorrer da história. Por isso esse
trabalho é de fundamental relevância, pois o nosso conhecimento sobre como o
evangelho se espalhou além das fronteiras de Jerusalém nos leva a um período da
história onde nós, os gentios, fomos incluídos entre o povo de Deus. Também
podemos perceber como a pregação do evangelho pode transformar toda uma
sociedade, e trazer aos seus moradores salvação e alegria.
Com esse trabalho temos o objetivo de trazer ao conhecimento do leitor
que o evangelho é poderoso para mudar a vida das pessoas, e que não é através de
políticas sociais materialistas ou uma economia forte e pujante que levaremos
alegria e satisfação a uma sociedade, esse objetivo só é alcançado através da
pregação do genuíno evangelho de Cristo.
A metodologia utilizada nesse trabalho é o histórico-gramatical que tem
por base os pressupostos de inspiração divina e proposicional das Escrituras, mas
ao mesmo tempo utiliza informações oriundas de abordagens hermenêuticas
reformadas coerentes com a natureza divino-humana das Escrituras.
Esse trabalho exegético está dividido em três partes. A primeira parte

1
PORTAS Abertas. Destaques: As Principais Informações sobre a Lista Mundial de Perseguição
2022, 2022. Disponível em: <https://portasabertas.org.br/lista-mundial/destaques>. Acesso em: 26
out. 2022.
5

constitui o estudo contextual onde abordaremos os contextos históricos, literários e


canônicos da passagem; a segunda parte será constituída do estudo textual onde
estudaremos as variantes, a delimitação da passagem, o comentário sobre o texto e
por fim um esboço de um sermão com base na perícope; e a terceira e última parte
está a conclusão de onde esboçaremos as ideias principais baseadas no estudo
feito em toda a exegese.
6

1 ESTUDO CONTEXTUAL

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO

1.1.1 Contexto Remoto

O livro de Atos é a única sequência histórica dos quatro evangelhos nos


escritos canônicos. Ele também forma um pano de fundo histórico para todos os
escritos de Paulo. Sem Atos seria mais difícil compreendermos o ministério desse
importante apóstolo. Este livro nos traz informações importantes sobre a igreja
primitiva. Lucas relata as tensões, perseguições, frustrações, problemas teológicos e
esperança sobre a noiva de Cristo.2
Lucas relata o momento histórico onde a obra de Deus deixa de ser
exclusividade dos judeus e passa a incluir todos os povos da terra. Em outras
palavras o leitor vai de Jerusalém até os confins do mundo nesses 28 capítulos
(Atos 1.8).

1.1.1.1 Contexto Político

Toda a narrativa de Atos se desenvolve no Império Romano. Esse império


era governado de várias maneiras. No século I existiam dois tipos de província, as
imperiais que ficavam sobre o governo direto de militares escolhidos pelo imperador,
e as senatoriais que eram controladas por membros escolhidos pelo senado. Lucas
sempre se refere às autoridades de cada província pelo título correto (Atos 10.1;
18.12; 22.26).
Durante o período narrado em Atos a maior parte da Judéia era
governada por procuradores romanos. No Início da narrativa vemos que Herodes
Felipe era tetrarca de uma área ao nordeste da Galileia. Em 37 d.C., Calígula
conquistou esses territórios para Herodes Agripa I, que se tornou rei da Judeia e de
Samaria no ano 41 d.C.3 Três anos depois Agripa I morre, mas seu filho Agripa II
assume parcialmente o trono devido a sua pouca idade, por ter seu poder limitado,
Agripa II possui apenas algumas prerrogativas, como indicar o sumo sacerdote e ser

2
TOUSSAINT, S. D. The Bible Knowledge Commentary: An Expisition og the Scriptures. Wheaton:
Victor Books, v. 2, 1985. Pg 349
3
GONZÁLES, J. L. Atos: O Evangelho do Espírito Santo. 1ª. ed. São Paulo: Hagnos, 2011. Pg 23-
24
7

o guardião do tesouro do templo. Segundo Gonzáles o fato de Agripa II indicar um


sumo sacerdote é uma maneira de percebermos como a política afetava a vida
religiosa da Judeia.4
Ao conquistar uma nação os romanos concediam a elas uma certa
liberdade religiosa, mas apesar disso, os romanos procuravam manter essas
religiões sobre o seu controle a fim de evitar que elas fossem usadas para incitar
rebeliões.

1.1.1.2 Contexto Geográfico

Em Atos 1.8 Jesus comissiona os discípulos a serem suas testemunhas


em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. Toda a narrativa Lucas nos
apresenta o cumprimento dessa promessa. No capítulo 1.1- 8.3 vemos os
acontecimentos em Jerusalém. Ainda dentro dessa primeira sessão, em Atos 2.9-11,
vemos que Pedro prega, e o evangelho se espalha por toda aquela região. Mas a
primeira grande expansão ocorre em Atos 8.4 – 12.25, com o evangelho chegando
em outras partes da Judeia e Samaria. A partir do verso 13 ocorre outra expansão
quando Paulo inicia sua primeira viagem missionária alcançando a Ásia Menor, a
Grécia, até chegar em Roma.
Jerusalém: A Cidade velha de Jerusalém está localizada no topo de um
planalto de calcário nas montanhas da Judeia, flanqueada pelo vale do Hinom a
sudoeste. O vale do Cedron fica a leste, separando o Monte do Templo do Monte
das Oliveiras. No centro da Cidade velha, o vale do Tiropeon divide a Colina
Ocidental (Monte Sião) do Monte do Templo (Monte Moriá).
Judeia: Essa região, no antigo testamento, era chamada de Judá, por
pertencer à tribo com esse nome. Após o cativeiro, este nome foi aplicado a todo o
país a oeste do Jordão (Ag 1:1, 14; 2:2). Mas sob os romanos, no tempo de Cristo,
denotava a mais meridional das três divisões da Palestina (Mt 2:1, 5; 3:1; 4:25),
embora às vezes também fosse usado para a Palestina em geral (Atos 28:21).
A província da Judéia, distinta da Galileia e Samaria, incluía os territórios
das tribos de Judá, Benjamim, Dã, Simeão e parte de Efraim. Sob os romanos, fazia
parte da província da Síria e era governada por um procurador.

4
(GONZÁLES, 2011, p. 24)
8

1.1.2 Contexto próximo

Após a morte de Estevão, surge uma grande perseguição contra a igreja


em Jerusalém. Até esse momento a igreja se concentra somente na capital, mas a
perseguição obriga os cristãos a fugirem e se espalharem para a região da Judeia e
Samaria.
Na perícope que estamos estudando, Lucas concentra sua atenção no
ministério de Felipe em Samaria.
No antigo testamento Samaria era a capital do reino do Norte após a
divisão da nação em dois reinos sob o reinado de Roboão. Segundo Kistemaker, o
nome da cidade foi mudado por Herodes, o Grande, para Sebaste e era uma cidade
gentílica nos tempos apostólicos.5 Não existe concordância entre os estudiosos
quanto a localização dessa cidade, pois uma evidência textual aponta que Filipe
desceu “a uma” cidade de Samaria” e quanto outra evidência aponta que Filipe
desceu “à” cidade de Samaria. Ou seja, um aponta para uma região, e outro para
uma cidade específica. Kistemaker diz que o contexto aponta para uma cidade de
menor importância “como Siquém (ou Sicar), localizada nas proximidades do poço
de Jacó.”6
A Bíblia fala de duas pessoas com o nome de Filipe: o apóstolo (Jo 1.43-
44) e um judeu de fala grega, denominado helenista, que foi escolhido como um dos
sete diáconos em Atos 6.5. Em Atos, Lucas se refere ao Diácono Filipe e não ao
apóstolo, esse mesmo Filipe que em Atos 8.26-40, prega e batiza o eunuco de
Candace a rainha dos Etíopes.

