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PERIGOSAS

Copyright @ 2017 Angie Mello

Capa: Marina Ávila


Copidesque e revisão: Luhana Andreoli
Diagramação: Cristiane Saavedra

Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais são mera coincidência.

ESTE LIVRO SEGUE AS REGRAS DAS NOVA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA.

Proibida a reprodução parcial ou total desta história, em quaisquer meios


— tangível ou intangível — sem a expressa autorização por escrito da
autora.

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“Que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que


anseio,
que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e
a boca,
porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é
silêncio.”
Metade - Oswaldo Montenegro

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Capa
Ficha Catalográfica
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
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Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo
Playlist
Sob o mesmo céu - Livro 2

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“And the tears come streaming down your face


When you lose something, you can’t replace
When you love someone but it goes to waste
Could it would be worst”
Fix you – Coldplay

— Que seu nome conste no livro dos culpados!


Ouvi o juiz proferir, de maneira imperativa e imponente.
A pior frase, a mais temida por mim, foi anunciada em um
tom de voz vibrante e forte, para que todos os presentes no
tribunal possam ouvir. Um burburinho começa ao meu redor,
composto de murmúrios e sussurros. Noto que a maioria é de
indignação. Escuto um soluço dolorido e imagino que deva
ser minha mãe. Pedi para que ela não viesse, pois odeio que
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me veja assim, porém, não fui bem-sucedido em convencê-la.


Ela insistiu em estar aqui. Sinto o coração apertar por seu
sofrimento. Nada mais do que se passa ao meu redor me
importa ou me interessa. Abaixo a cabeça, meu queixo quase
toca o peito. Sinto que fui derrotado e sei que deste momento
em diante minha vida jamais será a mesma. Solto o ar cheio
de expectativa que estou prendendo desde que fui informado
que os jurados tinham o resultado em mãos, que já haviam
chegado a um veredicto.
Não importa se sou culpado ou inocente, só querem me
prender. Sou o bode expiatório da vez, a ovelha a ser enviada
ao matadouro. Estou frustrado, o nó na minha garganta não se
desfaz, por mais que eu engula em seco. Eu me sinto
quebrado e com muita raiva por dentro, porém, estou
consciente de que preciso me manter calmo e concentrado.
Perder o controle agora só vai piorar a situação. Nada do que
eu disse foi ouvido, nada foi considerado. E por que fariam
isso, se todas as cartas já estavam marcadas? Nunca houve
uma saída para mim. Nunca tive uma chance. Disso eu sei
agora, mas, no início, até me restava alguma esperança de que
chegariam e diriam que tudo não passou de um mal-
entendido, de um engano, entretanto, logo percebi que tudo
não passou de uma farsa, uma armação, e eu caí feito um
verdadeiro otário por estar apaixonado e envolvido pela
personificação de uma cobra traiçoeira, e por isso não
enxerguei um palmo diante do meu nariz.
Nota mental: apaixonar-me de novo nunca mais na porra
da minha vida, se é que algum dia voltarei a ter uma.
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Continuo tenso, mas agora o motivo é outro. Eu sei que o meu


calvário vai começar. Não tenho nada mais a perder, me sinto
morto em vida. Se ao menos tivesse uma esperança de que
tudo pudesse mudar, de que pudesse ser revertido, eu juro que
lutaria até a minha última gota de sangue, até o meu último
alento. Só que não tenho. Receio ter perdido a fé, e só posso
esperar não perder a minha humanidade junto com ela.
Obrigo-me a levantar a cabeça e encarar, mais uma vez, o
meu algoz. Aquele que um dia acreditei que fosse o meu
melhor amigo. Caim teria sido mais honesto e leal do que ele
foi. Vejo que tem um meio sorriso cínico no rosto, o que
demonstra toda sua satisfação e alegria. Agora a teria só para
ele, seu prêmio, seu troféu, depois de ajudar, com sua traição,
a me tirarem do caminho. Que faça bom proveito. Para mim,
essa mulher não significa mais nada, está morta e enterrada, a
risquei da minha vida, a arranquei do meu coração. O que ela
fez comigo não será esquecido, muito menos perdoado. Será
sempre lembrada como a mulher que amei e que se
aproveitou disso para me destruir. A mulher que matou o meu
filho, que crescia em seu ventre.
Filha da puta, desgraçada!, xingo em minha mente. Dirijo
meu olhar frio de raiva na direção do homem que um dia
cheguei a considerar um irmão. Talvez eu tenha um motivo
para continuar respirando, afinal. Arrancar aquele sorrisinho
de escárnio da cara dele, com um soco bem dado, será um
momento de grande satisfação para mim. Um dia, Harry. Um
dia... Viro para o lado e Trent, meu advogado e amigo, me
olha. Ouço sua pergunta.
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— Você está bem?


Noto a preocupação e o receio em sua voz.
— Dentro do possível, sim, estou bem — respondo.
— Sinto muito. Eles foram implacáveis, tiveram acesso a
recursos ilimitados. Como prevíamos, a corrupção correu
solta. Fiz tudo o que pude no pouco tempo que tive para
preparar o caso — justifica-se, com o semblante
demonstrando toda a sua frustração. Sei que está indignado
com a situação. Sou inocente, fui incriminado e acabo de ser
condenado pela justiça. Não sei quantos anos de prisão vou
pegar, mas não serão poucos, afinal, para eles, eu sou um
policial corrupto, portanto, tenho que servir de exemplo.
— Eu sei disso, você pode ficar sossegado, Trent. Além
de meu advogado, tem sido um bom amigo — eu o
tranquilizo.
— Eu te juro, Grant, não vou desistir do seu caso, vou
fazer de tudo para te tirar daquele lugar. Eles devem ter feito
algo errado, cometido algum deslize, tem que haver uma
ponta solta em algum canto... Eu te prometo que não vou
descansar até encontrar! — ele me garante, deixando-se levar
pela raiva e impotência do momento. Trent é um cara
passional. Sangue, ossos e sentimentos. É um apaixonado
pelo Direito e competitivo também. Sei que ele se sente mal
por ter perdido o meu caso, posso ler isso, claramente, na
expressão de seu rosto.
— Eu sei, meu amigo, e eu acredito em você — afirmo,

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voltando meu olhar para ele. Quero que se sinta melhor, só


que não creio, de fato, no que estou dizendo. Não acredito em
mais nada e em mais ninguém.

Dois anos depois


Prisão de San Quentin, Cidade de San Rafael, Estado da
Califórnia.

Contra todas as minhas expectativas e falta de fé, meu


amigo e advogado, Trenton Campbell, foi incansável e lutou
com unhas e dentes por todo esse tempo, cumprindo sua
promessa e conseguindo me tirar do inferno para onde me
enviaram. Porém, eu ainda me pergunto: e do meu inferno
pessoal, este que carrego dentro de mim, quando vou ser
libertado?
— O que pretende fazer agora que está livre? — Trent
indaga. Ouço sua pergunta e olho para ele.
Estamos sentados dentro do seu carro, em frente ao
presídio. Eu olho para o lugar onde vivi, ou melhor dizendo,
morri em vida, e sinto o clamor por justiça corroer minhas
entranhas. Trinco os dentes para manter esse sentimento sob
controle.
Percebo que Trent mudou um pouco nesses últimos dois
anos, quatro meses e treze dias. Parece mais magro e pálido

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desde que nos vimos pela última vez. Segundo ele, passara
tanto tempo dentro de uma biblioteca jurídica absorto em
pesquisas, que sequer fazia ideia de quantas foram. Contratou
até um investigador particular para se infiltrar no submundo
dos policiais corruptos, mas foi por ter conseguido encontrar
uma brecha em uma lei, cujo nome não consigo me lembrar e
que agora não importa, é que novas provas foram levadas em
consideração. Trent conseguiu provar que usaram de má-fé ao
testarem as evidências, e foi capaz de afirmar, com absoluta
certeza, que todas tinham sido plantadas. Como houve muitas
inconsistências, o julgamento foi anulado e eu fui exonerado
de toda e qualquer culpa. Por fim, não tiveram outra opção, a
não ser me soltarem.
— Tenho que ir embora daqui, sair do estado — informo.
— E isso... por quê? — Trent pergunta com o olhar
curioso fixo em mim.
— Recebi um envelope com fotos rotineiras da minha mãe
e dos meus irmãos. Não havia nada mais dentro, só que o
recado para mim foi bem claro. Se eu ficar, minha família
corre perigo, e isso eu não posso e não vou permitir —
afirmo, decidido.
— Vá para onde for, aja com cuidado! Esses caras não
costumam desistir, você sabe.
Meu amigo advogado me dá o aviso, com uma ruga funda
entre os olhos. Sinto que tem receio por minha causa.
— Sim, eu sei, vou dar um tempo, deixar as coisas

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esfriarem. Quando tiverem se esquecido de mim e pensarem


que me venceram de vez, me transformo em uma Fênix e
ressurjo das cinzas. Fica tranquilo que dessa vez saberei como
fazer, voarei abaixo do radar, ninguém saberá quem sou.
— Pelo visto, você tem algo em mente. Já sabe para onde
vai?
— Tenho uma pista, muito pequena ainda, mas sempre é
uma pista. Nova York. É para lá que eu vou.
— Diante disso, eu só posso te desejar boa sorte. Vamos
tentar manter contato, entendido?
— Darei um jeito, e agradeço por ter me tirado daqui.
Chegou a hora de me despedir da Califórnia, o que faço
com um aperto no peito. Estou deixando a cidade onde nasci e
fui criado, as pessoas que eu amo e os poucos amigos que me
sobraram. Estou indo para um lugar desconhecido, onde não
terei ninguém. A raiva e o ressentimento têm sido meus
companheiros desde que fui condenado e preso. Estou há
tanto tempo mergulhado em um mar de sentimentos
destrutivos, que por mais que eu tente expurgá-los, arrancá-
los de dentro de mim, não consigo. Assim, para onde eu for,
os levarei comigo.
— Bom, é isso. Chegou a hora do adeus, meu amigo.
— Prefiro acreditar que é apenas um “até logo”... —
responde Trent, parecendo inconformado.
— O quê? Você? O cara mais pragmático que eu conheço,
tentando ser otimista? — Tento sorrir, mas não consigo. —
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Como quiser, Trent. Pois que seja um “até logo”! —


concordo com ele, afinal, não custa nada ter uma pequena
esperança de que este pesadelo um dia tenha um fim. —
Quem sabe eu volto ou você pode ir me encontrar na Grande
Maçã? Só que, aqui, meu amigo, não tem mais nada para
mim. Eu não estando por perto, minha família ficará mais
segura — digo com tristeza.
Meu amigo volta a me encarar e faz um sinal de
assentimento com a cabeça. Trent me compreende. Ele me dá
um abraço forte e eu retribuo. Sinto o coração sangrar ao ter
que deixar minha família para trás, mas não tenho escolha,
então pego o pequeno saco de papel com os meus poucos
pertences, os mesmos que eu tinha quando fui preso, e encaro
que me despedi de todos na última visita que me fizeram.
Vejo Trent dar a partida no carro. Vai me deixar no
aeroporto. Ele me emprestou algum dinheiro e, assim que eu
conseguir um trabalho, vou devolver e reembolsar também os
honorários do detetive. Ele diz que eu não preciso me
preocupar com isso, que tudo foi no modo pro bono, mas eu
faço questão. Só não tenho como pagar o que ele fez por mim
ao me tirar da cadeia. Ficarei lhe devendo para o resto da
minha vida.
Entro na fila para comprar a passagem. Feito isso, me
sento e espero paciente. Tenho que aguardar duas horas até o
próximo voo. Muito tempo para pensar. Suspiro. Estou livre
no sentido físico, mas muito longe de me libertar desse
pesadelo que tem sido a minha existência. Eu queria poder

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jogar tudo para o alto, esquecer o que passou e começar do


zero, mas algo dentro de mim grita, exige, pede justiça,
reparação.
O idiota do Harry não foi o mentor de tudo, é burro
demais para idealizar um plano tão bem elaborado. Sem falar
nos recursos a que tiveram acesso, até técnico de laboratório
eles compraram. Tem dedo de alguém muito mais esperto e
inteligente do que ele no meio dessa sujeirada toda, que, por
motivos óbvios, nunca deu as caras. Esse, eu quero encontrar,
e quando acontecer, talvez eu tenha que voltar para o inferno
do qual acabo de sair. Se tiver que ser assim, aceitarei meu
destino com a minha alma, por fim, em paz.

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“I wanna lay you down in a bed of roses


For tonight I sleep on a bed of nails
I wanna be just as close as the holy ghost is
And lay you down on a bed of roses”
Bed of Roses – Bon Jovi

— E quem é esse Grant que você tanto fala? Um novo


amigo? — Danna fez a pergunta usando um tom de voz um
pouco mais alto que o normal, uma vez que se encontrava
dentro do próprio quarto enquanto a filha se aprontava para ir
ao colégio no outro, ao lado do seu.
— É um colega que conheci na escola, mãe. Ele veio da
Califórnia.
— E você o conhece há quanto tempo? — indagou ela,
guardando uma das várias camisas do marido que havia
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terminado de passar.
Amy pensou por um momento antes de responder. Estava
em dúvida sobre o tempo exato.
— Há uns dois meses, eu acho... Mas não precisa se
preocupar, ele é um cara legal, gente boa — garantiu a
adolescente.
Danna se pôs pensativa, absorvendo a informação.
— Como eu não o conheço, não posso afirmar. Qual a
idade dele? — quis saber ela, um pouco incomodada, no
entanto, não entendia bem por quê.
Seguia insistindo no assunto, pois sentia que precisava
saber mais sobre o rapaz por quem a filha demonstrava um
evidente interesse, acima do normal. Amy voltou a ficar
pensativa. Percebeu que não sabia qual era a idade exata de
Grant. Ele não havia dito e nem ela teve interesse em
perguntar. Sem alternativa, a garota só foi capaz de especular.
— Eu acho que ele deve ter uns vinte e seis ou vinte e sete
anos — respondeu ela. — Mas é muito gato, mãe! A senhora
precisa ver. Não que seja como esses marombados, fortões ou
que se parecem com modelos de capas de revista, nada disso.
Ele é um cara normal, só que bonito. As garotas da escola são
todas loucas pelo Grant, só que ele é um tipo sério e não dá
muita bola para elas. No máximo, cumprimenta algumas com
um aceno de cabeça, nada mais que isso. E como possui esse
ar de mistério, chama ainda mais atenção e aguça a
curiosidade. Além de ser mais velho e nada bobo, como os

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garotos da nossa idade com quem somos obrigadas a estudar.


Não sei como ele começou a conversar justo comigo. Talvez
tenha ido com a minha cara, eu acho. A senhora sabe como eu
sou, falo com todo mundo e pelos cotovelos. Vai ver foi por
isso — Amy voltou a especular.
Danna notou o evidente entusiasmo presente no tom de
voz da filha ao falar do rapaz, que pelo visto a tinha deixado
impressionada. Foi quando surgiram algumas dúvidas em sua
mente e ela sentiu a necessidade de esclarecê-las. Melhor
tirar todas as minhas dúvidas agora do que ficar imaginando,
pensou ela, pragmática.
— Hum, ele é um gato, então. Entendi. E você disse que
deve ter uns vinte e sete anos? — indagou ela, buscando uma
confirmação. — Espera um pouco, o que ele faz na sua
escola? É um professor novo e eu ainda não conheço?
E o que faz um homem dessa idade ser amigo de uma
adolescente como a minha filha? Que interesses em comum
os dois podem ter?, perguntou-se intrigada.
Ela não se considerava uma pessoa preconceituosa ou
capaz de discriminar as pessoas pelo quer que fosse, longe
disso, porém, o normal seria os amigos de sua filha terem a
mesma idade que ela. A amizade de uma garota de apenas
dezessete anos com um homem feito, dez anos mais velho, na
sua opinião, era no mínimo estranha, porém, tinha que
confessar que talvez estivesse sendo parcial porque ainda a
via como a sua menininha, e não como realmente era: uma
jovem e bela mulher, determinada, inteligente e, que apesar
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da pouca idade, já sabia o que queria da vida.


Amy riu da conclusão precipitada da mãe.
— Não, ele não é um professor. O Grant é o faz-tudo da
escola. Ele me contou que largou os estudos e começou a
trabalhar para ajudar a sustentar a família — a garota explicou
penteando os longos cabelos castanho-escuros levemente
ondulados nas pontas em frente ao espelho de corpo inteiro,
afixado em uma das paredes de seu quarto.
Danna deixou escapar uma bufada. Não queria que a filha
pensasse que, para poder trabalhar, as pessoas se viam
obrigadas a deixar os estudos de lado. Havia exceções, é
claro, entretanto, a maioria conseguia conciliar os dois.
— Ah! Não me diga! Que pena saber disso... Mas escuta,
filha, eu não conheço a história de vida desse rapaz, e longe
de mim querer julgá-lo, só que muitos jovens conseguem
conciliar o trabalho com os estudos. Eu mesma conheço
vários casos assim — Danna argumentou com um leve tom de
censura na voz.
— Eu sei disso, mãe. O pai do Grant foi um soldado que
morreu na Guerra do Iraque. Parece que a pensão que a mãe
recebeu na época não foi suficiente para pagar todas as
despesas. O Grant precisou ajudar a criar os três irmãos mais
novos. Hoje em dia, eles estão crescidos e formados, ou
quase, mas como ele mesmo não se formou, a opção que tem
é pegar o que aparece. Alguns trabalhos são temporários,
como esse do colégio.

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Sem perceber, Danna sentiu uma empatia imediata pelo


moço de nome Grant ao ouvir o que a filha contava sobre a
sua história de vida. Sabia como era difícil perder alguém a
quem se ama, principalmente sendo um dos pais. Ela mesma
tinha passado pela experiência duas vezes e podia dizer
quanto foram dolorosas. Levou tempo para superar a dor da
perda, e depois de alguns anos, esta foi sendo amenizada, de
maneira que só restaram as lembranças dos bons momentos
que viveram juntos. Ainda sentia falta desses momentos,
inclusive dos não tão bons, sem mencionar a enorme saudade
que restou.
Pelo que entendia, o rapaz passava por dificuldades
devido à falta de estudos. Trabalhar por pequenos períodos
gera uma insegurança e instabilidade muito grande. E ela
mesma sabia quão difícil era abrir mão dos sonhos, porém, o
seu caso era distinto. Não podia comparar, pois nunca havia
passado necessidade em toda sua vida, portanto, não tinha
condições de imaginar como ele devia se sentir.
— Entendi, Amy. Esse seu amigo Grant parece ser uma
pessoa esforçada — comentou, por fim.
— Isso ele é mesmo — Amy ratificou sem hesitar.
Danna decidiu que havia obtido informações suficientes
para ter uma ideia do caráter do colega da filha. Sendo assim,
decidiu que era o momento de mudar de assunto, contudo, fez
uma anotação mental de que gostaria de ser apresentada a ele
e olhar nos olhos da pessoa que convivia com a filha e da qual
ela falava com tanto fervor.
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— Amy, tem como você passar na lavandeira hoje à


tarde? — pediu, mudando de assunto, enquanto dobrava
algumas peças de roupas sentada em uma banqueta ao lado da
cama. — Eu deixei um terno do seu pai para lavar a seco e já
deve estar pronto, mas, como sempre, eu ainda tenho muitos
afazeres da lista que ele me deixou hoje e acho que não vou
ter tempo de ir até o centro, e pelo que entendi, o Caleb vai
querer usá-lo em uma reunião no escritório amanhã cedo.
Você se incomoda de pegá-lo para mim, depois da aula?
A adolescente apareceu na porta do quarto de sua mãe
ainda com a escova de cabelos em mãos. Olhou para ela com
os olhos castanhos arregalados e um misto de desgosto e
indignação expresso no rosto.
Danna se levantou e permaneceu de pé em frente ao
armário enquanto guardava outras camisas que tinha acabado
de passar, levando o olhar indagador até a filha sem deixar de
organizar as peças nos devidos cabides. As que tinha dobrado,
ajeitou em seus lugares, dentro das gavetas.
— Não sei como a senhora aguenta isso! — declarou
Amy, sem ocultar quanto se sentia contrariada.
— Isso o quê? — perguntou Danna, abrigada pelas portas
do guarda-roupa.
— Essas listas que o papai deixa todos os dias. Eu acho
isso um absurdo. Nada a ver, mãe, sério mesmo!
Danna notou o tom e a expressão de aborrecimento da
filha. Parou o que estava fazendo deixando escapar um

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suspiro de desânimo.
— No começo, eu também achei frustrante, mas depois
desses anos todos acabei me acostumando. Hoje em dia, faço
no automático. Na verdade, nem me importo mais. E não
adianta, seu pai é assim desde que nos casamos, e não é agora
que ele vai mudar.
Amy assimilou os argumentos usados pela mãe, porém,
mesmo sabendo disso, há anos, ela ainda se recusava a aceitá-
los.
— Mesmo assim, eu acho uma tremenda falta de respeito
e de bom senso ele deixar essas listas até hoje. Quinze anos,
mãe! É muito controle! Não conheço ninguém assim. Papai é
um maníaco compulsivo e devia estar fazendo um tratamento
— constatou Amy.
Danna se espantou com o tom de revolta da filha. De
imediato, voltou o olhar a ela e retrucou, chamando a sua
atenção.
— Amy?! Como você pode falar assim do seu pai? Ele só
tem algumas manias e a lista é uma delas, isso não é nada
demais! — defendeu-o, o que fez a filha revirar os olhos e
bufar.
— Nada demais? Por favor, mãe! Existem tratamentos
para essas manias dele, e eu estou falando a mais pura
verdade. Ele chega em casa e a primeira coisa que faz é ficar
passando os dedos sobre os móveis, observando tudo, como
se tivesse fazendo uma inspeção; e se encontra alguma coisa

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fora do lugar ou um mísero sinal de poeira, ele te olha com


aquele olhar de desprezo, como que dizendo que a senhora
não sabe fazer nada direito, mas eu vejo como se mata todo
dia aqui. Mãe, ele tem condições de pagar vários empregados,
no entanto, só aceita pagar uma faxineira uma vez por
semana, e olha o tamanho dessa casa! Pelo amor de Deus! A
senhora mal tem tempo até para respirar! Ele nunca sai com a
senhora, a não ser para aquele clube horroroso com aquela
gente tão horrorosa quanto. Qual foi a última vez em que a
senhora fez algo que realmente quisesse fazer? Tenho certeza
que há anos... A impressão que meu pai me passa, é que ele a
vê como uma escrava.
Danna sentiu-se mal ao ouvir aquilo tudo que saía da boca
da filha. Amy não avaliava quanto estava sendo dura. Dureza
demais para alguém tão jovem como ela.
— Você está exagerando. É só o jeito dele. É claro que
seu pai não me vê assim. Pelo amor de Deus, não sei de onde
você tirou isso! — Danna voltou a defendê-lo, porém, podia
identificar a verdade nas palavras da filha.
Era certo. Há anos que não fazia algo por si mesma ou que
gostasse. Estava sempre ocupada demais até para pensar na
possibilidade de sair e espairecer um pouco. Antigamente,
adorava passear, visitar os parques e os museus da cidade, no
entanto, com o tempo, Caleb foi restringindo seus
movimentos, chegando a ponto de proibir que mantivesse
contado com a própria família e amigos. Danna tinha apenas
umas poucas amizades, que conseguira manter apesar da

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desaprovação do marido, mas apenas uma podia chamar


verdadeiramente de amiga, embora não a encontrasse com
frequência.
Amy revirou os olhos mais uma vez, sentindo-se frustrada
diante da resposta da mãe.
— Pelo amor de Deus digo eu! — ela exclamou em tom
impaciente. — Como é possível que a senhora ainda o
defenda? Como pode ser tão fraca e se deixar dominar dessa
maneira? — a garota questionou parecendo cada vez mais
indignada. — Ainda bem que meu pai não entra no meu
quarto, porque eu não deixo. A mim ele não controla, não
desse jeito. O que ele faz com a senhora é um crime. Até
quando vai se submeter a essa obsessão dele? Ao seu
domínio? Deixá-lo se aproveitar só porque a senhora tem um
temperamento doce e ao mesmo tempo cheio de culpas? Mãe,
você precisa reagir enquanto é tempo! Ele age como se a
senhora fosse uma das várias propriedades que ele tem.
Pronto! Falei!
Danna se sentiu surpreendida e atingida pelas palavras
cada vez mais duras da filha, contudo, ao que parecia, Amy
ainda não estava satisfeita e tampouco percebia que a fazia se
sentir mal com o que lhe dizia.
— Você está me desrespeitando! Sou sua mãe, Amy! O
que deu em você hoje? Nunca falou assim comigo antes! —
Dana recriminou a filha, começando a se irritar.
Amy não se intimidou diante do tom de censura da mãe,
de modo que seguiu expondo o seu ponto de vista diante de
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uma situação que via todos os dias, durante anos, a qual não
aceitava, e já que tinha começado a externar o que pensava,
estava determinada a ir até o fim.
— Desculpe-me, mãe, mas a meu ver, eu não estou lhe
faltando com respeito, e também não estou mentindo. Ele te
sufoca. Nunca te deixou trabalhar fora. Lembra quando você
quis fazer MBA? Ou daquela vez que desejou fazer um
curso? Não me lembro do que era agora, mas acho que tinha a
ver com arte.
Danna se recordava muito bem da época a qual a filha se
referia. Tinha sido uns dois ou três anos antes. Ela e Caleb
conversavam sobre o assunto, porém, do nada ele começou a
ficar nervoso, então passaram a discutir alterando as vozes, e
como sempre, ela perdeu, pois o marido foi irredutível em sua
negativa.
— Era um curso de história da arte — foi a sua resposta
simples.
— Isso mesmo! Lembro-me disso agora — exclamou a
menina. — E o que foi que meu pai disse? Que isso de fazer
cursos eram futilidades, que a senhora não precisava, que, de
toda maneira, não ia fazer uso, que era perfeitamente capaz de
manter a família, que ele podia comprar tudo o que queria e
precisasse, e que a sua obrigação era cuidar de mim e manter
a casa limpa e em ordem, apenas isso! — Amy enumerou os
argumentos usados pelo pai para manter a esposa sob o seu
domínio.
Danna levou os olhos para a filha, pois não imaginava que
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ela tivesse conseguido ouvir tudo aquilo e nunca ter dito nada,
nenhum comentário.
— E como você sabe disso? — questionou Danna,
espantada e indignada ao mesmo tempo. — Andou ouvindo
as nossas conversas?
— Não. Eu não fico pelos cantos ouvindo conversas
alheias, mãe, a senhora me ensinou isso muito bem. Só que
nesse dia em particular, eu estava no meu quarto e foi
impossível não ouvir os gritos do meu pai. Escutei vocês dois
debaterem o assunto. Ele acabou com a sua autoestima,
destruiu os seus sonhos. A senhora é tão nova, tão bonita, mas
não se arruma mais, não se cuida, não liga para a aparência...
Parece que se esqueceu de como ser mulher, que desistiu da
vida, e isso me deixa triste, porque eu te amo e não posso me
espelhar na senhora. Não quero ser uma pessoa manipulável e
controlada.
Amy não lhe deu trégua, seguia falando sem parar. Eram
verdades difíceis de ouvir. Danna continuou escutando,
pensativa, o discurso da filha. Sabia que ela tinha razão, pelo
menos em parte do que dizia, mas era ainda muito jovem para
entender os motivos que a levavam aceitar a vida que tinha.
— Você é muito nova e não tem experiência de vida,
Amy! Não sabe do que está falando. Um dia vai entender que
a vida nem sempre é como queremos ou imaginamos. O
mundo está cheio de desilusões, sonhos que ficam pelo
caminho ou são simplesmente destruídos. O que possuímos
de verdade é a nossa realidade. Temos um bom lar, seu pai
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tem um bom emprego, eu tenho minhas listas e você pode


estudar em uma ótima escola. Somos saudáveis e não nos
falta nada! — argumentou Danna.
Amy continuava insatisfeita com a posição da mãe. Ela
não se via como de fato era, parecia condicionada a uma
situação que, a seu ver, devia ser intolerável, no entanto, lá no
fundo, conseguia entender um pouco a mulher que a criou, só
não se sentia capaz de aceitar o modo como vivia.
— Estamos no século XXI, vivemos na América, e a
senhora se formou na universidade, portanto, não é nenhuma
ignorante alienada, e por isso mesmo é que é ainda mais triste
que tenha esses pensamentos da Idade Média. Eu sei de tudo
isso que a senhora falou, de fato nós temos bastante, mais do
que muita gente, só que sinto que ainda faltam muitas coisas
por aqui. Por exemplo: andei vendo uns álbuns antigos da
senhora, guardados lá no sótão, e li em um deles que seu
sonho era ser pintora e trabalhar com arte, encontrei até
alguns desenhos e esboços muito bons, na minha leiga
opinião. Mas a senhora desistiu de tudo depois que se casou.
Eu jamais farei isso, não vou me anular por um homem, não
seguirei o seu exemplo, aliás, farei exatamente o contrário.
Amy saiu do quarto deixando a mãe sozinha. Danna
abandonou a banqueta e se sentou na borda da cama. Não
imaginava que a filha tivesse dela essa imagem tão derrotista.
Pensava que fazia tudo certo, como manda o figurino. Era
esposa e mãe, e tentava dar o seu melhor dia após dia, ano
após anos, mas depois de todas aquelas observações, algumas

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perguntas surgiram em sua mente: a vida era só isso mesmo?


Havia feito suas escolhas, mas será que não tinha o direito de
desejar mais? O que possuía de bens materiais e o casamento
sem amor eram tudo o que havia reservado para ela? Podia se
imaginar vivendo aquela mesma vida, sem graça e sem
objetivos, nos próximos dez, vinte anos?
— Cadê o tíquete? — Amy perguntou de forma repentina,
de pé na porta do quarto de sua mãe novamente.
— Tíquete? — Danna repetiu elevando a cabeça, levando
um segundo para despertar de seu transe.
— É, o recibo da lavanderia — Amy confirmou. — Eu
passo lá depois da escola, como a senhora pediu, e pego o
terno do papai.
— Ah, sim, claro. Só um minuto que vou pegar.
Danna levantou-se agitada, andou até o criado-mudo e
abriu a gavetinha. Encontrou o que procurava e voltou,
entregando-o para a filha.
Amy pegou o pequeno pedaço de papel e o colocou no
bolso da jaqueta. Virou-se para descer as escadas, contudo,
estacou, ficando hesitante por um instante, como se, de
repente, tivesse se lembrado de alguma coisa.
— Ah! Estava me esquecendo de avisar, vou chegar um
pouco mais tarde hoje. Combinei de estudar com a Brenda,
depois do colégio eu pego o terno e vamos para a casa dela.
Temos uma prova importante amanhã — explicou em um só
fôlego.
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— Está bem, mas não demore muito, você conhece o seu


pai, sabe que ele não gosta de chegar do trabalho e não te
encontrar em casa — Danna advertiu olhando-a de lado.
— É, eu sei. Não se preocupe, devo chegar antes dele. E,
mãe?
Danna parou o que estava fazendo e levou o seu olhar até
a filha.
— Oi, Amy, o que foi?
A adolescente olhou chateada para a mãe ao encontrar seu
semblante entristecido por causa das coisas que tinha dito a
ela. Sentindo-se culpada por ter sido tão dura, Amy tratou de
amenizar um pouco a situação se desculpando pelo modo
arrebatado, e até mesmo agressivo em alguns momentos, com
que havia abordado o assunto que há tempos a incomodava.
— Sinto muito por ter dito tudo aquilo e pela maneira que
falei também. Não foi minha intenção criticar a senhora ou a
sua vida — a garota se desculpou, sincera. — Só falei o que
eu penso. Tanto tempo vendo tudo isso acontecer e eu nunca
disse nada — justificou-se. — Eu te amo, a senhora sabe que
é a minha mãe favorita — Amy acrescentou, sorrindo
travessa.
— Está tudo bem você dar sua opinião, meu anjo, mas
tenha cuidado com o uso das palavras, às vezes elas
machucam, magoam, ainda mais quando se trata da verdade
— Danna respondeu, terminando de dobrar uma blusa de lã e
a colocando em uma das pilhas de roupas que formava ao seu

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redor.
— Eu só queria que a senhora fosse mais, sei lá, feliz?
Está sempre com uma sombra de tristeza nos olhos. Quando
não nos sentimos bem com alguma coisa ou situação, não
devemos deixar isso para trás e procurar aquilo que nos faz
sentir melhor? Para ficarmos de bem com nós mesmos? —
Amy questionou com uma pequena ruga no meio da testa,
parecendo mais velha do que de fato era.
Fato esse que Danna acabou por confirmar em seguida.
— Está muito madura para a sua idade, mocinha! Eu é que
deveria estar te dando conselhos, e não você a mim. Mas você
está certa, é assim mesmo que deve ser. Temos sempre que
procurar o que nos faz bem, o que é melhor, porém, não sei se
consigo. Quem sabe um dia? — Sorriu um sorriso sem
vontade. — Ah, minha menina, eu também te amo. Muito,
muito mesmo! — declarou tocando o rosto da filha. — Nunca
se esqueça disso!
A adolescente a fitou com uma expressão grave.
— Eu acho que não existe mais amor entre você e o meu
pai. Já percebi isso, mãe. Se a senhora tiver que decidir algo,
se quiser mudar alguma coisa na sua vida, não se reprima por
minha causa. Eu amo os dois e só quero que fiquem bem,
juntos ou separados, não importa, mas que fiquem bem.
Amy continuava séria quando se aproximou ainda mais da
mãe e a abraçou. Danna a recebeu em seus braços, passando a
acariciar os longos cabelos da filha.

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— O amor às vezes é algo supervalorizado. Existem


pessoas que têm a sorte de amar mais de uma vez, no entanto,
outras passam pela vida sem realmente senti-lo. Há muito
tempo acredito fazer parte do segundo grupo. Fui apaixonada
pelo seu pai, não nego, mas isso foi no começo. Éramos
jovens e chegou um momento em que a novidade passou.
Nosso casamento caiu na rotina, eu me acomodei e fui
aceitando o que a vida me dava. Amy, você não precisa se
preocupar comigo, eu sou feliz do meu jeito — garantiu,
desejando desfazer sua expressão fechada, mas sabia que
falava da boca para fora, pois por dentro não podia se sentir
mais infeliz e mal-amada. Era uma covarde em não fazer nada
para tentar mudar sua situação.
Alguns minutos se passaram até a garota sair do abraço e
andar em direção à escada. Danna a viu descer, atravessar a
sala e colocar a mão na maçaneta. Ela abriu a porta, porém,
antes de sair, virou a cabeça em sua direção e lhe deu um
último sorriso, o qual Danna retribuiu com um aceno de
despedida e um beijo soprado do topo da escada. Sua
menininha estava crescendo, se transformando em uma
mulher e já lhe dando conselhos. Alguns, tinha que admitir,
eram muito sábios. Porém, ter consciência disso não
amenizava a frustração e a sensação de impotência que a
acometia.

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“I’ll spread my wings and I’ll learn how to fly


I’ll do what it takes till I touch the sky
And I’ll make a wish, take a chance,
make a change and break away”
Breakaway – Kelly Clarkson

Tudo o que a filha verbalizara, Danna já sabia. Tinha


consciência de que se acomodou em um casamento sem amor,
altamente insatisfeito. Admitia que Amy tinha razão em
afirmar que ela era uma mulher fraca por não lutar pelo que
queria e, sempre, ceder perante as exigências do marido. O
tempo passou tão rápido que ela mal se deu conta. O mundo
continuou girando e as coisas mudaram muito, a sensação que
tinha era de que havia parado no tempo. Quinze anos antes,
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aos dezenove, apenas, ela e um colega do colégio iniciaram


um relacionamento. Caleb Green. Um jovem alto, bonito,
gentil, promissor e de fala mansa. Por frequentarem a mesma
igreja, seus pais se conheciam.
Não eram propriamente amigos, podia-se dizer que eram
meros conhecidos. Ela se encantou com seu charme e o
encanto pareceu ser mútuo. Não soube bem quando ou como
aconteceu, mas em menos de um ano após se conhecerem,
estavam se casando na pequena igreja. Ao completar um ano
de casada, mesmo sendo um pouco precoce, Danna decidiu
engravidar, foi quando descobriu que não podia ter filhos.
Segundo o médico, um problema genético a tornou estéril. Ela
nunca soube dizer exatamente qual havia sido o diagnóstico
preciso, uma vez que usaram termos técnicos na explicação –
um útero infantil ou algo do tipo –, e Danna não prestou muita
atenção, pois a notícia por si só tirara seu chão. A verdade,
cruel, era que nunca seria capaz de gerar uma criança, então,
mesmo um pouco contra a relutância do marido, ao menos no
início, ambos partiram para a adoção. Ela desejava ser mãe
com todas as suas forças, e o fato de não poder ter um filho
legítimo, de sangue, tornava essa necessidade quase uma
obsessão.
Um ano e meio se passou até que conheceram aquela linda
menininha de dois aninhos de idade. Tiveram muita sorte em
encontrá-la e foi amor à primeira vista, tanto da parte de
Danna quanto da pequena. Pouco mais de um ano depois,
entre entrevistas, acompanhamento psicológico e visitas da
assistente social, o jovem casal conseguiu a guarda temporária
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da menina. Mais algum tempo, e saiu a confirmação da


adoção definitiva.
Logo que se casaram, Caleb começou a deixar recados
para a esposa na porta da geladeira. No começo, eram apenas
lembretes, que evoluíram para listas, e não tardou a virarem
rotina. Deixava anotado todas as tarefas que ela deveria fazer
durante o dia. Danna incomodou-se bastante de início, mas,
com o tempo, acabou se adaptando à maneira de ser do
marido. Ela era jovem e, até certo ponto, ingênua. Criada em
uma família fundamentalista cristã do sul do país, onde
praticamente tudo o que se fazia era pecado e garantia uma
ida sem volta para o inferno, desde cedo fora ensinada que a
mulher devia obedecer e satisfazer o esposo, assim como sua
mãe e sua avó fizeram antes dela.
Danna havia se afastado da igreja desde a morte dos pais,
vários anos antes, porém, anos de ensinamentos e doutrinas a
mantiveram, por uma década e meia, sob o domínio de um
marido egoísta e muitas vezes atroz. Para ela, só existia esse
mundo, não sabia que podia ser diferente. Tivera sua cota de
sonhos, claro, mas não passaram disso, apenas sonhos. A
realidade era outra, consistia na casa, na filha e no marido. O
que ela queria para si ficava em segundo plano. Sua felicidade
era ver sua família bem vestida, alimentada e a casa sempre
impecável. Se tinha tudo isso, não precisava de mais nada
para se sentir bem, contudo, o bichinho da insatisfação, de vez
em quando, aparecia e ameaçava engolfá-la.
Até à noite, no quarto e na cama, Caleb era pragmático.

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Contentava-se com o básico. Subia em cima dela, abria suas


pernas e a possuía. Sem preliminares, sem palavras, sem
carinho. Quando terminava, ele se limpava, se virava para o
lado e dormia. Afastar suas pernas e enfiar o membro dentro
dela, permanecer ali, a estocando por dez minutos, às vezes
menos, esfregando as mãos em seus seios e resfolegando em
seu pescoço, sem nenhum cuidado ou intenção de agradá-la,
não a fazia sentir nada, além de desconforto e uma certa
repulsa. Após o ato, ela o observava dormir ressonando
baixinho, depois fixava o olhar no teto por alguns minutos,
sentindo-se vazia. Era como se faltasse algo que nem mesmo
ela sabia explicar. Então saía da cama, entrava no banheiro e
usava o chuveirinho. Deixava-o ligado até tirar tudo aquilo de
dentro de si. Sentia-se suja e não sabia bem o porquê, já que
era sua obrigação e seu dever como esposa se entregar ao
marido. Mantinham relações duas vezes por semana, sempre
nos mesmos dias e horário. Como tudo em sua vida. Uma
eterna rotina. Frio, calmo e sem emoções.
O ato entre eles era algo tão mecânico e rápido que ela
nem conseguia imaginar o que as amigas contavam, nas
poucas vezes em que participava das reuniões, sobre seus
relacionamentos com homens que as enlouqueciam na cama,
com o prazer que eles as faziam sentir. O marido tinha sido
seu primeiro e único homem e, definitivamente, não a
enlouquecia. Só se for de tédio, ela ria de seu pensamento
ferino. As relações das amigas eram distintas e muitas vezes
até turbulentas. Choravam, riam, se descabelavam... Algo tão
distante da sua realidade. Para ela, o ato era tão sem graça que
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não entendia como podiam gostar tanto daquilo. Uma vez ela
tentou recusar, dizer não para ele, e ganhou um tapa no rosto,
sendo forçada a se submeter contra sua vontade.
Durante um período no passado, ela soube que o marido
tinha uma amante, descobriu detalhes e pistas que a levaram a
essa conclusão, porém, naquela época, era recém-casada e
seria inadmissível pedir o divórcio. Sua família jamais a
apoiaria, e de acordo como foi criada, Danna apenas fechou
os olhos para o fato, acreditando que fosse culpa sua, afinal,
se fosse uma esposa melhor para ele, Caleb não sentiria a
necessidade de ter uma mulher fora do casamento. Como era
ingênua! Por mais que se esforçasse, ele continuou com as
traições. Caleb já não fazia a menor questão de dissimular
havia alguns anos, desde a primeira vez em que Danna criou
coragem para enfrentá-lo. Mas ele apenas desdenhou, zombou
dela, dizendo exatamente o que ela pensava, que se fosse
pouco mais que uma boneca inflável na cama, não precisaria
buscar fora o que não encontrava dentro de casa. Sempre que
podia, repetia a mesma desculpa, responsabilizando-a sem
qualquer arrependimento.
Muitas vezes, Danna chegou a se perguntar se não era
uma mulher frígida, pois não conseguia sentir nada durante as
relações com o marido. Como precisava de estímulos para se
excitar e Caleb não fazia o menor esforço para isso, ela
invariavelmente ficava a ver navios. A princípio, achou
normal, devido à sua falta de experiência. Depois de um
tempo, começou a acreditar no que Caleb dizia, que ela, na
verdade, não sabia como agradá-lo. Por fim, simplesmente
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desistiu.
Havia se tocado algumas poucas vezes, mais por
curiosidade, mas sentindo algo diferente, até mesmo
prazeroso, embora tivesse se arrependido logo após o ato,
sentindo-se culpada. Era como se fazer aquilo consigo mesma
fosse errado, muito errado, um pecado do qual seria punida
com o fogo do inferno. Vinha à sua mente os intermináveis
sermões dos anciões e se retraía, prometendo que jamais
repetiria.
Agora, o prazer que as amigas tanto falavam que recebiam
de um homem, esse ela não conhecia. Não era assim tão
ingênua, já havia lido a respeito, mas, na prática, parecia uma
monja em comparação com as amigas. Seria engraçado se não
fosse quase trágico e patético. Uma mulher casada há tantos
anos sentindo-se praticamente uma virgem. E como se isso
não bastasse, no seu dia a dia ainda existiam aquelas malditas
listas.
Levantou-se, andou até o espelho de corpo inteiro e
começou a fazer uma análise crítica de sua figura. Não, não
era uma mulher feia, pelo contrário. Possuía cabelos
castanhos longos e ondulados nas pontas, olhos esverdeados e
pele clara com algumas sardas sobre o nariz afilado. Com um
metro e setenta de altura, possuía um corpo magro, longilíneo
e com curvas nos lugares certos. Sim, a filha tinha razão,
ainda era uma mulher bonita, porém, não se arrumava, não era
vaidosa e nem se sentia feminina. Mais um ponto para a Amy.
Tinha que admitir que sua autoestima, com efeito, era baixa.

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A insatisfação crescia dentro de Danna há muito tempo, só


precisava de um pouco mais de coragem, ou de um incentivo,
para tomar uma atitude. Talvez agora, com a filha crescida,
pudesse fazer algo em prol de si mesma. E sendo honesta,
sabia que, na verdade, tinha medo de enfrentar a vida.
Havia se formado na universidade mesmo depois de
casada, quando Caleb ainda não se tornara tão intransigente,
porém, nunca exercera a profissão. Na prática, não sabia fazer
nada. Cuidar da casa, do marido e da filha conta como
experiência profissional? Claro que não! Precisava pensar no
que realmente queria para a sua vida daquele momento em
diante. Suspirou e voltou sua atenção aos afazeres do dia,
consultando o próximo item da agora famigerada lista. De
repente, em um gesto irritado e impaciente, sentimentos raros
nela, Danna amassou o papel e o jogou no lixo. Talvez aquele
ato simbólico fosse o que estava precisando para iniciar uma
mudança definitiva.

Oito horas da noite.


Danna estava terminando de colocar a mesa quando ouviu
o ruído da chave abrindo a porta da frente. Inclinando a
cabeça em sua direção, viu o marido entrar, tirar e pendurar o
sobretudo e o paletó do terno cinza chumbo no mancebo ao
lado da porta, deixando a valise e as chaves do carro sobre o
aparador junto à parede da sala. O seguiu com os olhos
enquanto caminhava até o banheiro, desabotoando e
enrolando os punhos da camisa branca até a metade dos
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antebraços com a intenção de lavar as mãos. Ao retornar e


sem ao menos cumprimentá-la, ela viu o marido sentar-se à
mesa, abrir o guardanapo e o colocar sobre as pernas. Em
seguida, o homem tomou os talheres nas mãos e começou a
cortar um pequeno pedaço da carne assada que ela havia
preparado para o jantar.
— Você espera que eu coma isso? — Caleb esbravejou,
um minuto depois, em um tom de voz extremamente irritado.
Danna deteve o garfo no meio do caminho até a boca e
sentiu um arrepio subir pela espinha. Seus olhares se
encontraram e ela notou que o dele estava frio e inexpressivo.
— Por quê? Não está boa? Deixei no ponto que você
gosta, Caleb — afirmou com a voz trêmula.
— Não está como eu gosto. Essa porcaria está crua por
dentro! — exclamou ele, raivoso. Socou a mesa fazendo os
pratos se moverem e os talheres tilintarem devido ao impacto
produzido por seu punho.
Danna respirou fundo e se levantou com a intenção de
pegar o prato de Caleb e levá-lo de volta à cozinha, porém, foi
impedida, vendo seu pulso ser segurado pela mão grande do
marido, sentindo seu aperto de ferro.
— O que você pensa que está fazendo? — Caleb
questionou entredentes.
— Vou levar a carne para a cozinha e terminar de assá-la
— explicou ela, o coração chegando à boca. Nunca tinha
como saber ao certo o que esperar do marido, e por isso vivia
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sempre tensa, pisando em ovos em sua presença.


— Não precisa, perdi o apetite — Caleb resmungou,
colocando o guardanapo ao lado do prato em um gesto
brusco, levantando-se e fitando-a com fúria incontida nos
olhos.
Em um movimento inesperado, Danna o viu pegar o prato
de cima da mesa e o arremessar em sua direção, que desviou
por puro reflexo um milésimo de segundo antes de o mesmo
atingir a parede atrás dela, se espatifando e terminando por
cair em pedaços no chão da sala de jantar, a poucos
centímetros de seus pés. Danna deixou escapar um grito
involuntário de susto e terror, tapando a boca com ambas as
mãos. Olhou para ele com os olhos arregalados. Ao contrário
da sua, a expressão do homem estava impassível. Ela não
entendia o que estava acontecendo, o que poderia ter feito
para que o marido agisse daquela maneira. Não conseguiu se
mover, permaneceu plantada no mesmo lugar sentindo um
aperto de medo na boca do estômago. Cinco minutos depois,
ela o viu voltar a se sentar. Caleb pegou um copo com água e
tomou um gole. Agia como se não tivesse feito absolutamente
nada fora do comum. Confusa e amedrontada, Danna levou o
olhar para o piso, onde o prato e a comida jaziam.
— Senta! — Caleb ordenou sério. — Depois você limpa
isso. Onde está Amy? — indagou frio.
Danna estava intimidada. Obedeceu por instinto e voltou a
se sentar, tremendo por dentro.
— Ela me avisou que iria demorar um pouco mais hoje,
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pois marcou com a Brenda de estudarem juntas depois das


aulas. Disse que vão ter uma prova importante amanhã —
respondeu ela, os olhos fixos no próprio prato, evitando olhar
para ele.
— Você sabe muito bem que eu não gosto de chegar em
casa e não encontrá-la aqui, sentada à mesa conosco! — o
homem a recordou em um tom forte de censura.
— Eu sei, Caleb, ela pode ter tipo algum imprevisto, mas
acredito que deva chegar a qualquer momento — justificou,
tentando amenizar o momento tenso.
— Pode ser que seja isso, e se for mesmo o caso, ela
deveria, ao menos, ter ligado avisando que se atrasaria — ele
falava com um repuxar nos lábios, mostrando quanto estava
insatisfeito com a situação, ao mesmo tempo deixando
implícito que ela era a culpada, por não ter ligado mais cedo
para saber se a filha já estava voltando para casa.
— Sim, você está certo — concordou Danna, mantendo os
olhos baixos. Não queria ter que encarar a raiva e a censura
que, sabia ela, havia nos dele.
O marido tinha razão, estivera tão concentrada na
arrumação da casa e na preparação do jantar, para que tudo
estivesse pronto e em ordem antes da sua chegada, que não
notara que a filha estava, de fato, atrasada.
— Vou ligar para o celular dela assim que terminarmos —
avisou Danna, remexendo a comida no prato. Depois de tudo
aquilo, sentia um bolo no estômago que a impedia de

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continuar o seu jantar.


Recebeu mais um olhar de reprovação, o que a deixou
ainda mais desconcertada e temerosa. Não o faria antes, pois
essa era outra coisa que o marido não admitia; deixar a mesa
antes do término das refeições era algo imperdoável na visão
dele.
— Está bem... — Caleb assentiu. — Avise-me quando
tiver notícias dela.
Ele a fitou com seus olhos azuis cravados de pontinhos
cinza por um momento, porém não disse mais nada, e a
conversa entre os dois acabou ali.
Ao terminar, Danna se levantou e começou a tirar a mesa,
levando a louça até a cozinha e jogando as sobras de comida
no lixo, ao lado da pia. Voltou até a sala de jantar com um
balde com água, um pano e uma pazinha, começando a limpar
o chão onde ele havia atirado a comida.
Depois de tudo limpo e guardado, foi fazer a ligação. Na
primeira tentativa, a filha não atendeu. Na segunda, caiu
direto na caixa postal, o que era muito estranho, Amy sempre
atendia no primeiro toque. Danna deixou uma mensagem
pedindo que retornasse assim que a ouvisse, então decidiu
ligar para sua amiga, Brenda, que atendeu no terceiro toque.
— Brenda, sou eu, Danna, a mãe da Amy, ela ainda está
aí?
— Ah, olá, senhora Green! A Amy saiu daqui faz uma
hora, mais ou menos. Ela não chegou ainda?
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— Não, não chegou, por isso estou ligando, para saber


dela, mas se saiu daí há quase uma hora, já era para ter
chegado em casa — concluiu, incerta.
Danna sentiu um calafrio de medo percorrer sua espinha.
Ficou preocupada. Onde ela estaria? Tinha acontecido alguma
coisa. Ela sentia. Então ouviu a confirmação por parte da
amiga da filha.
— Sim, senhora. Da minha casa até a sua leva meia hora,
no máximo, e ela saiu daqui dizendo que ia direto para casa.
Nesse momento, ouviram o telefone fixo tocar. Caleb
levou o olhar até ela antes de se levantar do sofá e ir atender o
aparelho que ficava em uma mesinha de canto.
— Obrigada, Brenda — Danna agradeceu e desligou o
celular em um gesto automático, colocando-o devagar sobre a
mesa de centro da sala. Fez isso sem tirar os olhos de cima do
marido.
Um minuto, dois minutos se passaram e não precisou que
ele lhe falasse nada. Sua expressão contou o que ela precisava
saber. Sentou, pois as pernas ameaçavam fraquejar, e se
forçou a esperar o marido terminar a ligação. Ao vê-lo colocar
o telefone de volta no gancho, ela se levantou e foi até ele.
— Caleb, o que aconteceu com a Amy? — a pergunta saiu
em um fio de voz temeroso.
— Um acidente na estrada... — respondeu ele, meio
alheio. Sua expressão era de choque. Parecia não acreditar no
que acabara de ouvir. Danna notou que seus olhos estavam
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vidrados. Era uma visão tão rara que ela levou um momento
para entender o seu significado. — Amy foi levada para o
hospital — o homem completou.
Ela o fitou incrédula e levou a mão em punho até a boca,
abafando um gemido.
— Meu Deus! E como ela está? Nossa filha está bem?
Fala, Caleb! — exigiu ela, sentindo as pernas falharem e
procurando o sofá para sentar-se novamente.
O restante da noite e o dia seguinte passaram como se ela
estivesse em uma bolha. Graças aos céus tudo não passara de
um susto. Amy havia perdido o controle do carro e derrapado
no gelo da estrada no caminho para casa. Apenas sofreu
algumas escoriações e quebrou uma perna. Danna ficou
aliviada por não ter sido nada de mais grave.
Agora, estava sentada em uma poltrona em um quarto
particular do hospital observando a filha dormir. Passou o dia
recebendo visitas. Alguns poucos amigos mais próximos e
outros colegas da escola onde estudava.
Como todos já tinham ido embora e Amy seguia
dormindo, Danna resolveu esticar as pernas. Saindo do
quarto, virou à esquerda e andou até um bebedouro que ficava
no corredor. Estava com a garganta seca e se sentia exausta,
pois mal pregara os olhos na noite anterior. Ficara acordada e
atenta para atender a filha no que precisasse.
Em meio às diversas pessoas que se encontravam na sala
de espera, ela notou um rapaz alto encostado de maneira

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displicente em um canto da parede. Mesmo de longe, o rapaz


chamou sua atenção. Sem perceber, começou a analisá-lo de
maneira discreta e com o rosto parcialmente oculto atrás do
copo descartável encostado nos lábios.
Ele devia ter pouco mais que um metro e oitenta, possuía
um corpo proporcional e usava uma camiseta branca por
baixo de uma jaqueta de couro marrom. O jeans desbotado
moldava seus quadris estreitos e coxas à perfeição, que
pareciam esguias, porém, dava para ver que existiam
músculos ali.
Voltou a olhar para o seu rosto e o encontrou assimétrico e
másculo. O cabelo era cortado curto e a barba por fazer lhe
dava um charme extra. Sem dúvida nenhuma, se tratava de
um homem bonito e muito sexy.
Sexy? De onde veio isso, Danna? Pelo amor de Deus, isso
é hora de notar esse tipo de coisa, e em um completo
estranho?, recriminou a si mesma.
Sem perceber, se viu comparando-o com um ator de
cinema espanhol cujo segundo nome era o plural de casa em
inglês. Ou seria aquele que tinha florestas como sobrenome?
Bom, seja como for, qualquer um dos dois cabia na descrição
deste que, notou ela, mortificada, encarava-a de volta,
fazendo-a desviar o olhar mais rápido do que pretendia.
Quando seus olhos se encontraram naquela fração de
segundo, e prenderam-se um no outro, Danna sentiu um
baque dentro do peito diante da intensidade do olhar que
recebeu. Por um instante, esqueceu como era respirar. Estava
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espantada, pois isso nunca havia acontecido com ela antes.


Sentia-se desconcertada e surpresa. Não era de seu feitio
encarar os homens daquela maneira. Era uma mulher casada e
não se permitia nenhum deslize, porém, no caso daquele
rapaz, precisava admitir que havia sido instintivo.
Simplesmente não conseguiu evitar.
Obrigou-se a limpar a mente, decidida a pensar em outra
coisa. E quando achou que havia conseguido abstrair a
presença dele ali, notou um par de botas vindo em sua direção
e parando bem à sua frente. Levantou os olhos devagar,
passeando-os por aquele corpo até chegar ao rosto, pois na
intenção de não encará-lo, manteve a cabeça baixa pelos
últimos cinco minutos. O fato de fitá-lo do outro lado da sala
não a preparou para o impacto de encontrá-lo cara a cara. Meu
pai! De perto ele é ainda mais bonito!
— Com licença. Meu nome é Grant Collins. A senhora é
Danna Green? A mãe da Amy? — indagou educado.
Ser bonito e sexy não é suficiente? Ele tem que ter essa
voz grave e levemente rouca também? E seu nome é Grant?
Esse é o nome do faz-tudo que Amy mencionou na conversa
que tivemos ontem!, deu-se conta de repente.
Ela não disse nada, pois não confiava na própria voz para
responder, apenas assentiu com um leve meneio de cabeça,
incapaz de desviar os olhos de cima dele.

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“The first time, ever I saw your face


I thought the sun rose in your eyes
And the moon and the stars,
Were the gifts you gave
To the dark, and the endless skies,
My Love.”
The First Time Ever I Saw Your Face – Roberta Flack

Grant registrou a confirmação da identidade da mulher à


sua frente e continuou a falar, expondo o motivo que o havia
levado até ali.
— Eu sou um colega da Amy, trabalho no colégio onde
ela estuda e soube do acidente através de uma amiga, a
Brenda. Gostaria de dizer que sinto muito pelo que houve.
Perguntei por ela na recepção e me informaram que está

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descansando, então não quis incomodá-la. Poderia entregar


isso e dizer que fui eu quem trouxe, por favor? — pediu,
passando para as suas mãos um ursinho de pelúcia e um
pequeno ramo de flores.
Danna os pegou apreciando o gesto do rapaz. Não se
lembrava de já ter recebido uma gentileza como essa alguma
vez na vida, pois o marido não fazia o gênero romântico, e
não tivera amigos homens como a filha. Ela sentiu o toque
daqueles dedos desconhecidos nos seus. Durou apenas alguns
segundos, não mais do que isso, contudo, foi o suficiente para
produzir um calor que subiu pelos seus braços, seguiu até os
ombros, peito, pescoço e chegou até o rosto, para o seu total
constrangimento, fazendo-a corar.
Céus! O que está acontecendo comigo? Sentir o que estou
sentindo agora é errado, muito errado! Mas se eu sei disso,
então por que não consigo me controlar?, perguntou-se
atordoada.
Danna sentiu o coração começar a bater, frenético, em um
ritmo descompassado. Saiu de seu transe e limpou a garganta.
Fez isso duas vezes seguidas, e só então conseguiu encontrar
voz para repetir aquele nome.
— Grant! Sim, eu sei quem você é — afirmou ela, para
logo se corrigir. — Quero dizer, a minha filha me falou sobre
você, que é um colega da escola... — continuou,
atrapalhando-se um pouco nas palavras e sentindo-se
intimidada pelas emoções que a simples presença daquele
homem desencadeava dentro dela, deixando-a trêmula,
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aturdida, perplexa e alterada.


Grant retirou suas mãos das de Danna e ela pensou que ele
parecia relutante ao fazer isso. Ao se afastar, Danna sentiu um
misto de alívio e uma estranha sensação de perda, como se ele
tivesse tirado algo dela.
— A Amy falou de mim para a senhora? — Grant
perguntou curioso. Recordou quanto a adolescente gostava de
falar – até demais, às vezes –, e também como ela o fazia se
sentir bem em sua companhia, pois o lembrava da irmã
caçula, que vivia com a mãe em San Diego, na Califórnia.
— Sim, ela me contou algumas coisas sobre você, alguns
detalhes da sua família e o que faz — explicou ela, com um
tímido sorriso afável, e viu quando ele retribuiu. Só que o seu
era meio torto, no canto da boca. Um gesto discreto, mas
suficiente para iluminar todo o seu rosto.
Que boca linda! E que olhar quente ele tem!, Danna
pensou ao passear os olhos por aquele rosto de olhos
castanhos profundos e lábios carnudos. Uma força, até então
desconhecida por ela, a fez fixar o olhar no lábio inferior do
rapaz, um pouco mais proeminente que o superior, e Danna
pegou-se achando aquela parte de sua boca extremamente
sexy, imaginando a mordendo, sugando e puxando de leve
entre os dentes. Seu corpo reagiu de imediato com o
pensamento que lhe cruzou a mente, fazendo-a sentir um frio
de excitação na barriga.
— Ela sabe como me tirar informações até mesmo quando
não estou disposto a dá-las. Insiste até conseguir — Grant
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comentou, esticando os lábios em um sorriso aberto.


— Amy é incansável. Quando quer algo, não desiste
nunca. Tem muita personalidade, e sabe ser bem teimosa
também. Eu entrego os presentes a ela. Minha filha vai gostar
de saber que você esteve aqui para visitá-la. Obrigada! —
agradeceu, obrigando-se a tirar os olhos do rosto que tanto
prendia sua atenção e sorvendo o cheiro das flores em
seguida.
Naquele instante, Caleb entrou no saguão do andar onde a
filha estava internada. Varreu o lugar com os olhos e
descobriu os dois conversando. Fechou o semblante de
imediato e se aproximou com passadas firmes e largas. Pela
sua linguagem corporal e a expressão em seu rosto, Danna
soube que o marido estava contrariado e logo imaginou ser o
motivo para tal.
— Danna, está tudo bem, querida? — Caleb perguntou em
um tom de voz controlado, sendo bem-sucedido em não
deixar transparecer a fúria que o tomava por dentro ao
encontrar a esposa conversando com outro homem.
— Sim, Caleb! Está tudo bem! Esse é o senhor Grant
Collins. É um colega de nossa filha que trabalha na escola em
que ela estuda e veio visitá-la, mas como a Amy está
dormindo, ele resolveu deixar comigo os mimos que trouxe
para ela — Danna apressou-se em explicar.
Grant a ouviu apresentá-lo e esclarecer sua presença ali
em um tom de voz quase inaudível, praticamente se
transformando em outra pessoa. Aquela mudança tão radical
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de comportamento o deixou intrigado. Quando o marido se


aproximou, notou que Danna se encolheu, parecia tensa.
— Caleb Green! — o homem se apresentou seco, o
medindo de cima a baixo e o analisando com seu olhar arguto
de águia, sem oferecer a mão para cumprimentá-lo. — Então,
você é um colega da minha filha? — indagou desconfiado e
com o cenho franzido.
— Sim, sou. — Grant admitiu. — Como a sua esposa
acaba de dizer, trabalho no colégio onde Amy estuda, e é
normal eu vê-la todos os dias — esclareceu e logo se dirigiu a
ela, a bela mulher que também havia admirado de longe. —
Eu só vim mesmo para deixar um alô e desejar melhoras,
agora preciso ir. E mais uma vez obrigada, senhora, por
entregar as flores, o ursinho e dizer a ela que estive aqui!
Grant não entrou em maiores detalhes ao responder a
pergunta do homem alto e sisudo. Após se despedir, deu as
costas para os dois e caminhou em direção à saída.
Sem conseguir evitar, como se seus olhos tivessem vida
própria, Danna o seguiu, até que o viu sumir no corredor dos
elevadores. Ela não queria admitir, mas se fosse honesta
consigo mesma, diria que o que sentiu foi uma atração física
forte e instantânea por aquele homem que mal havia entrado e
já saía de sua vida.
Sou uma mulher casada e mais velha, ele é pouco mais
que um garoto... e estou em um hospital, com o meu marido à
minha frente, com a minha filha acidentada em uma cama,
pelo amor de Deus! Isso não pode acontecer comigo, não
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pode!, censurou-se pela centésima vez, sentindo-se culpada


por sentir o que não devia.

Durante as primeiras semanas após o acidente, Danna se


dedicou à recuperação da filha. Amy, ao se recuperar
totalmente e terminar o ano letivo, decidiu que queria passar
as férias com os avós paternos, no Maine, e aproveitar para
fazer um curso de verão. Danna não se opôs, e para a sua
surpresa, o marido também não. Caleb achou que seria até
bom para a garota passar alguns meses com os seus pais, que
por sinal, adoravam a neta. Ele, por sua vez, mergulhou ainda
mais no trabalho, e para piorar, na bebida. A única coisa boa
proveniente da novidade era que, à noite, Caleb apagava ao se
deitar na cama. Fato este que Danna agradecia sorrindo.
Na maioria das noites, Caleb a deixava em paz, com raras
exceções, quando insistia em sexo, ainda meio bêbado,
forçando-a. E de nada serviam os seus protestos, ela não era
capaz de impedi-lo, pois ele era muito mais forte e a
subjugava com facilidade. Danna apenas se submetia e mal
conseguia conter as náuseas. No final, sentia-se humilhada,
vazia, invadida e estuprada. Perguntava-se se os motivos que
a faziam permanecer junto ao marido valiam mesmo a pena,
uma vez que estavam cada vez mais afastados, entretanto,
aquela conserva que teve com a filha, o comportamento cada
vez mais obsessivo do marido e a lembrança do que tinha
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sentido ao conhecer Grant a fazia duvidar e desejar mais da


vida.
Muitas vezes, se pegava pensando nele, não que achasse
que voltaria a vê-lo um dia, pois sabia que era improvável que
um novo encontro entre ambos viesse a acontecer, mas só a
consciência do que ele lhe havia despertado, saber que ainda
era capaz de ter aquele desejo por um homem, o que já não
acontecia há décadas, a fazia se sentir viva, querer se cuidar, e
se ver como uma mulher feminina, bonita e com autoestima
elevada. Aliás, nunca foi assim, pois, devido à forma severa
como havia sido educada, acreditava que vaidade era coisa do
diabo e autoconfiança era algo que não existia.
Danna tinha vergonha de admitir, mas havia se tocado
algumas vezes, pensando, desejando estar fisicamente com
Grant, embora se sentisse culpada depois. A culpa, essa
maldita que a tolhia, a impedia de tentar viver como achava
que devia. Precisava se livrar dela, bem como da vida que
levava. Era isso ou se deixar enterrar viva, continuando a
manter as aparências por puro medo do que diriam caso se
separasse, hoje sabia disso.
Foi em uma manhã quente e abafada, um mês após a
viagem da filha, que Danna se muniu de coragem para colocar
um fim ao martírio em que era seu casamento, aquele
casamento de mentira, aquela farsa que sempre estivera
fadada ao fracasso, onde passou a sentir um verdadeiro medo
de ser agredida fisicamente, além das agressões verbais as
quais era constantemente submetida.

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Danna sabia que aquele era o momento de deixar tudo


para trás, pois a situação entre ela e o marido havia se tornado
insustentável. O episódio do prato quebrado tinha sido a gota
d’água que faltava para transbordar o seu copo de tolerância e
paciência. Tinha passado o último mês pisando em ovos, com
medo de irritá-lo, e começando a pensar no que deveria fazer.
Resolveu então que poria em prática o que tinha estado em
sua mente havia algum tempo.
Nesse dia, excepcionalmente, Caleb avisara que almoçaria
em casa. Ao chegar, seguiu seu ritual de sempre, dirigindo-se
até o banheiro para lavar as mãos. Porém, quando se sentou à
mesa, não foi o almoço posto que encontrou.
Danna tinha se arrumado e se encontrava sentada em seu
lugar habitual. Segurava uma pasta contendo três folhas de
papel que seu advogado havia redigido conforme suas
instruções, e nelas estava escrito que queria o divórcio. Ela a
estendeu para ele. Caleb lhe dirigiu um olhar indagador,
tomando a pasta sem dizer nada. Retirou as folhas passando a
lê-las com atenção. Danna viu sua expressão se transformar,
indo de surpresa para ira.
— Eu me recuso a assinar isso, você é minha mulher! Nós
temos um casamento de anos, as coisas não são assim, Danna!
Eu não aceito, não aceito! — Caleb vociferou jogando os
papéis sobre a mesa, descontando neles toda sua raiva e
frustração.
Danna se encolheu por dentro diante do acesso de fúria,
mas não deixou transparecer nada. Manteve-se com as mãos
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unidas à sua frente parecendo serena, muito calma e


controlada.
— Está louca se pensa que vou aceitar o divórcio! Não
aceito de jeito nenhum! — o homem afirmou pondo-se de pé,
indo direto para o bar e se servindo de uma dose generosa de
uísque.
Danna suspirou. Ele podia fazer o que quisesse, dizer o
que quisesse. Pela primeira vez na vida, ela faria o que
desejava. Levantou-se, pegou a bolsa de cima da mesa e a
colocou no ombro.
— Terminou, Caleb. Eu já devia ter tomado essa decisão
há muito tempo, fui adiando por comodidade e covardia. Nós
dois sabemos que o nosso casamento afundou há muitos anos.
Não me importa se você assina esses papéis ou não. Não
preciso deles assinados para confirmar que o que tivemos
acabou, chegou ao fim. Nós nem conversamos mais, não
temos nada para falar um com o outro — desabafou ela,
decidida.
O homem voltou a fitá-la. Fúria. Rancor. Ódio.
Frustração.
— Você não pode me deixar, Danna! Não pode! Você é
minha! Entendeu? Minha! — dominado pela cólera, gritou.
— E se insistir nessa loucura, nunca mais verá sua filha! Não
voltará a ver a Amy! — Caleb esbravejou, contudo, Danna
não se perturbou com seu descontrole, já considerava passado
a época em que estremecia com apenas um olhar de censura
do marido. Agora, nem seus gritos a intimidavam mais, tirara
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dele esse poder, e não deixaria que continuasse a fazer dela


uma pessoa infeliz. Nunca mais.
Ela pensou muito antes de tomar a decisão definitiva que
colocaria um ponto final em todo o seu sofrimento. Por
dentro, estava morrendo de medo de como seria sua vida dali
em diante, fora daquele lugar, mas nada do que Caleb fizesse
ou dissesse a faria voltar atrás. Danna sabia que a infelicidade
gosta de companhia, porém, acontecesse o que fosse, ela se
recusava a tolerar mais um minuto dessa relação. Caleb, a
partir daquele momento, teria que ser infeliz sozinho. Tudo o
que ela queria era viver em paz, fazendo os seus próprios
horários, em sua própria casa, sob suas próprias regras – ou
até mesmo sem elas. E apesar de tudo, não desejava mal a ele,
ao contrário, esperava que a vida lhe fosse generosa, que ele
tivesse a oportunidade de mudar e, quem sabe, se tornar uma
pessoa diferente, talvez melhor, ela só não estaria ao seu lado
para acompanhar essa mudança.
— Não me tome por estúpida e não me ameace! A Amy já
é uma adolescente, está crescida e é capaz de decidir com
quem quer ficar. Eu conversei com ela por telefone e contei o
que pretendia fazer, e nossa filha não só me entendeu, como
também me apoiou. A partir de hoje, este assunto está nas
mãos do meu advogado, ele entrará em contato com você. Eu
te deixei me dominar por tempo demais, Caleb...
Ela desejava continuar, pôr para fora anos de insatisfação,
impotência e humilhação, mas não queria provocá-lo além do
que já fizera, testando os seus limites e se arriscando a se

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tornar vítima de uma agressão física. O marido estava tão


furioso que poderia tentar impedi-la de sair de casa, ou algo
pior.
— Não espere nada de mim, porque não vou te dar um
centavo! O que você pretende fazer? Como vai viver? Com
vai se sustentar? Não me diga que pretende trabalhar? Você
não sabe fazer nada! — Caleb cuspiu as palavras com
rispidez. — Você vai passar fome, e quando isso acontecer,
voltará para mim! — gritou batendo o punho fechado no
próprio peito. — Pedindo, implorando por casa e comida! —
escarneceu com arrogância.
— Tem razão, eu não sei fazer nada, e isso porque sempre
me submeti aos teus caprichos e nunca me importei em
aprender mais, em saber mais, conhecer mais do mundo lá
fora... Deixei-me ficar presa dentro dessa casa, sob esse seu
domínio obsessivo, mas sou uma mulher saudável e tenho
dois braços fortes. Não se preocupe comigo, Caleb, saberei
me virar. Cansei, estou farta, chega! Adeus e boa sorte!
O homem alto de terno azul-marinho, impecável, com a
barba sempre bem feita e o cabelo bem cortado, não se virou
nem respondeu. Permaneceu de pé, de costas para ela,
segurando o copo nas mãos, o qual, ela notou, ele apertava
forte, a ponto dos nós dos dedos perderem a cor.
Ela não esperava que ele dissesse mais nada. Sabia que
devia estar fervendo por dentro. Sua escrava pessoal tinha se
rebelado e estava indo embora, o deixava. A casa estava em
um silêncio mortal, apenas podia-se ouvir o barulho dos saltos
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altos de seus sapatos enquanto caminhava a passos lentos até


a porta. Antes de sair, porém, ouviu um grunhido animal e o
som do copo se espatifando no chão, próximo à lareira.
Danna deixou escapar um pequeno sorriso sarcástico,
pois, pela primeira vez em uma década e meia, não seria ela
quem limparia a sujeira.

Antes da chegada de Caleb, Danna havia feito duas malas


e chamado um táxi, que a aguardava do lado de fora, já que
seu carro havia sido levado para revisão. Depois de se
instalar, passaria na oficina para pegá-lo. Ligou para uma
amiga, que aceitou recebê-la até que pudesse restaurar a
pequena casa que possuía, em um bairro bem mais simples.
Sabia que sofreria uma mudança drástica no seu padrão de
vida, pois estaria se mudando dos Hamptons para o Queens,
mas não se importava. Na verdade, nunca foi muito ligada a
bens materiais. Uma vida simples, em um bairro tranquilo e,
quem sabe, um emprego em um futuro próximo, era tudo o
que ela almejava.
A casa na qual pretendia morar tinha sido uma herança de
família. Nela, pretendia recomeçar sua vida junto com a filha.
Caleb poderia ficar com tudo, entretanto, deixaria o assunto
nas mãos do seu advogado, e o que ele dissesse que era seu
por direito, ela receberia, afinal, foram anos de casamento,
cuidando e zelando para que o marido pudesse trabalhar e
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prosperar em sua carreira. E ao contrário do que ele


acreditava, isso valia muito.
Chegou até a calçada, abriu a porta do carro e deu o
endereço para o motorista. Foi firme e não olhou para trás.
Era o fim de um ciclo que estava fechando, e, com sorte,
esperava abrir outro, totalmente novo. Sabia que teria que
lutar muito para isso, mas, pela primeira vez em muitos anos,
podia respirar aliviada, com a sensação de liberdade de quem
saía de uma prisão, o que, de fato, estava.
Sentada no banco traseiro do táxi, sorriu. O motorista
devia estar pensando que era louca, mas que pensasse o que
quisesse. E daí se fosse louca? Era uma louca que se sentia
livre, leve, solta e dona do próprio nariz. Pela primeira vez na
vida...

— Sinto muito, filho, mas o seu trabalho aqui acabou,


temos um orçamento muito apertado e por isso contratamos
por serviço. Quando tivermos algo mais, eu te aviso.
Grant estava de pé diante do homem que o havia
contratado para o trabalho na escola. Já esperava por aquela
resposta, mas, no fundo, ainda mantinha uma pequena
esperança de que pudesse continuar ali. Suspirou
desconsolado.
— Tem certeza, senhor Turner? Isso me deixa em uma
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situação complicada, sem trabalho e sem moradia, porque,


como o senhor sabe, eu estou usando o trailer que fica atrás
do colégio.
O senhor Turner o fitou consternado. Sentia pena do
rapaz, pois sabia quanto era esforçado e trabalhava muito
bem. Nunca havia reclamado de nada e sempre agia com
responsabilidade, porém, era uma norma da diretoria do
colégio, se acabou o trabalho, tinha que desocupar o trailer.
— Sim, eu estou sabendo, mas vai precisar arranjar outro
lugar para ficar. Posso te dar duas semanas para sair, nem
mais um dia, meu jovem — o homem concedeu.
Grant voltou a olhá-lo, desanimado. Não tinha a menor
ideia do que faria. Estava sem trabalho, sem casa, sem
família, sem amigos... Sequer tinha um conhecido a quem
pudesse pedir ajuda. Sentiu o peso da solidão naquele
momento. O trabalho não era algo que fazia só pelo dinheiro,
claro que isso importava, mas também o mantinha com a
mente ocupada, o cansava fisicamente e, à noite, o fazia cair
desmaiado na cama, não lhe dando muita chance de pensar
em coisas que não podia mudar, mas que ainda o
atormentavam. O jeito era se hospedar em um motel barato
por alguns dias e sair à procura de outro trabalho. Essas eram
suas únicas opções.
— Está bem, senhor Turner, eu entendo e agradeço por me
deixar ficar por lá mais esse tempo, sei que está abrindo uma
exceção.
— Se pudesse, eu faria mais, mas, infelizmente, não
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posso. Não deixe de passar na secretaria mais tarde para pegar


o cheque do seu último pagamento, está bem? — o homem
baixo e atarracado falou, afastando-se e o deixando, meio
perdido, no pátio.
Grant assentiu com a cabeça e começou a recolher as
ferramentas que havia usado para arrumar o vazamento de
umas das pias do banheiro masculino. Guardou tudo em uma
bolsa de lona, colocou-a nas costas e seguiu caminho. Ao
chegar ao trailer, depositou a bolsa no canto da pequena
escada de ferro na entrada e subiu. Deixou-se cair no sofá-
cama que usava para dormir e, ao olhar para o lado, reparou
na carta que havia recebido no dia anterior. Ali ele não tinha
acesso à internet, coisa que fazia poucas vezes, sempre que
precisava ir até o centro, e por isso sua mãe, que não gostava
muito disso, lhe mandava cartas com notícias e fotos dela e
dos irmãos. Ele gostava dessa maneira meio ultrapassada,
porém simpática, de se comunicarem.
Duas vezes por semana, Grant ligava para casa. Mesmo
longe, se preocupava com a família e queria saber como todos
estavam. Quem sabe um dia pudesse voltar, mas esse ainda
não era o momento. Rasgou o envelope e retirou um pequeno
pedaço de papel dobrado. Reconheceu a letra de sua mãe e
notou quando caíram três fotos sobre seu peito. Eram dos
irmãos, todos mais novos. Ele as pegou e ficou admirando.
A primeira foto mostrava Travis, que tinha dezoito anos,
era alto, tranquilo e havia conseguido uma bolsa de estudos
integral em uma universidade para cursar Educação-Física, já

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que tinha sido capitão do time de basquete do colégio, e pelas


notícias recebidas, estava indo muito bem. A segunda foto era
de Connor, este tinha vinte e um anos de idade, era
igualmente alto, tinha cabelos escuros e os olhos azuis da
mãe. Havia acabado de se formar em Direito e começava a
trabalhar em um escritório de advocacia. Não ganhava muito,
mas ajudava nas despesas sempre e como podia. Orgulhava-se
dos dois, eram bons rapazes. A terceira e última foto era da
mãe abraçada com Emma, a caçula da família.
Grant leu as poucas palavras que a mãe havia escrito e
colocou tudo sobre uma mesinha. Levantou-se e resolveu
tomar um banho e trocar a roupa de trabalho. Pegaria o
cheque do seu último pagamento, passaria no banco e, quem
sabe, tomaria uma cerveja em algum bar do centro da cidade.
Talvez tivesse sorte e não voltasse sozinho para o trailer,
afinal, já fazia algum tempo que não ficava com uma mulher.
Ele só não gostava da sensação de vazio que sentia toda vez
que acordava com uma desconhecida do lado. Durante a
noite, com umas doses de tequila na cabeça, não pensava
muito nisso, mas na manhã seguinte, junto ao gosto metálico
da ressaca, olhar para alguém que não lhe despertava nada,
além de puro desejo físico, não era a sensação mais agradável
do mundo. E sendo bem honesto consigo mesmo, sabia que
sexo por sexo já não o satisfazia havia algum tempo.
Seus pensamentos o levaram a uma mulher bonita, de
cabelos ondulados e olhos verdes expressivos que havia
conhecido há alguns meses. Quando a viu, sozinha, naquela
sala de espera, sentiu algo diferente, como uma conexão, um
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sentimento forte que não soube identificar. Quando suas mãos


se encostaram, podia jurar que havia corrido uma descarga de
energia entre os dois, e desde então, volta e meia a tinha nos
pensamentos, como agora, enquanto estava sob a água morna
do chuveiro. Tocou a si mesmo, o pensamento nela. Já havia
usado a sua imagem antes, imaginando o seu corpo nu junto
ao dele, tocando-a, desejando-a, fazendo amor com ela.
Fazendo amor? Cara, de onde tirou isso? Estou sem sexo
há muito tempo..., ponderou. Que merda romântica é essa?
Não foi você que jurou nunca mais sentir nada por uma
mulher além de desejo físico e passageiro? Agora está
pensando em “fazer amor”? Acorda pra vida! Ela é uma
mulher casada! Dali não vai sair nada, melhor esquecê-la de
uma vez por todas!, ordenou para si mesmo, sentindo-se um
idiota.
Saiu do banheiro ainda se enxugando. Ao terminar, largou
a toalha molhada sobre o encosto de uma cadeira, começando
a se vestir. Logo depois de se arrumar, pegou a chave da
caminhonete e saiu do trailer, seguindo para a secretaria do
colégio.

