Você está na página 1de 5

Journal of Research in Special Educational Needs  Volume 16  Number s1  2016 130–134

doi: 10.1111/1471-3802.12137

^
ACESSO E PERMANENCIA ß A NA
DA CRIANC
ESCOLA
Sonia Lopes Victor and Sumika Soares de Freitas Hernandez Piloto
Universidade Federal do Espırito Santo

~o especial, inclusa
Palavras-chave: educacßa ~o escolar, atendimento educacional especializado, criancßa
pequena.

(PNEE-EI) em 2008 e da Emenda Constitucional n. 59/


Este trabalho visa debater o acesso e a per- 2009, que alterou a Constituicß~ao Federal, ampliando a
mane ^ ncia de crianc ß as pu  blico-alvo da educac ~o
ßa obrigatoriedade do atendimento para estudantes de quatro
especial na educac ~ o infantil. Para tanto, toma
ßa a dezessete anos de idade.
como objeto de ana  lise as narrativas de profes-
sores de educac ßa~ o especial que atendem esses
Outros documentos intensificaram o debate sobre a
sujeitos nas salas de recursos multifuncionais em
cinco municıpios da regia ~ o metropolitana do educacß~ao inclusiva para estudantes publico-alvo da
Estado do Espırito Santo, os quais participaram de educacß~ao especial, tais como: o Decreto n. 6.571/2008,
11 encontros no modelo de grupos focais, pro- que disp~oe sobre o Atendimento Educacional Especial-
movidos pelo Observato  rio Nacional de Educac ~o
ßa izado (AEE); a Resolucß~ao CNE/CEB n. 004/2009, que
Especial. A abordagem histo  rico-cultural e os estu- institui as diretrizes operacionais para esse atendimento; e
dos sobre a sociologia da infa ^ ncia foram os o Decreto n. 7.611/2011, que revoga o decreto anterior e
aportes teo  rico-metodolo  gicos para esta inves- disp~oe sobre a educacß~ao especial e o Atendimento Educa-
ßa
tigac ~ o. As ana  lises das narrativas de professores cional Especializado.
de educac ßa~ o especial sugeriram a necessidade de
articulac ~ o entre a educac
ßa ~ o especial e a
ßa
Ao acompanhar o debate sobre a educacß~ao especial na
educac ~ o infantil e os estudos sobre a crianc
ßa ßa e
^ ncia a fim de construir propostas educacß~ao infantil, n~ao podemos esquecer que a obrigato-
sua infa
pedago  gicas que sirvam de apoio a  sua educabili- riedade n~ao pode se sobrepor ao debate da universal-
dade. izacß~ao do ensino publico e a luta pela educacß~ao de
qualidade socialmente referenciada em prol de nossas
criancßas. Entretanto, ao mesmo tempo que e um avancßo
nas polıticas educacionais a aprovacß~ao da Lei do Plano
Nacional de Educacß~ao (PNE) n 13.005/2014, ainda
Introducß~ ao vemos a fragilidade do acesso a educacß~ao infantil
Na realidade brasileira, a educacß~ao infantil e considerada expressa em sua Meta 1, que prev^e:
dever do Estado e direito de todos, sem qualquer requisito
de selecß~ao e e a primeira etapa da educacß~ao basica, ofer- [. . .] universalizar, ate 2016, a educacß~ao infantil na
tada em creches, pre-escolas e centros de educacß~ao infan- pre-escola para as criancßas de 4 (quatro) a 5 (cinco)
til como compet^encia dos municıpios. Ela atende a faixa anos de idade e ampliar a sua oferta de educacß~ ao
etaria de creche: 0 a 3 anos e 11 meses; e pre-escola: infantil em creches de forma a atender, no mınimo,
quatro a cinco anos e 11 meses. A matrıcula na pre- 50% (cinquenta por cento) das criancßas de ate 3
escola e obrigat oria a partir dos quatro anos completos (tr^es) anos ate o final da vig^encia deste PNE (BRA-
ate 31 de marcßo.1 SIL, 2014).