1.2 CONTEXTO LITERÁRIO

1.2.1 Contexto Geral

1.2.1.1 Título

O nome “Atos dos Apóstolos” foi dado ao livro no século II pelos pais da
igreja e tem levantado alguns questionamentos, um deles é o fato do título se referir
aos atos dos apóstolos, mas Lucas descreve os atos apenas de Pedro e Paulo e faz

5
KISTEMAKER, S. Comentário do Novo Testamento: Atos. 2ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, v. 1 e
2, 2016. Pg 373
6
(KISTEMAKER, 2016, p. 373)
9

uma breve citação do apóstolo João em (3.1) e (8.14), mas não fala sobre as ações
desse apóstolo. A solução seria nomear o livro de “Atos de Pedro e Paulo”, mas
também quanto a isso o nome não condiz com o conteúdo do livro, pois Lucas
também relata sobre os atos de Estevão, Felipe, Barnabé, Silas e Timóteo. Outra
proposta seria chamar o livro de Atos do Espírito Santo, mas também encontramos
dificuldades nesse título pois no primeiro capítulo do livro, Lucas nos diz que está
escrevendo uma continuidade do seu evangelho, e diz que o livro relata “tudo o que
Jesus começou a fazer e a ensinar” (1.1), com isso a ênfase não recai sobre o
Espírito Santo, mas sim sobre o que Jesus está realizando na igreja em todo o
mundo. Comentando sobre o assunto Kistemaker diz o seguinte:

“A sequência de Lucas-Atos pelas mãos de Lucas pode ser comparada à


sequência das duas cartas de Paulo aos Coríntios. No entanto, a diferença
é que os cristãos do século 1º colocaram o “primeiro livro” de Lucas junto
aos evangelhos e consideraram Atos como história da Igreja. Assim,
classificaram Atos como pertencente à categoria dos livros históricos. Em
suma, Atos relata a história da igreja primitiva.” 7

Os reformadores também tecem críticas quanto ao título do livro, pois ele


parece indicar que a história é sobre os apóstolos. Segundo os reformadores o
nome mais apropriado para o livro é “Atos de Cristo”, pois ele relata a continuidade
da obra de Cristo na igreja.8

1.2.1.2 Autor

Quando falamos em autoria, existe dois tipos de evidências que podemos


recorrer, as externas e internas. As evidências externas apontam um consenso entre
os estudiosos de que Lucas é o autor, tanto do evangelho como do livro de Atos.
Entre elas está o chamado prólogo antimarcionita ao evangelho de Lucas (160 – 180
d.C.), Cânon Muratoriano (170 – 200 d.C.), e os pais da igreja primitiva, Irineu,
Clemente de Alexandria, Tertuliano e Orígenes, e os seus sucessores Eusébio e
Jerônimo.9
Quanto as evidências internas, também existe concordância entre os
estudiosos e fortes evidências da autoria de Lucas. A primeira está registrada em Lc

7
(KISTEMAKER, 2016, p. 17)
8
CHUNG-KIM, E. et al. Comentário Bíblico da Reforma: Atos. 1ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã,
2016. Pg 39
9
MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. 2ª. ed. São Paulo: Mundo
Cristão, 2011. Pg 329
10

1.1-4 onde é escrito sobre a existência de uma obra anterior que também foi
dedicada a Teófilo, que neste caso é o evangelho de Lucas, e as semelhanças
gramaticais entre os dois escritos apontam para um único escritor. A segunda
evidência é que o texto de Atos deixa claro que o autor foi um companheiro de
viagem de Paulo. Podemos perceber isso nas passagens escritas na primeira
pessoa do plural (16.10- 17; 20.5; 21:18; 27:1; 28:1-6). Em suas epístolas o próprio
Paulo testifica o fato de que Lucas era seu companheiro e colaborador (Cl4.14; 2Tm
4.11; Fm 24). Paulo também tinha outras pessoas que colaboravam com ele, como
Timóteo, Silas, Tito, Demas, Crescente e Lucas, mas entre estes o único que
podemos apontar como autor é Lucas. Kistemaker, comentando sobre isso escreve:

“Entre os ajudantes de Paulo encontravam-se Timóteo, Silas, Tito, Demas,


Crescente e Lucas, mas como autor de Atos temos de eliminar a todos,
exceto Lucas. Crescente é relativamente desconhecido (2Tm 4.10); Demas
era colaborador de Paulo (Cl 4.14; Fm 24), porém abandonou-o mais tarde
(2Tm 4.10). Apesar de Tito ter acompanhado Paulo e Barnabé a Jerusalém
e trabalhado nas igrejas de Corinto, Creta e Dalmácia, parece não ter sido
um dos companheiros de Paulo a quem o apóstolo menciona nas
saudações de suas epístolas. Os nomes de Silas e Timóteo são
mencionados nas passagens em que aparece “nós”, de Atos, porém ambos
são mencionados na terceira pessoa. Pelo processo de eliminação,
chegamos à conclusão de que Lucas é a pessoa mais provável a ter
composto os livros a ele atribuídos.”10

Portanto, diante das evidências internas e externas podemos concluir que


Lucas, o médico amado, companheiro de Paulo, natural de Antioquia da Síria e que
morreu aos 84 anos na cidade de Beócia, foi o escritor do livro de Atos.11

1.2.1.3 Data

Lucas não deixou registrado datas específicas no livro, o que dificulta a


sua datação, mas algumas evidências nos ajudam a estipular uma data aproximada.
Alguns estudiosos, olhando para o governo Romano, argumentam que o livro foi
escrito antes de 64 d.C., pelo fato de Lucas não mencionar a perseguição sofrida
pelos cristãos a mando de Nero, fato que se deu nesse período. Inclusive Lucas
termina o livro dizendo que Paulo pregava o evangelho “sem impedimentos” (Atos
28.31), o que nos leva a crer que a perseguição ainda não tinha começado.
Um fato curioso é que Lucas termina a escrita do livro e não fala sobre a
morte de Paulo, tendo em vista que o livro traz detalhes de momentos importantes
10
(KISTEMAKER, 2016, p. 39)
11
Citação tirada do Prólogo Marcionita escrito entre (160 e 180 d.C.).
11

da vida do apóstolo. Isso nos leva a crer que Lucas escreveu Atos antes da morte do
apóstolo datada entre 58-63 d.C.
Outro fator importante para a datação do livro, é a destruição de
Jerusalém ocorrida em 70 d.C. Alguns estudiosos argumentam que o livro foi escrito
depois dessa data, mas alguns fatos nos fazem questionar esse posicionamento: 1)
Por que Lucas não relata detalhes de um acontecimento tão importante para a
época, tendo em vista ser este um livro histórico? 2) No evangelho, Lucas fala sobre
esse acontecimento, (Lc 19.43-44; 21.20-24), mas não é um relato descritivo da
destruição, e sim um relato profético de Jesus. Isso nos leva a crer que a escrita se
deu antes desse acontecimento.12
Logo abaixo segue uma linha cronológica que traça os principais
acontecimentos narrados no livro de Atos e que fazem paralelo com a datação
histórica deles.

Tabela 1 - Comparativo de relatos históricos com a data de escrita do livro


ACONTECIMENTO HISTÓRICO RELATO NO LIVRO DE ATOS DATA
Fome Generalizada sob Cláudio Atos 11.28 44-48 d.C.
Morte de Herodes Agripa I Atos 12.20-23 44 d.C.
Sérgio Paulo como procônsul Atos 13.7 53 d.C.
Expulsão dos Judeus de Roma por Cláudio Atos 18.2 49 d.C.
Gálio como procônsul Atos 18.12 51 ou 52 d.C.
Félix como procônsul Atos 23.26; 24.27 56-62 d.C.
Substituição de Felix por Festus Atos 24.27 57-60 d.C.

Fonte: (UTLEY, 2010, p. 16)

Com esses dados em mãos concluímos que uma data possível para a
escrita do livro foi um período entre 58 e 63 d.C., tendo a data tardia como mais
aceita.

1.2.1.4 Local

Quanto ao local da escrita, o máximo que podemos fazer é especular


sobre. Alguns estudiosos têm apontado a cidade de Acaia ou Roma. Outros
apontam Antioquia, devido a importância que essa cidade tem no livro de Atos.

12
UTLEY, B. Comentário Bíblico: Atos. Marshall: Lições Bíblicas Internacional, v. 3b, 2010. Pg 16
12

Kistemaker faz alguns levantamentos importantes:

“Não temos nenhuma indicação de onde Lucas escreveu Atos. Haveria ele
já escrito partes antes de acompanhar Paulo em sua viagem a Roma? Pôde
manter seus documentos a salvo durante o naufrágio em Malta? Terminou o
livro em Roma durante os dois anos da prisão domiciliar de Paulo?
Podemos multiplicar as perguntas, porém não podemos dar respostas
definidas. Alguns estudiosos apontam Acaia como o possível local da
composição de Atos. Outros apontam Roma.”13

Isso no leva a crer que temos muitos questionamentos sobre o local da


escrita, mas poucos, ou nenhum fato.