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“No hope, just lies


And you’re taught to cry into your pillow
But I survived I’m still breathing,
I’m still breathing, I’m alive, I’m alive”
Alive – Sia

— Amiga! Que bom que chegou, estou tão orgulhosa de


você!
Betsy, uma morena alta e de beleza exuberante, com idade
aproximada à de Danna, chamou logo que a viu descer do táxi
em frente à sua casa. Veio andando rápido e a abraçou forte,
carinhosa, com um sorriso de orelha a orelha. Ela não fazia
questão de esconder que não era muito fã do, agora, seu ex-
marido.
Danna ainda teria que se acostumar com isso, de chamá-lo
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de “ex”. Betsy nunca tinha aceitado o modo como ele a


tratava. Havia cansado de lhe dar conselhos, mas ela, sempre
teimosa, não os ouvia, ao contrário, costumava ignorá-los, o
que deixava Betsy louca de frustração. Mas agora que,
finalmente, havia tomado uma atitude definitiva, ela não fazia
a menor questão de ocultar a sua alegria.
Danna pegou a carteira e pagou o motorista, observando-o
tirar suas duas malas do bagageiro e as colocar na calçada, ao
seu lado. Isso feito, ela agradeceu e ele se foi.
— Betsy, obrigada novamente por me receber! Prometo
que será por pouco tempo, não quero incomodá-la mais que o
necessário — Danna agradeceu enquanto as duas subiam os
degraus da pequena escada que dava para a porta de entrada,
cada uma puxando uma das malas com rodinhas.
— Imagina! Você vai incomodar o quê? Ficará comigo o
tempo que for preciso, até para sempre, se quiser. Eu não
tenho uma colega de quarto desde a época da faculdade, vai
ser ótimo dividirmos a casa, acredite! — Betsy garantiu rindo,
e Danna se surpreendeu com a ênfase usada pela amiga ao
dizer aquilo, porém, apesar das boas-vindas, não era o que ela
pretendia.
— De maneira nenhuma, amiga! Quero ter o meu
cantinho, minhas coisas, não sei ainda o que vou fazer, me
sinto meio perdida... Como dizem por aí, estou parecendo um
cachorrinho que caiu do caminhão de mudança! Afinal, nunca
estive por minha conta antes, mas pensarei em algo, com
certeza, e você terá sua privacidade de volta, não quero
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atrapalhar, de verdade.
Betsy sorriu para a amiga. Gostava dessa nova Danna de
atitude.
— Danna querida, eu imagino que tudo isso esteja sendo
estranho para você, se ver livre de uma hora para outra,
depois de quinze anos vivendo sob o julgo de um carrasco
como o seu ex-marido. Sei que não deve ser fácil. Pode
chegar o momento em que você se perguntará o que fará com
essa liberdade recém-adquirida, mas tenha sempre em mente
que o que acabou de fazer foi o melhor para você e para sua
filha. E quanto à minha privacidade, eu e o Bob temos um
acordo, sempre nos vemos na casa dele, por ser perto do
nosso trabalho, pura comodidade. Não se preocupe, vou
adorar ter a sua companhia por aqui — Betsy falou e, ao
entrar, guiou Danna até o quarto onde se hospedaria.
O cômodo era pintado na cor gelo e possuía duas janelas
altas e largas adornadas por cortinas brancas esvoaçantes. Era
mobiliado com um guarda-roupa de madeira maciça, uma
pequena cômoda, uma cama de casal, uma long chaise, um
espelho de corpo inteiro afixado em uma das paredes, e uma
penteadeira, onde Danna poderia guardar os cremes e
perfumes que adquirira dias antes. O quarto era mesmo
aconchegante, ela abriu um sorriso apreciando o que via.
Danna havia comprado algumas roupas novas e práticas,
apropriadas para a sua idade, diferentes das camisas de
mangas compridas, abotoadas até o pescoço, e das saias
longas que costumava usar, e que a faziam parecer bem mais
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velha do que realmente era. As peças novas não eram muito


chamativas, pois esse não era o seu feitio, mas também não a
fariam aparentar ter duas décadas a mais do que os seus trinta
e quatro anos de idade.
— Vou te deixar desfazendo as malas, daqui a pouco volto
para te ajudar. Gostaria de uma água, um chá ou um café?
Tenho os três — Betsy ofereceu à amiga, deixando a mala
que havia trazido ao lado da long chaise.
— Um chá seria bom... — Danna aceitou enquanto abria o
zíper da primeira mala, retirando as roupas e as colocando
sobre a cama.
— Ok! Volto em uns quinze minutos.
Não levou nem isso para Betsy estar de volta e puxar
Danna pela mão.
— Vamos dar uma pausa e tomar chá como os ingleses
costumam fazer! — anunciou animada.
— Como os ingleses? Só se você tiver croissant e
biscoitinhos!
— E quem disse que eu não tenho? — Betsy indagou
fingindo indignação.
Ao se aproximarem da mesa onde o chá estava servido,
em xícaras apropriadas, Danna encontrou pãezinhos doces e o
famoso croissant.
— Voilà, mon ami! — a morena fez o anúncio com os
braços abertos, em um péssimo sotaque francês, e ambas

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sentaram-se rindo, começando a se servir. — Agora, me


conte, como foi a conversa com seu ex?
— Normal, eu acho. Caleb disse que não vai aceitar, que
não vai assinar nada, mas eu não me importei com isso, sei
que vai acabar aceitando. Ele precisa entender que entre nós
dois não há mais nada, não temos nada em comum, se é que
um dia tivemos — explicou ela, caindo os ombros e sentindo
o gosto amargo do fracasso.
— Melhor assim, não? O que você tem a fazer agora é
começar uma nova vida, quem sabe até encontre um novo
amor... — a amiga sugeriu animada.
Danna a fitou balançando a cabeça, negando.
— Não, nada disso! Agora que consegui me libertar da
prisão em que vivia, não quero me envolver com ninguém,
pelo menos não tão cedo, afinal, não sei o que o futuro me
reserva — disse com segurança. Outro homem em sua vida,
naquele momento, era a última coisa que ela desejava, a não
ser...
De repente, a imagem de um par de lindos olhos castanhos
invadiu sua mente. Não entendia o motivo de estar sempre se
recordando deles. Admitia que o dono daqueles olhos a havia
impressionado como nenhum outro antes, e embora já tivesse
se passado meses, sua lembrança permanecia intacta.
— Vou dizer uma coisa, Danna: isso não é questão de
querer, as coisas acontecem quando têm que acontecer! Se
não ocorreu antes, foi porque, como você mesma disse, vivia

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em uma prisão. Mas agora é uma mulher livre e pode fazer o


que quiser e com quem bem entender. É maior e vacinada, e
ninguém tem nada a ver com a sua vida. Amiga, você só tem
trinta e quatro anos, está no auge da sua beleza e é uma
mulher inteligente, embora antes não parecesse, mas isso não
vem ao caso — Betsy implicou com ela e fez uma pausa para
rir. — Você vai fazer os cursos que tanto quis e nunca pôde, e
vai sair acompanhada, sozinha ou só ficar em casa. A escolha
é sua. Agora você é uma mulher livre! Livre! — anunciou,
dando ênfase à última palavra.
— Não totalmente, Betsy... — Uma sombra de tristeza
pousou em seus olhos.
— Está falando da Amy? — A amiga era perspicaz. — Eu
sei que sente muito a falta dela, mas a sua filha está bem,
passando as férias com os avós, agora você tem que pensar só
em si mesma. — Betsy cobriu a mão da amiga com a sua. —
Aquela garota é esperta e generosa, quer mais é que você viva
a sua vida, eu não tenho a menor dúvida disso.
— Tem razão. Ela me disse exatamente isso na última
conversa que tivemos. — Danna fez uma pausa e puxou o ar,
pensando justamente na vida que teria dali para frente.
— Então, qual será o seu primeiro passo? Tem algum
plano em mente? — perguntou Betsy, tentando animá-la.
Danna engoliu em seco algumas vezes antes de responder.
— Primeiro, terminar de me instalar, e mais tarde quero ir
até a casa que herdei da minha mãe. Nunca cuidei dela, nem
imagino como deve estar, mas com ela também recebi uma
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quantia em dinheiro, que guardei em uma conta que possuo


desde que eu era solteira. Minha intenção era dar de presente
para Amy quando fizesse dezoito anos e entrasse na
faculdade. Só que, agora, terei que usá-lo na restauração da
casa, já que pretendo morar nela.
— Isso é bem interessante. Incomoda-se se eu for junto?
— Claro que não, vou adorar que venha comigo, mas não
tem que voltar ao trabalho?
— Hoje não. Eu tirei o dia de folga para te ajudar a se
instalar.
— Eu não fazia ideia, Betsy, se soubesse... — Danna
começou a falar, sendo interrompida de imediato.
— Você não viria hoje! — Betsy completou a frase. — Eu
sei, por isso mesmo não te contei, mas eu tenho direito a
vários dias de folga, não se preocupe, esse foi só um deles —
concluiu, tranquilizando-a.
— Obrigada!
— De nada! E para de me agradecer! — a mulher exigiu
em um tom brincalhão. — Então vamos fazer assim:
terminamos o nosso chá, eu te ajudo a guardar as suas roupas
e vamos ver como está sua casa, combinado?
— Combinado! — mais animada, Danna concordou.
As duas terminaram de tomar o chá calmamente.
Conversaram sobre vários assuntos e, logo em seguida,
ajeitaram as roupas de Danna em seus devidos

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lugares. Estavam no meio da tarde quando pegaram a avenida


no sentido do Queens, mais precisamente no Astoria Heighs,
um bairro de classe média onde a casa se localizava e que não
era muito longe de onde estavam.
Danna observou atenta a paisagem urbana do bairro
chique onde se encontrava. Havia visitado a amiga antes,
porém, não notara com precisão o alto nível dos
apartamentos, os restaurantes, os carros e, principalmente, os
moradores do lugar. Mulheres de importantes homens de
negócios desfilando com suas roupas e bolsas de grife,
acompanhadas por seus motoristas particulares ou até mesmo
seguranças. Seria como elas, se desse o mesmo valor aos bens
materiais, no entanto, esse não era o caso. Nunca gostou de
ostentar, e se o fez um dia, não tinha sido por vontade própria,
e sim, obrigada pelo homem com quem havia se casado. Para
Caleb, aparência era tudo. Resolveu mudar a linha de seus
pensamentos, pois essa parte de sua vida já havia virado
passado, portanto, não fazia sentido relembrá-la.
A distância do Upper East Side, de onde saíam, até o
Queens, era de vinte e cinco quilômetros, percurso que, fora
do horário de maior fluxo de trânsito, era possível fazer em
apenas vinte minutos, desde que fossem de carro. Chegando
ao destino, Betsy estacionou do outro lado da rua e deu uma
olhada ao redor. Não pôde deixar de notar a aparência
tranquila do local, além das ruas limpas e bem cuidadas.
Ambas atravessaram a rua e estacaram em frente à casa de
Danna. A construção possuía o ar romântico do estilo art

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déco, sua fachada havia sido pintada na cor branca e o jardim


da frente estava coberto por uma grama alta. As árvores que
rodeavam o terreno lhe davam uma visão bonita. A vegetação
relativamente densa e variada proporcionava sombra e
mantinha a privacidade. O aspecto geral era aconchegante, e a
variedade de flores, de diversas cores, deixava no ar um
aroma de eterna primavera.
Parece ser um bom lugar para um recomeço, Danna
pensou enquanto a admirava.
Danna seguiu o caminho de pedras que levava até a porta
de entrada, onde havia um pequeno pórtico. Estava certa de
que precisaria de ajuda profissional para podar as árvores,
cuidar das plantas e dar um formato melhor ao jardim, bem
como uma nova pintura, uma vez que a atual começava a
descascar em vários pontos. Por dentro, Danna não tinha
dúvidas de que o imóvel necessitaria de muitos consertos.
Porém, tudo seria resolvido, com calma e no seu
tempo. Contrataria uma pessoa que pudesse fazer os consertos
e deixar a casa habitável novamente. Abriu a porta com a
chave que trazia em mãos e ambas entraram. Imediatamente,
foram atingidas pelo forte odor de ambiente há muito tempo
fechado.
As duas começaram a andar pelos cômodos, sempre
abrindo as janelas com a intensão de arejá-los. Retiravam os
lençóis que cobriam os móveis e que um dia tinham sido
brancos. Esses, pelo menos, pareciam intactos, bem
conservados.

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— Muito bom, uma coisa a menos com que me preocupar


— externou Danna, falando consigo mesma.
O imóvel fora comprado por sua mãe, porém, não chegara
a viver ali. Costumava alugá-lo para obter uma renda extra,
mas já fazia alguns anos que estava desocupado.
Danna levou as mãos até os armários da cozinha, abrindo-
os um por um. Encontrou algumas teias de aranha em seu
interior, com certeza teria que providenciar a dedetização do
lugar antes de pensar em entrar nele. Mas notou que, no geral,
a casa estava em bom estado.
— Pelo que estou vendo, não está de todo mal. Você terá
que fazer alguns reparos, como trocar o encanamento do
banheiro, da cozinha, a calefação e alguns pisos — Betsy
observou enquanto a ajudava a juntar os lençóis.
A casa era de tamanho médio e possuía dois andares, além
de um sótão. No primeiro andar, encontrava-se a sala de
visita, de jantar, a cozinha e uma saleta que poderia ser usada
como sala de leitura ou de tevê. No pequeno corredor entre a
sala de visita e a cozinha, ficava o banheiro social. Subindo as
escadas, situada no canto da sala principal, encontrava-se dois
quartos espaçosos, cada um com seu banheiro. E, acima de
tudo isso, o pequeno sótão, onde as amigas se depararam com
algumas coisas que sequer faziam ideia do que seriam. Danna
precisaria dar uma boa limpada ali também.
A parte de trás da casa dava para um quintal com uma
pequena piscina, agora vazia e coberta por uma tela. Nos
fundos do terreno, havia ainda um pequeno estúdio de dois
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andares. A porta estava semiaberta e as duas entraram.


O único cômodo do piso inferior havia sido dividido em
dois por um mezanino. Além de um banheiro, encontraram
uma sala com um sofá de três lugares, uma mesinha de centro
e uma pequena estante onde se podia colocar uma televisão.
Do outro lado, havia uma ilha que separava a sala da cozinha,
onde se via o fogão, a pia, a geladeira e uma pequena mesa de
madeira com duas cadeiras. Uma escada em espiral no meio
do ambiente levava ao quarto, no piso superior. Nele,
encontraram uma cama, uma mesinha de cabeceira e um
armário embutido de duas portas. Logo acima da cabeceira,
havia um janelão, que foi devidamente escancarado. O lugar
não era grande, mas dava para uma pessoa viver muito bem
ali.
A primeira tarefa seria providenciar uma boa limpeza em
ambas as casas; a segunda, chamar a dedetização. Só então
Danna poderia começar a colocar tudo em seus lugares de
maneira organizada. Com certeza teria muito trabalho pela
frente, contudo, sentia-se bastante animada. Pela primeira vez
em sua vida, deixaria o lugar onde viveria com a sua cara, do
seu jeito, e mal via a hora de começar.
— É, terei muito trabalho por aqui, mas será bom me
ocupar por um tempo — comentou ela, parando para olhar
para a amiga.
— Você é ótima com organização, vai se sair muitíssimo
bem! — Betsy a encorajou. — É só arrumar alguém que cuide
dos consertos, da pintura, do jardim e a casa ficará linda.
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Danna concordou e sorriu.


— Estou certa que sim! Bom, vou começar a tomar as
primeiras providências, mas antes preciso ir até a escola da
Amy.
— E para que você precisa ir até lá? — perguntou Betsy,
curiosa.
— Ela se esqueceu de pegar algumas coisas em um dos
armários antes de viajar, e me ligaram pedindo para ir buscá-
las.
— Danna, se quiser, eu posso ir para você, não me custa
nada. E você pode passar o resto do dia terminando de se
instalar na minha casa — Betsy ofereceu.
— Não é necessário, Betsy, eu mesma posso fazer isso.
Será rápido, não se preocupe — insistiu ela. Não se sentia
bem em dar mais trabalho para a amiga, ainda mais em seu
dia de folga. Betsy já estava fazendo muito por ela, e longe
dela abusar da boa vontade de alguém.
— Eu sei, mas, se precisar, você sabe que pode contar
comigo para o que der e vier! — dizendo isso, Betsy passou
um braço pelos ombros da amiga.
— Disso eu não tenho dúvidas — Danna assegurou e as
duas saíram andando juntas, com a intenção de terminarem de
inspecionar o lugar.

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De volta ao Upper East Side, Danna aproveitou a carona


para pegar o próprio carro, que já deveria estar pronto e
esperando por ela. A amiga decidiu passar no apartamento de
Robert, seu namorado. Voltariam a ser ver à noite, quando
Betsy voltasse para casa, então, Danna decidiu que faria uma
surpresa, prepararia o prato favorito da amiga. Pegaria as
coisas de Amy na escola e depois passaria no supermercado
para comprar os ingredientes.
Pensava nisso quando estacionou em frente a um grande
portão verde. Apanhou a bolsa que tinha colocado sobre o
assento do passageiro, abriu a porta do carro e saiu.
Caminhou alguns poucos passos até a campainha e a tocou.
Logo, ao verificarem de quem se tratava, o portão automático
se abriu.
Entrou e se dirigiu à secretaria, onde haviam deixado os
pertences da filha. Caminhou pelo corredor. O leve tilintar de
sua pulseira de pingentes e o ruído cadenciado de seus sapatos
a acompanhavam. Usava uma camisa de seda verde, que
combinava lindamente com seus olhos, uma saia envelope
cinza-escuro na altura dos joelhos, e sapatos scarpin pretos de
salto médio, por considerar mais confortável – acima de sete
centímetros e meio, só costumava usar em ocasiões e eventos
especiais.
Uma moça loira, esguia e de óculos de armação de
tartaruga apareceu na porta da secretaria, cumprimentando-a
tão logo a viu chegar.
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— Senhora Green, com vai?


Danna repuxou a boca um pouco para o lado ao ouvir o
sobrenome do ex-marido. Ela já não era mais a senhora
Green.
— Olá, Rose! Tudo bem. Vim buscar as coisas da Amy.
Poderia me entregar, por favor?
— Pois não. Estão lá dentro. Já pego para a senhora —
respondeu prestativa.
Rose saiu de seu campo de visão, um tanto atarantada, e
voltou com uma caixa de papelão nos braços.
— Aqui estão! — disse a garota, passando a caixa para as
mãos de Danna.
Danna espiou o conteúdo da caixa. Ali havia alguns livros,
canetas, marcadores e maquiagem. E também um livrinho que
se parecia com um diário.
— Obrigada, querida. Até logo — despediu-se, virando-se
e fazendo o mesmo caminho de volta.
Já estava no meio do corredor quando esbarrou em
alguém. Não pôde identificar a pessoa devido ao tamanho da
caixa que levava frente ao corpo, na altura do peito,
bloqueando parte de sua visão. Por conta do movimento
brusco, boa parte do seu conteúdo acabou caindo.
— Sinto muito, eu não vi você — pediu desculpas
agachando-se, meio de lado, e começando a recolher os
objetos espalhados pelo chão. Pegou duas das canetas caídas e

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se arrepiou ao sentir o calor de uma mão masculina sobre a


sua, pois a pessoa tinha feito o mesmo movimento que ela.
Danna ergueu o olhar e viu um homem apoiado em um
dos joelhos à sua frente. Então subiu mais um pouco,
deparando-se com um par de olhos castanhos, os quais logo
reconheceu. Sabia muito bem a quem pertenciam.
Achei que nunca mais voltaria a vê-lo, pensou perturbada,
abrindo e fechando a boca. Fez isso duas vezes, impactada
pela presença dele ali. Foi com pesar que, ao encontrar sua
voz e ser capaz de formular uma palavra, esta saiu como um
murmúrio.
— Grant...
Ele a encarou com olhos arregalados. Tinha sido pego
totalmente de surpresa. Não pensou, nem por um
segundo, que voltaria a vê-la. Muito menos que esbarraria
com ela naquele corredor.
— Danna…

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“Turning and returning


To some secret place inside
Watching in slow motion
As you turn around and say
Take my breath away
Take my breath away”
Take my breath away – Berlin

Grant limpou a garganta antes de se retratar por tê-la


chamado pelo primeiro nome.
— Desculpe-me, eu quis dizer..., senhora Green. Eu
também não a vi.
Levantou-se e, em um gesto automático, levou uma das
mãos até o cotovelo de Danna, pegando-o de maneira suave,
porém firme, ajudando-a a se pôr de pé.
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— Ainda por aqui? — comentou Danna, sem saber o que


dizer enquanto, meio sem jeito, ainda o fitava.
— Sim, ainda — confirmou ele, mas se corrigiu logo em
seguida. — Quero dizer, hoje foi meu último dia, o meu
trabalho aqui acabou.
— Ah, sim... Já tem outro emprego em vista? —
subitamente interessada, ela quis saber.
— Eu não tenho nada em vista, infelizmente, mas o pior é
que acabei ficando sem casa também — respondeu ele, o
semblante entristecido, porém, ao notar a expressão de pena
no rosto de Danna, tratou de amenizar sua situação. — Mas já
estou indo atrás de outro, e logo arrumo alguma coisa para
fazer — completou com um pequeno sorriso, tentando parecer
otimista.
Por que estou contando essas coisas para ela? Não é meu
perfil contar assuntos pessoais. Não estou me reconhecendo.
Deve ser o nervosismo que me tomou ao encontrá-la, Grant
deduziu em pensamento, um tanto desconfortável. Ela deve
estar me achando um perdedor...
— Eu sinto muito, espero que consiga outro logo —
desejou Danna, chateada.
Ele parecia ser um bom rapaz a julgar pelo que a filha
havia dito a seu respeito, e também era isso o que ele lhe
passava naquele momento. De repente, uma ideia cruzou sua
mente, contudo, ela relutou em colocá-la em palavras. Antes
que pudesse dizer algo, ouviu-o agradecer e se despedir.

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— Obrigado, e até logo, senhora Green! Foi um prazer


revê-la! — Grant se despediu. O melhor a fazer era sair dali e
cuidar de sua vida, tirando aquela mulher de sua cabeça.
Definitivamente.
Por alguma razão, ao ouvi-lo chamá-la de “senhora”,
Danna sentiu-se uma idosa.
— Por favor, me chame de Danna — pediu em um
impulso.
— Claro! — Grant assentiu. — Até qualquer hora...,
Danna! — ele voltou a se despedir, enfiando as mãos nos
bolsos dianteiros da calça, dando mais um passo para trás e,
finalmente, virando-se de costas e começando a se afastar.
Danna abriu e fechou a boca, decidindo se deveria chamá-
lo de volta ou não. Em um instante, tomou a decisão.
— Grant? — ela o chamou sem conseguir se conter,
mordendo os lábios, mostrando-se um pouco insegura. Sabia
que estava sendo impulsiva, no entanto, algo lhe dizia para
não deixá-lo ir embora, sair de sua vida. Se o fizesse agora,
talvez nunca mais voltasse a vê-lo.
O que importa se estou agindo assim? Sei que estou sendo
impulsiva, mas há anos que não faço nada do tipo, guiada
apenas por instinto. E de qualquer maneira, preciso mesmo
de ajuda, e ele de um trabalho. Além do mais, eu sou uma
mulher livre agora, dona do meu nariz e responsável pelo
meu próprio destino. Sou capaz de tomar as minhas próprias
decisões, e o melhor de tudo, sem ter que justificar cada

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passo que dou. Oferecer a reforma da casa para o Grant é


uma atitude totalmente legítima, coerente e prática. Vamos
nos ajudar mutuamente. Só isso!
Danna tratou de se convencer que este era o único motivo
pelo qual queria aquele homem por perto. Então o viu parar,
se voltar para trás e olhar para ela.
— Tem um minuto? Talvez eu tenha um trabalho para
você, se estiver interessado — explicou Danna, rápida, antes
de perder a coragem e desistir.
— Claro! Estou, sim! Não tenho muitas opções no
momento — Grant confirmou, voltando para perto dela e
parecendo mais animado, ao mesmo tempo em que mantinha
um brilho intrigado nos olhos.
— Bem, melhor conversarmos em outro lugar, se não se
importa. Essa caixa não está exatamente leve. — Ela o
brindou com um lindo sorriso, e ele sentiu suas entranhas se
desfazerem.
— Permita-me carregá-la — Grant ofereceu, tomando a
caixa dos braços de Danna, e ambos começaram a caminhar
para a saída.
Do lado de fora, Danna apertou o botão do alarme do
carro, abriu a porta traseira, e Grant colocou a caixa lá dentro.
— Vamos a um lugar, preciso te mostrar algo antes de
podermos acertar os detalhes, tudo bem?
O rapaz fez um aceno com a cabeça, concordando. Mal
podia acreditar em sua sorte. Além de encontrar a mulher que
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não lhe saía dos pensamentos, há meses, esta também tinha


um trabalho para ele. Não importava o que fosse, aceitaria,
pois não estava em condições de recusar nada, apesar de saber
que ficar tão próximo a ela não seria fácil. Talvez estivesse
arrumando outro problema para si, uma nova dor de cabeça,
pois, se quisesse manter a sanidade, teria que controlar o
desejo que sentia toda vez que a visse, mas não encontrava
saída, era lutar contra o que aquela mulher lhe despertava ou
virar um sem-teto, sem ter como sobreviver.
Grant tinha claro em sua mente que se tratava de uma
mulher casada e de nível social demasiado distinto ao seu.
Além disso, ainda havia o seu passado, o desejo de seguir
investigando e desvendar a trama por trás de sua condenação.
Precisava, queria, necessitava obter algum tipo de reparação
pela injustiça que sofreu. E ainda sofria pelo fato de ter sido
traído de maneira tão vil por pessoas a quem considerava
honestas e amigas. Não, definitivamente teria que manter-se
afastado daquela mulher e reprimir a maneira como seu corpo
reagia à sua proximidade. Ao seu cheiro. Lembrou-se do
delicioso aroma floral, levemente amadeirado, misturado ao
seu odor natural de mulher que sentiu ao ajudá-la com as
canetas. O toque das mãos, aquela conexão que sentiu no dia
em que a conheceu, estava ali, imutável.
— Tudo bem — concordou ele, por fim.
Entrou e se acomodou no assento do passageiro, enquanto
Danna fazia o mesmo, no assento do motorista. Sempre
atento, Grant a observou colocar o carro em movimento. Ao

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chegarem, Danna fez com ele o mesmo que havia feito com
Betsy, percorreu todos os cômodos da casa. Ela lhe mostrou
tudo, cada detalhe, inclusive o estúdio dos fundos.
— Quero reformar essa casa e preciso que você faça um
orçamento do material que vai precisar para torná-la
habitável. Pode fazer isso? — Danna perguntou em dado
momento. Estavam no meio do pequeno quintal que separava
a casa principal do estúdio.
— Posso, claro. Mas para quando precisa que ela fique
pronta?
— O mais breve possível — respondeu Danna, voltando a
olhar para ele.
— Pretende alugá-la? — Grant não conteve a curiosidade,
retribuindo o olhar.
— Não, pretendo morar aqui — respondeu, tratando de
soar natural.
Grant, a princípio, não entendeu o que ela quis dizer com
morar ali, porém, algo que não havia notado antes chamou
sua atenção. Em seu dedo anelar não havia mais uma aliança
de casamento, e tomar ciência disso o deixou intrigado.
Será que ela e o marido se separaram?, perguntou-se ele.
Essa é a única explicação plausível, uma vez que a mulher
está trocando uma casa em um bairro luxuoso por outra
muito mais simples, no subúrbio.
Grant sentiu-se abalado só de pensar na possibilidade da
mulher não estar mais casada.
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— Vamos fazer assim: você começa com a reforma do


estúdio e, quando ele estiver habitável, se quiser, pode vir
morar nele. Em seguida, você inicia a reforma da casa —
sugeriu ela, tentando se concentrar no que dizia e não no
homem de pé ao seu lado.
— Vou aceitar a oferta e me mudar para cá, sim. Mas
iniciar a reforma na casa principal pode levar algum tempo.
Você pode esperar? Digo isso porque tem bastante coisa para
fazer.
Danna deu uma olhada ao redor. Sabia que ele tinha razão.
— Eu entendo. Sim, posso esperar. Posso ficar o tempo
que for necessário onde estou morando no momento.
— Estamos combinados, então. Amanhã mesmo você terá
o orçamento em suas mãos.
Após finalizarem o acordo, deixaram a casa e acertaram os
últimos detalhes dentro do carro. Pouco tempo depois, ela
estacionou em um ponto do centro da cidade, a pedido dele.
Antes de descer, Grant esticou o braço em sua direção.
— Um aperto de mãos para selarmos o nosso acordo —
esclareceu diante do olhar indagador de Danna.
Ela imediatamente aceitou e o acordo foi fechado. Aquele
calor gostoso que tinha sentido na primeira vez, quando ele
havia passado as flores para as suas mãos e seus dedos se
tocaram, voltou a deixar sem graça. De uma maneira louca,
ela imaginou que ele poderia estar se lembrando do mesmo
momento, pois o olhar com que a fitava era tão intenso que
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ela teve dificuldade de mantê-lo.


— Então, estamos combinados! Nós nos vemos em breve
— disse Danna, à guisa de despedida.
Grant abriu a boca para responder, mas precisou se
inclinar em sua direção, ficando muito próximo ao seu
ouvido, devido ao barulho de um carro que passava ao lado
justo no momento em que começava a falar. Danna engoliu
em seco, sentindo o coração bater tão forte que o som
chegava a ecoar em seus ouvidos.
— Estamos combinados, e sim, nos vemos em breve. Até
mais, Danna!
Ele retirou sua mão da dela, virou-se e abriu a porta.
De uma maneira estranha e inesperada, Danna sentiu uma
sensação de abandono quando o viu descer, e levou uns bons
cinco minutos para se recompor e voltar a colocar o carro em
movimento, podendo, finalmente, sair dali.
Como havia programado, antes de voltar para a casa da
amiga, passou no supermercado e comprou os ingredientes
que precisaria para preparar o jantar. Estava terminando de
colocar a mesa quando Betsy entrou, seguida pelo namorado.
— Ei, o que temos aqui? Não! Amiga?! Sério que você
preparou o jantar para nós? Nossa, que cheiro bom!
Danna viu Betsy se aproximar farejando o ar, bastante
animada. Ela apenas assentiu sorrindo, fazendo um
movimento com a cabeça.

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— Concordo, o cheiro está mesmo delicioso. Como vai,


Danna? — perguntou Robert, que tirava o casaco e o
pendurava no mancebo atrás da porta de entrada.
Ele a cumprimentou simpático. Danna lhe devolveu o
sorriso. Gostava dele. De todos os namorados de Betsy que
ela havia conhecido nos últimos anos, ele era o que mais lhe
caía bem. Não que tivessem sido muitos, mas podia-se dizer
que a amiga era um tanto quanto volúvel, apesar de que, ela e
Robert já levavam quase um ano juntos.
Robert vinha de uma família bem-conceituada de médicos.
Era alto, possuía cabelos castanhos ligeiramente crespos nas
pontas e com algumas mechas grisalhas nas laterais, logo
acima de suas orelhas. Seus olhos eram castanhos e suaves,
enfim, um homem bonito e muito charmoso, dono de um
corpo proporcional e em forma para os seus quarenta e dois
anos de idade. Não havia dúvidas de que colocava muitos
jovens de vinte e poucos no chinelo. E ele e Betsy formavam
um lindo casal.
— Estou bem, Robert, obrigada por perguntar. E espero
que o sabor esteja tão bom quanto o aroma. Só um instante
que vou pegar o prato principal. Preparei algo simples, mas
especial ao mesmo tempo — avisou bem-humorada,
dirigindo-se até a cozinha e voltando com uma travessa, a
qual colocou no centro da mesa.
— Bolo de carne e batatas assadas à la Danna! —
anunciou e levou o olhar satisfeito para os dois.
Betsy abriu a boca e arregalou os olhos, surpresa.
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— Um prato simples, mas que eu amo de paixão!


Obrigada por me fazer esse mimo, amiga! — agradeceu com
um sorriso enorme no rosto, fitando encantada a travessa à
sua frente. Então pegou um garfo, se serviu e se preparou para
atacar o bolo de carne. Robert não ficou atrás.
Danna serviu o vinho que havia comprado e Betsy fez um
brinde.
— A você e à sua nova vida, Danna! Saúde!
As taças se tocaram e logo os três se concentraram em
degustar o delicioso jantar. Algum tempo depois, quando já
haviam terminado, permaneceram um pouco mais à mesa,
apenas bebericando um restinho de vinho.
— Não sei expressar quanto gostei — Betsy, por fim,
declarou, após repetir o prato duas vezes. — Terei que fazer
pelo menos uma hora a mais de esteira para compensar.
— E eu vou ter que esperar um bom tempo antes de me
deitar hoje. Comi mais do que devia — Robert se manifestou.
— Estava uma delícia, Danna.
— Parem com isso, vocês dois. Não é para tanto. É algo
tão simples!
— Só que havia dois ingredientes especiais nele: amor e
carinho. Você sabe que eu amo esse prato, e por isso o fez
para mim. Ficou dez, cem, mil vezes mais gostoso por causa
disso — Betsy falou a fitando, sorridente e satisfeita.
— Exagerada! — Danna riu, esvaziando a sua taça ao
tomar o último gole. — Bem, hora de começar a tirar a mesa!
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Dizendo isso, Danna se levantou e foi logo juntando os


pratos. Betsy também se pôs de pé e os tomou de sua mão.
— Não, não! Nem pensar! Você já teve o trabalho de
comprar e preparar tudo. Deixe que eu e o Robert tiramos a
mesa, lavamos e guardamos a louça. A senhorita pode ir para
a sala de tevê, ler um livro ou fazer qualquer outra coisa que
tenha vontade, entendido?
— Ok, entendido! — Danna concordou sorrindo. —
Encerrarei a noite, então. Estarei em meu quarto, o dia hoje
foi longo e cansativo, e pretendo acordar cedo amanhã —
falava enquanto saía da sala de jantar, porém, retornou ao
recordar de algo que havia se esquecido de comentar com a
amiga. — Ah, agora que me lembrei, não te contei ainda,
Betsy, mas já encontrei a pessoa para começar os trabalhos de
reforma da minha casa.
— Verdade? — Betsy indagou surpresa, levando a louça
até a cozinha.
— Sim. Ele trabalhava na escola da Amy, acabei o
encontrando por acaso quando fui até lá hoje. Conversamos
um pouquinho e ele me contou que era seu último dia de
trabalho, então juntou a fome com a vontade de comer.
— Que coincidência boa!
— Não é mesmo? Eu já o conhecia de quando ele foi ao
hospital fazer uma visita para a Amy, você se lembra?
— Sim, eu me recordo do acidente. Foi um susto e tanto,
mas ela se recuperou super bem. Faz uns dois ou três meses,
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não é?
— Quase três — Danna afirmou pensativa ao se lembrar
da angústia que sentiu naquele dia, mas logo piscou duas
vezes para tirar esses pensamentos da mente. — Bom, como o
Grant vai precisar deixar o trailer onde está vivendo, porque é
propriedade do colégio, eu disse a ele que poderia começar o
trabalho pelo estúdio e, quando estiver habitável, se mudar
para lá. Acho que assim fica mais prático, uma mistura de faz-
tudo com caseiro.
— E se ele trabalhava na escola, quer dizer que é uma
pessoa de confiança — Betsy concluiu. — Muito bem, amiga!
Vejo que essa reforma a está deixando empolgada, mais do
que eu imaginava que ficaria.
O que Betsy deixou de comentar, no entanto, é que havia
notado o brilho nos olhos de Danna quando falava a respeito
de Grant, o faz-tudo, e desconfiou de tamanho interesse por
parte dela. Decidiu que precisava conhecê-lo, e isso ela faria
logo, logo.
— Estou mesmo. Boa noite aos dois, e comportem-se,
crianças! — desejou ela, dirigindo-se para o quarto, porém,
antes de entrar, ainda teve tempo de ouvi-los lhe desejando
uma boa noite.
Betsy deu uma olhada cúmplice para o namorado e
percebeu que, o que viu, também não passou despercebido
para ele.
Danna entrou em seu quarto e fechou a porta atrás de si.

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Havia tido uma noite muito agradável com Betsy e Robert,


duas pessoas a quem apreciava. Passou o jantar sem que
tivesse que ficar se policiando ou medindo as palavras todo o
tempo. Isso era algo inédito para ela. Sentiu-se relaxar como
há muito não acontecia.
Sentou-se na banqueta da penteadeira, por um momento, e
levou o olhar para a caixa que havia trazido da escola,
tomando a decisão de não mexer nas coisas da filha. Deixaria
como estava e a levaria para a sua nova casa, assim que se
mudasse.
Deixou escapar um suspiro e, quando menos esperava, um
par de belos e profundos olhos castanhos chegou à sua mente.
Perguntou-se se não tinha cometido um erro ao contratá-lo,
pois já não podia negar para si mesma que o homem a atraía,
e muito. Quando ele se inclinou em sua direção e falou muito
próximo ao seu ouvido, ela foi capaz de aspirar seu cheiro,
um misto de almíscar com seu odor natural de homem, e
sentir seu hálito morno, que fez surgir nela um arrepio quente
e gostoso, nascendo na base da nuca e descendo pela extensão
da espinha. Algo se remexeu em seu estômago, seguindo até o
baixo-ventre e, para sua surpresa e constrangimento, sentiu
que havia ficado úmida. Com apenas aquele gesto de Grant,
ela tinha se excitado. Nunca havia sentido isso pelo marido ou
por qualquer outro homem, então, por que justo com ele? O
que aquele rapaz tinha de diferente?
Ele era um estranho, um desconhecido, ainda assim,
deixava-a de pernas bambas e com a respiração ofegante só

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com a sua presença. Isso tudo, além de desconcertante, era


algo novo para ela, e admitia que a fazia sentir certo medo
dessa atração tão forte. Por outro lado, essa sensação era
estonteante, arrebatadora, e simplesmente a encantava. Em
um átimo de racionalidade em meio ao enlevo em que se
encontrava, Danna decidiu que era melhor esquecer tudo
aquilo, colocar de lado, pois estava fascinada por um rapaz
mais jovem do que ela e que, com toda certeza, deveria ter
várias mocinhas correndo atrás. Ele não olharia para ela dessa
maneira, e nem era o que queria no momento. Tinha acabado
de sair de um casamento que apenas a fizera se sentir infeliz e
mal-amada, agora, só queria refazer sua vida e ficar bem
consigo mesma.
Nada de complicação, Danna! O melhor que você faz é
tirar esse rapaz da cabeça!, comandou-se, incerta.
Após um banho relaxante, vestiu uma camisolinha curta
de seda na cor salmão e se preparou para dormir. Deitou e
afofou os dois travesseiros grandes e cheirosos de sua cama,
fechou os olhos e, um pouco antes de adormecer, foi o sorriso
dele que veio à sua mente.
— Grant... — suspirou o seu nome um segundo antes de
Morfeu a tomar nos braços e a levar para o mundo dos
sonhos.

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“It’s dangerous to fall in love


But I want to burn with you tonight
Hurt me
There’s two of us
We’re bristling with desire
The pleasure’s pain and fire
Burn me”
Fire met gasoline – Sia

Grant estava sentado em frente ao balcão de um dos vários


bares escuros e esfumaçados da região central da cidade.
Tomava uma cerveja. Ainda não conseguia acreditar na sorte
que teve, pois além de ter conseguido um novo trabalho,
também teria um lugar para ficar. Alguém lá em cima devia
estar olhando por ele. Enfim, um pouco de sorte.
Levou a garrafa até a boca para mais um gole. Girou o
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pescoço e notou uma morena sentada na outra ponta do


balcão. Ela não tirava os olhos de cima dele. Grant deu uma
conferida discreta em sua aparência. Era uma mulher bonita e,
pela maneira como o fitava, imaginava que não teria muita
dificuldade em sair dali com ela, porém, não se reconhecendo,
desviou o olhar e o fixou em um ponto inexistente na parede à
sua frente, deixando-a perceber que não estava interessado.
Se a tivesse encontrado algumas horas mais cedo, talvez
seu baixo nível de interesse não fosse o mesmo, só que seus
pensamentos e sentidos estavam, nesse momento, ocupados
pela dona de um par de incríveis olhos verdes. Não conseguia
pensar em outra coisa. Mal pôde acreditar ao ver que o
encontrão que teve no corredor da escola tinha sido com ela.
Quando estavam próximos, sentia que seu corpo ganhava vida
própria e ansiava por chegar o mais perto possível, para tocá-
la e sentir seu cheiro.
Deus, tenho que parar com isso, ou vou ficar louco!
Pegou a carteira, retirou duas notas e as colocou debaixo
da garrafa vazia em cima do balcão. Decidiu que era hora de
ir embora. Começaria a fazer o orçamento da reforma no dia
seguinte, logo cedo, e para isso teria que retornar até a casa.
Danna havia lhe dado um molho com as cópias de todas as
chaves necessárias, e ele só tinha duas semanas para se
mudar. Se quisesse economizar algum dinheiro, precisaria
começar quanto antes a reforma do estúdio, ou acabaria
gastando o pouco que tinha com estadias em um motel.
Grant se levantou e caminhou até a porta de saída, sendo
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atingido por uma rajada de vento gelado, quase congelante,


que o fez estremecer. Encolheu-se diante do intruso que
chegara a Nova York naquela época do ano, mas sentiu no
frio algo revigorante. Olhou para os dois lados da rua levando
as mãos unidas à boca, soprando o hálito quente em uma
tentativa vã de aquecê-las. Viu que não havia uma alma viva
ali, devido ao horário. O barulho de uma tampa de lixeira
caindo e um gato miando alto ao longe o fez levar o olhar
para a direção de um beco escuro. Esperou por um momento,
apurando os ouvidos, porém, não distinguiu ou ouviu mais
nada. Tudo era silêncio. Levantou a gola da jaqueta, afundou
o queixo nela e enfiou as mãos nos bolsos dianteiros da calça.
Andou apressado, quase correndo, até onde a pick-up estava
estacionada. Já dentro do carro, tentou colocar a chave na
ignição, mas a mão enrijecida pelo frio a deixou cair, indo
parar aos seus pés. Soltou um palavrão e se inclinou para
pegá-la, quando se deparou com uma foto sua, de outra época,
vestido em seu antigo uniforme de policial. Olhou para ela
por alguns segundos. Não se lembrava de como a foto tinha
ido parar ali e achou melhor se desfazer dela, pois não queria
que descobrissem o que tinha sido e muito menos o que havia
por trás de tudo aquilo. Com raiva, amassou-a. Era algo que
pertencia ao seu passado, e era lá que ficaria, pelo menos por
enquanto.
A pista que tinha antes de chegar em Nova York não
resultara em nada. Para sua frustração, não estava um
milímetro mais perto de localizar o tal de The Hawke, que ele
acreditava ser o chefão da organização que estava
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investigando antes da armadilha ser montada e ele ter sido


levado preso. Mas se pensavam que tinha se dado por
vencido, estavam muito enganados. Cada fibra de seu ser
pedia por reparação e justiça, custasse o que custasse, e
poderia levar o tempo que fosse, mas ele a teria. Deu um
golpe no volante ao pensar nisso. Tentou ligar a pick-up
novamente, e dessa vez conseguiu a colocar em movimento.
No dia seguinte, Grant fez o orçamento solicitado e o
entregou para Danna, que providenciou a compra dos
materiais necessários para o início da reforma. Desde então,
Grant a vira duas ou três vezes, sempre em encontros rápidos.
Ele não entendia o motivo de tanta pressa por parte dela, mas
sentia que a mulher ficava incomodada na sua presença.
Concluiu que se devia ao fato de ela ser uma pessoa de alto
nível, e por isso preferia não se misturar com gente simples e
sem classe como ele. Não gostou do pensamento, porém, se
isso fosse certo, ele não tinha alternativa, a não ser aceitar.
Cada um tem seu jeito de ser e sua maneira de ver as coisas.
Grant tinha consciência disso, e se ela fosse o tipo de pessoa
preconceituosa, isso não lhe agradava em nada, mas, no
fundo, queria acreditar que não, que seu distanciamento teria
razões diferentes. E poderia ter, por que não? Lembrou-se de
tê-la notado trêmula nas duas vezes em que se tocaram por
acaso. Era tão impossível imaginar que ela pudesse sentir algo
por ele também? Isso o estava deixando intrigado, mas para o
seu próprio bem, era melhor mudar o foco dos pensamentos.
Como Danna havia sugerido e autorizado, após duas
semanas de trabalho árduo, Grant levou suas coisas para o
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estúdio aos fundos da casa e se instalado. O lugar acabou


ficando muito mais do que habitável, e era cem vezes melhor
do que o velho trailer onde vivera os últimos seis meses. Era
hora de se dedicar à reforma da casa principal, e essa, sim,
daria muito mais trabalho. Ao reavaliar alguns cômodos,
apurou que necessitaria de ajuda para consertos mais
elaborados, mas teria que conversar com Danna a respeito.
E se é para fazer, que seja feito logo, pensou ele, tirando o
celular do bolso. Apertou a tecla de discagem rápida com uma
expressão decidida. Dois toques depois, ouviu uma voz suave.
— Olá, Grant! Tudo bem?
— Oi, Danna! Sim, e você?
— Estou indo, levando a vida, como sempre.
Ele imaginou um sorriso em seus lábios ao respondê-lo, e
essa imagem, ainda que só estivesse em sua cabeça, o fez
sorrir de volta.
— Entendo, imagino que deve estar sendo estranho, quero
dizer, mudar de vida assim, de uma hora para outra. Não é
fácil para ninguém, ainda que seja para melhor — comentou
ele, censurando-se internamente, temendo estar sendo
invasivo e indiscreto, embora não fosse essa a sua intenção.
— É, você está certo, eu me sinto estranha mesmo, mas,
ao mesmo tempo, também me sinto bem. Então, a que devo
esse chamado? Está precisando de alguma coisa referente à
reforma?
— Exato! É isso mesmo! Eu te liguei porque fiz uma nova
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avaliação na calefação e nas áreas onde pisos têm que ser


trocados, e conclui que não poderei fazer tudo sozinho. Tem
problema se eu conseguir alguém para me ajudar nessas
partes? Sei que não foi isso o que combinamos, mas...
Percebendo o constrangimento no tom de voz de Grant,
Danna se apressou em cortá-lo.
— Claro, faça o que for preciso, Grant. Eu confio no seu
trabalho e no seu discernimento — assegurou, tranquilizando-
o.
— Ok, perfeito. E assim, com alguém me ajudando, você
poderá se mudar para cá mais cedo do que imagina —
respondeu aliviado.
Com toda certeza o encantava a ideia de poder vê-la todos
os dias, assim como odiava, uma vez que não poderia tê-la
como gostaria, em seus braços e em sua cama. Tentava com
todas as suas forças não sentir o que sentia, mas era só ouvir
aquela voz, que suas resoluções caíam por terra. Deixar de
nutrir os sentimentos por aquela mulher, definitivamente,
vinha sendo uma luta inglória, uma batalha perdida.
— Tem razão, tenho certeza de que logo estarei me
mudando. Aliás, preciso ir até aí para começar a ajeitar
algumas coisas. Tudo bem para você?
— Está perguntando isso para mim? — Dessa vez, o seu
sorriso era aberto. — Danna, a casa é sua!
— Eu sei, mas não quero atrapalhar o seu trabalho.
— De maneira alguma. É claro que pode vir.
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— Combinado. Vou logo após o almoço.


— Nós nos vemos mais tarde!
Grant se despediu e guardou o celular no bolso traseiro da
calça. Resistiu em dizer a ela que adoraria vê-la de novo, mas
não pôde deixar de sorrir.

Betsy ainda não tinha tido o prazer de conhecer o faz-tudo


que a amiga havia contratado, e como estava morta de
curiosidade, aproveitou que era sábado e insistiu em ir junto.
Danna não dava qualquer bandeira, mas seus olhos
continuavam brilhando toda vez que tocava no nome de
Grant.
Quando chegaram e entraram pelo portão, logo viram
Grant carregando algumas calhas no ombro. Usava
desbotadas calças jeans de cintura baixa e uma camiseta preta
que já tivera dias melhores, mas que nele vestia perfeitamente
bem, dando-lhe um ar meio largado, porém totalmente sexy.
O esforço que fazia ao segurar o material dilatava os
músculos de seus braços, o que, sem dúvida, chamava
atenção. Levava luvas grossas de trabalho nas mãos, botas nos
pés e um cinto de ferramentas com várias repartições.
Inclinou-se para colocar as calhas em um canto do quintal,
fazendo o jeans revelar o contorno de seu belo traseiro.
Quando ele as viu paradas ali, admirando a paisagem,

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caminhou até elas, colocando um sorriso no rosto e retirando


as luvas para poder cumprimentá-las.
— Boa tarde, Danna — ele a saudou estendendo-lhe a
mão. Ela o cumprimentou, no entanto, um pouco rápido
demais, o que não passou despercebido nem por ele, nem pela
amiga, que permanecia de pé ao seu lado.
— Boa tarde, Grant. Essa é minha amiga Betsy, ela veio
me ajudar com a organização, e talvez com a limpeza
também. E eu...
— Prazer em conhecê-lo, Grant. A Danna fala muito de
você. — Sem esperar que a amiga concluísse a frase, a
morena exuberante o cumprimentou com seu jeito espontâneo
de ser, animada e sorridente.
— Espero que sejam boas as coisas que ela fala de mim.
— Grant sorriu torto e levou o olhar até Danna, surpreso.
— Claro que sim, só coisas boas, eu posso te garantir! —
afirmou Betsy. Ela fala basicamente sobre o seu trabalho. Está
muito satisfeita — concluiu sorrindo, ignorando
completamente a presença da amiga.
— Betsy! — Danna exclamou em um tom de reprimenda.
— Querem parar de falar, os dois, como se eu não estivesse
aqui? — reclamou ela, fitando-os séria.
— Ai, desculpa, amiga! Acho que me empolguei. Sabe
como é... — Betsy se desculpou sem tirar os olhos de cima do
homem à sua frente, contudo, era óbvio que não sentia culpa
nenhuma.
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— Tudo bem, sua boba, eu só estou brincando. Vamos


entrar, temos muito que fazer — comandou ela, dirigindo-se
para a porta da casa principal.
Betsy deu um último sorriso na direção de Grant e seguiu
Danna.
— Amiga, que homem é esse? — indagou ela,
arregalando os olhos admirada, quando ele já não podia mais
ouvi-las.
— Um rapaz normal, eu acho — Danna respondeu dando
de ombros, fingindo uma indiferença que estava longe de
sentir.
— Normal? Para, vai! Esse Grant é um espetáculo! O
homem é um gato, e muito, muito sexy. Será que seu faz-tudo
faz tudo mesmo? — a morena perguntou com um ar travesso.
— Betsy! — Danna ralhou. — Não faço a menor ideia,
não penso nele desse jeito. É pouco mais que um garoto!
Mentirosa! Você fantasia com ele há meses!, sua
consciência a contradisse de imediato.
— De garoto aquele ali não tem nada... É muito homem,
isso sim! E se você ainda não pensou nele dessa maneira, te
aconselho a pensar, não dói e não custa nada, além de fazer
um bem danado para os olhos.
— Você não tem vergonha, Betsy? Você tem namorado,
mulher!
— E daí? É algum pecado admirar o bonito? O sexy? O

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gostoso? E esse boy definitivamente é isso tudo junto. De


fato, esse Grant é um belo exemplar de macho!
— Ai, amiga, você é demais! — Danna comentou bem-
humorada, levando o olhar até a janela, onde pôde vê-lo
ajeitando as calhas novamente.
— Eu só queria ver os músculos que, com certeza, existem
debaixo daquela camiseta... — Danna assumiu sorrindo,
entrando no clima da amiga, sentindo-se ousada.
Betsy a ouviu e se aproximou, seguindo o seu olhar.
— Eu sabia que você tinha reparado nele! — declarou
com malícia.
— Foi um deslize, nada mais — defendeu-se Danna.
— A-hã! Sei! — Betsy não pareceu nem um pouco
convencida. — Ei, parece até que ele te ouviu. Olha lá, está
tirando a camiseta. Acho isso lindo!
Danna passou a língua pelos lábios, que ficaram
ressecados de repente.
— É lindo mesmo! — confirmou distraída, sem conseguir
tirar os olhos de cima dele, mas, na verdade, não havia
entendido ao que a amiga se referia. — O que você acha
lindo?
— Desejos se tornando realidade — Betsy respondeu,
caindo na risada.
— Palhaça!
Danna levou a mão à boca, tentando esconder parte de um
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sorriso, no momento em que Grant girou o pescoço em sua


direção e a flagrou olhando para ele. Os olhares de ambos se
prenderam um ao outro por um breve instante, mas o
suficiente para parecer que o tempo tinha parado. Ela precisou
piscar duas vezes para conseguir desviar, virando o rosto para
o lado, sem graça, e voltando sua atenção para a arrumação da
casa. Betsy, que se mantinha sempre atenta e não perdia nada,
sorriu meio de lado.
Com certeza aí tem, é só uma questão de tempo. Vou
esperar para assistir de camarote as fagulhas entre esses dois
se transformarem em labaredas.

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“Oh lights go down


In the moment we’re lost and found
I just wanna be by your side
If these wings could fly”
Wings, Bird

Danna soltou um suspiro exasperado ao jogar o papel que


estivera lendo em cima da mesa da cozinha, sem conter a
irritação. Tratava-se da intimação do tribunal, avisando data e
local para que ambos, ela e o ex-marido, comparecessem à
primeira audiência de conciliação do divórcio. Sinceramente,
não estava nem um pouco a fim de olhar para a cara dele
outra vez. Desde o dia em que saíra de casa, não tinham
trocado mais do que meia dúzia de palavras, todas sobre
Amy. Não que fossem inimigos, apenas o que acontecia com

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Caleb não a interessava mais.


Sua vida havia mudado de maneira drástica, e nas últimas
semanas essa mudança só melhorava. Em alguns momentos,
Danna até sentia-se outra pessoa, e não a mulher que havia
vivido naquela casa, fria e triste, ao lado de um homem tão
asséptico quanto Caleb. Agora sorria mais, sabia o que era se
divertir e não havia ninguém controlando suas palavras, a
vigiando, ou conferindo se as coisas estavam limpas e no
lugar. E o melhor de tudo: não tinha que seguir nenhuma
maldita lista. Nunca mais! Estava adorando cada minuto de
sua nova vida, apenas uma coisa a incomodava, porém, tinha
que admitir, não era algo ruim, pelo contrário, pois esse algo
tinha nome e sobrenome: Grant Collins.
Ao lembrar-se dele, um sorriso tomou seus lábios. Devido
à reforma, viam-se sempre, e a atração física que sentia por
ele estava cada vez mais difícil de ocultar. Grant também não
ajudava, andando de lá para cá sem camisa e com aqueles
jeans sempre caídos nos quadris, deixando à mostra os
pelinhos que começavam logo abaixo do umbigo e sumiam
sob o cós da calça. Danna não conseguia deixar de admirá-lo,
respirando fundo para se acalmar diante tal visão. Algo no
meio de suas pernas dava sinal de vida, e a sensação era boa
demais para ser ignorada. A atração que sentia era tão forte
que em certas noites simplesmente não conseguia dormir, e
por isso evitava encontrá-lo muitas vezes.
Como será que é estar com ele? Estar mesmo, de
verdade?, questionava-se, porém, só havia um jeito de saber,

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e não acreditava ter a coragem necessária para se entregar a


outro homem. Mas, talvez, com ele eu pudesse... Não! Melhor
nem pensar nisso.
— Danna? — Betsy chamou se aproximando, mas ela não
respondeu. — Danna? — tentou de novo.
— Ãh? Oi! Eu só estava pensando em uma coisa aqui.
Desculpe.
— Em quê? — a morena quis saber, afinal, podia-se dizer
que curiosidade era seu segundo nome.
Danna hesitou por um momento, e antes que pudesse dizer
qualquer coisa, a amiga tirou suas próprias conclusões.
— Você estava com uma cara... Aconteceu alguma coisa?
Se aconteceu, deve ter sido coisa muito boa! — especulou em
tom de malícia.
— Não entendi. Que cara? Que coisa boa? Do que você
está falando, Betsy? — Danna indagou confusa, contudo,
sentiu-se ficar vermelha ao se dar conta da referência da
amiga, dando a maior bandeira do que se passava em sua
mente.
— Te peguei! Você estava pensando nele! — Betsy
afirmou sem a menor dúvida, rindo e apontado o dedo
indicador para o rosto de Danna.
— Nele... quem? Ficou doida, mulher? Eu não estava
pensando em ninguém! — Danna tratou de negar, porém,
sabia que era tarde demais, não conseguiria convencer a
amiga do contrário.
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Danna levantou-se da cadeira e foi até a pia, começando a


lavar a louça apenas para ter com o que se ocupar, tentando
disfarçar. Betsy a seguiu. Pelo visto, não lhe daria trégua.
— Não adianta fugir, sei como você olha para o faz-tudo!
Pensa que não percebo como se arruma toda vez que precisa
ir até lá?
— Betsy, por favor, o rapaz é muito jovem, deve ter um
monte de moças novinhas correndo atrás dele! Ele só é... —
Procurou uma palavra que o pudesse definir. — Simpático.
Isso, ele só é um rapaz simpático e educado.
— Ele é simpático, ele é educado! — a amiga a imitou. —
Pelo amor de Deus, Danna! Grant é um pedaço inteiro de mau
caminho! Repete depois de mim: lindo! Parece até pecado
você admitir que acha o homem bonito, sexy, gato, gostoso,
delícia...
— Está bem, já entendi! Você implica com cada coisa
boba... — reclamou ela. — Admito, o Grant é um gato, sim!
Pronto, falei, e daí? Olha bem para mim, Betsy... O que um
garoto como ele iria querer com alguém tão sem graça como
eu?
Betsy ficou de boca aberta, embasbacada, pois não podia
acreditar no que tinha acabado de ouvir. Levou os braços até a
amiga e a virou de frente para ela. Colocou as mãos em seus
ombros, segurando firme, e a obrigou encará-la.
— Foi isso mesmo o que eu ouvi?! Você, sem graça,
Danna? Não posso acreditar em tamanho absurdo! É sério que

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você vê um garoto quando olha para ele? Então, deixa eu te


falar umas coisinhas: em primeiro lugar, isso de achá-lo um
garoto não tem nada a ver; já falamos sobre isso e você
continua se escondendo atrás dessa pequena diferença de
idade entre vocês dois. — Betsy deu uma pausa antes de
continuar. — Em segundo lugar, por que está se diminuindo?
Danna, amiga, você tem se olhado no espelho ultimamente?
— Claro que sim, todos os dias. Que tipo de pergunta é
essa, Betsy? — Danna perguntou rindo, mas um riso sem
vontade.
— Pois não é o que parece. O que vejo é que você não se
enxerga como realmente é. Põe uma coisa nessa sua
cabecinha de uma vez por todas: você é uma mulher bonita,
minto, você é linda! E o Grant, ou qualquer outro homem,
seria capaz de se interessar por você assim, fácil, fácil. — Fez
um gesto de estalar de dedos na frente do rosto da amiga.
Só então Betsy se deu conta no mal que o ex-marido –
aquele que ela se recusava até dizer o nome – havia causado.
Como Danna não conseguia se enxergar como realmente era?
Maldito homem das cavernas! O boçal conseguiu abalar sua
autoestima mais do que eu tinha imaginado.
— E tem mais uma coisa: se você e o Grant, ou quem quer
que seja, quiserem ficar juntos, não pense em mais ninguém
além de vocês dois, entendeu? Ninguém! Você passou a vida
inteira pensando em todo mundo, menos em você mesma. E
esquece essa bobagem de idade de uma vez por todas, por
favor!
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Danna suspirou. Era tão difícil para ela ser do jeito que a
amiga queria que ela fosse. Tão firme e tão segura. Muitos
anos de condicionamento não acabariam de um momento para
outro. Tinha consciência disso. Mas tentaria.
— Entendi, pode deixar, farei o possível. Só que não está
rolando nada entre nós. Nada de nada — afirmou com
firmeza. — Pelo menos, não da parte dele — completou em
um sussurro, quase que para si mesma.
— Como você sabe? Já reparou em como ele te olha?
Aquele homem te devora com os olhos!
— Não seja exagerada! Imagina... Isso não é verdade —
negou ela, ficando sem graça de novo.
— Vai por mim, que disso eu entendo.
Danna ficou pensativa. Será que a amiga tinha alguma
razão no que dizia? Ela, que não tinha qualquer experiência
no assunto, não sabia identificar o interesse de um homem.
Sentia-se uma boba e, às vezes, ingênua demais.
— E esse envelope? — perguntou Betsy, mudando de
assunto.
Danna virou a cabeça para olhar o papel em sua mão.
— Intimação da audiência do divórcio. Caleb está
requerendo a guarda total da Amy.
— Maldito! Que desgraçado filho de uma puta! — Betsy
explodiu. — Desculpa, amiga, mas esse homem me tira do
sério!

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— Não tem problema, você está certa, ele pensa que


fazendo assim vou voltar para ele, não entende que já é tarde
demais, que não tem mais volta.
— Ele não gosta de você, amiga, nunca gostou. O que ele
gostava era do que você proporcionava para ele, e não
consegue admitir que não esteja mais sob o seu domínio, que
consegue viver muito bem sem ele. Cara mais idiota, me ferve
o sangue só de falar nele!
Betsy estava visivelmente irritada por tocar no assunto.
— Hoje eu sei disso, e me sinto até envergonhada por ter
aceitado aquela situação por tanto tempo. Perdi anos da minha
vida, quando poderia estar fazendo coisas mais produtivas,
trabalhando, estudando, vivendo, enfim.
— E quando será essa audiência?
— Daqui a duas semanas, mas tenho que conversar com o
meu advogado antes.
— Se precisar de testemunha, já sabe.
— Que posso contar com você? Eu sei disso, e agradeço,
amiga.
— E com o Robert também, ele te considera muito, viu?
— Obrigada por me dizer isso, a reciproca é verdadeira.
Gosto muito dele, ainda mais por saber que ele te trata muito
bem, não é?
— E não trata bem para ver? — Betsy riu, fazendo uma
careta.
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— É, o Robert que se cuide, porque a mulher aqui é uma


fera! — brincou Danna. — Ah, Betsy, lembrei que preciso
conversar com você sobre outro assunto — emendou,
mordendo a ponta do dedo.
— Então me diga, o que é?
— O Grant já deu uma boa adiantada na casa, então estou
pensando em me mudar para lá. Sabe como é, quando a Amy
vier de visita da casa dos avós, terá onde ficar, junto comigo.
Não que aqui ela não possa, eu sei.
— É claro que a Amy pode ficar aqui. Mas você acha que
já pode ficar lá, sozinha? Isso está me cheirando à desculpa
esfarrapada, trate-se de se explicar melhor!
— Eu não vou estar sozinha, e o que quero mesmo é estar
no meu canto. Você me entende, não é?
Betsy a olhou, parecendo pensar na melhor resposta a dar.
— Agora você usou o argumento certo, e claro que
entendo, só achei que levaria um pouco mais de tempo.
Sentirei muito sua falta, me acostumei a ter você aqui em casa
comigo — falou torcendo os lábios, o semblante triste.
Porém, tristeza não era algo para Betsy, então, em um
instante, sua expressão mudou. O rosto que há um minuto se
contorcia chateado, agora parecia iluminado, quando se deu
conta de algo muito interessante.
— Mas tem o outro lado bom da coisa, além de você ter o
seu canto, é claro.

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— Não entendi. Agora é você quem tem que explicar isso


direito!
— Ai, amiga, às vezes você é tão lerda! — Betsy disse,
não resistindo e caindo na gargalhada.
— O que quero dizer, querida, é que você vai ficar mais
perto do seu faz-tudo, o Sexy Grant. Aliás, do ladinho dele, no
sentido literal da palavra! — completou com um ar malicioso
no rosto e um olhar sacana.
— É boba mesmo! — Danna também riu, mas sabia que
Betsy falava a verdade. Estaria perto, até demais, do faz-tudo.
Danna terminou de lavar os copos, os secou e os guardou.
Na volta para a pia, balançava a cabeça, ainda sorrindo.
— Vai para lá hoje? — indagou Betsy, saindo da cozinha
e caminhando em direção à sala.
— Sim, vou. Só que mais tarde, por quê? — Danna gritou
para que a amiga pudesse ouvir.
— Nada não... Diz que mandei lembranças e que ele é um
gato gostoso.
— Não digo, não! — Danna negou enfática.
— E por que não? — Betsy quis saber, curiosa com a
ênfase na negação da amiga.
— Porque não quero, oras!
— Ciumenta! — Betsy a provocou de onde estava.
— Não sou, e não tenho motivos para ser, afinal, eu não

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tenho nada com ele — Danna falou alto, todavia, logo baixou
o tom. — Mas bem que eu gostaria... — sussurrou para si
mesma e, nesse momento, um sorriso matreiro e um olhar
misterioso invadiram seu rosto.

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“Kiss me like you wanna be loved


You wanna be loved
You wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love
We’re falling in love”
Kiss me – Ed Sheeran

A tarde estava quente. Muito quente, na verdade. O verão


em Nova York estava atípico, com temperaturas mais
elevadas e o ar mais seco do que os anos anteriores. Naquela
manhã, ao se vestir, Grant escolheu uma regata cinza. E,
agora, a pele exposta brilhava com a leve camada de suor
formada pelo calor excessivo. Pegou uma garrafinha com
água gelada, que costumava deixar dentro de um isopor e
sempre perto de onde estivesse trabalhando, abriu a tampa e
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tomou bons goles, deixando escorrer o excesso pelo queixo e


molhando parte da camiseta, na altura do peito. Isso não seria
nada de mais, se não sentisse que estava sendo observado pela
patroa. Levou o pensamento até ela devolvendo a garrafa ao
seu lugar de origem.
Danna chegou poucas horas após o almoço e resolveu
ajudá-lo a pintar a porta da frente. Trocou a roupa que vestia
por uma camiseta branca básica, sem mangas, e um
macaquinho jeans que deixava à mostra o seu belo par de
pernas torneadas e levemente bronzeadas. Mantinha o cabelo
preso em um rabo de cavalo, porém, uma mecha havia
escapado, o que a fazia ter de afastá-la de cima do olho
esquerdo repetidas vezes. Agachada segurando um pincel,
volta e meia Grant a flagrava o observando de maneira
furtiva. E quando ele lhe devolvia o olhar, a via tentar
disfarçar.
Grant achava isso adorável. Não entendia bem qual era a
intenção de Danna ao fazer isso, mas sabia que ela não estava
indiferente a ele, disso tinha certeza. E que Deus o ajudasse,
pois também não aguentava mais vê-la, quase todos os dias,
sem poder tocá-la, como de fato queria. Seus sentidos
estavam todos ligados a ela, e naquele momento, isso o estava
desconcentrando.
Quando a porta estava pintada quase por completo, Grant
deixou Danna dando os retoques finais e afastou-se para
apanhar alguns canos que levaria para a cozinha, a fim de
trocá-los no dia seguinte. Ajeitou o corpo e não percebeu que

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um deles havia escorregado e ido parar em seu calcanhar.


Quando já estava com o material nos braços, deu um passo na
direção da casa e, pisando em falso, perdeu o equilíbrio,
caindo de lado em cima de algumas tábuas que estavam por
ali. Sentiu algo lhe rasgar a pele, penetrando na parte
posterior de seu braço, logo abaixo do ombro. E, sem querer,
fez uma careta soltando um gemido de dor.
— Merda! — exclamou entredentes, arrependendo-se logo
em seguida, quando levou o olhar até Danna. Sua mãe o havia
ensinado a não praguejar na frente das mulheres.
— Grant, o que houve? Está tudo bem? — Danna chegou
ao seu lado, como um raio, assim que ouviu o barulho de
canos caindo e ele gemendo.
Ele olhou para ela e não pôde esconder a dor que sentia. O
rosto contraído.
— Eu me desequilibrei e caí em cima dessas madeiras.
Parece que um pedaço que estava solto perfurou meu braço.
Não consigo ver, só sentir.
De imediato, Danna levou o olhar até o local. Ele estava
certo, uma lasca de bom tamanho estava cravada na carne de
seu braço, mas ainda presa na madeira.
— Está muito feio? — perguntou ele, trincando os dentes
em uma tentativa de suprimir outro gemido. A dor era muito
forte.
— Um pouco... Temos que ir para o hospital, você vai
precisar levar pontos. O problema é que, se eu retirar a lasca,
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pode começar a sangrar muito — disse ela, já pensando no


que poderia fazer olhando ao redor. — Espere um pouco, vou
pegar alguma coisa para proteger seu braço e dar um jeito de
desprender a lasca da madeira. Fique aí, não se mexa! —
instruiu, entrando apressada.
Logo voltou com algumas tiras de tecido resistentes e
largas. Enrolou uma delas acima do local da ferida e deu um
nó. Fez o mesmo na parte de baixo, com outra tira, deixando
livre apenas o espaço onde a lasca havia entrado. As tiras
enroladas firmemente protegiam os músculos ao redor do
ferimento, evitando que o pedaço de madeira se movesse
dentro dele.
— Agora vou tentar cortar a lasca do pedaço maior. Está
presa, mas acho que consigo — avisou ela, com uma pequena
serra nas mãos.
— Está bem — Grant concordou com ela, que, para sua
surpresa, parecia saber muito bem o que estava fazendo.
Assim que Danna conseguiu separar a lasca do grande
pedaço de madeira, pegou as chaves do carro e o ajudou a se
pôr de pé.
— Vamos. — Segurando-o, dirigiu-se para o portão.
— Onde aprendeu a fazer isso? — perguntou Grant,
caminhando ao seu lado e segurando o braço esticado junto ao
corpo.
— Nenhum lugar em especial. Minha filha se machucou
feio uma vez ao cair no pátio da escola, e graças ao
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atendimento de um dos professores, que teve o cuidado de


não retirar o pedaço de ferro que entrou em sua perna, o
ferimento não sangrou. Quando me contaram o que havia
acontecido, eu quis saber como ele tinha feito. É sempre bom
ter esse tipo de conhecimento, nunca se sabe quando vamos
precisar — Danna explicou enquanto ambos andavam até o
carro, e logo estavam acomodados dentro do veículo. —
Relaxa, você vai sobreviver — brincou ela, na tentativa de
passar alguma segurança para ele, que se encontrava
notavelmente rígido.
Grant estava tenso devido à dor, mas também pelo fato de
não saber qual era a verdadeira extensão do ferimento.
— Eu sei que vou, graças a você. Obrigado! — agradeceu,
fitando-a com seu olhar intenso, e pela primeira vez, Danna
conseguiu o sustentar.
— De nada — respondeu ela, colocando o carro em
movimento.
Meia hora depois, entravam no pronto-socorro do hospital
mais próximo. Danna foi até o balcão, pegou um formulário e
o preencheu para Grant. Alguns minutos se passaram até que
um dos médicos de plantão veio chamá-los. Já no local de
atendimento, deu uma boa olhada na proteção improvisada
que Danna havia feito, levantando o tecido para examinar
melhor o ferimento.
— Vamos ver o que temos aqui... — disse ele. — É, está
bem feio. A lasca atravessou seu braço, perfurando-o de uma
ponta à outra. A sua sorte é que tiveram a presença de espírito
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de colocarem essa proteção aqui, ou poderia estar bem pior.


Vamos tirá-la, mas para isso será necessário fazer uma
pequena intervenção cirúrgica, pois a madeira, além de rasgar
a carne, também afastou os músculos.
Grant assentiu com um meneio de cabeça.
— Venha comigo, por favor — pediu o médico, virando-
se em direção a um pequeno corredor.
Grant deu dois passos atrás do médico, porém, se virou
para Danna e lhe deu uma última olhada de agradecimento
antes de prosseguir. Rapidamente os dois homens sumiram
por uma porta, e ela se deixou afundar em uma das cadeiras
da sala de espera. Algumas horas depois, Grant voltou com o
braço enfaixado, do cotovelo até o ombro.
— Então, como foi? — Danna perguntou levantando-se da
cadeira, tinha uma expressão preocupada no rosto.
— Foi tudo bem, eles me consertaram. — Grant sorriu
sem humor. — Fizeram o que disseram e levei alguns pontos.
Isso aqui é a receita dos remédios que vou precisar tomar. —
Levou a mão livre à sua frente, mostrando os papéis. —
Analgésicos e anti-inflamatórios. Ah, e tem a conta do
hospital também — concluiu repuxando os lábios,
desgostoso.
— É, você me disse que está sem seguro, vamos ter que
resolver isso — afirmou ela, fitando-o séria. — Dói muito?
— Agora não, ainda está sob o efeito da anestesia —
respondeu deixando escapar um suspiro. — Imagino que vá
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doer um pouco depois, por isso seria bom se pudéssemos


passar em uma farmácia na volta. Tudo bem? Não é
transtorno para você? Se for, eu posso ir sozinho e...
Antes de concluir a frase, Danna interveio. Como ele pode
pensar que eu vou deixá-lo voltar para casa sozinho? De
maneira nenhuma!
— Por favor, Grant, é claro que não será nenhum
transtorno para mim. Eu te trouxe, eu te levo de volta. E
compramos os remédios no caminho — Danna afirmou,
virando-se e caminhando para a saída com ele ao seu lado.
— O pior é que devo ficar com isso aqui... — Grant
elevou o braço indicando as faixas para ela. — Por pelo
menos uma semana. Só depois é que poderei tirar e passar a
trocar só o curativo — explicou ele, torcendo a boca em um
gesto de aborrecimento e pesar. — Sinto muito, Danna!
Quanto ao trabalho, vou precisar diminuir o ritmo nesse
período. Se quiser, pode descontar do valor que combinamos.
Ela o olhou surpresa com a sugestão, e pensou que essa
era uma atitude esperada de alguém tão correto quanto ele,
por isso se negou a aceitá-la, de forma veemente.
— De jeito nenhum, Grant, não foi culpa sua. Acidentes
acontecem e você terá que cuidar desse braço. Pode ficar
tranquilo quanto a isso, leve o tempo que precisar, o
importante é evitar uma infecção. A reforma pode esperar, o
ferimento no seu braço, não.
Grant apenas aquiesceu com a cabeça. Pelo pouco que

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conhecia da patroa, a sua decisão não o surpreendeu.


Chegaram ao local onde Danna havia estacionado o carro,
entraram e se puseram a caminho.
Danna ligou o rádio e ouviram os primeiros acordes da
melodia da canção Iris dos Goo Goo Dolls. É claro que a
música a remeteu ao filme do qual era tema e que ela adorava,
Cidade dos Anjos. Emocionava-se cada vez que o assistia.
Dois dias depois, ela voltou até a casa, levando algumas
roupas de cama consigo. Como tudo já havia sido
devidamente dedetizado, pretendia trocar as que tinham
estado nos quartos. Havia pedido para darem prioridade ao
quarto onde Grant estava morando, justamente para que ele
pudesse terminar de se acomodar, e foi o que fizeram. Entrou
na casa, passou pela sala e subiu as escadas. Trocava os
lençóis quando notou que não havia movimento no quarto em
frente à sua janela. De onde estava, tinha visão privilegiada
do mezanino onde Grant dormia. Se ele estivesse de pé ali,
poderia vê-lo andando pelo lugar.
Estranho, o Grant sempre aparece quando aviso que vou
vir aqui. E mandei uma mensagem ontem, que, aliás, ele não
respondeu. Será que aconteceu alguma coisa?
Intrigada, resolveu verificar. Terminou o que estava
fazendo, deixou tudo arrumado e rumou para o estúdio.
Entrou o chamando pelo nome, sem obter resposta. Chamou
de novo e nada. Andou até a escada em caracol e subiu. Ele
estava ali, deitado de bruços. A princípio, ela pensou que
estivesse só dormindo, porém, notou a quantidade de suor em
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sua camiseta, que estava visivelmente úmida. Grant tinha os


cabelos encharcados grudados na nuca e um tom avermelhado
do rosto. Não achou isso normal. Aproximou-se mais e
colocou as costas da mão em sua testa. Estava quente. Muito
quente. Quente demais! Era óbvio que ele estava com febre.
Tocou em seu braço bom, o chamando novamente e tentando
acordá-lo.
Grant abriu os olhos e Danna notou que estavam meio
vidrados, porém, logo ele os fechou novamente. Só então ela
percebeu que a faixa em seu braço tinha uma mancha grande
e escura de sangue. Ao que parecia, a ferida tinha aberto.
— O que você fez, Grant? Esforçou-se além da conta? —
perguntou sem esperar por uma resposta, pois sabia que esta
não viria. Olhou para o lado e encontrou o frasco com os
comprimidos. Estava cheio. — Não tomou os remédios? O
que você tem na cabeça? — Agora estava muito preocupada,
pois não tinha como tirá-lo dali sozinha. Pelo seu estado,
precisaria voltar para o hospital, então fez o óbvio e chamou a
emergência.
Dessa vez, Grant ficaria internado, segundo o médico, por
pelo menos dois dias. Danna seria sua acompanhante, não o
deixaria sozinho. Lembrou-se de Amy contando que sua
família vivia na Califórnia, e como nunca mencionava ter
amigos na cidade, deduziu que não havia ninguém por ele ali.
— Danna! Pelo amor de Deus! Aconteceu alguma coisa?
— perguntou Betsy, e podia-se notar o alívio em sua voz.
Danna não tinha entrado em contato com ela desde a noite
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anterior.
— Desculpe não ter ligado antes, a bateria do meu celular
acabou e deixei o carregador no carro. Eu estou no hospital.
— Hospital? O que houve? Está tudo bem com você? —
Betsy perguntou preocupada.
— Sim, comigo está — Danna apressou-se em confirmar,
a fim de tranquilizar a amiga. — Foi com o Grant, acho que
se esforçou demais no trabalho ou não tomou os antibióticos,
não sei, mas o fato é que a ferida do braço abriu e
infeccionou.
— Nossa, e como ele está? — Betsy indagou horrorizada.
— Nesse momento, dormindo, mas até agora há pouco ele
delirava, de tão alta que a febre estava. Tiveram que colocá-lo
debaixo do chuveiro para abaixar um pouco a temperatura,
depois aplicaram uma injeção de antibióticos.
— Puxa, então estava a ponto de ter uma convulsão. Que
perigo, amiga! Mas que bom que você está bem. Pensei o pior
aqui. Não faz mais isso, mulher, ou eu morro do coração. Da
próxima vez, use um telefone público, pede um celular
emprestado, sei lá, mas se vira aí e me dá notícias.
— Está bem, pode deixar. Não tive a intenção de
preocupá-la.
— É que você nunca fez isso antes, e quando liguei e você
não retornou, já viu, né? A cabeça aqui pensou um monte de
besteiras, ainda mais com o maluco do seu ex solto por aí,
mas, enfim, já passou. Espero que o gostoso fique bem.
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— Quer parar de chamá-lo assim?


— Assim como?
— Você sabe.
— Não sei, não.
— De gostoso.
— Mas ele é um gostoso, ué! Estou mentindo?
— Não, mas precisa ficar falando isso o tempo todo?
— Eu não falo isso o tempo todo.
— Sim, fala!
— Ok, falo, mas só porque é verdade. Por acaso está com
ciúmes, Danna? — Betsy resolveu provocá-la.
— Ciúmes? Eu? Imagina! — Danna negou, porém, deu
ênfase demais à resposta, o que acabou por não ser tão
convincente como gostaria.
— Está, sim! — Betsy riu alto. — Não precisa ter ciúmes
de mim, você sabe que só tenho olhos para o meu Bob, quero
dizer...
— Tá, tá! Eu já entendi! Você não tem jeito mesmo,
Betsy. Desisto! — Danna resmungou impaciente.
— Está bem, eu paro de chamá-lo assim se você admitir
que está gostando dele — cedeu uma Betsy sorridente.
— Não vou admitir nada!
— É melhor você admitir, ou vou continuar o chamando

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de Sexy Grant, Grant gostoso, Grant delícia, Grant...