A educacß~ao basica, envolvendo educacß~ao infantil e ensino No entanto, temos observado a reducß~ao do numero de
fundamental com a interface da modalidade de ensino da criancßas com defici^encia na educacß~ao infantil, conforme
educacß~ao especial, passou por importantes alteracß~ oes nas analises de Bueno e Meletti (2011). Isso significa que a
diretrizes polıticas, no financiamento, nas praticas evolucß~ao da matrıcula de estudantes da educacß~ao especial
pedag ogicas e, sobretudo, na ampliacß~ao da obrigato- n~ao tem acompanhado a tend^encia das matrıculas gerais.
riedade, com a aprovacß~ao da Polıtica Nacional de
Educacß~ao Especial na Perspectiva da Educacß~ao Inclusiva Tal fato expressa as contradicß~oes das polıticas em acß~ao: o
ideal e que a inclus~ao de alunos publico-alvo da educacß~ao
1
Conforme indicacß~ao da Resolucß~ao do CNE/CEB n 05/2009, que fixa as Dire-
trizes Curriculares Nacionais para a Educacß~ao Infantil.
especial seja efetivada o mais precocemente possıvel,

130 ª 2016 NASEN


14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12137 by CAPES, Wiley Online Library on [18/09/2023]. See the Terms and Conditions (https://onlinelibrary.wiley.com/terms-and-conditions) on Wiley Online Library for rules of use; OA articles are governed by the applicable Creative Commons License
Journal of Research in Special Educational Needs, 16 130–134

como sinalizam muitos estudos conforme destacado na professores; avaliacß~ao para a identificacß~ao, o diagn
ostico
citacß~ao a seguir, mas as matrıculas nessa etapa n~ao acom- e o planejamento para o apoio e; organizacß~ao e funciona-
panham sequer a estagnacß~ao observada nas matrıculas mento das SRMs destinadas ao AEE.
gerais nessa fase da educacß~ao basica, nem o crescimento
da pr opria area da educacß~ao especial. Nos encontros em formato de grupos focais, reunimos
892 professores de educacß~ao especial que atendem em
Diversos estudos apontam avancßos no desenvolvi- SRMs, localizadas em cinco municıpios da regi~ao
mento das criancßas com defici^encia que tiveram opor- metropolitana de da Grande Vitoria: 16 da Serra, 16 de
tunidades de iniciar um trabalho pedag ogico na tenra Guarapari, 19 de Vila Velha, 19 de Cariacica e 19 de
idade. Muitos aspectos no desenvolvimento cognitivo, Vitoria/ES.
socioafetivo e motor podem ser favorecidos a partir
de intervencß~
oes educacionais precoces. Entre esses Para este trabalho, fizemos um recorte dos resultados
estudos, encontramos o de Mendes (2010), que define obtidos por meio das discuss~oes nos grupos focais dos
as creches como o marco zero da inclus~ ao (Victor, municıpios, destacando as colocacß~oes das professoras de
2012, p. 82). educacß~ao especial sobre o AEE para as criancßas pequenas
publico-alvo da educacß~ao especial.
Parece n~ao haver d uvidas de que uma das formas de
garantir a inclus~ao de qualidade de alunos p ublico-alvo Muitas quest~oes nos chamaram a atencß~ao sobre a
da educacß~ao especial no ensino regular e que ela ocorra o educacß~ao infantil nas narrativas dos professores de
mais precocemente possıvel, ou seja, na educacß~ao infan- educacß~ao especial dos municıpios investigados. N~ao fize-
til. mos uma escolha por tematicas, mas preferimos coloca-
las no texto a medida que ıamos encontrando nas tran-