1.2.1.5 Propósito

Quanto ao propósito do livro, os estudiosos se dividem em duas ideias


principais. O primeiro argumento diz que o propósito do livro é apologético. Quem
defende essa tese diz que o livro visa defender a autoridade apostólica de Paulo
diante de Pedro. Embora o livro faça paralelos entre os dois apóstolos, dificilmente
esse seja o propósito de Lucas.14
Outro ponto defendido pelos estudiosos, ainda dentro da questão
apologética, é que o propósito do livro é defender o cristianismo diante dos
governantes romanos. Este argumento também encontra algumas dificuldades, pois
grande parte das perseguições sofridas pelos cristãos vieram de fontes judaicas.
Existem grandes objeções quanto ao propósito apologético do livro, entre
elas está do porquê Lucas inclui o naufrágio registrado em atos 27, sendo que esse
episódio não tem fim apologético. Outra objeção é o fato de que Atos é uma
continuação do evangelho de Lucas (Atos 1.1), e no primeiro livro não encontramos
nenhuma evidência que corrobore a questão apologética no segundo livro.15
Podemos concordar que a questão apologética está contida no livro de
Atos, mas esse assunto é apenas uma questão secundária no propósito do livro.
Ao analisarmos o propósito do livro devemos olhar Atos como uma
continuação do evangelho de Lucas. Com esse objetivo em mente podemos concluir
que:
1) Em primeiro lugar o objetivo de Atos é confirmar o evangelho de

13
(KISTEMAKER, 2016, p. 43)
14
WALVOORD, J. F.; ROY, B. D. The Bible Knowledge Commentary. 1ª. ed. Wheaton: Victor
Books, 1985. Pg 350
15
(WALVOORD e ROY, 1985, p. 351)
13

Lucas. No primeiro livro, Lucas registrou a atividade salvífica de Jesus,


em Atos, Lucas mostra como a igreja proclamava e confirmava essa
salvação.16
2) Em segundo lugar, olhando para Lucas/Atos, vemos como Lucas
demonstra que a vinda de Jesus cumpriu as profecias do AT, como
também o surgimento da igreja e a extensão da salvação (Atos 2.21
com paralelo Jl 2.28-32). Lucas mostra que antes o evangelho era
exclusividade dos judeus, mas agora estava sendo pregado também
aos gentios, como os antigos profetizaram.17
3) Em terceiro lugar, vemos que o propósito explicito de Lucas foi
escrever uma carta a Teófilo para confirmar a fé daquele fornecendo-
lhe uma narrativa cronológica dos fatos. Lucas demonstra que o
evangelho trouxe os fatos acerca do ministério de Jesus e Atos
demonstra como a pregação do evangelho, através da ação do
Espírito Santo, trouxe às pessoas a experiência da salvação.18
Diante desses fatos podemos concluir que o propósito do livro de Atos
pode ser declarado da seguinte maneira:

“Explicar com o Evangelho de Lucas o progresso ordenado e


soberanamente dirigido da mensagem do reino dos judeus aos gentios, e de
Jerusalém a Roma. No Evangelho de Lucas, a pergunta é respondida: “Se o
cristianismo tem suas raízes no Antigo Testamento e no judaísmo, como se
tornou uma religião mundial?” O Livro de Atos continua na veia do
Evangelho de Lucas para responder ao mesmo problema.19

Podemos concluir que Lucas mostra como a mensagem passou dos


judeus para os gentios e de Jerusalém para Roma. E essa progressão é dirigida de
forma soberana. Inclusive o tema da soberania de Deus está presente no livro
quando percebemos que apesar das fortes oposições sofrida pela igreja o Senhor
não deixou que as portas do inferno prevalecessem contra ela.20

1.2.2 Contexto Remoto

Vimos que um dos propósitos do livro de Atos é mostrar a Teófilo como o

16
MARSHALL, H. I. Atos: Introdução e Comentário. 1ª. ed. São Paulo: Vida Nova, 1982. Pg 18
17
(MARSHALL, 1982, p. 18)
18
(MARSHALL, 1982, p. 19)
19
(WALVOORD e ROY, 1985, p. 351)
20
(MARSHALL, 1982, p. 20)
14

evangelho de Jesus se espalhou por todo o mundo. Por isso o texto chave do livro é
Atos 1.8, onde Jesus, antes de subir aos céus, deu orientações aos seus discípulos
de que eles seriam suas testemunhas em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os
confins da terra.
Tendo este propósito em mente, e olhando para todo o livro de Atos, a
pergunta que nos vem à mente é: Onde o texto que vamos estudar se encaixa? Para
responder essa pergunta precisaremos recorrer a um esboço completo do livro como
segue:

Tabela 2 - Esboço do livro de Atos


I.
1.1–26 Antes do Pentecoste II.
1.1–8 A. Antes da Ascensão de Jesus 2.1–8.1a A Igreja em Jerusalém
1. Introdução 1.1–5 2.1–47 A. Pentecoste
2. Propósito 1.6–8 1. Derramamento do Espírito 2.1–13
1.9–11 B. Ascensão de Jesus 2. O Sermão de Pedro 2.14–41
1.12–14 C. Depois da Ascensão de Jesus 3. A Comunidade Cristã 2.42–47
1.15–26 D. A Nomeação de Matias 3.1–5.16 B. O Poder do Nome de Jesus
1. Cumprimento das Escrituras 1.15–20 1. A Cura do Coxo 3.1–10
2. Requisitos Apostólicos 1.21,22 2. O Discurso de Pedro 3.11–26
3. Escolha Divina 1.23–26 3. Perante o Sinédrio 4.1–22
4. As orações da Igreja 4.23–31
5. O Amor dos Santos 4.32–37
6. A Fraude de Ananias 5.1–11
7. Milagres de Curas 5.12–16
5.17–42 C. Perseguição
1. Prisão e Libertação 5.17–20
2. Liberdade e Consternação 5.21–26
3. Acusação e Resposta 5.27–32
4. Sabedoria e Persuasão 5.33–40
5. Regozijo 5.41,42
6.1–8.1a D. Ministério e Morte de Estêvão
1. Nomeação de Sete Homens 6.1–7
2. A Prisão de Estêvão 6.8–15
3. O Discurso de Estêvão 7.1–53
4. A Morte de Estêvão 7.54–8.1a

III. 8.1b–11.18 A Igreja na Palestina


8.1b–3 A. Perseguição IV. 11.19–13.3 A Igreja em Transição
8.4–40 B. O Ministério de Filipe 11.19–30 A. O Ministério de Barnabé
1. Em Samaria 8.4–25 1. A Expansão do Evangelho 11.19–21
2. Ao Etíope 8.26–40 2. A Missão de Barnabé 11.22–24
9.1–31 C. A Conversão de Paulo 3. Os Cristãos em Antioquia 11.25,26
1. Paulo vai a Damasco 9.1–9 4. Profecia e Cumprimento 11.27–30
2. Paulo em Damasco 9.10–25 12.1–19 B. Pedro foge da prisão
3. Paulo em Jerusalém 9.26–30 1. Preso por Herodes 12.1–5
4. Conclusão 9.31 2. Solto por um Anjo 12.6–11
9.32–11.18 D. O Ministério de Pedro 3. A Igreja em oração 12.12–17
1. Milagre em Lida 9.32–35 4. A Reação de Herodes 12.18,19
2. Milagre em Jope 9.36–43 12.20–25 C. Morte de Herodes Agripa I
3. O Chamado de Pedro 10.1–8 13.1–3 D. Paulo e Barnabé são comissionados
4. A Visão de Pedro 10.9–23a
15

5. A Visita de Pedro a Cesareia 10.23b–48


6. A Explicação de Pedro 11.1–18

V. 13.4–14.28 A Primeira Viagem Missionária


13.4–12 A. Chipre VI. 15.1–35 O Concílio de Jerusalém
1. Sinagoga Judaica 13.4,5 A. A Cronologia
2. Barjesus 13.6–12 15.1–21 B. O Debate
13.13–52. B. Antioquia da Pisídia 1. A Controvérsia 15.1–5
1. Convite 13.13–15 2. O Discurso de Pedro 15.6–11
2. Exame do Antigo Testamento 13.16–22 3. Barnabé e Paulo 15.12
3. A Vinda de Jesus 13.23–25 4. O Discurso de Tiago 15.13–21
4. Morte e Ressurreição 13.26–31 15.22–35 C. A Carta
5. Boas-Novas de Jesus 13.32–41 1. Os Mensageiros 15.22
6. Convite Reiterado 13.42–45 2. A Mensagem 15.23–29
7. Efeito e Oposição 13.46–52 3. O Efeito 15.30–35
14.1–7 C. Icônio
1. A Mensagem Proclamada 14.1–3
2. Divisão 14.4
3. A Fuga 14.6,7
14.8–20a D. Listra e Derbe
1. O Milagre 14.8–10
2. A Resposta 14.11–13
3. A Reação 14.14–18
4. A Reviravolta 14.19,20a
14.20b–28 E. Antioquia da Síria
1. O Fortalecimento das Igrejas 14.20b–25
2. O Relatório a Antioquia 14.26–28