— Está bem, eu admito, mas, por favor, para com isso!
— Parei. Mas não se sentiu mais leve, agora que falou em
voz alta? — Betsy a provocou de novo, ainda rindo. — Está
caidinha por ele que eu sei!
Quando percebeu que a amiga ficou muda do outro lado
da linha, Betsy mudou de atitude e ficou séria.
— Ok, agora eu parei mesmo. Voltando ao assunto, cuide
bem do seu faz-tudo e me dê notícias. Seria uma perda
gigantesca para o mundo se acontecesse alguma coisa com
um gostoso como ele.
— Betsy! — exclamou Danna, ligeiramente irritada.
— Ops, escapou! Nós nos falamos depois, meu chefe
acabou de chegar. E antes que ele me olhe com cara de
poucos amigos, eu me vou. Beijo. Tchau!
Danna desligou o celular e o guardou na bolsa ao seu lado.
Levantou-se da poltrona e aproximou-se da cama. Em um
gesto impulsivo, levou a mão até os cabelos de Grant, fazendo
uma leve carícia, descendo pela testa e parando em seu rosto.
Parecia tão vulnerável no sono, tão tranquilo. Sem aquela
sombra e aquela rigidez que pareciam acompanhá-lo quando
pensava que ninguém estava olhando. Não resistiu e inclinou-
se um pouco mais, roçando seus lábios nos dele. Ficou assim
por um minuto. Não pretendia acordá-lo, mas o sentiu se
mexer. Afastou-se, rápida e um pouco assustada. Viu-o abrir
os olhos e chamar seu nome. Sua mão ainda estava pousada
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em seu rosto.
— Danna... — Grant chamou levantando a cabeça,
olhando para si mesmo e para o local onde se encontrava. —
Onde estou? Como foi que eu cheguei aqui? — indagou com
a voz rouca, o que o fez engolir em seco duas vezes. Ela me
beijou mesmo ou isso foi um sonho?, perguntou-se, sentindo-
se um pouco confuso.
— Eu te encontrei desmaiado e febril, e como não podia
colocá-lo no carro eu mesma, chamei os socorristas. Depois
eu te conto tudo em detalhes, agora você precisa descansar
para poder se recuperar — disse ela, em um tom de voz
manso e terno.
Grant assimilou suas palavras e obedeceu, voltando a
descansar a cabeça no travesseiro e soltando um longo
suspiro. Olhou para o teto, ficando pensativo por um instante,
antes de voltar os olhos para a mulher, ainda de pé, ao lado da
cama. Era preocupação e cuidado o que lia em seu rosto? A
possibilidade de ela se importar com ele, em um nível
pessoal, fez o seu coração se aquecer.
— Obrigado mais uma vez, você tem feito muito por mim
— Grant agradeceu e a viu sorrir para ele.
Uau, como essa mulher mexe comigo! Ela é simplesmente
linda, e que sorriso é esse? Tem até adoráveis covinhas nas
bochechas. Adoro!, pensou ele, fitando-a encantado.
Logo se remexeu na cama, inquieto, só de pensar que
poderia estar certo ao imaginar que Danna se importava

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mesmo com ele, uma vez que seu olhar e seu sorriso lhe
passavam isso, no entanto, sabia que teria que se manter
afastado, pelo menos por enquanto, pois não queria se
precipitar com alguém tão especial como sentia que ela era, e
sempre podia ler os sinais que ela lhe transmitia de forma
equivocada. É claro que não desejava estar enganado, por isso
decidiu que precisava ser paciente e manter a calma, embora o
seu corpo todo reagisse, traiçoeiro, à presença dela.
— Não foi nada, Grant. E não precisa me agradecer,
afinal, você é meu funcionário, preciso que termine a reforma
da minha casa. Fiz tudo isso por puro egoísmo — brincou
Danna, fitando-o com carinho.
— Sei que está brincando, você é uma mulher generosa
demais para agir apenas por interesse próprio — declarou ele,
dirigindo-lhe um olhar profundo e perscrutador, buscando
analisar sua reação ao que acabara de dizer. Não fora leviano
ao afirmar isso, havia exposto o que realmente sentia e
pensava da pessoa que ela era.
Diante do que ouviu, Danna tomou a mão livre dele entre
as suas e o fitou nos olhos com ternura. Grant deu um leve
sorriso, sentindo o coração se revirar em uma cambalhota
dentro do peito. Ela não entendia como um sentimento podia
surgir tão rápido e sem que pudesse fazer absolutamente nada
para deter o seu crescimento, porém, o que admitira para a
amiga havia sido a mais pura verdade. Estava mesmo
gostando daquele homem. Só ela sabia a agonia e o desespero
que sentira ao encontrá-lo desmaiado e com o olhar perdido,

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vazio, queimando de febre. Graças aos céus, ela teve a


presença de espírito de chamar por ajuda. Sim, por alguns
momentos, teve um verdadeiro pavor em perdê-lo. Precisava
admitir que o sentimento crescente dentro dela era forte e
impossível de ignorar. Ainda não era capaz de dar um nome a
ele, só tinha como certo que não podia mais ficar sem ter
Grant por perto. Aquele homem, jovem, bonito e sexy, estava,
sem sombra de dúvidas, infiltrando-se em seu coração.

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“And I need to feel real love


In a life ever after
There’s a hole in my soul
You can see it in my face
It’s a real big place”
Feel – Robbie Williams

Tentação – substantivo feminino: Impulso para a prática


de alguma coisa censurável ou não recomendável; desejo
veemente ou violento.
Tentação deveria ser o sobrenome do Grant, e não
Collins. Esse homem ainda vai me enlouquecer! Ele é uma
verdadeira afronta à minha paz de espírito!
Danna estava de pé olhando pela janela da cozinha, de
onde conseguia vê-lo, no quintal dos fundos, saindo da
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piscina que ele mesmo havia limpado e enchido com água


tratada naquele mesmo dia. Agora era só entrar e usufruir,
como ele tinha acabado de fazer após pedir sua permissão. A
ferida no braço estava praticamente curada, assim mesmo ele
deu um jeito de protegê-la. Viu-o mover a cabeça de um lado
para o outro, para se livrar do excesso de água dos cabelos.
Depois se inclinou, pegou uma toalha de cima da
espreguiçadeira e secou as mãos e o rosto. Usava um short
nas cores azul e preto, que terminava um pouco acima da
metade de suas coxas. Estas eram esguias, porém fortes e
atléticas. Ele se recostou na espreguiçadeira e entrelaçou os
dedos na base da nuca, apoiando a cabeça nas mãos. Tinha
um par de óculos escuros estilo aviador no rosto, para se
proteger dos últimos raios de sol do finzinho da tarde. O
corpo ainda brilhava devido ao reflexo dos raios solares nas
gotas remanescentes de água. Enquanto ele relaxava, sem ter
a menor ideia tirava a sanidade de Danna.
Desde o dia do acidente, uma semana antes, tinham se
falado muito pouco, pois ela fez questão de permanecer
distante dele, porém, o tempo estava passando e ela sabia que
o homem não ficaria ali para sempre. Estava ciente de que
chegaria o momento em que a reforma acabaria e ele iria
embora, seguindo sua vida. E se Betsy tivesse razão e ele
estivesse mesmo interessado nela? Se isso era certo, então,
por que não fazia nada? Por que não tomava uma atitude?
Será que ela o intimidava? Talvez. Isso ainda não havia
passado pela cabeça dela, mas não era algo impossível. E se
eles se envolvessem? Daria em algo? Não, a pergunta certa a
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se fazer não era essa. A correta era: teria que dar em algo?
Talvez não desse em nada, mas poderiam passar bons
momentos juntos. Tantas dúvidas e nenhuma certeza.
Nossa, como eu posso estar pensando nisso? Cogitando
essa possibilidade? Nunca beijei outro homem além do
Caleb, ainda assim, nem era lá grande coisa. Antes de nos
casarmos ele até era mais empolgado, mas depois... Melhor
nem me lembrar disso, deixar onde está, no passado. Como
será beijar o Grant? Quero dizer, beijar de verdade, sentir
seu gosto. Seu cheiro eu já conheço, e é estimulante,
almiscarado. Cheiro de homem, que mexe com a minha libido
e atiça todos os meus sentidos.
Provocar: Estimular, incitar, desafiar; obrigar alguém a
fazer ou participar de alguma coisa.
Talvez o que ele precise é de um incentivo, mas como eu
posso fazer isso? Droga, deixa para lá! Nem mesmo coragem
eu tenho. Mas, se eu tentar, será que consigo? Ah, por que é
tão difícil, meu Deus? Se eu não arriscar, nunca vou saber,
mas se a Betsy estiver errada e ele não quiser nada comigo,
não vou saber é onde enfiar a minha cara, vou morrer de
vergonha. Não posso pensar nisso. Vamos! Coragem, Danna!
Hum, já sei, uma cerveja. Uma cerveja eu posso oferecer a
ele. Isso! Uma bebida na beira da piscina não é nada demais,
e não me compromete, certo? Certo! Vamos lá, então.
Decidida, andou até a geladeira e...
Ué, eu achei que tivesse algumas cervejas aqui. Comprei
há apenas dois dias, quando a Betsy veio comigo... ah, ok,
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entendi. E agora? O que eu faço? Será que tem outra coisa?


Aqui, refrigerante também serve.
Danna pegou a garrafa e verificou que só havia dois dedos
do líquido em seu interior. Suspirou desanimada. Estava
quase desistindo quando notou as laranjas no compartimento
de baixo.
Por que não pensei nisso antes? Suco de laranja gelado!
Uma boa pedida, ainda mais para um dia quente como hoje.
Aliás, Danna, você deveria ter pensado nisso antes, ele ainda
está tomando remédios, não pode ingerir álcool. Ótimo, ele
vai adorar o suco!
Preparou o suco com um sorriso travesso no rosto. Mal se
reconhecia. Não era de fazer isso, mas precisava ter certeza.
Tinha que saber se havia uma possibilidade, por menor que
fosse, de ele a olhar como mulher, e não somente como sua
patroa. Terminou de fazer o suco e serviu dois copos.
Colocou-os em uma bandeja, segurou firme nas alças,
respirou fundo e saiu. Atravessou o quintal devagar e com
cuidado. Ao chegar ao lado de Grant, encontrou-o distraído.
— Oi — ela o saudou, um pouco tímida. — Pensei que
gostaria de algo para beber. Imaginei que estivesse com sede,
já que o dia hoje está tão quente.
Grant a ouviu e foi logo tirando os óculos. Sentou-se
rápido e pegou a camiseta que estava jogada ao seu lado,
vestindo-a com gestos apressados. Fitou-a surpreso e
intrigado, contudo, não quis fazer perguntas, apenas aceitou o
que ela lhe oferecia. Acompanhou com os olhos quando
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Danna se sentou na espreguiçadeira ao lado da sua,


equilibrando a bandeja no colo e ficando de frente para ele.
— Obrigado, imaginou certo, esse suco chegou em boa
hora — disse ele, apontando com um dedo para a garrafa de
água que sempre mantinha por perto, que agora estava vazia.
Esticou o braço e pegou o copo de sua mão, o levando até a
boca e tomando um gole da bebida gelada. — Está ótimo! —
elogiou simpático.
Danna foi fazer o mesmo que ele, porém, como estava
nervosa, sua mão tremeu e ela acabou esbarrando no copo, e
como estava cheio, acabou por derramar um pouco do líquido
na barra da blusa que usava. Sem jeito mandou lembranças,
Danna!, censurou-se ao notar o que tinha feito.
Em um gesto veloz, Grant depositou o próprio copo no
chão e se pôs a ajudá-la, tirando a bandeja de seu colo
enquanto via a mulher passar a mão pela blusa molhada,
parecendo constrangida.
— Nossa, sou mesmo uma desastrada! — Danna
depreciou-se, sorrindo sem graça.
— Que nada, isso acontece, não se preocupe — ele
afirmou com um sorriso aberto, no intuito de fazê-la sentir-se
melhor.
Grant se levantou e levou a bandeja até a mesa do jardim,
perto de onde estavam, e ao voltar, notou que ela já estava de
pé, com a cabeça inclinada e ajeitando a blusa na altura da
cintura. Em determinado momento, ela levantou o rosto e seus

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olhos se encontraram. Danna desviou seu olhar rapidamente,


ficando sem jeito de novo. Depois de todo esse tempo, ainda
não conseguia encará-lo, não de maneira tão aberta.
— Está tudo bem? — ele quis saber, o semblante agora
grave.
— Sim, está. Por que não estaria? — respondeu ela,
mantendo um sorriso forçado nos lábios.
— Estou te sentindo um pouco agitada... meio aflita... não
sei.
— Impressão sua, eu estou bem, só que esse tipo de
acidente não costuma acontecer comigo, não sou tão
atrapalhada.
Ao dizer isso, Danna fez o movimento nervoso de secar as
mãos abertas nas laterais da saia. Estava tensa, sim! Isso era
um fato indiscutível. Sentia o coração bater tão rápido que até
ressoava em seus ouvidos.
Quem ela pensava que era para tentar seduzir um homem
como Grant? Onde estava com a cabeça quando decidiu fazer
uma coisa como aquela? O resultado foi o esperado, só tinha
passado vergonha. Precisava admitir que não levava jeito para
a coisa.
— Danna, sou eu quem te deixa assim, nesse estado? —
indagou Grant, tomando uma de suas mãos nas dele e a
sentindo trêmula e fria.
— Imagina, Grant. Eu não... Eu não sei o que...

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Grant tinha o olhar fixo em Danna, e tentava ler o que se


passava em sua mente através da expressão do seu rosto.
— Você já percebeu, não é? — perguntou ele.
— Percebi o quê? — Danna se fez de desentendida diante
da indagação, apenas para ganhar algum tempo e tentar
controlar as batidas aceleradas e irregulares de seu coração.
— Que eu me sinto atraído por você — Grant declarou
direto, sem rodeios.
— Você está gostando de mim? — questionou Danna,
sentindo as pernas amolecerem e o coração se agitar ainda
mais dentro do peito. Pensou que poderiam ceder a qualquer
momento, tamanha a emoção que sentiu ao ouvir a declaração
de Grant.
— Sim. Muito. E posso estar enganado, mas quando a
vejo assim, como está agora, eu chego a pensar que sente o
mesmo por mim — disse ele, fitando-a cauteloso. Ele não
queria assustá-la com o seu ímpeto, porém, já não estava
suportando mais aquela situação. Havia uma tensão sexual
entre eles, e a reação de Danna tinha sido prova disso.
— Você acha que eu sinto o mesmo?
Deus do céu, como está sendo difícil raciocinar com ele
me olhando dessa maneira e me dizendo o que sente. Devo
estar parecendo uma idiota repetindo tudo o que ele fala.
— Sim, acho. Você não sente nada por mim? — ele quis
saber, chegando mais perto, tomando o rosto dela entre as
mãos e a puxando, devagar, para junto dele. Inclinou a cabeça
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e suas bocas ficaram próximas uma da outra, quase a ponto de


seus lábios se roçarem. A veia do pescoço dela pulsava
rapidamente, e ele pôde senti-la sob os próprios dedos,
mostrando quanto ela estava nervosa, contrariando o que
havia acabado de afirmar.
Danna suspirou e resolveu, assim como ele, dizer a
verdade sobre o que sentia. Não ia fazer joguinhos. Era uma
mulher adulta, independente e não podia mais resistir à
evidente atração existente entre os dois.
— O que disse está correto, Grant. Eu sinto o mesmo —
declarou ela, fitando-o e perdendo-se em seus olhos. — E
agora que você já sabe, o que pretende fazer a respeito?
Danna arregalou os olhos, espantada, assim que terminou
de formular a frase. Não podia acreditar que tivera coragem
de perguntar aquilo para ele, a última coisa que desejava era
pressioná-lo. Colocou a culpa no nervosismo, na sua presença
e no poderoso desejo que sentia por aquele homem, a ponto
de não deixá-la pensar com clareza.
Eu estava certo, não me enganei, ela sente o mesmo que
eu!, Grant pensou exultante. A constatação desse fato o pegou
de supetão, o deixando em êxtase e vibrando por dentro.
— Agora? Agora eu vou te beijar, Danna!
Grant ficou a espera, lhe dando a opção de ficar ou de se
afastar dele. Mas ela não fez nada, não moveu um músculo,
parecia paralisada, o encarando estática. E naquele instante,
apenas podia-se ouvir o som acelerado da respiração de

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ambos.
A expectativa era quase insuportável, e quando Grant
finalmente cobriu sua boca, Danna não resistiu e deixou
escapar um suspiro de puro alívio, que mais se parecia a um
choramingo, abafado pelos lábios dele.
Grant começou a mover os lábios de maneira suave e
delicada, sondando o terreno. Desenhava o contorno de sua
boca usando a ponta da língua. Beijava, sugava, sempre
lentamente, devagar. E ao constatar que não podia mais
suportar a vontade de sentir seu gosto, aprofundou o contato,
explorando todos os recantos da boca da mulher que o tirava
do sério.
Hum, o gosto dela é bom demais. Amo tê-la em meus
braços, senti-la, beijá-la..., pensava enquanto perdia-se
naquele beijo.
Quando a sentiu corresponder, seu sangue bombeou veloz
e quente nas veias, concentrando-se em seu baixo-ventre, e
não foi capaz de controlar o membro, que começava a dar
sinal de vida, enrijecendo. Excitado, intensificou ainda mais o
beijo, tornando a respiração de ambos mais ofegante, porém,
ele não queria parar. Ouvia Danna gemer baixinho, e seus
corpos se colaram um ao outro. Por instinto, fez um
movimento de rotação com os quadris, esfregando sua ereção
no abdômen da mulher que beijava com fervor. Tirou uma das
mãos dos cabelos de Danna e a espalmou em cima de um dos
seios, apertando-o com firmeza. E tão logo encontrou o
mamilo, passou a estimulá-lo, deixando-o duro, rijo, sob o
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toque de seus dedos.


Danna, por sua vez, sentiu o corpo reagir, esquentando, a
umidade em seu sexo aumentando. Não percebeu que estavam
tão perto um do outro até sentir a dureza de Grant a
cutucando, a provocando, a deixando louca. Ela se excitou
com esse toque como nunca antes, e gemeu mais uma vez
contra a boca gostosa e máscula que a beijava. Quando, por
fim, se separaram, Danna parou por um instante, fitando-o
aturdida.
— Deus, isso foi... Eu nem sei o que dizer.
— Você sentiu o mesmo que eu? — quase sem fôlego,
Grant perguntou.
— Eu me sinto como se nunca tivesse sido beijada antes
— confessou Danna, ainda inspirando o ar com rapidez.
Ela tinha os olhos excessivamente abertos. Estava surpresa
com a própria reação a um único beijo de Grant. Uma
sensação arrebatadora a tomou e ela não pensou em nada. Sua
mente se esvaziou e só desejou sentir o gosto da boca daquele
homem na sua, o calor daquele corpo forte junto ao seu.
Aquele tinha sido, sem sombra de dúvidas, o beijo mais
incrível que ela havia recebido em toda a sua vida.
Grant segurou seu queixo e a beijou novamente. Dessa
vez, depositou no beijo todo o desejo acumulado nos últimos
meses, e a sentiu corresponder com a mesma intensidade.
Danna tinha agora uma mão em sua cintura, enquanto a outra
o envolvia pela nuca, os dedos mergulhados em seus cabelos.

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Passados alguns minutos, Grant tomou uma de suas mãos e a


guiou até a pequena sala do estúdio. Ao notar onde e com
quem estava, Danna despertou de seu enlevo e o olhou
assustada. Virou-se e, sem dizer uma palavra, saiu correndo
dali.
Fugia dele ou dela mesma? E por que fazia isso se o que
mais queria era estar com ele?
Confuso, Grant não entendeu tal atitude, pensava que
estavam indo bem. Será que tinha feito algo que não a
agradara? Havia a ofendido de alguma maneira? Falado algo
errado? Mas de nada adiantava ficar parado ali, cheio de
dúvidas, só havia uma maneira de saber o que se passava com
Danna, então, foi atrás dela, atravessando o pequeno pátio que
separava as duas casas. Andou com passadas largas, pois não
tinha tempo a perder. Ao entrar, encontrou-a de costas para
ele, uma das mãos pousada no corrimão da escada, a cabeça
baixa, pensativa. Parecia estar se decidindo se devia subir ou
não.
— Danna?
— Grant, por favor, não.
— Não o quê?
— Eu sinto muito, mas não posso — disse ela ainda de
costas, sem coragem de olhar para ele.
Ao ouvir isso, Grant se deteve no meio da sala.
— Por que não? Sei que você também deseja, tanto
quando eu.
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Ao ouvi-lo, Danna abaixou ainda mais a cabeça, tomando


uma respiração profunda e sem saber como responder a
pergunta feita por ele. Começou a subir os degraus, devagar.
Agia como se esperasse um gesto, uma atitude da parte de
Grant. Quando alcançou o topo, virou-se em sua direção e o
viu parado no mesmo lugar, então virou-se novamente e
continuou seu caminho, sumindo no corredor e, por
consequência, do seu campo de visão.
Grant permaneceu imóvel, indeciso, mas por apenas um
instante, e quando deu por si, subia as escadas pulando os
degraus de dois em dois. Ao chegar em frente à porta do
quarto de Danna, colocou a mão na maçaneta, abaixou a
cabeça e inspirou o ar com força, tomando coragem. Levou
um minuto inteiro ponderando se devia entrar ou não. Uma
vez tomada a decisão, girou a maçaneta, abriu a porta e
entrou.
Agora não tinha mais volta, nenhum dos dois teria como
fugir da força irrefreável do desejo mútuo que sentiam e que
os atraía como um imã. Ele a encontrou sentada na borda da
cama. Estava, mais uma vez, de costas para ele, olhando
através da janela, distraída. Enquanto a observava, Grant
notou que, lá fora, começava a chover. Um vento forte e
fresco invadiu o quarto, e a viu se encolher abraçando a si
mesma.
— Quer que eu feche a janela? — perguntou ele,
anunciando sua presença e a deixando saber quão perto dela
estava.

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Danna girou o corpo em sua direção.


— Não precisa — respondeu ela, estendendo o braço e
segurando sua mão, o puxando para perto dela.
Grant sentiu o coração acelerar. Sentou-se ao lado dela e a
abraçou. Logo, estavam se beijando. Os dois se olharam e ela
sentiu-se, mais uma vez, presa naqueles olhos de pura
intensidade. Ele a beijou novamente, e só pararam depois de
muito tempo. Grant encostou sua testa na dela, os dois de
olhos fechados sentindo a respiração entrecortada um do
outro. Ele sorriu para ela, ambos reconhecendo o desejo que
os consumia, e suas bocas tornaram-se a se encontrar. De
repente, ela não se sentia mais sozinha, e não existia mais
nada e nem ninguém além daquele homem.
— Como você se sente? — indagou ele, inclinando-a
sobre a cama.
— Bem, eu acho — Danna respondeu e deixou que ele a
deitasse sem oferecer resistência.
— Se você quiser, posso te fazer se sentir muito melhor.
Ele voltou a beijá-la, porém, ela o empurrou com
delicadeza.
— Espera — pediu hesitante.
— Desculpe. — Ele se afastou. — Estou indo muito
rápido?
— Um pouco. — Danna se sentou, parecendo estar em
dúvida sobre o que devia ou não fazer. — Estou com medo —

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admitiu, sentindo como se fosse a sua primeira vez.


— Medo do quê? — quis saber Grant em um sussurro,
levando a mão à sua frente e fazendo carinho em seus
cabelos.
— Eu não sei, acho que só estou um pouco nervosa.
— Eu não vou te machucar — Grant assegurou. —
Prometo que vou ser o mais gentil dos homens.
Dizendo isso, ele aproximou seu rosto o suficiente para
roçar seus lábios nos dela.
— Deve estar me achando uma boba. — Danna sorriu,
tímida, contra sua boca.
— De jeito nenhum. Eu te acho linda, sexy, encantadora,
tudo! Menos boba.
— Por que eu? — ela quis saber, fitando-o com uma
curiosidade mórbida, pois tinha receio do que ele poderia
responder, mas não conseguindo evitar a pergunta.
— Não entendi... — Grant respondeu confuso.
— Você é um homem jovem, bonito, deve ter muitas
moças da sua idade que...
Ele ouviu, mas apressou-se em interrompê-la colocando o
dedo indicador sobre seus lábios.
— Para. Não fala nada. Se eu quisesse outra mulher, não
estaria aqui. Eu só desejo estar com você, e esse lance de
idade não tem a menor importância para mim, acho que não
deveria ter para você também — disse ele, mantendo o tom de
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voz baixo e suave. — Danna, o que importa, nesse momento,


é o que nós estamos sentindo um pelo outro, nada mais —
Grant declarou dando-lhe o seu melhor sorriso, que era, de
fato, encantador e persuasivo.
Grant a puxou para o arco formado por seus braços,
colocando a mão em sua nuca e a fitando com toda a paixão
reprimida que sentia por ela desde que a tinha visto pela
primeira vez. Não se considerava um homem inexperiente na
arte de fazer amor, pois já tivera sua cota de namoradas,
inclusive chegando a ficar noivo uma vez, quase a ponto de se
casar, porém, nenhuma das mulheres com quem estivera no
passado era como a que tinha agora em seus braços. Esta
possuía o poder de mexer com seus nervos, o fazendo tremer
como um adolescente ansioso e desajeitado, temendo fazer ou
dizer algo que pudesse estragar um momento tão especial
como aquele. Recordou que havia prometido ser paciente.
Respirou fundo, exalando o ar devagar, na intenção de se
manter sob controle.
— Quero fazer amor com você, Danna, mas eu entendo —
afirmou ele, depositando pequenos beijos em seu ombro. —
Eu te quero, te desejo, muito! Sinto isso desde a primeira vez
que te vi, naquela sala de espera, mas se você me disser que
quer parar agora, eu vou respeitar a sua vontade e não vou
insistir.
Danna fitou o homem que era capaz de fazer seu coração
bater dentro do peito a mil por hora e deixar suas mãos frias e
trêmulas. Sem contar o enrosco que sentia no baixo-ventre,

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tentando se decidir, no entanto, os olhos dele a prendiam de


tal forma que ela se viu incapaz de dizer qualquer coisa.
Grant tocou seu rosto em uma carícia leve, mas não voltou
a beijá-la. Ela apenas sentiu sua outra mão deslizar pelo seu
corpo, tocando-a com as pontas dos dedos, eriçando a pele
por onde passava. Ele se aproximou e se inclinou sobre ela.
Danna ficou parada, estática, apenas seguindo seus
movimentos com os olhos.
— Não pense, apenas sinta — Grant sussurrou em seu
ouvido.

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“I wanna take forever tonight


Wanna stay in this moment forever
I’m gonna give you all the love that I’ve got
I wanna take forever tonight
Wanna stay in this moment forever”
I wanna take forever tonight – Peter Cetera

Uma das mãos de Grant tocou sua perna, enquanto a outra


passeava pela cintura, barriga e quadril. Danna estava tão
presa por seus olhos que mal percebeu quando a mão que
estava em sua perna começou a subir, lentamente, por dentro
de sua saia. Só então ele a beijou de novo, da mesma forma
delicada. Seu toque era suave, carinhoso. Sempre usando as
pontas dos dedos, sua camisa foi aberta e retirada pelos
ombros. Ele tirou seu sutiã e abocanhou um dos seios

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desnudos. Passou a ponta da língua no mamilo, fazendo-a


suspirar e fechar os olhos para sentir, como ele havia lhe dito
para fazer um minuto antes. Seus dedos se tornaram mais
ousados e encontraram sua fenda, úmida, molhada, então o
sentiu tocar o seu pequeno botão do prazer com a ponta de um
deles. Danna tentou fechar as pernas, mas foi impedida por
suas mãos fortes afundando os dedos na carne macia de suas
coxas.
— Não tem nada de errado no que estamos fazendo,
Danna. Não se feche, confie em mim, não vou te fazer nada
de mal, pelo contrário, só quero que se sinta bem comigo.
Deixe-me te tocar, eu quero te sentir e te dar prazer.
— Grant? — ela chamou por ele.
— Sim, estou aqui... Não fale, apenas sinta. — instruiu
mais uma vez, a voz rouca de desejo.
E ela sentiu. Não abriu os olhos, não olhou para ele,
ficaria envergonhada se o fizesse. Não podia, não ainda.
Deixou-se levar por aquelas mãos e por aquela boca, que
sugava, mordiscava e lhe provocava sensações indescritíveis.
Suas bocas se uniram e ele foi aprofundando o beijo.
Danna correspondeu, envolvida pelas palavras e pela atração
que sentia por aquele homem que sabia tão bem como excitá-
la. Ela não protestou nem tentou fugir. Grant não precisou
deitá-la, bastou incliná-la levemente e ela se deitou,
esperando por ele. Logo não havia roupas entre eles, e tudo
acontecia de forma tão suave que Danna não sentia mais
medo, nem se assustava a cada novo toque, novo beijo. Ele
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beijava cada centímetro de seu corpo. Seus quadris, sua


cintura, seus seios fartos, onde ele se perdeu por um longo
tempo. Seu pescoço pequeno. Seus cabelos encaracolados.
Seus olhos verdes. Sua boca delicada. Ele a olhou. Ela estava
linda, entregue. Sem deixar de tocá-la, posicionou lentamente
o corpo sobre o dela, apoiando-se em ambas as mãos.
Encostou só a ponta de seu membro em sua entrada, sentindo-
a se retrair. Continuou com mais afinco os movimentos que
fazia. Levantou a cabeça e a beijou, traçando o contorno de
seus lábios com a língua.
— Relaxa, concentre-se apenas em sentir. Esqueça o resto
do mundo, limpe sua mente. Só estamos nós dois aqui, se
entregue para mim, Danna. Não vou te machucar, eu prometo
— pediu ele, fitando-a nos olhos.
Danna não pôde mais resistir e se abriu para ele, relaxando
os músculos internos e liberando caminho para a entrada do
membro rígido de Grant, que voltou a empurrar e a penetrou
devagar. Ele devorou sua boca e ela gemeu seu nome.
Grant sentiu o corpo da mulher que tanto cobiçava,
quente, abrasador, e que se moldava conforme o seu desejo.
Ele só se preocupava em dar prazer a ela. Estar dentro dela
fazia com que não tivesse nenhuma pressa, não tinha ânsia de
terminar. Apenas mergulhava devagar, em um ritmo lento e
suave como pequenas ondas nas águas calmas de um rio.
— Abra os olhos, Danna, olhe para mim e me sinta dentro
de você, te preenchendo. Vê como não dói, não machuca?
Vem, empurra os quadris, assim, isso, vem comigo, me
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acompanha, está sentindo como é bom?


Ele falava e ela o seguia.
— Sim, é demais o que estou sentindo, Grant. Nunca foi
tão gostoso assim antes — Danna respondeu e ele pôde ler a
surpresa em seus olhos.
Sem ao menos perceber, Danna começou a ondular os
quadris junto aos dele, procurando e desejando obter mais e
mais daquele homem. Notando sua resposta, Grant
intensificou ainda mais os movimentos. A fricção dos corpos,
o cheiro de sexo impregnando o ar, os gemidos ininterruptos,
tudo contribuía para o inevitável. Não levou muito tempo e
ela se sentiu flutuar nos braços dele. Gemia sem parar,
totalmente entregue. Ele passou a estimulá-la com os dedos,
cada vez mais intenso, e em um instante a sentiu se contorcer
abaixo de seu corpo, seus músculos internos se contraindo ao
redor de seu membro pulsante. Uma, duas, várias vezes. Ao
vê-la alcançar o clímax, ele aumentou a velocidade das
arremetidas dentro dela, a puxando para mais perto até
alcançar o seu próprio prazer, deixando escapar da garganta
um som gutural.
A princípio, Danna estava deitada de costas e ele sobre
ela, mas acabaram sentados na cama, unidos em um abraço
apertado, perdidos em pele, calor, suor e sussurros tão baixos
que pareciam conversas mudas. E então ela chorou em seus
braços, não por estar triste, mas por ter conseguido sentir
prazer com um homem a quem realmente gostava e desejava.
— Sempre esperei pelo dia em que eu sentiria o que estou
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sentindo agora, mas nunca imaginei que seria assim. Sinto


como se a minha vida tivesse começado nesse exato
momento, aqui, esta noite, nos teus braços — disse ela,
enlevada, emocionada, e percebeu outra lágrima escorrer pelo
canto do olho.
— Danna, você está chorando?! — Grant constatou
confuso, secando sua face com o polegar.
— Não choro por estar triste, meu anjo, pelo contrário.
Acho que fiquei sensível e emotiva por nunca ter sentido o
que senti hoje — confessou ela, incapaz de guardar algo tão
bonito para si mesma.
— Como assim, nunca? — perguntou ele, surpreendido.
Como uma mulher casada há tantos anos jamais havia
sentido prazer antes?
— O meu ex-marido, ele não... se importava muito com o
que eu sentia — Danna admitiu um pouco constrangida.
Por que eu tinha que ter contado isso? Ele não precisava
saber!, recriminou-se, agitada, mas logo se acalmou. Talvez
porque Grant me passe uma sensação de segurança e sinto
que posso lhe confiar os meus segredos mais íntimos.
— Não precisa me explicar nada, eu entendo. Desculpe-
me, sei que vai soar egoísta, e até machista, o que vou te
dizer, mas eu adorei saber que a primeira vez que sentiu
prazer com alguém esse alguém fui eu — Grant declarou com
um sorriso de satisfação no rosto.
— Amei que tenha sido com você também — disse ela,
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carinhosa, o tocando e desenhando o formato de seu rosto


com a ponta dos dedos. — Vamos fazer isso de novo?
— O que você acha? — indagou ele, fitando-a de um jeito
travesso. — Você não é o tipo de mulher que um homem leva
para cama uma vez e simplesmente esquece, Danna.
Ao ouvir isso, ela virou-se em um movimento rápido, o
mirando séria.
— Por que não? O que eu tenho de diferente?
Ele esticou o braço e pegou uma mecha de seus cabelos.
Não sabia bem o motivo, mas adorava fazer isso, tocá-los e
senti-los entre os dedos. Pensou um pouco antes de responder,
não queria afastá-la com uma palavra ou frase mal colocada.
Importava-se com ela e com o que havia acabado de
acontecer.
— Porque você é especial, não é uma mulher que se
encontra todos os dias. É suave, amorosa, generosa, e quando
se solta e se deixa levar... é a mais sexy e sensual de todas. E
também porque, não sei bem como explicar, mas sinto aqui
dentro uma sensação que me acalma, você é como um
bálsamo para mim, me sinto em paz ao seu lado — revelou, e
depois acrescentou sem colocar em palavras...
Você acalma e controla os demônios que, infelizmente,
ainda tenho dentro de mim, princesa.
— Isso tudo o que disse é muito lindo e adorei ouvir, de
verdade, mas o que me descreveu também é para me dizer
que vamos fazer o que acabamos de fazer, outra vez? —
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Danna voltou a perguntar, tentando, em vão, controlar a


insegurança que sentia, mas acabou por deixá-la transparecer
em seu tom de voz e em seu olhar.
— Por que me pergunta isso? Você não quer? — Agora o
surpreso era ele.
— Quero muito! Desejo sentir de novo aquela sensação
que não se pode colocar em palavras, e quero antes do que
você imagina — assegurou ela, remexendo-se, rolando e
deitando em cima de Grant, roçando o próprio sexo no dele, o
provocando e estimulando, até sentir o membro endurecendo
de novo.
— Hum, acho que criei um monstro! — brincou Grant,
com um sorriso malicioso e um olhar
preguiçoso, demonstrando quanto desejava possuí-la, estar
dentro dela outra vez.
— Preciso te contradizer. Não foi você quem o criou, esse
monstro sempre existiu, eu é que não sabia de tal existência.
Não souberam como despertá-lo antes, mas você, com apenas
um gesto, um toque, encontrou o botão certo, o apertou e o
acordou. Agora esse monstrinho de olhos verdes ainda está
insatisfeito e quer mais e mais de você.
Enquanto falava, Danna espalhava pequenos beijos pela
extensão do tórax de Grant, subindo para o pescoço e, por
fim, encontrando sua boca. Jamais havia se sentido tão
mulher, tão fêmea, tão ousada e tão desejada antes.
Grant não se fez de rogado e retribuiu o beijo, devorando-

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a e levando ambas as mãos até seus seios. Seus corpos se


encontraram, se reconheceram e se amaram mais uma vez. A
madrugada veio encontrá-los deitados um de frente para o
outro. Fitaram-se em silêncio, daqueles que permitem que
palavras sejam lidas através dos olhos.
Na manhã do dia seguinte, Grant acordou antes de Danna.
Observou-a dormir tranquila por alguns minutos e resolveu
não acordá-la. Levantou-se e, após fazer sua higiene matinal,
desceu e foi até a cozinha. Separou os ingredientes que
precisava e preparou o café da manhã para os dois. Arrumou
tudo em uma bandeja e subiu novamente para o quarto. Ao
entrar, encontrou-a saindo do banheiro, ainda nua. A visão o
deixou encantado, e claro, devidamente excitado, mas
resolveu se controlar, pois não queria assustá-la. Ela ainda
estava tímida e não se sentia muito à vontade, porém, ele
sabia que com o tempo isso iria mudar. Ajudaria com que ela
se soltasse, afinal, Danna tinha um corpo lindo e ele não
cansava de admirá-lo.
Logo que o viu entrar, ela se apressou a voltar para a
cama, prendendo o lençol sob os braços, se cobrindo e se
escondendo. Grant, que já imaginava que ela faria isso, achou
graça, mas guardou silêncio a respeito. Ele mesmo tinha
voltado a vestir o short, porém, não o fez por pudor ou recato,
na verdade, havia feito por ela, justamente por saber quanto
ficaria constrangida ao vê-lo andando nu pelo quarto.
— Eu sabia que você acordaria com fome — comentou
Grant, começando a servir o café da manhã que havia

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preparado.
— E acordei mesmo, como é que você adivinhou? — quis
saber Danna, sentando-se e pegando a xícara com café
fumegante de sua mão.
— Aconteceu o mesmo comigo. Tivemos uma noite,
digamos, agitada. Gastamos muitas calorias, e isso dá uma
fome... — expressou bem-humorado, inclinando-se e a
beijando de leve nos lábios. — Bom dia.
— Bom dia, meu anjo! — Danna sorriu, retribuindo o
beijo. — É a primeira vez que tomo café na cama.
E que delícia ser mimada por ele!
— E com certeza não será a última, prometo! — afirmou
com um selinho. — O que tem para fazer hoje, princesa? —
perguntou começando a se servir, espetando o garfo em um
pedaço de mamão e o levando até a boca. — Está uma delícia,
quer?
Ele pescou outro pedaço, esticou o braço e serviu a ela.
— Está gostoso mesmo. Docinho — Danna concordou,
saboreando a fruta. — Na verdade, eu não tenho nada de
muito importante para fazer hoje — disse e arregalou os
olhos, pois acabou se lembrando de algo que deveria ter feito
na noite anterior, mas que havia esquecido completamente. —
Preciso ligar para a Betsy, nem me lembrei de avisar que não
voltaria para a casa dela.
Danna falou vasculhando o lugar com os olhos e
localizando o seu celular, jogado em um canto do quarto. Ela
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o pegou e estranhou quando não encontrou nenhuma chamada


ou mensagem da amiga.
— Acho melhor só mandar uma mensagem, ela deve estar
puta da vida comigo — deduziu ela, já começando a digitar
um pedido de desculpas.
— Mas por que ela estaria brava com você? A Betsy não
sabe que você veio para cá ontem? — inquiriu Grant, com
uma pequena ruga se formando em sua testa.
Danna parou e pensou por um momento, se dando conta
de que ele estava certo.
— Tem razão, ela sabe, sim. Agora entendi o porquê de
não ter nada dela aqui — afirmou, mostrando a tela do celular
para ele. — Eu me preocupei à toa, sou uma boba mesmo.
Grant levou a mão até o rosto da mulher, fazendo carinho
em sua face e queixo.
— Você não é boba, só se preocupou com sua amiga, é
natural — ele a tranquilizou.
— Bem, depois eu falo com ela — decidiu Danna. —
Acho que vou ficar por aqui, então. Terminar de ajeitar as
coisas. Quero me mudar logo para cá.
— E quando será isso? — quis saber Grant, um pouco
ansioso demais, mas logo se controlando. — Preciso agilizar
algumas coisas que ainda faltam na parte interna, depois
passo para a parte de fora da casa — explicou ele, tratando de
dissimular a alegria que o invadia por dentro só de pensar que
teriam mais tempo para conviverem e conhecerem um ao
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outro.
— Mais uma semana e venho. Mas calma, não precisa se
esforçar demais, seu braço ainda não está cem por cento.
— E como você sabe disso? — indagou surpreso.
— Notei que te incomodou um pouco ontem à noite,
quando estávamos, você sabe... — explicou ela.
— Por que não fala: quando estávamos fazendo amor?
— Não sei se você percebeu que eu sou um pouquinho
tímida e não costumo falar essas coisas. Criação rígida, mas
você pode falar por mim, eu não me incomodo.
— Só que agora eu quero ouvir de você — pediu ele,
retirando a bandeja da frente de Danna e colocando-a em
cima da mesinha ao lado oposto da cama. Logo voltou a se
sentar de frente para ela. — Estou começando a ficar com
vontade de... — começou, em um tom de voz baixo e sensual.
— Fazer amor com você! — Danna conseguiu, embora
hesitante, terminar a frase iniciada por ele.
— Isso, assim mesmo! — Grant aprovou. — Vamos
brincar um pouco. Pode repetir para mim? A frase inteira?
Ela gostou do jogo e resolveu fazer o que ele pedia.
— Eu quero... — começou a falar, engatinhando em sua
direção.
— Sim? — Grant a incentivou, colocando uma mão em
seu pescoço e a puxando para perto.

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— Fazer amor... — ela prosseguiu. Tinham os rostos


muito próximos um do outro.
— Com quem quer fazer amor? — ele a incentivou mais
uma vez.
— Com você, Grant — concluiu ela, os lábios de ambos
se roçando.
— E quando você quer fazer isso? — ele a estimulou,
dando-lhe pequenos beijos e sugando seu lábio inferior.
Fitava-a com os olhos nublados de desejo, que apenas
refletiam o que se passava dentro dela.
— Agora! — Danna afirmou, sentindo-se sensual e
desejada, deitando e se esticando sobre a cama como uma
gatinha manhosa.
— Perfeito, princesa! Viu como não foi tão difícil? —
averiguou e se posicionou em cima dela. — Mas estou com
vontade de fazer outra coisa primeiro.
— O quê? — Danna perguntou curiosa.
— Só relaxa, você já vai saber, ou melhor, sentir — ele se
corrigiu.
Grant deslizou por seu corpo, retirou o lençol que a cobria
e começou a beijá-la na base do pescoço, deixando uma trilha
úmida pelo caminho até alcançar seu baixo-ventre. Danna
ficou envergonhada, pois estava totalmente nua sob o olhar
sensual daquele homem faminto, o qual parecia querer
devorá-la por inteiro. Foi com surpresa que sentiu sua língua
lhe tocando e explorando o sexo.
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— Se abra para mim, princesa! — pediu Grant, olhando-a


da posição em que estava, ajoelhado e inclinado no meio de
suas pernas.
— Grant, não... — Danna implorou baixinho.
— Isso quer dizer que ainda tem alguma inibição
sobrando? — indagou ele, deixando escapar um risinho contra
a pele ultrassensível dela.
— Não, por favor, o Caleb nunca... Ele não...
Danna não conseguiu terminar a frase, deixando escapar
um gemido quando os lábios de Grant encontraram o seu
ponto mais sensível. Ele começou a massageá-lo com a
língua, quente, áspera, dura. Um fogo incandescente a tomou
por completo, a fazendo se contorcer, incapaz de raciocinar,
enquanto se entregava sem resistência às sensações inusitadas
daquele toque úmido.
Um Grant determinado segurou suas coxas separadas com
firmeza, sentindo os dedos afundando na carne macia. Sua
cabeça seguia se movendo sem parar. Ele a lambia, chupava e
deslizava a língua por toda a extensão de seu sexo.
Continuou, incansável, estimulado pelos sons dos gemidos de
prazer que saíam da garganta da mulher a quem chupava.
Implacável, introduziu dois de seus dedos dentro dela, e não
demorou muito para senti-la gozar em sua boca, se quebrando
em espasmos e desfalecendo na cama, trêmula e ofegante.
Danna entendeu o significado da expressão “ver estrelas”,
pois podia jurar que as vira no instante em que a onda de

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prazer a tomou, tamanha a intensidade do orgasmo que teve


através da boca e dos dedos de Grant.
Como é possível existir algo assim e eu nunca ter sentido
antes? Não foi só o clímax, que por si só foi magnífico, mas
também o fato de conseguir me libertar, me entregar a um
homem da forma mais despudorada possível, sem sentir
vergonha ou culpa pelo que fiz e me permiti sentir, pensou
ela, extasiada.
Danna sabia que um mundo de sensações se abria diante
de si, e passou a se enxergar de uma maneira totalmente
distinta da de antes. Um ser sexual e capaz de sentir e dar
prazer a um homem, por quem se sentia atraída, por quem
nutria um desejo físico, carnal e visceral.

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“In my life, there’s been heartache and pain


I don’t know if I can face it again
Can’t stop now, I’ve travelled so far,
To change this lonely life
I wanna know what love is,
I want you to show me
I wanna feel what love is,
I know you can show me”
I wanna know what love is – Foreigner

Meia hora depois, Grant se sentou na cama ao mesmo


tempo em que olhava para ela, se alongando, preguiçosa,
ainda deitada.
— Adoraria passar o dia inteiro aqui com você, mas não
posso, preciso ir — avisou ele.

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— Ah, por quê? — Danna reclamou, girando a cabeça e


pegando o relógio digital de cima da mesinha de cabeceira
para poder ver as horas. — Ainda é cedo, meu anjo.
Grant se inclinou e a beijou de leve. Pegou o short e a
camiseta, que tinham sido deixados aos pés da cama, e
começou a se vestir.
— Eu sei que é, só que marquei com o empreiteiro hoje,
às nove e meia. Está quase na hora de ele chegar e ainda
tenho que passar em casa, tomar um banho e me trocar. —
Fez um gesto amplo com as mãos sobre si mesmo, mostrando
para ela que vestia a mesma roupa do dia anterior.
— Para mim, você está ótimo! Lindo como sempre! Mas,
se não tem jeito mesmo...
Danna levantou-se e foi até onde Grant estava sentado, na
borda da cama, ajeitando a camiseta na altura da cintura. Ela o
envolveu com os braços, ficando de joelhos atrás dele.
Inclinou a cabeça para poder olhar seu rosto.
— Como você vai ficar por aqui, podemos nos ver mais
tarde, quando eu tiver terminado com o Jeff — ele sugeriu.
— Jeff? E quem é Jeff? — inquiriu ela, curiosa,
concentrada em depositar vários beijinhos em sua nuca.
— Jeff é o empreiteiro. É a pessoa que conseguiu aquele
trabalho na escola para mim, quando cheguei em Nova York,
há pouco mais de seis meses. Eu o conheci por acaso,
pegamos o mesmo voo — esclareceu ele, fazendo um
movimento com o pescoço, pois estava apreciando o que ela
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estava fazendo, passando a ponta da língua pela nuca, orelha,


queixo e, por fim, encontrando sua boca.
— E como ele soube que você precisava de trabalho? —
Danna quis saber, entre beijos, ciente de que possuía uma
necessidade quase incontrolável de saber mais sobre aquele
homem capaz de lhe proporcionar deliciosas sensações,
porém, sabia que ainda era cedo. Precisava respeitar sua
privacidade e esperar pelo momento certo para abordar o
assunto.
Grant virou meio corpo, esticou o braço e ajeitou uma
mecha de seu cabelo atrás da orelha, só então respondeu ao
seu questionamento.
— Começamos a conversar durante o voo, pois nos
sentamos um ao lado do outro, e acabei contando. Eu
comentei que estava à procura de algo para fazer e um lugar
para ficar. Como é empreiteiro e tem diversos contatos pela
cidade, ele me indicou ao diretor do colégio, e desde então
mantemos contato. Jeff é o mais próximo que eu tenho de um
amigo aqui, nessa cidade — concluiu, o olhar distante e
nostálgico.
— Entendi. Foi bem legal da parte dele... — disse Danna,
pondo-se pensativa e imaginando que Grant havia ficado
daquele jeito por sentir saudades e falta da família.
— O que foi? Em que está pensando? — Grant quis saber.
— Estava pensando que você não tem ninguém aqui...
Refiro-me a alguém da sua família... E também me dei conta

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de que, ainda que de uma maneira indireta, esse empreiteiro


foi um pouco responsável por nós dois termos nos
encontrado. Se ele não tivesse te indicado para o trabalho na
mesma escola onde minha filha estuda...
Não houve necessidade de Danna concluir o pensamento.
— Eu não cheguei a pensar nisso, e acho até que você
pode estar certa, mas acredito que nos encontraríamos mais
cedo ou mais tarde. De qualquer jeito — afirmou ele, seguro.
— Acha mesmo isso? Você acredita em destino?
— No nosso caso, sim, acredito. Sei que foi ele que nos
uniu.
— Que bom que esse destino fez nossos caminhos se
cruzarem duas vezes! — Danna sorriu, sentindo-se enlevada
por ele. — Bem, ficamos assim então — falou dando outro
selinho nele. — Talvez eu vá até a casa da Betsy, mas volto
para passar a noite aqui.
— Está perfeito para mim — Grant afirmou, inclinando o
rosto e a beijando. A princípio, foi apenas um roçar, porém,
ao vê-la entreabrir os lábios, ele não resistiu e invadiu sua
boca com a língua, travessa, curiosa e desejosa por saborear o
gosto da mulher de novo.

Danna suspirou. Estava com a mente ocupada, tentando

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definir como se sentia. Havia um redemoinho de sentimentos


se debatendo dentro dela, e só sabia que, depois de ter
passado a noite e parte da manhã fazendo amor com Grant,
era como se fosse outra pessoa. Não podia estar mais radiante,
mal conseguia controlar o sorriso, que aparecia em seus lábios
toda vez que pensava nele, como vinha acontecendo muitas
vezes durante o dia.
Foi isso o que fizemos, amor!, repetiu ela, mentalmente,
voltando a sorrir e tocando os lábios com os dedos, trazendo a
lembrança do gosto dos beijos de Grant. A união de seus
corpos tinha sido tão perfeita! A conexão entre os dois era
grande demais, gostosa e excitante demais para ser ignorada.
Sim, definitivamente aquela era a expressão adequada, a
que mais cabia ali, “fazer amor”, apesar de Danna não saber
se o sentimento que nutria por ele pudesse ser chamado de
“amor”, afinal, quem, em sã consciência, pode dizer que ama
alguém que conhece há tão pouco tempo? Pode se encantar,
se sentir atraído, até gostar, mas amar? Esse sentimento leva
mais tempo para crescer ou estaria completamente enganada?
Será que pode, sim, acontecer mais rápido do que se imagina?
Grant havia dito que se sentia atraído e que gostava dela, e
isso ela podia aceitar, pois sentia o mesmo. Até conseguira
admitir o fato para ambos, o que, para uma pessoa como ela,
era um verdadeiro feito. Só não podia dizer, com total certeza,
se o amava ou não, mas Betsy estava certa. Conversaram
sobre a possibilidade de ela encontrar um novo amor, e ela
havia respondido que não queria se envolver com ninguém

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depois da separação. Agora, conseguia entender o que a


amiga quis dizer quando afirmou que não se tratava de querer,
uma vez que a nossa vontade não influencia em nada. As
coisas acontecem quando têm que acontecer. E, no caso dela,
aconteceu mesmo, no momento e da maneira mais inesperada
possível. Grant lhe tirava o fôlego, deixava-a toda trêmula só
de estar por perto, porém, uma forte atração física podia,
facilmente, justificar esse seu comportamento.
Mas, como chamar a sensação de insegurança, a vontade
de querer agradá-lo, a preocupação em como ele se sentia? Se
estava bem? Se gostava mesmo dela? Se gostava do que
fazia? E como definir o modo como se derretia toda por
dentro cada vez que ele a olhava, fixo, com aquele olhar tão
intenso? Sentia que o tinha entranhado sob a pele. Nossa, não
consigo ficar nem cinco minutos sem pensar nele!
Levantaram-se da cama super tarde, coisa que ela não
fazia há muitos anos. Na verdade, até onde se lembrava,
foram raras as vezes que pôde fazer isso. Em sua casa, sempre
era a primeira a estar de pé, pois estudava pela manhã. Nos
fins de semana, tinha os cultos logo cedo. Depois que se
casou, podia ficar um pouco mais, mas somente quando Caleb
viajava a trabalho e a filha não tinha alguma atividade pela
manhã. Só assim se permitia relaxar um pouco, mas não
muito.
Por ela, teria ficado o dia inteiro abraçada e aninhada em
seu peito, porém, como ele tinha esse encontro marcado para
obter a avaliação e o orçamento do revestimento da calefação

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da casa, que precisava ser trocado, se viram obrigados a


começar o dia, mas não sem antes se entregarem aos prazeres
dos sentidos, mais uma vez. Dessa vez foi rápido, contudo,
igualmente estimulante e muito satisfatório.
Danna já pressentia que acabaria viciada em Grant. Agora
sabia, exatamente, o que era o prazer que suas amigas tanto se
referiam nas vezes que se reuniam. Ah, e como sabia! Ele
havia sido tão carinhoso, paciente e cuidadoso com ela, não
tinha como resistir a alguém assim. Ficara encantada com o
jeito dele na cama, mas sabia que tinha se controlado, por
causa dela, o que a fazia gostar ainda mais dele. Evitava
compará-lo com o ex-marido, porque, simplesmente, não
tinha comparação. Caleb não se importava com ela em
nenhum sentido, já Grant, fazia dela uma prioridade. Somente
se permitia sentir prazer depois que ela o atingisse, levasse o
tempo que levasse. Não tinha a menor pressa. Estava em
forma e tinha um fôlego que... nossa!
Após se levantar e Grant sair, Danna resolveu voltar para
a casa da amiga, e ainda que tivesse dito a ela que se mudaria
somente em uma semana, mudou de ideia e decidiu que o
faria naquele mesmo dia. Apesar de a casa ainda estar sendo
reformada, os aposentos principais como sala, cozinha,
banheiro e quartos se encontravam habitáveis, então não fazia
sentido não mudar-se de uma vez como vinha querendo, e ter
passado a noite com Grant só reforçou ainda mais essa
vontade. Queria estar perto dele, isso era fato.
— Você vai mesmo?

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Ouvir a pergunta de Betsy a tirou de seus pensamentos.


Antes de responder, Danna balançou a cabeça de um lado
para o outro de uma maneira que considerou discreta, como se
com esse movimento pudesse apagar de sua mente a imagem
do homem que a estava fazendo sonhar acordada.
— Sim, vou. Já me decidi — anunciou.
— E qual o motivo de adiantar a data, se ia se mudar
somente no final da semana?
— O motivo de sempre, quero estar lá, na minha casa,
nada mais.
Betsy, como sempre, não se convenceu de imediato com a
explicação. E a julgar pela força que Danna fazia para se
manter indiferente e casual, Betsy sabia que tinha algo que a
amiga não estava lhe contando.
— Hum, por que será que eu sinto que tem algo mais por
trás dessa sua decisão, assim, tão de repente? Aliás, te
olhando bem, estou notando que você está um pouco
diferente...
Betsy a olhou desconfiada, perscrutando a expressão da
amiga com seu jeito de águia, que não deixava passar nada.
— Diferente como? — perguntou Danna, ciente da
desconfiança da amiga.
Não olhou nos olhos de Betsy, porque, com certeza, ela
leria nos seus o que queria saber. Porém, de qualquer forma,
não poderia ocultar o que se passava por muito tempo. A
amiga era muito observadora e perceberia tudo em um
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segundo.
— Não sei, mais solta, com uma luz nova. Você está com
cara de apaixonada. É isso! Tem uma expressão de felicidade
no rosto, e isso só pode ter nome de homem!
— Eu?! Quanta imaginação, Betsy! Só estou me sentindo
bem hoje.
— Você e o Grant… Vocês dois...? — Betsy não
completou a frase, pois queria que ela o fizesse, mas se
frustrou quanto a isso. Danna, como sempre, estava reticente
em falar sobre o assunto.
— O que tem nós dois? O que está se passando nessa sua
cabeça, Betsy?
— Vocês conversaram? Ontem a senhora passou a noite
lá. Nem te liguei porque você me conhece, sou do jeito que
sou, mas, no fundo, não passo de uma romântica. Vai que
estava rolando algo, não seria eu a atrapalhar os dois
pombinhos.
— Você? Romântica? Conta outra, vai! — Danna
zombou, colocando em dúvida esse lado da amiga.
— Ué, sou sim! E você não me respondeu! Fala, amiga, já
estou ficando cheia de urticárias de tanta curiosidade.
— Está bem, eu conto. Sim, nós conversamos, e passamos
a noite juntos — confessou a olhando de soslaio, ficando no
aguardo de sua reação.
— Nossa! Jura que passaram a noite juntos? Quero dizer,

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juntos mesmo?
— Sabe que não costumo falar... dessas coisas.
— Sei, mas já passou da hora de mudar isso, deixar de
lado essas restrições que você se impõe. Que mal pode haver
em falar desse assunto? Você tem que relaxar mais, não
precisa ser tão comedida. E comigo vai falar, sim! Vem aqui,
quero detalhes, muitos detalhes, senta — pediu quando
chegaram ao sofá da sala e aprovou quando ela o fez. —
Agora, me conta, quero saber de tudo, não me poupe dos
detalhes, não me negue isso!
— Detalhes, detalhes, não vou contar, não, mas posso te
dizer que nunca me senti como me senti com ele. O Grant é...
Nossa! Nem sei como te explicar. É lindo, carinhoso,
atencioso, tem uma aura de mistério que me encanta.
— E na cama? Quero saber como ele é na cama. Conta
logo, mulher!
— Você não para, hein?! Não vai me deixar em paz até
que eu conte!
— Exatamente, que bom que sabe disso! Conta logo tudo
de uma vez, e não em conta-gotas. Quero detalhes picantes.
— Foi maravilhoso. O Grant é tudo de bom.
Danna começou a contar, e para sua surpresa, nem ficou
vermelha ao admitir como tinha gostado de estar com ele.
Estava mesmo mudando, e adorava isso.
— Se sentiu bem com ele, então?

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— Senti com o Grant coisas que jamais senti em todos


esses anos em que estive casada. Foi, no mínimo, revelador.
Ele se importou comigo, com o que eu senti quando
estivemos juntos, você sabe...
— Uau! Deixa eu levantar e fazer a minha dança da
vitória.
Betsy se pôs de pé e passou a dançar na sua frente. A
imagem era hilária, o que a fez rir, contagiada por tamanha
alegria. Após terminar de fazer aquela pequena apresentação
ridícula, Betsy voltou a se sentar, só que agora estava séria.
— Então você é uma sortuda e ganhou na loteria. Homens
assim, como o Grant, do jeito que me descreveu, são difíceis
de encontrar. Está amando, amiga?
— Estou encantada, fascinada, mas... amando? Talvez,
pode ser, eu acho.
— Acha? Como assim acha?
— É que é tão cedo ainda, estamos apenas nos
conhecendo.
— Danna, ou ama ou não ama, não tem meio-termo.
Ela pensou bem, mas não foi dessa vez que chegou a uma
conclusão.
— Para mim, tem! Na verdade, não quero pensar se estou
ou não apaixonada, só posso dizer que adoro aquele homem,
Betsy. Adoro tudo nele, tudo mesmo. Mas, às vezes, tenho
certo receio do que estou sentindo.

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— Pode até não querer, mas vai ter que admitir, pois está
na sua cara que você está apaixonada, isso é fato e
consumado. Do que exatamente você tem medo, mulher?
— Ainda não sei o que esperar, ou se posso esperar algo
disso que estamos vivendo. Está sendo tão intenso e tão
rápido! Você conhece a minha história de trás para frente,
tenho medo de que tudo isso o que estou sentindo pareça
maior do que realmente é por conta da minha carência.
— Eu sei, Danna, nós temos a tendência de nos apegar
muito nesses casos, mas esqueça isso um pouco e comece a
viver. Ele não disse o que sente por você?
— Sei que gosta de mim, sente-se atraído. Não chegamos
a nos aprofundar em uma conversa mais séria, eu não quis
forçar nada, como disse, só estamos nos conhecendo mesmo.
— Fez bem. Quando achar que é o momento, ele vai falar.
Talvez esteja se sentindo como você, em dúvida, não sei, mas
acho que o Grant sente algo mais forte por você, e quer um
conselho? Aproveita, amiga, se joga nessa relação! Ele parece
ser um bom rapaz, honesto, trabalhador... E, sabe, aquela
palavra que eu disse que ia parar de chamá-lo...
Ambas riram, achando graça e segurando as mãos uma da
outra.
— Que bom que está mantendo a promessa — comentou
Danna, ainda rindo.
— Estou me policiando quanto a isso, mas, continuando,
só o tempo dirá se vai dar em algo ou não. Não coloque a
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carroça na frente dos bois. Lembra-se do que te falei outro


dia? Pense só em vocês dois e deixe o resto para depois —
falou e riu alto. — Nossa, até rimou, ficou parecendo letra de
música brega, mas é a mais pura verdade, pelo menos por
agora.
— É mais fácil falar do que fazer. De qualquer maneira,
você tem razão, estou disposta a aproveitar o momento. Já me
reprimi demais e perdi mais ainda.
— Se sente bem, não? — Betsy questionou a amiga, feliz
por ela.
— Sim. Ter alguém de quem gostamos e também goste de
nós não tem preço. Para mim, tudo tem sido um sonho, um
que nunca pensei que um dia pudesse se realizar. Mas eu
tenho consciência de que tudo isso pode ser só coisa da minha
cabeça e que, do mesmo modo como começou, pode acabar.
A verdade é que tenho medo de me apegar demais a ele. Não
podemos esquecer que não sei quase nada a respeito de seu
passado.
— Isso é verdade — anuiu Betsy, sempre atenta.
— Não posso e nem devo dar uma de mocinha que se
apaixona pela primeira vez pelo rapaz bonito e se esquece de
todo o resto, tenho a obrigação de ser realista. E além de
também ter uma filha, trago na bagagem um casamento
fracassado. Não quero, agora que me livrei daquela vida que
levava, agir como uma irresponsável, só que, ao mesmo
tempo, já me neguei tanto que estou propensa a seguir o seu
conselho e, pelo menos uma vez na vida, me arriscar. Quero e
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preciso muito estar com ele, amiga. Só não quero ficar


dependente do que sinto e fazer disso a única razão da minha
vida.
— Danna, nem tudo na vida tem que ser esmiuçado,
analisado. Algumas vezes temos só que nos dar uma chance.
Você está pensando demais, vai acabar fervendo esses seus
miolos aí dentro. Já te disse e repito: vai fundo! Pelo menos,
não poderá dizer que teve a oportunidade de viver algo novo e
bom, que foi posto na sua frente, e se recusou a vivenciá-lo só
porque teve medo de se machucar.
— É, isso mesmo... — concordou Danna, ainda
pensativa.
Grant Gostoso que se cuide e cuide bem da minha amiga.
Espero que o faz-tudo não a magoe, porque, se ele se atrever
a fazer isso, irá conhecer o meu lado Michael Douglas,
versão Betsy-Em-Um-Dia-De-Fúria!

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“Fue un día como cualquiera, nunca olvidaré la fecha


Coincidimos sin pensar, en tiempo y en lugar
Algo mágico pasó, tu sonrisa me atrapó
Sin permiso, me robaste el corazón
Y así, sin decirnos nada, con una
Simple mirada, comenzaba nuestro amor”
Tu me cambiaste la vida – Rio Roma

Danna e Betsy continuaram conversando na sala.


— E sobre o divórcio? A audiência é essa semana, já falou
com o seu advogado? — perguntou Betsy.
— Sim, já. Está tudo acertado, mas não quero falar sobre
isso. Hoje é o dia da minha mudança, o dia em que dormirei
na minha casa e na minha cama.
— E com o seu homem! — Betsy acrescentou maliciosa.
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— Com o meu homem... — Danna concordou incerta. —


Posso sonhar que ele é meu, não posso? — Sorriu faceira.
— Pode! Com certeza! Desde que traga esse sonho para a
realidade, não vejo nenhum problema.
Danna arrumou seus pertences tendo Betsy como sua
ajudante. Saíram e colocaram as malas dentro de seu carro, se
despedindo em seguida.
— Quero que vocês dois venham jantar aqui no fim de
semana. Diz para o Grant trazer o vinho.
— Está bem, pode deixar — concordou Danna, fechando
o porta-malas. — Eu falo com ele. Obrigada por tudo, Betsy.
— agradeceu a abraçando mais uma vez. — Não sei o que eu
teria feito sem o seu apoio.
— É para isso que servem as amigas, não é mesmo?
Vamos nos reunir, nós quatro, eu, você, a Lana e a Nina, na
noite só das mulheres para falarmos dos nossos homens.
Tenho certeza que, dessa vez, você terá muita história para
contar, ao contrário das outras que participou no passado,
onde ficava só observando, sem nada para falar.
— Não sei se estou a fim de ficar falando da minha
intimidade com elas. Você é a única amiga em que eu confio,
de verdade, mas vamos deixar isso para um futuro distante.
— Como quiser, Danna. Mas em algum momento terá que
sair para o mundo! Tem que viver mais, amiga, sair desse seu
mundinho, ver e conhecer gente nova. Mas eu entendo, tudo
ao seu tempo. — Betsy deu uma piscadinha na direção da
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amiga, estava amando vê-la tão bem. Mais forte, centrada,


porém, meiga e generosa como sempre.
Danna pôs o carro em movimento e uma sensação de
liberdade voltou a invadi-la. Estava indo para a sua casa, sua
de verdade, e com o bônus delicioso do Grant morando aos
fundos. Ainda tinha dúvidas? Claro que tinha, mas as poria de
lado. Só queria curtir a alegria que estava sentindo e o fato de
ser dona da própria vida.
Ao chegar, viu que Grant a esperava na calçada. Ele a
ajudou a retirar as malas do carro e levá-las para dentro da
casa. Evitou contato físico com ela enquanto estavam do lado
de fora, para não constrangê-la. Só o fez quando já estavam
no quintal e após fechar o portão. Andaram juntos até a casa
e, ao entrarem, Grant subiu as escadas e colocou as malas no
chão do quarto. Só então a cumprimentou como devia, com
um beijo, puxando-a para perto dele com um braço a
envolvendo pela cintura.
— Olá! — ele a saudou. — Você demorou, achei que não
viria mais hoje. Mas me surpreendeu quando chegou com as
malas, havia dito que levaria mais uma semana para se mudar.
— Por quê? Não gostou que eu tenha vindo de vez, para
ficar? — indagou ela, provocando-o.
— Pelo contrário, adorei que tenha decidido fazer isso
logo. Vai ser muito bom poder te ver a qualquer hora.
— Eu sei que vou amar também — disse Danna, ainda
abraçada a ele. — Eu demorei um pouco, sim, mas foi porque

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estava me despedindo da Betsy. Ela fala um pouquinho


demais, sabe? E no final, acabamos fazendo isso umas três
vezes.
— Entendi, você tem razão, sua amiga é bem falante, eu já
tinha percebido. Mas agora vou te deixar arrumando suas
coisas.
— Já vai voltar ao trabalho? Como esse meu faz-tudo é
responsável! — elogiou em tom de brincadeira. — Fica só
mais um pouquinho. — pediu manhosa.
— Sou mesmo, e adoraria ficar, mas não posso —
explicou ele, inclinando-se e a beijando de leve no pescoço,
endireitando o corpo em seguida. — O Jeff ainda está aqui e
preciso terminar de acertar uns detalhes com ele para
concluirmos o orçamento. Nós nos vemos depois? Podemos
jantar juntos, não sou um fenômeno na cozinha, mas me viro
bem.
— Perfeito! Sugestão e oferta aceitas, então te espero para
prepararmos o jantar — Danna declarou encostando seu corpo
no dele, que a beijou novamente. — É tão bom sentir seu
gosto, seu corpo — afirmou insinuante.
— Não me provoca, mulher! Senão não saio mais daqui, e
falo sério!
— Estou sabendo, ou melhor, sentindo. — Ela riu
travessa, voltando a provocá-lo com um movimento de
quadris. — É melhor ir agora, não deixe o Jeff esperando. Vai
saber o que ele pode pensar...

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— Não imagino e nem me importa, mas acho melhor você


parar agora — Grant avisou baixinho, tentando se controlar.
Era impressão dele ou ela estava começando a se soltar?
— Eu sei, a mim também não importa, eu estava só
brincando. Por que você está me olhando desse jeito? Não
estou fazendo nada, ainda...
— Nada? Não está fazendo nada? Danadinha você! — Ele
riu com gosto. — E de que maneira eu estou te olhando?
Posso saber?
— Não sei explicar, é como se você quisesse...
— Te devorar? Te comer? — perguntou Grant, direto.
— É, desse jeito — Danna confirmou abaixando o olhar,
voltando a se sentir tímida.
— Te olho assim porque gosto muito do que eu vejo. —
Ele tocou seu nariz com a ponta de um dedo, carinhoso. — E
porque está me provocando, e sabe disso.
Ela o estava tirando do eixo, não imaginou que voltaria a
sentir aquilo depois de anos, aliás, tinha se prometido não se
apaixonar de novo, mas não teve como controlar seus
sentimentos.
Apaixonado? Eu pensei isso mesmo? Droga, estou
ferrado! Danna me atrai como um imã, por mais que eu
queira me afastar, não consigo. Que diabos ela está fazendo
comigo? E como foi que isso aconteceu, sem que eu
percebesse ou pedisse? Sinto que já a tenho marcada na pele,
feito tatuagem, não posso mais tirá-la de mim.
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Dias depois.
Danna andava de um lado para o outro no saguão do
quinto andar do Tribunal da Família, situado no centro de
Brooklyn. As luzes baixas das salas onde as pessoas
aguardavam até que seus casos fossem chamados conferia ao
lugar um ar sombrio, apesar de amplo e de uma de suas
paredes ser de vidro. Havia várias cadeiras espalhadas por ali,
mas Danna estava agitada demais para permanecer sentada.
Tentava manter a calma, sentia-se muito aborrecida, na
verdade. Acabara de sair da sala onde tiveram, ela e o ex-
marido, a primeira audiência de mediação de divórcio. Havia
sido informada, através do advogado de Caleb, que além de
estar pedindo a custódia total da filha, o canalha também
estava alegando que Danna tinha sido infiel durante os quinze
anos do casamento.
Como ele pôde ser tão cínico? Olhar na minha cara e
dizer uma coisa dessas?, perguntava-se indignada. Não podia
ver a si mesma, mas tinha absoluta certeza de que estava
vermelha devido à ira que sentia por dentro. Não o conhecia.
O homem com quem fora casada por mais de uma década e
meia revelou-se um verdadeiro estranho para ela. Sentiu-se
profundamente enojada.
Em uma conversa com seu advogado, o mesmo a
tranquilizou dizendo que Caleb teria que provar tais
alegações, e como estas não eram verdadeiras, isso não seria
possível. Garantiu que ela não precisava se preocupar, pois
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sabia bem o que deveria e iria fazer a respeito.


Danna parou de andar quando viu o ex-marido saindo da
sala acompanhado por seu advogado. Dois canalhas. Tremia
de raiva ao se aproximar deles.
— Como você pôde fazer uma coisa absurda daquela lá
dentro? Acusar-me de ter sido infiel a você? Eu te dediquei
grande parte da minha vida, cuidei de você, da casa e da nossa
filha. Você não me permitia fazer nada, sequer trabalhar ou
estudar, controlava até com quem eu falava e o que eu vestia.
Como foi capaz de fazer isso, Caleb? Não consigo acreditar
em tamanho disparate. Você só pode estar louco!
— Eu te disse que não aceitaria o divórcio, Danna. Esta é
minha forma de lutar por você e pela nossa família —
respondeu ele, de maneira fria e controlada.
— Você sabe que essa família a que você se refere não
existe mais, acabou há muito tempo. Só está fazendo isso por
orgulho ou por vingança, e para ser sincera, o motivo não me
interessa. Mas posso te dizer que está perdendo o seu tempo,
não vou voltar para você. Nunca, jamais, entendeu?
Caleb a puxou para um dos cantos do lugar, pegando-a
forte pelo braço. Inclinou a cabeça na direção de seu rosto,
encurralando-a contra uma parede, e falou baixo, em tom de
ameaça, para que os demais não pudessem ouvir.
— Você é minha, Danna! É você quem não deve se
esquecer disso! Farei tudo o que for possível para te ter de
volta, entenda isso de uma vez por todas!

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— Está me ameaçando? Como você pode chegar tão


baixo? Só o que vai conseguir é fazer com que eu te odeie,
Caleb! — exclamou ela, sentindo sua mão lhe apertar ainda
mais o braço.
— Não me importa se me odeia ou não, eu quero você de
volta e vou conseguir! Sua vontade não me interessa, e tem
mais uma coisa, se eu souber que está se encontrando com
alguém, com um homem, não me importa quem seja, quero
que esteja avisada que terá retaliação. Essa pessoa que se
prepare, porque ninguém mexe com o que é meu! — a
ameaça saiu entredentes, e ele logo a largou, irado.
Danna esfregou o braço em um gesto instintivo, soltando
faíscas pelos olhos.
— Você está mesmo louco! Não pertenço a ninguém,
muito menos a você. Eu dei meu grito de liberdade, aceite de
uma vez e acabamos com todo esse circo que você montou!
— exigiu ela, tremendo de medo e de raiva.
Caleb apenas a encarou, com gravidade e fúria nos olhos.
— Vamos embora daqui. Não tenho tempo para ficar
perdendo — Caleb chamou seu advogado e caminhou com
passadas largas e firmes até o local do elevador.
Quem é esse homem, meu Deus? Ela não o reconhecia.
Ficou ali, no meio do salão, estática, enquanto o observava
entrar no elevador, lançando um olhar gélido e um sorriso
cínico em sua direção antes das portas se fecharem.
Se a intenção de Caleb era intimidá-la, para sua tristeza,
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com seu olhar altivo e sua postura arrogante, o homem havia


conseguido. A única saída de Danna era confiar em seu
advogado. Mas a vontade que tinha era de jogar tudo para o
alto, só não o fazia por causa da filha, amava Amy demais
para deixar para lá. Respirou fundo, tentando ignorar o gosto
de fel que ele havia lhe deixado na boca. Uma ligeira dor de
estômago apontou, devido ao estresse que tinha acabado de
passar.
Chegou em casa nervosa e Grant logo notou, pois ela
seguiu direto, passando por ele sem dizer nada. Já dentro de
casa, ela pôs a bolsa sobre a ilha da cozinha com um gesto
impaciente e irritado. Abriu a geladeira e retirou de lá de
dentro uma garrafa d’água. Abriu o armário e pegou um copo,
o enchendo até a metade. Estava com ele no caminho até a
boca quando o viu entrar, silencioso. Tinha uma expressão
indagadora no rosto. Ela completou o movimento, tomando
um bom gole da água, porém, o bolo em sua garganta que
havia se formado durante a discussão com o ex-marido não se
desfez. Colocando o copo em cima do balcão, Danna andou
até Grant, abraçando-o pela cintura e apoiando a lateral do
rosto em seu peito, sentindo sua força e seu calor.
— Não pergunta nada, só me abraça, Grant. Por favor, só
me abraça — pediu ela, sentindo a tensão se esvair aos
poucos. Grant atendeu seu pedido, correspondendo ao abraço
e tocando em seus cabelos com carinho. Esperou paciente que
se acalmasse, e quando ela se sentiu melhor, afastou-se um
pouco para poder olhá-lo nos olhos.

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— Foi tão ruim assim, princesa? — perguntou ele, o


semblante preocupado.
— Foi pior do que jamais imaginei, Grant. Na verdade, foi
horrível. Feio. Não reconheço mais aquele homem, e sinto
que posso vir a odiá-lo pelo que está fazendo comigo.
— Quer falar mais sobre isso?
— Pode ser outra hora? Estou esgotada!
— Claro. Quando quiser conversar, estarei aqui, está bem?
— Obrigada. Sei que você não tem nada com isso... —
suspirou Danna, sentindo-se agraciada por Grant apoiá-la em
um momento tão difícil. — Mas que bom que está comigo!
— Tudo o que se refere a você me interessa, meu bem!
Porque você me importa, Danna!
— Obrigada por me dizer isso, eu estava mesmo
precisando.
— Eu disse porque é verdade. E não fica assim, chateada,
as coisas vão se resolver. E vou sempre estar aqui, ao seu
lado.
— Sempre? — indagou Danna, surpresa.
— Ou pelo tempo que você me quiser — corrigiu-se
Grant, sério.
Danna afastou-se do seu peito apenas o suficiente para
olhá-lo nos olhos.
— Sempre, então! — declarou ela, segura de que o queria

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em sua vida, e voltando a aconchegar-se mais a ele, que a


apertou em seus braços.
Grant sentia essa necessidade de protegê-la, de apaziguar
suas angústias nos momentos em que a notava frágil e
vulnerável. Era visível para ele quanto a batalha do divórcio e
pela guarda da filha não estava sendo fácil para Danna, e
tomando em conta o modo como chegou em casa,
indiscutivelmente abalada, sabia que ela precisaria do seu
apoio, caso contrário, acreditava que desmoronaria. Danna
possuía sua própria força, a prova disso era que tivera a
coragem de terminar um casamento de longos anos. Ela havia
contado, por alto, como tinha sido se separar do marido.
Ainda não se abria muito com ele, porém, Grant não a
condenava por isso, já que fazia o mesmo. Tinha em mente a
certeza de que, um dia, ela iria querer saber mais sobre sua
vida, mas enquanto esse dia não chegasse, ele não diria nada.
Estava tão concentrado na mulher em seus braços que os
acontecimentos do seu passado iam, pouco a pouco, perdendo
a força. A raiva cega, o desejo de reparação e vingança que
nutriu por tanto tempo já não tinham a mesma intensidade de
antes, sentia que estavam se transformando em seu interior,
sendo substituídos por outros, mais amenos. Com exceção da
paixão e do desejo que sentia por Danna, estes, pareciam só
crescer a cada dia que passavam juntos. Grant envolveu a
parte de trás de suas pernas com um dos braços e a pegou no
colo. Com uma Danna agarrada a ele, Grant começou a subir
as escadas, até o quarto dela.

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A brisa da manhã entrou pela janela e tocou seu rosto.


Danna abriu os olhos e levou o olhar para o belo homem ao
seu lado. Na noite anterior, havia pedido que ele não a
deixasse sozinha, pois precisava demais de sua companhia.
Desejava se sentir querida, e assim ele o fez. Não se impôs,
apenas a envolveu naqueles braços fortes e a embalou, até ela
cair em um sono reparador.
Tocou seu rosto de leve com a ponta dos dedos,
admirando-o.
— É, acho que não tem mais jeito, preciso admitir que me
apaixonei por você, e tenho que pensar em como vou lidar
com esse sentimento que só cresce aqui dentro. É tudo tão
recente e novo para mim, mas acabo de me dar conta de que
quero você sempre comigo, Grant — declarou ela, ciente de
que ele não podia ouvi-la.

