Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
doi: 10.1111/1471-3802.12137
^
ACESSO E PERMANENCIA ß A NA
DA CRIANC
ESCOLA
Sonia Lopes Victor and Sumika Soares de Freitas Hernandez Piloto
Universidade Federal do Espırito Santo
~o especial, inclusa
Palavras-chave: educacßa ~o escolar, atendimento educacional especializado, criancßa
pequena.
A educacß~ao basica, envolvendo educacß~ao infantil e ensino No entanto, temos observado a reducß~ao do numero de
fundamental com a interface da modalidade de ensino da criancßas com defici^encia na educacß~ao infantil, conforme
educacß~ao especial, passou por importantes alteracß~ oes nas analises de Bueno e Meletti (2011). Isso significa que a
diretrizes polıticas, no financiamento, nas praticas evolucß~ao da matrıcula de estudantes da educacß~ao especial
pedag ogicas e, sobretudo, na ampliacß~ao da obrigato- n~ao tem acompanhado a tend^encia das matrıculas gerais.
riedade, com a aprovacß~ao da Polıtica Nacional de
Educacß~ao Especial na Perspectiva da Educacß~ao Inclusiva Tal fato expressa as contradicß~oes das polıticas em acß~ao: o
ideal e que a inclus~ao de alunos publico-alvo da educacß~ao
1
Conforme indicacß~ao da Resolucß~ao do CNE/CEB n 05/2009, que fixa as Dire-
trizes Curriculares Nacionais para a Educacß~ao Infantil.
especial seja efetivada o mais precocemente possıvel,
como sinalizam muitos estudos conforme destacado na professores; avaliacß~ao para a identificacß~ao, o diagn
ostico
citacß~ao a seguir, mas as matrıculas nessa etapa n~ao acom- e o planejamento para o apoio e; organizacß~ao e funciona-
panham sequer a estagnacß~ao observada nas matrıculas mento das SRMs destinadas ao AEE.
gerais nessa fase da educacß~ao basica, nem o crescimento
da pr opria area da educacß~ao especial. Nos encontros em formato de grupos focais, reunimos
892 professores de educacß~ao especial que atendem em
Diversos estudos apontam avancßos no desenvolvi- SRMs, localizadas em cinco municıpios da regi~ao
mento das criancßas com defici^encia que tiveram opor- metropolitana de da Grande Vitoria: 16 da Serra, 16 de
tunidades de iniciar um trabalho pedag ogico na tenra Guarapari, 19 de Vila Velha, 19 de Cariacica e 19 de
idade. Muitos aspectos no desenvolvimento cognitivo, Vitoria/ES.
socioafetivo e motor podem ser favorecidos a partir
de intervencß~
oes educacionais precoces. Entre esses Para este trabalho, fizemos um recorte dos resultados
estudos, encontramos o de Mendes (2010), que define obtidos por meio das discuss~oes nos grupos focais dos
as creches como o marco zero da inclus~ ao (Victor, municıpios, destacando as colocacß~oes das professoras de
2012, p. 82). educacß~ao especial sobre o AEE para as criancßas pequenas
publico-alvo da educacß~ao especial.
Parece n~ao haver d uvidas de que uma das formas de
garantir a inclus~ao de qualidade de alunos p ublico-alvo Muitas quest~oes nos chamaram a atencß~ao sobre a
da educacß~ao especial no ensino regular e que ela ocorra o educacß~ao infantil nas narrativas dos professores de
mais precocemente possıvel, ou seja, na educacß~ao infan- educacß~ao especial dos municıpios investigados. N~ao fize-
til. mos uma escolha por tematicas, mas preferimos coloca-
las no texto a medida que ıamos encontrando nas tran-
Nesse sentido, ap os essa analise, ha tr^es aspectos a serem scricß~oes das narrativas a partir da palavra-chave educacß~
ao
evidenciados: a baixa incid^encia de matrıcula de criancßas infantil.
com defici^encia na educacß~ao infantil, a manutencß~ao da
hegemonia dos sistemas segregados sobre os inclusivos e Vimos que muitos professores de educacß~ao especial
a distribuicß~ao das matrıculas entre creche e pre-escola. tiveram seu inıcio de carreira na educacß~ao infantil. No
entanto, poucos continuam atendendo as criancßas peque-
Podemos perceber que ha pouca relev^ancia das polıticas nas de ate seis anos na SRM, como podemos destacar a
educacionais voltadas para as criancßas p ublico-alvo da seguir.
educacß~ao especial na educacß~ao infantil.