VII. 15.36–18.22 A Segunda Viagem Missionária


15.36–16.5 A. Revisitação às Igrejas VIII. 18.23–21.16 A Terceira Viagem Missionária
1. A Separação 15.36–41 18.23–28 A. Até Éfeso
2. Derbe e Listra 16.1–5 19.1–41 B. Em Éfeso
16.6–17.15 B. Macedônia 1. O Batismo de João 19.1–7
1. O Chamado Macedônio 16.6–10 2. O Ministério de Paulo 19.8–12
2. Filipos 16.11–40 3. O Nome de Jesus 19.13–20
3. Tessalônica 17.1–9 4. O Plano de Paulo 19.21,22
4. Bereia 17.10–15 5. A Queixa de Demétrio 19.23–41
17.16–18.17 C. Grécia 20.1–21.16 C. Até Jerusalém
1. Atenas 17.16–34 1. Pela Macedônia 20.1–6
2. Corinto 18.1–17 2. Em Trôade 20.7–12
18.18–22 D. Volta a Antioquia 3. Em Mileto 20.13–38
4. A Viagem 21.1–16

IX. 21.17–26.32 Em Jerusalém e Cesareia X. 27.28–31 A Viagem e Permanência em Roma


21.17–23.22 A. Em Jerusalém 27.1–44 A. De Cesareia a Malta
1. A Chegada de Paulo 21.17–26 1. A Creta 27.1–12
2. A Prisão de Paulo 21.27–36 2. A Tempestade 27.13–44
3. O Discurso de Paulo 21.37–22.21 28.1–16 B. De Malta a Roma
4. O Julgamento de Paulo 22.22–23.11 1. Em Malta 28.1–10
5. A Proteção de Paulo 23.12–22 2. Em Roma 28.11–16
23.23–26.32 B. Em Cesareia 28.17–31 C. O Aprisionamento Romano
1. A Transferência de Paulo 23.23–35
2. Paulo perante Félix 24.1–27
3. Paulo perante Festo 25.1–12
4. Paulo e Agripa II 25.13–27
5. O Discurso de Paulo 26.1–32
16

Fonte: (KISTEMAKER, 2016, p. 58-62)

Podemos perceber na tabela acima que o livro de Atos está dividido em


10 seções. A perícope que vamos estudar está na terceira seção onde, após uma
perseguição, os discípulos se espalham por toda a região da Judeia e Samaria.

1.2.3 Contexto próximo

Como vimos na tabela acima a nossa perícope se encontra na terceira


seção do livro de Atos. A seção anterior termina como o helenista Estevão sendo
interrogado pelo Sinédrio com a falsa acusação de falar contra a Lei (Atos 6.8-15).
No capítulo 7 Estevão inicia sua defesa diante do Sinédrio, e com coragem e
ousadia, dada a ele pelo Espírito Santo, baseia sua defesa discorrendo sobre os
patriarcas desde Abraão (v2) até Salomão (v47). No final de seu discurso ele acusa
os antepassados das autoridades judaicas de serem os assassinos dos profetas
(v51-52), e as autoridades atuais de serem os assassinos e traidores do Messias
(v52) e transgressores da Lei (v53). Essas acusações causaram grande revolta às
autoridades (v54), que o arrastam para fora da cidade e o apedrejam até a morte
(v58-60).
Todo esse acontecimento provocou uma grande perseguição aos cristãos
de Jerusalém, o que os obrigou a fugir para as regiões da Judeia e Samaria. Os
únicos que ficaram na cidade foram os apóstolos.
Entre os fugitivos estava um jovem chamado Filipe, que no capítulo 6 foi
um dos sete escolhidos como diácono, juntamente com Estevão (At 6.5). Esse
jovem prega em Samaria (At 8.5), que é uma cidade odiada pelos judeus, e os
samaritanos, vendo os sinais que Filipe fazia, eram convencidos pelo Espírito Santo.
Esse episódio fez com que os apóstolos enviassem uma comissão,
formada por Pedro e João, até a cidade para verificar a veracidade dos
acontecimentos (At 8.14-25). Chegando lá oraram com aquele povo e impuseram a
mão sobre eles e receberam o Espírito Santo (At 8.15).

1.3 CONTEXTO CANÔNICO

Atos 8.4-8 não tem paralelos e nem citações diretas com o Antigo
Testamento. As inferências que podemos fazer são duas, e estão ligadas com o
17

Novo Testamento.
A primeira inferência tem cunho escatológico, pois em Mateus 24.14 em
seu sermão escatológico, Jesus profetiza que o evangelho do reino será pregado a
todas as nações e então virá o fim. Essa profecia vai se cumprindo em todo o livro
de Atos e tem seu ponto de partida quando Pedro prega em Jerusalém e três mil
pessoas são convertidas. Aqui em Atos 8.4-8, vemos a continuidade dessa profecia
quando Filipe prega aos Samaritanos, que é uma nação rejeitada por Israel, e que
nesse caso se encaixa na descrição de nação gentia.
A outra inferência também tem a ver com uma profecia de Jesus que está
registrada em Atos 1.8. Ali Jesus diz que os discípulos seriam suas testemunhas em
Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. Essa passagem também vai
se cumprindo em todo livro de Atos, mas ela tem uma ligação mais intima com o
capítulo 8.4-8, pois é aqui que o evangelho é pregado e os Samaritanos recebem o
Espírito Santo pela primeira vez.

2 ESTUDO TEXTUAL

2.1 VARIANTE TEXTUAL – ATOS 8.5

Tabela 3 - Variante Textual 1

Verso WH NA28 Treg RP


5 + τὴν - τὴν

Figura 1 - Texto NA28 Apresentando a Variante 1


18

Fonte: SBLGNT

2.1.1 Leitura da Variante

Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort, The New Testament
in the Original Greek, vol. 1: Text; vol. 2: Introduction [and] Appendix (Cambridge:
Macmillan, 1881). Representantes da edição NA28 acrescentam o artigo definido τὴν
onde a leitura do texto fica: “Filipe descendo à cidade de Samaria”. Já os editores
Samuel Prideaux Tregelles, The Greek New Testament, Editado a partir de
autoridades antigas, com suas várias leituras na íntegra, e a versão latina de
Jerônimo (London: Bagster; Stewart, 1857–1879) e The New Testament in the
Original Greek: Byzantine Textform 2005, compilado e organizado por Maurice A.
Robinson e William G. Pierpont (Southborough, Mass.: Chilton, 2005), omitem o
artigo definido τὴν ficando a tradução da seguinte forma: “Filipe descendo a uma
cidade de Samaria”.

Conclusão:
Adotamos a primeira tradução, pois ela se encaixa melhor no contexto da
perícope. Se adotarmos a segunda tradução, temos que crer que Lucas está se
referindo a uma região específica e não a uma cidade, assim como Jesus fez em
Atos 1.8 onde nessa ocasião nosso Senhor estava se referindo à região de Samaria.
Mas neste caso Lucas se refere a uma cidade específica e podemos perceber isso
levando em consideração o verso 8 onde o autor diz que “e houve grande alegria
naquela cidade”, se Lucas estivesse se referindo a uma região, no verso 8 seria
mais lógico escrever: “e houve grande alegria naquela região”. O que não foi o caso.
Devido a isso adotamos a seguinte tradução: “Filipe descendo à cidade de
Samaria”.

2.2 TRADUÇÃO LITERAL DO TEXTO

Tabela 4 - Tradução Literal


19

Verso Texto Grego Tradução Literal


21 22 Os certamente portanto, (que haviam sido)
Οἱ μὲν οὖν διασπαρέντες διῆλθον
4 dispersos20, iam21 (por toda a parte)
εὐαγγελιζόμενοι23 τὸν λόγον.
anunciando as boas novas22 da Palavra
Φίλιππος δὲ κατελθὼν24 εἰς τὴν πόλιν τῆς Filipe, também, descendo23 em a cidade de
5
Σαμαρείας ἐκήρυσσεν25 αὐτοῖς τὸν χριστόν. Samaria anunciava24 para eles a Cristo
Atentando25 e a multidão, a dizia26 por meio de
προσεῖχον26 δὲ οἱ ὄχλοι τοῖς λεγομένοις27 ὑπὸ
Filipe, de comum acordo em o
6 τοῦ Φιλίππου ὁμοθυμαδὸν ἐν τῷ ἀκούειν28
compreendendo27 eles, e vendo28 os sinais que
αὐτοὺς καὶ βλέπειν29 τὰ σημεῖα ἃ ἐποίει30·
fazia29.
πολλοὶ γὰρ τῶν ἐχόντων31 πνεύματα ἀκάθαρτα Muitos pois, os possuídos30 de espíritos
7 βοῶντα32 φωνῇ μεγάλῃ ἐξήρχοντο33, πολλοὶ δὲ impuros, gritando31 (em) voz alta saiam32;
παραλελυμένοι καὶ χωλοὶ ἐθεραπεύθησαν34· muitos paralíticos e coxos eram curados33.
8 ἐγένετο35 δὲ πολλὴ χαρὰ ἐν τῇ πόλει ἐκείνῃ. Houve34 e grande alegria em a cidade aquela.