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“I know there’ll never be a time


you’ll ever feel the same
And I know it’s only words
But if you change your mind
you know that I’ll be here
And maybe we both can learn
Ah give me just one more night”
One more night – Phil Collins

Danna levou o olhar para a janela e notou que o dia


começava a clarear. Subindo o olhar para o horizonte,
conseguiu ver os magníficos tons de amarelo do nascer do sol.
Uma rajada de vento mais forte fez o galho de uma das
árvores que rodeavam a casa balançar, arremetendo contra a
vidraça e a fazendo bater na parede do lado de fora do quarto.
Ao ouvir o barulho, Danna se desvencilhou dos lençóis
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que a cobriam, os chutando para o lado, e andou até a janela,


para fechá-la. Em seguida, virou-se para admirar o homem
deitado, que ainda dormia. Viu-o se remexer, inquieto,
virando de bruços, ajeitando-se melhor na cama.
Como já estava de pé, resolveu descer e preparar o café da
manhã para os dois. Ainda sentia-se ansiosa pelo ocorrido no
dia anterior, e sabia que não voltaria a dormir caso se deitasse
novamente. Não desejando incomodar Grant, achou melhor
fazer algo útil, algo que ocupasse as mãos e distraísse a
mente.
Estava com a mesa posta quando ouviu seus passos
descendo as escadas, apressados. Logo o viu adentrar a
cozinha. O cabelo meio bagunçado na testa a fez sentir uma
vontade imediata de esticar o braço e arrumá-lo. Ele a
encontrou encostada na pia com uma xícara de café recém-
coado nas mãos.
— Bom dia, princesa — cumprimentou-a com um sorriso,
sentando-se e ficando de frente para ela. — Sente-se melhor
hoje?
— Sim, bem melhor, obrigada — Danna respondeu, vindo
se sentar na cadeira aposta a dele e inclinando-se para lhe dar
um beijo leve nos lábios. — Grant, precisamos conversar...
Sobre ontem... Caleb me disse algumas coisas que me
deixaram preocupada.
— Como você quiser, Danna. Estou um pouco atrasado,
esqueci de colocar o celular para despertar e acabei dormindo
demais, mas podemos conversar mais tarde.
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— Não, mais tarde não. Prefiro que seja agora, pode ser?
— Eu trabalho para você, está lembrada? — ele fez a
pergunta com um sorriso meio de lado. Sem dúvida,
encantador.
Deveria ser contra lei ser tão sexy assim a essa hora da
manhã!, pensou ela, escondendo um sorriso malicioso por
detrás da xícara de café enquanto o observava se servir.
— Claro, meu anjo, não esqueci, e é por isso mesmo que
estou dizendo que prefiro que seja agora — declarou ela,
vendo-o sorrir divertido.
— Ah, entendi! Está exercendo seu poder como patroa,
certo? — Grant indagou, dando uma mordida em uma fatia de
bolo. — Hum, isso está bom...
— Fico feliz que tenha gostado — Danna agradeceu o
elogio indireto, já que havia assado o bolo no dia anterior,
antes de sair para a corte.
Levou o olhar até ele, achando graça da maneira como
tinha colocado as coisas, fazendo-a lembrar-se de que era seu
empregado, pois há muito não pensava nele como seu
funcionário. Tirando a parte pessoal, que ainda não sabia bem
como tipificar, passou a vê-lo apenas como alguém que a
ajudava em mais de um sentido.
O assunto que estavam a ponto de discutir era muito
importante, e Danna deixou o ar sair devagar, preparando-se
para começar a falar.
— O Caleb foi muito agressivo ontem, e para justificar o
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fato de estar pedindo a guarda total da Amy, está alegando


que eu o traí durante o tempo em que estivemos casados, o
que não passa de uma grande mentira. Eu nunca fui infiel a
ele, traição é o tipo de coisa que vai contra todos os meus
princípios.
— Que desgraçado! — Grant exclamou depositando a
xícara que segurava em cima da mesa com um pouco mais de
força, fazendo o líquido escuro salpicar na toalha. —
Desculpe — pediu ao se dar conta do que fizera.
— Não tem problema, Grant — avisou ela, vendo-o tentar
limpar os respingos com uma folha de papel-toalha. — Deixa,
eu cuido disso depois.
Grant acatou o pedido, desistindo de limpar a mancha do
tecido.
— E o que o seu advogado achou disso tudo? — perguntou
ele.
— Ele me disse que, para o juiz levar essa calúnia em
consideração, o Caleb vai ter que apresentar provas, pois é a
palavra dele contra a minha. Provas essas que não existem,
mas do jeito que eu o vi ontem, ele pode muito bem forjá-las,
não sei. Era outra pessoa, irreconhecível, e diante disso,
acredito que seja capaz de qualquer coisa. Confesso que senti
medo dele — admitiu.
Grant não conseguia evitar demonstrar o que o corroía por
dentro. Raiva. Cólera. Indignação.
— E por que ele está dizendo uma coisa dessas? O que ele
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espera conseguir, além da guarda da Amy? Pergunto porque


sinto que tem algo mais por trás do que está me dizendo,
Danna.
A mulher o olhou receosa, sem saber ao certo o que
esperar, afinal, se conheciam há pouco tempo, e admitia que
não sabia quase nada a seu respeito. Com Grant, ela seguia
seus instintos. Preferia não dizer, não contar o que se passava
de fato, mas uma vez que tinha começado, iria até o fim. No
final da conversa, quando tivesse contado tudo, tinha um
pedido a fazer. E para poder atendê-lo, ou não, Grant
precisava estar a par de toda a situação.
— Ele acha que, fazendo as coisas dessa maneira, vai
conseguir me ter de volta — respondeu ela, notando quanto
ele estava furioso.
— O quê? Esse cara passou dos limites! Quem ele pensa
que é? — Grant se levantou, nervoso, começando a andar pela
cozinha. Quando parou, olhou para ela com uma expressão de
indagação no rosto. — Você não está considerando...? —
Grant a fitou agoniado, a conclusão do pensamento morrendo
na garganta.
Danna andou até ele, o tomando pelos braços e o
encarando séria.
— Não, de jeito nenhum! — apressou-se em tranquilizá-
lo. — Não há nada neste mundo que me faça voltar para a
vida que eu levava, Grant. Aliás, hoje eu sei que aquilo não
era vida. Eu só vegetava. Agora que, finalmente, me sinto
livre, não quero viver aquele pesadelo de novo.
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Grant deixou escapar um suspiro de alívio. Por um


momento, sentiu-se morrer por dentro ao considerar a
possibilidade de Danna reatar com o marido. Imaginava que
ela não faria isso, mas precisava ter certeza, ouvir de sua
boca. Voltou a se sentar, mais calmo e controlado. O maldito
queria que a mulher voltasse mediante mentiras, intimidações
e chantagens. Canalha sem escrúpulos. Bastardo!
— Fique calmo, Grant! Para mim, ele enlouqueceu. Só a
loucura justifica tal comportamento.
— A maldade também, Danna — afirmou ele. — Pessoas
que agem dessa forma são as piores. Começam inventando
coisas e ameaçando para desestabilizar, logo estão
perseguindo, vindo atrás de você... Tem que ficar atenta e, por
favor, caso algo desse tipo aconteça, não deixe de me contar,
está bem?
— Mas o que você vai poder fazer, Grant? Prefiro que não
se envolva demais! Esse é um problema meu, e se estou te
contando tudo isso, é porque quero te fazer um pedido.
— Sei que é um problema seu, princesa, só que me
importo demais com você. Posso concordar em ficar de fora,
por enquanto, porque está me pedindo, só que eu insisto, se
ele fizer algo que te incomode, seja o que for, me avise!
Promete? — insistiu ele, pegando seu queixo e a fazendo
olhar diretamente para ele.
— Está bem! Eu te aviso! Prometo! — Danna concedeu.
— Fico mais tranquilo assim. Já vi que não se pode

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confiar nesse seu ex-marido. Mas me fala, que pedido você


queria fazer?
— Ele me ameaçou. Disse que, se souber que ando vendo
alguém, quero dizer, um homem, essa pessoa vai se
arrepender de estar comigo.
— Entendo... E você está preocupada por mim.
— Claro que estou preocupada. Escuto você me falar que
se importa comigo, mas eu também me importo muito com o
que possa te acontecer, e é por isso que eu queria te pedir para
nós...
Grant não a deixou terminar, estava muito ansioso e
acreditava que ela preferia não estar mais com ele, devido à
situação formada pelo ex.
— Quer terminar o que mal começamos, Danna? É o que
vai me dizer? Vai ceder às ameaças dele? — Grant se
antecipou, sentindo um arrepio gelado de medo descer pela
espinha.
— Não, não é isso. Não pretendo terminar nada, não tire
conclusões apressadas, meu anjo. Eu quero continuar com
você, de verdade! — garantiu Danna, falando apressada,
tomando uma das mãos de Grant nas suas.
— Mas existe um porém aí, me fala qual é.
— Eu quero tentar evitar que a nossa relação chegue aos
ouvidos dele.
— E como pretende fazer isso? — ele quis saber, já

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imaginando e se preparando para o que ela diria em seguida.


— Pelo seu jeito, acho que você já sabe que, além de
terminarmos tudo, só nos resta um caminho a seguir: sermos
discretos e não comentarmos da nossa relação com mais
ninguém. Da minha parte, só a Betsy sabe, e confio
cegamente nela. Eu pedindo, ela não vai comentar com
ninguém, nem mesmo com o namorado. Falo isso no caso de
sairmos os quatro juntos, entende?
— Estou tentando. Tem mesmo certeza de que quer isso?
Não sei se é uma boa coisa a se fazer... Nós nos escondermos
como se estivéssemos fazendo algo errado... Não sinto que
seja assim.
— Por favor, eu te peço que não tome dessa maneira, é só
por um tempo, faz isso por mim. Vou me sentir melhor se ele
não souber de nada, porque a ameaça dele é contra a pessoa
que estiver comigo, no caso, você. E não sei se aguentaria que
algo de ruim te acontecesse, ainda mais por minha causa.
Depois de ontem, não posso confiar naquele homem. Acredito
que seja capaz de te prejudicar de alguma maneira. A forma
como me olhou... foi doente, de uma frieza que eu nunca vi
antes, tanto que me arrepiou até a alma.
— Está bem, se é para que fique tranquila, vou concordar,
não quero você agoniada, imaginando o próximo passo
daquele maluco. Vamos agir como você está me pedindo. Eu
não comentei com ninguém. Como disse, só tenho o Jeff
como amigo aqui, e nada disse a ele.
— Será só até finalizarmos o divórcio, meu anjo. Depois
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de tudo terminado, acredito que as coisas poderão voltar ao


normal.
— Assim espero. Bem, agora preciso começar o dia —
falou ele, se levantando. — Vou aproveitar que o tempo está
bom para fazer alguns reparos do lado de fora da casa —
completou, se despedindo. Acabou não conseguindo ingerir
mais nada, tudo aquilo que tinha ouvido o havia feito perder o
apetite.
Danna o viu sair, sabia que ele não havia gostado da
situação, porém, não via outra saída. Infelizmente, era tudo o
que ela podia oferecer no momento. Era isso ou ficar sem ele,
e a segunda opção não a agradava. Não queria e nem se via
capaz de abrir mão do que começavam a viver. Levantou-se
começando a tirar a mesa. Seria bom começar o seu próprio
dia.

— Este é o endereço — Caleb afirmou, entregando um


pedaço de papel com anotações feitas à mão para a pessoa de
pé à sua frente.
— Queens? — o homem perguntou intrigado.
— É. Algum problema?
— Não, nenhum. Só fiquei imaginando quem o senhor
conhece que vive no subúrbio.

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— Minha mulher está morando lá.


— Sua mulher? Interessante. Soube que está em processo
de divórcio.
— Exato! O divórcio está em andamento, mas desde que
não esteja concluído, para todos os efeitos, Danna continua
sendo minha esposa. Mais alguma dúvida?
— Não, senhor — o homenzinho mirrado e de olhar
desconfiado se apressou a negar. Conhecia a fama do homem
à sua frente, e seria muito melhor para a sua saúde física não
cutucar a onça com vara curta. Então calou a boca e ficou
esperando pelas instruções que, por certo, viriam em seguida.
— Quero que coloque alguém de sua confiança para vigiar
este endereço. Preciso saber tudo o que se passa com Danna.
Com quem sai, com quem fala, com quem se encontra. Quero
saber tudo, entendido?
— Essa encomenda não vai sair barata. Terei que
disponibilizar muitos recursos, o senhor sabe... — o homem
comentou coçando a cabeça, olhando-o por cima dos óculos
de grau.
— Dinheiro não é problema — assegurou Caleb.
— Se o senhor está dizendo, quem sou eu para contestar...
— falou o detetive, esfregando uma mão na outra e soltando
uma risadinha nefasta.
— Isso é tudo, pode ir agora — o homem com cara de
poucos amigos o dispensou. — Só volte quando tiver um
relatório completo. Ah, antes que eu me esqueça, quero fotos
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também.
— O senhor é quem manda, chefe! Entro em contato
quando tiver o serviço completo.
— Conto com isso. Você foi muito bem recomendado. Só
preciso que tenha claro que eu não admito fracassos,
tampouco aceito trabalho pela metade!
Dito isso, pegou uma folha de cheque, preencheu e
assinou.
— Aqui. Tome. É um adiantamento para os tais recursos
que acaba de mencionar. Terá o mesmo valor quando me
trouxer o que te pedi.
Caleb estendeu o braço e entregou o cheque ao detetive. O
homenzinho arregalou os olhos com evidente admiração ao se
dar conta do valor, o fitando com expressão de espanto,
porém, logo mudou para satisfação. Parecia até salivar diante
do montante.
— É bem mais do que costumo cobrar, posso ver que
dinheiro não é problema mesmo — comentou ele, virando-se
e deixando Caleb sozinho no recinto que chamava de
escritório.
O lugar tinha luz baixa e era decorado com um sofá
revestido de veludo na cor vermelha que tomava uma parede
inteira. As paredes tinham espelhos de corpo inteiro e vários
pufes se espalhavam pelos cantos. O gosto era bem duvidoso,
realmente, um contraste com o dono, sempre elegante e
impecável.
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— Danna, Danna, você não sabe com quem se meteu,


querida. Vai se arrepender muito por ter me deixado —
murmurou para si mesmo.
Abriu uma das gavetas da escrivaninha, pegou um charuto
e o cortou em ambas as extremidades. Logo o colocou sob as
narinas e aspirou o cheiro viciante. Por fim, o acendeu,
impregnando o ambiente com o aroma cubano.

Grant estava dentro dela. Movia-se incansável, os quadris


subindo e descendo, arfando na curva de seu pescoço. Ela
apertava suas nádegas musculosas e firmes, cravando-lhe as
unhas. Cada vez que faziam amor, só melhoravam. Ela
começava a se sentir mais solta e mais à vontade com ele.
Gemia o sentindo bater em um ponto específico. Começou a
tremer, o corpo aquecendo, sabia que o prazer estava
próximo. Grant estava sendo duro e intenso, nada comparado
com a maneira gentil e delicada que tinha sido na primeira
vez. Conforme notava que ela ia se soltando, ele fazia o
mesmo, e agora pareciam dois náufragos sedentos, agarrados
um ao outro, concentrados em alcançar o próprio prazer. Tudo
isso fez despertar nela uma natureza apaixonada que nem
sabia que possuía. Ele a virou de bruços e a penetrou tão
profundo que ela o sentiu em toda a sua extensão. A posição a
fazia sentir cada milímetro de seu membro rijo. Uma mão
estava em seus cabelos e a outra a segurava pelo ombro. Não
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demorou muito e ele a puxou pela cintura para mais perto de


seu quadril. Deixou-a de joelhos sobre a cama, movendo-se
dentro dela, implacável, enquanto agarrava um de seus seios e
o apertava, o moldando à sua vontade.
Ela girou o pescoço procurando por sua boca. Precisava
sentir seu gosto. Grant pôs a mão em seu queixo, tomando sua
boca com fome. Ambos se devoravam. A mão que estava em
seu seio desceu devagar, fazendo os músculos de sua barriga
se contraírem conforme passava por eles, parando no meio de
suas pernas. Os dedos se esmiuçando pelo seu sexo, onde
começaram a fazer movimentos circulares, estimulando o que
já estava no limite. Ele continuou estocando, tão forte que ela
sentia suas coxas batendo incessantemente em seu traseiro.
— Oh, sim, Grant, estou quase lá.
— Isso, vamos, princesa, falta pouco para mim também.
Após alguns movimentos, o ar que ela segurava foi
expirado de uma única vez em meio a um gemido alto e
rouco. Ela gozou chamando seu nome.
Danna fechou os olhos, apoiando a cabeça em seu ombro,
apreciando a onda de calor aquecer e atravessar todo o seu
corpo. Algumas arremetidas depois e ouviu o gemido mais
forte de Grant próximo ao seu ouvido, sentindo o líquido
quente ser liberado dentro dela. Ambos permaneceram
abraçados e imóveis por alguns minutos. Os braços dele a
seguravam no lugar. Um a prendia pela cintura e o outro
repousava sobre o seio, que antes, ele havia apertado com
força no auge da paixão. Sentiam-se enlevados pelo prazer
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que tinham acabado de se dar. Ele começou a depositar


pequenos beijos úmidos em sua orelha, descendo para o
pescoço enquanto suas respirações voltavam ao normal.
Finalmente, Grant se retirou de dentro dela e os dois
desabaram na cama. Olharam primeiro para o teto, e então,
um para o outro, sem conseguirem ocultar a expressão de
satisfação que tinham em seus rostos.

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“I’ve been roaming around


Always looking down at all I see
Painted faces, fill the places I can’t reach
You know that I could use somebody”
Use Somebody – Kings of Leon

Danna
Eu me pergunto todos os dias como consegui viver todo
esse tempo sem sentir o que sinto quando estou com Grant.
Não é só pelo sexo, que tem sido uma descoberta maravilhosa
do meu próprio corpo e um aprendizado incrível. Sei que, de
frígida, nunca tive e não tenho nada. Ainda me surpreendo
com o fato de ter conseguido me despir dos meus pudores e
me entregar a ele, o que eu achava que jamais teria coragem
de fazer. Isso porque nunca me desnudei na frente de outro
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homem que não fosse o meu ex-marido. Imagino que para


muita gente a nudez possa ser a coisa mais natural do mundo,
porém, para mim, não é. Pelo contrário. Sempre foi muito
difícil eu me desnudar para outra pessoa, incluindo o Caleb.
Timidez e criação muito rígida nos reprimem, causando medo
de se ver, se tocar e de deixar que nos vejam e nos toquem
também. Sem falar na minha baixa autoestima esmagada,
maltratada e diminuída ao longo dos anos. Estou fazendo o
possível para deixar essas minhas inibições de lado, e acho
que estou conseguindo. Tenho apreciado o que vivencio ao
lado do Grant, sinto-me mais confortável na minha própria
pele diante dele. Tem sido aos poucos, porém, nós nos
entendemos muito bem, na cama e fora dela. Isso também se
deve ao fato de ele ter sido compreensivo, carinhoso diante
das minhas inseguranças e medos. Se tivesse sido só um
pouquinho rude ou insensível, eu o teria deixado, me fechado
e fugido no mesmo instante, mas o que aconteceu foi
exatamente o contrário. Grant soube me entender, sendo
paciente e gentil comigo, do jeitinho que tinha prometido, me
deixando o mais à vontade possível, com as suas palavras, a
sua presença e o seu toque. Hoje, eu posso enxergar com
clareza o marido egoísta que foi Caleb, que só pensava na
própria satisfação, no próprio bem-estar, e diminuía, um
pouquinho a cada dia, a minha autoestima, até sobrar quase
nada, sendo abusivo, exigente, possessivo e me dizendo a
cada momento que eu não servia para nada, que tudo o que
eu fazia não era bom o suficiente. Chegava ao cúmulo de me
perguntar o que eu havia feito o dia inteiro quando eu me

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esquecia de limpar algo ou deixava algum item da sua


maldita lista de fora por pura falta de tempo. Na cama, ele
bem podia estar com uma boneca inflável que daria no
mesmo, dado o grau de importância que eu tinha para
ele. Estou irremediavelmente apaixonada por um rapaz de
vinte e oito anos de idade, ou seja, seis anos mais jovem do
que eu. Um faz-tudo que está longe de ser o homem
considerado ideal pela minha família ou pela sociedade onde
fui criada, que sempre considerou as posses materiais e a
ascendência familiar como pré-requisitos imprescindíveis
para se tornar um membro do “clube” do qual
pertencem. Grant compensa a falta de sofisticação e berço
com carinho, cuidado e atenção, e isso não tem dinheiro que
pague. Não sei dizer se ele está apaixonado por mim, às vezes
eu penso que sim, mas não quero me prender a isso, pelo
menos não por enquanto. Estou tentando viver um dia de
cada vez, sem me cobrar muito e nem a ele, mas sei que esse
tema uma hora vai vir à tona. Vou querer saber o que sente
por mim de verdade. Depois de ter declarado que se sente
atraído e que gosta de mim, não tocamos mais no assunto, ele
é meio fechado quando se refere a sentimentos e ao seu
passado. Às vezes, fico me perguntando o que já fez em sua
vida, como foi sua infância e sobre sua família, mas ele não
me dá abertura para abordar esses assuntos. Eu também não
disse que estou tão envolvida a ponto de começar a imaginar
que posso estar... amando? Bem, se não for isso ainda, estou
no caminho, isso é certo. Adoro cada gesto, toque e olhar de
Grant. Amo dormir e acordar ao seu lado. Fazer as refeições

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com ele sentado à mesa comigo, ainda que insista que não
tenho obrigação nenhuma de cozinhar para ele, mas eu
também preciso comer, certo? Qual o problema em fazermos
isso na companhia um do outro? É prático e eu faço por
prazer, não por obrigação. Nessa minha nova vida, deito e
acordo na hora que quero. Se eu quiser limpar a casa, eu
limpo, se não quiser, não limpo. Não tem ninguém no meu pé
verificando se fiz direito ou não. Claro que faço tudo, adoro a
minha casa com cheirinho de limpeza, só não sou uma
fanática, aliás, penso seriamente em contratar alguém para
me ajudar com isso, por um ou dois dias da semana,
talvez. Estou querendo me matricular naquele curso de
história da arte que sempre desejei fazer e não pude. Quem
sabe eu escolha algum outro que me interesse e, mais para
frente, posso até vir a conseguir um emprego. Tenho o
dinheiro que guardei da minha herança, não dá para viver no
luxo, mas levando uma vida mais simples, como a que tenho
agora, posso ficar tranquila por muito tempo. Eu só quero me
sentir útil. Enfim, planos para o futuro. Alguns mais
próximos, outros, nem tanto. O que está me preocupando
agora, de verdade, é o andamento do meu divórcio. Tento
não pensar muito nisso, porém, confesso que está me
afetando. Amo a minha filha de todo coração e espero que ela
não se deixe manipular pelo pai, ainda mais quando souber o
que se passa entre o Grant e eu. Cortaria meu coração se
isso acontecesse. Estou tão entretida em meus pensamentos
que apenas ouço, ao longe, o meu celular vibrando. Saio pela
sala à sua procura.

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— Onde está você, seu danadinho?


Danna se perguntou, em voz alta, tirando cada uma das
almofadas para ver se o seu celular estava atrás de alguma
delas. Podia ouvi-lo vibrando, mas não sabia onde. Deu uma
última olhada, inclinando o corpo para o lado, e o viu caído
entre a parede e o sofá. Esticou o braço o máximo possível, o
passando pelo pequeno vão, e conseguindo alcançá-lo e puxá-
lo usando as pontas dos dedos.
— Te peguei! — exclamou ela, sentando-se e atendendo a
ligação. — Amy! Que saudades que estou de você! — soltou
logo após ler o nome da filha no visor do aparelho.
— Eu também tenho saudades, mãe, mas demorou em
atender, hein? Eu já ia desistir! — a garota reclamou.
— Estava procurando o raio do telefone que caiu aqui,
mas me conta, como você está?
— Estou ótima e adorando tudo aqui, mas, na verdade,
estou ligando porque vou ter uma folga, por conta do feriado,
e estava pensando em fazer uma visita para conhecer a sua
casa nova.
— Claro, Amy! Vou adorar que venha. Quer dizer que nos
veremos no feriado de Ação de Graças? Vai ser muito bom
passá-lo com você aqui.

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— Devo dar uma passada em casa e ver o meu pai


primeiro, depois sigo para a sua.
— Está perfeito, meu amor. Só que a minha ainda está em
obras, não se assuste se, quando chegar, tropeçar em alguns
materiais espalhados pelo chão.
— Em obras? Como assim?
— É, estou reformando. Não tinha como morar aqui do
jeito que estava, ficou muito tempo fechada, mas agora está
ficando ótima, você vai adorar.
— Sei que vou. Está combinado então, daqui a duas
semanas estarei aí, mas é claro que nos falaremos antes disso.
Agora preciso ir, concordei em participar de um jogo
de handball da turma do meu curso e estou em cima da hora.
Até posso escutá-los buzinando da rua.
— Está bem, filha. Divirta-se! Eu te amo, e se cuida.
— Também te amo, mãe — Amy repetiu, desligando em
seguida.
Danna suspirou e se recostou no sofá. Não havia
comentado com Amy quem era a pessoa que estava fazendo
os consertos na casa. Não sabia bem o porquê de não ter feito
isso, talvez quisesse evitar que a filha fizesse muitas
perguntas, que, dada sua natureza curiosa, sabia que a garota
faria. Sem contar que existia a possibilidade de deixar escapar
algo do que se passava entre os dois. Não estava certa de
como seria a reação da filha ao tomar conhecimento de que a
mãe estava apaixonada pelo seu amigo Grant.
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— Danna querida! Seja bem-vinda de novo à minha casa.


— Betsy a recebeu na porta com um abraço, animada como
sempre. — Que bom que vocês vieram.
Não se viam há apenas alguns dias, mas pela reação da
amiga, dava a entender que fazia meses, ou até anos.
— Achou que não viríamos? — perguntou Danna, só para
provocá-la.
— Nunca se sabe, você tem andado muito ocupada
ultimamente — respondeu, dando uma piscada indiscreta para
ela, referindo-se ao homem calado que se encontrava de pé ao
seu lado. — Entrem, entrem — instruiu, e olhou diretamente
para ele. — Obrigada por trazer o vinho, Grant — completou,
pegando a garrafa de suas mãos e o levando até a mesa, na
sala de jantar.
Grant sorriu sentindo-se um pouco fora de seu ambiente.
Não estava habituado a comparecer em reuniões com pessoas
distintas à sua classe. Somente acompanhava Danna, pois não
poderia constrangê-la recusando o convite.
Quando soube que tinham sido chamados para jantar com
Betsy e o namorado, ele e Danna montaram um esquema.
Saíram de casa um de cada vez e em carros separados,
fazendo caminhos distintos para o caso de estarem sendo
seguidos. Era mais uma precaução, afinal, melhor prevenir do
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que remediar.
Danna fez o trajeto normal, enquanto Grant resolveu dar
umas voltas a mais, assegurando-se de que não havia ninguém
atrás deles. Podia não fazer mais parte da força policial, mas
mantinha seus sentidos sempre alerta.
Robert, que estava sentado no sofá da sala, levantou-se
aos vê-los entrar.
— Bob, este é o Grant, o rapaz que trabalha para a Danna.
Está reformando a casa dela.
— Ah, sim, o faz-tudo — comentou com um sorriso
simpático no rosto. — Prazer em conhecê-lo. Robert Sullivan,
mas pode me chamar de Bob.
— Grant Collins. O prazer é meu — cumprimentou ele,
retribuindo o aperto de mão do homem à sua frente.
— Querem tomar uma bebida antes de passarmos para a
sala de jantar? — indagou Bob, solícito.
— Melhor não, já vamos tomar o vinho e minha tolerância
alcoólica é mínima — respondeu Danna, tirando o casaco e o
pendurando no mancebo atrás da porta.
— Eu aceito uma cerveja, se tiver. Sei que não é o usual,
mas... — pediu Grant.
— Nada disso, tomamos o que temos vontade, nada de
formalidades aqui, e claro que temos cerveja, vou até te fazer
companhia.
Robert se dirigiu à cozinha e abriu a geladeira, de onde
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tirou duas long necks, voltando com elas até a sala. Passou
uma para o rapaz sério que parecia se sentir meio deslocado.
Resolveu começar uma conversa amena com ele.
— Betsy comentou comigo que você é da Califórnia. O
que fazia lá? Não parece o tipo rato de praia. — Deu um
sorriso.
— Eu trabalhava com segurança... pública — Grant
respondeu, tomando um gole de cerveja e agradecendo
intimamente por ter algo o que fazer com as mãos.
A resposta não estava muito longe da realidade, e desejou
que as perguntas pessoais parassem por ali.
— Hum... interessante — foi tudo o que Robert conseguiu
dizer.
Tinha ido com a cara do rapaz, parecia tranquilo e
simpático. Se estava com a Danna, devia ser boa gente. Só
não entendia uma coisa: ele trabalhava para ela, por que,
então, tinham vindo juntos? Seriam amigos também? Sim,
podia ser isso mesmo, concluiu bebendo da própria cerveja.
— Pois é, nada glamoroso, como imaginam as pessoas
quando se diz que é da Califórnia. Pensam em sol, praia, vida
à beira do mar, mas creio que não me encaixo no estereótipo.
— Isso é verdade, e você está certo, pensamos mesmo —
Robert concordou, virando-se para as duas mulheres que
entravam conversando sorridentes com travessas fumegantes
nas mãos.
Grant seguiu o olhar do homem mais velho à sua frente e
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logo estavam sendo chamados para ocuparem seus lugares à


mesa. A despeito de certo constrangimento inicial, a noite
transcorreu bem agradável. No fim, estavam os quatro
conversando e rindo das palhaçadas de Betsy, enquanto
Robert tentava ser engraçado contando algumas piadas que,
na verdade, não tinham graça nenhuma.
Ô casal que deu certo, gente!, Danna pensou, divertida,
enquanto observava os dois. Levou o cálice de vinho até os
lábios e sorveu um gole da bebida.
— Foi ótimo! Temos que repetir uma hora dessas — disse
Betsy.
— Com certeza. Aliás, agora que me lembrei, vocês têm
compromisso para o Dia de Ação de Graças? Se não tiverem,
poderíamos nos reunir na minha casa. A Amy me ligou hoje
avisando que vai vir passar o feriado aqui.
— É mesmo? Sim, pode ser — concordou Betsy. —
Minha família está muito longe, amiga, você sabe, e o Robert
só tem o pai, que vive em uma casa de repouso. Ele pode dar
uma passada lá e se reunir conosco depois. Certo, Bob?
— Tudo bem para mim. Meu pai é muito idoso, costuma
dormir cedo.
— Está marcado, então. Dia de Ação de Graças, às oito da
noite, na minha casa! — Danna confirmou e logo se virou
para Grant. — Vamos? Acho que já está ficando tarde.
— Tem razão, vamos sim — concordou ele.
Quando já estavam na porta, os quatro se despediram.
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Danna e Grant desceram os poucos degraus da frente da casa,


andando até os seus respectivos carros.
— Vai na frente que eu te sigo — ele cochichou no ouvido
dela, entrando em sua pick-up e aguardando que ela fizesse o
mesmo, em seu carro.
— Que coisa estranha, os dois vieram em carros
separados. Eles não estão indo para o mesmo lugar? — Bob
perguntou intrigado.
— Deixa de ser curioso, Robert! Vai saber se o Grant não
tem outro lugar para ir? Um compromisso, quem sabe? Só
pode ser, porque a Danna me confirmou que vai direto para
casa.
Betsy fez as sugestões na intenção de tirar qualquer
dúvida que o namorado porventura tivesse, pois Danna havia
lhe contato o verdadeiro motivo de terem feito o que fizeram,
e pedido para que fosse discreta sobre o assunto, o que ela
achou algo prudente a se fazer. Nunca tinha ido com a cara do
tal Caleb, e depois do que a amiga havia lhe confidenciado,
sentia que de fato o odiava.
— É, deve ser isso mesmo — assentiu Robert, entrando
em casa logo depois da mulher.

Danna adentrou a pequena sala, o rosto levantado na


direção do mezanino, onde o podia ouvir abrindo e fechando a
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porta do armário embutido. Logo ele apareceu na grade de


proteção, enfiando a cabeça e os braços em uma camiseta
preta.
— Grant, por acaso você pegou o meu CD da Sia? Não o
encontrei na minha estante.
— Sim, você me emprestou para eu ouvir aquela música
que gosta, está lembrada? Está na caminhonete.
— Ah! Acabo de me lembrar, vou lá buscar — falou ela,
virando-se para sair.
Caminhou até a caminhonete, abriu a porta do passageiro,
se inclinou esticando o braço e abrindo o local onde ele havia
dito que o CD estaria. Um papel amassado jogado no assoalho
lhe chamou atenção. Curiosa, ela o pegou. Acomodou-se no
banco do carona e deu uma olhada desconfiada em direção ao
estúdio antes de esticar o papel, que parecia se tratar de uma
foto. Olhou surpreendida para a imagem que apareceu diante
de seus olhos. Era o Grant, vestido em um uniforme completo
de policial.
— Grant? Um policial? Por que ele nunca me contou
sobre isso? — indagou em voz alta.
Ao ouvir passos se aproximando, guardou a foto dentro do
bolso traseiro da calça apressadamente. Pegou o CD e saiu do
auto, fechando a porta.
— Achou? — perguntou Grant, andando em sua direção.
— Sim, achei — Danna respondeu mostrando o CD para
ele. Resolveu que não comentaria nada sobre a foto, pelo
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menos não naquele momento. — Adoro esse CD, tem uma


música aqui cuja letra diz exatamente como eu me sinto
quando estou com você — disse com um sorriso e chegando
mais perto.
— É mesmo? E qual delas seria? — ele quis saber,
curioso, tomando o CD de sua mão e o virando entre os
dedos, para poder ler os nomes no verso.
— “Bird Set Free”. Eu não vou negar, amo!
— Eu conheço e concordo com você. Também me sinto
assim ao seu lado — comentou ele, devolvendo o CD para
ela.
— Vai sair? Não está com roupas de trabalho. — Danna
observou batendo a lateral do CD na palma da outra mão.
— Vou sim. Preciso ir até a loja de ferramentas. Vou usar
o seu cartão, tenho poucos pregos e necessito de mais alguns
metros de calha, e também de um grifo novo, o meu já era —
informou ele, dando-lhe um selinho. — Pretendo voltar logo
— avisou, abrindo a porta, entrando na caminhonete e se
acomodando no assento do motorista.
— Está bem. Eu te espero para o almoço?
Grant girou a chave na ignição e o barulho do motor se fez
ouvir.
— Pode esperar, mas só se quiser, não se prenda por mim,
posso demorar mais que o previsto. Não espero me atrasar, só
que nunca se sabe, o trânsito... — Grant não precisou terminar
a frase.
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— Pode deixar — concordou Danna, afastando-se um


pouco da pick-up, pois ele já a colocava em movimento.
Ficou de pé o observando dar marcha à ré e sair pelo
portão. Assim que o viu sumir de seu campo de visão, retirou
a foto do bolso e ficou parada ali ainda por algum tempo,
pensativa, antes de decidir entrar.
Quando voltasse, falaria com Grant a respeito. Queria
saber por que ele não tinha lhe contado. Tinha estado tão
enlevada e envolvida por ele que havia deixado o seu passado
de lado, no entanto, já era hora de começarem a se abrir.
Precisava saber, não tudo, claro, mas pelo menos alguns
detalhes de sua vida pregressa.
Grant acabou não voltando para almoçar. Ligou avisando
que, como temia, ficara preso no trânsito. Danna passou o
tempo separando algumas coisas que não a interessavam no
sótão. Distraiu-se de tal maneira que, quando se deu conta, já
tinha passado mais de uma hora ali dentro. Estava tão
concentrada no que fazia que levou um pequeno susto ao
ouvi-lo.
— Danna? — chamou ele.
— Aqui! No sótão! — Ela gritou de volta. Um minuto
depois, viu o topo de sua cabeça aparecer no meio do alçapão.
— O que está fazendo aí? — perguntou Grant, terminando
de entrar e sentando-se em um banquinho, ficando de frente
para ela.
— Separando umas coisas velhas para jogar fora.
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— Entendi — Grant assentiu, tomando nas mãos um


antigo disco de vinil, dos anos 1960, onde se lia Introducing...
The Beatles. Uma verdadeira raridade.
— Acho que isso aqui deve valer algum dinheiro, se for
original.
Danna levou os olhos ao que ele tinha nas mãos.
— Pode ser. Minha mãe gostava muito deles, era fã de
carteirinha. Deixa separado que vou mandar avaliar. Nunca se
sabe.
Depois de algum tempo, ela se sentiu cansada e decidiu
que fizera o suficiente por uma tarde, deixaria para ver o resto
outro dia. Ambos desceram e foram se sentar no sofá. Danna
achou que aquele seria o momento ideal para abordar o
assunto que a tinha deixado curiosa durante toda a tarde.
— Por que você não me contou que já foi um policial,
Grant?
Após fazer a pergunta, sem rodeios, Danna ficou
aguardando por uma resposta.

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“This Romeo is bleeding


But you can’t see his blood
It’s nothing but some feelings
That this old dog kicked up
It’s been raining since you left me
Now I’m drowning in the flood
You see I’ve always been a fighter
But without you I give up”
Always – Bon Jovi

Grant
Estou olhando para ela e não ouso mexer um músculo
sequer. Deus, mal consigo respirar. Sinto meu corpo tenso,
retesado. Eu sempre soube que esse dia chegaria, só não
achei que seria tão rápido. Pensei que nossa relação estaria
mais forte, porém, não aconteceu assim. Sei que, após contar
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tudo, Danna poderá decidir terminar comigo. Acabar com o


que apenas começamos. Ela pode não morar mais em uma
mansão nos Hamptons, nem andar em Bentleys luxuosos,
ainda assim é uma mulher que sempre viveu em meio ao luxo
e riqueza, entre pessoas da alta sociedade e muitas das quais
discriminam os menos favorecidos. Como eu, por exemplo.
Não quero generalizar, mas é isso que passam. Não que eu
ache que ela seja assim, mas nunca se sabe. As aparências
enganam, e eu sei muito bem como é isso, pois senti na
própria pele. Estou inseguro quanto à sua reação, porém,
minha natureza sempre foi a de prezar pela verdade, e como
o que ela está esperando de mim é que eu lhe conte sobre o
meu passado, não posso lhe dar menos do que isso. Aconteça
o que acontecer. Só de pensar no que, acredito, está por vir,
sinto um aperto aqui dentro. Entretanto, uma esperança, bem
pequena, insiste em não morrer, em permanecer viva,
escondida em um recanto do meu coração, apesar de eu
pensar ser algo inútil e sem sentido. Confesso que me
surpreendeu uma mulher como a Danna, fina, sofisticada, de
alta classe, ter se interessado e se envolvido com alguém tão
simples e comum como eu. De todas as maneiras, tenho que
me arriscar a ficar sem a mulher por quem sinto o coração se
aquecer com o sentimento que ainda não tenho coragem de
expressar em voz alta, como se depois de verbalizar, não
tivesse mais como voltar atrás, tendo que assumir que o que
sinto é amor. Sim, eu sei que prometi a mim mesmo nunca
mais voltar a gostar de alguém dessa maneira, me colocar à
mercê de outra mulher e correr o risco de sair ferido, com o

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coração despedaçado novamente, contudo, mesmo contra a


minha vontade, ela entrou e se instalou dentro do meu peito,
sob a minha pele, e ter consciência disso me faz sentir uma
dor ainda maior. Como dizer para ela que fui traído e que
por conta dessa traição fui parar na cadeia e estive preso por
mais de dois anos? Como dizer a ela que as pessoas que me
traíram eram as mesmas em quem mais confiei? Uma mulher,
por quem eu achava que estava apaixonado, um homem, que
eu considerava meu melhor amigo, e outro que seria, em
breve, meu sogro, o pai da mulher que eu planejava pedir em
casamento? Como dizer quanto fui tolo e ingênuo me
deixando envolver e por isso cair em uma armadilha armada
por esses três projetos de seres humanos? Como dizer que
ainda os odeio com todas as minhas forças e que o desejo de
vingança ainda é forte dentro de mim? Como dizer que quis
morrer ao ler a carta, dentro da minha cela minúscula e fria,
que me informava que ela havia abortado o meu filho? Como
digo tudo isso a ela? E ainda que eu diga, quem me garante
que vai acreditar em mim? Tenho que admitir que mal nos
conhecemos. Temos pouco menos de um mês juntos, mas, ao
mesmo tempo, sinto como se a conhecesse a minha vida
inteira.
Sem poder encará-la, Grant abaixou a cabeça, decidindo-
se sobre quanto de sua vida passada contaria para a mulher
que o fitava com anseio.
— Como você sabe disso? — perguntou ele, com a
intenção de ganhar tempo, mesmo sabendo que era inútil
protelar o inevitável. Porém, precisava fazê-lo, uma maneira
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de ganhar tempo para coordenar os pensamentos.


— Quando fui pegar o CD na pick-up, achei isso aqui —
explicou ela, mostrando a foto para ele. — Estava amassada e
jogada no assoalho.
— E você não pôde controlar a curiosidade e quis ver o
que era, certo?
— Isso mesmo! — confirmou Danna, sem se intimidar
pelo seu tom de voz seco. — E então? Vai me explicar o que
significa? Você já foi mesmo um policial?
Ele ficou em silêncio, olhando para a foto sem realmente
vê-la. Pensava no que poderia dizer que satisfizesse a
curiosidade da mulher, se contaria tudo ou apenas uma parte
do que tinha acontecido com ele. Remoeu a dúvida por alguns
minutos, entretanto, sabia que não tinha opção, apenas
relutava em se aprofundar no assunto, afinal, se abrir, além de
difícil devido à sua natureza introspectiva, falar do seu
passado seria mexer em uma ferida aberta que ainda estava
longe de cicatrizar. Sentia o peito comprimir de dor ao trazer
à mente os dois anos e quatro meses de tortura e impotência
vividos por ele.
Finalmente tomou uma respiração profunda antes de lhe
responder de maneira indireta, ou seja, com outra pergunta.
— É o que mostra essa foto, não?
— De fato. Só quero que me confirme se o que esta foto
mostra é a verdade. Não vejo porque você não possa
simplesmente me dizer que já foi um policial, afinal, que mal
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pode haver nisso? — questionou Danna, não entendendo o


motivo de tanta relutância.
— Sim, eu já fui um policial, só que em outra vida —
confirmou, passando a mão pela lateral do rosto. — Prefiro
não falar sobre esse tempo, tem uma parte dele que não foi
muito... agradável, por assim dizer.
— Não pode falar nem comigo? Não confia em mim para
contar coisas do seu passado, é isso?
Grant suspirou passando uma das mãos pelo queixo, logo
se levantou e passou a andar pela sala.
— Não é isso, Danna. Ter sido policial faz parte de um
período sobre o qual eu não gosto de falar e que eu prefiro
deixar onde está. Eu fui. Não sou mais. Não tenho o hábito de
sair por aí falando sobre as coisas que já fiz na minha vida.
— Por aí? Falar comigo não é falar por aí!
— Não falo dele com ninguém — retificou.
— E por que não?
— Porque não gosto e não falo, só isso!
— E por quê? Qual o motivo? — Danna insistiu, pois
desejava atravessar aquela couraça onde ele se escondia.
Talvez Grant quisesse se preservar e se proteger, mas do quê?
— É doloroso para mim, não deixei a corporação por
opção. Sinto que me transformo, me descontrolo com as
lembranças do que me aconteceu, e não quero te contaminar
com tudo o que eu passei.
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— Estamos juntos, não estamos?


— Sim, estamos.
— Então, confie em mim, por favor. Seja qual for a sua
história, eu vou saber entender, prometo!
— Ainda não posso, princesa, me dá um tempo, agora sou
eu que te peço.
— Um dia vai confiar em mim?
— Eu confio em você.
— Não para me falar de um passado que parece te
incomodar tanto.
— Isso não quer dizer que eu não confio em você. Como
eu disse, só não me sinto bem falando a respeito.
— Não imagino o que possa ser tão perturbador que te
faça se fechar dessa maneira, mas, seja o que for, quero ouvir
de você, da sua boca, entende?
— Entendo.
— Então, vai me contar o que te atormenta?
Ela o viu tomar a foto de sua mão e a olhar fixamente por
alguns minutos. Definitivamente, não conseguia entender o
motivo por ele ser tão reticente, e o fato de não se abrir com
ela só fazia sua curiosidade aumentar. Desejava saber o que
tinha por trás de algo tão normal quanto ele ter sido um
policial no seu estado de origem, mas, diante do seu silêncio,
resolveu não pressioná-lo mais. Paciente, esperou que ele
decidisse o que fazer. Algum tempo depois, ela soube que ele
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falaria, quando estendeu a mão devolvendo a foto para ela.


Não queria ter forçado a barra, mas tinha ficado atiçada ao
imaginar o que teria por trás daquele mistério.
Grant limpou a garganta e a olhou sério.
— Ok! — Grant cedeu. — Vou te contar sobre o meu
passado, contar coisas que aconteceram comigo, mas vou te
pedir que, se puder, não me interrompa, senão posso perder a
coragem e não conseguir terminar, tudo bem?
— Sim, tudo bem.
— Há cerca de três anos, eu quis começar a me preparar
para me tornar um detetive. Acreditava que havia chegado o
momento de progredir na minha carreira, então tive a
brilhante ideia de investigar um caso, de preferência, que
fosse grande. Foi quando eu soube, através de um informante,
que estava acontecendo uma operação de tráfico humano na
cidade.
Grant se deu uma pausa para olhá-la nos olhos,
observando todo o horror que ela estava sentindo ao ouvir sua
história.
— Tráfico de pessoas é horrível demais! — Danna sussurrou
aturdida.
— Com certeza. É no mínimo desumano — Grant
concordou com ela e logo continuou. — As mulheres eram
trazidas, em sua maioria, do Leste Europeu. Chegando aqui,
eram escravizadas e enviadas para prostíbulos ou boates, onde
eram obrigadas a trabalhar dia e noite por casa e comida, sem
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direito algum. Não tinham opção de fugirem, uma vez que,


além de serem constantemente vigiadas, não tinham
documentos, pois esses eram tirados delas como garantia de
que pagassem pelas despesas da viagem. Pelo menos, era o
que eles diziam, no entanto, não era verdade. Esse tipo de
coisa tem acontecido muito, infelizmente.
— É, eu já vi nos noticiários também, tudo isso é muito
triste, revoltante.
— Fui ingênuo e achei que, investigando um caso como
esse, e por minha própria conta, seria um bom teste para mim
e eu teria a certeza de que tinha talento para a coisa, mas eu
não sabia que um dos meus melhores amigos, junto com um
desses meus superiores, estava na folha de pagamento de
quem comandava tudo, de longe. Os dois foram os
responsáveis por me incriminarem. Um deles, além de estar
envolvido, também queria ficar com a minha noiva na época,
e por isso ajudou a me tirar do caminho.
— Noiva? Incriminar? — indagou Danna, sem conseguir
se conter.
— Sim, incriminar. Eu estava obtendo informações e já
havia conseguido muitas delas, e tinha acabado de descobrir
que meu ex-futuro-sogro, que era meu sargento, participava
ativamente de todo o esquema, fazendo vista grossa e
avisando sobre as batidas. Eu ia juntar todas as provas que
tinha e fazer a denúncia no dia seguinte, mas caí na besteira
de contar para esse meu amigo. Eu estava empolgado com o
que estava prestes a fazer. Era perigoso, mas na minha
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arrogância e me acreditando ser um cara esperto, achando que


tinha tudo sob controle, eu não me importava. Diante disso,
ele decidiu me trair, e a ele se juntaram minha noiva e o pai
dela, e os três montaram uma armadilha. Vou te poupar dos
detalhes sórdidos, basta dizer que fui acusado de agredi-la e
de ter furtado um quilo de cocaína do depósito de evidências.
As imagens daquela noite fatídica chegaram à sua mente.
Lisa, a mulher por quem acreditava estar apaixonado, tinha
ligado para ele, naquela mesma noite, pedindo que a
encontrasse em um hotel no centro. Ao chegar, ela foi logo
dizendo que tinha uma notícia para lhe dar. Tinha acabado de
descobrir que estava grávida, que esperava um filho dele.
Grant ficou feliz com a notícia, pois acreditava no amor dela
por ele e, diante daquela novidade, que não era qualquer
notícia, achou que poderiam se casar e formar uma família.
Decidiram comemorar tomando um champanhe.
Não demorou e ele soube que a bebida estava batizada, e
em questão de minutos, viu tudo escurecer e perdeu os
sentidos. Quando acordou, ainda desorientado, o quarto
estava sendo invadido por um grande número de policiais,
alguns eram seus companheiros de farda. Um deles lia os seus
direitos enquanto Lisa chorava, histérica, contando, aos gritos,
que ele a tinha agredido, espancado, porque não queria que
ela tivesse o filho que esperava. Mostrava hematomas pelo
corpo. Mas o pior ainda estava por vir, encontraram junto à
sua arma e carteira um quilo de cocaína pura, que veio a
saber, fazia parte de um lote que havia sido apreendido
poucos dias antes.
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Culparam-no pelo furto e por posse de entorpecente com


intenção de venda. Enfim, foi fichado como agressor e
traficante. Levaram-no para a cadeia, e pouco tempo depois,
foi julgado e condenado. Tudo aconteceu muito rápido, mal
teve tempo de assimilar as coisas. Soube, depois de algum
tempo, que ela tinha feito um aborto, porque, seu ex-amigo,
Harry, não queria criar uma criança que não era dele. Por ela,
não sentiu nada, além de muita raiva e desprezo, mas ficou
triste pelo filho, que não teve a chance de nascer.
— Que história mais terrível, Grant!
Grant ouviu o comentário de Danna, voltando a si em um
instante, pois estivera absorto nas lembranças que o faziam
sangrar por dentro. Notou que ela se sentia penalizada diante
do relato.
— Você foi preso? E quanto tempo te deram? —
perguntou pasma.
— Quinze anos. Muito pelos crimes a que fui acusado,
pois eu não tinha nenhum antecedente, só que resolveram
fazer de mim exemplo e fui condenado à pena máxima.
— E como você conseguiu sair antes desse período?
— Meu advogado, hoje um grande amigo, se recusou a
desistir do meu caso. Ele sabia que tinha coisa muito errada
ali, levou quase dois anos e meio, mas conseguiu reunir
provas de que não havia sido eu, não fui o responsável pela
retirada da droga do depósito.
— E como ele conseguiu? Não deve ter sido nada fácil...
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— Não foi mesmo. Ele localizou os vídeos de segurança


que não foram apresentados na época do meu julgamento,
porque disseram que tinham sido extraviados, e uma vez que
eu tinha sido preso em flagrante, nem se preocuparam em
procurá-los direito.
— Mas, no final, ele conseguiu encontrá-los.
— Conseguiu. Tinham sido colocados como evidências de
outro caso, cuja caixa estava perto da caixa com as evidências
do meu caso. Foi um golpe de sorte, porque quando esse caso
foi analisado, notaram que os vídeos não pertenciam a ele e os
colocaram de volta no caso original, ou seja, no meu. Só que
o Trent, meu advogado, ficou amigo do responsável pelo
setor, e este o avisou do achado e conseguiu uma cópia. Nesse
meio tempo, fizeram outro teste grafológico e foi provado que
a assinatura no controle de saída de evidências havia sido
forjada, não era minha.
— E quanto à sua... noiva? — ela engoliu em seco ao
fazer a pergunta. — Ela depôs contra você por conta dos
ferimentos que afirmou ter causado nela?
— Sim, sentou lá e mentiu sem problema nenhum. Trent
contratou um investigador que descobriu que, enquanto eu
estava desacordado, Harry, meu ex-amigo, entrou no quarto e
bateu nela, mas não muito, só o suficiente para deixar
algumas marcas. O laudo de corpo de delito que ela fez na
época foi alterado, afirmava que tinha sido severamente
espancada. Boa parte dos hematomas que ela apresentou
naquela noite havia sido feito com maquiagem. Um dos
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técnicos foi subornado para trocar o laudo verdadeiro pelo


falso. Depois de todas as novas evidências ao meu favor
terem sido apresentadas diante do juiz, ele reabriu a caso. Fui
exonerado de toda culpa e liberado da prisão.
— E essas pessoas que fizeram isso contra você, Grant? O
que aconteceu com elas?
— Nada! Ficaram livres. As provas que eu tinha foram
todas destruídas, com exceção de um envelope que guardei
em um desses armários de rodoviária. Ainda deve estar lá, já
que não tive a chance de voltar para pegá-lo. Não tinha muita
coisa, o principal era um pen drive que um informante me
entregou, mas nem tive como verificar seu conteúdo, porque
não havia como fazê-lo naquele momento. E depois, com tudo
o que eu já tinha, achei irrelevante.
— Entendo... Mas, se foi inocentado, por que você não
voltou a ser policial?
— Pouco antes de ser liberado, recebi um envelope
contendo fotos da minha família. Era uma mensagem, um
recado das pessoas que eu investigava, para que eu não
voltasse a fazer isso, a fazer mais nada. Acreditei que, ficando
na cidade, minha família estaria em perigo, então decidi me
mudar e acabei vindo para cá, atrás de uma pista da pessoa
que controla tudo e que ninguém sabe quem é, mas não
consegui descobrir nada.
— Sinto muito que tenha passado por tudo isso, Grant.
Nem consigo imaginar o que deve ter sido para você —
comentou ela, consternada, sentida e triste por ele.
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— Entende agora porque não gosto de falar sobre o meu


passado? Isso tudo me fez mal, me machuca, fico revivendo
tudo aquilo e acabo sentindo raiva, desejo de vingança. Perco
o controle só em pensar nessa sujeirada toda. Eles destruíram
a vida que eu tinha, minha carreira, meus sonhos e também
acabaram com as minhas chances de ter um futuro.
Grant respirou fundo, pois sentia as lágrimas chegando até
seus olhos e não podia chorar diante dela, não queria que ela o
achasse um fraco. Mas a opressão dentro do peito se tornava
insuportável, estava sendo difícil demais segurar. Piscou
algumas vezes e engoliu em seco.
— Mas você não se descontrolou agora — ela observou
em um tom de voz baixo.
— Estou no meu limite, princesa — confessou, sentindo
todo o corpo tremer. — E porque você está aqui comigo, sua
presença me acalma. Já te disse que me sinto em paz ao seu
lado, mas sei que isso o que temos hoje não passa de uma
fantasia, me iludi quando me deixei levar pelo que sinto,
porém, sou só um ex-detento, Danna, não tenho nada para te
oferecer.
— Não fala isso, por favor — pediu ela, sentindo-se
agoniada.
— Você é uma mulher que viveu no luxo, em uma
mansão, com carros que eu nunca sequer posso sonhar em
possuir um dia. Você sempre teve tudo do bom e do melhor,
não vai querer ficar com alguém sem nenhuma perspectiva de
futuro como eu. Eu sabia que, quando te contasse, você podia
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não querer mais ficar comigo. Esse também foi um dos


motivos para eu relutar em te dizer. Não precisa acreditar em
mim, mas senti que você precisava saber, para poder tirar as
suas próprias conclusões.
— Eu nem sei o que te dizer...
Danna estava sem reação diante do que tinha acabado de
ouvir. Havia esperado qualquer coisa, mas aquilo? Desejava
abraçá-lo, confortá-lo, entretanto, não conseguia fazer
nenhum movimento, parecia presa no lugar.
— Eu entendo, é muita coisa para absorver. Depois você
me diz o que decidiu ao pensar a respeito de tudo isso que te
contei. Abri meu coração para você, Danna, como nunca fiz
com ninguém antes.
Grant levantou-se e pôs dois dedos sob o queixo dela, o
elevando para poder olhá-la nos olhos.
— Vou estar te esperando.
Dizendo isso, virou-se e saiu, deixando-a sozinha com
seus pensamentos.

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“Not really sure how to feel about it


Something in the way you move
Makes me feel like I can’t live without you
It takes me all the way
I want you to stay”
Stay – Thirty Seconds To Mars - Cover

— Você tem alguma notícia do Garoto de Ouro? — Caleb


perguntou ao seu homem de confiança e chefe de operação no
estado da Califórnia.
— Não tivemos notícias dele nos últimos seis meses,
desde que foi solto. Parece até que evaporou no ar.
Continuamos de olho na família, para tentarmos descobrir
algo, mas até agora não conseguimos nada.
Ao ouvir a resposta, Caleb deixou escapar um suspiro,
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impaciente, começando a bater na superfície da escrivaninha


com a ponta da caneta que tinha em mãos.
— Vocês são uns incompetentes! Eu falei para darem um
fim nele, e o que o Xavier faz, além de não aceitar a minha...
ãh... sugestão? Monta uma armadilha e incrimina o cara, o
manda para a prisão achando que ele ficaria lá, mofando,
eternamente. O que não contaram foi com a tenacidade
daquele advogado, que mais parece um cão perdigueiro e não
largou o osso até tirá-lo da cadeia.
Sergei se sentiu encrespar do outro lado da linha. Odiava
aquele homem, era arrogante demais, confiante demais,
intransigente demais, mas era inteligente e comandava uma
rede como a deles e se mantinha, por trás de tudo, há anos,
sem levantar a menor suspeita. Passava por homem de
negócios, pai de família, sem falhas, sempre correto. Nem
mesmo ele sabia como o homem era fisicamente. O cara se
resguardava e usava intermediários, com exceção do Xavier,
que quando se referia ao chefe, dava a entender que eram
velhos conhecidos. Respirou fundo a fim de controlar o
desgosto e a raiva de estar sendo recriminado. Engoliu o
orgulho junto com as palavras, nada bonitas, que gostaria de
falar para ele.
— Sabemos que erramos feio. Pisamos na bola.
Deveríamos ter finalizado o cara quando tivemos a chance,
mas o Xavier pensou que apagar um policial, ainda mais do
porte como o dele, chamaria muita atenção. Os azuis1 não
iriam sossegar até encontrarem um culpado, e tudo isso

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poderia chamar atenção para as nossas operações.


— Eu já sei de tudo isso, ele me explicou no nosso último
encontro, quando quase o enviei para o outro mundo. E o
Noah tinha que enviar aquele envelope para ele na prisão?
Isso só o fez sumir ainda mais rápido. Continuem alerta.
Odeio pontas soltas, e esse ex-policial de merda,
definitivamente, é uma.
— Ficaremos atentos, pode ficar tranquilo.
— Tranquilo eu vou ficar quando receber a notícia de que
ele está morto e enterrado, idiota!
— Calma, para que toda essa raiva? Tudo tem corrido
muito bem, na maior paz e tranquilidade. Todos os que estão
na nossa folha de pagamento estão satisfeitos. Somos como
uma grande família feliz.
— Vai se ferrar, seu cretino! Que família feliz o caralho!
Se temos essa espada em cima das nossas cabeças?! Como
você pode ser tão otário? A nossa sorte é que, depois do
flagrante, ninguém mais acreditou nele e conseguimos
suprimir muitas provas que o inocentavam, incluindo as
nossas, que foram plantadas. Ajudou o próprio futuro sogro
depor contra ele, e a noivinha também. Cacete, até mesmo o
melhor amigo o traiu! Quase chego a sentir pena do
desgraçado. Xavier é um verdadeiro filho da puta. Sentar
naquela cadeira, no tribunal, e falar todas aquelas mentiras
como se fossem verdades absolutas... Pelo menos foi o que
ele me disse.

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— É, isso é certo, o pobre coitado não teve a menor


chance... — Sergei deu uma risadinha sarcástica, porém, ficou
logo sério, quando ouviu o homem irascível continuar a
reclamar.
— Agora eu tenho um problema nas mãos por culpa de
vocês, cambada de imbecis! Deem um jeito nisso, façam o
que tiver que ser feito, mas encontrem o cara! E que seja um
trabalho limpo dessa vez, vocês sabem que eu odeio sujeira,
em todos os sentidos!
— O senhor chegou a conhecê-lo? Digo, o rapaz que foi
preso?
— Que raio de pergunta é essa? Para que eu ia querer
conhecê-lo? Não sou de aparecer, você sabe, trabalho nas
sombras. E sobre esse bastardo, eu só quero ouvir a notícia de
que o problema foi resolvido. Apenas isso!
Desligou o telefone, jogando-o sobre o sofá com um gesto
irado. Bando de incapacitados! Tinham que dar um jeito de
encontrar o ex-policial, agora, ex-detento. Parece que não
sabia, mas tinha em mãos algo que podia, facilmente, acabar
com Caleb e com seu negócio. Um informante, infiltrado, foi
identificado e levado para ser interrogado por seus homens.
Este acabou confessando que tinha feito uma cópia de todos
os seus arquivos, referentes às suas operações, quando esteve
na Califórnia para se encontrar com Xavier. No meio dos
arquivos havia uma pasta com fotos de Caleb com a família,
uma montagem feita pela filha. Uma das poucas burradas de
Caleb foi ter se esquecido de deletá-la do notebook. O
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informante contou também que tinha gravado tudo em um pen


drive e entregue ao policial um dia antes de ele ter sido preso,
só que seus homens vasculharam tudo, o quarto inteiro, e não
acharam nada. A ironia estava no fato de o rapaz ter em seu
poder provas contundentes que podiam derrubar toda a
operação que o condenara, mas não ter a menor consciência
disso. Por isso, era de suma importância que localizassem o
tal pen drive, e logo.
Caleb pegou o telefone novamente e discou para o
detetive particular que havia contratado para ficar de olho em
sua mulher. A essa altura, ele já devia ter alguma notícia. Não
teria paciência para esperar o relatório completo, como tinha
pedido. Precisava saber logo sobre suas descobertas. A
verdade é que estava rodeado de imbecis. E, como dizem, se
quer que algo seja bem feito, faça você mesmo!, pensou ele,
deixando escapar um suspiro impaciente.

Uma hora se passou e a Danna não veio. Está demorando


demais, isso só pode significar uma coisa...
Grant estava de pé no meio da pequena sala, terminando
de colocar as últimas peças de roupas em uma mochila grande
de lona. Já tinha recolhido todas as suas ferramentas e as
colocado na carroceria da pick-up. Nesse momento, dava uma
última olhada no lugar e checava se não estava esquecendo
nada. Suspirou profundamente. A ansiedade da espera o
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estava deixando louco e exasperado ao mesmo tempo.


— Tudo não passou de um sonho, Grant, pena que durou
tão pouco... — falou consigo mesmo.
Instantes depois, ele ouviu um ruído às suas costas e girou
o pescoço, deparando-se com ela. A mulher que queria mais
do que tudo tinha entrado e parado atrás dele.
— Pensei muito em tudo o que me contou, Grant. Tirei
minhas próprias conclusões.
Ele continuou olhando para ela, estático, as mãos
apertando a mochila em suspense, aguardando o que poderia
ser a segunda pior sentença de sua vida.
Como Grant não disse nada, Danna levou o olhar para o
que ele tinha em mãos, dando-se conta do que estava fazendo.
Ele vai embora! Deus, não! Ele não pode fazer isso!
— O que você está fazendo com essa mochila? —
perguntou ela, aproximando-se lentamente e parando ao seu
lado, com uma expressão receosa no rosto, enquanto o via
pegar uma camisa para colocar dentro dela.
— Arrumando as minhas coisas — ele respondeu se
virando, voltando a atenção ao que fazia, preferia não olhar
para ela.
— E por que você está fazendo isso?
— Estou me preparando para ir embora — disse ele, ainda
sem olhá-la, socando a camisa dentro da mochila com um
movimento rude e brusco, descontando na peça de roupa toda
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a frustração que sentia.


— Como assim ir embora? Para onde, Grant? Do que você
está falando?
— Embora, Danna. Ir embora daqui — falou ele, se
forçando a usar um tom de voz paciente, como se estivesse
respondendo a uma pergunta feita por uma criança.
— Não! Você não vai embora! — afirmou Danna,
puxando a mochila das mãos de Grant com ambas as mãos.
Ela estava tensa e um pouco irritada por ele estar tirando
conclusões precipitadas. Mas por que não estaria? Teria que
ter dito o que sentia no instante em que ele terminou de contar
tudo para ela. Tinha demorado demais, e agora ele estava
achando que fez isso porque não o queria. Pensava em ir
embora e deixá-la. Suspirou apertando a mochila contra o
peito, como se estivesse fazendo isso com ele, que ainda
segurava uma das alças. Grant cedeu e soltou a mochila,
olhando-a em dúvida, sem estar muito certo ao que ela se
referia dizendo que ele não sairia dali, que não iria
embora. Será que é o que estou imaginando?, perguntou-se,
sentindo o coração falhar uma batida. E a pequena esperança
que tinha guardado escondida deu sinal de vida, aumentando
de tamanho, porém, ele se recusava a acreditar, não ainda.
— Danna, eu não tenho nenhuma inclinação para o
masoquismo. Ficar aqui, sem você comigo, sem estarmos
juntos, não serve para mim, eu não suportaria te ter tão perto e
não...

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Ela colocou o dedo em seus lábios.


— Não quer saber ao menos o que foi que decidi? — ela o
interrompeu.
— Eu posso imaginar, mas se você quiser me falar, sou
todo ouvidos. Então, me diz, o que foi que você decidiu?
Danna chegou mais perto e levou a mão até sua face,
sentindo os fios da barba por fazer. Grant não resistiu ao
toque e colocou a própria mão sobre a dela, esfregando o
rosto nela e fechando os olhos. Quando os abriu novamente,
foi para fazer um pedido agoniado.
— Não me torture mais, essa incerteza está me matando
por dentro. Diz logo o que tem para dizer e vamos acabar com
isso de uma vez — pediu ele, a voz saindo trêmula, o coração
acelerado, o ar faltando nos pulmões.
Danna continuou o fitando, e em seu olhar pôs tudo o que
estava sentindo por ele naquele momento. Amor, carinho,
compaixão e compreensão.
— Grant, o que você me faz sentir é maior do que
qualquer convenção social. O que eu tenho com você, não
tenho como quantificar, colocar um valor, porque não tem
preço. O que eu decidi? Eu decidi que a sua presença é mais
importante para mim do que qualquer mansão nos Hamptons
ou em outro lugar qualquer do mundo; melhor que Bentleys
luxuosos ou uma posição social, coisas que, aliás, nem possuo
mais e não me importo se nunca mais voltar a possuir —
declarou ela, com a mão na dele, notando como ele ia ficando

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menos tenso. Logo continuou a falar sobre a decisão que


havia tomado. — Eu decidi que te quero do meu lado, do jeito
que você é, e não é verdade quando diz que não tem nada para
me oferecer. Você me deu mais do que eu imaginava que um
dia pudesse ter, me fez acreditar em mim, me fez sentir
mulher em seus braços, me sentir querida, desejada, e me fez
desejar e querer também. Sinto com você o que nunca senti
com mais ninguém antes. Decidi que não posso ficar sem
você aqui dentro.
Dizendo isso, Danna levou a mão de Grant até o meio do
peito, sobre o seu coração.
— Danna, você está falando sério? Está me dizendo que
não se importa de ter ao seu lado alguém como eu? Um
simples faz-tudo, um ex-detento?
Grant sentia a ansiedade o tomando em meio a uma
sensação enorme de alívio. Ela estava dizendo, com todas as
letras, que o queria em sua vida.
— E um ex-policial que foi injustiçado, condenado sem
ter culpa nenhuma, por conta da maldade e da ganância
alheia. Um homem paciente, compreensivo, carinhoso, que
cuida de mim, que se importa comigo e que me abriu os olhos
para uma natureza apaixonada que eu nem sabia que tinha.
Um homem maravilhoso em sua simplicidade, que me
mostrou que tem caráter ao me contar toda a verdade. E como
se não bastassem todas essas qualidades, ainda é muito lindo e
muito gostoso. — Sorriu para ele. — Não, eu só não me
importo de ter uma pessoa como você comigo, como me
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orgulho de que esteja ao meu lado, meu anjo. Meu Grant.


Ele a trouxe mais para perto com uma das mãos em sua
cintura. Tocou seus cabelos com a mão livre e logo desceu
para o seu rosto, terminando com os dedos sob seu queixo, o
polegar fazendo movimentos suaves em sua face enquanto
mantinha seu olhar preso ao dele, penetrante, profundo e
intenso.
— Sim, sou seu, todo seu, minha Danna — sussurrou ele,
carinhoso e emocionado. — Você acaba de devolver a alma
ao meu corpo, sabia? Você fala como se me...
— Te amasse? O que você faria se eu te dissesse isso? —
perguntou Danna, segurando o ar nos pulmões enquanto
aguardava, ansiosa, pela resposta.
Grant a fitou. Conseguia imaginar o que ela esperava
ouvir, porém, não sabia se estava pronto para expressar em
voz alta o que se passava dentro dele.
— Estou sem palavras, não sei o que te dizer, princesa,
eu...
Danna recuou. Se ele não sabia o que dizer, ela não iria
pressioná-lo. Elevou o dedo indicador e o pousou sobre seus
lábios, impedindo-o de continuar.
— Não precisa dizer nada, meu anjo. Nesse momento, as
palavras não se fazem necessárias, e quando isso acontece,
nos... — Danna se deteve, não terminou a frase, ficou à
espera que ele a terminasse por ela.
— Beijamos — completou Grant, tão próximo de seu
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rosto que podia sentir sua respiração ofegante através de seus


lábios entreabertos.
— É isso mesmo, nós nos beijamos — Danna assentiu em
um sussurro.
Um segundo depois, suas bocas se encontraram e
iniciaram uma dança erótica, devorando-se, famintas. Foram
tomados, absorvidos por um desejo insano, avassalador. A
intensidade colocada no beijo beirava ao desespero. Perderam
a noção de tempo e espaço, deixando-se ali, bocas unidas,
corpos colados, agarrados como se tudo o que quisessem era
fundir-se, tornar-se um só. Sentiam-se dominados pela
necessidade, premente, urgente, que tinham um do outro.

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“The miracle of love


Will take away your pain
When the miracle of love
Comes your way again”
Miracle of Love – Eurythmics

Ambos estavam deitados. Depois da conversa que


tiveram, subiram até o mezanino e fizeram amor como dois
loucos apaixonados. Danna pensava em como era incrível o
modo como se sentia logo após o ato. Grant a tirava do chão e
a transportava para o céu, direto e sem escalas. Ela se via
flutuando de volta, pousando lânguida em seus braços. Soava
piegas, brega ou coisa de gente muito romântica, porém, sabia
em seu íntimo que era a mais pura verdade. Ainda se
admirava com o fato de tudo ter acontecido tão rápido entre
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eles, precisava confessar que não esperava por isso. Grant era
como um sonho que se tornou realidade, mesmo que ela
jamais tenha ousado em sonhar com alguém como ele.
Estranho e difícil de explicar, porém, verdadeiro.
Esticou o braço para tocá-lo. Não conseguia ficar um
minuto sem senti-lo sob os dedos quando estavam assim,
juntos e relaxados, em um momento só deles. Ele a observava
por entre os cílios e sempre tinha aquele jeito preguiçoso de
olhar para ela. Nesses momentos, chegava a fantasiar que ele
a amava, ele até tinha insinuado isso, não abertamente,
entretanto, Danna sabia que Grant tinha percebido quais eram
os seus reais sentimentos em relação a ele. Teve a esperança,
ainda que fugaz, de que fosse ouvir o mesmo, mas não foi
como esperava, porém, tinha consciência de que ele o faria
quando estivesse pronto. Uma declaração forçada não era o
que ela queria. Não ia pressioná-lo mais. Já o tinha feito para
que contasse sobre o seu passado e estava satisfeita, pelo
menos por enquanto. Notou que era a segunda vez que repetia
isso para si mesma, tratando de se convencer. Resolveu mudar
o rumo dos pensamentos e o levou para algo que ele havia lhe
contato durante o seu relato.
— Eu estava pensando... Por que não pedir para esse seu
amigo advogado pegar o envelope que você deixou guardado
lá na Califórnia?
Fez a pergunta se virando na cama para melhor olhar seu
rosto. Estava intrigada com o fato das pessoas que haviam
feito aquela sordidez não terem recebido o que mereciam.

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Não se podia definir o grau de indignação e revolta que


sentia. Grant havia sido ferido demais, tudo o que possuía lhe
havia sido tirado, enquanto os bandidos continuavam vivendo
suas vidas e fazendo seus negócios escusos como se não
tivessem feito nada. Seu desejo não era incentivar ou apoiar a
sede de vingança que, com toda a certeza, Grant tinha dentro
de si, mas, pelo menos, achava interessante saber que tipo de
informações estavam armazenadas no tal pen drive.
— E por que eu faria isso agora? Não avancei em minhas
investigações, o meu único desejo era identificar e conseguir
provas contra o chefão; os outros, não me importam, a vida
saberá dar o troco a eles. Mas o que comanda, ah, esse eu
gostaria de saber quem é, e um dia ainda saberei... —
confessou ele, apertando a mandíbula e colocando um ar
determinado no rosto.
Em um instante, Grant se viu imaginando o que faria caso
encontrasse o desgraçado, o cabeça de tudo. Este era como
uma serpente, e com cobras peçonhentas se corta a cabeça,
que logo o corpo morre. Se ao menos conseguisse fazer com
que o Manda-Chuva fosse preso... Estava certo de que a rede
inteira cairia.
Danna se virou um pouco mais, esticando o braço para
fazer um carinho em seu peito, iniciando a explicação do que
tinha em mente.
— Grant, pensa comigo: se o informante te entregou isso,
foi por algum motivo, e como as outras provas que você
possuía foram destruídas, acho que devia pegá-lo pelo menos
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para saber o que tem dentro. Isso não te deixa curioso, não te
intriga?
— Pensando bem, sim, me deixa curioso. Cheguei a
pensar em pedir para o Trent pegá-lo, mas achei que poderia
ser perigoso para ele. Já fez tanto por mim, não quis colocá-lo
em uma possível situação de risco. Esse pessoal costuma ter
olhos e ouvidos em todos os lugares. Prefiro eu mesmo fazer
isso, quando for até lá.
Enquanto ele falava, Danna mantinha uma expressão de
surpresa no rosto, pois ele não havia mencionado, sequer uma
vez, que tinha a intenção de viajar.
— Você pretende voltar para a Califórnia? — perguntou
ela.
— Pretendo. Faz tempo que não vejo minha família, estive
pensado em fazer uma visita. Sempre fomos muito apegados,
eu, minha mãe e meus irmãos.
Outra razão para se surpreender. Ele não havia lhe contado
sobre sua família também. Ao mesmo tempo em que se
preocupava por ele querer voltar para o seu estado de origem,
ficava encantada ao notar que começava a se abrir mais com
ela.
— Você tem irmãos? Eu não sabia...
— Tenho. Somos quatro, e eu sou o mais velho. Travis
tem dezoito anos, Connor tem vinte e um, e a caçula, Emma,
dezesseis.
— Sua irmã tem quase a mesma idade da Amy —
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constatou ela, pensativa.


Danna se distraiu por alguns instantes enquanto o tocava e
fixava os olhos nos movimentos que seu peito fazia, subindo e
descendo, devido ao simples ato de respirar. Isso não seria
nada demais, se não fosse a pessoa que o estivesse
fazendo. Como ele é bonito de se ver e gostoso de tocar,
pensou, porém, ouviu sua voz, meio de longe, e se forçou a
voltar à realidade do local onde estavam.
— É, e elas também têm o mesmo jeito de ser, falam
bastante e são curiosas. — Ele riu ao se lembrar das duas. A
comparação era perfeita.
— Imagino, mas voltando ao assunto do pen drive...
— Você cismou mesmo com isso, não? — Ele sorriu para
ela.
— Sim, algo me diz que ele é importante, Grant! Pode ter
algo nele sobre o que você investigava, estou certa disso. E se
você diz que é perigoso para o seu advogado, imagine para
você! — Danna argumentou, sobressaltada, ao perceber a
veracidade do que havia acabado de dizer.
— Sim, eu sei disso, mas tomarei todos os cuidados, farei
o possível para que não saibam que estou na cidade. Não se
preocupe, confie em mim, eu sei me cuidar.
— Eu confio em você, meu anjo, mas nessas pessoas que
te fizeram tanto mal, definitivamente, não.
— Serei rápido, vou e volto em poucos dias.

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— Já tem ideia de quando pretende ir?


— Estava pensando em viajar no dia seguinte ao Dia de
Ação de Graças.
— Já? É dentro em pouco.
— Sim, é. Mas nem fui ainda e já está sentindo a minha
falta, princesa? — Indagou um Grant brincalhão, em uma
tentativa clara de amenizar a expressão preocupada da mulher
ao seu lado.
— Eu me preocupo com você. Essa sua história é muito
perturbadora, tanto que me instiga a querer procurar por
respostas e justiça, e consigo te entender quando diz que se
revolta ao se lembrar disso.
— Está bem, mas vamos mudar de assunto um
pouquinho? Não quero me aborrecer e esse tema não é o meu
favorito — pediu, ajeitando uma mecha do cabelo de Danna
que havia caído sobre um dos olhos. — Sabe que quase morri
de medo de te perder hoje, enquanto te esperava? —
perguntou, ainda a tocando nos cabelos e descendo a mão,
lentamente, até seu ombro nu.
— Verdade? Só que você teve medo à toa.
— Agora sei disso, mas antes eu não fazia ideia qual seria
a sua decisão. Eu gostei muito das coisas que me disse,
ninguém nunca me falou coisas tão bonitas assim antes.
— Cada uma das palavras ditas saiu do meu coração,
Grant.

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— Eu sei, princesa. Senti sinceridade em cada uma delas,


inclusive quando deu a entender que me ama — falou ele,
com um meio sorriso de satisfação.
Danna levantou mais o tronco, ajeitando o lençol sob os
braços, e o fitou séria.
— Dei a entender?
— Sim, você não me disse exatamente, mas foi o que eu
entendi.
— Eu te amo, Grant! É assim que você quer que eu diga?
— Danna levantou as sobrancelhas e ficou à espera do que ele
diria em seguida.
— Danna... Eu... — ele começou, porém, se deteve.
Parecia procurar juntar coragem para dizer algo muito
importante.
— Você... — ela o ajudou, percebendo sua hesitação.
Como era difícil formar aquelas três palavrinhas e soprar
para fora da boca sabendo que, depois de ditas, não tinha mais
como voltar atrás.
— Depois do que aconteceu comigo e com... — Grant
engoliu em seco antes de continuar. — Aquela mulher, eu
prometi a mim mesmo que não voltaria a me apaixonar por
mais ninguém, nunca mais, e eu estava decidido a manter a
minha palavra.
Sem querer encará-lo, Danna abaixou o olhar, não queria
que ele lesse em seus olhos algo que não devia, que havia

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ficado chateada com o que ele tinha acabado de lhe contar.