Nesse sentido, ap os essa analise, ha tr^es aspectos a serem scricß~oes das narrativas a partir da palavra-chave educacß~
ao
evidenciados: a baixa incid^encia de matrıcula de criancßas infantil.
com defici^encia na educacß~ao infantil, a manutencß~ao da
hegemonia dos sistemas segregados sobre os inclusivos e Vimos que muitos professores de educacß~ao especial
a distribuicß~ao das matrıculas entre creche e pre-escola. tiveram seu inıcio de carreira na educacß~ao infantil. No
entanto, poucos continuam atendendo as criancßas peque-
Podemos perceber que ha pouca relev^ancia das polıticas nas de ate seis anos na SRM, como podemos destacar a
educacionais voltadas para as criancßas p ublico-alvo da seguir.
educacß~ao especial na educacß~ao infantil.
[. . .] sou da rede ja ha 18 anos. Estou comecßando a
Posto isso, neste artigo, pretendemos debater o acesso e a contagem regressiva [risos e comentarios dos cole-
perman^encia das criancßas publico-alvo da educacß~ao espe- gas]. Mas eu entrei na rede como professora de
cial com base nas narrativas de professores que as aten- educacß~ao infantil, antigamente como bercßarista, ne?
dem em salas de recursos multifuncionais, no contexto da Em 2000 eu tive a oportunidade de entrar na
pesquisa do Observat orio Nacional de Educacß~ao Especial educacß~ao especial em funcß~ao de algumas alunas que
no Estado do Espırito Santo. passaram por mim na educacß~ao infantil. Paulinha,
que ja concluiu, foi a que me inspirou. A Jaqueline, a
Narrativas de professores sobre a educacß~ ao infantil gente acompanhava. . . mas assim essas criancßas me
para o p ublico-alvo da educacß~ao especial impulsionaram a buscar alguma coisa, porque foram
Para materializar a problematica do acesso e da per- tr^es anos com alunos especiais numa turma de mater-
man^encia das criancßas p ublico-alvo da educacß~ao especial nal. Eu disse tr^es anos seguidos que eu estou com
na educacß~ao infantil, visando a uma intervencß~ao na tenra aluno especial no maternal. Eu tenho que correr atr as
inf^ancia, tomamos por objeto de analise as narrativas de (FABIOLA, professora, Vitoria ─ Eixo I ─ 01-
professores de educacß~ao especial, que atendem a esses 07-12)3
estudantes no contexto das salas de recursos multifun-
cionais em cinco municıpios da regi~ao metropolitana da Ao relatarem sobre o ingresso na modalidade de ensino
Grande Vit oria do Estado do Espırito Santo. de educacß~ao especial, as professoras destacam a passagem
pela educacß~ao infantil. Parece que a educacß~ao infantil e o
Esses professores participaram de 11 encontros no mod- nıvel de ensino escolhido pelas professoras no inıcio da
elo de grupos focais, promovidos pelo Observatorio carreira talvez por ser considerado por eles mais facil,
Nacional de Educacß~ao Especial (Oneesp) no Estado do exigir menos em termos de formacß~ao do docente e ser
Espırito Santo, cujo prop osito era uma avaliacß~ao de uma ponte de acesso ao ensino fundamental. Como o
^ambito nacional do programa de implantacß~ao de “Salas 2
A quantidade de professores entre o inıcio e o final dos encontros no formato de
de Recursos Multifuncionais” (SRM). Para tanto, real- grupos focais foi reduzida em funcß~ao da desist^encia de alguns deles por diferentes
izamos uma pesquisa colaborativa, na qual foram discuti- motivos.
dos tr^es eixos tematicos, a saber: formacß~ao de 3
Os nomes das professoras s~ao fictıcios.