Fonte: (HOMES, 2011-2013)

2.3 ESBOÇO MECÂNICO DO TEXTO

21
(διασπαρέντες) verbo, aoristo, passivo, particípio, plural, nominativo, masculino (ser disperso como
semente)
22
(διῆλθον) verbo, aoristo, ativo, indicativo, terceira pessoa, plural (Verbo “ir” – iam)
23
(εὐαγγελιζόμενοι) verbo, presente, médio, particípio, plural, nominativo, masculino (Anunciando as
boas novas)
24
(κατελθὼν) verbo, aoristo, ativo, particípio, singular, nominativo, masculino (descendo)
25
(ἐκήρυσσεν) verbo, imperfeito, ativo, indicativo, terceira pessoa, singular (anunciava)
26
(προσεῖχον) verbo, imperfeito, ativo, indicativo, terceira pessoa, plural (Atentando – prestando
atenção)
27
(λεγομένοις) verbo, presente, passivo, particípio, plural, dativo, neutro (dizia)
28
(ἀκούειν) verbo, presente, ativo, infinitivo (Compreendendo – Entender profundamente)
29
(βλέπειν) verbo, presente, ativo, infinitivo (Vendo)
30
(ἐποίει) verbo, imperfeito, ativo, indicativo, terceira pessoa, singular (Fazia)
31
(ἐχόντων) verbo, presente, ativo, particípio, plural, genitivo, masculino (Possuídos – ter em posse
de)
32
(βοῶντα) verbo, presente, ativo, particípio, plural, nominativo, neutro (Gritando)
33
(ἐξήρχοντο) verbo, imperfeito, médio-passivo, indicativo, terceira pessoa, plural (Saia)
34
(ἐθεραπεύθησαν) verbo, aoristo, passivo, indicativo, terceira pessoa, plural (Eram Curados)
35
(ἐγένετο) verbo, aoristo, médio, indicativo, terceira pessoa, singular (Houve)
20

2.3.1 Texto em português

2.3.2 Texto em Grego:


21

2.4 JUSTIFICAÇÃO DOS LIMITES E DIVISÕES DA PERÍCOPE

Analisando o texto proposto identificamos os seguintes elementos que


nos dão base textual para a delimitação do início e do término da perícope:

2.4.1 Delimitação inicial da perícope

A versão grega do novo testamento edição SBL e NA 28 fazem a divisão da


perícope levando em consideração o 8.4-8 como uma sentença completa. Versões
modernas como a NVI, RA, TB 2010 NAA seguem a divisão proposta pela SBL e
NA28. Já as versões RC e NTLH propõem como uma perícope completa os versos
de 4 a 25.
Neste trabalho seguiremos a divisão proposta pela maioria das versões,
no caso dos versos 29-34, pelas seguintes razões:

2.4.1.1 Argumento

O texto grego inicia a perícope com a expressão (Οἱ μὲν οὖν διασπαρέντες –
Portanto, os que haviam sido dispersos...). Esta cláusula é chamada de
enquadramento tópico, e sua função é de apresentar novos participantes ou
conceitos, que neste caso, o novo conceito apresentado é a pregação da palavra
pelos que estavam sendo dispersos. Outra função do enquadramento tópico é de
chamar a atenção para a mudança no assunto, neste caso, a mudança ocorrida foi
que além da perseguição há o acréscimo da pregação da palavra.
Outra parte importante é que a expressão (οὖν – Portanto) forma um
contraponto, que tem uma função dupla de fazer uma ligação entre a perícope
anterior e chamar a atenção para uma nova perícope que se inicia.36

2.4.1.2 Personagem

Outro fator que nos leva a crer que se trata do início de uma nova
perícope é o reaparecimento de um personagem que estava inativo na narrativa,
neste caso, Filipe. Note que o evangelista aparece primeiro no capítulo 6.5 onde ele
é eleito um dos 7 diáconos. Logo após, ele sai de sena para a entrada de Estevão,
36
SILVA, C. M. D. D. Metodologia de Exegese Bíblica. 2ª. ed. São Paulo: Paulinas, 2000. Pg 70
22

que passa a ser o assunto até o capítulo 7.60. Filipe volta a aparecer no capítulo 8.5,
sendo um dos dispersos por causa da perseguição.37

2.4.2 Delimitação Final da Perícope

2.4.2.1 Ação ou função terminal

No verso 8 vemos a reação dos moradores de Samaria sobre as ações do


Espírito Santo através de Filipe. As pessoas eram curadas, os demônios eram
expulsos, e o evangelho era aceito. Diante disso o texto nos diz que “houve grande
alegria naquela cidade”. Essa frase indica o encerramento da perícope, pois mostra
o resultado da pregação de Filipe.

2.4.3 Elementos que aparecem ao longo do texto

Ao analisarmos encontramos os seguintes elementos contidos ao longo


do texto que indicam que Atos 8.4-8 se trata de uma perícope completa.

2.4.3.1 Campo Semântico

A perícope trata de Filipe descendo à cidade de Samaria para pregar a


Palavra àquelas pessoas. Com isso podemos perceber que o campo semântico
dessa parte do texto é de “pregação ou anúncio”. Ao observarmos os versos,
podemos notar que a palavra pregação e suas variantes aparecem no texto 3 vezes,
nos versos 4-6. Nos versos seguintes vemos o resultado que a pregação obteve
naquela cidade. Portanto o tema principal dessa perícope é a pregação do
evangelho e suas consequências, e as palavras relacionadas a esse tema são:
“pregando a palavra”, “anunciava-lhes a Cristo”, às coisas que Filipe dizia” e “os
espíritos imundos saíam” “muitos foram curados” e por fim “houve grande alegria”.
Indicando assim se tratar de uma perícope completa.

2.5 COMENTÁRIO

2.5.1 Filipe prega em Samaria (8.4)

Verso 4 - Portanto, (os que haviam sido) dispersos, iam (por toda a

37
(SILVA, 2000, p. 70, 71)
23

parte) anunciando as boas novas da Palavra.

Em Atos 1.8 a ordem de Jesus para seus discípulos era de serem suas
testemunhas em todos os lugares começando por Jerusalém. Mas muitos ainda
permaneciam na cidade, sendo necessário que se levantasse uma perseguição para
que a ordem de Cristo fosse cumprida. E foi exatamente o que aconteceu.
No capítulo 8.1 vemos que após a morte de Estevão, se levantou uma
grande perseguição contra a igreja em Jerusalém, e todos, exceto os apóstolos,
foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria, cumprindo assim a ordem que o
Senhor deu em Atos 1.8.
Portanto: A perícope que se inicia em At 8.4 utiliza esta palavra que
serve de ligação com o parágrafo anterior. Indica que apesar da perseguição
levantada contra os cristãos, encabeçada por Paulo, e de terem que abandonar tudo
para fugir da morte, não desencorajou os cristãos de pregar o evangelho por onde
quer que passassem.
Os que haviam sido dispersos: Como vimos, a morte de Estevão
acarretou uma grande perseguição contra os cristãos (Atos 8.1), que os obrigou a
fugir para não serem mortos pelos judeus. Essa perseguição era encabeçada por
Saulo que assolava a igreja (At 8.3).
Outro detalhe muito importante é que os primeiros evangelistas
transculturais da igreja não foram os apóstolos, pois esses permaneciam em
Jerusalém (At 8.1), mas foram judeus de fala grega, ou seja, os helenistas. Tanto
Estevão, de forma indireta, quanto Filipe, de forma direta, instigaram a missão
mundial da igreja para fora dos arraiais de Jerusalém.
A palavra grega traduzida por “dispersos”, é o termo usado para indicar
sementeira, semeadura ou espalhar sementes. A perseguição fez com a igreja
aquilo que o vento faz com a semente, espalhando com o fim de aumentar a
colheita.38
...iam (por toda a parte). A palavra grega utilizada para “iam por toda a
parte” é (διῆλθον – diēlthon), essa palavra é utilizada com muita frequência por Lucas
tanto no evangelho (10 vezes) quanto no livro de Atos (20 vezes), sendo que em
todo o novo testamento a ocorrência é de 41 vezes. E neste contexto ela é
normalmente empregada para descrever viagens missionárias.
38
LOPES, H. D. Atos: A Ação do Espírito Santo na Vida da Igreja. 1ª. ed. São Paulo: Hagnos, 2012.
Pg 169 - 170
24

O gráfico abaixo nos ajuda a perceber a importância que Lucas deu a


essa palavra em seus escritos:

Figura 2 - Ocorrência da Palavra " διῆλθον " no NT

Fonte: Software Bíblico Logos

...anunciando as boas novas da Palavra: Outra frase importante aqui é


“Anunciando as boas novas” ou “pregando” (εὐαγγελιζόμενοι – euangelizomenoi).
Nesta conjugação a palavra é encontrada sete vezes no Novo Testamento, e todas
nos escritos de Lucas (Lc 9.6; At 5.42; 8.4; 11.20 14.7; 14.15; 15.35), e demonstram
um contexto de missão evangelística, onde há um povo ouvinte e um interlocutor
transmitindo a Palavra.
Este primeiro verso é de característica transicional, pois serve de ponte
para ligar a narrativa anterior com a narrativa que se seguirá, e faz um resumo do
assunto que seguirá em toda a perícope. Com isso podemos perceber qual será o
tom adotado por Lucas no decorrer dessa passagem, ou seja, um tom de pregação
da palavra com característica evangelística.