— Entendo... — disse ela.
Grant levou a mão até a base do seu queixo e a fez olhar
para ele.
— Não, princesa, infelizmente eu acho que você não
entende. Eu fui traído da maneira mais vil que uma pessoa
pode ser. Eram pessoas a quem eu confiava a própria vida e
por quem eu daria a minha. Eu estava firme nessa decisão, só
que não considerei uma coisa muito importante.
— E o que foi isso de tão importante que você não
considerou? — ela quis saber, o coração aos pulos, batendo
agitado dentro do peito.
— Que no coração não se manda. Quando menos se
espera, já aconteceu. E foi o que houve comigo, quando me
dei conta, eu me vi envolvido, gostando, amando.
— Espera, você está me dizendo... — Danna não pôde
concluir seu pensamento, pois agora seu coração batia tão
forte que parecia que saltaria do peito a qualquer momento.
— Que eu estou apaixonado por você! — Grant declarou,
uma mão ainda segurando seu queixo.
Danna ficou sem palavras, pois esperava, mas não
esperava. Sim, esperava que ele dissesse, mas não naquele
exato momento. Foi pega de surpresa.
— Eu te amo, Danna! — continuou ele, sério. — Eu me
senti morrer mil vezes por dentro enquanto te esperava para

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me dizer o que você tinha resolvido. Se não me aceitasse ou


acreditasse em mim, eu teria ido embora. Eu queria ter dito
antes, mas não consegui, e mal acredito que eu tenha acabado
de me declarar.
— Grant, eu te amo, te amo, te amo! Nunca fui tão feliz
como sou agora. — Assumiu ela, tomando seu rosto entre as
mãos e o salpicando de pequenos beijos.
— Eu também posso dizer isso. Com você aqui, nos meus
braços, sinto que não preciso de mais nada, nem de comer,
nem de beber, pois você me alimenta, o corpo e a alma. Sinto
que só consigo respirar tendo você ao meu lado.
— Que lindo! Eu me sinto igual a você. Hum, então, você
está me dizendo que eu alimento a sua alma e o seu corpo, é
isso?
Havia um tom de malícia e sedução em sua voz ao
concluir a pergunta.
— U-hum. E eu tenho uma necessidade de você que não
se satisfaz. —Ele a olhou de tal maneira que a mensagem
captada pelo cérebro se espalhou para o seu corpo, reagindo
ao dele e liberando uma onda de calor.
— Interessante... — murmurou ela, lânguida, começando
a se excitar.
— Digamos que tem alguém aqui à procura de uma
casinha úmida, aconchegante e muito gostosa onde possa se
abrigar.
O tom de malícia agora era dele.
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Grant chegou mais perto e rolou por cima dela, beijando-a


diversas vezes, fazendo o caminho da orelha até a base do
pescoço com os lábios, parando no vale entre os seios.
— Nossa, como o meu Grant está saidinho hoje! —
comentou Danna, com ambas as mãos entranhadas em seus
cabelos, puxando-o para ela. Viu seu rosto se levantar para
olhá-la.
— Sempre fui — declarou ele, um sorriso safado
dançando no canto da boca. — Só que andei me contendo um
pouco nos últimos tempos. Preciso continuar me segurando,
Danna? — questionou Grant, inclinando a cabeça e
depositando um beijo lascivo no vão entre os seus seios.
— Não, não precisa, essa casinha que você acaba de citar
não vê a hora de receber outra visita de certo alguém, macio,
grosso, duro, aliás, achei que, a essa altura, ele já estivesse
batendo na portinha dela, pendido para entrar — disse Danna,
provocante, separando as pernas e envolvendo os seus
quadris.
— Toc-toc! — Danna o ouviu falar a fitando, entre
divertido e malicioso, movendo-se de maneira que seu corpo
pairou sobre o dela, encostando a ponta do membro na
entrada de seu sexo, começando a abaixar o quadril e a se
afundar, lentamente, para dentro do seu canal umedecido.
Danna o abraçou, acariciando a coluna do pescoço, os cabelos
na nuca, cravando as unhas curtas em suas costas.
— Ah, agora sim! — soltou suspirando. — Pode entrar e
seja muito bem-vindo — acrescentou com um sorriso de gata,
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deliciada, o sentindo invadi-la. Era a melhor sensação do


mundo tê-lo assim, inteiro dentro dela.
— Quente, molhada e apertada, como ele adora — Grant
afirmou baixinho em seu ouvido. Gemeu quando Danna
moveu os quadris, demonstrando quanto estava impaciente e
receptiva.

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Os dias que antecederam ao feriado passaram voando.


Danna e Grant entraram em uma rotina de casal. Comiam,
dormiam e viviam juntos, na mesma casa. Raras eram as
vezes que ele dormia no estúdio, e fazia isso apenas porque
ainda tinha muita coisa não resolvida dentro de si, e dizia que
precisava, uma vez ou outra, de algumas horas de
solidão. Dizia que não queria incomodá-la, e por mais que ela
dissesse que desejava ajudá-lo a superar, ele fazia questão de
passar aqueles momentos isolado, então ela se obrigava a dar
a ele esse espaço, respeitando o que sentia. Danna esperava
que, com o tempo, isso mudasse e Grant aceitasse sua ajuda.
Fora isso, passavam a maior parte do tempo na casa
principal. A reforma ia bem. Jeff havia terminado a parte dele
e não voltaria mais, a não ser que Grant precisasse de ajuda
novamente. Ela, por fim, se matriculou no curso que queria,
começaria dentro de uma semana. Estava muito animada e
comentou isso com ele, que a apoiou e achou a ideia ótima,
inclusive a incentivou ao saber de sua vontade de começar a
trabalhar.
Danna estava preparando tudo para o dia seguinte, quando
Amy chegaria e ela prepararia o jantar para os amigos,
conforme haviam combinado. Esperava que tudo corresse
muito bem, apesar de estar um pouco apreensiva com o
encontro da filha com o namorado. Ainda era estranho para
ela se referir a Grant assim, como seu namorado. Mas
estavam namorando, sim! Sorriu sozinha com esse
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pensamento. Há séculos que não namorava. Se bem que, na


prática, agiam como se fossem casados.

Caleb tinha nas mãos a foto de um homem jovem, alto,


sem camisa, de cabelos escuros curtos, e usando um cinto
porta-ferramentas na cintura. Tinha a nítida impressão de que
já o conhecia, ou pelo menos já o havia visto antes, porém,
não conseguia se lembrar de quando e nem de onde.
— E este, quem é? —inquiriu.
— Ah, esse aí é o cara que está reformando a casa dela,
um faz-tudo.
— Hum, entendo... — resmungou Caleb, analisando com
expressão grave as demais fotos de Danna em seu dia a dia,
mas não encontrou nada que chamasse sua atenção.
— Sua esposa não tem o hábito de sair de casa, e quando o
faz, é para visitar alguma amiga, principalmente uma tal de...
— O detetive parou para consultar suas anotações em busca
da informação sobre o nome da mulher. — Betsy. Isso, a
amiga se chama Betsy. Fora os locais normais, mercados e
lojas, ela não costuma ir para nenhum outro. Possui uma
rotina caseira.
— O que você sabe sobre ele? — quis saber o homem,
apontando para a foto do faz-tudo.

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— Não muito, só que está sempre lá, trabalhando. O


senhor não disse que eu devia investigar alguém mais além de
sua mulher, por isso não o fiz. Quer que eu o investigue
também?
Caleb ficou pensativo por um momento antes de
responder.
— Não, não precisa. Deve ser só um pobre coitado.
Alguém insignificante.
— Tem algo que o senhor pode não gostar — o detetive
advertiu.
— E o que seria? Por que não fala de uma vez? Irrita-me
quando me passam as informações aos poucos, em conta-
gotas — reclamou ele, exasperado.
O homem se encolheu diante da expressão de raiva de
Caleb.
— Calma, chefe, eu já ia contar. O rapaz mora lá, em um
quarto dos fundos.
— Hum, você tem razão, eu não gostei nada disso. A
Danna com um homem tão perto dela, no mesmo recinto, os
dois sozinhos. É, não gostei mesmo. Mudei de ideia,
investigue-o.
— O senhor manda!
Embora achasse que a mulher, do jeito que era, toda
certinha e correta, não fosse se envolver com alguém tão
simplório como o rapaz da foto, era melhor ter certeza e não

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ser pego de surpresa. Ele a queria de volta, em sua casa. Na


cama nem fazia questão, ela não era lá grande coisa de
qualquer maneira, afinal, tinha outras para se satisfazer,
várias, incontáveis, de todos os tipos, tamanhos e formatos,
era só escolher. Só que havia se casado com Danna, era ela
que levava o seu sobrenome, e não admitiria que o tratasse e o
humilhasse daquela maneira. Ninguém deixava Caleb Green e
ficava por isso mesmo.

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— Danna? — Grant a chamou, porém, não recebeu


resposta, ela parecia distraída. — Danna? Está tudo bem? —
insistiu ele, com uma pequena ruga se formando entre seus
olhos.
Estavam saindo da cozinha, pois tinham acabado de tomar
o café da manhã. Notou que ela tinha comido muito pouco,
quase nada, na verdade, o que não era um fato comum.
Geralmente, a mulher tomava um café da manhã reforçado,
tanto que ele até costumava brincar, perguntando para onde ia
tudo aquilo, afinal, Danna possuía uma figura elegante e
longilínea.
— Ãh? Oi. Que estranho! — ela respondeu em um tom de
voz baixo, parando em sua frente.
— O que foi? Está tudo bem? — Grant começava a se
preocupar.
— Fiquei tonta de repente. Senti tudo girar e comecei a
suar frio — Danna relatou, sentindo as pernas fracas.
— Eu notei que você ficou pálida como um papel, até
achei que ia desmaiar. Vem, sente-se aqui. — Grant a ajudou
a voltar e a se sentar em uma das cadeiras da mesa da
cozinha.
Danna apoiou a testa em uma das mãos, respirando fundo
e sentindo-se estranha. Uma sensação de fraqueza e mal-estar
a tomou e ela começou a ver tudo preto, como se sua pressão

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sanguínea tivesse caído bruscamente. Voltou a respirar fundo


algumas vezes, e cinco minutos depois, já se sentia melhor.
No entanto, sentia seu corpo trêmulo.
— Não deve ser nada. Apenas uma queda de pressão. Já
está passando — assegurou.
— Tem certeza que é só isso? — Grant manteve o olhar
sobre ela, desconfiado.
— Não é o que você está pensando, pode ficar sossegado
— Danna disse com um leve sorriso no rosto, com a clara
intenção de tranquilizá-lo.
— Danna, nós não nos protegemos porque você me disse
que não precisava, só que falhas acontecem, não sei.
— Eu… eu não posso ter filhos, Grant — confessou ela,
um pouco constrangida.
— Como não pode? E a Amy?
— A Amy é adotada. Eu descobri que sou estéril logo
depois que me casei, mas eu queria muito ser mãe, cheguei a
ficar obcecada com isso, e por fim, um dia, a encontramos,
tinha três anos na época.
Grant fez um gesto de assentimento com a cabeça.
— E ela sabe? — perguntou pensativo.
— Sim, sabe. Nós, o Caleb e eu, contamos o que sabemos
da história dela quando completou treze anos. Amy era só
uma pré-adolescente, mas reagiu bem à notícia. Muitas vezes
é bem madura para sua idade.
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— Mesmo assim, você não acha que deveria consultar um


médico? Podemos ir ver um agora — sugeriu ele, preocupado.
— Não precisa. Eu tenho uma consulta marcada para
semana que vem, de rotina. Aproveito e comento sobre essa
tontura com ele.
— Foi a primeira vez que isso aconteceu?
Diante da pergunta, Danna buscou na memória situações
anteriores com sintomas parecidos ou iguais aos que ela sentia
naquele momento.
— Pensando bem, agora que você me perguntou, me dei
conta de que esta é a terceira vez. Na primeira, eu estava no
banho, senti a mesma coisa. A segunda aconteceu na sala, só
que passou rápido, assim que me sentei no sofá. Mas fique
tranquilo, Grant, verei o meu médico e descobriremos o que é.
Não deve ser nada, de verdade.
— Ok, mas continuo insistindo que você deveria consultar
um médico logo — voltou a falar, estranhando o que se
passava com ela. — Quer dizer que não poderá ter filhos?
Nunca?
— Pelos exames que fiz no passado, não, nunca. Isso te
incomoda?
Que insensível que eu sou, é claro que um dia ele vai
querer ser pai, e eu aqui, contando que não posso ter filhos,
assim, na lata, sem ao menos prepará-lo antes.
— Não, calma, isso não me passou pela cabeça. Já pensei
que teria um no passado e desejei muito, mas depois de tudo o
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que houve, decidi não pensar mais a respeito. Não fique


remoendo essas coisas aí nessa sua cabecinha. Eu te amo, está
bem? Com filho ou sem filho, isso não vai mudar — afirmou
ele, no intuito de tranquilizá-la.
Grant tinha dito a verdade, com a vida que levava, não
conseguia ver uma criança em seu futuro. Talvez fosse
melhor assim, parecia que não estava em seu destino ser pai,
porém, olhando para a mulher à sua frente, não podia deixar
de imaginar como seria se tivessem um filho, mesmo depois
de saber que não seria possível.
Por estar tão absorto em seus pensamentos, ele não notou,
de imediato, que ela voltou a passar mal.
— Não vai dar para esperar até semana que vem, Danna.
— Ok — Danna concordou em um fio de voz. — Não me
sinto bem mesmo — acrescentou sentindo as pernas fracas,
suava frio novamente e achava que podia desmaiar a qualquer
momento.
— Vou te levar ao médico agora! — Grant avisou com um
ar preocupado, ajudando-a a caminhar até o local onde a
caminhonete estava estacionada. Ambos entraram nela e, em
minutos, estavam a caminho do hospital mais próximo.

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“Stars when you shine you know how I feel


Scent of the pine you know how I feel
Yeah, freedom is my life
And you know how I feel
It’s a new dawn it’s a new day
It’s a new life for me
And I’m feeling good”
Feeling Good – Muse

Grant olhou rapidamente para a mulher ao seu lado


enquanto dirigia. Estava preocupado.
Se o que ela tem não é uma gravidez, então, o que pode
ser? Os sintomas são muito parecidos. Se não tivesse me
contado que não pode engravidar, eu podia jurar que era
esse o caso. Enfim, melhor esperar até chegar ao hospital
para saber realmente do que se trata. Tudo o que quero é que
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ela fique bem.


Voltou a observá-la com o canto do olho, sem tirar a
atenção da estrada. Ela parecia um pouco melhor, a cor tinha
voltado ao seu rosto. Estava serena, porém, se via pensativa.
Resolveu ligar o rádio e esticou o braço, apertando o botão no
painel, logo o interior do veículo foi tomado pelos acordes da
música I’ll Stand by You, dos Pretenders. Ele a viu se ajeitar
melhor no banco e fechar os olhos, recostando a cabeça no
encosto. Sentiu quando ela pousou a mão esquerda sobre sua
coxa e apreciou o contato. Parecia querer lhe dizer que tudo
ficaria bem e que confiava nele.
Levaram um pouco mais de tempo do que o previsto para
chegarem, pois o trânsito naquele horário não facilitava.
Estacionou em uma das várias vagas de um estacionamento
ao lado do hospital e desceram do carro. Danna começou a
caminhar devagar, mas com passos firmes. De qualquer
maneira, ele envolveu sua cintura com um braço, porque
gostava da proximidade e para o caso de precisar ampará-la.
Ao entrarem, fizeram todo o procedimento para que pudessem
ser atendidos. Danna não demorou a ser chamada.
— Quer que eu entre junto com você? — perguntou ele,
prestativo.
— Não precisa. Fique aqui, não deve demorar. Eu estou
bem, juro!
— Ok, qualquer coisa, já sabe, é só me chamar! — Grant
ainda não estava de todo tranquilo, mas se ela não queria que
ele a acompanhasse à consulta, tinha que respeitá-la.
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Como ela havia previsto, não demorou. Minutos depois, a


via caminhar de volta até onde ele estava.
— Isso foi rápido! — comentou assim que ela parou ao
seu lado.
— Sim, foi. O estranho é que, antes que eu pudesse
terminar de explicar os meus sintomas, o médico me
interrompeu e pediu para eu fazer um exame de sangue. Disse
que vai continuar a consulta após sair o resultado.
— Exame de sangue? E ele explicou o motivo?
— Não, na verdade. Acho que concluiu que estou com
anemia, não sei, de qualquer forma, vamos ter que aguardar
um pouco, tudo bem?
— Claro, princesa, esperaremos o tempo que for
necessário, vamos nos sentar ali.
Grant pôs uma mão em suas costas e a guiou até duas
cadeiras vazias dispostas ao lado de uma janela ampla da sala
de espera.
— Está se sentindo melhor? — quis saber ao se
acomodarem.
— Sim, bem melhor, fico só imaginando o que pode ser.
— Não vai ser nada, como você mesma disse, pensamento
positivo. — Deu uma piscadinha para ela e segurou uma de
suas mãos. — Acredito que você não tem com que se
preocupar, sempre me pareceu bem saudável.
— É, sou mesmo, nunca tive nenhum problema de saúde,
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até onde posso me lembrar, e é por isso que estou estranhando


esses sintomas. Se eu não soubesse o que sei, podia até
achar...
— Isso também me passou pela cabeça, mas não vamos
ficar especulando, já sabemos o que não é, e o que é, vamos
saber logo — afirmou tranquilizando-a.
Danna apoiou a cabeça em seu ombro, se deixando ficar
ali, recebendo os cuidados de Grant. Sentia-se melhor, é
verdade, mas ainda um pouquinho aérea, e estarem assim,
juntos, a ajudava.
Uma hora depois, um rapaz vestido com um jaleco branco
chegou e parou no meio da sala. Levantou uma folha de papel
fixada em uma prancheta acrílica e leu o seu nome,
chamando-a em um tom de voz alto.
— Danna Martin?
— Sim, sou eu — ela respondeu. Logo se levantou e se
aproximou do rapaz.
— Siga-me, por favor. O resultado do seu exame ficou
pronto e o médico prosseguirá com o atendimento —
informou de maneira metódica e profissional.
Ela levou o olhar para Grant, que tinha uma expressão de
ansiedade no rosto. Não o deixaria de fora dessa vez.
— Vem comigo? — chamou por ele.
— Claro, vamos — ele assentiu de imediato, pegando-a
pelo braço em um toque leve. Fizeram o caminho até o

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consultório do médico.
Danna estranhou quando entrou e viu que o médico não
era o mesmo que a tinha atendido anteriormente.
— Danna Martin? — perguntou ele, a título de
confirmação, e ela assentiu com a cabeça. — Olá, sou o
doutor Stephen Parker. Por favor, sentem-se.
— Obrigada, doutor — Danna agradeceu, acomodando-se
em uma das duas cadeiras que ficavam de frente para ele, com
Grant ao seu lado, fazendo o mesmo.
— Bom, deve estar se perguntando pelo outro médico com
quem começou a consulta, mas o meu colega é clínico geral, e
diante do resultado do seu exame, achou melhor me passar o
caso.
— Não entendi. O que eu tenho não é uma simples
anemia? — Danna fez a pergunta e só então notou que a
especialidade do homem à sua frente era ginecologia, pois
podia ler no bolso do jaleco.
— Na verdade, a senhora está com um pouco de anemia,
sim. Inclusive vou receitar ferro e vitaminas. Vai precisar
tomá-las a partir de agora.
— A partir de agora? O que está querendo me dizer? O
senhor pode ser mais claro, doutor?
Danna sentia-se ansiosa. O que está acontecendo aqui?
Ferro, vitaminas, ginecologista, exame de sangue...,
compilou mentalmente.

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— Ah, sim. O resultado. Desculpe-me, já era para eu ter


dado. — Abriu o envelope e leu o que ele trazia. — A senhora
está grávida — anunciou com uma expressão risonha e
levando o olhar de um para o outro. — Meus parabéns aos
dois, vocês serão pais em alguns meses — acrescentou.
— O quê? Isso é impossível! Eu não posso estar grávida.
Não posso, esse exame está errado. Que tipo de brincadeira
sem graça é essa? — Danna exclamou perturbada.
— Não, não é impossível, e eu não estou brincando, estou
com o seu exame bem aqui, em minhas mãos, provando que é
totalmente possível.
— O senhor não entende, doutor! Eu sou estéril. Nunca
pude ter filhos.
— Não sei como chegaram a esse diagnóstico, mas, com
certeza, deve ter havido algum engano! A senhora é
perfeitamente fértil, até demais, eu me arrisco a dizer.
Danna olhou para o homem sentado ao seu lado. Grant
permanecia calado e estático diante da notícia. Ele observava
pensativo o que acontecia à sua frente, e ela se perguntou o
que deveria estar passando pela sua mente.
— Como assim, demais? — ela questionou nervosa.
Aquilo não estava acontecendo. Não estava. Que
brincadeira mais perversa era aquela? Dizer a ela que estava
esperando um filho quando sabia que não podia engravidar?
— Digo isso pelo seu nível de HCG, o chamado hormônio
da gravidez, que está bastante alto — o médico informou,
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lendo intrigado, o papel do exame mais uma vez.


— Grant… eu...
— Shh, calma, princesa — pediu ele, envolvendo-a em
seus braços e embalando-a. Logo se dirigiu ao médico. —
Desculpe a reação da minha mulher, doutor. Danna sempre
pensou que não podia ter filhos, e agora descobre que, além
de não ser estéril, é capaz de gerar uma criança, está grávida,
à espera de um bebê. Pensamos em tudo o que pudesse ser a
causa dos seus sintomas, mas não que fosse isso. Essa notícia
nos pegou de surpresa.
O médico, que estivera tenso, relaxou diante da explicação
de Grant.
— Sem problemas, eu entendo, papais de primeira
viagem, certo? — indagou simpático.
— Meu Deus, Grant, eu nem sei o que te dizer. Acreditei a
minha vida inteira que eu não podia... Eu vi os exames, o
médico me disse, ele me mostrou, o Caleb fez exames
também, os dele deram normais, meu Deus, eu não consigo...
— Parou de falar começando a ofegar, puxando o ar rápido
demais.
— Ela está hiperventilando! — o médico exclamou,
saindo de trás de sua mesa, dando a volta e se aproximando
dela. Então se inclinou ao seu lado.
— Danna, me escute, mantenha a calma, não se desespere,
siga as minhas instruções que você ficará bem.
Ela tentou, porém, não pôde responder, apenas assentiu
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com a cabeça, então ele começou a instruí-la.


— Tente respirar só pelo nariz, feche as mãos em concha e
cubra a boca com elas. Isso! — aprovou quando ela o fez. —
Agora, inspire devagar. Está indo bem! Agora, expire. Muito
bem, de novo, a mesma coisa, inspire e expire, só pelo nariz.
Ela obedeceu e fez isso por alguns minutos, aos poucos,
então, foi se acalmando e sua respiração voltando ao normal.
Tudo o que Grant pôde fazer foi ampará-la em seus
braços. Confuso, não sabia o que pensar.
Isso está mesmo acontecendo? Há algumas horas eu
estava certo de que nunca seria pai. Nossa, como a vida
muda de um momento para o outro, eu já deveria saber disso!
Quando se sabe que não existe a possibilidade, nos
acostumamos com a ideia e procuramos nos conformar, mas
agora, diante do que aconteceu, não sei explicar o que estou
sentindo, porém, vou pensar nisso depois, minha
preocupação agora é o bem-estar dela. E que Deus me ajude,
porque eu vou ser pai!
Deixou de divagar para continuar amparando a mãe do seu
filho.
Após voltar ao normal, Danna começou a assimilar o que
estava ocorrendo. Ainda se perguntava como tudo tinha
acontecido. Não era boba, mas havia sido ao acreditar, sem
nunca sequer pensar em duvidar de tudo, no que haviam dito
sobre sua condição. Caleb! Depois do que lhe dissera no dia
da audiência, ela passou a crer que ele era capaz de muita

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coisa que jamais havia pensado que seria. Será que havia sido
ele? Mas como? Ele seria tão cruel a ponto de fazer uma coisa
dessas com alguém que, na época, dizia amar? Precisava tirar
isso a limpo e sabia como, porém, nesse momento, tinha algo
muito mais urgente em que pensar.
Seria mãe! Não que já não fosse, é claro que se sentia mãe
da Amy, afinal, a criara desde os três anos de vida e a amava
muito, só que agora iria gerar uma vida em seu ventre. Os
pensamentos em sua cabeça se embaralhavam e insistiam em
se confundir, não se formando de maneira coerente. Respirou
fundo e olhou para ele, Grant. Em meio à sua agonia pessoal,
tinha até se esquecido dele. A consulta terminou de maneira
surreal para ela. Na verdade, o médico, em respeito ao seu
estado, passou todas as instruções e receitas para Grant, que
parecia um autômato naquele momento. Ambos voltaram para
casa em total silêncio, cada um imerso em seus próprios
pensamentos. Grant entendia o que se passava com ela, por
isso, permaneceu calado, conversariam quando chegassem em
casa.

Danna
Eu me sinto feliz. Eu me sinto mesmo, mas estou morrendo
de medo também. Quando eu poderia imaginar que, ao
dizer: “não precisa usar camisinha, meu anjo, meus exames
estão em dia e eu sei que os seus também”, mudaria a minha
vida, mais uma vez? Para ser bem sincera, medo é pouco, eu
estou apavorada e quero chorar de felicidade também. Será
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que alguém, nesse mundo de meu Deus, é capaz de me


entender? Ao sair de um casamento onde apenas um dos dois
era feliz e satisfeito, nunca cheguei a imaginar que poderia
viver o momento de hoje, e nem tinha como pensar, já que,
para todos os efeitos, eu não podia. Levanto a minha blusa e
coloco as duas mãos sobre o meu ventre, pensando que aqui
dentro cresce uma vida, e eu fazendo tudo direitinho e
seguindo as instruções, em oito meses ela estará aqui fora,
respirando o mesmo ar que eu respiro agora. Marquei uma
consulta com o meu ginecologista, que, agora me recordo, foi
indicado pela minha ex-sogra. Foi esse médico que nos
mostrou os exames que fizemos, Caleb e eu. O meu dizia que,
em termos leigos, uma má formação congênita me impedia de
ovular, e por conta disso eu não podia gerar um filho. Já os
de Caleb, deram todos normais. Eu me senti tão mal na
época... Caleb não deixava de me alfinetar, pois, com o
tempo, essa impossibilidade acabou se tornando um dos meus
pontos fracos, somente melhorando depois da chegada da
Amy. Mesmo assim, ele ainda fazia questão de me lembrar,
toda vez que sentia vontade, desse meu “defeito de fábrica”.
Agora eu descubro que tudo não passou de uma mentira
sórdida, cruel, e que só pode ter partido dele. Quem mais
teria interesse em me fazer uma coisa dessas? Sinto que o
desprezo com cada fibra do meu ser, mas, por enquanto, não
vou falar nada, para não atrapalhar o andamento do meu
divórcio. Do jeito que é mau-caráter, pode querer tirar
proveito da situação e distorcer tudo ao seu favor, afirmando
que eu tive um caso com o pai do meu filho enquanto

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estávamos casados, conforme já está alegando. Se ele não


tinha provas antes, agora vai poder fabricá-las e apresentá-
las usando esse argumento. Preciso conversar com o Grant
sobre isso. Espero que esse maldito divórcio saia o mais
rápido possível. Não vou conseguir disfarçar minha barriga
por muito tempo. O pior é que não poderei dividir essa
alegria com a Amy, pois ela pode, ainda que sem querer,
deixar escapar alguma coisa perante o pai. No entanto, todos
esses problemas não embotam o sentimento de luz e plenitude
que me invade. Vejo através do espelho a figura alta e
atlética se aproximando de mim. Eu me levanto e me perco
nas profundezas de seus olhos castanhos. Um meio sorriso
em seus lábios me faz derreter por dentro, então me
aproximo, envolvendo seu pescoço com meus braços. O
brilho que vejo em seus olhos me diz tudo o que preciso
saber. Sim, vai dar tudo certo. Eu beijo o meu anjo, o meu
amor, o meu Grant, o pai do meu filho.

— Grant... — Danna começou a falar, porém, se deteve.


Após soltar um longo suspiro, prosseguiu. — Precisamos
conversar.
— Sim, precisamos — concordou Grant, sem hesitar.
Ele se sentia inseguro quanto aos sentimentos de Danna
em relação à situação em que os dois se encontravam. De sua
parte, tirando a surpresa inicial, sentimentos de alegria e
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orgulho misturaram-se dentro dele, não a ponto de fazê-lo


deixar de sentir medo, porém, esse não chegava a ofuscar a
felicidade que, na verdade, estava sentindo. E foram tão raros
os momentos em que se sentiu assim nos últimos anos.
— Não está acontecendo no melhor momento, eu não
sabia que podia, juro, e por isso te induzi a não nos
cuidarmos, mas agora é real e vamos ser pais. Eu queria saber
o que você pensa sobre isso, pois me sinto tão culpada.
Danna sentia-se nervosa, ansiosa, e tudo o que termina em
“osa”, e em “ida” também, como dolorida e traída, por
exemplo. E o Grant já tinha passado por tanta coisa, o que
estaria pensando dela? Como pôde tê-lo colocado em uma
situação tão difícil e complicada como aquela?
— Culpada? Por favor, não se culpe, apenas aconteceu, só
isso. E quanto a mim? Como me sinto? Deixe-me ver — ele
falou sério, mas logo relaxou sua expressão. — Penso que foi
inesperado, que nos pegou de surpresa, a nós dois — disse
enfatizando as últimas palavras. — E justo quando eu já
estava conformado em não ser pai nessa vida, me deparo com
uma notícia dessas... É algo tão grande, tão maravilhoso, que
nem sei como definir como me sinto. Só sei que é bonito e
assustador ao mesmo tempo.
— Você está dizendo que quer ser pai?
— Como você pode me fazer essa pergunta, Danna? É
claro que quero!
— Não será nada fácil, pelo menos não nos primeiros

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meses. Tem o meu divórcio, terei que contar para a minha


filha, sem falar que estamos juntos há tão pouco tempo,
aconteceu tão cedo.
— Sei que o momento não é o ideal, mas aconteceu
porque tinha que acontecer. E você, como se sente? —
procurou saber, chegando perto a ponto de envolver sua
cintura com ambas as mãos, a trazendo para junto de si.
— Confusa e revoltada, porque mentiram para mim, me
enganaram durante uma década e meia! Parece que não está
acontecendo comigo, me sinto como se estivesse flutuando
fora do meu corpo. Tirando tudo isso? Feliz, me sinto
imensamente feliz.
— Minha mãe vai surtar quando souber que será avó —
Grant comentou com um sorriso.
— Vai ser um desafio, você sabe — advertiu ela, olhando
para ele encantada.
Grant a brindou com um olhar carinhoso.
— Sei, será um desafio enorme, sem tamanho.
Enfrentamos juntos?
— Com absoluta certeza! — respondeu Danna,
concordando sem vacilar.
Ele levou uma das mãos até seus cabelos, mantendo seu
olhar terno sobre ela.
— Tem ideia do quanto eu amo você? — perguntou,
colocando uma mecha atrás de sua orelha.

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— Se for a metade do que eu te amo, imagino que seja


muito, demais. Vamos ser pais, Grant!
— Vamos! — Grant confirmou a abraçando. — Sim,
vamos, princesa. —Completou enquanto a sentia se agarrar
mais forte a ele.

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“I’d like to know that your love


Is love I can be sure of
So tell me now, cause I won’t ask again
Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?
Yeah”
Will you still love me tomorrow – Amy Winehouse

Danna endireitou o corpo, pois tinha se inclinado para


verificar se o peru, dentro do forno, estava no ponto. Havia o
colocado por tempo suficiente, agora era só esperar por mais
uns dez minutos e poderia tirá-lo.
Betsy estava colocando a mesa, pois chegou mais cedo
para ajudar. Robert ligou para ela avisando que já estava a
caminho, e quanto ao Grant, esse disse que ia até o estúdio

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tomar um banho, mas que voltaria logo em seguida.


No instante em que tirava a luva térmica que usava para
abrir o forno e puxar a grade, Danna ouviu o som de uma
buzina ao longe, imaginando que devia ser a filha chegando.
— A Amy está aqui! — anunciou, jogando a luva de
qualquer jeito sobre o balcão e saindo, cruzando o quintal
apressada para recebê-la.
Chegou ao portão animada, porém, quando reparou no
carro de onde a filha saía, logo fechou a cara. Era um luxuoso
Bentley preto, que ela bem sabia a quem pertencia.
Amy se aproximou dela toda sorridente, radiante e linda
como sempre, alheia ao desconforto da mãe. Danna se forçou
a retribuir o seu sorriso, tratando de ignorar a pessoa que a
olhava, de dentro do carro, acenando para ela.
— Não vai nem me dar um “oi”, Danna?
Seu arrogante, cínico dos infernos!, ela pensou ao fitá-lo.
— Olá, Caleb — respondeu muito séria, e rezou
intimamente para que ele fosse logo embora.
O homem notou a sua expressão de poucos amigos e
sorriu debochado.
— Amy, passo para te pegar mais tarde — disse ele para a
filha.
Danna ficou observando Caleb ligar o carro e sair,
sumindo no final da rua, só então soltou o ar que havia
prendido, sentindo um grande alívio por dentro. Parecia que
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nem conseguia respirar o mesmo ar que aquele homem.


Forçou-se a ignorar o fato de que ele estivera ali, voltando
toda sua atenção para a garota.
— Que saudades de você, Amy! — Com um sorriso
aberto no rosto, Danna a abraçou forte. — Pensei que fosse
ficar aqui, passar a noite comigo — acrescentou quando se
separaram e começaram a caminhar juntas em direção à
entrada da casa, a mão de uma na cintura da outra.
— Era o que eu pretendia, mas o papai insistiu tanto, e me
pareceu tão triste ao me pedir isso, que não tive como negar.
Desculpa, mãe.
— Tudo bem, Amy. É uma pena, porque eu contava com
você aqui, até preparei o outro quarto — contou, sentindo-se
um pouco desapontada.
— Fica para outra vez, afinal, eu vou morar aqui quando
voltar — argumentou, tentando se justificar. — Muda essa
cara, por favor! — pediu ao notar uma sombra de tristeza nos
olhos da mãe.
Será que o maldito já está tratando de manipular a filha?
Ou sou eu que estou ficando paranoica? Deus, como odeio
aquele homem!
Danna não tinha comentado com a Amy sobre o que o pai
estava alegando no processo de divórcio, pois queria poupá-la
daqueles detalhes sórdidos, porém, se percebesse que ele a
estava manipulando, não teria outra saída, teria que contar
toda a verdade.

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— Está certo, eu mudo. Não ficarei triste, mas não


aceitarei nenhuma justificativa da próxima vez, combinado?
— Danna perguntou firme.
— Combinado! Agora vejo como ficou chateada. Nem
pensei direito quando concordei com ele. Se a senhora quiser,
eu ligo e digo que mudei de ideia.
— Não, não precisa, minha linda, você já se
comprometeu. Fica para outro dia, está tudo bem.
— Mesmo? — insistiu a adolescente, pois queria estar
certa de que a mãe não estava magoada.
— Mesmo! — Danna garantiu. — Podemos mudar de
assunto agora?
— Claro, como a senhora quiser.
— Perfeito!
— Ah, senti muito a sua falta também. O vovô e a vovó
são ótimos e me mimam muito, mas sabe como é, eles já são
de idade, e por isso, às vezes, ficam um pouquinho chatos —
Amy comentou no instante em que adentraram a sala. —
Mãe, que casa mais charmosa é essa? Lembra uma casa de
bonecas... — observou, jogando-se no sofá.
— É linda e acolhedora, não é? Eu a adoro, ainda mais
com o jardim que tem lá nos fundos. Há bastante verde aqui,
eu te mostro depois do jantar.
— Quero ver tudo, estou curiosa para conhecer cada
detalhe.

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— E agora que está sendo reformada, está ficando ainda


melhor — comentou Danna, olhando-a com carinho, um
sorriso no rosto, os braços cruzados na altura do peito.
— É, a senhora comentou isso comigo. Espera um pouco,
o que foi que aconteceu? — Amy questionou com os olhos
arregalados.
Danna levou um pequeno susto ao ver a expressão no
rosto da filha.
— Que eu saiba... não aconteceu nada. Por quê?
— A senhora está diferente — a garota afirmou, ficando
séria de repente.
— Diferente como, Amy? Estou como sempre estive. —
Danna deu um sorriso encabulado para a filha.
— Como sempre nada! A senhora está com uma luz
diferente, mais bonita, maquiada. E essa roupa? Esse cabelo?
Nunca a vi se vestir assim, de uma maneira que tem mais a
ver com a sua idade. Estou até estranhando.
— Você me deixa sem jeito falando assim, menina! —
ralhou Danna, divertida.
— A senhora está linda, mãe. Quero dizer, sempre foi —
Amy se corrigiu. — Só que hoje está mais ainda. Estou vendo
que se separar do meu pai e se mudar daquela casa te fez um
bem enorme. Fico feliz pela senhora, de verdade.
— Eu sei, meu amor, e para com isso. Já me deixou sem
graça de novo — Danna a admoestou risonha. — Agora, me

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conta, alguma novidade? Deixou algum rapaz suspirando por


você por aqueles lados?
— Ah, não, ninguém interessante. Os garotos da minha
idade são uns bobocas, tudo cabeça-oca.
— Não fala assim, tem uns que são bem bonitos e
inteligentes.
— É, acho que sim, mas não me chamam atenção, prefiro
os mais velhos.
Nesse instante, Betsy apareceu na sala interrompendo a
conversa das duas.
— Amy! Tudo bem? Saudades de você, menina! —
exclamou ela, inclinando-se para lhe dar um beijo no rosto.
— Olá, tia Betsy! Eu também senti falta desse seu jeito
engraçado e divertido de ser. Dou muitas risadas com a
senhora.
— Ei, me respeita, sua moleca, está me chamando de
palhaça? — inquiriu Betsy, fingindo-se de ofendida e batendo
nela com um pano de prato que trazia nas mãos.
— Nada disso, tia. Estava só brincando. — Amy começou
a rir, protegendo-se com ambas as mãos na frente do corpo.
— Ai! Isso dói! — Reclamou quando a ponta do tecido
conseguiu atravessar suas defesas.
— É para doer mesmo! Para você aprender a respeitar os
mais velhos.
Betsy ralhou com ela, mas tinha um sorriso no rosto.
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— Mãe?! — chamou Amy, pedindo sua ajuda.


— Você provocou, agora aguenta... — respondeu Danna,
ficando do lado da amiga. — Betsy, pode tirar o peru do forno
para mim, por favor? Já deve estar pronto.
— Claro. Já estou indo lá.
Betsy saiu da sala, mas não sem antes ameaçar a
adolescente, fazendo uma careta e mostrando a língua para
ela. Por fim, lhe deu um último golpe com o pano, que dessa
vez atingiu a coxa da garota.
— Nossa, para que tanta violência? Não se pode mais
brincar! — Amy reclamou outra vez, ainda rindo. — Eu te
amo, tia Betsy! — gritou de onde estava.
— Também te amo, sua chata! — devolveu Betsy, bem-
humorada.
Amy parou de rir ao notar o homem que entrava pela
porta, pondo-se de pé imediatamente.
— Grant? É você mesmo? O que você está fazendo aqui?
— Oi, Amy, tudo bem? — cumprimentou ele, um pouco
constrangido ao ver a garota se pendurar em seu pescoço, o
fazendo se inclinar para ela, e plantar um beijo em seu rosto.
— Estou ótima! Mas que surpresa! Eu não sabia que
você...
Amy não concluiu a frase, pois a mãe se apressou em
cortá-la.
— Ele é a pessoa que está fazendo a reforma da casa,
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Amy — Danna explicou em um tom ligeiramente ansioso. —


Entre e fique à vontade, Grant.
— Sério? Ah, agora eu me lembro de que a senhora o
conheceu quando ele foi me visitar no hospital. Mas como
acabou se tornando o seu faz-tudo? — Amy indagou sem
disfarçar a curiosidade.
— Nos reencontramos quando fui buscar as suas coisas na
escola, também era o último dia de trabalho dele, então
começamos a conversar e resolvi lhe oferecer a reforma.
— É, foi um golpe de sorte, para falar a verdade —
acrescentou Grant, sem querer ficar de fora da conversa.
— Interessante... Mas a senhora podia ter me dito quem
era, mãe, só me contou da reforma.
O que Amy também estranhou, mas preferiu não
comentar, foi o fato de a mãe tê-lo convidado para participar
do jantar daquela noite, porém, chegou à conclusão de que ela
devia ter feito isso porque sabia que o Grant não tinha
nenhum parente na cidade.
— Eu não me lembrei na hora — Danna se justificou,
mudando logo de assunto. — Então? Vamos para a sala de
jantar? O Robert já chegou, mas entrou pela porta da cozinha,
e a mesa já está posta — informou ela, virando-se para a filha
em seguida. — Amy, querida, vá lavar as mãos, o banheiro
fica no corredor, segunda porta à direita.
— Está bem. Até daqui a pouco, Grant, tenho um monte
de coisas para te contar — avisou e foi fazer o que a mãe
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havia lhe pedido.


Danna deu um olhar significativo para ele, que logo
entendeu a mensagem.
Meia hora mais tarde, todos estavam sentados à mesa, se
deliciando com o jantar que ela havia preparado, porém, por
algum motivo, talvez pela tensão que sentia ou por algum
sintoma da gravidez, a comida parecia ter gosto de papel em
sua boca.
Robert e Betsy, como sempre, comandavam a conversa,
enquanto Amy, sentada ao lado de Grant, não parava de tentar
estabelecer uma conversa paralela com ele, que tratava de ser
educado com ela, porém, Danna conseguia notar que o
namorado começava a se sentir impaciente – talvez tenha sido
melhor mesmo que a filha tivesse resolvido ficar com o pai. A
notícia de sua gravidez era muito recente e parecia que o fato
de ter tomado conhecimento do seu estado a fazia sentir-se
sonolenta e enjoada, tanto de dia quanto de noite. Estava
sendo difícil para ela manter os olhos abertos, e deu graças
aos céus quando o jantar, enfim, terminou. Não via a hora de
se deitar, de preferência, abraçada a Grant.
Depois de se despedir dos amigos e ver Amy entrar no
carro do pai, Danna soltou um longo suspiro. Grant havia
saído de maneira discreta pouco antes de o jantar terminar,
dando a entender que havia ido embora, para que Amy não
desconfiasse de que ele morava ali. Como estava empolgada
em uma conversa com Robert e Betsy, ela sequer notou. Ao
perceber que todos tinham ido embora, Grant voltou para
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junto de Danna.
— Eu não via a hora de todos irem embora. Adoro meus
amigos, amo a minha filha, mas às vezes essa tagarelice toda
me cansa — falou Danna, levando a mão até a parte posterior
do pescoço, sentindo os músculos rígidos.
Grant se aproximou, parando às suas costas, quando a
notou inclinar a cabeça para trás em uma tentativa de aliviar a
tensão concentrada ali. Ele retirou as mãos da mulher com
gentileza e as substituiu pelas suas, começando a massagear o
local de maneira firme, porém, ao mesmo tempo suave,
desfazendo os nós. Danna fechou os olhos, apreciando
aqueles movimentos que lhe produziam uma sensação
agradável de alívio.
— Isso é tão bom... — sussurrou em um quase gemido.
— Eu percebi quanto você esteve tensa esta noite — disse
ele, continuando a massagem. Adorava poder tocá-la.
— Não sei mentir, disfarçar, me custa muito fazer isso.
— Eu também não gosto, não me sinto bem, mas entendo
que, nesse momento, é preciso — concordou Grant, mantendo
o ritmo dos dedos na base da nuca de Danna.
Minutos se passaram e, ao se sentir melhor, Danna
resolveu começar a retirar os pratos da mesa e levá-los para a
cozinha. Grant fez o mesmo, ajudando-a. Quanto mais cedo
terminassem, mais cedo poderiam descansar e relaxar, juntos,
na cama.
— Está muito cansada? — indagou Grant, mais tarde,
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quando já estavam deitados e ele a envolvia com um dos


braços.
— Sim, foi um dia muito corrido — Danna respondeu,
aconchegando-se mais ao seu peito.
— Quer que eu te ajude a relaxar? — perguntou com um
brilho malicioso nos olhos.
— Já me ajudou, amor, com a massagem. Sinto que posso
cair no sono a qualquer momento. Estou esgotada, de
verdade.
— Vejo que não se animou muito com a ideia. Tudo bem,
eu entendo, fica para outro dia. — Afastou o cabelo que caía
em seu rosto.
— Depois eu compenso, prometo — Danna falou
amorosa.
— Tudo bem, princesa, já disse que eu entendo —
reafirmou ele, acariciando seu rosto e lhe dando um beijo
suave nos lábios.
— Você ainda pretende viajar amanhã?
— Na verdade, não sei. Não quero te deixar, mas, ao
mesmo tempo, sinto que está certa quando diz que naquele
pen drive pode haver algo muito importante. E tem também a
minha família.
— Então vai, é melhor do que ficar aqui imaginando. E
entendo que você queira muito rever a sua mãe e seus irmãos.
— Tem certeza? Posso adiar, se quiser.
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— Não, não precisa, vou ficar aqui enjoando e apreciando


a minha nova condição: grávida, esperando um bebê do
Grant. — Sorriu para ele.
— Está bem, mas se cuida e cuida bem dele, certo?
Quando você menos esperar, já estarei de volta. Nem vai ter
tempo de sentir a minha falta.
— Não sentir a sua falta é algo impossível, mas pode
deixar, farei tudo direitinho. E o senhor trate de se cuidar por
lá também, agora tem um filho para criar — disse cutucando
seu peitoral com o dedo indicador.
— Isso é verdade... — Grant concordou pensativo. —
Tem certeza de que está mesmo cansada? — perguntou
insinuante, rolando o corpo e separando as pernas de Danna
com a sua.
— Hum, me perguntando assim, com esse jeitinho, até
penso que posso encontrar um pouco energia, se você puder
me convencer.
— Prometo que não vai precisar fazer nada, não vai
levantar um dedo, deixa comigo, eu faço tudo. O que acha
disso como persuasão?
— É, reconheço que é muito tentador, mas sinto que
preciso recusar — Danna respondeu o abraçando. — Estou
exausta hoje, meu anjo. Como disse antes, eu compenso outro
dia, tudo bem?
— Claro que está tudo bem. Não quero que faça nada que
não tenha vontade, princesa. Podemos só dormir abraçados —
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respondeu ele, dando-lhe um beijo na testa.


Danna não foi capaz de deixar de compará-lo com o ex.
Quanta diferença. Na época do Caleb, se ela dissesse que
estava cansada demais para o sexo, ele simplesmente a
ignorava e a possuía, ela querendo ou não. Já o homem
deitado ao seu lado, era compreensivo e respeitava a sua
vontade. Pensando em sua boa sorte em tê-lo em sua vida, ela
fechou os olhos, pronta para dormir, se acomodando em seus
braços, definitivamente o melhor lugar onde poderia estar
naquele momento.

Grant caminhava em direção à saída do Aeroporto


Internacional de San Diego. Como sempre, se vestia de modo
informal, jeans, camiseta, jaqueta e botas. Nas costas, levava
sua velha mochila de lona contendo algumas peças de roupas.
Sentia uma sensação de nostalgia o tomando ao olhar ao redor
e respirar o ar da cidade onde nascera e fora criado.
Havia deixado San Diego há pouco tempo, porém, passou
por tanta coisa nesse período, que parecia anos, e não meses,
que fora embora dali. Seu pensamento voltou-se para Danna.
Mal a tinha deixado e já sentia a sua falta, com cada parte do
seu ser. Despediram-se no aeroporto, com ele prometendo
voltar o mais rápido possível, o que realmente pretendia
fazer.

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A realidade de que teriam um bebê ainda estava sendo


processada por ele. Essa possibilidade o deixava encantado,
contudo, também ansioso e preocupado. A noite anterior tinha
sido uma amostra do que seriam os próximos meses. Sabia
que não poderiam, e nem deveriam, esconder o que havia
entre os dois por muito tempo, mas a mulher insistia em
aguardarem um pouco mais, pelo menos até o divórcio ser
assinado. Não seria fácil, mas ele concordava, pois sentia que
por ela e pela criança seria capaz de fazer o impossível.
Ao alcançar a avenida, varreu-a com os olhos, notando o
homem alto e moreno encostado em um dos vários
automóveis estacionados ali. Aproximou-se dele e ambos se
cumprimentaram com um toque de mãos, seguido de um forte
abraço.
— Nem acreditei quando você me ligou para avisar que
estava voltando. Está se arriscando muito, você sabe, mas
ainda assim é bom te ver, meu amigo.
— Bom te ver também, e eu sei dos riscos que estou
correndo, mas precisava vir, não ia ficar sossegado se não
viesse. E também quero ver minha família, saudades demais
de todos eles.
— Eu entendo. Vamos indo, então — falou o homem de
ascendência turca, Trent, abrindo a porta do carro e entrando.
Acomodou-se no banco do motorista e viu o amigo abrir a
porta do passageiro e sentar-se ao seu lado.
— Direto para a rodoviária? — questionou Trent,
arqueando as sobrancelhas.
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— Sim, melhor resolver isso logo — assentiu Grant,


ajeitando o cinto de segurança.
— Certo, vamos pegar esse pen drive e descobrir, de uma
vez por todas, o que esconde.
— Só precisamos ficar de olho, pode ter alguém nos
seguindo. Nunca é demais tomar certos cuidados — Grant
advertiu, girando o pescoço e olhando para os lados.
— Deixa comigo, farei um caminho alternativo — Trent o
tranquilizou, colocando o carro em movimento.

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“In your house I long to be


Room by room patiently
I’ll wait for you there
Like a stone
I’ll wait for you there
Alone alone”
Like a Stone – Audioslave

Trent fez como havia dito que faria. Evitou as vias


principais e entrou em ruas sem muito movimento no trajeto
até a rodoviária. Quando chegaram, estacionou junto à guia
bem em frente a ela. Observou o amigo descer e o viu se
inclinar na janela do passageiro pelo lado de fora do carro,
para poder falar com ele.
— Espere-me aqui que eu volto logo — avisou Grant,

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vendo o amigo fazer um sinal com a cabeça em concordância,


muito sério, e atento à movimentação à sua volta, tanto dos
carros quanto dos transeuntes.
Grant se virou e entrou na rodoviária. Caminhou até
chegar aos poucos degraus que separavam a plataforma do
local onde ficavam os armários. Desceu e seguiu em frente
por cerca de cinquenta metros, encontrando o que procurava.
Parou em frente aos armários e buscou pelo número sessenta
e cinco com os olhos. Quando o localizou, pegou a chave que
trazia sempre no chaveiro e o abriu.
Dentro, como imaginava, estava o envelope pardo. Sem
perder tempo, o pegou, o colocou sob o braço e trancou o
armário com movimentos rápidos. Logo o tomou nas mãos e
fez o caminho de volta, sempre olhando para os lados,
desconfiado, sentindo o coração batendo a mil, até o local
onde o advogado o aguardava.
— Então? Conseguiu? — Trent apressou-se em perguntar
assim que o amigo entrou no carro e se sentou ao seu lado.
Grant estava tão ansioso e nervoso que Trent podia ver
gotículas de suor em sua testa.
— Sim, está aqui — respondeu indicando o envelope, o
abrindo e tirando de dentro o pen drive de cor vermelha.
— Perfeito! Vamos para o meu apartamento. Lá podemos
verificar o conteúdo.
Grant tirou a carteira do bolso interno da jaqueta e
guardou o pen drive dentro dela, aproveitando para dar uma

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olhada na foto da mulher que mantinha em seus pensamentos,


mesmo estando tão longe dela naquele momento.
Trent percebeu o que ele fazia e lhe deu uma olhada
rápida, de lado, curioso.
— É muito gata! — elogiou.
— Tira o olho, essa mulher já é minha! — avisou Grant
em tom de brincadeira, e continuou a admirar a mulher que
sorria para ele, sem conseguir tirar o próprio sorriso bobo do
rosto.
— Está apaixonado! — Trent afirmou em tom de
zombaria.
— É, estou sim... — Grant admitiu sem nenhum
constrangimento. — Pensei que não voltaria a acontecer, mas
as coisas não são como imaginamos. Ela está grávida —
anunciou.
— O quê? Grávida? É sério que você vai ser pai?
Trent riu ao saber da novidade, porém, também estava
surpreso. O amigo havia saído da cidade há menos de um ano
jurando nunca mais se deixar envolver por nenhuma outra
mulher, e agora estava de volta admitindo que não só estava
apaixonado, como, também, que ambos esperavam um filho
juntos.
— É isso mesmo, acabamos de descobrir. Danna, esse é o
nome dela, sempre achou que não podia engravidar, então foi
uma surpresa e tanto para nós, ainda mais depois do que
aconteceu com a mulher, cujo nome eu me recuso a
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pronunciar, quando pensei que seria pai pela primeira vez. Eu


passei a acreditar que a paternidade não era para mim e
resolvi tirar isso de vez da minha cabeça, mas agora que
aconteceu, eu só posso dizer que está sendo um giro de
trezentos e sessenta graus na minha vida, de novo — Grant
explicou com um entusiasmo que há muito Trent não via nele.
— Cara, meus parabéns! Não te vejo assim, animado, há
tanto tempo! — exclamou Trent, realmente feliz pelo amigo.
— É muito bom saber que está conseguindo seguir com a sua
vida. Depois me conta tudo, quero detalhes. Grant... papai —
afirmou balançando a cabeça, ainda descrente. — Quero ser o
tio Trent, hein?! — completou brincalhão.
— Claro que sim — Grant concordou com um sorriso
ainda grudado nos lábios. — Existem alguns problemas
externos que estamos enfrentando, mas estou certo de que
vamos conseguir superá-los — afirmou, demonstrando uma
confiança que não sentia, não ainda. A situação com o ex-
marido de Danna o preocupava, porém, não havia nada que
pudesse fazer, a não ser apoiá-la no que fosse preciso.
— Tenho certeza disso, sempre acreditei em você, meu
amigo. — Trent agora estava sério. — E pelo que teve que
passar, não conheço ninguém que mereça ser feliz mais do
que você, Grant.
— Obrigado por nunca duvidar de mim. Mas e você? Não
tem nada para me contar, não? Antes de sair daqui, eu me
lembro de que o Trent pegador estava às voltas com uma
mulher. Como era mesmo o nome dela? Tiffany? — Grant o
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provocou, pois sabia que o amigo nem saberia a quem ele se


referia.
— Não sei de quem você está falando — negou Trent,
despreocupado.
Dito e feito! Ele não lembra mesmo. Grant deu uma
risadinha.
— Tiffany, cara! Aquela morena peituda. Acho que tinha
um metro e oitenta, a mulher era enorme. — Grant riu de
novo ao descrevê-la. — Já não está mais com ela?
— Cara, fiquei com a Tiffany umas duas vezes, se você
não fala, eu nem me lembraria. Juro!
— Você é mesmo um galinha! Sua cama deve ser como as
catracas do metrô. Haja rotatividade!
Trent deu uma risada alta, elevando o queixo, sem tirar os
olhos da avenida à sua frente.
— Você vem me perguntar de duas fodas de uns oito
meses atrás e espera que eu lembre assim? No ato? —
inquiriu ele, com um meio sorriso safado no rosto.
— Um dia você vai se apaixonar, quero só ver o grande
Trent pegador encoleirado.
— Vira essa boca para lá e vai rogar praga para outro! Eu
estou muito bem assim, como estou. Nada de amarras,
envolvimentos e muito menos coleiras. Ficou louco? Sempre
deixo bem claro que só quero curtir a minha vida como o
homem solteiro e saudável que sou. Não tenho culpa se a

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mulherada gosta de mim e do que sou capaz de proporcionar a


elas — declarou sem um pingo de modéstia. Trent sabia que
chamava atenção com seus quase um metro de noventa de
altura, corpo proporcional e em forma.
Fez a manobra, ainda rindo, para entrar no condomínio de
classe média alta em que morava, seguindo até a garagem no
subsolo. Ambos saíram do carro e pegaram o elevador para o
décimo andar. Ao chegarem, adentraram o apartamento de
número cento e dois. Até ali, tudo havia transcorrido sem
problema algum. Trent tirou o paletó e o jogou em qualquer
lugar, afrouxando a gravata em seguida. Grant fez o mesmo
com a jaqueta e se sentou no sofá, que era bem confortável,
por sinal. Deu uma olhada rápida no lugar. Parecia que o
advogado estava sempre de passagem, tinha até algumas
caixas esperando para serem abertas, ainda da sua última
mudança. O apartamento era espaçoso, com janelas amplas,
porém, com poucos móveis: uma estante forrada de livros –
em sua maioria de Direito –, uma mesa retangular com tampo
de vidro e seis cadeiras, um jogo de sofá de três lugares cada,
e um bar, esse sim, muito bem suprido de bebidas variadas.
Roupas estavam espalhadas pelos cantos, e sobre a mesinha
de centro havia uma caixa de pizza com restos dentro.
Trent tirou o notebook de dentro de sua pasta, colocando-o
em cima da mesa no canto da sala para abri-lo. Grant se
levantou e ficou de pé ao seu lado. Entregou o pen drive para
ele, que o inseriu na entrada do computador. Aguardaram em
silêncio. Logo surgiu uma pasta com o nome Movimentos.
Trent clicou nela e apareceram vários arquivos, os quais
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foram abertos um a um. Tratava-se de planilhas e mais


planilhas, com nomes e valores, endereços, locais... Parecia o
controle contábil de uma empresa. Entradas, saídas,
pagamentos diversos e, por fim, uma lista completa de nomes,
de homens e mulheres, com valores na frente de cada um
deles. Trent ficou abismado com o que viu em sua tela.
Levantou-se e começou a andar pela sala passando as mãos
entre os cabelos, parecendo empolgado e assustado ao mesmo
tempo.
— Cara, isso aqui é uma mina de ouro! Como não vimos
isso antes? Todos os controles da operação que você estava
investigando estão aqui. Nomes, datas, valores, endereços,
tudo!
Dois dos nomes Grant conseguiu reconhecer: Xavier, seu
ex-futuro sogro, e Harry, seu ex-amigo traidor. Viu também
uma referência ao Falcão, esse era o codinome de quem,
acreditava ele, chefiava toda a operação. Grant não sabia o
que pensar, olhava desnorteado para a tela do notebook. E
pensar que essas provas estiveram em suas mãos sem nem
fazer ideia de sua existência. Elas podiam ser suficientes para
acabar com a operação de tráfico de mulheres, de drogas e
dos subornos. Pôr abaixo aquela merda toda.
— Cara, não posso acreditar no que estou lendo aqui! Se
eu tivesse visto antes... Mas agora não adianta nada pensar
nisso. Temos que ver o que conseguimos fazer com toda essa
informação.
— Eu tenho um contato na promotoria que pode nos
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ajudar — falou Trent, clicando na última pasta, que ainda não


tinha sido aberta.
Logo apareceram algumas fotos e uma colagem. Grant
sentiu o chão se abrindo sob seus pés, o coração começando a
bater muito rápido, o ar se tornando denso, difícil de ser
inspirado.
— Não é a mulher da sua foto, Grant? — questionou
Trent, fitando-o confuso.
Grant não se moveu. Por um longo momento, não houve
reação de sua parte, ele apenas olhava, incrédulo e aturdido,
para a foto na tela. Levou alguns minutos para começar a
assimilar o que acontecia, até conseguir formar palavras com
que pudesse ser capaz de emitir uma resposta coerente.
— Sim, é ela. Mas como isso é possível? — indagou ele,
sentindo-se desamparado.
— Não sei, cara! E esse aqui, com cara de investidor da
Wall Street, quem será? — Trent se referia ao homem com ar
sisudo na foto.
— É o ex-marido dela, Caleb Green, e a garota é a filha —
Grant respondeu. — O que essas fotos estão fazendo junto
com os movimentos de uma operação de tráfico de mulheres,
prostituição e drogas? Será que o informante se enganou e
enfiou isso aí por engano? — Grant especulou, intrigado.
Queria encontrar uma justificativa, qualquer desculpa que
pudesse fazê-lo entender o motivo de aquelas fotos estarem
ali. A Danna não, a Danna não, Senhor, ela não, fez uma
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prece silenciosa olhando para o teto, andando pela sala com


os dedos entrelaçados na nuca.
— Acho difícil, está tudo na mesma pasta. Sinto te dizer,
mas o que parece é que essas pessoas aqui têm algo a ver com
a operação — o advogado concluiu, mortificado ao notar o
estado do amigo.
— O ex-marido da mulher que amo, um bandido da pior
espécie? Como isso é possível? O homem vive nos
Hamptons, em meio ao luxo e à riqueza, é membro da nata da
sociedade e um investidor respeitado, não pode ser... —
averiguou Grant, perplexo. — A Danna? A minha Danna? A
mulher que vai ser a mãe do meu filho? Envolvida nessa
sujeirada toda? Não. Impossível. Recuso a pensar nessa
possibilidade. Mas, ao mesmo tempo... Não, não quero pensar
nisso, me recuso.
Grant seguia andando de um lado para o outro, agitado.
Volta e meia parava para olhar a tela, com um ar de descrença
no rosto e balançando a cabeça em negação.
— Calma, Grant, não temos certeza de nada — o amigo
disse tentando acalmá-lo. — E que coisa, não? Você ter ido
parar justo onde esse homem está. E mais, ter se envolvido
com a mulher dele. Nem sei o que te dizer.
— Chame de ironia do destino, de coincidência, sei lá, o
fato é que aconteceu e agora estão aí, Trent, as fotos da
família feliz. — Fez um gesto com a mão na direção da tela e
um pensamento funesto cruzou sua mente.

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Será que ela me enganou esse tempo todo? Será que me


fizeram de otário mais uma vez? Deus, o que está
acontecendo? Por que comigo?
Só em pensar nisso, sentia o desespero tomar seu corpo, o
ar em seu peito faltar, até seu estômago se revoltava diante da
possibilidade.
— Mas você não disse que o cara é o ex-marido? E se for
só ele que está envolvido? Tem que saber de tudo primeiro,
não pode tirar conclusões precipitadas.
Trent tratou de tranquilizá-lo, mas estava sendo difícil.
Viu o amigo se sentar com as mãos segurando a cabeça, o
olhar fixo em um ponto do tapete sob os seus pés.
— Não sei o que pensar. Cara, estou com medo de que
isso seja verdade. Não aguento mais uma traição, não posso,
não dá!
— Você sempre teve bons instintos, o que ele está te
dizendo agora com relação a ela?
— Que não pode estar envolvida, mas os meus instintos
me deixaram na mão antes.
— Isso é verdade. O que pretende fazer com essa
informação? Falo das fotos — perguntou Trent.
— Ainda não sei — Grant respondeu. — Estou pensando.
— Bom, enquanto você pensa, eu vou fazer uma cópia e
levar para esse meu contato. Quero ver se consigo marcar
uma reunião com o promotor o mais rápido possível —

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avisou Trent, fazendo o que havia acabado de dizer.


— Tira as fotos dela e da garota da cópia que for entregar
para o seu contato, deixa só as do ex-marido. Algo me diz que
esse Caleb é alguém muito mais importante nisso tudo do que
estamos imaginando — pediu Grant.
— Está bem, como quiser, mas pensa bem, você tem
cinquenta por cento de chance de estar certo e o mesmo
percentual de estar enganado. Acho melhor andar com
cuidado, até irmos mais a fundo em tudo isso. Mas já te aviso,
não poderá falar nada por enquanto, com ninguém, pelo
menos até que eu tenha me encontrado com o promotor e
sabermos o que ele tem a dizer.
Grant concordou. Ainda estava tentando absorver tudo o
que havia visto e lido.
— Não vou falar nada, até porque eu nem sei, na verdade,
o que poderia dizer. Ela espera o meu filho, não quero que
passe por esse estresse. A gravidez está muito no início,
nunca se sabe o que pode acontecer. E como dizer a ela que o
ex-marido pode ser um crápula envolvido em tráfico humano?
Que pode ser o homem que acabou com a minha vida? Um
mafioso sem nenhum escrúpulo ou senso de moral? Capaz até
de matar? Ainda não se teve notícias do informante que me
entregou esse pen drive, não duvido que possa estar morto e
enterrado a mando desse safado. Tudo isso é muito
complicado.
— Eu não sei como você vai agir, mas é bom mesmo a sua
mulher não saber disso, pelo menos por agora, até porque ela
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mesma pode correr algum perigo caso não tenha nada a ver
com essa história. Lembre-se sempre que esse cara é
inteligente, esperto e, acima de tudo, discreto, ele se preserva
muito. A minha aposta? Que nem ela nem a filha sabem de
nada, o filho da mãe deve levar uma vida dupla. De qualquer
maneira, você terá algum tempo para pensar no que vai fazer,
mas tenha em mente que vai chegar o momento em que você
terá que lhe contar a verdade.
— É, acho que você pode ter razão. Não vejo a Danna
envolvida nisso, e pensando bem, não tenho como acreditar
que ela seria capaz. É uma mulher doce, meiga, tem sua força,
mas não vejo um lado mau, frio ou cruel nela. Não, me recuso
a crer que ela possa ter alguma coisa a ver com isso.
— Não a conheço, mas só de ouvir você falar dela,
consigo acreditar no que diz.
Trent terminou de copiar os arquivos e retirou o pen drive,
o guardando no próprio bolso. Em seguida, levantou-se e
pegou o paletó que tinha jogado, o vestindo novamente.
Ajeitou a gravata e olhou para Grant.
— Bem, agora vou sair, quanto mais cedo passar isso aqui
para frente, melhor. Quer carona? Você disse que queria ver
sua família.
— Sim, quero, obrigada — disse Grant, pegando o pen
drive original e o devolvendo à carteira, ainda pensativo.

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Danna estava aflita, não conseguia evitar. Sabia que o


namorado estava correndo risco, pois o que tinha ido fazer em
San Diego era perigoso, mas não tinha opção, a não ser
confiar nele. Tudo daria certo e ele voltaria, são e salvo, para
ela. E não só para ela, para ela e para o bebê. Por ser algo
muito recente, ainda se esquecia, em alguns momentos, de
que uma vida crescia dentro dela. Era maravilhoso e
inacreditável ao mesmo tempo. Só de pensar nos dois, pai e
filho, deixava escapar um suspiro da mais pura felicidade.
Como podia ter se apaixonado tanto e tão rápido, ainda
não conseguia entender. Resolveu deixar de se fazer
perguntas, agora queria apenas viver o momento, embora
soubesse que ainda tinham alguns problemas a enfrentar.
Pensou em ligar para ele, só que Grant tinha lhe dito que a
chamaria logo que pudesse, então se forçou a esperar. Ouviu
uma movimentação no portão, sabia que era a Betsy. Ela
havia ligado avisando que daria uma passada para vê-la e
ajudá-la com algumas coisas da casa que ainda tinham para
fazer. Trazia com ela as cortinas, que tinha mandado lavar
dois dias antes.
— Oi, bom dia! — Betsy a cumprimentou com um
beijinho no rosto e foi logo entrando, deixando as cortinas
sobre o sofá. — Temos que colocá-las logo, vou te ajudar,
mas só tenho uma horinha, tenho que encontrar o Robert.
— Aconteceu alguma coisa? Estou te sentindo agitada.
— Sim, aconteceu. — Betsy parou de desembalar as
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cortinas e a olhou com certa tristeza no rosto. — O Robert


recebeu uma proposta de trabalho, é um cargo importante e de
muita responsabilidade.
— Mas isso é uma coisa boa, não?
— Uma coisa maravilha, se ele não tivesse que se mudar
para a África. O cargo é para chefe de um centro médico de
lá.
— Bom para o Robert, mas pelo jeito você não gostou
muito da ideia.
— Ele quer que eu vá com ele.
— E você, já decidiu se vai?
— Não posso, amiga, tenho o meu trabalho, os meus
amigos, a minha vida toda aqui, sem falar da minha família.
Só que esse sempre foi o sonho dele, você sabe como ele é,
tem um lado idealista, sempre desejou fazer a diferença. Mas
esse sonho é dele, não meu. Não me vejo saindo daqui, e não
é porque é a África, podia ser qualquer outro país, eu só não
quero deixar o meu.
— Situação difícil, Betsy.
— Sim, nós vamos conversar, mas já sei o que vai
acontecer, paciência, adoro ele e quero que seja feliz, mesmo
que não seja comigo, claro que fico chateada, mas não posso
dizer que o Bob é o amor da minha vida.
— Se é esse o caso, acho que não tenho o que palpitar, só
espero que tome a melhor decisão para os dois. Também

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gosto dele e vou sentir sua falta.


— Mas você sabe que eu não tenho a menor propensão
para tristeza, me recuso a ficar triste por muito tempo. — Deu
um suspiro. — Melhor decidir logo mesmo, levantar a cabeça
e seguir a vida.
— E você ainda diz que é romântica... — Danna não
resistiu em provocá-la, só um pouquinho.
— Sou, mas do meu jeito. Eu me recuso a ficar sofrendo,
a vida é curta demais para isso, se lamentar não faz parte do
meu perfil. Sou jovem, bonita e amo a vida, eu supero! —
falou Betsy, firme e decidida.
— Uau, quando crescer eu quero ser como você!
— Deixa de ser boba, só não sou masoquista.
— Espero que sempre seja assim — desejou Danna,
impressionada.
— E será, se Deus quiser! A dor é inevitável, o sofrimento
é opcional, li isso em algum lugar, e uso como lema pessoal
desde então. Mas, mudando de assunto, onde está o Grant?
Está trabalhando? Não o vi quando entrei, queria dar um oi
para ele.
— Ele teve que viajar.
— É? E para onde ele foi?
— San Diego, visitar a família. Faz muitos meses que não
se veem, ele estava sentindo falta.
— Entendi, essa época dá mesmo uma saudade... Eu
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queria ter ido visitar a minha, só que esse ano não deu... E é
por isso que você está com essa carinha? Ele demora em
voltar?
— Não, é uma viagem curta, em poucos dias já vai estar
de volta.
— Está sentindo falta dele, não é? — perguntou Betsy,
tocando de leve o joelho da amiga, que havia se sentado e
ficado de frente para ela.
— Sim, estou. Muito! — Danna respondeu, e sem
perceber, levou a mão ao ventre, inclinando a cabeça na
direção dele ao mesmo tempo. Como sempre, seus gestos não
passaram despercebidos, e Betsy notou que ela queria dizer
algo.
— O que foi? Tem alguma coisa para me contar? —
perguntou ela, brindando-a com um olhar desconfiado.
Danna ouviu a pergunta, porém, hesitou em respondê-la,
pois não sabia qual seria a reação de Betsy. Acreditava que
iria ficar feliz por ela, no entanto, como a amiga tinha
conhecimento da situação em que se encontrava, tinha receio
de que a criticasse. De qualquer maneira, sentia que precisa
falar com alguém, dividir a alegria que sentia, e ninguém
melhor do que ela, que ficaria decepcionada se Danna a
escondesse a gravidez.
— Na verdade, sim, tenho, mas eu gostaria que ficasse só
entre nós duas, pode ser? — pediu.
— Claro, amiga, sabe que pode sempre confiar em mim.
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— Não comenta nem com o Robert, ao menos por


enquanto — insistiu.
— Ok, nem com ele! Agora você está me assustando. Fala
logo, mulher!
— Está bem. O Grant e eu...
— Você e o Grant... O quê?
— Nós... bem, é que...
— Por Deus, Danna! Já está me deixando agoniada! O que
tem vocês dois?
— Nós vamos ter um bebê, Betsy, estou grávida! —
declarou Danna.

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“And I know she’ll be the death of me


At least we’ll both be numb
And she’ll always get the best of me
The worst is yet to come
But at least we’ll both be beautiful
And stay forever young
This I know (yeah) this I know”
I can’t feel my face – Weeknd

Betsy arregalou os olhos e endireitou o corpo. Procurava


as palavras certas, mas estava surpreendida demais para
pronunciar qualquer coisa, e só o que saíam eram alguns
ruídos – que mais pareciam balbucios desconexos – de sua
boca. Levou o olhar para a amiga com uma pergunta
implícita.
Danna apenas balançou a cabeça, com um sorriso entre
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travesso e receoso nos lábios.


— Minha Nossa Senhora das Notícias Fodásticas! —
Betsy exclamou após obter a confirmação. — Como isso
aconteceu? Espera, não é essa a pergunta que eu quero fazer,
eu sei como aconteceu — falou, tentando se conectar com o
que estava se passando. — Quero dizer, Danna?! Você-está-
grávida-do-seu-faz-tudo?! — precisou repetir palavra por
palavra, cochichando e olhando para os lados como se alguém
fosse entrar de repente e pegar as duas em flagrante. — E
aquilo de você não poder ter filhos, onde foi que ficou isso,
gente?
Danna sorriu divertida, sabia que a reação da amiga seria
algo exuberante, como a própria, mas não imaginava vê-la tão
agitada como estava.
— Caleb! Tudo indica que convenceu, de alguma maneira,
o meu ginecologista da época a adulterar ou forjar os exames
que fizemos para entender o motivo pelo qual eu não
engravidava. Ainda vou tirar isso a limpo, só que parece
óbvio, por ser como é, machista e tão controlador, não
conseguiu lidar com o fato de que ele, sim, é estéril, não eu,
me tornando a culpada por não termos tido filhos biológicos.
Esta é a única conclusão plausível a que posso chegar.
— Ele vai surtar quando souber disso, Danna. Meu Deus,
que desgraçado! E que timing vocês tiveram, hein? Os dois
sabem que o momento não é o mais propício, mas, enfim... —
Betsy deu um olhar que dizia tudo. — E a Amy? Vai ter que
contar para ela.
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— Eu sei, já pensei nisso também, entretanto, eu quero


esperar um pouco, ver se o divórcio sai logo, se não já viu,
não é? O filho da mãe vai usar essa gravidez contra mim, e
pode até tentar manipular a Amy. A verdade é que não sei
mais o que esse homem é capaz de fazer.
— Colocando tudo isso de lado por um momento, como
você se sente nessa sua nova condição?
— Feliz, contente... Vou ter um filho do homem que amo,
e essa é uma sensação sem igual. Não tem como descrever,
por mais que eu tente, não posso colocar em palavras, sinto
como se eu estivesse em outra dimensão, dentro de uma
bolha, é algo mágico e bonito saber que, aqui dentro, tem uma
vida crescendo, e junto vem uma necessidade de proteger,
cuidar, uma consciência maior do meu corpo, como mulher.
Não sei te explicar, é uma sensação maravilhosa.
— Você vai ter um bebê! — Betsy a abraçou, eufórica,
batendo os pés no chão, incontrolável. — Ai, parabéns,
amiga! Eu sei quanto não poder ter filhos sempre foi uma
sombra na sua vida. Ainda não estou acreditando. Estou
abismada, espantada, ada, ada, ada... — disse sorrindo.
— Respira, desse jeito vai ter um troço, está até vermelha.
E se você se sente assim, imagine eu! Quando me esqueço
dos problemas, eu fico viajando, me vejo com a barriga
enorme. — Fez um gesto com ambas as mãos sobre o ventre
para enfatizar o que dizia. — O bebê mexendo aqui dentro e,
meses depois, quando nascer... Nossa, viver isso é como o
maior dos sonhos jamais sonhado por mim.
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— Ai, eu nem consigo imaginar como é, mas me diz, já


marcou médico? Pré-natal? Vitaminas? Todas essas coisas
que grávida tem que fazer? E esse médico calhorda que se
prestou a essa canalhice? O que pretende fazer com ele? Vai
pedir a licença do traste, né? Uma pessoa dessas não pode
ficar impune, olha o sofrimento que te causou durante esses
anos todos!
— Calma, Betsy, uma coisa de cada vez, assim você vai
me deixar tonta — reclamou Danna, rindo da ansiedade da
amiga. — Sim, eu vou vê-lo, quero saber dele, diretamente, o
que aconteceu de fato! A consulta de pré-natal está marcada
para daqui a um mês – não com ele, óbvio –, e as vitaminas já
foram devidamente compradas. Comecei com todos os
cuidados assim que soube que estava grávida.
— E ele, como reagiu à notícia?
— Quem? O Grant?
— O Grant, claro! Quem mais poderia ser, mulher? —
Betsy riu com vontade.
— Para de rir de mim! — Danna pediu fazendo cara de
amuada, mas logo voltou ao normal. — A princípio, ficou tão
surpreendido quanto eu, porém, depois de passada a surpresa
inicial, se emocionou e ficou muito animado com a
perspectiva de termos um filho. Embora saibamos que é
muito cedo, o inesperado aconteceu, não há mais nada a fazer.
Quero desfrutar muito desse momento, até dos mal-estares, se
é que isso é possível.

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— Que bom que ele se sente assim, e tem que curtir muito
mesmo, isso tudo é fantástico, Danna, simplesmente
fantástico!
— Sim, é fantástico mesmo — repetiu ela, com um ar de
pura felicidade no rosto.

San Diego, CA.


Trent pôs a mão na maçaneta da porta e estava a ponto de
sair, quando se lembrou de algo muito importante que havia
deixado passar.
— Espere um pouco, Grant, me lembrei de algo agora, a
empolgação foi tanta que até esqueci uma das coisas mais
básicas — falou, voltando até a mesa e se sentando em frente
ao notebook.
— E que coisa é essa?
— Eu me esqueci de fazer uma cópia dos documentos
para gravar na nuvem, é seguro e posso acessar de onde eu
estiver. Nunca se sabe, é sempre bom garantir — concluiu ele,
concentrado no que fazia.
Minutos depois, fechava o aparelho e estava ao lado do
amigo de novo.
— Preciso ligar para a Danna. Prometi falar com ela
quando tivesse feito o que vim fazer aqui. Deve estar
preocupada.
— Está assim mesmo? — Trent o olhou de soslaio com
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um meio sorriso provocador nos lábios.


— Assim como? — Grant perguntou confuso.
— Dominado — o amigo respondeu direto.
— Apaixonado. É diferente. E estamos esperando um
filho, esqueceu? Eu me preocupo por ela também. Você não a
conhece. Danna é linda, amorosa e sexy. Tem tudo e mais um
pouco do que eu jamais pensei encontrar em uma mulher. Não
tive a menor chance, ela me ganhou logo na primeira vez em
que coloquei os meus olhos nela.
— Nossa, cara... Você está com os quatro pneus arriados
por essa mulher!
— O pior é que estou mesmo, e esse é o meu medo, de
não conseguir pensar direito por causa do que sinto por ela e
não alcançar o meu objetivo.
— Vai conseguir, sim. É só manter o foco e logo iremos
saber tudo o que precisamos, mas se isso te incomoda tanto,
não sei, às vezes temos que nos arriscar.
— O que quer dizer com isso?
— Eu te pedi para não contar a ela nada do que
descobrimos para protegê-la, só que, ao mesmo tempo,
estamos a deixando no escuro, sem saber a verdade sobre o
homem com quem foi casada.
— Esse é o meu dilema. Não quero esconder o que se
passa, mas tenho medo do que pode acontecer a ela se eu
contar.

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— Está difícil, meu caro! — Trent não podia deixar de


concordar, não desejava estar na pele do amigo. — Toma,
pega.
— O que é isso?
— É a chave do meu carro, depois você me devolve.
— E você?
— Vou de moto, é mais rápido, não pego trânsito. E se
tiver alguém me seguindo, consigo me livrar com mais
facilidade.
Grant arqueou uma sobrancelha, em dúvida. Não sabia
que o amigo tinha uma moto, tampouco que era capaz de
pilotá-la. Trent sempre foi um cara de carros, potentes e
velozes.
— Fica tranquilo, sou um excelente piloto. Eu me
apaixonei pelas motos depois de assistir a uma corrida.
Vamos, relaxa, sei o que estou fazendo. Vai lá visitar a tua
família, eles vão ficar felizes de te ver. Mas sempre agindo
com cautela, entendido?
— Sim, senhor — concordou Grant, zombando do tom
autoritário de Trent. Ambos deixaram o apartamento andando
lado a lado, até se separarem no meio do estacionamento. Viu
Trent subir em uma Harley-Davidson preta estilizada, com
detalhes em vermelho, então caminhou alguns metros e entrou
no carro dele.

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The Hamptons, NY.


Caleb abriu a porta do Bentley e jogou a valise no banco
traseiro ao mesmo tempo em que sentiu o celular vibrando no
bolso interno do paletó. Pegou o aparelho e não reconheceu o
número, mas resolveu atender assim mesmo.
— Chefe? — Caleb ouviu a voz com aquele sotaque do
Leste Europeu de Sergei. — Tenho notícias! — o homem
falou com entusiasmo.
— Está louco, Sergei? Quantas vezes eu já te falei para
não ligar para o meu celular pessoal? Para isso eu tenho o
descartável, idiota!
— Eu tentei, mas não consegui falar no outro, só deu
caixa postal, então resolvi ligar nesse mesmo, porque o
assunto é urgente e de seu interesse — explicou rápido.
Caleb suspirou impaciente.
— Então diz logo o que tem para me dizer, não me faça
perder mais tempo do que já estou perdendo.
— O Garoto de Ouro está na cidade.
Diante dessa informação, Caleb se empertigou e se pôs
alerta.
— Como você soube?
— Um dos rapazes que costuma rondar o condomínio do
advogado o viu na companhia dele. Desde a última vez que
nos falamos, deixamos sempre um homem de olho, o
seguindo, e a alguns membros da família também.
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— Espero que tenha sido um trabalho bem-feito e ele não


tenha desconfiado de nada.
— Certamente. O que quer que a gente faça?
— Você já tem as suas ordens, vá atrás dele, não o perca
de vista! O cara pode nos levar até o pen drive, isso se já não
estiver com ele em mãos. Quando o encontrar, destrua. — Fez
uma pausa dramática. — Os dois, as provas e ele.
— O senhor manda. Considere feito — Sergei se apressou
a dizer.
— Assim espero, caso contrário, você responde pelo
fracasso — ameaçou Caleb, com uma expressão dura no
rosto.
Sergei engoliu em seco ao ouvir aquilo, pois sabia que o
homem falava sério.