ª 2016 NASEN 131


14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12137 by CAPES, Wiley Online Library on [18/09/2023]. See the Terms and Conditions (https://onlinelibrary.wiley.com/terms-and-conditions) on Wiley Online Library for rules of use; OA articles are governed by the applicable Creative Commons License
Journal of Research in Special Educational Needs, 16 130–134

acesso e a perman^encia, principalmente, da criancßa tunel. . . eu trabalho no CMEI. . . com surdos e


publico-alvo da educacß~ao especial ainda n~ao correspon- tınhamos um atendimento com dois irm~aos de sur-
dem a demanda estatıstica, vemos que os professores dos. . . como uma coisa natural. Como eu entrei esse
vivenciaram, inicialmente, como espectadores a acß~ao doc- ano, vimos que n~ao tinha uma legalidade desse
ente com essa criancßa na educacß~ao infantil, mas, embora atendimento. Ent~ao a gente entende, sim, que o irm~ ao
n~ao muito consistente, essa viv^encia promoveu o seu do surdo, matriculado regularmente, poderia usufruiu
ingresso na educacß~ao especial. sim dessa oficina, desse AEE que e oferecido  a tarde,
sem prejuızo nenhum, porque seria o contato famılia
Tal fato pode demonstrar tambem que, apesar de o com o surdo. [. . .] E aı eu comecei a tentar legalizar
publico-alvo da educacß~ao especial historicamente partici- isso junto com a escola, aı eu mandei pra la um
par das instituicß~
oes especializadas e do ensino fundamen- ofıcio e eles mandaram resposta dizendo que n~ ao
tal, especialmente, dos anos do ensino fundamental I, que pode ser contado irm~ao de surdo como criancßa no
compreende do 1 ao 5 ano, a educacß~ao infantil ainda e AEE. N~ao existe essa legalidade, mas a Seme disse
uma conquista para esse p ublico-alvo e um desafio para a que a escola poderia propor uma oficina para os
polıtica p
ublica local. irm~aos dos surdos [. . .] (GILDETE, professora,
Grupo focal, Vitoria ─ 2 encontro do Eixo I ─
Outra quest~ao que verificamos e a necessidade apontada 24-5-12).
pelas professoras de que as polıticas p ublicas para a
educacß~ao especial estejam articuladas a outras polıticas Notamos que o CMEI tem buscado saıdas para a prob-
publicas que permitam a participacß~ao efetiva dos alunos lematica do atendimento no contraturno nas SRMs e para
publico-alvo da educacß~ao especial na escola comum. outras demandas da escola, no que se refere a educacß~ao
Nesse sentido, mencionam a polıtica publica da escola de da criancßa surda. Alguns professores de educacß~ao especial
tempo integral e a necessidade de o AEE na SRM ser justificam essa possibilidade de instituir novas acß~oes para
favorecido por uma polıtica semelhante que garanta a pre- resolver as problematicas da inclus~ao na educacß~ao infan-
sencßa dessa criancßa no contraturno, a fim de que ela til, dizendo que essa escola tem o trabalho mais voltado
tenha o referido atendimento. ao cuidado com a criancßa e tambem pelo contingente de
profissionais ser, na concepcß~ao delas, maior do que na
[. . .] Na escola que eu trabalho de manh~ a [. . .] tem escola de ensino fundamental, conforme destacamos a
uma polıtica [. . .] semelhante a que a colega esta seguir.
colocando. As criancßas surdas, elas ficam na escola
no hor ario do almocßo, porque fica um profissional o [. . .] A professora diferencia CMEI de EMEF
tempo todo acompanhando-as no perıodo em que elas dizendo: “Tem mais aconchego, pode sentir-se  a von-
ficam na escola. N os tentamos garantir isso em 2011 tade, e mais humanitario com a criancßa. A criancßa
e 2012 para as criancßas com NEEs que n~ ao as com que tem dez anos, n~ao e assim. No CMEI cuidar e
surdez, n os esbarramos na quest~ ao do profissional, educar s~ao paralelas, tem muito mais cuidado. Na
porque as criancßas, em sua grande maioria, elas EMEF, a quest~ao e so educar, e cada um olha a par-
necessitam de alguem que as acompanhe ate o AEE a tir de seu conteudo, no seu espacßo ali” (BERNADETE
tarde. Elas n~ ao v~ ao sozinhas, elas n~ao se deslocam - Grupo focal Vitoria ─ 2 encontro do Eixo I ─
sozinhas. [. . .] O surdo ate que se desloca sozinho 24-5-2012).
[. . .]. E aı n
os tentamos garantir que essa criancßa
ficasse no hor ario, que n~ ao fizesse parte do integral, Notamos que, apesar de a professora de educacß~ao espe-
porque elas n~ ao t^em indicativo de horario integral, cial da educacß~ao infantil demonstrar que algumas pro-
n~ao s~ ao criancßas de risco. [. . .]. (BERNADETE, pro- postas organizadas pelos profissionais da escola podem
fessora, Grupo focal Vit oria ─ 2 encontro do Eixo I interferir nas polıticas publicas direcionadas a educacß~ao
─ 24-05-12). especial, os professores da educacß~ao especial que atuam
no ensino fundamental n~ao compreendem como possıvel
Na contram~ao das impossibilidades de manter as criancßas essa acß~ao em seu nıvel de ensino, porque n~ao conta com
publico-alvo da educacß~ao especial no atendimento inte- caracterısticas reconhecidas por eles como proprias da
gral, as professoras costumam criar em suas escolas essas educacß~ao infantil.
oportunidades. Destacamos abaixo a discuss~ao sobre essa
tematica e o posicionamento de uma professora da Percebemos que ha uma ideia ainda rom^antica da
educacß~ao infantil sobre a educacß~ao das criancßas surdas educacß~ao infantil pelos professores da educacß~ao especial,
em um Centro Municipal de Educacß~ao Infantil (CMEI), a qual os impede de verificar a possibilidade de reagir a
mostrando que o CMEI tem buscado outra saıda para a uma demanda das criancßas publico-alvo da educacß~ao
situacß~ao em foco. especial.