Verso 5 - Filipe, também, descendo à cidade de Samaria anunciava


para eles a Cristo

Dos sete diáconos escolhidos para servir as mesas em Atos 6.1-7, dois
exerceram papéis importantes. O primeiro foi Estevão, que foi morto pelo sinédrio, e
sua morte acarretou a perseguição que obrigou os cristãos a se espalharem (Atos
7.54-60). E Filipe que foi o primeiro a ser chamado de evangelista em Atos 21.8, e
não pode ser confundido com o apóstolo com o mesmo nome (Mt 10.2-4).
Podemos ver o ministério do evangelista Filipe retratado em três cenários
25

evangelísticos: Samaria (At 8.4-25), Eunuco Etíope (At 8.26-40), na região costeira
da Palestina (At 8.40).
Filipe, também, descendo à cidade de Samaria... Apesar de Samaria
estar no norte da Judéia, geograficamente, quem saísse de Jerusalém precisaria
subir à Samaria. Mas na tradição judaica as pessoas “subiam” à Jerusalém e
“desciam” de lá para qualquer lugar.39
Outro detalhe importante para ponderarmos, é que Samaria era um local
estratégico para iniciar a missão de pregação do evangelho, pois a cidade estava no
meio do caminho entre Jerusalém e os confins da terra.
No antigo testamento Samaria era a capital do Reino do Norte de Israel e
posteriormente foi reconstruída por Herodes o Grande e passou a se chamar
Sebaste.
Havia uma grande rivalidade entre os Samaritanos e os Judeus pelo fato
de os samaritanos serem uma raça de ascendência mestiça, e isso criava barreira
entre os judeus de linhagem pura.
No século VIII a.C., os assírios invadiram o reino do Norte de Israel cuja
capital era Samaria, e deportaram a maioria de seus habitantes para uma cidade
estrangeira, e foi aí que os samaritanos se misturaram com esse povo e se tornaram
uma raça mestiça, e isto era um crime imperdoável para um judeu.
Por outro lado, quando o reino do Sul foi invadido pela Babilônia no
século VI a.C, e foi levado cativo para um país estrangeiro, eles se recusaram a se
misturar com os moradores da babilônia, mantendo assim a pureza racial do povo.
No século V a.C, o rei da Babilônia permitiu que os judeus voltassem para
reconstruir a cidade, o que foi feito através de Esdras e Neemias. Neste tempo o
povo que tinha ficado em Samaria se ofereceu para ajudar na reconstrução o que foi
negado porque não eram judeus puros. E a partir daí houve um ódio incurável entre
judeus e samaritanos.

“O fato de que Filipe pregasse aqui, que os apóstolos viessem, que a


mensagem de Jesus se desse a esta gente, mostra a Igreja dando
inconscientemente um dos passos mais importantes de sua história. Sem
dar-se conta estão descobrindo que Cristo é para todo o mundo.”40

Não é correto dizer que a missão à Samaria seria a primeira tentativa de


39
EARLE, R.; MAYFIELD, J. H. Comentário Bíblico Beacon: João a Atos. 1ª. ed. Rio de Janeiro:
CPAD, v. 7, 2006. Pg 266
40
WILLIAM, B. Comentário do Novo Testamento: Atos. [S.l.]: [s.n.]. Pg 61
26

evangelizar os gentios, pois os judeus não consideravam os samaritanos como tal.


Para os judeus, os samaritanos não eram gentios, mas faziam parte das ovelhas
perdidas da casa de Israel. Inclusive o próprio Lucas já tinha escrito dizendo que os
samaritanos eram pessoas que observavam a lei e que demonstravam mais piedade
do que muitos judeus (Lc 10.33-37; 17.11-19).41
...anunciava para eles a Cristo: Jesus já havia, por dois dias, pregado
aos samaritanos após uma conversa que teve com uma mulher na cidade de Sicar,
perto da fonte de Jacó (Jo 4.1-30), e ali anunciou seu caráter messiânico àquela
mulher e sua vila.42 Mas aqui não era o Cristo quem estava pregando, mas era Filipe
que estava pregando sobre Cristo. Este episódio é a segunda parte do cumprimento
da promessa feita por Jesus em Atos 1.8.
Aqui podemos notar a quebra de um paradigma antigo, pois percebemos
que a mensagem do evangelho não é mais exclusividade de Israel, agora pertencia
a todos os povos, mesmo aqueles que eram odiando pelos judeus. O Espírito estava
mostrando a todos que a salvação também pertencia aos gentios, não por
merecimento, mas pela graça de Jesus Cristo.
Verso 6 – Atentando a multidão, compreendiam de forma unânime,
ao que Filipe dizia, e vendo os sinais que fazia.
Kistemaker diz que existe um paralelo entre a pregação dos apóstolos em
Jerusalém e a de Filipe em Samaria. No dia de Pentecostes, os apóstolos pregavam
e milhares de pessoas iam ouvi-los. Em Samaria acontecia o mesmo com Filipe. Em
seguida os discípulos, em Jerusalém, realizavam grandes milagres entre o povo. Em
Samaria Filipe, além de anunciar a Cristo, também fazia milagres. Com isso
Kistemaker conclui dizendo que o dom de pregar e realizar milagres não estava
restrito aos apóstolos.43
A construção grega dos verbos (ἀκούειν – compreendiam) e (βλέπειν –
vendo), indicam que eles estão conjugados no infinitivo presente. E o verbo (ἐποίει· -
fazia) está conjugado no imperfeito do indicativo. Esses verbos demonstram uma
ação contínua tanto dos samaritanos quanto de Filipe, ou seja, o evangelista
continuava realizar milagres à medida que as multidões continuavam a ouvi-lo e a
observá-lo. Por meio disso os samaritanos davam total atenção à Filipe e assim
abraçaram a fé em Cristo.
41
(MARSHALL, 1982, p. 146)
42
(UTLEY, 2010, p. 122)
43
(KISTEMAKER, 2016, p. 373-374)
27

O fato de Filipe fazer milagres e sinais enquanto pregava era uma forma
de autenticar sua mensagem diante da multidão, isso fazia com que o povo se
atentasse ao que o evangelista dizia. Esse fato também aconteceu com os apóstolos
como podemos ver em Atos 2.43.44
O conteúdo da pregação de Filipe era a mensagem do Reino de Deus e
do nome de Jesus, o Messias, como nos informa Lucas em Atos 8.12. Com isso
podemos perceber que desde o início, o conteúdo do evangelho é o Reino de Deus
através do nome de Jesus, e essa é a substância do evangelho até o último livro da
Bíblia.
Verso 7 – Pois, os espíritos impuros de muitos possuídos, saiam
gritando (em) alta voz; muitos paralíticos e coxos eram curados.
A pregação de Filipe foi acompanhada pelos mesmos sinais que já tinham
sido vistos nos ministérios de Jesus e dos apóstolos, e serviam de base para
autenticar o ministério desses irmãos diante do povo que os ouvia. Porém a ênfase
não estava nos feitos miraculosos, mas na mensagem. A principal função de Filipe
não era realizar milagres e sim pregar o evangelho do Reino.
Quando Jesus começou seu ministério Satanás tinha sobre sua posse
inúmeras pessoas que eram possuídas e escravizadas por ele (Mc 1.23-26). No
tempo dos apóstolos a possessão demoníaca continuou. Temos registro de Pedro
expulsando demônios das pessoas das cidades vizinhas que vinham até ele (At
5.16), vemos também Paulo libertando uma escrava que estava possessa (At 16.16-
18) e quando pregava em Éfeso (At 19.12). Pedro Paulo e Filipe sabiam que
estavam confrontando a oposição de Satanás contra Jesus e que ao libertarem as
pessoas da escravidão de Satanás estavam anunciando a chegada do Reino de
Deus àquelas pessoas (Lc 11.20).
Verso 8 – E houve grande alegria naquela cidade
Com a pregação do Evangelho, a cura de várias pessoas e a expulsão de
demônios que mantinham aquelas pessoas cativas o resultado não podia ser outro.
Neste verso nós podemos conferir o resultado da pregação e dos milagres feitos por
Filipe em Samaria. Por meio do ministério de Filipe os samaritanos recebiam cura
física e libertação espiritual, e isso trazia grande alegria àquele povo. Além do mais,
eles estavam produzindo um dos frutos do Espírito que é a alegria, como disso
Paulo ao escrever aos gálatas (Gl 5.22).
44
(TOUSSAINT, 1985, p. 372)
28