San Diego, CA.


— Danna?
— Grant! Graças a Deus!
Danna levou a mão ao meio do peito ao reconhecer a voz
de Grant. Estava sozinha, pois a amiga tinha ido encontrar o
namorado para resolver a vida, segundo ela.
— Olá, princesa!
— Meu anjo, que bom ouvir sua voz! Estou sentindo
muito a sua falta.

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— Eu também sinto a sua, princesa, me desculpe se


demorei a ligar.
— Não se preocupe, eu entendo, estava um pouco aflita,
mas agora fico aliviada de saber de você e ouvir sua voz. Está
tudo bem?
— Sim, está. Tudo correu como o previsto, até o momento
— explicou Grant, atento à estrada. Algo lhe chamou atenção,
então fixou o olhar no espelho retrovisor enquanto falava com
ela. — E como está a futura mamãe do meu filho?
Ela tocou o ventre em um gesto automático e um sorriso
chegou aos seus lábios.
— Estou bem, ou melhor, estamos bem — Danna afirmou
do outro lado da linha.
Grant notou algo estranho enquanto dirigia. Parecia que
alguém não saía de sua cola. Achou melhor cortar a chamada
naquele momento e se concentrar na avenida.
— Amor, eu preciso desligar agora, estou dirigindo. Fica
bem, ok? Ah, e toma conta do nosso bebê! — pediu sem tirar
os olhos do espelho retrovisor, notando que uma pick-up preta
praticamente colava em sua traseira.
— Nem precisa pedir, esse filho é um presente precioso
demais, pode ficar sossegado, e se cuida você também. Eu te
amo, meu anjo.
— Eu também te amo, princesa. Nós nos vemos logo.
Ainda intrigado e sem tirar os olhos do retrovisor, Grant

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desligou o celular e o largou no console. Agora era óbvio que


estava sendo seguido. Acelerou e viu o outro carro fazer o
mesmo. Acelerou ainda mais, em uma tentativa de colocar
distância entre os dois, mas estava sendo difícil, a pick-up
parecia ser bem potente. Sabia que isso podia acontecer, só
não achou que seria tão rápido. Deviam estar de vigia desde
que ele pisou na cidade, ou até mesmo antes. Pensou que
deviam estar seguindo o amigo, afinal, estava usando o carro
dele. Como ambos sabiam, a organização possuía olhos e
ouvidos em todos os lugares.
Após alguns minutos, Grant pensou que o havia
despistado. Ledo engano. Logo o outro surgiu atrás dele
novamente, e agora estava ainda mais agressivo, chegando a
emparelhar com ele. Girou a cabeça para o lado e viu o
motorista, porém, não fazia ideia de quem era, só sabia que
precisava se livrar dele e sair dali. Tratou de continuar
acelerando, até chegar a uma curva, que, por conta da alta
velocidade, foi feita muito aberta, derrapando. Precisou usar
toda a sua força para se manter em linha reta. Estava
controlando o volante da melhor maneira que podia.
Diante da ameaça atrás dele, se forçou a continuar. A
pick-up emparelhou e bateu na sua lateral, com a clara
intenção de tirá-lo da estrada. Notou que o passageiro estava
armado e viu a arma ser apontada para ele, deixando-o
verdadeiramente apavorado. Quem não tem medo quando se
vê diante de uma pistola apontada para si? Girou o volante
para a direita em um movimento brusco, fazendo uma careta e
olhando mais uma vez para o lado. Ouviu os pneus chiarem
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perdendo a aderência no asfalto. Os carros começaram a se


chocar, uma lateral contra a outra, por algumas centenas de
metros.
Em dado momento, em uma batida mais forte, Grant
sentiu que perdia o controle, e instantes depois saiu da
estrada. Tinha sido jogado na direção de uma ribanceira, e se
viu descendo muito rápido por ela, freando sem parar, mas
não adiantou. O carro só parou com um estrondo em uma
pequena clareira, após bater com força contra o tronco de uma
árvore. O capô amassou e se abriu, começando a deixar
escapar uma fumaça branca, o que queria dizer que o radiador
tinha estourando. O airbag foi acionado, porém, devido ao
grande impacto, Grant bateu fortemente a cabeça no encosto
do banco.
Droga! Essa foi a última palavra que disse antes de perder
os sentidos. Pouco depois, tudo ficou em silêncio.
Um dos homens que o perseguia não perdeu tempo e
desceu a encosta, iniciando uma pequena avalanche de pedras
e terra por onde passava. Por fim, chegou até o carro,
aproximando-se e vasculhando os bolsos de Grant com
movimentos ágeis. Achou a carteira e a retirou de seu bolso,
abrindo-a ali mesmo. Localizou o que procurava, tomou-o e
jogou o resto em qualquer lugar.
Notou que o recipiente de gasolina tinha se rompido, e o
líquido pingava sem parar debaixo do carro. Olhou para o
homem caído, pendendo para o lado do banco do passageiro.
Ele não se movia, e acreditou que estivesse morto. Se não
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estava ainda, logo estaria. Resolveu sair dali o mais rápido


possível. Não demoraria muito e o carro pegaria fogo, talvez
até explodisse. Deu um sorrisinho maldoso ao pensar nisso. O
importante era o chefe ficar satisfeito.
— Acidentes acontecem, não é nada pessoal, companheiro
— falou sozinho e sem o menor sinal de preocupação ou
remorso.
Subiu a encosta e voltou a entrar na caminhonete com o
colega na direção. Não tinham se afastado nem cem metros
quando ouviram uma explosão e viram uma bola de fogo com
muita fumaça surgir atrás deles.

Gabinete da Promotoria, San Diego, CA.


Trent chegou ao prédio onde pretendia se encontrar com o
seu contato. Depois de alguns minutos explicando,
rapidamente, sobre o conteúdo do pen drive, o homem o
pegou, se comprometendo a mostrá-lo ao promotor quanto
antes.
— Já adiantei o assunto, o promotor se mostrou muito
interessado.
— Isso é bom, muito bom! — comentou Trent, satisfeito
em ouvir aquilo.
— Vou levar isso para ele, espere por mim aqui.
— Não saio daqui nem que me paguem. Esse caso é
grande demais, Ed!

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— Eu sei disso, vamos ver se ele acha o mesmo.


— Vai achar, tenho certeza — disse Trent, e viu o homem
assentir com a cabeça, virando-se e andando pelo corredor,
entrando em uma das portas à direita de onde ele estava.
Como se tratava de uma operação entre, pelo menos, dois
estados, o FBI provavelmente seria chamado, se envolveria na
investigação e tudo seria feito sob o maior sigilo.
Esperou por algum tempo sentado em uma antessala. A
tensão era alta e Trent não conseguia manter-se quieto. Já
estava a ponto de ter um infarto quando, por fim, o seu
contato retornou.
— E então? O que foi que o promotor disse? Vai poder
falar comigo?
— Sim, ele concordou em te receber. Assim que viu o que
tinha nos arquivos, comentou que a coisa é grande, o homem
está até salivando. Ano de eleição, você sabe, se derruba um
caso desses, de tamanha dimensão e repercussão, é reeleição
garantida.
— Imagino. Política... — murmurou Trent, mais para si
mesmo, com certo tom de desprezo.
Ed se virou e ele o seguiu.
A brincadeira vai começar, pensou enquanto via uma
mulher em uma postura muito rígida, de pé, óculos de aro de
tartaruga e um terninho sóbrio de cor indefinida, assim como
a expressão em seu rosto. Um coque severo completava o
visual de professora dos anos 1960. Ela se posicionou de lado,
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mantendo a porta de carvalho maciço aberta para que os dois


pudessem entrar. Sem hesitar, Trent avançou para dentro do
gabinete do promotor.
Depois de cumpridas as devidas formalidades, deram
início a uma reunião, que durou quase duas horas. Trent saiu
de lá com a certeza de que tudo seria esmiuçado e
investigado. A primeira providência do promotor foi solicitar
um mandado ao juiz, para obter a relação de chamadas do
celular do honorável Sr. Caleb Green.

The Hamptons, NY.


— Sr. Green?
A voz do outro lado da linha lhe soou familiar.
— Ele mesmo. Quem fala?
— Sou eu, Cooper. Tenho novidades.
É hoje, o dia de receber notícias. Que sejam boas, é o
mínimo, pensou.
— Prossiga — autorizou Caleb, em um tom de voz frio e
imperativo.
— Já tenho as informações que me pediu sobre aquele
rapaz, o faz-tudo, e acho que o senhor não vai gostar nada do
eu que descobri sobre ele.
— Pois fale, sou todo ouvidos — incentivou apreensivo.
Caleb tinha acabado de dar luz verde para que o homem

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começasse a contar sobre suas descobertas a respeito do faz-


tudo, quando notou outra ligação entrando em seu celular.
— Só um minuto, Cooper, tenho uma nova chamada aqui,
já retorno com você — fez o pedido e atendeu a pessoa na
segunda ligação, deixando o detetive na espera.
— Sergei! O que eu te disse mais cedo? Você é estúpido,
surdo ou o quê?
— Chefe, o senhor tem que dar um jeito no seu outro
celular, não consigo falar nele de maneira nenhuma — Sergei
reclamou, pois estava de saco cheio de ficar levando bronca à
toa, sendo que não era culpa sua se o homem deixava a
bateria do outro aparelho descarregar, e a informação que
tinha não podia esperar.
— Vou ver o que está acontecendo, mas o que houve
agora?
— Liguei para avisar que o Garoto de Ouro comprou
passagem só de ida e sem escalas, para o céu.
— Certeza? Sabe que não admito falhas — advertiu sério.
— O cara estava dirigindo o carro do advogado, meu
rapaz viu quando deixou o condomínio, então se juntou com
outro companheiro nosso e o seguiram. Jogaram o carro dele
para fora da estrada, que rapidamente se transformou no
cogumelo de Hiroshima — contou Sergei, irônico.
— E o pen drive? — perguntou Caleb, um pouco ansioso.
— Devidamente recuperado!

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— Só espero que ele não tenha conseguido copiar os


dados, mas é um risco que corremos. Diga aos homens que os
parabenizo pelo serviço bem-feito.
— Obrigado, chefe. Vou falar, com certeza.
— Dois problemas a menos. Até que, enfim, vocês
fizeram algo direito. Falamos depois. Tenho outra ligação me
aguardando.
Caleb encerrou a ligação com Sergei e voltou para a do
detetive particular, porém, esta havia caído. Tentou chamar de
volta, mas só deu caixa postal. Não insistiria, Cooper voltaria
a ligar. Agora tinha ficado curioso para saber o que ele havia
descoberto. Fosse o que fosse, poderia esperar. Esse faz-tudo,
na verdade, era só um zé-ninguém. O importante era que a
espada que tinha estado sobre a sua cabeça não existia mais.
Dirigiu-se ao bar localizado no canto no escritório. Pegou a
garrafa de uísque, um copo e colocou ambos sobre o balcão,
se servindo de uma dose farta para comemorar. Tomou o
primeiro gole e saboreou o líquido na língua, e fez com que
descesse, lentamente, pela garganta. Tinha uma expressão de
satisfação no rosto.
Enfim, as coisas estavam entrando nos eixos, agora
poderia investir uma parte maior do seu tempo em fazer com
que a mulher voltasse para casa. Talvez, a filha pudesse
ajudá-lo nisso, se ele fizesse o papel de marido abandonado
pela esposa. Isso poderia comovê-la, como tinha acontecido
na noite de Ação de Graças. Ele apenas fez um teste, e a
garota caiu como uma patinha.
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— Eu quero, eu posso, eu consigo! — afirmou para si


mesmo, com um sorriso malvado nos lábios, enquanto tomava
o segundo gole da bebida.

San Diego, CA.


Foi por um triz. Tudo aconteceu tão rápido que ele não
conseguia se lembrar dos detalhes. Em um momento, estava
descendo a ribanceira, no outro, só havia dor e escuridão. Ao
abrir os olhos, sentiu uma pontada terrível na cabeça e outra
no peito, porém, o cheiro de gasolina ativou o seu instinto de
sobrevivência e ele conseguiu, com muita dificuldade, se
arrastar para fora do carro e ir para o mais longe possível dali.
A seu ver, pareceu que havia percorrido quilômetros, no
entanto, foram apenas alguns metros. Tratou de se proteger
atrás de uma árvore, encostando-se a ela, e logo pôde ouvir
um estouro, e em seguida, uma explosão. O cheiro forte de
óleo queimado e o calor das chamas tomaram conta do lugar.
Grant sentiu algo úmido e espesso escorrer pela lateral do
rosto, levando a mão até o local. Quando a trouxe de volta,
notou que se tratava de sangue. Seu sangue. Devia ter se
ferido na cabeça, que latejava terrivelmente. Seu peito parecia
prestes a se abrir, estava muito difícil respirar. Encostou a
cabeça no tronco da árvore puxando o ar, e seu pensamento
foi até a mãe, os irmãos, Danna e seu filho que estava a
caminho. Não podia se entregar, tinha que viver por eles, mas
era tão difícil manter os olhos abertos, a vontade de fechá-los
era enorme. Perdeu a noção do tempo, quase não pôde ouvir
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os sons de pessoas gritando, agitadas, próximo de onde


estava.
— Aqui! Ele está aqui! Na árvore grande!
Ao ouvir os gritos, imaginou que seria socorrido. Deduziu
que alguém devia ter visto o “acidente” e chamou por ajuda.
Graças a Deus!, agradeceu em pensamento.
A respiração estava cada vez mais lenta, e cada inspiração
causava uma dor lancinante, lhe rasgando o peito. Finalmente,
não teve condições de resistir mais e deixou a escuridão
envolvê-lo. Permaneceu assim, entrando e saindo da
inconsciência, e nos curtos períodos em que ficava desperto,
conseguia ouvir vozes, falando entre si, e logo sumiam
novamente.
— Tragam a maca, ele está aqui embaixo! — Grant ouviu
gritarem não muito longe. Sentiu que alguém se aproximava
rápido, o dono da voz estava do seu lado. — Fique calmo,
vamos cuidar de você. Pode me ouvir?
— Sim... Posso — gemeu mais do que falou.
Notou através dos olhos semicerrados que se tratava, pelo
uniforme que usava, de um paramédico. De repente, voltou a
sentir aquela dor insuportável. Soltou um rosnado alto quando
o homem apalpou o seu torso do lado esquerdo. Sabia que
procurava por ossos quebrados e lesões internas.
— Parece que você quebrou algumas costelas — a voz
voltou a falar com ele. — E tem uma fratura exposta no
braço. — E se dirigindo ao colega: — Vamos colocá-lo na
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maca, melhor o levarmos logo — anunciou firme. — O golpe


na cabeça me preocupa mais, me passa o soro e a morfina, ele
está sentindo muita dor. Rápido!
Grant ouviu tudo e chegou a abrir a boca, na tentativa de
dizer algo, porém, não foi capaz de emitir som algum.
— Pode me dizer o seu nome? — o socorrista indagou
enquanto o preparava para o transporte.
Ele tentou de novo, e nada. A voz não saiu.
— Seu nome, pode me dizer? — o paramédico insistiu.
— G-Grant... Co-Collins — por fim, conseguiu responder,
a voz saindo rouca e quebrada.
— Ok, Grant, nós estamos fazendo o possível para
estabilizar você aqui mesmo, antes de te levarmos para o
hospital. Tem alguém a quem devemos avisar?
— S-sim... Trent... Campbell — balbuciou o nome do
amigo com extrema dificuldade.
Dois quartos de hora depois, devidamente estabilizado e
medicado, o colocaram dentro da ambulância para efetuarem
o transporte. Ligaram a sirene e pegaram a avenida, dirigindo-
se rapidamente para o hospital mais próximo.
Ao chegar ao setor de emergência, Grant foi levado
diretamente para o centro cirúrgico, onde uma equipe já o
aguardava, pronta para operá-lo.
— Código azul! Parada cardiorrespiratória! — a
enfermeira-chefe informou no meio do procedimento.
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— O paciente está fibrilando! Tragam o desfibrilador!


Ajuste para duzentos e cinquenta! — pediu o cirurgião, sendo
atendido prontamente. — Se afastem! — exclamou,
comandando em um tom de voz forte e imperativo,
posicionando as pás do aparelho sobre o peito do paciente e
liberando o choque.
— Não está funcionando, doutor! Assístole! — ele foi
informado, mais uma vez, pela enfermeira-chefe, que
mantinha os olhos no monitor que permanecia estático.
— Se afastem! Aumentar para trezentos e sessenta! —
instruiu o médico, quase gritando, sentindo uma descarga de
adrenalina tomar conta do seu sistema. Repetiu o
procedimento anterior e, dessa vez, notou os números do
monitor se movendo e os batimentos cardíacos do paciente
voltando.
— A pulsação voltou, a respiração foi normalizada —
recitou a enfermeira.
— Ok, vamos continuar — anunciou ele, colocando uma
expressão de alívio no rosto.

San Diego, CA.


Trent se sentou no sofá, ficando de frente para a tevê.
Pegou o controle remoto e começou a navegar, porém, não
achou nada de interessante para assistir, então desistiu,
colocando o controle remoto sobre a mesinha de centro.
— Que droga! — praguejou. — Perdi o jogo de hoje —
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reclamou consigo mesmo. Referia-se aos The Friers, seu time


de beisebol favorito. Sentia-se um pouco entediado e
energizado ao mesmo tempo.
A manhã havia sido proveitosa, era apenas questão de
esperar que as pessoas certas e treinadas fizessem o trabalho
delas investigando o desgraçado do Caleb. Sentia que ele era
o chefe da coisa toda. Resolveu que seria uma boa ideia
descer até a academia do prédio e treinar um pouco. Muita
energia e tensão acumuladas o deixaram elétrico e ansioso.
Talvez, depois do treino, ligaria para a loira que tinha
conhecido no bar, próximo ao fórum, onde costumava tomar
seu café da manhã todos os dias. Não seria uma má ideia
gastar parte dessa energia com ela, afinal. Pegou o celular
para conferir o seu número de telefone. Estava nisso, quando
recebeu uma chamada.
— Sr. Trent Campbell? — perguntou uma voz feminina.
— Está falando com ele — respondeu intrigado,
esperando para saber de quem se tratava.
— Sr. Campbell, meu nome é Melinda Alvarado, sou a
assistente social do Scripps Mercy Hospital e o senhor foi
citado como contato do Sr. Grant Collins — a mulher
informou.
O tom de voz usado, a palavra “hospital” e o nome do
amigo na mesma frase o fizeram sentir um frio na barriga.
Colocou-se de pé no mesmo instante, levando a mão até os
cabelos e enfiando os dedos neles. Logo somou dois mais
dois e soube que algo ruim tinha acontecido.
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— Sim, ele é meu cliente, sou seu advogado — informou,


tentando se controlar. Se já estava nervoso antes... — O que
aconteceu?
— O carro em que ele estava saiu da estrada e bateu em
uma árvore. Nesse momento, o senhor Collins se encontra em
cirurgia. Poderia comparecer ao hospital? Necessitamos de
algumas informações para completar a ficha de admissão do
paciente e também para que possa se responsabilizar por ele,
se for o caso. É preciso avisar os seus familiares.
— Sim, claro, só me passa o endereço, por favor.
— Nossa localização fica no número quatro mil e setenta e
sete da Quinta Avenida.
— Já anotei e sei onde fica, estou saindo agora mesmo.
Obrigado por me avisar — agradeceu e encerrou a chamada,
guardando o celular no bolso traseiro da calça. Com ambas as
mãos, deu pequenos tapas nos demais, à procura da chave da
moto, encontrando-a no bolso da jaqueta de couro que estava
usando.
Pegou a carteira em cima da mesa e deu uma última
olhada ao redor, se perguntando se não estava esquecendo
nada. Finalmente, deixou o apartamento, batendo a porta e
andando apressado. Não fez mais perguntas à mulher porque
não queria perder tempo, porém, não acreditava que tivesse
sido um simples acidente, levando em consideração o
momento que estavam vivendo. Seria coincidência demais o
amigo perder a direção e sair da estrada justo no dia em que
chegou à cidade. Como saberiam que ele estava ali, se não o
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tivessem seguindo?, perguntou-se enquanto caminhava, a


passos largos, pelo estacionamento. Minutos depois, já estava
na avenida, a caminho do hospital. Ao chegar ao andar
informado, foi direto até o balcão de atendimento.
— Meu nome é Trent Campbell, estou aqui por causa do
paciente Grant Collins, poderia me colocar em contato com
Melinda Alvarado, por favor?
— Claro, senhor Campbell, só um momento — a mocinha
simpática e sorridente falou, pegando o telefone e discando
dois números, que, deduziu ele, deviam ser o ramal da
assistente social.
Trent estava agoniado para obter mais notícias e saber
qual era o estado do amigo. Não levou muito tempo, a mulher
apareceu. Era baixinha, morena e, obviamente, possuía
ascendência latina. Parou em frente a ele e o cumprimentou.
— Por favor, venha comigo, Sr. Campbell.
Conversaremos melhor na minha sala — pediu ela, e logo se
virou, com ele a seguindo de perto.
Quando chegaram, Melinda o convidou a se sentar, mas
Trent estava aflito demais para, preferindo permanecer de pé.
— Qual a situação do meu amigo, digo, do senhor
Collins? A senhora disse ao telefone que estava em cirurgia, o
que aconteceu com ele?
— As informações que tenho ainda não estão completas,
porém, o que posso adiantar, é que no momento do socorro,
quando questionado, ele esteve consciente e citou o próprio
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nome e o do senhor.
— Entendo. E ele corre risco de morte?
— O médico disse que não, mas tudo dependerá da
evolução do quadro do paciente. Vou avisá-lo que o senhor
está aqui, ele o encontrará na sala de espera, e então o senhor
poderá tirar todas as suas dúvidas. Aqui estão as coisas
pessoais do senhor Collins, posso deixar com o senhor?
— Claro — Trent falou, recebendo o saco plástico das
mãos dela.
Dentro encontrava-se apenas o chaveiro, o cinto e as
botas. O celular e a carteira não foram localizados, o mais
provável era que tinham sido consumidos pelas chamas. As
roupas foram cortadas no momento do atendimento, e tiveram
que ser jogadas fora.
— Por enquanto é só isso. O senhor, por favor, vá até o
balcão de atendimento e preencha a documentação para a
admissão do senhor Collins.
— Claro. Estou indo até lá. Obrigado.
Trent se retirou da sala com o semblante preocupado.
Passou o final da tarde e grande parte da noite resolvendo
a papelada de admissão e seguro saúde de Grant. Falou,
também, com o policial designado para o caso. Acidente ou
não, o que aconteceu teria que ser investigado. Como Melinda
havia dito, o médico responsável o procurou. Contou que o
amigo teve uma parada cardíaca durante a cirurgia e foi
preciso intervir usando um desfibrilador. Uma costela
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quebrada perfurou um dos pulmões e foi necessário operá-lo


para que a hemorragia fosse estancada. Fraturou o antebraço
esquerdo, e a pancada na cabeça, que pensaram ser a mais
preocupante, não passou de um ferimento superficial, na
verdade. Avisou que em uma hora seria levado para o quarto,
onde ficaria em observação e seria monitorado.
Depois que o médico se foi, Trent ficou aguardando o
amigo acordar, pois, mesmo após o efeito da anestesia, ele
continuaria sedado por mais algum tempo. Só no meio da
madrugada recebeu autorização para vê-lo, e só por alguns
minutos, pois Grant deveria ficar descansando o maior tempo
possível.
Não ligou para sua família, porque sabia que o amigo não
os havia avisado que chegara a San Diego. Para todos os
efeitos, ele ainda estava em Nova York, sua intenção era fazer
uma surpresa.
Naquele momento, teria que agir com muita cautela. Não
podia se precipitar. Como, para ele, não tinha sido um
acidente, quem o jogou para fora da estrada talvez pensasse
que estivesse morto. Teriam que conversar, assim que o
amigo acordasse, para saber como iriam proceder dali para
frente, porém, por ora, quanto menos pessoas soubessem que
estava vivo, melhor.
Trent entrou no quarto e o encontrou de olhos fechados.
Parecia estar dormindo, mas estava enganado. Ao se
aproximar, o viu virar a cabeça em sua direção, abrindo os
olhos.
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— Trent.
— E aí, cara? Como se sente?
— Uma bagunça, dói tudo. — Tentou sorrir, entretanto, só
conseguiu fazer uma careta. — Mesmo com os remédios,
parece que um trator passou por cima de mim. — Sua voz
estava rouca, débil e saía com dificuldade.
— Consegue me dizer o que aconteceu?
— Me empurraram para fora da avenida. Uma pick-up
preta e grande. Decorei parte dos números da placa, só que
agora não estou conseguindo me lembrar.
Falava dando pequenos espaços entre uma frase e outra,
visto que até isso doía, incomodava.
— Está certo, depois, quem sabe, você consegue. Grant,
eu não avisei a sua família, esperei até agora para falar com
você, quer que eu os avise?
— Não. Você fez bem. Não quero colocá-los em perigo.
Ainda bem que nem avisei que viria. Queria fazer uma
surpresa, e também que não ficassem comentando sobre a
minha vinda.
— E a sua mulher? Vai deixá-la sem notícias também?
Grant suspirou, porém, logo se arrependeu, fazendo outra
careta de dor.
— Não posso deixá-la nervosa sem saber de mim. Eu vou
falar com ela amanhã, mas não vou contar o que me
aconteceu. Não ainda.
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— Mas ela vai perceber que algo está errado. Você mal
consegue falar. Vai ficar preocupada de qualquer maneira, e
imaginando, o que é pior.
— Tem razão. Eu não queria envolvê-la nisso, mas acho
que não vai ter jeito.
— Ela merece saber. Não pode deixá-la na ignorância
depois do que houve hoje, tanto ela quanto o bebê podem
estar correndo perigo.
Grant assentiu.
Trent olhou para ele pensativo. Precisariam de um lugar
onde o amigo pudesse se recuperar depois que deixasse o
hospital, e já tinha uma ideia de qual seria.

Queens, NY.
Danna estava preocupada. Desde a noite anterior não tinha
recebido notícias de Grant, e seu celular estava mudo, o que
era muito estranho. Tinha tido um pesadelo e dormido muito
mal, acordando de repente, suando frio e com o coração a mil.
Sentia que alguma coisa estava errada. Por isso, estava agindo
como um autômato, fazendo tudo no automático, o
pensamento nele a todo instante.
Estava tentando comer algo, pois tinha posto tudo o que
havia ingerido mais cedo para fora. Os enjoos tinham chegado
e com força. Cada vez que a onda vinha, deixava-a cansada e
fraca.

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Ao terminar, resolveu se arrumar, pois teria que


comparecer ao tribunal naquela tarde, para mais uma
audiência do seu divórcio. Só de pensar que teria que olhar
para a cara daquele homem de novo, sentia ânsias de puro
nojo. Meia hora depois, deu uma última olhada no espelho.
Tinha vestido um terninho de cor escura. A maquiagem era
leve e estava perfeita. O cabelo preso em um coque. O visual
apropriado para um tribunal. Muniu-se de coragem, pegou a
bolsa e saiu pela porta.

Tribunal da Família, NY.


A audiência tinha sido enfadonha, um verdadeiro tédio, e
só conseguiu deixá-la irritada. Caleb e seu advogado
continuavam batendo na mesma tecla. Sentia a cabeça doer e
o enjoo voltando.
O juiz até que era bem paciente, em seu lugar, outro já
teria batido o martelo. Não houve acordo, mais uma vez. Mas
foram avisados de que, na próxima, Amy seria chamada para
ser ouvida. Depois, só teriam mais uma audiência, a última,
onde tomariam ciência da decisão final.
Saiu da sala e ligou o celular. Tinha desligado o aparelho
antes de entrar, pois não eram permitidos celulares ligados no
tribunal. Estava ansiosa para ver se tinha alguma ligação
perdida ou mensagem de Grant. Sentiu-se decepcionada, pois
não encontrou nada. Colocava o celular de volta na bolsa
quando o ouviu tocar.

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— Danna Martin? — a voz grave de um homem chegou


ao seu ouvido.
— Sim, quem fala?
— Meu nome é Trenton Campbell. Sou amigo e advogado
do Grant.
— Ah, oi! Como vai, Sr. Campbell? Sim, ele me falou do
senhor.
— Eu também já ouvi falar muito da senhora. Por favor,
me chame de Trent.
— E chame a mim de Danna.
— Pois bem, Danna, estou ligando por causa dele. Eu
tenho uma notícia para dar, porém, eu vou pedir que fique
calma, está bem? Ele me contou da gravidez — Trent
começou a falar, tentando ser o mais sucinto possível. — O
Grant se envolveu em um incidente, mas não se preocupe, ele
está bem — apressou-se em tranquilizá-la.
— Se está bem, por que você está me ligando, e não ele?
— Danna questionou desconfiada.
— A culpa é minha. Diante do que aconteceu, eu tive que
comprar um celular novo. Melhor tomar certos cuidados. O
Grant está com o médico no quarto nesse momento.
— Aconteceu? Médico? Quarto? Por favor, me diz de uma
vez o que houve com ele! — pediu, começando a ficar
angustiada.
— Na verdade, o Grant sofreu um acidente.
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— E como isso aconteceu? Ele está bem? Ele se


machucou? Trent, me fala!
— Sim, ele saiu ferido desse acidente, mas...
— Não, isso não pode ser... O Grant não...
Trent ainda chegou a falar que o amigo tinha sido
socorrido, operado, e que estava fora de perigo, porém, ela já
não o ouvia.
Danna sentiu as pernas enfraquecerem diante da notícia.
Grant ferido? Acidente? Meu Deus, não! Viu-se escorregando
contra uma das paredes do saguão, e se não fosse o seu
advogado agir rápido e segurá-la, ela teria caído.
— Danna, você está bem? — perguntou ele, preocupado,
amparando-a e guiando-a até uma das cadeiras do lugar, onde
ela se sentou puxando o ar com força, tratando de se acalmar.
— N-não estou. Eu só preciso de um minuto, já vou
melhorar — respondeu ela, respirando com dificuldade. De
repente, sentiu uma fisgada no baixo-ventre, e outra em
seguida, e mais outra. Deus do céu, o que será que está
acontecendo? Essa dor parece uma cólica, só que mais forte,
muito mais forte. — Por favor, me ajude, eu estou grávida e
sinto que posso estar perdendo o meu bebê! — declarou ela,
fitando-o apavorada.

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“Oh, you’re in my veins


And I cannot get you out
Oh, you’re all I taste
At night inside of my mouth
Oh, you run away
Cause I am not what you found
Oh, you’re in my veins
And I cannot get you out”
In my veins – Andrew Belle

Do outro lado da linha, Trent ouviu o que se passava e se


desesperou. Chamou Danna várias vezes, porém, não obteve
resposta. Levantou-se e passou a andar de um lado para o
outro sentindo-se culpado. Deveria ter tido mais cuidado ao
contar o que havia acontecido, começando por dizer que
Grant estava bem, que o pior já havia passado. Mas não, tinha
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que trocar os pés pelas mãos, e o resultado era esse, a mulher


estava passando mal. Se o amigo soubesse disso, não o
perdoaria. Isso era certo!
— Merda! — praguejou, correndo os dedos pelos cabelos,
irritado, torcendo para que tudo não passasse de um susto.
Como ela não havia desligado, Trent decidiu esperar.
Enquanto isso, Danna se sentou em uma cadeira com a
ajuda de seu advogado. Céus! Estou passando mal na frente
do desgraçado do Caleb, e o filho da mãe não tira os olhos de
cima de mim. Seus olhos são duros, frios, sem emoção
alguma. Os seus lábios estão apertados em uma linha fina, os
braços cruzados sobre o peito, as pernas ligeiramente
afastadas. Parece um felino que observa sua presa segundos
antes de saltar sobre ela e devorá-la!, pensou, tomada pelo
medo, tanto do ex-marido quanto pelo que poderia estar
acontecendo com o seu bebê.
Puxou o ar diversas vezes em uma respiração profunda,
tentando se recompor. A dor foi cedendo pouco a pouco, até
que, em minutos, já não a sentia mais, então relaxou,
entretanto, a aflição de saber que o pai do seu filho se
encontrava ferido em um quarto de hospital a milhares de
quilômetros de onde estava, deixou transparecer seu estado de
espírito no instante em que voltou a falar ao celular.
— Peço desculpas, Trent. Senti uma dor diferente e por
um minuto pensei... Enfim, não foi nada, só um mal-estar que
me impediu de continuar falando com você, mas passou,
estou bem — Danna se apressou em tranquilizá-lo, pois não
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queria que pensasse que ainda estava mal e isso chegasse aos
ouvidos de Grant, deixando-o preocupado. — Diga onde
vocês estão, por favor! — pediu ela, voltando a respirar fundo
em uma nova tentativa de manter seus nervos sob controle. —
Eu preciso vê-lo.
Trent soltou um suspiro de alívio.
— Que bom ouvir que está bem, Danna! Nossa! Eu estava
apavorado aqui, e me sentindo culpado também. Perdoe-me,
era exatamente isso que eu estava tentando evitar, mas não
pensei antes de te contar. Escuta, não precisa entrar em
pânico, o Grant foi atendido e não corre mais risco.
— Ele correu risco de morte? Céus, o que aconteceu foi
tão grave assim? — Danna quis saber, sem esconder o pavor
na voz.
Trent hesitou e, por fim, decidiu que não seria bom entrar
em detalhes, muito menos contar que o amigo havia sido
reanimado devido a uma parada cardíaca no meio da operação
a que foi submetido, afinal, a mulher passou mal só com a
notícia do acidente, imagina se fica sabendo que ele quase
morreu.
— Danna, espera um minuto e eu te coloco para falar
diretamente com o Grant, assim você fica mais tranquila.
Agora ele já pode falar, o médico acabou de sair do quarto.
Não vão poder conversar muito, porque não é permitido, ele
está sob cuidados especiais, mas vou fazer isso para que você
se acalme, está bem?

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— Sim. Obrigada. Eu espero — agradeceu Danna. — E


não se preocupe, Trent, não foi culpa sua — acrescentou.
Poucos minutos depois, Danna ouviu seu nome em uma
voz fraca, doída.
— Danna... — murmurou Grant.
— Grant! — exclamou ela, sentindo uma onda de alívio a
tomando. — Como você está? Que susto foi esse que você me
deu?
Grant notou a angústia e a aflição em sua voz.
— Não fique nervosa, meu amor, estou bem — disse, seu
tom de voz continuava fraco. — Eu vou sobreviver, não é
dessa vez que vão se livrar de mim — assegurou, tentando
esvair um pouco da tensão com a brincadeira.
— Não fala isso nem brincando, Grant! — Danna o
repreendeu, sentindo um frio de medo atravessar sua barriga.
— Desculpa, só quis dizer que me sinto bem — corrigiu-
se Grant, voltando a ficar sério. — O Trent acaba de me
contar que você quer vir para cá, mas eu acho que não deve
fazer essa viagem, o pior já passou — afirmou, tentando soar
convincente.
— Como não devo, Grant? Eu preciso te ver e é claro
que eu vou! — Danna exclamou com a voz firme. — Como
você pode pensar que vou te deixar sozinho em um momento
como esse? — inquiriu categórica.
— Só não quero que você se estresse demais, pensa no

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bebê! — Grant insistiu.


Ao ouvi-lo, Danna levou a mão até o ventre em um gesto
protetor.
— Estou pensando nele e no pai dele. Não vou ficar
sossegada até ver, com os meus próprios olhos, que você está
bem! — Dana voltou a afirmar, com uma expressão
determinada.
— Eu entendo, princesa. Eu também estou louco para te
ver.
Grant não viu outra saída além de aceitar os argumentos
de Danna. Talvez tenha chegado o momento de conversarmos
sobre o que está por trás de tudo isso, de ela saber com quem
foi casada e viveu, sob o mesmo teto, por quinze anos,
completou em pensamento.
— Farei a reserva no primeiro voo que conseguir e
chego aí o mais rápido possível! — Grant a ouviu dizer.
— Está bem, passa os detalhes quando tiver, vou pedir
para o Trent te pegar no aeroporto — pediu Grant, tentando
manter os olhos abertos, travando uma luta feroz com o sono
que ameaçava a tomá-lo e ele resistia, pois queria seguir
ouvindo aquela voz suave e que sabia como chegar até seu
coração, acalmando-o. Só que ele se sentia tão cansado...
— Certo, eu passo. E, Grant?
— Oi... — respondeu ele, os olhos praticamente
fechados.

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— Eu te amo! — declarou Danna, feliz por tê-lo ouvido.


— Eu também te amo... — Grant conseguiu falar um
segundo antes de, por fim, ceder e se entregar ao sono.

Danna não quis perder mais tempo, e logo após se


despedirem, deixou o tribunal e seguiu direto para sua casa.
Comprou a passagem pela internet e jogou algumas peças de
roupas dentro de uma maleta. Antes de sair, avisaria a filha e
a amiga sobre a viagem. Pegaria o voo das três horas da tarde,
o mais cedo que conseguiu.
Desceu as escadas para colocar a maleta no carro,
quando ouviu tocarem a campainha. Andou até o portão e
olhou pela abertura. Era a Amy. Destrancou-o e a deixou
entrar.
— Oi, tudo bem? Você não me avisou que vinha —
Danna comentou enquanto a abraçava, depois trocavam um
beijinho no rosto.
— Estou voltando hoje para a casa dos meus avós e quis
me despedir pessoalmente da senhora. Vai viajar? — a garota
indagou ao notar a maleta dentro do porta-malas do carro, que
Danna havia se esquecido de fechar.
— Mais tarde — respondeu ela, o fechando. — Que bom
que veio, eu precisava mesmo falar com você.

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Ambas entraram e começaram a conversar, sentadas no


sofá da sala.
— Então, o que queria falar comigo? É sobre essa
viagem que a senhora vai fazer? — Amy quis logo saber.
— Sim, isso mesmo, eu ia te ligar — Danna começou a
falar, tentando não parecer muito ansiosa. — Vou ficar fora
da cidade por alguns dias e queria te avisar, só isso.
— E vai para onde? — perguntou Amy, curiosa. A mãe
quase nunca viajava, para ela era algo estranho, embora,
agora que estava sozinha, achava normal que a mãe quisesse
visitar e conhecer outros lugares.
— Vou fazer aquele curso de história da arte que eu
sempre quis fazer. Consegui uma vaga na Universidade de
Oxford, Inglaterra.
— Inglaterra? Por que tão longe? Por que não a Oxford
do Mississipi?
— Porque conhecer a Inglaterra sempre foi meu sonho,
estudar lá sempre foi o que eu quis fazer — explicou ela,
esperando parecer convincente.
— Entendo, fico contente pela senhora. Vai fazer algo
que a deixa feliz, enfim — Amy comentou, voltando a
abraçá-la.
Danna não se sentia bem em omitir o lugar para onde
estava indo de fato, porém, aquela não era a melhor hora para
contar a verdade. Estava aflita e nervosa demais para ter uma
conversa tão delicada como aquela com a filha. Portanto, o
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curso foi a primeira coisa que lhe ocorreu como desculpa.


— E qual a duração desse curso?
— Isso varia um pouco, pode chegar a durar de duas a
três semanas, mas eu só vou decidir certinho quando estiver
lá.
— Certo. Não deixa de me dar notícias, viu, dona
Danna? — pediu a garota, fitando-a com admiração. Não
podia estar mais orgulhosa da mãe e de sua independência
recém-conquistada.
— Você também. Ligue sempre que precisar. Eu te amo,
não se esqueça disso! — advertiu Danna, forçando uma
tranquilidade que estava longe de sentir.
— Também te amo, mãe. Mas agora eu preciso ir, o
avião levanta voo em duas horas. Aliás, já era para eu estar a
caminho. Vou deixar meu carro no aeroporto, depois o papai
manda buscá-lo — contou ela, apressada.
— E por que ele mesmo não está te levando? — indagou
Danna, intrigada.
— Ele me disse que tinha uma reunião, não entendi
direito — Amy respondeu dando de ombros. — E a senhora
se divirta por lá! Aproveite para passear um pouco também.
— Claro, meu amor, e você faça o mesmo. Quando vai
estar de volta?
— Em quatro semanas termina o meu curso.
— Vai vir para cá? Vai vir morar comigo, certo? — quis
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saber Danna, ficando em suspense ao aguardar a resposta.


Queria muito que a filha optasse por viver com ela e
acreditava que o faria, porém, o seu medo era que Caleb
pudesse tentar fazê-la mudar de ideia.
— Claro que venho, mãe. Ainda não falei nada para o
meu pai, mas eu quero vir morar aqui, sim. A senhora sabe
que eu não me dou tão bem com ele e detesto as suas manias.
Só espero que ele entenda e aceite a minha decisão — Amy
fez um trejeito com a boca indicando desgosto ao dizer isso.
Aliviada, Danna soltou o ar.
— Vai dar tudo certo, Amy! Não duvido disso! —
afirmou a mulher mais velha, tratando de ser otimista. — Nós
tivemos uma audiência hoje e você terá que comparecer na
próxima — avisou, observando a expressão da filha.
— É, eu sei, ele me contou antes de eu vir... Mas pode
ficar tranquila, meu lugar é do seu lado, e isso ninguém muda,
nem o meu pai. Eu te amo, mãe. Cuide-se por lá.
— Que bom ouvir isso, filha! — Danna a abraçou. —
Você se cuida também. Boa viagem, meu amor — desejou a
beijando no rosto.
— Para a senhora também — disse Amy, retribuindo o
beijo da mãe. — Nós nos vemos dentro de um mês, vamos
nos falando.
As duas se despediram e Danna acompanhou a filha até
o portão, onde ficou até o carro de Amy sumir de vista. Ao
entrar, ligou para Betsy e fez um resumo do que havia
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acontecido com Grant.


— Vou avisar meu chefe agora mesmo. Estou indo com
você! — Betsy decidiu assim que terminou de ouvir o relato.
Nunca deixaria Danna fazer uma viagem daquelas grávida e
sozinha.
Danna ficou surpresa com a decisão intempestiva da
amiga e tratou de convencê-la de que não precisava largar
tudo só para lhe fazer companhia.
— Não precisa, eu posso fazer isso, o seu trabalho, o
Robert... — Danna começou a argumentar.
Do outro lado da linha, Betsy torceu a boca, contrariada.
Danna a ouviu bufar impaciente, o que a fez se calar.
— Eu sei que pode você fazer isso, amiga, mas eu
insisto, não vou te deixar sozinha nesse momento. Eu tenho
vários dias para tirar aqui no meu trabalho, e isso o que você
acaba de me descrever eu classifico como uma emergência
familiar. A minha situação com o Robert já está resolvida. Ele
embarca no final de semana. Sozinho. Não se preocupe com
isso. Só me dá uma horinha e estarei saindo daqui. Vê se me
espera! — pediu usando um tom de voz decidido, não dando à
Danna nenhuma chance para contra argumentar.
— Está bem, já que a senhorita insiste, eu vou esperar.
Teimosa! — Danna falou, cedendo.
— Exatamente! Ser teimosa é uma das minhas melhores
qualidades — Betsy falou e riu. — E sim, eu insisto, e não se
fala mais nisso! — completou com firmeza.
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San Diego, CA.


Quando Danna e Betsy chegaram ao Aeroporto de San
Diego, já era meia-noite. Tinham desembarcado e, no
momento, ambas esperavam impacientes pelas respectivas
maletas em frente à esteira.
Saber que Grant tinha sofrido um acidente e que estava
em uma cama de hospital a tinha tirado do eixo, porém, se
obrigou a manter a calma, como ele havia pedido. Precisava
se policiar e se lembrar de que devia manter os nervos sob
controle por conta da gravidez recente.
A maleta de Danna veio primeiro, então ela se pôs de
lado para esperar a bagagem da amiga, foi quando notou um
homem bonito, moreno, muito alto e com a barba de alguns
dias por fazer se aproximando, parando à sua frente.
— Danna? Sou Trent, muito prazer! — ele se apresentou
sorrindo simpático.
— Olá, Trent, o prazer é meu! Mas como você me
reconheceu? Achei que ficaria me esperando com uma
daquelas plaquinhas, sabe, com o nome? — perguntou ela,
sorrindo meio sem jeito.
Trent voltou a sorrir, mostrando uma fileira de dentes
muito brancos e perfeitos.
— Grant me mostrou uma foto sua — contou ele. — Aí
ficou fácil.

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— Ah, entendi. Trent, eu me esqueci de avisar, mas não


vim sozinha.
Nesse momento, Betsy, que tinha acabado de pegar sua
maleta, se aproximou.
— Não sei por que eu sou sempre a mais azarada de
todas... A droga da minha mala foi a última a sair, que beleza!
— chegou reclamando, irritada, e puxando a maleta de
rodinhas atrás de si.
Danna olhou para ela e deu um pequeno sorriso. Betsy
sendo Betsy, pensou.
A morena estacou e parou de falar ao notar o homem
com quem a amiga conversava.
— Esta é minha melhor amiga, Betsy Scott — Danna a
apresentou.
— Trent Campbell, é um prazer conhecê-la! — disse ele,
oferecendo a mão para cumprimentá-la.
Bets y pareceu hesitar em aceitá-la, porém, logo o fez.
Ambos se fitaram, cada um fazendo uma avaliação mental do
outro.
Trent tinha no olhar um brilho de predador diante de sua
presa, quando chegou a uma conclusão: linda, gostosa e
fresca!
A morena o fitou e se contraiu, pois algo em seu ventre
reagiu à forte presença daquele homem... Bonito, seguro de si,
altivo e arrogante.

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— Vamos? Não aguento mais esperar para vê-lo —


Danna chamou sem se dar conta de que estava cortando o
clima entre os dois.
Trent pigarreou, ganhando tempo, pois havia se perdido
por causa da morena de beleza estonteante à sua frente.
— Sim, claro, vamos, por aqui — respondeu ele,
mostrando o caminho para a saída.
Durante todo o trajeto, Danna olhava pela janela, porém,
não tinha interesse no que via. Notou que a amiga estava
muito quieta no banco de trás, o que era algo inédito, no
entanto, não era o momento de pensar nisso.
Algum tempo depois, os três saíam do elevador, no andar
onde ficava o quarto em que Grant estava internado.
— Vou lá, amiga — avisou Danna.
— Vai, sim. Eu fico aqui te esperando.
— Ok, e obrigada por ter vindo comigo.
— Deixa disso, eu não podia deixar você viajar sozinha.
E eu também estava pensando no meu sobrinho. Vai lá! Vai
ver o seu homem!
Danna não disse mais nada, apenas virou-se e atravessou
o corredor, apertando o passo e procurando pelo número do
quarto. Quando o encontrou, em um impulso, entrou sem ao
menos bater. Apesar de imaginar que Grant não estaria com
sua melhor aparência, ela não estava preparada para o que
viu. Ele tinha um curativo na testa, um dos braços engessado,

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olheiras profundas sob os olhos, alguns arranhões feios e


hematomas. Sua figura parecia frágil e pálida dentro do
avental-azul claro com o logotipo do hospital.
Aproximou-se receosa e parou ao lado da cama, na altura
da cabeceira. Levou a mão até sua face e fez um afago. Grant
abriu os olhos.
— Olá, meu anjo — Danna saudou o fitando com
carinho, a mão ainda pousada em seu rosto.
— Oi, princesa, que bom te ver.
Ela veio para ficar comigo, pensou Grant, sentindo uma
onda de amor e alívio o tomando.

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“Afraid to lose control


And caught up in this world
I’ve wasted time, I’ve wasted breath
I think I’ve thought myself to death”
Come with me now – Congo

Caleb
Ver Danna hoje, na audiência, mexeu comigo. Ela está
tão diferente, me enfrentando, batendo de frente, coisa que
nunca fez antes. Estou estranhando esse comportamento dela.
Sempre foi tão dócil, subserviente, do jeito que eu gosto que
minha mulher seja. Obedecer, sem questionar, minhas ordens
e seguir todas as minhas instruções, sem nem mesmo pensar.
Não sei o que deu nela para, depois de quinze anos, decidir
pedir o divórcio. Só permiti que saísse de casa porque pensei
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que, sem a minha ajuda financeira, ela voltaria correndo,


pedindo, ou melhor, implorando para voltar, porém, parece
que me enganei. Hoje a vi passando mal no saguão do
tribunal. Fiquei curioso e quis me aproximar, mas achei
melhor não. Da última vez em que estivemos sozinhos, ela foi
bem agressiva, agindo feito uma louca, desequilibrada, me
desafiando, e isso está me fazendo perder a paciência. O que
sei é que tem algo acontecendo com ela e eu quero descobrir
o que é. Por falar nisso, preciso falar com o Cooper. Depois
daquela ligação em que ele me contaria sobre o tal faz-tudo,
entrei e saí de várias reuniões e não tive um minuto sequer de
paz, e o imbecil não me ligou de volta. Melhor saber logo o
que tem para me dizer.
— Cooper, eu posso saber por que você não retornou as
minhas ligações? — Caleb perguntou bravo.
— Chefe, aconteceu um problema com a minha filha e
me enrolei todo. — Respondeu o homem, parecendo
inseguro.
— Sem desculpas furadas, Cooper! Não me interessa
saber da sua família. Estou te pagando, e muito bem, para
você descobrir as coisas para mim. Vai, anda logo e me diz o
que sabe sobre o rapaz — ordenou sem um pingo de
paciência.
Se tem uma coisa que odeio, são pessoas que pensam
que podem me enrolar. Fico muito puto com isso!, pensou
Caleb, mal-humorado.
— Na verdade, chefe, eu descobri quem é o rapaz, ele se
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chama Grant Collins, veio da Califórnia há quase nove meses,


depois de ficar preso por cerca de dois anos e meio. Já foi um
policial em San Diego antes disso e trabalhou no distrito do
centro.
— O que você está me dizendo? Essa história me parece
muito a do... — Caleb se deteve ao se dar conta do que estava
falando, afinal, Cooper não precisava saber de nada daquilo.
— O que mais você descobriu? — perguntou desconfiado.
— Essa é a pior parte, eu acho...
— Fala logo, antes que eu perca a paciência!
— O rapaz e a sua mulher... — começou Cooper,
temeroso e meio sem jeito.
— Prossiga! — Caleb contou, mentalmente, até dez.
— Parece que os dois estão tendo um caso, chefe.
— O que exatamente você viu? — Caleb nem acreditou
quando sua voz saiu controlada. Por dentro, sentia-se um
vulcão em erupção.
— Outro dia os vi saindo juntos no mesmo carro, e
pareciam íntimos, levando em consideração que são patroa e
empregado.
— Seja mais explícito e me diz quão íntimos eles
estavam — insistiu Caleb, trincando a mandíbula e fechando
o punho, os olhos tomados por um brilho mortal de fúria.
— Isso é meio embaraçoso... — Cooper hesitou.
— Fala logo, porra! — exigiu Caleb, transtornado.
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— Os dois estavam abraçados e se beijando.


— Hum, entendi — assentiu Caleb, pensativo, sentindo
as entranhas se contorcerem.
Cooper elevou as sobrancelhas, cético. Esperava ouvir
uma explosão do chefe, mas o homem era frio feito um bloco
de gelo.
— Só isso? Achei que o senhor fosse surtar, ter um
troço, sei lá!
— Não sou homem de ter troço ou surtar. Isso é tudo?
— Sim, senhor. É tudo.
— Certo. Se precisar de algo mais, eu te ligo.
— Quer que eu continue investigando?
— Pode continuar, eu aviso quando não for mais preciso.
Até logo, Cooper.
— Até mais, chefe — despediu-se, sem imaginar o que
se passava na cabeça do chefe.
Então, o filho da mãe do faz–tudo pode ser a mesma
pessoa que estou imaginando? Ou tudo isso não passa de
uma tremenda coincidência? Agora mesmo tiro isso a limpo!
Vou ligar para a pessoa que pode me esclarecer essa dúvida,
decidiu ele, já discando os números.
— Sergei, sou eu.
— Pois não, patrão? Não esperava que o senhor fosse
ligar tão cedo!

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Caleb ignorou o comentário do capanga.


— Você tem como conseguir uma foto do rapaz,
aquele... — perguntou em tom de quem puxa algo pela
memória. — O Garoto de Ouro?
— Claro que consigo! — afirmou Sergei, para lá de
solícito. — Posso saber para quê?
— É um assunto pessoal. Quando a tiver, envie para este
celular.
— Espera um pouco, chefe — pediu ele, afobado. —
Acho que tenho uma foto aqui no meu, me mandaram no dia
em que ele saiu do condomínio e o seguiram. Achei! Estou
enviando agora mesmo... Foi.
— Recebi. Obrigado — confirmou Caleb, cortando a
chamada.
Ele não podia acreditar no que estava vendo. O Garoto
de Ouro e o faz-tudo eram a mesma pessoa. Como ele foi
parar como faz-tudo da Danna?, perguntou-se intrigado. De
qualquer maneira, isso já não importa, o cretino está fora do
caminho para sempre.
Agora entendia o motivo de ela ter passado mal, devia
estar recebendo a notícia da morte do amante. Estavam se
beijando... A filha da mãe estava me traindo... E com um ex-
policial, um reles faz-tudo... Desde quando isso vinha
acontecendo? Ah, não vou deixar passar, de jeito nenhum!
Isso ela vai ter que me dizer... Talvez não estivesse mentindo,
afinal, quando alegara no processo de divórcio que a mulher o
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traía desde antes da separação. E a Amy? Será que sabia e


encobria a mãe?
Maldita! Quem a Danna pensa que é para fazer isso
comigo?, perguntou-se zangado, muito zangado.

San Diego, CA – Hospital.


Betsy aguardava a amiga sentada na sala de espera.
Como Grant ainda estava sendo monitorado, não poderia ficar
muito tempo com ele. Ela mesma só ficou uns dez minutos,
apenas para dar um oi e lhe desejar melhoras.
Aquele quadro torto, ali na parede, está me
incomodando, mas não tanto quanto ficar aqui com esse
homem me fitando como se eu fosse... De caras como ele, ah,
estou fugindo como o diabo da cruz! Deve ter um ego que
Deus me livre. Caramba, qual é a dele, hein? Não para de
olhar para mim. Já está me deixando irritada! Só porque é
bonito acha que tudo quanto é mulher vai cair aos pés dele?!
Se ele pensa que sou uma dessas, vai cair do cavalo! Merda,
e por que estou pensando nele? Foco, Betsy, pensa em outra
coisa! Mas em quê? Contar até mil, serve? Um, dois, três,
quatro...
Trent se remexeu na cadeira. A morena bonita o estava
ignorando de propósito, pois nem olhava para ele direito.
Ok, entendi! Gata, gostosa, mas deve ser uma chata!
Nariz empinado do cacete! Se eu puxar papo, será que me
responde? Bom, tentar não custa nada.
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— Então, você conhece a Danna há muito tempo? —


arriscou.
— Há alguns anos — Betsy respondeu à pergunta por
pura educação.
— Já esteve aqui antes ou é a primeira vez? — insistiu
Trent, mesmo notando a má vontade da moça em estabelecer
uma conversa.
— Primeira vez.
— Pelo jeito, você não é de falar muito — concluiu ele.
Ela quase riu ao ouvir isso. Amigo, você não faz ideia de
como está enganado, falo pelos cotovelos, mas não com
alguém como você, pensou.
— Não sou de falar muito com gente que não conheço.
— Isso foi para mim? Não deve ter sido, afinal, eu não
sou nenhum estranho. Já sabe o meu nome e que sou amigo
do Grant, do que mais você precisa saber?
— De nada, o que já sei é suficiente, conheço o seu tipo.
— Meu tipo? — Ele riu divertido. — Está bem, vou
engolir a isca, me diz, qual é o meu tipo?
— Não se faça de bobo, você sabe muito bem qual é!
— Sei mesmo? — Trent alçou uma sobrancelha grossa e
bem desenhada. — Pode ser que sim, pode ser que não, mas
como posso saber o que se passa na sua cabeça? De qualquer
maneira, gostaria de ouvir de você.

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— E por que você acha que o que eu penso possa te


interessar?
— Não sei ainda. Mas me diga, o que acha que sabe de
mim? — insistiu ele, fitando-a com curiosidade.
— Quer mesmo saber? Olha lá, não tenho papas na
língua, falo tudo o que penso — avisou ela, séria. — Depois
não reclama.
— Pode falar, eu deixo, já sou bem grandinho, tenho
certeza de que sou capaz de aguentar — Trent a incentivou
com um brilho divertido nos olhos, estava achando aquilo
engraçado.
— Está bem, então! O que penso é que você é um
pretensioso, metido a gostoso, que se acha o máximo, e que
não pode ver mulher, pois logo vai dando em cima. Como
estou me saindo até agora?
— Uau! De uma coisa eu já sei, você não mente, disse
que fala o que pensa e fala mesmo. Estou impressionado! E
deduziu tudo isso assim, só de olhar para mim? — E você
nem imagina o que eu penso ao olhar para você...
— Correndo o risco de ser precipitada, sim, foi isso
mesmo. — Confirmou ela.
— Posso saber o porquê de toda essa violência verbal? É
sério que você pensa isso de mim?
— Do fundo do meu coração! Mas só falei porque você
pediu. Estou errada?

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— O que você acha?


— Se eu soubesse, não estaria perguntando. Posso me
enganar, mas são raras as vezes em que isso acontece.
Geralmente, a minha primeira impressão é a correta —
assegurou Betsy, resoluta.
— Ouch! Essa doeu, foi direto no fígado! — Trent levou
a mão à lateral da barriga fazendo cara de dor. — Que tal uma
massagem? — provocou endireitando o corpo.
— No seu ego? Não precisa. Pelo que vejo, ele já está
bem amaciado. — Retrucou Betsy, irritada com o jeito
irreverente de Trent.
— Essa atingiu o estômago! — Trent se curvou em dois.
— Se continuar assim, não saio andando daqui — voltou a
provocar com um sorriso torto.
— Você se acha “o” engraçado, né? — Betsy indagou
torcendo a boca.
— Eu não me acho nada, só estou me defendendo. É
você que está me atacando, e eu nem sei por que, uma vez que
nem me conhece... — Trent fez uma pausa antes de dizer a
última palavra, com uma expressão sacana no rosto. —
Ainda!
— E nem quero, não faço a menor questão de te
conhecer — assegurou a mulher, virando o rosto.
Trent a olhou de esguelha, intrigado.
— Antipatia gratuita?

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— Pode ser. Quem se importa? — respondeu Betsy,


evitando olhá-lo.
— Eu. Talvez.
Betsy se calou. Não entendia o que se passava com ela.
Nunca tinha sido tão agressiva com alguém antes, e muito
menos fazia julgamentos precipitados. O que esse cara tinha
que a irritava tanto? Será que era o sorrisinho irônico no canto
da boca? Ou a postura de macho alfa com o olhar de “eu
como todas, porque eu posso” que a tirava do sério?
— Melhor pararmos por aqui — sugeriu ela, contendo-
se.
— Por quê? — Trent quis saber, agora estava ainda mais
curioso.
— Porque não quero ser injusta, como você mesmo
disse, eu não te conheço — Betsy esclareceu em um tom de
voz impaciente.
— Entretanto, “conhece o meu tipo”, e pelo que percebi,
não gosta nem um pouco. O problema é comigo?
— Eu não tenho problema nenhum com você!
— Interessante você dizer isso depois do modo como me
julgou ainda há pouco — comentou Trent.
Por que o que essa mulher pensa de mim deveria me
importar, ou pior, me incomodar tanto?
Betsy fixou o olhar sobre o homem uma vez mais e
resolveu ignorar o último comentário feito por ele.
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Trent voltou a sorrir. A mulher era arisca e parecia não ter


ido com a sua cara. Será mesmo? Não sabia, porém, poderia
ser interessante e divertido tentar descobrir.

— São mais feios do que sérios, princesa. — Grant


observava a expressão angustiada de Danna, que tinha o olhar
fixo em seus ferimentos. — Não se preocupe, logo vão sarar,
eu vou ficar bem e me levantar daqui — voltou a tranquilizá-
la.
Dana elevou o olhar para o rosto de Grant com algum
esforço.
— Eu sei disso, meu amor, só que me dói te ver assim —
disse e sentiu lágrimas chegarem aos olhos.
— Não, por favor, não chora, eu prometo que ficarei
bom logo — Grant a consolou, tomando-lhe uma mão entre as
suas. — Com você ao meu lado, já quero me levantar e sair
correndo daqui! — brincou. — Um sorriso? Por mim?
— Por você? Tudo! E a ebulição dos hormônios já
começou. — Ela sorriu entre lágrimas, as secando com a mão
livre. — Tive medo de te perder quando soube, é isso.
— Não vai me perder — garantiu Grant.
— Você me promete? — pediu Danna, descansando a
mão na lateral de seu rosto. Grant esfregou a face nela e girou
o pescoço, de leve, beijando a palma.
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— Claro que sim. Eu te amo e não vou a lugar nenhum


sem vocês dois! — Grant tentou sorrir, mas não conseguiu.
De repente, sentiu-se fraco e cansado.
O ruído da porta sendo aberta chamou atenção de Danna,
que viu quando uma enfermeira, risonha e de meia-idade,
adentrou o quarto trazendo uma bandeja nas mãos. Notou que
ali continha a medicação de Grant.
— Vou pedir que a senhora se despeça. O paciente
precisa descansar.
— Está bem — Danna assentiu. — Estarei lá fora, meu
amor.
— Ok, mas não vá embora sem antes falar comigo —
pediu Grant, sentindo as pálpebras cada vez mais pesadas. —
Precisamos conversar.
— Teremos tempo para isso, não saio daqui sem você —
Danna anuiu, inclinando-se e beijando-o nos lábios. — Vou
ver com o médico se posso ficar aqui, não me demoro —
avisou com o rosto muito próximo ao dele.
Grant não respondeu, apenas balançou a cabeça,
sinalando que havia entendido, e fechou os olhos. Danna
deixou o quarto e foi ao encontro de Betsy e Trent, que
aguardavam sentados na sala de espera. Ao se aproximar dos
dois, teve a nítida impressão de que estava interrompendo
alguma coisa. O clima entre eles parecia estranho, e sentiu a
amiga um pouco tensa.
— Tudo bem por aqui? — perguntou ela, fitando-os
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desconfiada.
— Claro que sim! Por que não estaria? — Betsy forçou
um sorriso, apressando-se em responder.
— Por nada... Eu só pensei... Ah, deixa para lá. —
Danna desistiu de colocar em palavras o que se passava em
sua mente. — Vou falar com o médico responsável, ver com
ele se posso passar a noite aqui — avisou, os observando com
curiosidade.
É impressão minha ou eles parecem incomodados um com
o outro?
— Vou com você! — Betsy se ofereceu prontamente.
Qualquer coisa para sair daqui e ficar bem longe dele!
— Está bem. Trent, você fica? Eu volto logo, e depois,
se quiser, pode ir descansar um pouco. O Grant comentou
comigo que você está aqui desde ontem.
— Se for ficar, aceitarei a oferta, estou quebrado! —
Sorriu para ela.
— Danna, você vai passar a noite aqui no seu estado,
amiga?
— Vou ficar bem. Tem um sofá no quarto e me pareceu
bem confortável, além do mais...
— Já sei, nem precisa completar, não vai ficar sossegada
e blábláblá... — Betsy falou dando de ombros. Sabia que não
conseguiria demovê-la da ideia de passar a noite com o
amado.

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Danna riu do jeito irônico de Betsy e do fato de conhecê-


la tão bem.
— Isso mesmo, ainda bem que você me entende. Ah,
antes que eu me esqueça! Trent, se eu puder ficar, será que
você poderia ajudar a Betsy a conseguir um quarto em algum
hotel aqui perto? Nem nos lembramos de fazer as reservas
antes de virmos para cá. Estávamos um tanto afobadas,
admito!
— Danna?! Não precisa! Eu posso me virar! — Betsy
chamou a atenção da amiga. A última coisa que queria era
dever um favor para o grandão, que sorria irônico ao seu lado.
— Não aqui, nessa cidade, onde nunca estivemos antes
— ponderou Danna. — Mas para ele é mais fácil, apesar de
que, pelo horário, tão em cima da hora, não sei, não...
— O que está se passando nessa sua cabeça? — inquiriu
Betsy.
— Ué, o lógico! Que você poderia passar a noite no
apartamento do Trent! — Danna respondeu e logo se dirigiu a
ele. — Pode ser? Mas só se não for muito incômodo para
você.
— Claro que pode, e não será incômodo algum, pelo
contrário, vai ser um prazer receber a sua amiga na minha
humilde residência. — Trent alçou as sobrancelhas, rindo-se
da cara que a morena fez ao ouvi-lo.
Betsy estava inconformada, porém, não podia culpá-la,
já que Danna não fazia ideia de como ela se sentia com
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relação àquele homem. Talvez fosse só implicância sua. Na


verdade, ele não havia feito nada, e, no fundo, tinha que
admitir que a amiga estava certa, seria mesmo muito mais
prático ficar com ele do que sair por aí à procura de um quarto
em plena madrugada.
— Vamos falar com esse doutor e resolver isso logo.
Depois podemos ir, Trent — falou Betsy, aceitando a oferta,
pegando a amiga pelo braço e saindo dali com ela.

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“Well, sing with me, sing for the years


Sing for the laughter and sing for the tears
Sing with me, if it is just for today
Maybe tomorrow
The good Lord will take you away
Dream on, dream on, and dream on
Dream until your dream comes true
Dream on, dream on, and dream on
And dream until your dream comes true”
Dream on – Aerosmith

San Diego, CA.


Betsy e Trent caminhavam pelo estacionamento do
hospital. Ele andava na frente, com ela o seguindo e puxando
sua mala. Como era tarde e tudo estava em completo silêncio,
só se ouvia seus passos e os ruídos produzidos pelas rodinhas.
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Adentraram por alguns metros e pararam ao lado da moto de


Trent.
— Eu vou ter que subir nisso aí? Não, não. — reclamou
Betsy, fazendo movimentos de negação com a cabeça. — Eu
não subo, não sou obrigada! — acrescentou olhando para a
moto como se essa fosse uma coisa do outro mundo.
— É o que temos para hoje, morena — Trent afirmou.
— E o carro que você usou para nos buscar no aeroporto?
— Era de um amigo. Peguei emprestado e tive que
devolver, já que o meu deu perda total no acidente sofrido
pelo Grant. Qual é o problema? Não me diga que nunca
andou em uma dessas ou que tem medo... — provocou.
— Nem uma coisa nem outra. Já andei, sim, mas foi há
muito tempo, e não, não é medo. O que eu tenho se
chama instinto de autopreservação altamente desenvolvido!
— Em outras palavras, você tem medo! — Ele riu e
estendeu a mão para ela, que hesitou em aceitar.
— Não vai dar para levar a minha maleta — argumentou
ela, ainda parada no mesmo lugar.
— Sim, vai dar. Eu dou um jeito de prendê-la na parte de
trás do assento.
— Ainda não sei se posso confiar em você!
— O lance de eu ser um desconhecido? Por favor, supera,
Betsy!
— Não é isso, é que não tenho o hábito de andar de moto,
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ainda mais com um homem como você.


— Como assim um homem como eu? Não entendi.
— Alguém como você, ora! Eu não vou ficar explicando e
você me entendeu, sim!
Trent deixou escapar um suspiro, profundo e exasperado.
— Não faço a menor ideia do que você está falando e,
sinceramente, não estou com paciência para ficar tentando
decifrar esse mistério. Estou cansado, praticamente não dormi
a noite passada. Dá para subir na garupa da moto? Aproveita
que estou fazendo o maior esforço para ser compreensivo e
deixa de agir como uma menininha mimada e medrosa;
comece a agir como a mulher adulta que você é! — Trent
bufou. Tomou uma respiração profunda para se acalmar. Não
pretendia ter sido mal-educado ou indelicado, mas a mulher o
estava tirando do sério. Esticou o braço em sua direção. —
Vem, andar de moto é muito seguro, não vai te acontecer nada
— garantiu em um tom de voz mais calmo e controlado.
— Eu sei que é, não precisa me tratar como se eu fosse
uma idiota!
Trent a fitou visivelmente contrariado.
— Quem aqui está te tratando assim, mulher? Quer fazer o
favor de baixar as armas?
— Está bem — cedeu Betsy, irritada sem sequer saber o
porquê, afinal, ele tinha razão. — Não sei o que me deu hoje,
acho que foi toda essa situação, o acidente do Grant, a viagem
inesperada, a preocupação com aqueles dois. Você não tem
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nada com isso, me desculpe.


Estava mesmo agindo como uma garotinha medrosa e
chata, e essa não era ela. Não estava se reconhecendo.
Respirou fundo e aceitou a mão, forte, morena e de dedos
longos, aberta em sua direção. Trent já havia prendido a
maleta no assento e a ajudou a se sentar na garupa, onde
Betsy se ajeitou colocando ambas as mãos espalmadas em
seus ombros.
— Te aconselho a se segurar na minha cintura — sugeriu o
advogado, girando o pescoço para poder vê-la.
Ela acatou a sugestão e desceu as mãos devagar,
envolvendo-o, sentindo o calor e a firmeza da musculatura de
seu abdômen. Aproximou-se um pouco mais encostando o
queixo em suas costas, aspirando o cheiro amadeirado da
colônia que ele usava misturado ao seu odor natural de
homem repleto de testosterona. Sem querer, se viu inalando,
com prazer, aquele aroma inebriante.
— Tudo bem aí atrás? — perguntou Trent, ligando a moto
e a movendo com ambos os pés para colocá-la em
movimento.
— U-hum. Tudo — respondeu Betsy, embora sem muita
segurança, e um medo repentino a atingiu, obrigando-a a
abraçá-lo com mais força, apertando o rosto em suas costas, o
que a fez sentir o couro macio da jaqueta de encontro à pele.
Trent notou os movimentos de Betsy na garupa e sorriu,
acelerando. Estava louco para chegar em casa, tomar um bom

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banho e desmaiar na cama.


Como era madrugada, a avenida estava vazia, então
levaram apenas alguns minutos para chegarem ao
condomínio. Após a moto passar pelo portão, estacionar e
Trent desprender a maleta do assento, ambos subiram até o
apartamento. Betsy entrou logo depois dele, e foi dando uma
olhada geral no lugar. Notou os poucos móveis, as coisas para
desencaixotar, mas o que mais a impressionou foi a linda
visão das luzes da cidade, que podia contemplar da espaçosa
varanda. Voltou para a sala e ficou à espera.
— Onde que eu vou dormir? — indagou Betsy, sentindo-se
um pouco incomodada por estar sozinha com ele naquele
apartamento.
— No quarto de hóspedes — respondeu Trent, dirigindo-se
a um pequeno corredor e abrindo uma das portas. — Está um
pouquinho bagunçado, não tenho recebido visitas —
esclareceu. — Mas acho que você poderá se acomodar bem
aqui.
O quarto era espaçoso e tinha uma janela ampla, com uma
enorme cama de casal posicionada bem ao centro. Betsy
levou o olhar para a outra parede e notou o armário embutido
ao lado de uma pequena cômoda.
— Banheiro?
— O daqui infelizmente está com problema, avisei o
síndico, mas ainda não arrumaram, vai ter que usar o do
corredor, que fica aqui ao lado.

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— Está bem. Obrigada — Betsy agradeceu. Entrou e


colocou a maleta sobre a cama, abrindo-a em seguida.
— Bom, fique à vontade. Estarei no quarto em frente, caso
necessite de algo. Boa noite — Trent se despediu.
Ela o viu se virar para sair. Ele era uma figura
impressionante, um belo espécime masculino, e ela não pôde
evitar fitá-lo com um olhar de cobiça.
— Boa noite — retribuiu, voltando a se concentrar em
desfazer a mala.
Resolveu tomar um banho antes de se deitar, uma vez que
se sentia acalorada e suja depois de várias horas de voo e
outras tantas no hospital.
Separou uma camisola de seda na cor marfim – longa, com
renda no decote e na barra, decotada e vaporosa, propícia para
o calor que fazia – e a esticou sobre a cama. Saiu do quarto,
olhou para os lados e não viu nenhum movimento. Andou
devagar, sem fazer barulho, e entrou no banheiro, onde
terminou de se despir, prendendo o cabelo em um coque
frouxo. Dentro do box, ligou o chuveiro e começou a apreciar
os jatos de água morna caindo pelo seu corpo cansado.
Sentindo-se relaxar, começou a cantarolar.
Minutos depois, pronta para sair, Betsy abriu a porta do
box e se deparou com ele ali, em pé, de frente para a pia.
Deixou escapar um grito.
— Trent! Que susto! O que você está fazendo aqui? —
questionou se escondendo como podia atrás do vidro
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embaçado.
— Estou só escovando os dentes, em cinco minutos eu saio
— Trent respondeu displicente, dando uma olhada rápida em
sua direção e voltando ao que fazia.
Betsy notou que o folgado estava sem camisa, exibindo
aquele peito largo com escuros pelos na medida certa. Esses
desciam pelo abdômen definido, como tinha imaginado que
seria quando os tocou no caminho até ali, sumindo em uma
linha fina sob o cós baixo da calça do pijama que ele usava.
Uau, que visão mais sexy é essa? G-suis!, pensou, mas
logo se obrigou a se concentrar em outra coisa, voltando a
olhar para o seu rosto.
— Mas por que aqui? Imagino que seu quarto seja uma
suíte, não? — Betsy perguntou em um tom de voz
desagradável, tratando de disfarçar o que realmente se
passava com ela.
— De fato, mas deixei minhas coisas nesse aqui. Para
mim, desse jeito, tem sido mais prático.
— E está aí há quanto tempo? — ela quis saber, sentindo-
se constrangida devido à situação em que se encontrava.
— O suficiente para saber que você canta muito mal. —
Trent riu.
— Idiota! — Betsy resmungou entredentes.
— Eu ouvi isso — avisou Trent, um segundo antes de
enxaguar a boca para eliminar os resquícios de pasta.

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— E daí que você ouviu? — Betsy não resistiu em


provocá-lo.
— Não me provoca, Betsy... — Trent a advertiu divertido.
— Você não está em uma posição, digamos, favorável nesse
momento. — Fitou-a com malícia.
Betsy foi capaz de ver um brilho diferente naqueles olhos
cor de café, e isso a fez terminar de fechar a porta do box
usando um pouco mais de força do que o necessário.
— Além de medrosa, é puritana. Eu mereço! — Trent
grunhiu, e em segundos sentiu o ventinho de um objeto
passando muito próximo de sua orelha. Seguiu-o com os
olhos e viu o frasco de xampu caído aos seus pés.
— Epa! Quantos anos você tem? Quinze? — Trent
indagou em um tom de voz irritado. — Será que dá para agir
como uma adulta aqui? Você quase me acertou com isso! —
reclamou pegando o recipiente do chão e o mostrando para
ela. Agora ele a olhava sem nenhum rastro de humor. —
Escuta, eu sei que você não foi com a minha cara. Por quê?
Só Deus sabe! Mas podemos, pelo menos, passar uma noite
sob o mesmo teto agindo como duas pessoas adultas e
civilizadas? Eu até estava achando divertida essa sua
implicância comigo, só que acabou de perder a graça! —
ressabiado, explodiu.
Betsy, que tinha agido por impulso, sentiu-se culpada.
Precisava admitir que o homem estava certo, pois o gesto de
jogar o frasco de xampu em cima dele havia sido uma atitude
imatura e sem sentido, além de perigosa.
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— Eu sinto muito. Você tem razão. O que fiz foi uma


bobagem — desculpou-se consternada. — Você pode pegar
uma toalha para mim, por favor?
Trent ouviu e, inclinando-se, abriu o armário e pegou uma
toalha branca, grande e felpuda, passando-a para ela, no
entanto, mantinha a cara fechada. Tinha dado dois passos na
direção da porta, para deixar o banheiro, quando estacou,
como se tivesse pensado melhor e desistido de sair.
Betsy, que tinha se enrolado na toalha e esperava que ele
saísse para poder fazer o mesmo, estranhou o fato de o
homem ter parado bem na sua frente. Então, o viu se virar
para ela, se aproximar e a obrigar a recuar até encurralá-la
contra uma das paredes. Levou a mão até seu queixo,
forçando a mulher a encará-lo.
— O que exatamente você tem contra mim? — quis saber
ele, com os seus um metro e noventa de altura e noventa e
cinco quilos de carne, nervos e músculos muito próximos a
ela.
Os olhos escuros e profundos perscrutavam atentos o seu
rosto, e Betsy engoliu em seco, os olhos arregalados. Precisou
puxar o ar até os pulmões, uma, duas vezes antes de conseguir
responder.
— Tudo, quero dizer, nada — corrigiu-se rapidamente. —
Por quê? Por acaso te incomoda saber se eu tenho algo contra
você ou não?
— Bastante, mas você sabe, não sabe? — Trent tocou a

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lateral de seu rosto, deslizando os dedos por ele. O outro


braço, esticado, com a mão espalmada na parede onde ela
estava encostada.
— Eu não sei de nada — Betsy negou. — O que
exatamente eu deveria saber?
— O que está para acontecer aqui — respondeu Trent,
aproximando-se mais, quase a ponto de seus corpos se
tocarem.
— Não vai acontecer nada, nós vamos para a cama dormir,
só isso.
— Para a cama nós vamos, sim, mas dormir vai ser a
última coisa que faremos. — Trent falou insinuante. Levou a
mão até a parte de trás da cabeça de Betsy e desfez seu coque.
Ficou olhando, fascinado, as mechas negras e brilhantes
caírem livres sobre seus ombros.
— O que você pensa que está fazendo? Viu como não me
enganei? Não passa de um arrogante convencido se pensa
que...
— Dá para calar a boca?
— Não calo! Deixe-me sair daqui!
— Eu estava pensando comigo mesmo, já que você tem
uma péssima ideia de mim, sem nem mesmo me conhecer, eu
não tenho motivos para me esforçar a te provar que não sou
como você imagina, estou certo?
— Por que está fazendo isso? — indagou Betsy, sentindo-

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se acuada.
— Não estou fazendo nada... ainda! — Trent inclinou a
cabeça até a curva de seu pescoço, sem tocá-lo, apenas para
fazê-la sentir seu hálito quente contra a pele, e logo voltou a
encará-la. — Escuta, nós dois somos adultos e sabemos o que
está acontecendo aqui, não precisamos enrolar e nem fazer
joguinhos, você não acha?
— Merda! — Betsy praguejou baixinho.
— O quê? — Trent não entendeu o motivo do xingamento.
— Nada, não falei nada.
Betsy olhou-o, estava alerta, e assim que pôde, aproveitou
um momento de distração de Trent e, em um movimento ágil,
abaixou o corpo, passando sob o seu braço esticado apoiado
na parede. Saiu às pressas do banheiro, deixando um Trent
rindo atrás dela.
— Covarde! — Trent falou alto o suficiente para que ela
pudesse ouvir um instante antes de entrar no quarto de
hóspedes e fechar a porta.
Betsy encostando-se a ela por um minuto enquanto
recuperava o fôlego. Só então notou quanto seu coração batia
acelerado, e para o seu horror, sentiu as pernas bambas.
— Mas que diabos está acontecendo? — perguntou-se,
esticando o braço diante do corpo e vendo quanto sua mão
tremia. — E por que esse ser arrogante e irritante mexe tanto
comigo?

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Danna acordou de repente e levou um segundo para se


lembrar de onde estava. Ao recordar, levou o olhar
imediatamente para a cama, onde Grant dormia sereno. Havia
conseguido a autorização para permanecer ali, no quarto,
durante o período de internação. Sabia que ficar em um
hospital seria cansativo, mas estava disposta a fazer o que
fosse preciso para estar junto a ele.
Grant havia lhe dito que precisavam conversar, porém, ela
não fazia ideia sobre o que seria. De qualquer maneira, teria
que esperar que ele despertasse para questioná-lo a respeito.
Continuou observando-o no sono. Parecia estar melhor. Ou
seriam seus olhos amorosos que desejavam tanto que ficasse
bom logo e, por isso, viam o que queriam ver? Só estava certa
de uma coisa: Grant, em breve, voltaria a ser o mesmo
homem de antes, e isso era mais do que suficiente.
Sentiu uma onda de náuseas a tomar e precisou se levantar,
rápida, e se dirigir ao banheiro. Os enjoos geralmente se
davam pela manhã, e algumas vezes à noite também, mas isso
era até bom, porque a ajudava a não se esquecer da vida que
carregava no ventre, que ainda era minúscula, entretanto, que
já começava a amar, assim como amava o pai.
Saiu do banheiro apoiando-se na parede, ligeiramente
tonta.