Como no CMEI. No CMEI fica direto. [. . .] Olha Muitas quest~oes que caracterizam a educacß~ao infantil
o. . . s
s o para dar uma esperancßa l
a no fundo do pelos professores de educacß~ao especial que atuam no

132 ª 2016 NASEN


14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12137 by CAPES, Wiley Online Library on [18/09/2023]. See the Terms and Conditions (https://onlinelibrary.wiley.com/terms-and-conditions) on Wiley Online Library for rules of use; OA articles are governed by the applicable Creative Commons License
Journal of Research in Special Educational Needs, 16 130–134

ensino fundamental t^em merecido discuss~oes calorosas focal Vila Velha ─ 1 encontro do Eixo I ─ 7-5-12).
pelos estudiosos dessa area, como o bin^
omio cuidar e Em seguida, a professora declara:
educar. Percebemos que ha necessidade de problemati-
zacß~ao desse bin^omio tambem no ensino fundamental [. . .] Eu sempre gostei de gerenciar os dois lados
pelos professores e gestores. [referindo-se a educacß~ao de adultos na instituicß~
ao
especializada e a educacß~ao infantil], porque eu acho
Os professores perceberam, com base nas estatısticas que a criancßa e o bojo de um ator e tem ate um
que destacam o n umero de criancßas matriculadas na poema que fala isso, que voc^e v^e o desabrochar, por-
educacß~ao infantil, que alguns dos municıpios ainda n~ao que o bojo e a semente ne?! E fiquei na educacß~ ao
atendem a todas as criancßas na faixa etaria de zero a infantil e na educacß~ao especial (JOANA - Grupo focal
cinco anos de idade. Alem disso, reclamaram que as Vila Velha ─ 1 encontro do Eixo I ─ 7-5-2012).
criancßas chegam ao ensino fundamental com conheci-
mentos insuficientes para os anos iniciais desse nıvel de A finalidade da educacß~ao infantil para a criancßa p ublico-
ensino. alvo da educacß~ao especial e de preparacß~ao para o ensino
fundamental I na concepcß~ao da professora. N~ao se destaca
A discuss~ao sobre a quest~ao curricular se torna alvo dos a especificidade da educacß~ao infantil para a aprendizagem e
professores de educacß~ao especial. Uma professora diz n~ao o desenvolvimento da criancßa. Alem disso, a concepcß~ao da
saber o que trabalhar com as criancßas pequenas. Desta- professora sobre a criancßa e naturalista, na qual ela compara
camos, a seguir, a narrativa dessa professora. a criancßa pequena com uma semente que ira desabrochar.

[. . .] Ele vem de outra escola, um menino de seis Consideracß~oes finais


aninhos, eu sei alguma coisa dele, porque, quando A maioria dos professores carece de condicß~oes para ava-
ele j a estava na educacß~
ao infantil, ele j
a fazia o AEE liar os propositos da educacß~ao infantil para as criancßas
[. . .]. Prestar mais atencß~
ao nas atividades, focar em publico-alvo da educacß~ao especial. Alem disso, n~ao
alguma coisa a mais, a concentracß~ ao. Eu n~ao estou reconhecem a educacß~ao infantil como espacßo de
trabalhando com ele a atividade da outra escola, por- proposicß~ao as polıticas publicas para educacß~ao especial,
que n~ ao sei o que est 
a acontecendo (KATIA, profes- pois consideram que, nesse nıvel de ensino, ha possibili-
sora - Grupo focal Vit oria ─ 3 encontro do Eixo I dade de flexibilizacß~ao das acß~oes. Muitos professores n~ao
─ 14-6-2012). sabem quais s~ao os conhecimentos cientıficos, artısticos,
filosoficos e culturais, acumulados historicamente pela
Percebemos que os conte udos e as especificidades da humanidade, pertinentes a complementacß~ao curricular das
educacß~ao infantil n~ao s~ao conhecidos pelos professores de criancßas pequenas no AEE realizado na SRM.
educacß~ao especial. Muitos tambem destorcem a finalidade
dos servicßos de apoio da educacß~ao especial para as Nesse sentido, concluımos que muitas s~ao as quest~ oes
criancßas pequenas, transformando acß~ oes que deveriam que precisamos problematizar na formacß~ao de professores
complementar o currıculo em atividades pedag ogicas de de educacß~ao especial sobre esse nıvel de ensino para as
reforcßo do currıculo comum. Alguns apostam na ideia de criancßas pequenas publico-alvo da educacß~ao especial.
conte udos mınimos para a educacß~ao infantil, conforme
destacado a seguir. Financiamento
Capes.
Eu acho que podemos discutir isso, mas, a s vezes,
t^em conte a na educacß~
udos mınimos l ao infantil, nos Conflicts of interest
estamos discutindo isso aqui agora. Esses conteudos The author declare no conflict of interest.
mınimos existem. Mınimo j
a diz, ne? Conte udos mıni-
mos que a criancßa tem que saber, n~ ao da tambem