Toussaint diz que um dos subtemas do livro de Atos é a alegria, pois uma
igreja vitoriosa é uma igreja alegre.45 Quando a igreja crescia, e o Senhor ia
acrescentando dia a dia os que iam sendo salvos, Lucas registra que o sentimento
que invadia a igreja naquele momento era a alegria (At 2.42-47). E com os
samaritanos não era diferente, pois o mesmo Espírito que gerava alegria no coração
dos irmãos em Jerusalém infundia esse mesmo sentimento nos corações dos
samaritanos.

2.6 MENSAGEM PARA A ÉPOCA DA ESCRITA

O propósito de Lucas ao escrever o livro não era fazer um relato histórico


sobre a vida dos apóstolos, nem mesmo sobre a vida de Jesus, mas a intenção dele
foi escrever para Teófilo, um gentio convertido ao cristianismo, e mostrar que o
evangelho não era mais exclusividade de uma nação apenas, mas de todos os
povos.
Quando Lucas termina de escrever o evangelho fica uma lacuna, pois
nesse primeiro livro o evangelista mostra a mensagem sendo levada apenas para o
povo de Israel. Então Lucas escreve esse segundo livro para convencer Teófilo que
ninguém pode vencer o progresso do evangelho nem em Jerusalém, nem na Judeia
e nem nos confins do mundo.

Em seu primeiro livro, Lucas revela que Jesus é o Messias a respeito de


quem os profetas do Antigo Testamento profetizaram e que viria para
cumprir as promessas messiânicas. Em seu segundo livro, ele retrata como
o evangelho entra no mundo e como o nome de Jesus é proclamado a
todas as nações.46

Diante dessas informações podemos perceber que a mensagem para os


leitores originais era de esperança, pois o evangelho não era exclusivo. Agora os
gentios poderiam se regozijar pois eles também faziam parte do Reino de Deus.
Quando Lucas narra a história do evangelho sendo pregado aos
samaritanos ele está mostrando que a promessa feita em Atos 1.8 estava sendo
cumprida em sua segunda fase e que nada impediria que o a mensagem chegasse
até os confins da terra.

45
(TOUSSAINT, 1985, p. 360)
46
(KISTEMAKER, 2016, p. 55)
29

2.7 MENSAGEM PARA TODAS AS ÉPOCAS

A mensagem que Lucas deixa para todas as épocas também é de


esperança, pois apesar das descobertas do conhecimento científico e do
crescimento dos pensamentos filosóficos, a mensagem do evangelho nunca se
tornou desatualizada. Ela ainda fala de esperança. Por isso, assim como Filipe
pregou Cristo aos samaritanos, devemos também pregar a mesma mensagem aos
perdidos. Assim como o evangelho teve o poder de transformar a vida dos
samaritanos, ao ponto de trazer alegria àquela cidade, também tem o poder de
transformar nossa geração e trazer alegria a esse mundo cheio de tristeza.
A mensagem que as gerações precisam não está nos livros de autoajuda
ou nas religiões pagãs espalhadas por aí, está no evangelho, pois somente Cristo
tem a mensagem de vida eterna.

2.8 TEOLOGIA DO TEXTO

2.8.1 Implicações para a teologia bíblica

Enquanto o evangelho era pregado os perdidos respondiam com


arrependimento. Neste sentido o povo de Deus foi chamado para alcançar aqueles
que anteriormente estavam excluídos da esperança da salvação (Lc 3.8-14; 5.32; At
3.19; 5.31; 26.18). Filipe quando pregava aos samaritanos estava cumprindo esse
propósito. E mais tarde os não judeus foram incluídos conforme o Senhor agia
espalhando o evangelho até às extremidades da terra (At 1.8; 10-11; 15.14-21).
Ao fazermos um paralelo entre os dois livros escritos por Lucas podemos
perceber que há uma transição muito sutil entre a história de Israel para a história de
Jesus. Os livros de Lucas e Atos pretendem demonstrar que a rejeição e o
sofrimento de Jesus formam parte do plano de Deus (Is 53; Lc 22.37; At 8.26-35).
Quando interpretamos o capítulo 24 de Lucas podemos perceber que Jesus fala de
si mesmo como Messias sofredor.

Portanto, deduz-se que há em Atos aspectos do ministério do Servo do


Senhor que devem ser executados pelos discípulos de Jesus. O
“cumprimento” do papel do Servo do Senhor em sua morte e ressurreição
não esgota o sentido e aplicação dos cânticos do Servo na era messiânica.
Atos 1.8 é uma predição de como o plano divino será cumprido por meio do
testemunho dos apóstolos. O restante do livro mostra como isso aconteceu,
30

primeiro em Jerusalém (At 2— 7), depois em toda a Judeia e Samaria (At 8


— 11) e, em princípio, “até os confins da terra” (At 13— 28).47

Com isso percebemos que a necessidade de Cristo sofrer e ressuscitar


dos mortos era o tema principal do ensino de Jesus aos discípulos, pois esses
acontecimentos tornaram possível a proclamação do evangelho de arrependimento
e perdão a todas as nações começando por Jerusalém.

2.8.2 Implicações para a teologia sistemática

Palavra como meios de graça: Dentre os meios de graça deixados por


Cristo para a edificação da igreja está a Palavra de Deus. No caso da perícope que
estamos estudando, a pregação da Palavra é o tema principal, pois foi através dela
que Filipe pregou aos samaritanos e foi por meio dela que houve salvação naquela
cidade. John Frame acertadamente diz:

“Pregação (keryssein) no Novo Testamento geralmente costuma ser usada


para a proclamação do evangelho pela primeira vez a determinado grupo,
assim, ela está associada com os elementos mais básicos do evangelho.
Jesus se dedicou à pregação, mas o Novo Testamento usa o termo mais
frequentemente em referência à proclamação apostólica, especialmente a
de Paulo. Os apóstolos pregaram Cristo aos judeus nas sinagogas dos
judeus (como em Atos 9.20), aos samaritanos (8.5) e aos gentios nas
cidades gentias (14.1–7).”48

Percebemos que a doutrina da pregação da palavra como um meio de


graça é algo fundamental para a igreja em sua missão. Pois toda e qualquer ação
praticada pelos filhos de Deus deve ser baseada unicamente nos ensinamentos
escriturísticos e transmitido através da proclamação do Reino de Deus.

Ordo Salutis (Fé, Arrependimento e Justificação e Salvação): Outra


doutrina encontrada nessa perícope é a doutrina da ordem da salvação. A palavra
de Deus gera no coração dos samaritanos um fenômeno produzido pelo Espírito
Santo que leva a conversão daquela gente.
A fé que vemos produzida é a chamada “Fé Salvadora”. A pregação da
Palavra gera no coração do pecador a fé necessária para crer em Cristo, gerando
assim salvação. Quando Filipe prega e os samaritanos ouvem e recebem a palavra.