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— Danna, está tudo bem? O que foi? — perguntou um


Grant preocupado ao notar em como estava pálida.
Dana sentiu-se um pouco assustada, pois não tinha notado
que ele havia despertado.
— Não é nada, foram só náuseas, mas já passou —
respondeu ela, aproximando-se dele. — E você? Como está?
— Eu me sinto bem, ainda mais com você aqui comigo —
afirmou Grant, com um sorriso charmoso.
— Jamais deixaria você sozinho. Eu sei que não quis
preocupar e nem envolver a sua família.
— É, foi melhor assim, eu falo com eles quando sair daqui.
Agora, vem aqui, chega mais perto — Grant a chamou e
Danna fez o que ele pediu. — Eu te amo e quero que você
saiba que é a única, que é a mulher da minha vida.
— Eu também te amo e você é o único homem para mim, é
o meu amor, o pai do meu filho, e sabe disso — afirmou
Danna, fitando-o com carinho. — Mas por que está me
dizendo isso agora?
— Como eu te disse ontem, nós precisamos conversar,
princesa — Grant começou a falar. — Me faz um favor? Pega
aquele controle e levanta a cama um pouco?
— Claro. — Danna pegou o controle e fez o que ele lhe
pediu. — Assim está bom?
— Está ótimo — Grant afirmou. Agora estava recostado,
quase sentado. — Obrigado. Bem, como eu ia dizendo, não

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vou poder voltar para a sua casa.


— Não? E por quê?
— Preciso te contar o que eu e o Trent descobrimos, são
coisas muito importantes, e perigosas também. Necessito que
você confie em mim, Danna.
— Está bem, eu confio, mas me fala o que é tão importante
assim.
— Lembra-se de quando eu te contei sobre o meu passado?
Que eu investigava uma rede de tráfico de mulheres e que eu
queria muito descobrir quem era o cabeça dessa organização?
— Sim, lembro, a pessoa que comandou tudo e fez com
que te incriminassem.
— Isso mesmo. Eu te contei também que tinha ido para
Nova York seguindo uma pista, mas que não tinha dado em
nada, e sobre o pen drive.
— Sim, está certo, continua — Danna o incentivou a
prosseguir.
— Naquele pen drive encontramos arquivos com
movimentos, datas, nomes, locais, tudo referente à operação,
inclusive o Trent já entregou para o promotor, que abriu uma
investigação para poder colocar essa corja na cadeia. Mas o
que eu queria te dizer é que já sei quem é o responsável por
tudo isso.
— Já? E quem é? — perguntou Danna, incapaz de conter a
curiosidade.

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— No pen drive havia referências sobre ele, inclusive uma


pasta com fotos dele e da família. Trata-se de uma pessoa
inteligente e muito esperta. Para todos os efeitos, é um
homem de negócios, rico, bem-sucedido e acima de qualquer
suspeita. Esse homem, Danna, é o seu ex-marido — revelou,
olhando-a atentamente, aguardando sua reação. — Quem
comanda tudo é o Caleb Green.
Danna se surpreendeu. Horror, espanto e surpresa a
definiam naquele momento.
— Como assim, Grant? O Caleb, chefe disso tudo? Você
tem certeza?
Como ela poderia acreditar que o ex-marido pudesse ser
um mafioso, um bandido, envolvido com coisas tão sórdidas
como aquelas?
— Por favor, Danna, preciso que você fique calma. Não
estou te contando isso para que se ponha nervosa, se ficar
assim, não poderei continuar.
— Não, não ficarei, vou me controlar, eu prometo, mas,
por favor, não pare. Eu não estou conseguindo acreditar nisso.
Desculpa, mas é que fui tão cega a tudo o que ele fazia
durante esses anos em que estivemos casados... Meu Deus,
como eu fui burra! Agora sei que o Caleb é capaz de fazer
qualquer coisa. Esse homem é um maldito, um ser malévolo!
Eu nunca poderia sequer imaginar uma coisa dessas, nem nos
meus piores pesadelos. Grant, e o seu acidente? Foram eles,
não foram? Esses bandidos fizeram isso com você. Tentaram
de matar — concluiu, aterrorizada.
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Ela ficou receosa ao levar os pensamentos para a filha, e


quando tivesse que contar isso tudo para ela? Sabia que ia
sofrer, porque, apesar de tudo, ele era o pai da Amy, o único
que sempre teve e que a criou, seria uma enorme decepção.
Grant a ouviu e acreditou nela, não porque desejasse
acreditar só porque a amava, mas porque podia ler a verdade
em seus olhos enquanto falava. Danna foi apenas uma vítima
inocente daquele calhorda, assim como a Amy. Não poderia
nunca pôr em dúvida o que a mulher à sua frente lhe dizia.
— Sim, foram eles — confirmou. — De alguma maneira
me descobriram aqui e me jogaram para fora da estrada.
Agora eles pensam que eu morri, e será melhor que
continuem pensando assim, por isso não posso voltar. A essa
altura, o teu ex-marido já deve saber quem sou eu.
— Entendo. E voltando ele saberia que não morreu e você
continuaria correndo risco de vida.
— Isso mesmo. Vou ter que arrumar um lugar para ficar,
um que seja discreto, onde não possam me encontrar, pelo
menos até que tudo isso acabe. Por isso também eu não quis
envolver a minha família, mas para você eu precisava falar,
preciso te proteger dele também, você e o nosso filho.
— Você tem razão, precisamos ver isso, pensar com
cuidado no que faremos. Ainda bem que a Amy só volta da
casa dos avós daqui a um mês, até lá não precisará saber de
nada.
— Eu queria te fazer uma pergunta — Grant pediu

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segurando suas mãos nas dele, olhando-a nos olhos.


Danna apenas respondeu ao seu olhar, ficando à espera.
— Já que eu não posso voltar para Nova York, você ficaria
aqui, em San Diego, comigo?
— Grant, não tem outro lugar no mundo onde eu queira
ficar que não seja com você, ao seu lado, mas eu tenho minha
casa, minha filha, o processo do divórcio... Não acha que se
eu sumir assim, de repente, não levantará suspeitas?
Precisamos pensar bem nisso, meu amor, mas é claro que
quero ficar com você.
— Sim, você tem razão, mas tenho medo de que ele possa
fazer algo contra você e o bebê. Vocês correm perigo, não
ficarei tranquilo se não estiver aqui, sob as minhas vistas.
— Eu te amo, vamos fazer isso dar certo. O que eu posso
te dizer é que temos duas semanas para ficarmos juntos e
decidirmos o melhor a fazer de agora em diante. Está bem
assim? — perguntou ela, usando uma das mãos para tocá-lo,
acariciando sua face e sentindo os fios macios de sua barba.
Deus, como eu amo esse homem! Não quero, nunca,
jamais, sair de perto dele.
— Está, sim. Mas já chega desse assunto, por agora, pelo
menos. Vem aqui, mais perto de mim, e me dá um beijo —
pediu Grant, puxando-a com o braço bom e sorrindo satisfeito
com a mulher atendendo ao seu pedido.

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“You need coolin’, baby, I’m not foolin’


I’m gonna send you back to schoolin’
Way down inside honey, you need it
I’m gonna give you my love
Wanna Whole Lotta Love”
Wanna Whole Lotta Love – Led Zepellin

San Diego, CA.


— O que é que eu estou fazendo, cacete? — perguntou-se
Betsy, com raiva de si mesma, enquanto passava a camisola
pela cabeça e enfiava os braços nela, alisando as laterais e
levando as mãos até os cabelos, balançando a cabeça para
frente e para trás. — Nunca fui de fugir de homem nenhum.
Eu, covarde? Não sou nenhuma covarde e esse filho da mãe
vai saber disso e vai ser já!
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Deu uma olhada no espelho e ajeitou os cabelos, saindo


pela porta com passos decididos. Parou por um momento na
frente da porta do quarto de Trent, porém, nem se deu ao
trabalho de bater, foi logo entrando. Sou folgada mesmo, e
esse homem me deixou irritada!
— Escuta aqui, seu... — Estacou no mesmo instante, pois
parecia não ter ninguém ali, a cama estava vazia. Percebeu
que tinha falado sozinha e se virou para sair e voltar para o
próprio quarto, quando deu de cara com ele, voltando da
cozinha com um copo e uma jarra de água pela metade nas
mãos.
— Estava me procurando? Precisa de alguma coisa? —
perguntou Trent, atravessando o quarto passando por ela,
depois colocou o que trouxe sobre a mesinha de cabeceira.
— É, estava, eu queria falar com você — confirmou sem
tirar os olhos de cima dele.
— E o que você quer comigo, fujona?
— É sobre isso mesmo que eu queria falar, acho que te dei
a impressão errada quando saí daquele jeito do banheiro. —
Betsy respirou fundo antes de continuar. — Eu não sou
nenhuma covarde.
— Então por que saiu correndo?
— Não é óbvio? Eu tinha acabado de sair do banho e...
Trent se aproximou devagar, parando à sua frente.
— Para de enrolar, Betsy! A única coisa óbvia, para mim,

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é que você me deseja tanto quanto eu, caso contrário, não


teria vindo aqui me procurar. Seja o que for que tenha para
falar comigo, poderia esperar até amanhã, ou não? —
argumentou ele, fitando-a de uma maneira séria e intensa.
— Caramba, direto e reto, sem filtro! E eu que sempre digo
que falo o que penso...
— Sou contra a perda de tempo e a favor da pró-atividade
— Trent falou com certo cinismo.
— Entendo, mas você só consegue pensar nisso? Ou
naquilo? Ah! Tanto faz, você entendeu.
— Com você aqui no meu quarto, de hobby e com essa
camisolinha transparente que me deixa ver perfeitamente que
está nua por baixo dela, fica um pouco difícil pensar em outra
coisa.
Após dizer isso, Trent esticou o braço, passando as pontas
dos dedos pela base do pescoço de Betsy, seguindo pelo colo
até descansar no vale entre seus seios. Ela não se mexeu, pois
não esperava pelo gesto ousado, tão sensual que sentiu a pele
arrepiar onde era tocada. Prendeu a respiração ao sentir que
acabava de cair na própria armadilha.
— Vejo que estou perdendo o meu tempo. — Ela se virou
para sair.
— Vai fazer isso mesmo? Vai agir feito uma criança
birrenta? Quanta maturidade! Desse jeito você me
decepciona, morena! — provocou Trent, olhando-a de cima a
baixo com aquele par de olhos, que já eram puxados,
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semicerrados e um meio sorriso irônico dançando no canto da


boca. — Está bem, eu não falo mais sobre isso, e prometo que
não vou te atacar, afinal, eu não sou um ogro, um troglodita,
apesar do que você pensa. Eu queria, inclusive, me desculpar,
acho que exagerei com você. Não estou em um dos meus
melhores dias, estou certo de que consegue me entender. —
Seu tom de voz era grave e macio, e seu caminhar suave
lembrava um felino prestes a atacar sua presa.
— Desculpe-me também — ela pediu o fitando,
hipnotizada pelo seu olhar profundo. — Eu também não
facilitei as coisas para você.
Essa mulher não me conhece. Se ela é jogo duro, eu sou
jogo duro e meio.
— Quer a verdade? Vou ser franco e o mais sincero
possível, porque esse sou eu. Não sou a favor de enrolação,
Betsy! Eu te desejo, você é uma mulher bonita, sexy, e sabe
que me atraiu logo de cara. Quer saber se eu quero ir para a
cama com você e enterrar o meu pau bem fundo dentro da sua
boceta para fazermos um sexo selvagem e de qualidade?
Claro que quero! Eu não seria um homem normal, saudável e
que adora comer mulher se não quisesse, mas eu não sou de
forçar ninguém a fazer nada contra vontade. — Declarou ele,
ficando à espera de algum comentário por parte dela. Sabia
que estava sendo cru, rude, beirando a grosseria, mas esse era
o seu jeito e não pretendia mudar, por nada e nem por
ninguém.
Betsy o fitou com um misto de espanto e indignação,
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porém, tinha que admitir que admirava a sua honestidade e até


preferia que fosse assim.
— Nossa, como você é convencido! Se o seu ego inflar
mais um pouquinho, é capaz de você começar a flutuar pelo
quarto — ela zombou dele.
Trent a encarou sério com as mãos cruzadas sobre o peito.
— E você não passa de uma mulherzinha petulante, mas
tudo bem, pode dizer que sou metido, arrogante, pode falar a
porra que você quiser, a verdade é que eu não preciso disso.
Gosto de mulher disposta e que me deseje tanto quanto eu a
desejo. E se pensa que agindo assim vai fazer o meu interesse
crescer, pode esquecer. Isso de “quanto mais difícil,
melhor” não serve para mim. Sou do tipo prático. Não quer?
Beleza, eu parto para outra, a vida continua e é curta demais
para ficar de mimimi. Bom, era isso, e se não tem mais nada
para me dizer, boa noite de novo e durma bem! — concluiu
ele, impassível.
Uau, que homem é esse? Só faltou falar: “se não quer, tem
quem queira”. Bom, na verdade, ele falou exatamente isso!,
pensou Betsy, boquiaberta. Agora ele mexeu comigo! Mexeu
com os meus brios de mulher livre, assumida e dona do meu
nariz!
— Está dizendo que, se acontecer algo entre nós, será só
um caso de uma noite? — questionou enquanto chegava mais
perto dele.
— Bem por aí! — confirmou Trent, intrigado e mantendo a

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postura indolente. Aquela mulher o fascinava, e ele tinha dito


tudo aquilo não só porque era o que pensava, mas também por
orgulho e autodefesa.
— Pensando bem, eu não tenho nada a perder, e até gosto
desse seu lado honesto para cacete de ser — afirmou Betsy,
dando mais um passo em direção ao homem à sua frente. —
Você me convenceu, vamos acabar logo com isso — decidiu
o fitando. Procurava parecer séria, no entanto, um sorrisinho
sacana ameaçava aparecer no canto de sua boca.
— Isso o que, mulher? Não ouviu o que acabei de te dizer?
— Trent indagou mantendo a postura, mas as mãos coçavam
com a vontade quase incontrolável de tomá-la com força em
seus braços.
— Não sou mulher de fugir do que sinto, comigo não tem
isso de fácil ou difícil. Somos adultos e o nosso desejo é
óbvio, nossos corpos se querem, se desejam, simples assim. E
você tem razão, a vida é muito curta para deixarmos de
aproveitar as oportunidades quando aparecerem na nossa
frente.
— E é isso o que eu sou para você? Uma oportunidade? —
indagou Trent, entre curioso e divertido.
— Você é o que quiser ser, mas, para mim, sim, sem
dúvida, o mesmo que, eu acredito, sou para você. E só para
deixar claro, não quero amarras de nenhum tipo. Acabo de
sair de um relacionamento e não estou em busca de outro,
mas confesso que a atração que estou sentindo por você me
pegou de surpresa — declarou Betsy, honesta, assim como ele
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havia sido um minuto antes.


— Assim está perfeito para mim. Também não procuro
nada do tipo, prezo muito a minha liberdade — Trent
concordou dando o último passo que os separavam um do
outro, chegando perto a ponto de seus corpos se roçarem. —
E essa vontade, esse desejo, também me surpreendeu, pela
força — confessou, tocando em uma mecha do cabelo de
Betsy e lhe dando um olhar intenso.
— Então, estamos conversados! Por que não me mostra do
que é capaz, senhor Trent Campbell? — Agora foi a vez dela
de se insinuar, olhando nos olhos dele e desfazendo o nó do
hobby que usava sobre a camisola, deixando-o deslizar pelos
braços e formar um montinho aos seus pés.
— Me desafiando, senhorita Betsy Scott? — questionou
ele, malicioso.
Betsy viu o sorriso safado dançando no canto de sua boca,
o que fazia seus olhos amendoados quase se fecharem.
— Talvez... — respondeu, devolvendo o olhar. — Posso te
fazer uma pergunta?
— Claro que pode, mas só uma. — As mãos grandes já a
prendiam pela cintura, a fazendo sentir toda a extensão de seu
corpo musculoso, forte, rijo e duro. Betsy precisou ficar nas
pontas dos pés para poder alcançar seu ouvido.
— Você nunca para de falar, não? E tem certeza que sabe o
que deve fazer? — provocou ela, passando a ponta da língua
pelos lábios secos devido à respiração que começava a ficar
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difícil.
Trent deixou escapar um risinho sacana ao ouvir a
provocação e foi abaixando a cabeça, devagarinho, enquanto
a mulher o esperava com a boca semiaberta. Encostou os
lábios nos dela e parou. Encarando-a, desafiou a si mesmo a
resistir por mais alguns segundos. Levou a mão até sua nuca e
enfiou os dedos naquela massa negra de cabelos, os
enroscando neles. Com um pequeno puxão, fez pressão para
trás, o que a obrigou a esticar o pescoço e inclinar a cabeça.
Sentiu as mãos da mulher apertarem os seus braços na altura
dos bíceps. Deixou-a em suspense, apreciando o momento, as
respirações se misturando. Levou a outra mão até a base do
seu queixo e fez o que desejou desde o primeiro instante em
que pôs os olhos em cima dela.
— Nem vou me dar ao trabalho de responder, partindo
logo para a ação — sussurrou e a beijou com fúria, fome,
paixão, liberando no beijo todo o tesão acumulado.
Betsy foi tomada de assalto por um desejo carnal, básico,
instintivo. O beijo de Trent beirava à crueldade, liberando
nela seu lado mais primitivo. Teve uma ligeira noção da mão,
que antes segurava firme em seus cabelos, aliviando a pressão
e passando a massagear o local, que havia ficado dolorido.
Trent dominou e tomou posse da mulher em seus
braços. Sem deixar de beijá-la, guiou-a até o meio do quarto e
empurrou seu corpo sem muita força, só o bastante para que
caísse sobre a cama. Betsy se ajeitou sem quebrar o contato
visual e o viu se inclinar o suficiente para lhe tirar a camisola
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pela cabeça, deixando-a completamente nua.


Levou as mãos até o cordão da calça do pijama, desfez o
pequeno nó e a retirou, deixando à mostra as pernas morenas
e fortes, como todo o resto do seu corpo. Subiu na cama,
ficando de joelhos. Sua postura era de um verdadeiro macho
alfa, tão ligado que fez Betsy perder o fôlego por um
momento. Sem ele precisar dizer nada, apenas lendo seus
olhos, ela soube o que o homem esperava dela, então
engatinhou até ele, tomando nas mãos sua ereção, completa e
pesada, a envolvendo com os dedos. Apertou um pouco e
encostou o rosto na glande avermelhada, tocando-a com a
ponta da língua, sentindo o seu gosto e fazendo movimentos
circulares. Um minuto depois, fechou os lábios ao redor dela,
sugando levemente. Ouviu o homem gemer levando uma mão
até a parte de trás de sua cabeça. Com a outra, elevou seu
queixo, para que o olhasse enquanto o chupava. Pressionou
sua nuca e a fez tomar mais dele em sua boca, entrando mais
da metade e logo voltando até a ponta.
Não demorou e ela encontrou o ritmo, então passou a sugar
e lamber, além de chupar, o fazendo soltar gemidos cada vez
mais fortes e roucos. Ficaram assim por alguns minutos,
quando Trent se retirou de sua boca quente e a deitou na
cama. Permanecendo de joelhos, inclinou-se e segurou o
próprio pau com uma das mãos, levando a outra até a fenda
lubrificada da mulher. Separou seus grandes lábios e
encontrou seu botão erótico, duro e ereto, e deu um ligeiro
apertão com dois dedos, o que a fez sugar o ar com mais
força. Continuou masturbando-a, parando apenas por um
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instante para pegar uma camisinha na gaveta do criado-


mudo. Abriu o invólucro e envolveu o pênis com movimentos
rápidos e seguros. O homem se posicionou entre suas pernas,
penetrando-a em um único movimento, lento e contínuo, só
parando quando a sentiu tomá-lo por inteiro.
— Quando você gozar, eu quero que diga o meu nome —
Trent comandou perto de seu ouvido, um segundo antes de
iniciar os movimentos de vaivém dos quadris. Os elevava,
deixando a cabeça do pau dentro dela, então descia, se
afundando por completo. A atração entre os dois era tão forte
que não precisaram de maiores preliminares para o desejo
explodir.
Betsy se agarrou nele, braços, pernas, pele e suor, ambos
se misturando e se tornando um só. A busca pelo prazer foi
aumentando, intensa e vital, os levando ao limite. Arfavam e
gemiam, no mesmo ritmo sensual e selvagem. Trent se
mostrou implacável, o ritmo cada vez mais acelerado, firme e
constante. Betsy sentiu o clímax se aproximando e aumentou
o ritmo dos próprios quadris, apertando mais seu sexo de
encontro aos dedos dele, usando a fricção incessante de sua
pélvis a seu favor.
Em questão de dois minutos, o calor concentrado ali
atingiu o ápice, e ela sentiu o fogo se espalhando pelos seus
membros, a tomando, quebrando, despedaçando em um
orgasmo avassalador, então atendeu ao pedido feito por ele, o
chamando pelo nome em meio a um longo gemido. Sentiu o
corpo desfalecer e se deixou jogar mole na cama, enquanto

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ele prosseguia, permitindo ruídos ininteligíveis escaparem da


garganta. Ela o sentiu se retesar acima de seu corpo e
arremeter até o fundo, soltando um grunhido forte e rouco no
momento em que liberou os jatos de porra quente dentro de
seu canal.
Trent manteve a posição por alguns segundos: de joelhos,
segurando com firmeza as coxas abertas de Betsy, a cabeça
inclinada para trás, o rosto contraído com gotas de suor
escorrendo pela testa, o peito subindo e descendo, a
respiração descontrolada. Pouco depois, se deixou desabar
sobre ela, que o recebeu, o enlaçando com braços e pernas.
Algum tempo depois, já recuperado, o homem sentou na
borda da cama.
— Merda! — exclamou irritado.
— O que foi? — questionou Betsy, levantando meio corpo
da cama e trazendo o lençol com ela, até a altura dos seios.
— Houston, nós temos um problema2.
— O que houve, Trent? — Betsy perguntou novamente,
elevando o corpo e apoiando-se em um cotovelo,
sobressaltada.
— Eu acho que você vai precisar tomar a pílula do dia
seguinte, porque a camisinha rompeu — declarou ele, girando
a cabeça para olhá-la de lado.
Betsy se jogou na cama e soltou um longo suspiro.
— Caramba, Trent! Que merda mesmo! Era só o que me

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faltava!
— Só a você? E eu? Não está nos meus planos ser pai tão
cedo, se é que um dia serei! — retrucou ele, enfático,
levantando-se e andando até o banheiro, retirando a
camisinha, dando um nó e a jogando na lixeira.

Os Hamptons, NY.
Caleb estava de pé, o celular no ouvido, em seu escritório
localizado em Manhattan. Olhava para a cidade através da
grande parede de vidro à sua frente. Fechava um de seus
vários contratos milionários. Pensou em ligar para Amy
depois de concluir a negociação, para saber dela se tinha
conhecimento da história da mãe com o faz-tudo, uma vez
que o detetive o havia avisado que tinha visto a ex-mulher
saindo com uma amiga no dia anterior e que, até aquele
momento, Danna não havia voltado para casa.
Cooper ainda estava tentando descobrir onde as duas se
encontravam. Minutos se passaram, até que terminou de falar
com o investidor. Ainda com o celular em mãos, discou o
número da filha, porém, foi interrompido pelo som do
telefone sobre sua mesa antes que a garota pudesse atender.
— Pois não, Kate?! — respondeu Caleb, desligando o
aparelho.
— Desculpe-me incomodá-lo, Sr. Green. Há duas pessoas
aqui dizendo que precisam muito falar com o senhor — a
secretária avisou e ficou aguardando instruções.
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— Não me lembro de você ter me avisado sobre uma


reunião... — comentou Caleb, indo até a mesa e se sentando
na cadeira de couro preto e espaldar alto. — De que empresa
eles são?
— Não avisei porque não se trata de uma reunião. Não
temos nada marcado com esses senhores, apenas me disseram
que precisam conversar com o senhor.
Enquanto Caleb ouvia a explicação da secretária, dois
homens altos, vestidos em ternos pretos, irromperam para
dentro de seu escritório antes de receberem qualquer sinal de
autorização. Nervosa, Kate os seguia.
— Eu pedi para os senhores esperarem na recepção! Não
podem ir entrando assim! — a secretária os advertiu, porém,
ambos a ignoraram e se aproximaram de seu chefe.
— Caleb Green? — indagou Foster, o semblante duro e
fechado.
— Sim, sou eu. E o senhor é...? — Caleb questionou se
pondo de pé atrás da mesa.
— Edward Foster, do gabinete da promotoria de San
Diego, Califórnia. E este aqui é o Sr. William Sanches, agente
do FBI.
Caleb sentiu um frio na barriga ao mesmo tempo em que
tentava entender do que se tratava. Esticou o braço para pegar
a folha de papel que o homem lhe oferecia.
— O senhor está sendo intimado a comparecer ao Tribunal
Federal de San Diego, Estado da Califórnia.
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— Não entendo. Por que tenho que ir até lá?


— Para prestar esclarecimentos sobre uma investigação
que se encontra em andamento, na qual o senhor teve o seu
nome citado — explanou Foster, sucinto.
— Investigação? Continuo sem entender. Do que,
realmente, se trata isso aqui? — perguntou ele, com os olhos
sobre a intimação.
— Como informei, a investigação se encontra em
andamento, saberá mais durante a audiência. E esses aqui são
dois mandados, um para o seu escritório e outro para a sua
casa, nos Hamptons. Temos agentes e especialistas lá fora que
estão instruídos a cumpri-los — informou o oficial de justiça,
passando os documentos para ele.
— Mas essa intimação é para amanhã, logo cedo! —
exclamou Caleb, mostrando-se inconformado. Como se
atrevem a me intimar dessa maneira, e tão em cima da hora?
Vão revistar meu escritório e a mansão? Que raio de
investigação é essa? Merda! Nem vou ter tempo de me
preparar e me livrar de coisas que possam me comprometer!,
pensou extremamente irritado.
— Exato, está correto. O assistente do promotor pediu
urgência, por isso viemos buscá-lo pessoalmente. O senhor
terá que nos acompanhar, precisamos ir embora agora mesmo
— instruiu Foster, não lhe dando qualquer chance de fuga ou
de se livrar de alguma prova.
— Mas isso é inconcebível! É uma atitude arbitrária, eu

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sou um cidadão de bem, pago meus impostos, tenho negócios


em andamento, assuntos a tratar! — Caleb enumerou,
gesticulando, furioso, ainda com a intimação na mão. — Não
posso me ausentar assim, de uma hora para outra, de maneira
tão intempestiva. Os dois estão loucos se pensam que vou sair
daqui com vocês! — vociferou com arrogância, mas, na
verdade, tratava de dissimular o temor de outra possibilidade
que acabava de lhe ocorrer.
Apesar do tom usado pelo homem irado à sua frente, o
agente da lei respirou fundo e manteve-se calmo e controlado.
— Essa intimação é de um Tribunal de Justiça Federal, se
o senhor não comparecer à audiência, tenho que adverti-lo
que será preso por desacato — informou Foster, muito sério.
— Entendo. Kate, por favor, ligue para o meu advogado e
peça para me encontrar neste local — pediu, passando a
intimação para ela. — Preciso ao menos pegar algumas
roupas, não posso viajar sem nada.
— O senhor poderá preparar uma pequena maleta com os
seus pertences. Nós o acompanharemos até sua casa, onde o
pessoal da perícia permanecerá para cumprir o mandado.
Outra equipe ficará aqui. Por favor, não vamos perder mais
tempo — falou Edward, impaciente.
Caleb não teve saída a não ser segui-los. Tribunal Federal?
Sobre o que poderia ser essa tal investigação? Será que o que
temia estava acontecendo? Será que o Garoto de Ouro tinha
feito uma cópia dos documentos do pen drive e enviado para a
promotoria antes de ser morto? Só podia ser isso! Agora tinha
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que dar um jeito de se safar dessa, pois se o que estava


pensando fosse mesmo verdade, estava perdido. Fodidamente
perdido! E todo o seu império viria abaixo.

San Diego, CA – Dias depois.


Danna pegou a bolsa, passou a alça pelo ombro e se
preparou para sair. Estivera no quarto durante toda a manhã e
precisava comer alguma coisa. O café da manhã, ingerido
mais cedo, jazia na bacia no banheiro.
Grant se sentia agoniado. Agora que estava melhor, não via
a hora de deixar o hospital. Viu a mulher se aproximar e lhe
dar um beijo.
— Vai sair? — ele quis saber tão logo se separaram.
— Vou até a lanchonete. Você quer que eu traga alguma
coisa?
— Um bife bem suculento. Ou um hambúrguer bem
gorduroso. — Grant fez cara de menino ao fazer o pedido. —
A comida daqui é horrível! — reclamou, porém, logo depois
sorriu para ela.
— Eu entendo, meu amor, e se pudesse, eu traria, mas,
infelizmente, você sabe que não dá. Vou aproveitar e
perguntar qual a previsão da sua alta. Já estamos aqui há dias.
— Por favor, faça isso mesmo. Não aguento mais ficar
aqui sem fazer nada, mesmo com você me fazendo
companhia. Estou com saudades de ficarmos juntos sozinhos.

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Sinto falta de namorar a minha mulher sem que nos


interrompam a todo o momento.
— Eu também sinto, mas o senhor tem que se lembrar de
que não pode fazer nenhum esforço. Precisa ter um pouco
mais de paciência, querido — advertiu ela. — Vamos ter todo
o tempo do mundo para ficarmos juntos depois que você sair
daqui — afirmou Danna, inclinando-se e roçando a ponta do
nariz no dele.
— Então já se decidiu se vai ficar comigo? — Grant
perguntou esperançoso.
— Estou quase lá. — O que Danna disse o deixou mais
animado. — Gostei da cidade, acho que posso me adaptar
aqui.
— Que bom ouvir isso, não sabe como me faz bem! — Ele
sentiu um grande alívio só com a possibilidade de a mulher
passar esse tempo na cidade com ele, e abriu um sorriso
quando o talvez se tornou uma certeza.
— Eu me recuso a ficar longe de você, nem que seja por
poucos dias. Sim, vou ficar. Eu quero estar ao seu lado
enquanto se recupera — confirmou ela, vendo a satisfação em
seu rosto. — Agora eu vou lá e já volto. Vai ficar bem? Uma
horinha sem mim? — provocou, sorrindo para ele.
— Não! — Grant negou fazendo birra, porém, logo depois
relaxou a expressão e sorriu de volta. — Vai lá, eu vou ficar
bem, você precisa comer e alimentar o nosso bebê.
— Verdade — Danna concordou e saiu em seguida.
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Ao adentrar a sala de espera, se deparou com a amiga, que


acabava de chegar.
— Olá, bom dia — Ela a saudou.
— Bom dia. Está tudo bem? Vim te ver, saber como está,
afinal, você quase não sai do lado do seu Grant — comentou
Betsy, azeda.
— Você disse “meu Grant”?! O que houve, Betsy? Você
não está com ciúmes dele, está?
— Não, não, de onde você tirou isso? Fico feliz que
estejam juntos, só que esse seu namorado tem consumido
todo o seu tempo — reclamou fazendo beicinho.
— Sim, um pouco, admito, mas você não tem passado esse
tempo com o Trent? Aliás, estava para te perguntar sobre o
que se passa entre vocês dois.
— Nada, não se passa nada — negou ela, fazendo cara de
paisagem. — O que poderia se passar entre mim e aquele
ogro, filho da mãe, safado, arrogante... Sexy, gostoso, tesão de
homem. Silvana, me abana!
— Betsy?!
— O quê?!
— Para um pouco, mulher de Deus! Você disparou a
“elogiar” o Trent feito uma doida. Conte-me de uma vez o
que está acontecendo! Percebi que você não está no seu
normal desde que chegamos aqui. Para ser mais exata, desde
o momento em que você e o advogado se conheceram. Notei

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um clima meio estranho entre vocês dois — declarou Danna,


reparando no desconforto da amiga.
Betsy ponderou por um momento e decidiu que contaria,
porém, precisava de cafeína, de preferência injetada
diretamente nas veias, caso contrário, era capaz de cair
durinha, pois se sentia como um zumbi.
— Prefiro não falar sobre isso agora, se não se importa! —
falou para ganhar algum tempo. — Danna querida, estou
doida por um café preto e forte. Não dormi quase nada ontem
à noite.
— Mas já é quase hora do almoço, Betsy! E por que não
tem dormido? Teve insônia? Se for esse o caso, café não vai
resolver o problema, muito pelo contrário, é aí que você não
vai dormir mesmo.
— Hum, tenho tido um pouco de insônia, sim — Betsy
confirmou. Mas é devido a uma maratona de sexo selvagem e
quente, completou para si mesma.
— Não acredito em você! — Disse Danna, ressabiada. —
Tem algo acontecendo e você não está querendo me contar.
Não confia mais em mim? Vai me contar ou não?
— Pelo amor! É claro que eu confio em você, e vou contar,
sim, só que antes eu estou muito necessitada de um café bem
forte, por favorzinho! — pediu Betsy, juntando as mãos e
fazendo cara de menina pidona.
— Está bem, o Grant está descansando, estou achando que
pode ter alta hoje, e o Trent ficou de encontrar um lugar para
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ficarmos enquanto ele se recupera. Vamos descer até a


lanchonete e você me conta tudo, e com detalhes! — exigiu
Danna. — Eu não sei por que, mas estou achando vocês dois
muito estranhos — comentou, dando um olhar desconfiado
para a amiga.

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“You look up to the sky


With all those questions in mind
All you need is to hear
The voice of your heart
In a world full of pain
Someone’s calling your name
Why don’t we make it true
Maybe I, maybe you”
Maybe I, maybe you – Scorpions

Danna olhou para a amiga enquanto processava o que ela


lhe havia acabado de contar.
— Você e o Trent? Juntos? Eu pensei que vocês não
tivessem se dado muito bem, até senti certa tensão entre os
dois!

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— A princípio foi mais ou menos isso, mas, na verdade,


nos sentimos atraídos mesmo. Nossa, ele tem um jeito que eu
gosto, só que eu nem sabia que gostava. É um quê de
cafajeste, cínico, uma pegada meio bruta, sei lá! Sem falar
que é um gato, né, amiga?
— Isso é interessante, eu acho, e sim, o Trent é um homem
muito bonito.
— Bom, só estamos tendo um casinho, não é nada sério ou
que possa evoluir para isso. Deixamos tudo bem claro entre
nós. Nenhum dos dois está procurando um relacionamento.
Não existe essa coisa de exclusividade.
— Sério? Nossa, Betsy, como você está, como eu posso
dizer, independente e bem resolvida! Eu, pelo contrário, quero
mais é formar uma família com o Grant, afinal, o nosso bebê
já está a caminho, e o que sinto por ele, hum, nunca imaginei
que chegaria a sentir por alguém.
— Está mesmo apaixonada pelo Grant, não?
— Com toda a minha alma. Às vezes penso que só consigo
respirar estando perto dele, parece loucura, e talvez seja
mesmo, mas é assim que as coisas são. Se não fosse essa
sombra do Caleb sobre as nossas cabeças, eu estaria muito
mais tranquila, porém, esse problema existe e ameaça a nossa
felicidade.
— Se refere ao processo de divórcio de vocês?
— Sim, claro, é exatamente isso — Danna afirmou ao se
lembrar de que a amiga não tinha conhecimento do verdadeiro
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risco que corriam, então mudou de assunto. — Esse casinho,


como você mesma chama o que os dois têm, me diz, vai
continuar quando você voltar para Nova York?
— Não sei, pode ser que sim, pode ser que não. Estamos
no hoje, não pensamos e nem falamos no amanhã.
— Bom, vocês são adultos e vacinados, devem saber o que
estão fazendo. Se você acha que vale a pena manter as coisas
como estão, vá em frente, mas tome cuidado, quando menos
esperamos, as coisas mudam, e tudo o que se planejou, ou se
pensou, simplesmente não existe mais. Veja o meu caso,
quando eu poderia imaginar o que o futuro me reservava? A
separação do Caleb, o encontro com o Grant e, agora, um
filho dele? Algo que eu pensava que nunca teria? Só tenha
cuidado para não magoar alguém ou a si mesma nessa ânsia
de viver em total liberdade. Um dia você me disse que isso de
querer não tinha nada a ver, que as coisas acontecem quando
têm que acontecer.
— Falei, mas não se aplica a mim. Quanto a isso, pode
ficar tranquila, não vai acontecer, tenho os meus pés muito
bem plantados no chão. É só uma atração física, nada além
disso.
A verdade é que Betsy tentava se convencer, pois ainda
nem tinha ido embora e já sentia o coração apertado. Uma
coisa precisava admitir, sentiria falta de Trent.
— Ok, se você diz, eu acredito. E por falar em futuro,
preciso encontrar o médico e confirmar quando poderemos
deixar o hospital. Vem comigo?
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— Sim, claro, quero passar o maior tempo possível com


você.
— Quando você volta?
— Meu voo está marcado para amanhã, logo depois do
almoço.
— Vou sentir sua falta.
— Por pouco tempo, você vai voltar, não vai?
— Estou pensando nisso, acho que vou ficar mais um
pouco por aqui. A Amy só volta da casa dos avós em três
semanas, e a próxima audiência será dentro de dois meses,
então vou passar esse tempo aqui, com o Grant.
— E a sua consulta do pré-natal, como você vai fazer?
— Posso fazer por aqui também.
— Ah, estou perdendo você para o Grant — Betsy
choramingou.
— Não está perdendo, só está tendo que dividir. Sinto
muito, amiga, mas a solução seria você vir para cá também.
— Danna riu da própria sugestão.
— Sabe que não é possível, mas até que gostei da ideia.
— Claro, é aqui que o Trent está! — provocou.
— Nada a ver. Não começa, Danna!
— Está bem, fica sossegada, não falei nada — desculpou-
se, achando graça da veemência da amiga. — Vamos! —
chamou.
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Danna se levantou e caminhou até o caixa, entrando em


uma pequena fila para poder pagar a conta. Voltando ao andar
do quarto de Grant, encontrou o médico. Conversaram e ela o
questionou sobre a alta do amado.
— Demorei? — perguntou ela, chegando ao quarto e
colocando a bolsa sobre o sofá.
— Uma eternidade! Cada minuto aqui dentro parece um
século! — brincou Grant, deixando o controle da tevê de lado.
— O que foi? Que carinha é essa?
— Tenho novidade. Coisa boa.
— Estamos indo embora daqui hoje. Acertei? — chutou
ele, os olhos brilhando.
— Acertou! Acabo de falar com o seu médico e ele vai vir
daqui a pouco para te passar algumas instruções, mas me
disse que te libera hoje mesmo. Já liguei para o Trent e pedi
para ele conseguir algumas roupas para você. — Fez um
trejeito com a boca. — Você fica lindo e sexy com esse
avental de hospital, porém, não vai poder sair por aí com o
traseiro à mostra. Ele é somente para os meus olhos! —
comentou ela, sentindo-se leve e travessa.
— Confesso que não me sentiria muito à vontade, apesar
de que, pensando bem, não deixa de ser uma roupa
confortável — retrucou ele, entrando no clima.
— Confortável? Sei! Já te disse que tudo isso aí é meu?
— Boba, claro que é tudo seu. — Grant riu divertido. — E
o nosso bebê? Ainda te dando muito trabalho? Pergunto
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devido aos enjoos.


— Agora não, só tive de manhã — respondeu Danna,
voltando a ficar séria. — Grant, eu resolvi passar as próximas
três semanas aqui, mas depois vou voltar para Nova York. A
Amy estará de volta nesse período e preciso conversar com
ela, acho que é o momento de contar sobre nós e o bebê.
— Concordo, mas não quer que eu esteja presente?
— Prefiro que não esteja, essa conversa será de mãe para
filha.
Grant balançou a cabeça assentindo.
— Está bem, se é assim que você quer...
Poucas horas depois, Trent apareceu no hospital com
roupas para o amigo. Antes disso, no entanto, deixou Betsy
no aeroporto. Ao contrário do que ele chegou a imaginar, se
despedir dela não foi a coisa mais fácil que fez nos últimos
tempos. Sendo honesto consigo mesmo, não desejava que ela
fosse embora, estava apreciando demais a companhia da bela
morena.
Passaram esses poucos dias juntos, se conhecendo melhor,
e a verdade é que haviam tido ótimos momentos, dentro e fora
da cama. Fazia apenas uma hora que a tinha deixado e já
sentia sua falta. As coisas entre os dois ficaram meio
indefinidas. Mas agora não era o momento de pensar nisso,
quando estivesse sozinho, o faria. Queria vê-la de novo e
esperava que fosse em breve.
Não demorou a deixaram o hospital. Grant pediu, antes de
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qualquer coisa, que passassem pela casa de sua mãe. Talvez


fosse a única oportunidade que teria de ver a família, pelo
menos até que tudo estivesse resolvido.
Para evitar ser reconhecido, caso tivesse alguém rondando
a casa, Grant colocou um par de óculos escuros e um gorro na
cabeça. Os três saíram do carro disponibilizado pela
seguradora de Trent e andaram os poucos metros até a entrada
da casa. Bateram duas vezes e logo um dos irmãos veio
atendê-los.
— Mãe! — Travis gritou ao vê-los. — Vem ver quem
voltou! — disse sorrindo e abrindo a porta para que pudessem
entrar.
— Grant, meu filho! Nem acredito que está aqui! —
exclamou a mãe, dando-lhe um abraço apertado, que logo
afrouxou, notando seu braço engessado. Grant olhou bem
para ela, tinha lágrimas nos olhos devido à felicidade que
sentia em vê-lo.
— Estou de passagem e vim fazer uma visita surpresa —
contou ele, retribuindo, como podia, o seu abraço.
— Ainda aquele problema, filho? — ela quis saber,
subitamente séria.
— Sim, mãe, infelizmente. Porém, acreditamos que está
perto de acabar, só não quero falar sobre isso agora, se não se
importa.
Nesse momento, Travis e Emma se aproximaram e o
abraçaram, o recebendo com o carinho de sempre.
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— E o Connor? Não está? — Grant perguntou.


— Não, ele quase não fica em casa, entre o trabalho e a
namorada, está sempre fora, mas liga para saber como vão as
coisas.
— Entendo... — Grant ponderou com a expressão grave.
— O que houve no braço? E essa testa? — a mãe
perguntou curiosa.
— Ah, isso? Foi um acidente sem maiores consequências,
não foi nada demais — respondeu ele, evitando dar maiores
detalhes.
— Hum, isso não parece não ter sido nada, Grant! Sinto
que me esconde algo! — falou olhando bem para o filho, e só
então notou a mulher e o amigo atrás dele.
— Trent, como vai? Faz tempo que não aparece —
comentou ela.
— Vou bem, trabalhando muito.
— Imagino, vida corrida, mas venham, vamos nos sentar
— convidou-os a entrarem. — E essa moça bonita, Grant, é
sua amiga?
— Desculpa, mãe, não a apresentei. Esta é a Danna, minha
namorada.
— Olá, seja muito bem-vinda! Eu me chamo Eva, e como
você já percebeu, sou a mãe do Grant — apresentou-se e
sorriu.
— Obrigada pelas boas-vindas, é um prazer conhecê-la! —
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Danna falou meio encabulada.


Notou que Grant se parecia muito com a mãe, com exceção
dos olhos, pois os dela eram de um azul forte e cristalino,
enquanto os do namorado eram de um profundo castanho-
escuro. Talvez tenha herdado do pai, especulou.
Após completarem as apresentações, Trent iniciou uma
conversa animada com Travis e Emma, algo sobre jogos de
videogames, deixando os dois à vontade conversando com a
matriarca. Depois de algum tempo, Grant precisou ir até a
cozinha e deixou as mulheres sozinhas. Eva, que simpatizou
com a namorada do filho de imediato, sorria para ela,
encantada.
— O meu Grant é um bom menino, nunca teve nada de
graça, lutou muito para conseguir entrar para a polícia, se
dedicou de corpo e alma para passar na academia, sempre
teve o senso de honra e de responsabilidade muito forte
dentro dele, puxou o pai — descreveu ela, e era visível o
orgulho que sentia pelo filho mais velho. — Sempre quis
ajudar as pessoas, desde pequeno, aí a desgraça e a inveja se
abateram sobre ele. O Grant te contou o que aconteceu? —
indagou cautelosa.
— Sim, ele me contou — confirmou Danna, absorvendo
cada palavra.
Eva fez um gesto de assentimento com a cabeça.
— Pois então, ele foi condenado e eu o vi ser algemado e
levado embora daquele tribunal. Pensei que o meu filho

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morreria naquele lugar, lá para onde o mandaram. Estava tão


abatido e sem esperanças... Você não pode imaginar o que é
isso, saber que um filho é inocente e, mesmo assim, ser
enviado para um lugar daqueles. Eu tentava passar força para
ele nas poucas vezes em que conseguia visitá-lo. Poucas,
porque ele não queria que fôssemos e o víssemos naquele
estado. E então apareceu esse anjo dos céus, de nome Trent,
que Deus mandou para nos ajudar. Não descansou até
soltarem o meu menino! Nunca poderei agradecer o suficiente
ou pagar pelo que fez pelo Grant, aliás, por todos nós.
Pensativa e emocionada, Danna a ouvia. Só de imaginar
Grant em uma prisão, sozinho, injustiçado, perdendo a fé na
vida e nas pessoas, traído e abandonado por quem confiara,
era agonizante.
— Imagino que deva ter sido muito difícil passar por todo
esse pesadelo. Tudo o que ele viveu nesse período é muito
triste e revoltante — disse Danna, sentindo o amor que tinha
por aquele homem transbordar de dentro do seu coração.
— E foi mesmo, mas o meu menino ainda não está
totalmente livre. Eu sei que ele guarda dentro do peito um
desejo de justiça e reparação tão forte que às vezes se
confunde com uma sede de vingança, para que os verdadeiros
culpados sejam punidos, mas eu gostaria que ele tentasse
esquecer tudo isso e pensasse só em recomeçar a vida, mesmo
que seja longe da família — concluiu Eva, abnegada.
Danna não sabia o que dizer, e apesar de sua própria
indignação pela impunidade dos bandidos que fizeram aquilo,
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concordava com ela, porém, optou por ficar calada, apenas


assentindo com a cabeça.
— Você parece uma boa moça, vê-se que é refinada. O
meu Grant não tem bens materiais para te oferecer, nem luxo
ou riqueza, mas pode te dar um coração cheio de amor.
Tentaram, mas não conseguiram tirar isso dele, essa
capacidade que tem de amar, disso eu tenho certeza, porque
conheço o meu filho e vejo um brilho nos olhos dele quando
fala e olha para você que há muito tempo eu não via. Só te
peço uma coisa, não faça o meu Grant sofrer! Ele já passou
por tantas coisas nessa vida...
Ao ouvir o apelo por parte da mãe do homem que amava,
Danna se condoeu e levou a mão até a da mulher mais velha,
cobrindo-a com a sua, um gesto de carinho e força.
— Pode ficar despreocupada quanto a isso, eu jamais o
faria sofrer por minha causa, eu o amo muito e sou grata a ele,
pois além do seu amor, que também não tem preço, o Grant
me deu um filho — Danna contou em um tom de voz
embargado.
Eva cobriu a boca com uma das mãos, espantada, se pondo
de pé de imediato.
— Meu Deus! Você está grávida? Eu vou ser avó? —
perguntou ela, gargalhando. Em um gesto espontâneo, Danna
se viu sendo abraçada por uma Eva delirante de felicidade.
Grant ouviu a agitação na sala e levou o olhar confuso até
as duas mulheres ao retornar, que se abraçavam diante dele.

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Viu quando a mãe secou as lágrimas que caíam pelo rosto.


— Meninos, olhem o que acabei de saber... — Eva chamou
a atenção de Travis e Emma. — A notícia mais linda que eu
podia receber hoje! Vou ser vovó, e vocês serão tios! —
anunciou ela, com um sorriso de orelha a orelha.
Nesse momento, Grant e Danna foram rodeados pelos três,
que os felicitaram, todos falando ao mesmo tempo,
demonstrando todo o carinho e alegria que sentiam pela
novidade.
Instantes depois, Grant se aproximou da mulher e
cochichou em seu ouvido.
— Eu não disse que ela ia surtar?
— É, disse mesmo, sua mãe ficou muito feliz, assim como
os seus irmãos. Não está chateado por eu ter contado, está?
Ela me falava de você com tanto orgulho que não resisti. Sua
família é linda, meu amor!
Grant a olhou com carinho. Ainda era surreal para ele,
aquela mulher, tão linda, tão forte, e suave ao mesmo tempo,
estar na sala da casa onde ele cresceu.
— Não, claro que não estou chateado. Obrigado por pensar
isso da minha família, mas tenho que aclarar um detalhe.
— E que detalhe seria esse? — indagou Danna, sentindo-o
envolver sua cintura com ambas as mãos e a puxando para
mais perto.
— Como minha mulher e futura mãe do meu filho, você já

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faz parte dela, então, não é mais só minha, é nossa família —


declarou ele, tocando a ponta de seu nariz com um dedo e lhe
dando um selinho.
Ficaram ali, na companhia de toda a família, por cerca de
uma hora, quando decidiram que já era hora de irem embora.
Despediram-se prometendo que retornariam assim que
possível. Trent levou os dois até um chalé fora da cidade, pois
ao conversar com Ed a respeito do ocorrido, este sugeriu o
lugar, que, aliás, ele já conhecia de um caso anterior.
Poderiam ficar ali sem serem incomodados, o local era de
difícil acesso e pouco frequentado.
O amigo os deixou e retornou para o seu próprio
apartamento.
— Enfim, sós! — Grant brincou com ela ao entrarem.
— Sim, de fato, estamos sozinhos! Que tal explorarmos o
lugar? — sugeriu ela, sorridente.
— Claro, vem comigo. — Grant a puxou pela mão para
percorrerem as demais dependências do chalé, até que
entraram em uma delas.
— Depois vamos conhecer melhor todos os recantos daqui,
mas, agora, eu quero ficar neste, onde estamos — falou ele,
olhando para ela. Inclinou-se para beijá-la nos lábios e logo
depois desceu, depositando um beijo em seu ombro.
— Acho uma boa ideia. Um dos melhores lugares daqui.
Estou certa disso.
— Com você, é perfeito! Sinto muito a sua falta, Danna.
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Eu te quero tanto! — Grant murmurou de encontro à sua


boca, envolvendo-a pela cintura com o braço bom.
— E eu a sua, demais, mas será que você pode? Falta
muito para você estar cem por cento, meu anjo. Além do
braço, sei que a costela ainda te incomoda bastante.
— Damos um jeito. Confia em mim?
— Sempre! — respondeu ela, deixando-se levar pela mão
até a cama de casal posicionada em um dos cantos do quarto.

— Caleb Green, o senhor está preso! Levante-se para que


eu possa algemá-lo.
— O quê? Mas como isso é possível? Trouxeram-me aqui
apenas para prestar um depoimento! — Caleb protestou
agitado.
— E é verdade, porém, o que não chegamos a dizer, é que
o alvo da investigação era o senhor, por isso os mandados
emitidos para a sua casa e o escritório — o agente informou.
— Do que estou sendo acusado? — ele exigiu saber.
— As acusações são tráfico humano, sequestro, suborno e
lavagem de dinheiro, isso para citar somente alguns dos
delitos.
— Vocês estão enganados, não poderão provar nada disso!
— declarou. — Jacob, faça alguma coisa! — ordenou
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dirigindo-se ao advogado, que só fez dar de ombros, como


dizendo que não havia nada que pudesse fazer no momento.
— Ah, sim, poderemos provar! E saberá como, muito em
breve.
Merda! O que eu mais temia, pelo jeito, aconteceu. Agora
só me resta tentar fazer com que esse advogado babaca
realize o seu trabalho o mais rápido possível, que é me tirar
daqui.

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“I (Don’t ask me)


I was standing (You know it’s true)
You were there (Worlds collided)
Two worlds collided (were shining through)
And they could never tear us apart”
Never Tear Us Apart – INXS

— Fiquei sabendo que o Grant está vivo — Xavier


declarou para o colega do outro lado da linha.
— Como isso é possível? Meus homens viram quando o
carro virou uma bola de fogo com ele dentro. — Sergei
estremeceu ao tomar conhecimento da péssima novidade. —
Que merda! — praguejou com raiva contida.
— Não sei como, mas de alguma maneira ele conseguiu
sair do carro e se salvar. Um dos rapazes leu uma nota sobre o
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acidente no jornal descrevendo a explosão e dizendo que o


motorista sobreviveu por um milagre. Você vai contar para
ele?
— Você está louco? Eu não quero morrer, o homem foi
bem claro comigo quando disse que eu pagaria com a vida
caso ocorresse alguma falha.
Sergei sabia que o chefe ficaria furioso ao ser notificado
que a operação tinha resultado em um tremendo fracasso.
— Só sei que ele ficará sabendo em algum momento... —
Xavier insistiu.
— Quando isso acontecer, espero estar bem longe daqui!
— Pretende fugir?
— Com certeza! Isso tudo está ruindo, desabando, não vai
sobrar nada, e eu não quero cair junto. Com o Falcão na
cadeia, você acha que a organização sobrevive? É ele que
comanda tudo, que tem os contatos lá fora, nunca dividiu isso
com ninguém.
Xavier ficou pensativo. A coisa estava mesmo feia para o
lado dele. Tinha que pensar em algo, e rápido, mas não estava
vendo muitas saídas.
— Tem razão, o melhor a fazer é sumir por um tempo,
pelo menos até as coisas esfriarem — concordou, pensando
em fazer o mesmo. — Eles me afastaram do meu cargo, posso
receber uma intimação ou ser preso a qualquer momento, não
sei como descobriram, mas eles sabem que estou envolvido.

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Nesse instante, os dois ouviram batidas nas portas dos


lugares onde estavam. Eram os oficiais de justiça,
acompanhados por policiais, que chegavam para cumprir os
respectivos mandados de prisão.

San Diego, CA – Chalé.


Grant a puxou para ele com o braço bom de maneira tão
impetuosa que o fez perder o equilíbrio e acabar caindo na
cama, ficando por cima de Danna.
— Ei, cuidado com o seu braço, amor! — exclamou ela,
entre risada e tensão. — Nossa, o que te deu hoje? —
perguntou o envolvendo pelo pescoço.
— Saudade e fome, muita fome de você! — respondeu
Grant, abaixando a cabeça e cobrindo sua boca em um beijo
faminto e apaixonado. As línguas se encontraram e iniciaram
uma dança erótica. Ele mordeu e esticou, de leve, seu lábio
inferior, o chupou, sugou e soltou, voltando a tomá-la.
Ouviu-a soltar pequenos gemidos de satisfação e sentiu
seus dedos se curvarem na base da nuca, o puxando mais para
ela. Isso só o estimulou, deixando escapar um grunhido
abafado através do beijo, e o desejo tomou conta dos dois.
Elevou o tronco, mostrando a volúpia e o tesão que o
dominava.
— Vou precisar que me ajude com isso, princesa — pediu
ele, referindo-se à camiseta que usava, ao mesmo tempo em
que tirava o braço engessado de dentro da tipoia.
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Danna se ajoelhou no meio da cama e o ajudou a tirar a


camiseta pela cabeça, com jeito, para não machucá-lo. Abriu
o botão e desceu o zíper de sua calça. Grant movimentou as
pernas e a peça foi jogada em um canto do quarto. Por último,
ele se desfez da cueca boxer que usava. Então foi a vez de
Danna se afastar para se despir. Primeiro, tirou a blusa;
depois, levou ambas as mãos até o meio das costas,
localizando o fecho do sutiã e o abrindo. Deslizou as alças
pelos ombros libertando os seios e vendo o homem à sua
frente engolir em seco, os olhos fixos neles. Fez o mesmo
com a saia e a calcinha. Em minutos, estava completamente
nua, assim como ele. Grant a puxou e a beijou o pescoço,
descendo para os seios e fechando os lábios em um dos
mamilos, raspando os dentes em seu entorno, o fazendo
enrijecer sob a ponta da língua. Continuou sugando e se
afastou um pouco, notando quanto estava duro devido à
sucção de seus lábios, então deu a mesma atenção ao outro,
fazendo a mulher se contorcer debaixo de seu corpo.
Danna se agarrou aos seus cabelos, estremecendo,
descontrolada, sentindo os tremores descendo até seu sexo,
fazendo-o se contrair. A mão de Grant deslizou por seu corpo
e foi parar no meio de suas pernas, tocando-a e estimulando
seu ponto mais sensível, notando como estava encharcada.
Então ela sentiu aqueles dedos a invadindo, excitando-a ainda
mais. Sem pensar, começou a se esfregar em sua ereção.
— Grant, eu preciso de mais... — murmurou ao senti-lo
aumentar a pressão, fazendo-a arfar com as sensações que
seus dedos produziam.
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— Vem, senta aqui e usa os meus ombros como apoio —


instruiu e gemeu quando ela o fez, sentando-se em seu colo,
com o pau duro, ereto e pulsante deslizando para dentro dela.
Danna cerrou os olhos, deixando a sensação deliciosa de
senti-lo por inteiro dentro de si a invadindo, a possuindo, e era
tão bom. Grant moveu o quadril para cima, se afundando mais
em seu corpo. Danna se movia de tal maneira que seus
joelhos pressionavam as laterais do corpo de Grant. Ela o
estava cavalgando, agarrada ao seu pescoço, os seios
balançando na altura da boca de seu amado. Gemia cada vez
mais alto, jogando a cabeça para trás. O ruído dos corpos
invadiu o quarto, misturando-se aos gemidos espaçados dos
dois.
O ritmo se tornou mais rápido e chegou o momento em que
Danna não pôde mais se conter. Agarrou-se mais ao pescoço
de Grant e gritou alto, o sentindo empurrar dentro dela, com
vontade. Minutos depois, desabou, apoiando a cabeça em seu
ombro. Grant continuou arremetendo até sentir que ia
ejacular, então acelerou os movimentos, grunhindo cada vez
mais forte, a veia do pescoço saltando devido ao esforço.
Soltou um último gemido, forte e rouco, quando o prazer o
atingiu, então afundou o rosto na curva do pescoço de Danna.
E assim permaneceram, abraçados sentados no centro da
cama, por algum tempo, enquanto se recuperavam.
— Desculpe se fui intenso demais — falou ele, ainda
ofegante. — Eu te machuquei?
— Não, e foi ótimo, como sempre. — Danna o beijou. —
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Cada vez que fazemos amor, é melhor que a anterior, acho


que posso me viciar em você. — Afirmou, soltando vários
beijos por seu rosto. — Eu te amo!
— Eu já estou viciado. No teu cheiro, no teu corpo, em
você inteira. Eu te amo a cada dia um pouco mais, princesa!
— Ele a beijou de novo. — Você é tudo para mim, sabe
disso, não sabe?
Ela balançou a cabeça assentindo e o viu desviar a atenção
ao girar o pescoço à procura de algo.
— O que foi? — perguntou, saindo de seu colo.
— O meu celular está tocando — Grant respondeu,
localizando o aparelho e esticando o braço para pegá-lo.
Verificou a tela antes de atender. — É o Trent — anunciou,
olhando para ela com um ar de desculpas no rosto.
— Atende, pode ser importante — ela o incentivou e ele o
fez.
— Alô? Trent?
— Grant, tudo bem? Espero não ter interrompido nada.
Você demorou um pouquinho para atender — Malicioso, o
advogado se desculpou.
Grant sorriu. Claro que sabia a que o amigo se referia, mas
resolveu não entrar na dele.
— Não, Trent, você não interrompeu nada. Demorei um
pouco para encontrar o celular, só isso — explicou Grant,
dando uma piscadinha travessa na direção da mulher,

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sentando-se na cama. — Mas me fala, aconteceu alguma


coisa?
— Tenho boas notícias e não via a hora de te contar —
Trent respondeu sem conter o entusiasmo. — É sobre
a Operação Falcão Verde.
Grant mudou a expressão divertida para um semblante
atento e ansioso. Levou o olhar até a mulher, que agora estava
sentada à sua frente e o fitava com um ponto de interrogação
nos olhos.
— Operação Falcão Verde? — perguntou.
— É, foi o nome que deram para a operação do Caleb.
Juntaram o codinome com o sobrenome. Você sabe como eles
adoram fazer isso — o advogado explicou rindo. —
Continuando, o promotor abriu uma investigação e o
intimaram. Com as provas que entregamos e com o que
conseguiram através dos mandados para revista, da casa e do
escritório de Caleb, decidiram que já tinham o suficiente para
prendê-lo. O Ed e um agente do FBI foram buscá-lo em Nova
York e o trouxeram para cá. O Falcão está na cadeia, cara!
Acredita nisso? — Indagou ele, sem esconder o ânimo.
— Que notícia boa, a melhor de todas, Trent! — Grant
vibrou e, olhando para ela, sussurrou: — O Caleb foi preso.
— Mas isso não é tudo, expediram mandados de prisão
para o Xavier e um tal de Sergei, que é o braço da operação
aqui em San Diego. Serão presos a qualquer momento.
— Nossa, são ótimas notícias mesmo! Mas eles vão ter
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chance de sair? Sabe como é, esse pessoal é poderoso, e o


desgraçado do Falcão tem muito dinheiro.
— O promotor avisou que vai lutar para que não sejam
afixadas fianças. Se forem, serão bem altas, valores
exorbitantes, para que não consigam pagar.
Grant respirou aliviado ao ouvir aquilo. Será que teriam
um pouco de paz, afinal? Será que seu inferno interior
terminaria e ele poderia se sentir livre e inteiro novamente?
— E o Harry? Sabe se vão prendê-lo também?
— Esse é um peixe pequeno, o mais provável é que
queiram fazer um acordo com ele, caso concorde em
testemunhar pela acusação.
— É, imagino que sim, agradeço por me contar. Não sabe
como me sinto em saber que esses miseráveis, enfim, estão no
lugar que merecem. Pena que não poderei vê-los, com os
meus próprios olhos, atrás das grades.
— A situação ainda exige cautela, mas logo isso tudo vai
acabar e você poderá ter a sua chance.
— Tomara. Não sabe o que eu daria para olhar na cara
deles no mesmo lugar para onde me enviaram. Eles, ao
menos, sabem que são culpados.
— Eu entendo, Grant, vamos aguardar o desenrolar dessa
investigação. Enquanto isso, concentre-se em ficar cem por
cento, mas ainda tenho outra notícia para te dar.
— E o que é?

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— O promotor vai te intimar, quer que seja testemunha de


acusação, o meu contato na promotoria me antecipou isso e
estou te avisando para te deixar de sobreaviso.
— Entendi, está bem, o farei com toda certeza.
— Outra coisa, já ia me esquecendo de comentar, o pessoal
da Central soube o que aconteceu, não me pergunte como,
mas a notícia vazou e o seu nome apareceu. Depois do
afastamento do Xavier, o novo capitão quer falar com você,
imagino que vá pedir que volte quando a poeira baixar. Estou
te contanto para que possa começar a pensar nessa
possibilidade. Agora que tudo está se ajeitando, poderá
retomar sua vida aqui, voltar a fazer o que sempre quis, voltar
a ser policial. Bom, isso é tudo, agora fique aí e curta esse
momento com a sua mulher. Diz que mandei um beijo para
ela.
— Pode deixar, que eu mesmo dou. — Ele riu. — Valeu,
Trent, obrigado por tudo, nos falamos.
— O que foi? — Danna indagou tão logo o viu desligar.
Tinha ficado esperando atenta à conversa.
— Caleb foi preso e está aqui em San Diego. Seus homens
de confiança estão prestes a irem para a cadeia também. Nem
acredito que isso esteja mesmo acontecendo.
— Nossa, verdade? Que notícia boa, meu
amor! Vê como não adiantou te incriminarem ou tentarem te
matar? A justiça, enfim, chegou para estes covardes. Fico
feliz por você, que desejou tanto isso, e pelas pessoas que

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esses desgraçados atingiram.


A notícia era agridoce para ela. Ao mesmo tempo em que
era boa, pois os verdadeiros bandidos estavam onde mereciam
estar, era ruim, pois teria que conversar com a filha sobre o
pai. O Caleb na prisão era uma notícia que iria repercutir
através da imprensa e não tardaria a chegar aos ouvidos da
garota.
— Preciso falar com a Amy — comentou pensativa.
— Eu entendo... Quer ligar agora? —perguntou Grant,
oferecendo o celular para ela.
— Quero, mas só daqui a pouco, antes preciso de um
banho.
Dizendo isso, ela saiu da cama e se dirigiu, ainda nua, ao
banheiro.
— Quer vir comigo?
— Claro! — Grant aceitou prontamente o convite, se
levantando e indo atrás dela.

Mais tarde, Danna chamou a filha.


— Oi, mãe, já estou sabendo o que está acontecendo, o
papai me ligou antes de viajar e me disse para não acreditar
em nada do que digam sobre ele, porque tudo não passa de
armação.
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— Amy, filha, você é uma garota inteligente, sei que se


trata do seu pai e não é fácil aceitar que ele tomou decisões
tão erradas como essas, mas sim, o Caleb fez essas coisas, a
polícia tem provas contundentes. Seu pai vai começar a pagar
por suas culpas. Eu sinto muito, minha linda, o que está sendo
divulgado é verdade. Por favor, não se deixe manipular por
ele.
— Não, mãe, ele me garantiu que é mentira! Não acredito
que tenha sido capaz de fazer aquelas atrocidades todas. É o
meu pai!
— Infelizmente, ele foi capaz! Eu também não quis
acreditar em um primeiro momento, mas não tem como tapar
o sol com a peneira. Amy, querida, o melhor a fazer é aceitar
o que está se passando. Espero que não me chamem para
depor, porque eu não tinha a menor ideia do que ele fazia,
mas como esposa, ou melhor, ex-esposa, podem não acreditar
nisso.
— Imagina, mãe, eles não podem pensar assim, nem a
senhora nem eu tínhamos conhecimento dessa vida dupla do
papai.
— Nós sabemos disso, mas eles não sabem. Bem, eu só
queria conversar com você, saber como se sente a respeito.
— Como a senhora pode ver, ainda estou assimilando tudo.
Confesso que estou um pouco confusa, o papai sabe ser bem
convincente quando quer, mas acredito que vou saber tirar
minhas próprias conclusões.

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— Estou certa que sim, minha linda. Tenho que desligar


agora. Cuide-se e procure ficar bem. Eu te amo, Amy! —
Danna se despediu da filha.
— Também te amo, mãe. Até mais.

— O quê? Não acredito! O Grant voltou e está aqui, em


San Diego? — Lisa exclamou rindo, toda empolgada.
— Sim, está. Eu soube através do seu pai, parece que
tentaram matá-lo jogando o carro que dirigia para fora da
estrada, mas conseguiu sobreviver.
Lisa o ouviu e ficou pensativa.
— Que cara de piranha é essa? Não importa se ele está de
volta. Se chegar perto dele, eu te mato, sua puta safada!
Maldita hora em que me envolvi com você, uma cobra
traiçoeira! Eu deveria saber que, se fez com ele, vai fazer
comigo. Por sua causa eu traí o meu melhor amigo, ajudei a
incriminá-lo e a botá-lo na cadeia, fiquei cego pelo desejo que
sentia por você e quis agradar o seu pai. Sei que fui um
miserável, o pior dos traidores, mas agora que ele está de
volta, se você sequer pensar em se aproximar, eu acabo com a
sua raça!
Ela se encolheu diante dele, mas ninguém mandava nela.
Se quisesse ver o Grant de novo, ela o veria, ele querendo ou
não.
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— Eu te conheço, Lisa, sei que está pensando em procurá-


lo, mas não vou permitir que se meta com o Grant de novo.
Está avisada. Não posso mudar o passado, mas não vou deixar
que se envolva no presente dele. Depois do que fez a ele, com
certeza o Grant te odeia! Se de tudo isso saiu algo bom, foi
ele ter se livrado de você. Imagina se ele fica sabendo que não
tinha criança nenhuma, que tudo foi parte de um plano para
que vocês dois comemorassem e ele bebesse a champanhe
com a droga? E ainda não foi o bastante! Você tinha que
enviar aquela carta dizendo que havia abortado o filho dele e
colocando a culpa em mim? Dizendo que eu te obriguei?
Ficou puto da vida quando soube disso. Sabia que tinha
defeitos e falhas de caráter, mas não era desumano a esse
ponto, mas ela era. Só que não conseguia deixá-la e viviam
uma relação doentia. Era como se quisesse expiar seus
pecados ficando ao lado de alguém tão ruim ou pior do que
ele.
— Ele nunca vai saber disso! Você não vai contar! —
rugiu furiosa.
— Sim, vou! Ele vai saber que você é ainda pior do que ele
pensa. Escuta bem, sua vadia viciada, ainda que eu esteja na
cadeia, vou ter os meus contatos aqui fora. Não se atreva a se
fazer de besta comigo. Você sabe que, se fizer isso, só vai sair
perdendo!
Ela sabia muito bem disso, ainda tinha os hematomas pelo
corpo para provar o que ele dizia. Tornou-se violento,
possessivo e controlador. Sentiu-se culpado, arrependera-se
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do que havia feito, porém, quando se deu conta disso, estava


tão envolvido que já era tarde demais. A única coisa que pôde
fazer pelo ex-amigo, e para apaziguar a própria consciência,
foi pagar um bandido, conhecido seu, um cara da pesada que
estava confinado no mesmo presídio, para que ficasse de olho
e protegesse Grant dos demais prisioneiros, pois sabia que a
prisão não seria nada fácil para um ex-policial. O homem se
tornou seu anjo da guarda, porém, Grant jamais saberia disso.
— Está bem, não vou procurá-lo, não precisa me ameaçar!
E eu digo o mesmo, maldita hora que troquei o Grant por
você!
Mal terminou de falar e sentiu uma bofetada a atingir o
lado esquerdo do rosto. Foi tão forte que a jogou sobre a
cama, onde ficou gemendo com lágrimas escorrendo dos
olhos.
Maldito seja, Harry! Maldito seja!

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“We are the champions, my friends


In addition, we will keep on fighting
Till the end
We are the champions
We are the champions
No time for losers
Cause we are the champions of the world”
We are the champions – Queen

Três semanas se passaram. Danna e Grant conversaram e


decidiram regressar juntos para Nova York, uma vez que
Caleb e a maioria dos seus comparsas continuavam presos em
San Diego. Como o amigo havia adiantado, o promotor
conseguiu fazer com que o juiz negasse a afixação de fiança
para a maioria dos envolvidos. Ele justificou a solicitação ao
afirmar que os crimes eram graves demais e que corriam o
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risco de fuga, pois como a operação era de nível


internacional, os réus tinham muitos contatos fora do país.
Além disso, após fazerem um acordo com Sergei, onde
ofereceram a ele redução da pena, o homem concordou em
depor contra o chefe e entregou o cativeiro, lugar este onde
mantinham presas e incomunicáveis as mulheres traficadas.
Também encontraram no local um cofre, e dentro dele
estavam todos os passaportes tomados das vítimas. Foram
todos confiscados, juntamente com uma grande quantia em
dinheiro.
Diante do que lhe foi apresentado, o juiz acatou o pedido.
Caleb e Xavier, assim como alguns dos demais membros,
permaneceriam sob custódia do Estado da Califórnia até o dia
do julgamento, que ainda não tinha uma data para acontecer.
Sergei e Harry, como fizeram um acordo, foram enviados
direto para o presídio, onde começariam a cumprir suas
respectivas penas.
Grant abriu os olhos e esticou o braço, ainda meio
desorientado, esperando encontrar a mulher deitada ao seu
lado. Despertou de vez ao perceber que seu lugar na cama
estava vazio. Pegou-se imaginando onde Danna poderia estar,
chegando à conclusão de que, talvez, ela tivesse ido ao
banheiro, passando mal outra vez.
Esperou por alguns minutos, porém, como ela não
retornou, resolveu se levantar e ir até o corredor, para
verificar se ela estaria onde ele havia pensado a princípio.
Logo notou que ela não estava lá, então se virou e andou,

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ainda descalço, em direção à escada, descendo os degraus e


indo até a cozinha, quando, por fim, pôde respirar aliviado ao
encontrá-la sentada à mesa.
Notou que ela tinha uma laranja nas mãos e os restos de
outra à sua frente. Viu-a levar a fruta à boca com tanta
vontade que dava para ver parte do suco escorrendo pelo seu
queixo.
— O que está fazendo aqui a essa hora e chupando laranja?
—perguntou Grant, acomodando-se na cadeira à frente dela.
— Este seu filho aqui está me pedindo para comer coisas
ácidas. A fatia de abacaxi que tinha na geladeira já foi, agora
estou na segunda laranja, e espero que ele fique satisfeito,
caso contrário, terei que chupar aqueles limões ali. — Ela fez
uma careta e estremeceu com a ideia.
Grant sorriu de sua expressão azeda. Danna vinha tendo
alguns desejos, nada que o fizesse sair correndo no meio da
madrugada, mas alguns eram umas misturas realmente
estranhas, algumas até interessantes.
— Faz parte, né? O filhinho do papai já está dando
trabalho para a mamãe — comentou ele, tocando seu ventre.
— Bom, filhinho é modo de dizer, porque ainda não
sabemos o que é.
— Tem razão, pode ser uma menininha, mas seja o que
for, espero que se pareça com você.
— Nada disso, vai se parecer com você, que é mais bonito!
— afirmou com a laranja na boca, o que fez sua voz sair meio
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estranha e abafada.
— Eu? Mais bonito? De maneira nenhuma! — Grant
discordou sorridente. — Você é que é linda!
— Meu Deus! Que homem mais fofo esse meu! — Riu
para ele. — Acho que terá um pouco de nós dois, afinal.
— E então? — quis saber ele, após vê-la colocar o que
sobrou da laranja sobre a mesa.
— Acho que a vontade está passando — respondeu ela,
respirando fundo. — Não, espera!
Grant a viu tapar a boca com a mão, se levantar da cadeira
e sair correndo em direção ao banheiro, então se levantou e
foi atrás dela. Ao chegar, viu-a de joelhos no chão, apoiando-
se no vaso com ambos os braços, colocando tudo o que tinha
acabado de ingerir para fora.
Ele a amparou por alguns minutos, pois os espasmos a
sacudiam e a faziam engasgar.
— Uau! — foi tudo o que ele pronunciou antes de
continuar. — Está melhor? — fez a pergunta com a mão
segurando de leve sua nuca, pouco depois, viu-a levantar o
tronco e se arrastar até a parede.
— Agora sim, acho que passou — anunciou Danna, ainda
ofegante e sentindo-se fraca.
Quando a cor voltou ao seu rosto, Grant a ajudou a se
levantar e esperou, pacientemente, que a mulher se lavasse na
pia, então ambos voltaram para o quarto, onde se deitaram

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novamente.
— Amanhã temos a primeira consulta pré-natal — ela
comentou com a cabeça apoiada em seu peito.
— É, vamos ouvir o coraçãozinho pela primeira vez. Como
você se sente? — indagou Grant, fazendo carinho em seus
cabelos, meio distraído.
— Em uma expectativa só, e muito emocionada. E você?
— Danna quis saber, esticando o pescoço para ver melhor o
seu rosto.
— Idem! — Ele sorriu. — Mas ainda é meio estranho para
mim, como se não tivesse caído a ficha. Acho que isso deve
mudar amanhã.
— Eu te entendo. Às vezes não acredito que esteja
acontecendo. Se não fossem as mudanças do meu corpo e
esses benditos enjoos...
Grant levou o olhar para o relógio e viu que ainda eram
três horas da manhã.
— Vem, vamos dormir mais um pouco, temos um bom
tempo até a consulta — disse, apagando a luz e ajeitando-se
melhor na cama.
— Sim, tem razão — concordou Danna, cerrando os olhos
e se aconchegando mais a ele.

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— Preparados? — perguntou um senhor de meia-idade,


baixinho e atarracado, de barba fechada, usando óculos de
grau, vestindo um jaleco branco e entrando na sala sorrindo e
esfregando as mãos. Caminhou direto até o ultrassom e se
sentou em uma cadeira posicionada na frente do aparelho.
— Mais do que preparados, doutor — respondeu Danna,
com a mão de Grant na sua.
Dava para notar que ambos estavam ansiosos, e até mesmo
impacientes. Ele permaneceu de pé ao lado dela, que estava
deitada e pronta para se submeter ao exame.
— Vamos lá, então! — o médico anunciou, começando a
fazer movimentos circulares com a ponta do aparelho no
ventre de Danna, ao mesmo tempo mantendo-se atento às
imagens que iam surgindo no monitor.
Não demorou muito e puderam ver um pequeno borrão,
algo minúsculo, se movendo como se fosse uma veia. Danna
apertou mais a mão de Grant, emocionada, pois aquela era a
primeira visão do filho deles.
— Posso ver que tudo está indo muito bem, e pelo
tamanho do embrião, você está de oito semanas.
Dizendo isso, o médico girou um botão e o ambiente foi
preenchido por um som de batimentos, acelerados, frenéticos,
como se algo estivesse pulsando dentro d’água.
— Grant, esse som é o coração do nosso bebê! —
exclamou Danna, sentindo as lágrimas chegarem aos olhos.
— E é o som mais lindo que já ouvi.
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— Sim, meu amor, é o mais lindo de todos — confirmou


ele, sentindo o coração se aquecer e os olhos marejarem.
— Do nosso, não... Dos nossos! — o médico a corrigiu.
— O QUÊ? — Danna e Grant praticamente gritaram em
uníssono.
— Não posso ver o sexo ainda, pois a gravidez tem pouco
tempo, porém, posso dizer, com toda certeza, que são dois
bebês. Vocês serão pais de gêmeos — o médico revelou com
um sorriso.
Danna sentiu o coração falhar uma batida, um frio
atravessar sua barriga e a respiração lhe faltar. Impossível!
Dois bebês dentro dela? Oh, céus!
Olhou para o homem ao seu lado e sentiu as mãos se
afrouxarem. Gotinhas de suor se formavam em sua testa, ele
parecia pálido e atordoado. Os olhos estavam arregalados, os
lábios, entreabertos.
— O senhor disse dois? Gêmeos? — Grant procurou por
uma confirmação. Estava a ponto de começar a passar mal.
Aquilo estava acontecendo? De verdade? Seria pai de dois
bebês de uma vez? Choque e medo o definiam naquele
momento.
— Danna... Eu... — começou a falar, porém, sentiu que a
voz ia sumindo.
— Eu sei, amor, estou sentindo o mesmo que você.
— Isso é incrível! Inesperado! Nem sei o que te dizer.
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— Não precisa dizer nada, basta que você nos ame, a mim
e a eles.
Danna olhou emocionada para o homem que amava e
depois se voltou para o monitor. Incrível era pouco. Aquilo
era demais! Para quem sempre pensou que não poderia ter
nenhum, agora teria dois. Benção em dobro. Não poderia se
sentir mais feliz. Sua felicidade só se comparava ao que sentiu
no dia em que levou Amy para casa, vários anos antes.
— Claro, isso nem precisa pedir, eu já amo os três.
— Eu vou ficar enorme, uma baleia. Será que ainda vai me
amar assim?
— Sim, sua boba, vou morrer de amor. Não tenho a menor
dúvida de que vai ser a gordinha mais linda da cidade —
Grant afirmou com um brilho de orgulho nos olhos,
depositando um beijo suave na testa da mãe de seus filhos.
O médico pigarreou, chamando a atenção dos dois.
— Vejo que foram tomados de surpresa, eu sei que é
emocionante. Tenho cinco e fiquei assim, como vocês,
quando soube de cada um deles. Foi uma emoção diferente da
outra, mas sempre me tirou um pouco do chão — contou,
passando uma caixinha com lenços de papel para ela, que
puxou alguns deles e passou sobre a barriga, tirando os
resquícios do gel.
Após se limpar, Danna ajeitou a blusa e desceu da cama,
então os três passaram para o consultório. Depois das
recomendações de praxe, saíram, levando uma cópia do
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exame com eles.