para jogar tudo fora. Eu penso nisso (KATIA, profes-
Address for correspondence
sora - Grupo focal Vitoria ─ 3 encontro do Eixo I Sonia Lopes Victor,
─ 14-6-2012). Rua Dr. Delmiro Coimbra,no. 65
Apto 105.Bloco 22. Mata da Praia
Por fim, traremos aqui a ideia sobre a finalidade da Vitoria-Es Cep 29065-360
educacß~ao infantil e a concepcß~ao de criancßa colocada por Email: sonia.victor@hotmail.com
uma das professoras de educacß~ao especial. A professora
faz uma comparacß~ao entre o trabalho que desenvolvia
com adultos em uma instituicß~ao especializada e o trabalho
realizado desenvolvido com as criancßas da educacß~ao Refer^encias
infantil. Ela diz: “[. . .] Eu tinha aluno que superava a BRASIL. CNE/CEB. Decreto n. 6.571, de 17 de
minha idade na epoca e ja na educacß~ao infantil voc^e tra- setembro de 2008. Brasılia: Diario Oficial da Uni~ao,
balha, voc^e prepara para o ensino fundamental I” (Grupo 18 set. 2008.

ª 2016 NASEN 133


14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12137 by CAPES, Wiley Online Library on [18/09/2023]. See the Terms and Conditions (https://onlinelibrary.wiley.com/terms-and-conditions) on Wiley Online Library for rules of use; OA articles are governed by the applicable Creative Commons License
Journal of Research in Special Educational Needs, 16 130–134

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/


Educacß~ao Infantil. Resolucß~
ao CNE/CEB n 5, de 9 de 2014/Lei/L13005.htm> (Acesso em 29 maio 2015).
dezembro de 2009. Brasil: Diario Oficial da Uni~ao, 9 BRASIL. Presid^encia da Republica. Casa Civil. Subchefia
de dezembro de 2009. para Assuntos Jurıdicos. Decreto n 7.611, de 17 de
BRASIL. Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2011. Disp~ oe sobre a educacß~ao especial,
novembro de 2009. <http://www.planalto.gov.br/ o AEE e da outras provid^encias. <http://
ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm> www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/
(Acesso em 4 de jun. 2014). Decreto/D7611.htm> (Acesso em: 4 jun. 2014).
BRASIL. Resolucß~ ao CNE/CEB n 4, de 2 de outubro de Bueno, J. G. S. & Meletti S. M. F.. (dez. 2011) Educacß~ao
2009. Brasılia: Diario Oficial [da] Rep
ublica infantil e educacß~ao especial: uma analise dos
Federativa do Brasil, 5 de outubro de 2009. Secß~ao 1, indicadores educacionais brasileiros. Contrapontos 11
p. 17. (3), pp. 278–87.
BRASIL. Ministerio da Educacß~ao. Secretaria de Victor, S. L. (dez. 2012) As producß~oes acad^emicas em
Educacß~ao Especial. (2008) Polıtica Nacional de educacß~ao especial na educacß~ao infantil: analise da
Educacß~ao Especial na Perspectiva da Educacß~ ao formacß~ao de professores. Revista de Ci^encias
Inclusiva. Brasılia: MEC/Seesp. Humanas – FW, 13(21), pp. 79–97.
BRASIL. Presid^encia da Rep ublica. Lei N. 13.005, de
25 de junho de 2014. Plano Nacional de Educacß~ao.

134 ª 2016 NASEN

Você também pode gostar