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PRINCÍPIOS BÁSICOS DA LICITAÇÃO

Princípios Básicos da Licitação

A licitação, inicialmente, pode ser definido como um procedimento administrativo estabelecido pela
Administração Pública para regular suas contratações. Assim, José dos Santos Carvalho Filho (2014,
p. 238) a conceitua como “o procedimento administrativo vinculado por meio do qual os entes da
Administração Pública e aqueles por ela controlados selecionam a melhor proposta entre as
oferecidas pelos vários interessados, com dois objetivos – a celebração de contrato, ou a obtenção
do melhor trabalho técnico, artístico ou científico”. Por isso, concorda o autor que a licitação teria a
natureza jurídica de verdadeiro procedimento administrativo seletivo.

Em outros termos, a licitação é “o procedimento administrativo formal em que a Administrac?a?o


Pu?blica convoca, mediante condic?o?es estabelecidas em ato pro?prio (edital ou convite), empresas
interessadas na apresentac?a?o de propostas para o oferecimento de bens e servic?os”.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 37, inciso XXI, estabelece a realização de licitação como
regra. Assevera o preceito em tela:

Art. 37. Omissis.

(...)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações


serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações; (...)

O Art. Da Lei Nº 8.666/1993. Objetivos E Princípios Básicos Da Licitação.


o
O art. 3 da Lei de Licitações preceitua que “a licitação destina-se a garantir a observância do
princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a
promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita
conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da
igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório,
do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos”.

Antes da Lei nº 12.349/2010, a licitação tinha como objetivo homenagear o princípio da isonomia e a
seleção da proposta mais vantajosa para a Administração. Com a referida lei, foi incluido mais um
objetivo para o instituto, qual seja, a promocão do desenvolvimento nacional sustentável.
o
De se ver que o art. 3 da Lei nº 8.666/1993 enumera, como princípios básicos da licitação, os
seguintes: legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, probidade administrativa,
vinculação ao instrumento convocatório e demais princípios correlatos a esses. Com efeito, numa
sociedade altamente plural e complexa, já se sabe da impossibilidade de as regras conseguirem
prever todas as situações possíveis. Por isso, dúvida não há da importância dos principios para a
análise dos procedimentos licitatórios levados a cabo pela Administração Pública, direta ou indireta.

Pelo princípio da legalidade, temos que o administrador, diferentemente dos particulares, apenas
pode fazer aquilo que está autorizado por lei. Pensado historicamente para o fim de evitar os abusos
absolutistas, inserindo a vontade popular na formação da vontade geral por meio da manifestação do
Parlamento, o princípio da legalidade deve ser observado pela Administração Pública no exercício de
suas funções.

José dos Santos Carvalho Filho (2014, p. 246) assevera que, “no campo das licitações, o princípio da
legalidade impõe, principalmente, que o administrador observe as regras que a lei traçou para o
procedimento”, ou seja:

É a aplicação do devido processo legal, segundo o qual se exige que a Administração scolha a
modalidade certa; que seja bm clara quanto aos critérios seletivos; que só deixe de realizar a licitação
nos casos permitidos na lei; que verifique, com cuidado, os requisitos de habilitação dos candidatos,
e, enfim, que se disponha a alcançar os objetivos colimados, seguindo os passos dos mandamentos
legais. (CARVALHO FILHO, 2014, p. 246)

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PRINCÍPIOS BÁSICOS DA LICITAÇÃO

O princípio da moralidade, a seu turno, está ligada à ideia de ética, de probidade, de retidão. A sua
aplicação à Administração Pública está expressamente prevista na Constituição Federal de 1988,
mas não podemos duvidar de sua aplicação às relações privadas, principalmente se observarmos
que, hoje, o princípio da boa-fé objetiva é a principal regra na interpretação dos contratos. Aliás, como
aduzem Farias e Rosenvald (2013, p. 53), o Código Civil traz a eticidade como paradigma. Para os
autores, “se a ética é a ciência do fim para o qual a conduta dos homens deve ser orientada, temos
que, no Direito, o ideial para o qual uma sociedade orientará seus fins e ações será justamente na
afirmação livre e racional do valor justiça”.

Além Disso, Complementam Os Civilistas (2013, P. 93):

(...) não se pode olvidar a boa-fe objetiva como princípio fundamental das relações civis,
obrigacionais e contratuais. Não prevista na estrutura codificada de 1916, a boa-fé objetiva
materializa uma necessária compreensão ética das relações privadas.

Ocorre que a ideia de probidade não se se aplica apenas às relações privadas. Com efeito,
finalizando o princípio da moralidade, preceituam Novelino e Cunha Júnior (2010, p. 292) que “a
inclusão do princípio da moralidade administrativa em seu texto formal, reflete, sem dúvida, a
preocupação do constituinte e do povo brasileiro com a probidade, a ética e a honestidade na
Administração Pública”.

Já o princípio da impessoalidade indica que a Administração Pública deve tratar a todos


indistintamente, sem privilégios. Carvalho Filho (2014, p. 246) asevera que, para esse princípio, “a
Administração deve dispensar o mesmo tratamento a todos os administrados que estejam na mesma
situação jurídica”.

Carvalho Filho (2014, p. 246) ainda interliga os princípios impessoalidade e da moralidade, afirmando
que:

Sem dúvida, tais princípios guardam íntima relação entre si. No tema relativo aos princípios da
Administração Pública, dissemos que se pessoas com idêntica situação são tratadas de modo
diferente e, portanto, não impessoal, a conduta administativa estará sendo ao mesmo tempo imoral.
Sendo assim, tanto estará violado um quanto outro princípio.
o
O princípio da igualdade também tem sede constitucional, constando, em seu art. 5 , caput, que todos
são iguais em direitos e obrigações. Especificamente no âmbito das licitações, deve a Administração
Pública se preocupar para que todos tenham igualdade de possibilidades na contratação com o
Poder Público. Isso não significa que a Administração Pública não possa estabelecer requisitos
editalícios para a contratação e, por isso, excluir alguns possíveis participantes do certame.