47
ALEXANDER, D.; ROSNER, B. S. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. 1ª. ed. São Paulo: Vida,
2009. Pg 421
48
FRAME, J. A Doutrina da Palavra de Deus. 1ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. Pg 222 - 223
31

A fé trabalha nos corações dos pecadores, conduzida pelo Espírito Santo, gerando
arrependimento e consequentemente salvação, a consequência disso é a alegria
experimentada por aquele povo, pois eram pecadores condenados, agora são
crentes justificados.
Curas e Milagres: Uma das consequências da pregação da Palavra no
meio dos samaritanos foi a expulsão de demônios e a cura dos enfermos. Esses
acontecimentos extraordinários serviram para testificar o ministério de Filipe e provar
a veracidade da mensagem pregada por ele.
Hoje temos aqueles que acreditam que esses milagres ainda são
necessários, são os chamados continuístas. Já a outra vertente entende que, apesar
de Deus ter o poder de curar de forma miraculosa, esses acontecimentos não são
mais necessários nos dias de hoje pelo fato do cânon das Escrituras estarem
concluídos, esses teólogos são chamados de cessacionistas. Berkhof é um dos
teólogos que defendem a ideia da cessação dos dons de cura:

“Entre os cristãos primitivos havia alguns que tinham o dom de cura e que
podiam fazer milagres, 1Co 12.9,10,28,30; Mc 16.17,18. Todavia, esta
condição extraordinária logo cedeu lugar às condições comuns, nas quais a
Igreja efetua o seu trabalho pelos meios ordinários.”49

Como esses dons serviam para atestar e confirmar a mensagem dos


primeiros pregadores do evangelho, hoje não se faz mais necessário esse método,
pois o que serve de comprovação para a veracidade da mensagem é a própria
revelação especial de Deus. A sua Palavra.

2.8.3 Implicações para a teologia prática

Evangelização e Pregação da Palavra: Uma das coisas que ficam bem


claras nesse texto é que a pregação do evangelho não estava restrita aos apóstolos
e aos mestres da igreja. Vemos que por onde aqueles irmãos passavam eles
pregavam o evangelho, seja um líder como Filipe ou um leigo cheio do Espírito. O
que os capacitava era o Espírito de Cristo.
Quando somos chamados pelo Senhor para fazer parte de sua igreja, nós
também somos chamados para pregar e anunciar as boas novas do Reino a todas
as pessoas. Muitos cristãos comentem o erro de deixar essa responsabilidade para
o pastor da igreja, ou missionário contratado para este fim, mas isso é terceirizar
49
BERKHOF, L. Teologia Sistemática. 4ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. Pg 554
32

uma obrigação que cabe a todo aquele que é chamado. Por isso a prática da
evangelização através da pregação do evangelho deve ser cultivada, pois o não
cumprimento desse mandamento acarretará um grave pecado contra o Senhor.
Uma característica marcante desse texto é a forma como ele demonstra o
poder transformador do evangelho. Quando Filipe anuncia a verdade falando de
Cristo, aquela cidade enfrenta uma transformação nunca vista antes, pessoas sendo
curadas, demônios sendo expulsos, charlatões sendo revelados. Aqui vemos que a
chave para a transformação da sociedade não está em técnicas ou projetos sociais,
está na pregação e prática das Escrituras. Uma sociedade só será perfeita quando
ela conseguir ser parecida com Cristo, em seu caráter, sua justiça e seus preceitos.
Por isso a igreja não deve abandonar a pregação genuína do Evangelho, esse deve
ser o propósito de todo líder ao subir em um púlpito no domingo, não falar de si
mesmo, mas falar de Cristo, levando as pessoas ao arrependimento.

2.9 SERMÃO

Título: O Evangelho em Samaria


Tema: Resultados da Pregação do Evangelho em Samaria
Doutrina: Salvação, Fé, Arrependimento, Justificação, Curas, Pregação
Ideia Exegética: Uma grande perseguição leva Filipe a pregar aos
Samaritanos.
Ideia Homilética: O resultado da pregação do evangelho em Samaria
levou os samaritanos a conhecer Jesus, serem curados e libertos dos espíritos
imundos e isso promoveu alegria entre eles.
Necessidade: Assim como Filipe fez Cristo ser conhecido entre os
Samaritanos e isso produziu alegria entre eles, nós também precisamos fazer o
Senhor ser conhecido entre os povos de nossa época que estão necessitados da
verdadeira alegria.
Imagem: Narrativa – Narra as ações do evangelista Filipe aos pregar aos
samaritanos e as consequências dessa pregação.
Objetivo: Espero que esse sermão desperte nos ouvintes a necessidade
de anunciar o evangelho aos perdidos, mostrar a eles que a nossa esperança não
está em um rei ou governante terreno, e que não devemos esperar deles a mudança
necessária para trazer alegria a nossa sociedade, ao invés disso devemos anunciar
33

Cristo a todos, para que o conhecendo, possam se arrepender e crer no evangelho e


serem salvos pelo nosso Senhor e com isso alcançar a alegria.

2.10 ESBOÇO

Introdução:
Estevão estava diante do Sinédrio sendo interrogado, e diante das
acusações feitas, ele se defende discorrendo sobre a vida dos patriarcas e a partir
daí anuncia a Cristo àquelas autoridades. No final do seu discurso ele acusa aqueles
homens de terem traído e matado o Messias e isso acendeu a ira desses homens
que resolveram matar Estevão.
Este episódio fez levantar uma grande perseguição contra os cristãos em
Jerusalém o que levou os irmãos a fugirem para as regiões vizinhas, e por onde eles
iam pregavam o evangelho. Um dos fugitivos era Filipe, o evangelista que foi eleito
diácono junto com Estevão no capítulo 6. Ele chega em Samaria e começa a
anunciar Cristo aos samaritanos que se arrependem e creem no evangelho.
Diante disso, quero falar sobre os resultados da pregação do evangelho
em Samaria:

1. Fez Cristo ser conhecido (v4-5)


2. Trouxe cura e Libertação (v6-7)
3. Promoveu alegria (v8)

Conclusão
Vemos que não precisamos de estratégias mirabolantes para anunciar
Cristo aos perdidos. O que precisamos é de conhecimento de quem é Jesus e qual o
seu plano para salvar o perdido, de sermos conduzidos pelo Espírito Santo para que
nossa mensagem seja confirmada pelo poder do evangelho e por fim mostrar as
pessoas que a verdadeira alegria está em conhecer e fazer Cristo ser conhecido.

Aplicação:
A pregação do evangelho de Cristo ainda é urgente para nós hoje, a
ordem dada por Cristo no início da igreja não foi revogada, ela durará até a vinda do
Senhor e a restauração de toda as coisas, onde o evangelho não precisará mais ser
34

pregado. A pregação do evangelho não pode ser negligenciada pela igreja, pois
esse é o meio pelo qual glorificaremos a Deus. Como as pessoas podem glorificar
um Deus que elas não conhecem? Por isso que o apóstolo Paulo, quando escreveu
aos coríntios disse:

“Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam


sabedoria; 23 mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para
os judeus, loucura para os gentios; 24 mas para os que foram
chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de
Deus e sabedoria de Deus. 25 Porque a loucura de Deus é mais sábia
do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os
homens. 1Co 1.22–25.50

Assim como Paulo e Filipe, devemos continuar a pregar o evangelho


simples e puro sem adições ou subtrações, apenas o evangelho e nada mais, pois
nele contém a palavra de eterna alegria para todos os que creem.

3 CONCLUSÃO:

Esse estudo nos levou a refletir sobre a misericórdia de Deus revelada em


jesus. Pois agora os gentios podem fazer parte do povo santo de Deus através da
obra expiatória de Cristo. Essa salvação que antes estava restrita à nação de Israel,
agora se espalha por todo o mundo alcançando aqueles que foram destinados a crer
em Cristo. Vemos que nosso Redentor demonstrou misericórdia a quem não
merecia misericórdia, e deu aos pecadores o maior de todos os dons, o da Vida
Eterna.
A relevância deste trabalho está no fato da necessidade da pregação
genuína do evangelho, prática essa cada vez mais rara entre os cristãos
contemporâneos. Isso está nos levando a vivenciar uma sociedade profana, sem
valores morais definidos, cada vez mais longe da verdade. Vemos uma igreja que
não influencia, mas é influenciada, tudo isso é consequência do abandono da
pregação fiel das Escrituras.

50
ALMEIDA, J. F. D. Bíblia Sagrada Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. 2ª. ed.
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
35

Talvez o que precisamos é que uma grande perseguição se levante


contra nós para podermos sair de nosso conforto e pregar a Cristo, assim como
aconteceu com os cristãos em Jerusalém.

4 BIBLIOGRAFIA

ALEXANDER, D.; ROSNER, B. S. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. 1ª. ed. São Paulo:
Vida, 2009.

ALMEIDA, J. F. D. Bíblia Sagrada Traduzida em Português por João Ferreira de


Almeida. 2ª. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

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GONZÁLES, J. L. Atos: O Evangelho do Espírito Santo. 1ª. ed. São Paulo: Hagnos, 2011.
36

HOMES, M. W. The Greek New Testament: SBL Edition. 1ª. ed. Lexham Press: Society of
Biblical Literature, 2011-2013.

KISTEMAKER, S. Comentário do Novo Testament: Atos. 2ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã,
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2012.

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PORTAS Abertas. Destaques: As Principais Informações sobre a Lista Mundial de


Perseguição 2022, 2022. Disponivel em:
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