[. . .] sou da rede ja ha 18 anos. Estou comecßando a
Posto isso, neste artigo, pretendemos debater o acesso e a contagem regressiva [risos e comentarios dos cole-
perman^encia das criancßas publico-alvo da educacß~ao espe- gas]. Mas eu entrei na rede como professora de
cial com base nas narrativas de professores que as aten- educacß~ao infantil, antigamente como bercßarista, ne?
dem em salas de recursos multifuncionais, no contexto da Em 2000 eu tive a oportunidade de entrar na
pesquisa do Observat orio Nacional de Educacß~ao Especial educacß~ao especial em funcß~ao de algumas alunas que
no Estado do Espırito Santo. passaram por mim na educacß~ao infantil. Paulinha,
que ja concluiu, foi a que me inspirou. A Jaqueline, a
Narrativas de professores sobre a educacß~ ao infantil gente acompanhava. . . mas assim essas criancßas me
para o p ublico-alvo da educacß~ao especial impulsionaram a buscar alguma coisa, porque foram
Para materializar a problematica do acesso e da per- tr^es anos com alunos especiais numa turma de mater-
man^encia das criancßas p ublico-alvo da educacß~ao especial nal. Eu disse tr^es anos seguidos que eu estou com
na educacß~ao infantil, visando a uma intervencß~ao na tenra aluno especial no maternal. Eu tenho que correr atr as
inf^ancia, tomamos por objeto de analise as narrativas de (FABIOLA, professora, Vitoria ─ Eixo I ─ 01-
professores de educacß~ao especial, que atendem a esses 07-12)3
estudantes no contexto das salas de recursos multifun-
cionais em cinco municıpios da regi~ao metropolitana da Ao relatarem sobre o ingresso na modalidade de ensino
Grande Vit oria do Estado do Espırito Santo. de educacß~ao especial, as professoras destacam a passagem
pela educacß~ao infantil. Parece que a educacß~ao infantil e o
Esses professores participaram de 11 encontros no mod- nıvel de ensino escolhido pelas professoras no inıcio da
elo de grupos focais, promovidos pelo Observatorio carreira talvez por ser considerado por eles mais facil,
Nacional de Educacß~ao Especial (Oneesp) no Estado do exigir menos em termos de formacß~ao do docente e ser
Espırito Santo, cujo prop osito era uma avaliacß~ao de uma ponte de acesso ao ensino fundamental. Como o
^ambito nacional do programa de implantacß~ao de “Salas 2
A quantidade de professores entre o inıcio e o final dos encontros no formato de
de Recursos Multifuncionais” (SRM). Para tanto, real- grupos focais foi reduzida em funcß~ao da desist^encia de alguns deles por diferentes
izamos uma pesquisa colaborativa, na qual foram discuti- motivos.
dos tr^es eixos tematicos, a saber: formacß~ao de 3
Os nomes das professoras s~ao fictıcios.
Como no CMEI. No CMEI fica direto. [. . .] Olha Muitas quest~oes que caracterizam a educacß~ao infantil
o. . . s
s o para dar uma esperancßa l
a no fundo do pelos professores de educacß~ao especial que atuam no
ensino fundamental t^em merecido discuss~oes calorosas focal Vila Velha ─ 1 encontro do Eixo I ─ 7-5-12).
pelos estudiosos dessa area, como o bin^
omio cuidar e Em seguida, a professora declara:
educar. Percebemos que ha necessidade de problemati-
zacß~ao desse bin^omio tambem no ensino fundamental [. . .] Eu sempre gostei de gerenciar os dois lados
pelos professores e gestores. [referindo-se a educacß~ao de adultos na instituicß~
ao
especializada e a educacß~ao infantil], porque eu acho
Os professores perceberam, com base nas estatısticas que a criancßa e o bojo de um ator e tem ate um
que destacam o n umero de criancßas matriculadas na poema que fala isso, que voc^e v^e o desabrochar, por-
educacß~ao infantil, que alguns dos municıpios ainda n~ao que o bojo e a semente ne?! E fiquei na educacß~ ao
atendem a todas as criancßas na faixa etaria de zero a infantil e na educacß~ao especial (JOANA - Grupo focal
cinco anos de idade. Alem disso, reclamaram que as Vila Velha ─ 1 encontro do Eixo I ─ 7-5-2012).
criancßas chegam ao ensino fundamental com conheci-
mentos insuficientes para os anos iniciais desse nıvel de A finalidade da educacß~ao infantil para a criancßa p ublico-
ensino. alvo da educacß~ao especial e de preparacß~ao para o ensino
fundamental I na concepcß~ao da professora. N~ao se destaca
A discuss~ao sobre a quest~ao curricular se torna alvo dos a especificidade da educacß~ao infantil para a aprendizagem e
professores de educacß~ao especial. Uma professora diz n~ao o desenvolvimento da criancßa. Alem disso, a concepcß~ao da
saber o que trabalhar com as criancßas pequenas. Desta- professora sobre a criancßa e naturalista, na qual ela compara
camos, a seguir, a narrativa dessa professora. a criancßa pequena com uma semente que ira desabrochar.