Nesse sentido, Carvalho Filho (2014, p. 247) leciona que “a lei admite que o administrador, ao
enunciar as regras do procedimento, defina alguns requisitos para a competição”. Para o autor,
falamos, aqui, em igualdade de expectativas em contratar com a Administação.

O princípio da publicidade também deve ser observado na realização de certames licitatórios, até
para que seu pressuposto lógico (a competição) se realize. É com o conhecimento prévio acerca de
sua realização que os eventuais competidores, cientes das condições da licitação, decidem se dele
participarão ou não. Para Carvalho Filho (2014, p. 247), “esse princípio informa que a licitação deve
ser amplamente divulgada, de modo a possibilitar o conhecimento de suas regras a um maior número
possível de pessoas”.

Publicidade não deve ser confundida com publicação oficial. Hodiernamente, com espeque na ideia
de democracia participativa, não há dúvidas de que a publicidade é noção mais ampla e também se
realiza pela internet, pela televisão e outras mídias. No entanto, não devemos duvidar da importância
da publicação oficial como mecanismo destinado a assegurar a eficácia dos atos administrativos.

O princípio da probidade administrativa, também previsto na Lei de Licitações, exige do administrador


retidão de conduta e lealdade. Trata-se de ideia correlata à de moralidade. Carvalho Filho (2014, p.
247-248) assevera que esse princípio exige que “o administrador atue com honestidade para com os
licitantes, sobretudo para com a própria Administração, e, evidentemente, concorra para que sua
atividade esteja de fato voltada para o interesse administrativo, que é o de promover a seleção mais
acertada possível”.

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Em suma, pelo princípio da probidade e da moralidade administrativa, “a conduta dos licitantes e dos
agentes pu?blicos tem de ser, ale?m de li?cita, compati?vel com a moral, a e?tica, os bons costumes
e as regras da boa administrac?a?o”.

O princípio da vinculação ao instrumento convocatório é de extrema importância e visa assegurar a


segurança jurídica da licitação, evitando que o licitante seja surpreendido com exigência infundadas.
Por isso a importância do instrumento convocatório. Fala-se em instrumento convocatório, e não em
edital, por se tratar de expressão mais ampla. Para Maria Sylvia Zanela Di Pietro (2001, p. 299):

Trata-se de principio essencial cuja inobservância enseja nulidade do procedimento. Além de


mencionado no art. 3º da Lei nº 8.666/93, ainda tem seu sentido explicitado, segundo o qual “a
Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente
vinculada”. E o artigo 43, inciso V, ainda exige que o julgamento e classificação das propostas se
façam de acordo com os critérios de avaliação constantes do edital. O princípio dirige-se tanto à
Administração, como se verifica pelos artigos citados, como aos licitantes, pois estes não podem
deixar de atender aos requisitos do instrumento convocatório (edital ou carta-convite); se deixarem de
apresentar a documentação exigida, serão considerados inabilitados e receberão de volta, fechado, o
envelope-proposta (art. 43, inciso II); se deixarem de atender as exigências concernentes a proposta,
serão desclassificados (artigo 48, inciso I).

Em outras palavras, temos que o referido princípio “obriga a Administrac?a?o e o licitante a


observarem as normas e condic?o?es estabelecidas no ato convocato?rio. Nada podera? ser criado
ou feito sem que haja previsa?o no ato convocato?rio”.

Por fim, temos ainda o princípio do julgamento objetivo. Assim, os parâmetros de julgamento
previstos no instrumento convocatório devem ser observados no julgamento das propostas. Mais uma
vez, evita-se a surpresa dos participantes, homenageando a ideia de segurança jurídica:

Esse princi?pio significa que o administrador deve observar crite?rios objetivos definidos no ato
convocato?rio para o julgamento das propostas. Afasta a possibilidade de o julgador utilizar-se de
fatores subjetivos ou de crite?rios na?o previstos no ato convocato?rio, mesmo que em benefi?cio da
pro?pria Administrac?a?o.

Carvalho Filho (2014, p. 248) atenta para o fato de que este princípio não deve ser observado apenas
na fase de julgamento final das propostas, mas em todas as fases em que exista algum tipo de
julgamento.

Para a licitação na modalidade pregão, temos, ainda, o princípio da celeridade:

O princi?pio da celeridade, consagrado pela Lei no 10.520, de 2002, como um dos norteadores de
licitac?o?es na modalidade prega?o, busca simplificar procedimentos, de rigorismos excessivos e de
formalidades desnecessa?rias. As deciso?es, sempre que possi?vel, devem ser tomadas no
momento da sessa?o.

Trata-se de princípio que busca dar maior eficiência na atividade administrativa e maior rapidez na
finalização de seus procedimentos. Trazido como norte para toda a Administração Pública com a
Reforma Administrativa de 1998, o princípio da celeridade deve ser observado, ainda, no âmbito do
Poder Judiciário, considerando que, com a Emenda Constitucional 45/2004, falamos, agora, em
“razoável duração do processo”.

A licitação é dever inafastável dos órgãos da administração direta, também os fundos especiais, as
autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais
entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A
Constituição Federal de 1988 preconiza o dever de licitar como regra. Excepcionais, portanto, são as
hipóteses de sua não realização. Assim é que o referido procedimento administrativo deve observar
os regramentos decorrentes dos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da
igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório,
do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

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