Ao virar a curva da rua da casa de Danna, Grant viu, de
longe, alguém de pé em frente ao portão.
— Aquela não é a Amy? — perguntou ele, olhando para a
mulher ao seu lado.
— Sim, é ela, mas não me avisou que chegaria hoje. Que
estranho!
Danna tirou o celular da bolsa e verificou que havia uma
chamada perdida e duas mensagens da filha que não tinha
visto.
Tão logo Grant estacionou, Danna desceu da caminhonete,
apressada.
— Amy! Eu não sabia que já tinha chegado, esperou
muito? Tive um compromisso logo cedo e acabei não
checando as minhas mensagens, nem as ligações perdidas, me
desculpe. Vamos? — chamou depois de dar um beijo no
rosto da filha.
— Tudo bem, mãe, eu acabei de chegar, não faz nem cinco
minutos — Amy a tranquilizou.
Ambas passaram pelo portão, Amy puxando sua mala de
rodinhas.
— Oh, desculpe! Olá, Grant!
— Pensei que eu estivesse invisível e não ia falar comigo,
pequena! — brincou ele. — Que bom que está de volta! —
disse com sinceridade.
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— É bom estar de volta. — Ela sorriu para ele.


— Vou te levar até o seu quarto e te deixo se instalando.
Estarei aqui embaixo se precisar de algo, certo?
— Certo! — Amy concordou e as duas subiram as escadas.
— Fique à vontade, aqui não é os Hamptons, mas agora é a
nossa casa. O que acha? — Danna quis saber ao adentrarem o
quarto que havia preparado para a filha.
— Acho bem legal, mãe. Mudar também é bom, às vezes.
Amy colocou a mala sobre a cama e abriu o zíper. Viu a
mãe sair e deixá-la sozinha, então pôde observar o lugar com
mais atenção. Não se parecia em nada com o outro que tinha
na mansão, mas esse era espaçoso e arejado. Possuía uma
janela bem ampla e poucos móveis, apenas um guarda-roupa,
uma cama, uma penteadeira e uma estante estilizada presa em
uma das paredes. Os detalhes, a mãe deixou por sua conta.
Compraria com parte de sua mesada e o deixaria com a sua
cara.
Levou algum tempo para separar e guardar suas roupas,
então resolveu tomar um banho antes de descer, pois se sentia
acalorada da viagem. De cabelos molhados e uma roupa
fresca, descia as escadas, quando, de repente, estacou no meio
dos degraus. A mãe e o Grant estavam sentados na sala e ela
ouviu quando citaram seu nome.
— Vai mesmo contar para a Amy hoje? Está preparada? —
Grant perguntou.
— Estou, chegou o momento, não posso esperar mais, ela
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merece saber.
— Eu sei e concordo com você. Como me disse que quer
ter essa conversa com ela sozinha, vou dar um tempo no
estúdio, me chame quando terminar.
— Está bem, te vejo depois.
Ele se inclinou para beijá-la nos lábios, porém, mudou de
ideia no último instante e a beijou na testa, deixando a sala em
seguida.
— O que a senhora tem para me contar, mãe? — Amy
irrompeu o cômodo e se aproximou de Danna com uma
expressão de cautela e curiosidade no rosto.

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“Don’t speak
I know just what you’re saying
So please stop explaining
Don’t tell me ’cause it hurts
Don’t speak
I know what you’re thinking
I don’t need your reasons
Don’t tell me ’cause it hurt”
Don’t speak – No doubt

— Amy! — exclamou Danna, girando o pescoço em


direção à filha e levando uma das mãos até o meio do peito.
— Você me assustou, não te vi chegar.
— A senhora e o Grant estavam distraídos, por isso que
não me viram — disse se aproximando.

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— Você está aí há muito tempo? — perguntou, com a


certeza de que a filha tinha ouvido pelo menos uma parte do
que ela e o Grant falaram.
— Pouco. Acabei de descer, peguei só o final do que
conversavam. Mas então, vai me contar ou não?
— Sim, vou. Vem aqui — Danna a chamou e Amy foi se
sentar no sofá, ficando de frente para ela, que se inclinou e
tomou as mãos da filha nas suas. — O que eu tenho para te
falar é que... — Iniciou a conversa, porém, hesitou por um
momento.
Tinha pensado tantas vezes no que falaria, durante tanto
tempo, e agora que havia chegado a hora, sua mente parecia
ter se esvaziado, estava em branco, e por mais que se
esforçasse, não conseguia se lembrar de nada.
— Fala, mãe! O que é tão importante assim? É algo sobre
o meu pai?
— Não, não é sobre o Caleb — Danna negou e respirou
fundo. — O que acontece, Amy, é que eu conheci uma pessoa
e me apaixonei por ela.
— Sério? Mas isso é uma ótima notícia! — exclamou, o
rosto iluminado por um sorriso. — Até que enfim, já era hora
de ser feliz, não é, dona Danna? — Provocou a garota,
divertida.
— Pois é, aconteceu. — Sentindo-se um pouco sem graça,
Danna sorriu para a filha.
— E quem é ele? A senhora o conheceu nessa viagem que
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fez à Inglaterra?
— Não, eu o conheci aqui mesmo, em Nova York.
— Já sei! — Amy deu um gritinho entusiasmado. — Ele é
um amigo da tia Betsy e foi ela quem apresentou vocês dois,
acertei?
— Não, não foi assim. Melhor eu te contar logo quem é,
afinal, tenho protelado isso há muito tempo. — Respirou
fundo, mais uma vez, para se munir de coragem. — O homem
por quem eu me apaixonei acabou de sair daqui.
— A senhora quer dizer que se apaixonou pelo...? —
indagou Amy, deixando o restante da frase no ar, virando o
rosto na direção da porta e voltando a fitar a mãe com uma
expressão confusa no rosto.
— Isso mesmo, Amy, eu estou apaixonada pelo Grant.
— Mas, mãe, como assim o Grant? Ele não tem nada a ver
com a senhora! — retrucou Amy, sem esconder que estava
surpreendida. A minha mãe e o Grant? Juntos? Não, isso não
é possível!
— O que quer dizer com “nada a ver”? — questionou
Danna, aguardando para ouvir quais seriam os argumentos da
menina.
— Ele não frequenta as mesmas rodas, não tem uma
formação convencional, não tem as mesmas amizades e é
mais novo do que a senhora. E eu...
— Isso de frequentar rodas não é você falando, isso é

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coisa do seu pai e da família dele. Você sabe que eu nunca me


importei com essas formalidades e nunca me dei bem com a
hipocrisia deles. Com relação à idade, eu também me senti
um pouco estranha no início, mas superei — justificou-se
Danna, porém, estacou ao notar que a tinha cortado. —
Desculpa, você ia me dizer outra coisa e eu te interrompi. O
que é?
— É que eu gosto dele, mãe — declarou Amy. — Achei
que, um dia, podíamos, enfim...
— Eu sei que gosta dele, Amy, e acho ótimo que seja
assim. O Grant também gosta de você, são amigos.
— Não é só como amigo que eu o vejo, mãe! A senhora
entende?
— Filha, você nunca me disse que gostava do Grant de
uma maneira diferente.
— Nem precisava. Só a senhora não percebeu, e agora está
roubando ele de mim! Eu vi o Grant primeiro! — gritou
irritada.
— Não é nada disso, eu não o estou roubando de você, não
planejei me apaixonar por ele e nem ele por mim! Aconteceu!
Preciso que entenda isso!
— Tinha que dar em cima dele depois que se separou do
meu pai? Tantos homens por aí, por que justo o Grant? Agora
entendi o motivo de estar se arrumando, se cuidando mais,
mas deixa para lá, que importância tem o que eu sinto? De
qualquer maneira, eu dou os parabéns para a senhora, que seja
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feliz com ele! — falou em tom de ironia.


— Amy! Que tom é esse? Não fale assim, eu não mereço!
Você está sendo muito injusta comigo!
A garota a ignorou e foi saindo pela porta, deixando a mãe
falando sozinha na sala. Danna ficou ali, parada, sentindo-se
mal, incomodada e confusa. Já esperava que a reação da filha
não fosse a melhor de todas, mas não imaginava que seria
assim. Nem lhe tinha dado uma chance, apenas a julgou e foi
embora. Enquanto isso, no estúdio, Grant estava ansioso e
preocupado, pois a mulher já tinha tido tempo suficiente para
conversar com a filha e ainda não o tinha chamado. Resolveu
sair e ir até a casa. Adentrou a sala e não a encontrou. Subiu
as escadas e chegou ao quarto. Ela estava sentada na beirada
da cama, olhando pela janela, e parecia triste e chateada.
Grant se aproximou e se sentou ao seu lado, envolvendo os
seus ombros com um braço.
— O que foi? Vocês duas conversaram?
— Sim, e eu contei para ela sobre nós.
— E pelo visto ela não reagiu muito bem — concluiu
Grant. — Eu a vi perto da piscina, falei com ela e não me
respondeu.
— Foi muito estranho, Grant. Ela me disse que eu
estava te roubando dela. Sou mesmo uma idiota, não vi
que te olha de modo diferente, ou não quis perceber, não
sei. Ela ficou chateada. Se eu soubesse, talvez tivesse
contado de outra forma, de um modo mais suave. É minha

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filha, não gosto de vê-la assim.


— Danna, eu sempre vi a Amy como uma amiga, e juro
que jamais olhei para ela de outra maneira, acho que nunca
dei a entender que queria algo além de amizade. Para mim, a
sua filha ainda é uma garota. Esperta, sim, e que gosta muito
de conversar, mas nada além disso — assegurou Grant,
achando tudo aquilo um absurdo, pois nunca havia passado
pela sua cabeça que a adolescente mantivesse uma ilusão
romântica com ele.
— Eu sei, meu amor — disse Danna. — Eu acredito em
você.
Grant se pôs de pé, disposto a sair.
— Vou lá fora e já volto. Fica tranquila. Não gosto te ver
assim, triste.
— Aonde você vai?
— Falar com ela. Volto daqui a pouco.
Danna tentou convencê-lo a ficar.
— Não, deixa. A Amy vai pensar melhor e ver que...
— Está sendo egoísta? — Grant completou a frase por ela.
— A Amy é bem madura para a idade que tem, por isso
esquecemos que só tem dezessete anos, ainda não é uma
adulta e pode, sim, agir de acordo, ou seja, como uma
adolescente. Não se preocupe, eu vou, converso com ela, e já
volto.
Danna o viu sair sem poder fazer nada para impedi-lo,
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estava decidido.
Grant atravessou o quintal e parou ao lado da garota, que
balançava os pés na beira da piscina, então se agachou para
ficarem no mesmo nível.
— Você deixou sua mãe chateada.
— Ela também me deixou.
— E por que você fez isso? Sua mãe te adora! Ela me
contou o que você falou para ela, sinto muito se um dia te fiz
acreditar que podíamos ter algo além de amizade. É uma
garota incrível e gosto muito de você, Amy, mas sempre foi
uma amiga que me faz lembrar minha irmã caçula.
— Eu sei que gosta de mim como amiga, e a culpa não é
sua se eu resolvi fantasiar com você.
— Desculpe-me por eu te dizer isso assim, mas me
apaixonei pela sua mãe, eu a amo de verdade, e você pode
fazer birra pelo resto da sua vida que essa sua atitude não vai
mudar o que sinto. Não foi você mesma que a incentivou a
sair daquela vida que levava? Que deu força para ela mudar e
se tornar outra pessoa? Mais forte, decidida e em busca da
própria identidade?
— Foi. Eu detestava o que meu pai fazia com ela. Não me
entenda mal, eu amo a minha mãe e quero vê-la bem, feliz.
Quando morávamos com ele, ela quase nunca ria, estava
sempre preocupada em não desagradá-lo, pena que não
percebia que agradar o meu pai era uma missão impossível.
Acho que só fiquei um pouco confusa quando ela me disse
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que vocês estão juntos.


— Entendi, só que com a sua atitude, você fez a sua mãe
chorar, e isso não foi legal.
Amy abaixou a cabeça, fixando o olhar nos pequenos
redemoinhos que fazia com os pés.
— Eu sei, foi mal, vou me desculpar com ela.
— E deve mesmo, ainda mais agora. A Danna está
contando com o seu apoio e carinho, e quando ela pensou que
os teria, você virou as costas para ela.
— O que quer dizer com isso? — perguntou ela, levando
os olhos até ele, fitando-o confusa.
— Acho que ela ia te contar, só que você não deixou.
— E o que é? Pode me dizer?
— Melhor você saber através dela. Vem, vamos voltar lá
para dentro e vocês continuam a conversa de onde pararam.
Amy aceitou sua mão, que a ajudou a se levantar, então
ambos voltaram para a casa, subindo até o quarto, porém,
Danna não estava mais lá. Apuraram os ouvidos e ouviram
ruídos vindos do banheiro, e logo ela apareceu.
— Nossa, mãe, como a senhora está pálida! Passou mal
por minha causa? Desculpa, sei que fui precipitada e agi como
uma menininha birrenta.
— Não, meu amor, não foi por sua casa. É normal
acontecer isso no meu estado.

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— Bom, eu vou sair por um instante — Grant a


interrompeu. — Está tudo bem, Danna?
— Sim, estou bem. Pode ir, nos vemos depois.
Grant deixou as duas sozinhas.
— Estou grávida, Amy — Danna contou de uma vez,
ficando no aguardo da reação da filha.
— Mas... como? A senhora não podia...
— Fui levada a acreditar que era estéril, mas não era eu
quem não podia ter filhos, sempre foi o seu pai. Eu te conto os
detalhes dessa história outra hora, está bem?
Danna se sentou na cama novamente.
— Está, outra hora a senhora me conta. Então quer dizer
que vou ter um irmãozinho?
— Ainda não sabemos o sexo, estou só de dois meses, mas
posso te dizer que são gêmeos.
— Dois? — perguntou a garota, perplexa e com os olhos
arregalados.
— Exato! Eu que achei que não podia ter um, agora vou ter
dois... Dá para acreditar?
— Que surpresa, estou passada com essa notícia!
— Eu queria que ficasse feliz.
— E estou. Confesso que eu tinha uma quedinha pelo
Grant, mas agora percebo que ele não é para mim. Fico
contente que a senhora tenha acordado para a vida e se
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apaixonado, mesmo que seja por ele, já que não encontrou


coisa melhor — Amy a provocou, com um ar travesso no
rosto.
— Não fala assim, ele é um homem maravilhoso.
— Estou brincando, o Grant é um cara legal, gente boa. Eu
fui a primeira a dizer isso, lembra? — Amy sorriu, fitando a
mãe. — Não importa o que sejam esses dois, aí dentro, serão
bebês lindos, perfeitinhos e muito amados — completou com
ternura.
— Que bom te ouvir falar assim. — Danna agora se
derretia toda pela filha. Ah, como amava aquela menina!
— Desculpa de novo, mãe. Não sei onde eu estava com a
cabeça para falar com a senhora daquele jeito.
— Tudo bem, já passou.
Amy puxou o ar com força e logo o soltou, bem devagar.
— Com dois não vai ser fácil, vai precisar de ajuda —
afirmou encantada, sentando-se ao lado da mãe. — Gente,
ainda não estou acreditando nisso! É surreal demais!
— Isso é verdade — falou Danna, dando um abraço na
filha. — Será a irmã mais velha agora. Vai me ajudar com
eles? Porque vou precisar de toda a ajuda possível.
— Claro, pode contar comigo, e quanto a ser a irmã mais
velha, estou adorando a ideia.

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Prisão de San Quentin, Cidade de San Rafael, Estado


da Califórnia.
— Preciso sair daqui, se vira, dá seu jeito, Jacob! — exigiu
Caleb, com um olhar ameaçador e um tom de voz baixo,
entredentes.
Recebia a visita do advogado e ficava mais nervoso e
enfurecido a cada negativa do homem. Tinha que ter algo que
ele pudesse fazer para tirá-lo daquele lugar, aquilo ali era um
verdadeiro inferno, pior do que se podia imaginar. Um
homem como Caleb, tendo que se rebaixar a ladrões de
galinha. Alguns o miravam com lascívia nos olhos, e não
poderia sentir-se mais enojado. Se não tivesse alugado um dos
prisioneiros como seu guarda-costas, a essa altura a coisa
poderia estar bem mais feia para o seu lado, sorte que tinha
dinheiro, muito dinheiro, e quem o possuía, mandava no
lugar.
— Não posso fazer nada, estou de mãos atadas, o juiz não
afixou fiança, vai ter que aguentar mais um pouco, Caleb, não
tem opção — informou Jacob, mostrando-se aflito e
impaciente. Já perdera a conta de quantas vezes havia dito a
mesma coisa para o cliente.
— Mais fácil falar do que fazer — grunhiu ele, irritado. —
Soube que quem ajudou a me colocar aqui dentro foi o Garoto
de Ouro, o tal de Grant. Alguém me contou que sobreviveu ao
acidente, esse rapaz parece um gato, tem uma sorte que
impressiona. Temos que fazer com que essa sorte acabe, já
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que Sergei e seu pessoal falharam. Preciso que arrume um


profissional que seja capaz de dar um jeito nesse miserável de
uma vez por todas.
— Ficou louco? Falar essas coisas aqui dentro? Alguém
pode te ouvir e tudo vai pelos ares, de vez. Não estou te
reconhecendo, Caleb, parece que a cadeia está te deixando
burro e descuidado — Jacob o repreendeu seriamente, dando
um pequeno golpe na mesa e olhando, desconfiado, para os
lados.
— Não se faça de besta comigo, Jacob! Sei o que estou
fazendo, posso ficar aqui, nesse inferno, mas satisfeito em
saber que o desgraçado está comendo grama pela raiz. Faça o
que for preciso, não vou deixá-lo lá, vivendo feliz com a
minha família, enquanto eu apodreço nesse lugar maldito.
— Você tem que desistir disso, Caleb, não vai te levar a
lugar algum. O melhor que pode fazer é se preocupar consigo
mesmo e com a situação em que está. Eu te adianto que não
quero me envolver em nada ilegal. O meu conselho é que
aguente, e como já disse antes, farei o que puder para te tirar
daqui, porém, não vou fazer nada contra a lei, devia saber
disso — advertiu Jacob, levantando-se e pegando a valise de
cima da mesa, pronto para sair.
Caleb fez o mesmo, se pondo de pé e encarando o
homenzinho que parecia ainda menor ao se encolher diante de
seu olhar irado.
— Só porque estou nessa gaiola pensa que pode pôr as
manguinhas de fora e me afrontar? Pois saiba que estou longe
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de me dar por derrotado ou vencido, e não me tenha por um


tolo, sei muito bem que você não segue a lei tanto assim.
— Está sendo rude, Caleb. Eu deveria te deixar à própria
sorte! — Jacob resmungou.
— Parece que se esqueceu com quem está lidando —
sussurrou Caleb, inclinando-se e fitando-o fixamente nos
olhos. — Arrume alguém para fazer o serviço, e que não haja
falhas dessa vez! — ordenou.
Pouco depois, seguiu o advogado com os olhos enquanto
este deixava o local. Um lenço apareceu em sua mão, com o
qual, visivelmente abalado, enxugou o suor da testa.
Consegui que o idiota ficasse com medo, agora é só ter
paciência e esperar que faça o que mandei, pensou Caleb,
com um sorriso perverso nos lábios.

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“Come as you are, as you were,


As I want you to be
As a friend, as a friend, as an old enemy
Take your time, hurry up
The choice is yours, don’t be late
Take a rest, as a friend, as an old memory”
Come as you are – Nirvana

— Você está me dizendo que está vindo para cá? —


indagou Grant, franzindo o cenho, surpreso, ao ouvir o que o
amigo tinha acabo de lhe dizer, porém, relaxou quando notou
o entusiasmo na voz de Trent.
Por um momento, Grant pensou que o advogado tivesse
más notícias sobre o Falcão e não quisesse lhe contar por
telefone. Aliviado, soltou o ar. Aquele homem ainda o

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deixava apreensivo, e mesmo estando enjaulado, não era


alguém que pudesse subestimar, era uma fera perigosa
demais.
Grant não abaixava a guarda, mesmo estando a milhares de
quilômetros de distância. O poder que Caleb possuía poderia
alcançá-los, caso realmente decidisse fazer algo contra eles.
Não via a hora que o bandido fosse julgado e condenado de
uma vez, só então, quando ele estivesse em uma prisão
federal e de segurança máxima, poderia dormir tranquilo.
A voz animada do amigo penetrou seus pensamentos, o
trazendo de volta à realidade.
— Isso mesmo, cara. Recebi uma proposta de emprego
para trabalhar em Manhattan, é uma oferta irrecusável. Já
falei com um dos sócios e me ofereceram sociedade, uma
parcela pequena, mas não dá para deixar escapar. Estou indo
para acertar uns detalhes, documentos e tal. Acredito que tudo
seja resolvido em dois dias, e dando certo, precisarei de duas
semanas para passar os casos que tenho em andamento para a
pessoa que vai ficar no meu lugar.
— Que ótima notícia, você merece, e faz tempo que queria
se mudar.
— Pois é, estou com quase trinta e seis, isso vai dar um gás
na minha carreira, é ou agora nunca. Chego aí na quinta-feira
e aproveito para passar o fim de semana na cidade. Vou pegar
o voo das onze, tem como me buscar no aeroporto?
— Claro que sim, e eu faço questão. Já sabe aonde vai

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ficar?
— Ainda não vi isso, vou tentar reservar um quarto em
algum hotel perto do prédio do escritório.
— Hotel em Manhattan? Não sei, não, hein?! Os preços lá
são o olho da cara, se quiser, pode ficar aqui conosco, não tem
luxo nem nada, mas dá para se ajeitar tranquilamente.
— Opa, claro que fico! E isso de luxo, por favor, Grant,
você melhor do que ninguém sabe das minhas origens, se hoje
tenho um pouco mais, é por conta do meu esforço e trabalho.
Mas olha lá, só fico com vocês se não for incomodar —
advertiu ele, contrito. — A última coisa que quero é
atrapalhar o casal de pombinhos.
Grant riu das observações do amigo.
— Que bobagem é essa, Trent? Assim você até me ofende,
que incomodar que nada. Fique tranquilo, eu aviso a Danna, e
estou certo de que ela ficará feliz em receber você.
— Beleza, cara. Conversa com ela e nos falamos.
— Combinado!
Grant desligou o celular e notou a mulher se aproximando
por trás. Ela o envolveu com os braços, entrelaçando as mãos
em seu peito.
— Quem era? — perguntou curiosa, muito perto de sua
orelha.
— Era o Trent, me ligou para avisar que está vindo para
cá.
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— E o que ele vem fazer em Nova York? Algum motivo


especial?
— Uma oferta de emprego que, segundo ele, é irrecusável.
Recebeu uma proposta de sociedade em um escritório de
advocacia em Manhattan. Depois da prisão do Caleb, Trent
ficou conhecido como o advogado que ajudou a derrubar a
operação em San Diego — explicou, puxando-a pela cintura
de surpresa e a fazendo cair em seu colo.
— Ei, vai com calma, cowboy! — exclamou ela, ajeitando-
se e rindo.
— Desculpa, sou mesmo um bruto, te machuquei?
— Claro que não, eu só não esperava. E sou eu que
pergunto, te machuquei?
— Estou bem — disse ele, mostrando o braço engessado
para ela.
— Menos mal. Sabe, me ocorreu uma coisa agora... Depois
que voltamos, tenho notado a Betsy um pouco mudada. Nós
nos falamos duas vezes por telefone, e não sei explicar o
porquê, mas tenho a impressão, embora a teimosa negue, que
o seu amigo Trent mexeu muito com ela.
Grant inclinou a cabeça para olhá-la melhor.
— Eu não saberia dizer, ele é muito discreto e reservado
quando quer. Digo isso porque, dependendo da ocasião, ele
até se gaba das suas ficadas, aventuras, conquistas ou como
quer que ele chame. No caso da Betsy, não me disse
uma única palavra, e confesso que não tive a curiosidade de
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perguntar — admitiu pensativo. — A propósito, eu disse para


ele que ia falar com você sobre ficar aqui durante o tempo que
estiver na cidade, tudo bem?
— Sim, tudo. Se ele não se incomodar com a nossa vida
simples, sem problemas. E já que você tem ficado comigo,
o estúdio está livre, ele pode ficar lá sossegado — sugeriu,
saindo do colo de Grant. — É melhor eu dar uma olhada para
ver se não está faltando nada, produtos de higiene, toalhas
limpas, roupa de cama, essas coisas.
— É uma boa ideia — concordou. — Vai precisar de
ajuda?
— Não, posso resolver isso sozinha, obrigada.
Danna se dirigia à porta para fazer o que havia dito quando
algo a deteve.
— Eu ainda não te agradeci pela maneira como lidou com
a Amy ontem.
— E você acha que é necessário me agradecer? Estamos
juntos nessa, e como em toda família, temos alguns altos e
baixos, normal.
— É isso o que somos? Uma família?
— Com certeza, e muito linda. Eu, você, nossos bebês e a
Amy — concluiu a olhando com amor. — Já que não precisa
da minha ajuda, vou retomar pelo menos uma parte da
reforma da casa, meu braço já está quase bom e não tem
doído, acho que dá para fazer algumas coisas mais leves,
como trocar as tomadas e os interruptores dos quartos, por
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exemplo — disse se levantando.


— Vai precisar das duas mãos para fazer isso.
— Se eu tirar o braço da tipoia, talvez eu consiga, vale a
pena tentar — argumentou e logo se interrompeu. — Ah,
lembrei! Eu queria comentar duas coisas com você.
— Pode falar.
— Lembro que você comentou comigo sobre ter se
matriculado em um curso.
— É verdade, mas tive que transferir a matrícula para a
próxima turma, eu ia começar justo na semana que viajei para
San Diego.
— Entendi, te atrapalhei, não é?
— Não me atrapalhou em nada! — negou veemente. —
Você foi, é e sempre será prioridade para mim.
— É bom ouvir isso. A outra coisa é sobre aquele médico,
que te diagnosticou como sendo estéril e até forjou os exames.
Desistiu de processá-lo?
— Eu deixei esse assunto nas mãos do meu advogado.
Quando eu soube, você se lembra, fiquei indignada, mas
depois, com a cabeça mais fria, pensei melhor e resolvi que
não vale a pena me estressar por causa dele, decidi que não
quero nem olhar na cara daquele homem de novo.
— Está certa, assino embaixo, não vale a pena mesmo —
Grant concordou sério.
— Quanto a retomar a reforma, vai com calma, Grant,
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tome bastante cuidado, você só vai tirar esse gesso na semana


que vem. Não vai querer ficar mais do que o estritamente
necessário com ele, certo? Imagino que deve ser bem chato
ter os movimentos restringidos — advertiu Danna, sorridente,
deixando a casa junto com ele.
— E é mesmo. Primeiro foi aquela lasca, agora essa
fratura. Não estou com muita sorte com esse braço, mas pode
deixar, tomarei cuidado, e se não der para fazer o que estou
pensando, com certeza vou encontrar outra coisa. Só não
quero ficar parado, porque esse ócio está me deixando louco
— reclamou, entretanto, tinha um sorriso de satisfação no
rosto. Amava o fato de a mulher se preocupar com o seu bem-
estar.

Alguns dias depois.


— Não, não, não! — Betsy falava movendo a cabeça em
negação. — Isso não aconteceu, não comigo, de jeito
nenhum! Não é possível! Não comigo!
Enquanto falava, não parava de andar de um lado para o
outro do quarto, feito uma barata tonta, completamente
descontrolada. Começou a suar frio. Colocou a mão na testa e
percebeu que estava trêmula. Um calafrio de medo desceu
pela extensão de sua espinha, chegando até o peito,
dificultando a respiração e indo parar na barriga.
— É, Betsy, acho que agora a coisa desandou, a casa caiu,
o leite azedou, a vaca foi para o brejo! — recitou para si

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mesma e levou o teste até os olhos mais uma vez. As duas


listras continuavam lá, não tinham sumido. — O que você
pensou, sua boba? Que ia acontecer um milagre só porque
você fez a dança do desespero? Claro que não, minha filha,
você perdeu. Perdeu! Entendeu agora?
Voltou a andar em círculos, estava agitada demais. De
repente, parou. Permaneceu no mesmo lugar por alguns
minutos, sem se mexer. Duas listras vermelhas = positivo
para gravidez. Droga!
Ela era uma verdadeira neurótica quando se tratava de se
prevenir. Costumava usar um, dois, até três métodos, algumas
vezes, todos ao mesmo tempo. Só parou com as pílulas após o
término com o Robert, porque vinha sentindo uns efeitos
colaterais desagradáveis, mas com Trent acabou deixando
esse detalhe passar.
E ele nem para comprar umas camisinhas que prestem,
caramba! Lembro que o Trent me falou para tomar a pílula
do dia seguinte. Pensa, Betsy, você tomou ou não tomou,
mulher?, perguntou-se, puxando pela memória e se dando
conta de que havia se esquecido desse pequeno
detalhe. Idiota, burra, tapada! Isso não está acontecendo, não
pode ser verdade! Respira, respira e se acalma. Tudo não
passa de um sonho ruim, logo você vai acordar. Melhor eu
me beliscar... Ai! Não com tanta força, cacete!
Olhou novamente para o que tinha nas mãos. Virou a
caixinha de lado e leu: “Noventa e oito por cento de
confiabilidade”.
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Ah! Graças a Deus! Com certeza estou dentro dos dois por
cento, ufa! Melhor fazer mais um... Não, dois! Melhor fazer
três, só para garantir e me deixar mais segura, pensou duas
vezes e voltou a se sentar na borda da cama, com uma
expressão desconsolada no rosto. A quem eu quero enganar?
Já era! O negócio agora é aceitar a situação. A primeira
coisa a fazer é falar com alguém de confiança que não vai me
julgar.
— Danna, preciso da sua ajuda — pediu ao ouvir a amiga
atender.
— Betsy, o que houve? Está com a voz estranha. Você está
gripada? Ou esteve chorando?
— Eu sou uma idiota, uma burra, já me xinguei de tudo
quanto é nome, e sim, estive chorando. Estranho, não é? Não
sou dessas que chora por qualquer motivo, mas aconteceu
uma coisa. Pode vir até minha casa? Não me sinto bem o
suficiente para dirigir e preciso muito conversar com você.
Danna ouviu a amiga fungar. Devia estar muito mal, pois
nem tinha ido trabalhar. Pelo horário, não era para ela estar
em casa, e sim no escritório.
— Claro que posso, estou saindo daqui agora mesmo —
respondeu preocupada e desligou o celular.
Betsy tinha razão, era estranho mesmo, até onde se
lembrava, nunca a tinha visto assim, mas era humana, devia
estar tendo um dia ruim, só isso.
— Grant? — Danna chamou de onde estava.
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— Aqui, princesa! — respondeu ele, aparecendo no topo


da escada.
— Preciso dar um pulo na casa da Betsy, parece que ela
tem um assunto para falar comigo e tem que ser
pessoalmente. Já ajeitei as coisas no estúdio para acomodar o
Trent. Quando chegarem, é só instalá-lo lá, tudo bem?
— Ok! Daqui a pouco eu saio para buscá-lo. Diz para a
Betsy que mandei um beijo.
— Pode deixar! Eu volto mais tarde. Beijo!
— Não, não, assim de longe eu não quero — resmungou
Grant, fazendo barulho ao descer rapidamente os degraus da
escada.
— Estou com pressa, amor!
— Mas para isso aqui você tem tempo — disse ele,
envolvendo-a pela cintura, abaixando a cabeça e beijando-a
nos lábios. — Acho que vai chover, melhor verificar se tem
guarda-chuva no carro antes de sair.
— Pode deixar, eu vejo isso, a última coisa que quero é
andar por aí feito um pintinho molhado — brincou Danna,
oferecendo os lábios para mais um beijo rápido.
— E correr o risco de pegar um resfriado. Agora pode ir —
Grant autorizou com um sorriso charmoso, liberando-a do
abraço.
— Te amo, sabia?
— Sabia, e eu te amo também. Cuide-se! E dos nossos
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bebês! — advertiu ele, voltando a subir as escadas.


— Sem dúvidas! — respondeu ela, virando-se e saindo.
Meia hora depois, Danna tocava a campainha da porta da
frente da casa da amiga. Betsy não demorou a atender, e
Danna assustou-se com o que viu.
— Nossa, você está um caco, o que foi que houve?
Apenas alguns dias sem vê-la e parecia outra pessoa.
Usava um hobby por cima do pijama de plush e calçava
pantufas. O rosto estava encovado, como se tivesse perdido
peso, e tinha olheiras sob os olhos congestionados, o que a
deixava com a expressão abatida. Definitivamente, essa
pessoa que estava à sua frente não era a Betsy que conhecia.
— Obrigada por ter vindo, sei que não estou em um dos
meus melhores dias, e nem com a melhor aparência.
— Mas o que foi que aconteceu com você? Está
deprimida? Doente? Não estou te reconhecendo! — comentou
Danna, indo se sentar no sofá, com a amiga fazendo o mesmo.
— Vou dizer logo o que é, não sou de ficar enrolando... —
falou, tomando uma respiração profunda. — Acabo de
descobrir que estou esperando um filho do Trent, tem bobeira
maior do que essa? Em pleno século vinte e um, uma mulher
como eu, grávida por um vacilo.
— Eita, por essa eu não esperava! — Danna exclamou com
os olhos arregalados. Levou uns bons minutos olhando para
amiga sem conseguir articular uma frase.

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“Because everybody hurts


Take comfort in your friends
everybody hurts
Don’t throw your hands, oh no
Don’t throw your hands
If you feel like you’re alone
no, no, no, you’re not alone”
Everybody hurts – R.E.M.

Betsy parecia estar mergulhada em algum pensamento,


olhando fixo para a pantufa dos Minions que usava. Espera,
Minions? Danna olhou novamente só para confirmar. Não
tinha assimilado da primeira vez, pois só havia notado as
cores azul e amarelo.
Ainda estava um pouco aturdida pela surpresa, mas já
conseguia pensar com clareza e era capaz de entender como a
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amiga se sentia. Uma pessoa de espírito livre e independente


se abala facilmente diante de uma notícia como aquela, Betsy
precisava de um tempo para assimilar.
— E é por causa da gravidez inesperada que você está
nesse estado? Betsy, um bebê é sempre uma benção, e você
sabe, eu nem preciso te dizer isso.
Viu a amiga puxar um lencinho de papel de uma caixinha
em seu colo.
— Em teoria é tudo tão bonito — Betsy comentou meio
deprimida.
— Não é só em teoria, na prática também é, e sabe de uma
coisa? Não tem um momento em que a mulher se sinta mais
mulher, é algo tão especial, tão nosso, que só vivendo para
entender. E tenho que te contar uma coisa, ele está vindo para
Nova York.
Betsy a olhou sem saber o que Danna queria dizer com
aquela informação.
— Quem está vindo?
— O Trent. Chega hoje. A essa altura, o Grant deve estar
no aeroporto esperando por ele.
— Ai, Deus, jura? Que falta de sorte essa minha! Por que
ele tinha que vir para cá justo agora? — Betsy se agitou. —
Será que vai querer me ver, falar comigo? Ah, isso não vale!
Paciente, Danna a ouviu reclamar. Procurava manter a
calma diante da bagunça que via à sua frente. Betsy a estava

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deixando preocupada.
— Ele recebeu uma oferta de trabalho, em Manhattan. Eu
penso que, na verdade, o homem deve ter um sexto sentido,
ou o Universo está conspirando para colocar vocês dois no
mesmo lugar. Vai contar para ele?
— Não sei, nem cheguei a pensar nisso, para mim, ele
estava a milhares de quilômetros de distância daqui. Que
porcaria, estou parecendo uma adolescente confusa! A
verdade é que essa notícia me deixou um pouco abalada. E,
para piorar, o Trent está chegando e nós nem somos um casal.
— Mas isso pode mudar — Danna ponderou. — Prepare-
se, porque se esse trabalho dele der certo, ele vai se mudar
para cá, em definitivo! — contou. — Não está pensando em
não ter, ou será que está?
Danna a olhou desconfiada. Betsy bem podia estar
considerando essa opção.
— Não decidi nada ainda, a verdade é que não sei o que
fazer, o que pensar, por isso te chamei aqui, queria conversar
com você, para me ajudar, minha cabeça está um emaranhado
de pensamentos, preciso da sua serenidade.
— O que você precisar, e estiver ao meu alcance, você
sabe que faço! — Danna a tranquilizou.
— Eu sei, e agradeço por isso — falou Betsy, pegando
mais um lencinho e fungando nele. — Tenho trinta e quatro
anos, um bom emprego com um ótimo salário, minha
liberdade – que por sinal, prezo muito –, enfim, uma vida toda
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montada, ser mãe solteira, definitivamente, não estava nos


meus planos.
— Mas aconteceu, e eu te entendo, só que está falando
como se estar grávida fosse o fim do mundo, e não é nada
disso.
— Minha vida vai mudar muito, e não sei se quero que
mude. Criar um filho sozinha não é fácil, exige demais.
— Por que você diz isso? De criar sozinha? Nem sabe o
que o Trent pode pensar a respeito.
— Tenho certeza de que ele não vai querer, chegamos a
tocar no assunto em algum momento, não lembro direito
quando e nem por que, mas quando estivemos juntos, uma
coisa que deixamos bem clara foi que não estávamos
procurando por um relacionamento, o que era verdade.
— Só que agora isso é passado. Quer mais envolvimento
do que um filho? Vão precisar rever as prioridades, vocês
dois.
— Eu sei, mas ter alguém ligado a mim só por um
filho? Não, de jeito nenhum, obrigada!
— Está se precipitando. Eu sei que você gosta dele, e
muito.
— Eu gostar sozinha não serve de nada!
— Olha aí, você tirando conclusões precipitadas de novo!
— Danna a censurou. — Não sabe como ele se sente e nem
como vai reagir quando souber que será pai. Melhor

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conversar primeiro e descobrir logo do que ficar imaginando.


E tem algo que você não está considerando também, esse
bebê aí não tem culpa de nada do que vocês dois fizeram ou
decidiram fazer.
— Ele andou me ligando, não atendi porque achei melhor
não alimentar algo que não via futuro. Isso antes de saber da
gravidez. Mas o pior é que você está certa. Vou pensar melhor
em tudo isso e decidir o que fazer. Está passando tanta coisa
pela minha cabeça que estou surpresa por não ter
enlouquecido ainda.
— Pensa bem, não tome nenhuma decisão da qual poderá
se arrepender depois, mas de qualquer maneira, inclua o
Trent, não o deixe de fora. A responsabilidade tem que ser
dividida, em tudo!
— Eu preferia que fosse planejado, e não que assim, de
supetão. Estou em pânico, Danna! Esse negócio de ser mãe é
assustador!
— Tem que manter a calma, se desesperar não vai resolver
nada, ou você por acaso acha que todas as pessoas do mundo
nasceram de gravidez planejada? Não, minha amiga, a
maioria com certeza não foi. E não adianta chorar sobre o
leite derramando, é uma vida que está aí dentro, igualzinho
aos meus dois aqui — disse Danna, tocando o ventre.
— Você disse dois? São gêmeos? Meu Pai! Quando foi
que soube?
— Ontem. Estive para te ligar, mas acabei me distraindo e

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esqueci. — Seus olhos brilhavam.


— Distraindo? Sei! Essa distração não se chamaria Grant?
— Betsy perguntou a olhando de soslaio.
— É, ele me distrai um pouco, confesso, mas não foi só
isso, contei para a Amy sobre nós e também falei dos bebês.
— E ela reagiu bem?
— No começo, na verdade, não muito, mas o Grant
conversou com ela e deu tudo certo. Disse que está feliz por
mim.
— Que bom, a Amy é uma menina esperta e madura. —
Betsy continuava olhando para ela com cara de boba. — Sabe
que ainda estou assimilando você ter dois pacotinhos aí
dentro? Que coisa, não?
— Pois é, dupla surpresa. O seu também pode ser.
Betsy se empertigou diante da possibilidade, negando com
firmeza.
— De jeito nenhum! Não me vejo com um, imagina com
dois.
— Mas vai mudar de ideia, estou certa disso. Vai ter, não
vai?
— É, creio que sim... Foi inesperado, é certo, mas não sou
a favor de, você sabe, tirar. Além do mais, sou muito
medrosa. Sei que muita gente faz, e não julgo, cada um com
seus motivos e consciência, mas é que eu morro de medo, já
ouvi tanta história de abortos que deram errado, mesmo sendo
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feitos em clínicas especializadas.


— Eu jamais pensaria em fazer algo assim. Ei, vão nascer
na mesma época, com a diferença de um mês.
— É, sim, de um mês — Betsy confirmou.
— Não fica assim, não desanima, vai dar tudo certo, Betsy!
E você sabe que pode contar comigo, com a Amy, com o
Grant, e ouso dizer que com o Trent também, algo me diz que
ele não vai te deixar sozinha nessa.
— Espero que esteja certa, adoraria que fosse assim, eu
gosto mesmo daquele filho da mãe arrogante — declarou ela,
com um sorriso tímido surgindo no canto da boca ao se
lembrar do moreno alto, bonito e sensual.
— Viu? Seu humor já está muito melhor. Agora vamos te
alimentar, esse bebê aí precisa se desenvolver bem, e vamos
marcar sua primeira consulta também. Vou falar com o meu
médico, talvez possamos fazer o pré-natal juntas.
Danna se levantou, puxando a amiga pela mão e a levando
até a cozinha.
— Boa ideia, assim me animo, e é verdade, me sinto
melhor mesmo. Você me ajuda a clarear a mente e ver que é
para frente que se anda.
— Todo mundo tem seus momentos de insegurança, não
tem como ser forte o tempo todo. Você, eu, somos só
humanas, ninguém tem que tentar ser super-herói, estamos
sujeitos a erros, enganos e fraquezas, o que fazemos e o modo
como reagimos a cada um deles é que faz a diferença. Não se
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cobre tanto, vai ver que vai ser uma supermãe.


— Quero muito que esteja certa, amiga. Um viva aos
nossos bebês! — por fim, Betsy celebrou, ainda olhando um
pouco pensativa para Danna. — Vamos comer, ou pelo menos
tentar.
Não tinha como ser diferente, todo aquele drama para
descobrir o que sabia desde o início, que não teria coragem de
se desfazer da criança, independente da relação que tivesse
com o pai do seu filho.
Como havia combinado, às onze horas em ponto Grant se
encontrava no saguão do aeroporto a espera do amigo. Não
demorou muito e o viu se aproximar. Vestia terno azul-
escuro, camisa branca e gravata, como sempre, bem alinhado.
— Grant, como vai? — Trent o cumprimentou com o
sorriso aberto e um abraço.
— Levando a vida como Deus manda. E você? Estou
vendo que está bastante animado.
— É, essa cidade tem um ar diferente, sempre quis
conhecer a Grande Maçã. Nem acredito que cheguei e que,
provavelmente, vou vir morar aqui.
— Vê como a vida é? Há menos de um ano eu estava me
despedindo de você em San Diego para vir para cá, e hoje
estou te recebendo aqui, nossos caminhos estão sempre se
cruzando.
— Isso é verdade. Vamos indo? Preciso de um banho e
trocar de roupa. Tenho uma reunião ainda hoje, no início da
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tarde.
— Então ainda temos tempo, mas sim, vamos.
Ambos caminharam até a saída e atravessaram a rua em
direção ao ponto de táxi. Devido ao braço engessado, Grant
ainda não podia dirigir.
Ao chegar em casa, o anfitrião levou o hóspede até o
estúdio, o deixando à vontade. Meia hora depois, Trent entrou
na sala da casa principal, pronto para sair novamente.
— Podemos ir juntos, se quiser, só que você dirige —
Grant se ofereceu tão logo o viu entrar.
— Não precisa, você já foi me pegar no aeroporto. Chamei
um táxi, que já chegou e está aí fora me esperando, daqui até
Manhattan são só quarenta minutos.
— Tem certeza de que não quer que eu vá?
— Tenho, Grant! E a Danna? Onde está? Eu queria dar um
alô para ela antes de sair.
— Foi ver a Betsy, parece que tinham um assunto para
conversar, não sei bem. — Explicou Grant.
— Ah, ok, entendi — Trent deu a resposta com o
pensamento o trazendo o rosto da morena. — Bom, eu vou
indo, mais tarde nos falamos.
— Está bem, até mais, e boa sorte, amigo! — desejou
Grant, dando-lhe o toque de mãos.
— Valeu, até! — Trent retribuiu o toque, despediu-se do
amigo e cruzou o quintal, saindo pelo portão. Entrou no táxi
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e, em questão de minutos, estava a caminho da reunião. Sorriu


mais uma vez ao se dar conta de que, de fato, estava em Nova
York, cidade onde vivia a mulher que não saía de sua cabeça.
Ele se prometera não se envolver, porém, pelo jeito, já era
tarde. Suspirou resignado, com o sorriso lindo da morena na
mente.

Final do dia.
— Como você vai abrindo a porta assim, sem saber quem
é? — Trent chegou dando bronca e, sem ser convidado, foi
logo entrando. — E quero saber o motivo de não ter atendido
aos meus telefonemas e nem respondido os recados que
deixei.
Betsy olhou para ele, fechando a porta. Tremeu por dentro
e se perguntou como podia não se lembrar da carga sexual
elevada daquele homem e de que era dono de uma beleza tão
máscula e marcante. Sua presença era inesquecível, e sua
atitude foi tão arrogante que a pôs na defensiva.
— O que você está fazendo aqui, Trent?
Ele a olhou fixamente e foi direto ao ponto, ao que o estava
deixando nervoso e muito ansioso.
— Que história é essa de que você está grávida? —
perguntou enfático.
— Quem te falou isso? Como você soube? — inquiriu ela.
Será que a Danna contou para ele? Não, ela é minha

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amiga e não faria isso.


— Ouvi sem querer a Danna comentando com o Grant.
Afinal, você está grávida ou não?
— Por quê? Isso te interessa?
— Interessa se o filho for meu. É meu?
A postura de Trent, de pé, à sua frente, com as pernas
ligeiramente separadas, olhando-a com olhos de águia, como
se quisesse ler o que se passava em sua mente, fez com que
ela não pudesse ocultar a verdade na própria expressão. E de
que adiantaria negar? Mais cedo ou mais tarde o mundo
inteiro ficaria sabendo, com ele incluído.
— Sim, eu estou grávida! E sim, o filho que estou
esperando é seu! — confirmou ela, levantando o queixo em
desafio.
Trent sentiu como se tivesse levado um soco no estômago.
Por um instante, teve que puxar o ar com força, logo um suor
frio o tomou e sentiu a cor fugir de seu rosto. Pânico, isso o
que sinto agora, pânico!, concluiu, intimista, e não conseguiu
evitar a pergunta que fez a seguir.
— Está certa disso? De que eu sou o pai? — questionou
arqueando uma das sobrancelhas. Não estava de todo
convencido. Não ainda.
— Claro que estou certa.
— E como você sabe disso?
— Porque sou adivinha.
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Ouviu a resposta petulante de Betsy e se encrespou,


cerrando os punhos, não estava para brincadeira.
— Sem gracinha, Betsy, o assunto é sério!
— E como que você quer que eu responda a essa pergunta
que acabou de me fazer? Só tirando sarro mesmo! —
provocou. — Sabe, me lembrei de uma coisa agora, que a
minha mãezinha, que Deus a tenha, sempre me dizia: “a
primeira coisa que um homem que não presta faz é duvidar
que o filho é dele”. Vamos esperar nascer, se tiver a sua cara,
aí vai saber que é seu. Isso se eu te deixar vê-lo para poder
comparar, é claro.
Betsy se sentiu humilhada com a atitude de Trent.
Se não quer o filho, tudo bem, eu já esperava por isso e até
sou capaz de aceitar, agora, duvidar de mim? Quem ele
pensava que eu sou? Alguém sem um pingo de caráter, que
precisa impor um filho a um homem sabendo que não é dele?,
perguntou-se indignada.
— Como me “deixar vê-lo”? Tenho os meus direitos, e
não tem nada demais, foi uma pergunta legítima, já que
usamos proteção em todas as vezes que transamos. Isso não
quer dizer que eu não presto — ele se defendeu.
Droga, agora me lembrei, na primeira vez a camisinha
rompeu e ela ficou de tomar a pílula do dia seguinte, só que
eu esqueci de confirmar se tomou mesmo. Porra, Trent!,
pensou atordoado.
— Seria legítima se eu fosse uma pessoa como você, mas
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eu não sou. Olhe bem para mim, tenho cara de quem precisa
te impingir um filho à força? Não me conhece o suficiente. Só
para você saber, eu tenho caráter, jamais faria isso, nem com
você nem com ninguém. Vindo de você, isso nem me
surpreende. E me diz, o que eu ganharia com isso? Nada. Não
se ache tanto, Trent!
Cada uma de suas palavras ferinas o atingiu como um tapa
na cara. Ela pensava que ele não era bom o suficiente para ser
o pai do filho dela? Era isso o que estava dizendo?
— Podia ter me contado, eu não ia precisar saber por
terceiros e por acaso.
— Para quê? Para você vir aqui perguntar se é seu, como
acabou de fazer? Você nem filho quer!
— E por isso você decidiu ter sozinha?
— Eu não tinha nada decidido até agora, mas diante de
tudo o que me disse, meu corpo, minha decisão. Sou
independente e sou muito mulher para assumir e criar o meu
filho sozinha, sim!
— Isso é orgulho e arrogância da sua parte, e eu pensei que
você tinha se cuidado, Betsy.
— Típico de homem machista chegar a essa conclusão. Só
a mulher tem que se preocupar em evitar a procriação, certo?
Pois você se enganou, Trent querido, porque não me cuidei e
nós dois vacilamos, você por comprar camisinhas de segunda
e eu por esquecer a maldita pílula do dia seguinte. Engole
essa agora! — esbravejou ela, nervosa.
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— Por que você está sendo tão irônica e agressiva comigo?


Quando eu disse que não queria filhos, falava em termos
hipotéticos — Trent se defendeu, fitando-a meio perdido.
— O que para mim dá no mesmo.
— É óbvio que não dá no mesmo, quem você pensa que eu
sou? Um desnaturado? Não vou deixar o meu filho largado
por aí, pelo mundo.
— Ah, agora é seu? Não faz nem cinco minutos você me
perguntou como eu sabia quem era o pai. Faz um favor para
mim? Vai embora, vai! Eu tenho mais o que fazer do que ficar
aqui tentando descobrir o sexo dos anjos. Não estou a fim,
mesmo.
Dizendo isso, Betsy começou a empurrá-lo, com ambas as
mãos espalmadas em seu peito, em direção à porta.

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“It’s my life, it’s now or never


I ain’t gonna live forever
I just want to live while I’m alive
(It’s my life)
My heart is like an open highway
Like Frankie said, I did it my way
I just wanna live while I’m alive”
It’s my life – Bon Jovi

— Para de me empurrar, porque eu não vou sair, Betsy! —


Trent estacou no lugar, negando-se a ir embora e segurando
os pulsos da mulher com firmeza. — Temos que resolver essa
situação!
Betsy se contorceu e puxou os braços, tentando se soltar.
Estava muito zangada com ele.

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— Melhor parar com isso, eu não quero te machucar! —


Trent a advertiu.
— Me solta e sai daqui, anda, seu machista de uma figa!
— Ela o olhava com fogo nos olhos. — E eu aqui
pensando: “não, os dois são responsáveis, não se pode pôr a
culpa em um só...”. Ah, vai se ferrar! Eu não esperava outra
atitude de um homem como você! Você não me decepcionou
em nada, Trent! Quer saber? Não preciso de ninguém para me
ajudar a criar o meu filho. Some daqui, seu covarde idiota!
— Ei, alto lá, eu não sou nenhum covarde, e muito menos
idiota! É perfeitamente normal pensar que uma mulher como
você toma todas as precauções para evitar uma gravidez
indesejada.
— U-hum, concordo, perfeitamente normal. Agora me
deixa e vai embora, sai da minha casa, Trent!
— Espera, dá para se acalmar um pouco? Precisamos
conversar melhor.
— Não precisamos, não. Some! Não quero saber de você.
Não preciso de nenhum pai escroto para o meu filho, e vai
esfriar a sua cabeça em outro lugar. Que parte de eu não te
quero aquivocê ainda não entendeu?
— Também não precisa ofender, porra! Só estou tentando
amenizar a situação! — Trent reclamou.
— Sai daqui! — gritou ela, nervosa, e depois abaixou o
tom de voz. — Por favor, sai, quero ficar sozinha.
— Está bem, eu saio, mas só porque não quero que você
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fique mais nervosa do que já está, pode fazer mal... — Dirigiu


o olhar para o seu ventre antes de voltar a olhá-la nos olhos.
— Para o bebê.
— Como se você se importasse — desdenhou Betsy.
— Sim, eu me importo. Por que não me importaria?
Vamos parar com isso, Betsy, está agindo de maneira
irracional, ou pior, como uma adolescente imatura, coisa que
você não é — ele disse ao soltá-la.
— Chega, não quero mais debater com você, estou
cansada, quero um pouco de paz, posso? Só um pouco? Por
favor? — perguntou com o braço esticado na direção da porta.
— Está bem, eu vou embora, mas esteja segura de que
ainda vamos conversar sobre isso, não acaba aqui! — disse
ele, decidido, saindo com passadas duras porta afora.
Trent caminhava pela rua. Sentia-se desnorteado,
surpreendido. Aquilo tinha acontecido mesmo? Mais cedo,
quando havia retornado da reunião com os acionistas do
escritório, abriu o portão com a cópia da chave que Grant
tinha lhe dado. Foi entrando e os alcançou conversando sobre
a Betsy, no exato momento em que Danna contava sobre a
gravidez. Os dois nem notaram a sua presença, e no instante
que soube, seu mundo deu um giro e ele se sentiu mal,
enjoado. Tinha estado tão ansioso para reencontrá-la e ela
tinha arrumado outro? E ainda por cima engravidado do cara?
Mas e se fosse dele? Isso também era possível. Decidiu que
tiraria aquilo a limpo, mas acabou fazendo tudo errado, falado
o que não devia, e agora andava sem rumo, no meio de uma
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rua qualquer, perdido e arrependido em Manhattan.


Que maravilha, Trent, troféu ogro do ano para você,
cara!, pensou com tristeza.
Entrou no primeiro bar que encontrou, se sentou no balcão
e começou a beber. Era para ser só uma dose. Duas, no
máximo. Só queria amortecer um pouco o que estava
sentindo, confusão, pânico e puro terror. Agora já estava ali
há mais de duas horas, tomando uma dose atrás da outra,
tantas que perdeu a conta.
— Sabe de quem é a culpa disso aqui? De quem mais? De
uma mulher, é claro! Uma feiticeira de lisos cabelos negros,
olhos castanho-escuros e um corpo, uma pele, que dá vontade
de tocar cada pedacinho dela, e eu fiz isso, com essas mãos.
— Levantou-as à sua frente e as olhou fixo. — É, com essas
mãos aqui — repetiu. — E eu vim lá de San Diego para
acertar um trabalho, estava louco para revê-la e nós, bem,
você sabe, ficarmos juntos, mas não, o que eu recebo? Uma
mulher cheia de saudade? Que nada! Eu devia saber que ela
tinha perdido o interesse quando não atendeu aos meus
chamados, mas o que eu podia fazer?
Parou por uns minutos, pensativo, parecendo estar
procurando as palavras para poder continuar falando enquanto
bebia.
— Eu me peguei pensando, desejando, a querendo, só ela,
que tem estado na minha cabeça no último mês... Então ela
me dá a notícia, e que notícia, cara! Daquelas, sabe? Que
tiram o chão debaixo dos nossos pés? Isso mesmo! Sim,
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senhor! Ela puxou o meu tapete e eu me estatelei. Ploft! —


Fez um gesto com a mão para ilustrar o que queria dizer. —
Eu me arrebentei. Eu, pai? Nunca pensei nisso antes —
continuou tagarelando sem parar ou se importar. — Aí ela me
mandou ir embora, e isso só porque eu fiz uma perguntinha...
sic... Só uma, é isso mesmo, e foi uma pergunta justificada...
sic... Mas agora, pensando bem, fui um ogro com ela. Betsy,
uma mulher tão linda e de língua mais afiada ainda, a
danada é durona... sic... me dá outro... quero outro.
— Não acha que já bebeu o suficiente? — perguntou o
barman, passando um pano úmido sobre a superfície do
balcão, levantando o copo de Trent e o devolvendo ao mesmo
lugar.
— Eu tenho dinheiro, posso pagar. — Tirou algumas notas
meio amassadas do bolso e as mostrou para ele, jogando-as no
peito do rapaz.
— Como queira, mas este é o último! — o barman avisou
paciente, despejando a bebida no copo.
— Eu estou falando para... sic... pôr quantos eu quiser...
sic... — soltou mais um soluço antes de completar. —
Desculpe por isso, como eu estava dizendo, eu-tô-pa-gan-do.
— Já chega, você está muito bêbado, cara! Melhor ir
andando, está na hora de fechar o bar.
— A filha da mãe se atreveu a me expulsar de lá, acredita
nisso? — Trent ignorou o barman, que fez um sinal com a
mão para um dos seguranças.

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— Melhor ir saindo, na boa. — O grandalhão o pegou pelo


braço, o levantando.
— Não! Ainda quero mais uma dose, sabe o que é? —
indagou Trent, olhando no rosto do homem. — A mulher
disse que o filho é meu, então eu perguntei: “como você
sabe?”. A danada ficou uma fera, me expulsou da casa dela, e
eu ainda não entendi, até agora, porque ficou tão brava
comigo. Foi só uma perguntinha de nada. Mas agora, agora eu
percebo que fui um desgraçado insensível. O que eu faço,
cara? Fala, o que eu faço? — insistiu em meio à nuvem de
álcool que embotava a sua mente.
— O que você vai fazer eu não sei, quem sabe se retratar
com ela? Mas, neste momento, você vai sair daqui, vamos
andando — o segurança instruiu. Era um brutamonte de quase
dois metros de altura e com mais de um de largura que o
colocou para fora do bar sem qualquer gentileza.
Expulso duas vezes no mesmo dia, estou sem prestígio
nenhum, pensou e começou a caminhar, o corpo meio curvado
e tropeçando nas próprias pernas. Resmungando, ajeitou a
gola do paletó onde o grandalhão o agarrou. Ouviu um miado
longo vindo de um beco.
— Cala a boca! — gritou ele, a voz enrolada. — Não está
vendo que estou tentando pensar aqui? Porcaria de gato, vai
assustar outro! — reclamou, ainda andando e se balançando.
Dois policiais que faziam a ronda pelo local pararam ao
seu lado, e notando o seu estado, resolveram abordá-lo.
Fizeram o teste do quatro, no qual, obviamente, ele falhou,
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quase caindo sentado, somente impedido pela parede em que


se escorou. Em seguida, fizeram o teste do bafômetro, e como
já imaginavam, não passou de novo. Não tinham mais o que
fazer, então o colocarem dentro do carro, onde Trent se deitou
no banco traseiro.

Queens, NY.
Grant estava preocupado, muito preocupado. Tinha se
levantado e descido para tomar um copo d’água, e estranhou o
fato do amigo não ter passado por ali antes de ir dormir no
estúdio. Deitou-se com isso o incomodando, porém, não
pensou mais no assunto com uma Danna bem disposta na
cama.
Agora, para desencargo de consciência, resolveu dar um
pulinho até lá. Saiu da casa, atravessou o pequeno quintal e
abriu a porta do estúdio. Acendeu a luz e logo notou que não
havia ninguém ali dentro. A realidade o tomou de súbito.
Tinha conhecimento de que Trent havia deixado o prédio do
escritório onde havia se reunido com os sócios umas oito
horas da noite, sabia disso porque trocaram algumas
mensagens logo depois. Como não conhecia ninguém na
cidade, além deles e da Betsy, o mais lógico era que tivesse
ido vê-la, e decidido passar a noite com ela, porém, sem
avisar? Não era do feitio do amigo fazer isso, ao menos uma
mensagem ele teria enviado. Voltou para a casa e viu a
mulher abrir os olhos, cheia de sono. Parecia estar toda macia
e quentinha, então engatinhou até ela.
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— Está cedo ainda, volte a dormir.


— Aonde você foi? Demorou...
— No estúdio. Senti algo me incomodando e fui ver se o
Trent estava dormindo lá.
— E está?
— Não, por isso estou preocupado, imaginando onde possa
ter ido, só conhece a nós e a Betsy aqui.
Danna terminou de despertar e se sentou, se recostando no
espelho da cama.
— Melhor ligar para a Betsy, talvez ele tenha ido até a casa
dela.
— Acho bom mesmo, e espero que esteja lá, apesar de não
ter avisado. Eu tentei o celular dele e só deu caixa postal.
— Deve estar descarregado, estou ligando para ela agora
— disse Danna, apertando o botão de discagem rápida.
Quatro toques depois, uma Betsy sonolenta atendeu.
— Oi, Betsy, sou eu, a Danna. Desculpa te acordar, mas
por acaso o Trent está aí com você?
— O quê? — perguntou Betsy, tentando entender o que a
amiga estava falando. — O Trent? Não, comigo não está. Ele
esteve aqui, mas isso foi ontem.
Ai, Deus, o Trent sumiu? Ele não conhece nada na cidade,
será que se perdeu?, perguntou-se Betsy, apreensiva. Deu
uma olhada no relógio, seis da manhã.

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— Nós discutimos e eu meio que o coloquei para fora, mas


isso foi ontem à noite, eram umas dez horas, eu acho —
explicou. Agora estava preocupada, e pior, se sentindo
culpada também. Esperava que não tivesse acontecido nada
de ruim com ele. — Que droga, Trent! — praguejou, jogando
o lençol para o lado e saindo da cama. — Aonde foi que você
se meteu?
— Não devia estar muito contente quando saiu daí, então...
— disse a amiga.
— É, ele saiu meio ressabiado, mas até a essa hora na rua,
sozinho, sem conhecer nada nem ninguém? — especulou. —
Agora fiquei preocupada.
— Não, Betsy, fique calma, não deve ter acontecido nada,
caso contrário, já saberíamos, com certeza.
Por coincidência, no mesmo instante, ouviu o celular do
Grant tocar.
— Não reconheço o número — comentou ele, um segundo
antes de atender, se afastando dela, que ficou esperando,
ansiosa, para saber quem era e do que se tratava.
— O Grant acaba de receber uma chamada, mas não
reconheceu o número, poder ser sobre o Trent.
— Ai, meu Deus, Danna, estou indo para aí agora!
— Amiga, ainda é muito cedo, aguarda aí deitadinha, eu te
aviso quando souber dele.
— Não, não, eu tenho que ir! Não quero ficar aqui

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sozinha, só cultivando imagens na minha cabeça de um Trent


jogado por aí, sei lá, tanta violência, assaltos...
— Está bem, se acha melhor vir, te esperamos — Danna
cedeu e desligou em seguida. Virou-se para o Grant, que
terminava a ligação.
— Ligaram da delegacia. Trent está preso.
— Preso? Mas por quê?
— Embriaguez em público. Vou até lá, mas só poderei
pagar a fiança depois das nove.
— Está bem, eu fico e espero pela Betsy.
— Espero resolver tudo e voltar logo, mas me liga
qualquer coisa —terminou de falar e foi se aprontar para sair.
— Enquanto você se arruma, vou descer e preparar um
café.
— Perfeito! — Grant gritou de dentro do banheiro.

Três horas depois.


— Grant, meu amigão!
Grant o encontrou sentado em um banco comprido da
delegacia, tendo uma conversa animada com dois outros
detidos. Bem, conversa é maneira de falar, pois aquilo mais
parecia um monólogo, já que só ele falava.
Trent estava totalmente o oposto de quando saiu de casa. O
cabelo desgrenhado, o terno amarrotado, a pele emaciada pela
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bebida, a fala ainda enrolada e os olhos injetados, quase se


fechando.
— Levanta, Trent, vamos sair daqui, já te liberaram —
Grant o chamou e o viu se pôr de pé com alguma dificuldade.
— Mas eu estava de boa aqui, levando... sic... um papo
com os meus novos amigos. — Girou o pescoço na direção de
um rapaz ruivo com sardas no rosto. — Ei, Ted! Me liga...
sic... depois, eu vejo se posso te ajudar naquela situação lá. —
E se voltando para ele. — Grant, sic... meu amigo, sabia que
podia contar com você para vir aqui me pegar... sic... Mas eu
estou bem, de verdade.
— Trent, por favor, não respira muito perto de mim —
Grant reclamou, mas não podia deixar de achar graça, pois
nunca o tinha visto naquele estado antes.
— Culpa dela! Você sabe, né? De quem estou falando?
Daquela mulher desnaturada? Ela me pôs para fora e eu
estou... sic... morrendo de amor por ela, Grant, apaixonado
mesmo, de quatro, e ela espera um filho meu. Cara, tô feliz!
Feliz pra caralho! Preciso ver minha morena, me desculpar,
mas... sic... e se ela não me perdoar? Fui um boçal, um ogro...
sic... com ela...
— Vamos logo embora daqui, em casa conversamos mais
sobre isso — disse Grant, controlando o riso.
— Está bem, vamos então... sic... Até mais, rapazes... sic...
Valeu pela companhia.
Uma hora depois, ambos chegaram. Grant pagou o táxi e
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entraram.
— Betsy?! — Trent chamou em um tom de voz alto assim
que a viu sentada no sofá da sala. — Que bom que está aqui,
eu queria mesmo falar com você, e com o bebê também.
— Trent, não seja ridículo, está do tamanho da cabeça de
uma agulha, não deve escutar nada ainda.
— Mesmo assim, me deixa falar com a sua barriga?
Deixa? Eu fui um estúpido, Betsy, agora eu sei disso.
— Trent! — Danna o interrompeu ao ver a expressão no
rosto da amiga. — Trent, agora não, depois. Primeiro temos
que fazer essa bebedeira passar. Vem comigo, fiz um café
bem forte para você.
— Espera, eu preciso falar com a Betsy, quero explicar o
que aconteceu comigo, falar que eu... — disse ele, resistindo a
sair dali e ir com ela. — Você veio por mim? Estou certo,
bonita?
— Só vim para confirmar com meus próprios olhos que
você está bem, mas estou indo — Betsy explicou se
levantando. — Que beleza, hein? Passar a noite na cadeia por
bebedeira?! Era só o que me faltava! — E se virou para
Danna. — Depois nos falamos, amiga, preciso ir para o
escritório agora. Aliás, já era para eu estar lá há duas horas,
mas eu avisei o meu chefe e ele entendeu.
— Pode ir sossegada, cuidaremos bem dele, mas você sabe
que ele vai te procurar quando se sentir melhor, não é?
— É, eu sei... — suspirou. — E vou ter que aturar, fazer o
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quê? Paciência! — Deu um beijinho no rosto da amiga,


porém, antes deu uma última olhada no homem enorme que
agora estava jogado no sofá e começava a ressonar baixinho.
Ao vê-lo assim, relaxado no sono, até sentiu parte de sua
raiva passar e desejou ajeitar o cabelo que caía sobre a sua
testa. Chegou até a fazer o movimento de esticar o braço, a
mão quase o tocando, porém, resistiu e saiu dali de uma vez.

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“Te amo con fuerza, te odio a momentos


Te regalo mi amor, te regalo mi vida,
Te regalo el sol siempre que me lo pidas,
No somos perfectos, solo polos opuestos
Mientras sea junto a ti siempre lo intentaría,
Y que no daría?”
Blanco y Negro – Malu

Trent dormiu grande parte do dia anterior e acordou com


uma ressaca daquelas. Tomou dois comprimidos e se deixou
largar no sofá da sala, com uma garrafa d’água ao lado.
Endireitou-se quando viu o amigo entrar.
— Vim ver como está. Como se sente? Melhor? —
perguntou Grant, sentando-se de frente para ele.
— Minha cabeça parece que vai explodir, mas já tomei
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umas aspirinas e logo vai passar.


— Bom saber disso, mas me conta, o que te deu para ter
ficado daquele jeito?
Trent suspirou e começou a contar em detalhes tudo o que
havia acontecido. Grant ouviu atento, só balançando a cabeça
uma vez ou outra, quando concordava ou discordava de
alguma coisa.
— Eu preciso falar com ela, preciso me desculpar.
— Deixa passar um tempo, Trent, a Betsy está chateada, só
vão discutir de novo. Se quer a minha opinião, eu acho que
você pisou feio na bola com ela, agora tem que deixar a
poeira abaixar.
— Não, eu não tenho esse tempo. Eu não posso voltar para
San Diego com as coisas assim entre nós, preciso que a
situação esteja acertada antes de viajar. Cara, eu vou ter um
filho! — disse ele, correndo a mão pela barba, na altura do
queixo, os olhos brilhando.
— Vejo que já aceitou a situação — Grant constatou com
certo alívio. Gostava dos dois e queria mesmo que se
acertassem.
— Não teve outro jeito, mas quando a ficha caiu, nossa,
isso tudo me deixou atordoado — Trent admitiu.
— E como você acha que eu me sinto com dois a
caminho? — perguntou Grant, vendo o amigo o olhar
admirado.

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— Não brinca! Dois? Nem estou sabendo disso. Caraca!


— Trent exclamou com cara de espanto.
— É, descobrimos há pouco tempo, nem deu para te
contar, ainda mais depois do que houve.
— Nem me lembra do mico que paguei, mico não, aquilo
foi um tremendo de um King Kong! Nunca fiquei daquele
jeito na minha vida, e quando cheguei aqui e vi a Betsy, tudo
ainda estava rodando. Tenho que vê-la, não vou ficar
sossegado, tenho que me retratar, só não sei como fazer isso.
— Eu acho que, a essa altura, o melhor é ser você mesmo,
o Trent sincero. Ontem, no meio da bebedeira, você me
contou que está apaixonado por ela.
— Estou louco por aquela mulher, parece que um furacão
passou pela minha vida e pôs tudo de cabeça para baixo, virou
tudo do avesso, só que eu acho que ela não sente o mesmo por
mim.
— Ah, para com isso! O grande Trent, inseguro diante de
uma mulher? Quem me disse que não queria se envolver, que
só queria sexo e tudo bem? Dar de si só o que elas queriam e
tchau? Eu te falei que você pagaria essa sua língua e eu ainda
te veria encoleirado. Dito e feito! Olha só como você está...
— Quer parar de chutar cachorro morto? Um pouco de
sensibilidade para com um amigo que está mal aqui, por
favor! — reclamou Trent, fazendo cara de coitado.
— Ok, vou respeitar esse seu momento, o que eu posso te
dizer é que ela gosta muito de você, precisava ver como ficou
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quando soube que tinha sumido, quis vir para cá na hora, até
chegou atrasada no trabalho. A Danna me contou que ela não
sossegou até eu ligar avisando que estávamos voltando para
casa, e mesmo assim ela ficou aqui, esperando, só para te ver,
para ter a certeza de que estava bem. Ela não faria tudo isso se
não se importasse.
Grant se levantou dando um tapa amigável nas costas do
amigo.
— Valeu por me dizer isso, cara! — Trent agradeceu.
— Agora vou te deixar aqui ingerindo tudo isso. Se quiser
e achar que já dá para comer, está convidado para almoçar
conosco, em meia hora o almoço estará pronto. Vou lá ajudar
a Danna.
— Beleza, vou querer comer algo, sim, mas acho que só
uma salada, minha cabeça ainda está pesada para cacete e
sinto o estômago meio embrulhado.

Grant se aproximou por trás da mulher e apoiou o queixo


em seu ombro, observando o que ela estava cozinhando.
— Hum, que cheiro bom! — elogiou.
— Devem ser os temperos que coloquei, está cheirando
bem mesmo — comentou Danna, pegando um pouco do que
preparava com a colher que estava usando para mexer, então

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se virou e a ofereceu para ele, que abriu a boca e aceitou sem


hesitar.
— Está uma delícia também, mas eu me referia ao seu
cheiro, princesa.
— Grant! — ela falou o seu nome com um leve tom de
censura, mas achando graça ao mesmo tempo.
— O quê? Não posso elogiar o cheiro da minha mulher,
que, por sinal, eu adoro?
— Claro que pode, mas você está me desconcentrando.
— Por quê?
— Você sabe o porquê — respondeu Danna, sentindo os
lábios de Grant roçarem a curva de seu pescoço. — Mais
tarde. Prometo que faço a espera valer a pena.
— Promessa é dívida, e essa eu faço questão de cobrar! —
advertiu brincalhão.
Foi até a pia e lavou as mãos, logo se posicionou em frente
ao balcão e começou a preparar a salada, sempre a olhando de
soslaio com um meio sorriso safado no canto da boca.

Trent
Se tem uma coisa que eu nunca mais vou fazer na minha
vida, é beber como se o mundo estivesse desmoronando. Mal
consigo me lembrar do que fiz, só da parte em que cheguei e
encontrei a Betsy, disso eu me lembro, e de ser recriminado
por ela. Estou me sentindo muito estranho, não estou me
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reconhecendo. Está certo, admito, fui um otário, um tremendo


de um idiota, mas é tão difícil entender que fui surpreendido
por essa notícia? Um filho! Um filho não é uma brincadeira,
é de verdade, e é para sempre. Um filho nos muda por
inteiro, de dentro para fora e de fora para dentro. Eu nunca
havia pensado nessa possibilidade, até porque nunca tive um
relacionamento em que acreditasse que pudesse acontecer.
Sempre foi difícil eu passar mais de uma noite com a mesma
mulher. O normal sempre foi, depois da transa, cada um
seguir o seu caminho, sem amarras e sem intimidade, mas
quando se trata dessa morena, ah, tudo muda! Eu acho que o
Universo conspirou e me mostrou que essa é a hora e que a
Betsy é a pessoa certa, por isso, não aconteceu antes. É, sou
assim mesmo, fatalista. Usamos camisinha e ela rompeu.
Betsy ficou de tomar a pílula do dia seguinte e se esqueceu.
Era para ser. Não tem outra explicação. Afinal, buscar um
culpado a essa altura não vai fazer a menor diferença. O que
conta, de verdade, é que daqui a pouco vai chegar alguém
com metade de mim e metade dela, e eu sei que vou amar
para caralho, já estou até imaginando um molequinho
moreno, de cabelos escuros, olhos como os dela, correndo e
rindo com os bracinhos abertos na minha direção. Bom, pode
ser uma menina também, mas nisso eu prefiro nem pensar,
com as coisas que já fiz... Mas se for o que está reservado
para mim, vou ter que engolir em seco e amá-la feito um pai
louco e possessivo, ninguém toca na minha pequena até ela
completar vinte e cinco anos! Isso está resolvido! O que eu
preciso agora é pensar em uma maneira de a Betsy ver que

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quero ficar com ela, que estou a fim de um compromisso


sério. Cara, se me falassem há alguns meses que eu estaria
pensando em me ligar sentimentalmente a alguém, eu ia rir
na cara dessa pessoa, mas hoje, aqui estou eu, totalmente de
quatro por aquela morena linda que está carregando um filho
meu na barriga. Será que mereço tudo isso? Algo de bom eu
fiz, não é? Só de pensar, me dá um frio na espinha. Um
barbado como eu, com medo de levar um fora de uma mulher
e de uma criança que ainda nem nasceu... Mas é isso mesmo.
Estou inseguro, só que ninguém mais precisa saber disso.
Estar consciente de que um ser depende só de você não é
fácil, mas com ela eu encaro essa. Bom, eu vou lá, não ganho
nada em ficar aqui só imaginando, tenho que partir para a
ação. Não vou perder essa mulher, mas não vou mesmo! E
quero vir morar aqui o mais rápido possível. Ainda bem que
já acertei tudo e começo no escritório em duas semanas, é só
o tempo de entregar o apartamento, passar meus casos para
frente e adeus, San Diego; bem-vindo, Nova York. Não quero
perder nada, nem um momento dessa gravidez, quero estar
ao lado dela o máximo que puder. Betsy que se prepare,
porque eu sei ser chato, mas bem chato mesmo, e a minha
morena vai ter que me aturar. Quem sabe o Grant não tem
alguma razão no que disse? Quem sabe eu pego a bonita de
jeito? O que custa tentar? O não eu já tenho, então, qualquer
que seja o resultado, terá valido a pena. Coragem, força e
foco, é o que sempre digo para mim mesmo e tem funcionado,
vamos ver dessa vez como me saio.

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Horas depois.
— Oi, entra. — Betsy se afastou, dando passagem para ele.
— Tudo bem? Como vocês estão? — Trent inclinou
ligeiramente a cabeça em direção à barriga de Betsy, mas logo
voltou a olhar para o seu rosto.
— Estamos bem, quer se sentar?
— Não, prefiro ficar de pé — recusou o convite, fitando-a
meio constrangido. — Como eu te falei ao telefone, não vim
aqui para brigar ou discutir, vim porque quero me desculpar
com você pelas coisas que disse, por ter colocado em
dúvida... — começou, mas hesitou por um instante. — Você
sabe, a paternidade. Não sei nem como justificar as coisas que
eu te falei.
— Eu também disse coisas que nunca imaginei dizer a
alguém, mas você fez por merecer a maioria delas, Trent.
Admito que em alguns momentos eu exagerei, parte do que
falei foi desnecessário. A partir de agora, vamos agir como os
dois adultos que somos, nada de brigas, acusações ou ofensas.
— Tem razão, concordo! Só posso dizer que saí um pouco
do meu estado normal, essa situação toda me pegou de
surpresa. Enfim. Agora que estamos mais calmos e centrados,
o que você pretende fazer?
— Eu? — Betsy perguntou um pouco espantada, pois não
esperava esse tipo de reação da parte dele, estava dando a ela
o poder de decidir.
— É, foi você quem disse, seu corpo, sua decisão, não foi?
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Só quero me posicionar, e vou ser sincero, como sempre fui,


para o bem ou para o mal. Depois que o álcool deixou o meu
sistema e eu pude pensar melhor, eu decidi que sim, que
quero ter esse filho com você, quero muito.
— Está me dizendo que está assumindo a paternidade
desse bebê?
— Claro que estou, porra! Eu não estava pensando direito
quando falei tudo aquilo, mas agora eu sei que você não seria
capaz de mentir para mim. Então, o que me diz?
— Não sei, não, Trent... Ainda estou muito chateada e...
— Você não vai me dizer o que estou pensando que vai,
vai?
— Eu não posso saber o que você está pensando.
— Eu sei que você é independente, que pode criá-lo
sozinha, mas como pai, quero estar presente, quero participar.
Ou você acha que não sou bom o suficiente para ser pai do
seu filho?
Pronto! Ele tinha feito a pergunta que o estava
incomodando.
— É claro que eu não penso assim, e se falei algo que te
deu essa impressão, foi no calor do momento — Betsy negou
com firmeza, e até surpresa, por ele pensar algo do tipo.
Trent se sentiu aliviado com a resposta, na verdade, era o
que esperava escutar de sua boca. Agora restava saber como
seguiriam dali para frente, e foi justamente o que se ouviu

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perguntando.
— E como ficamos?
— Ainda não sei, Trent. Para ser sincera, não penso direito
com você me olhando desse jeito...
Não quero ceder, ainda estou magoada, mas com ele me
olhando assim, com esses olhos que parecem querer me
devorar, não consigo. Eu sei... Eu sei que o certo seria apelar
para o meu orgulho, para a minha dignidade e chutá-lo
daqui! Mas sabe por que não o farei? Porque ele está se
dizendo arrependido, e porque quero acreditar nele, me
julguem, mas esse homem é tudo demais, eu não consigo
lidar. Ele é bonito demais, sexy demais, gostoso demais,
intenso demais, mesmo quando está sendo um ogro. Imagina
agora, que está me pedindo desculpas e sendo responsável?
Olhar para ele faz todas as minhas resoluções caírem por
terra. Merda! Tenho que admitir que estou apaixonada como
nunca pensei que estaria por homem nenhum. Sempre
resguardei bem o meu coração, mas o Trent entrou nele e
nem me dei conta. Agora me sinto perdida. Eu só queria
saber por que mulher apaixonada fica boba, da maneira
irritante como eu me sinto neste exato momento.
— Betsy, você não entendeu ainda, mulher?
A voz sensual de Trent a tirou da nuvem em que estava e
a trouxe de volta à Terra.
— Não entendi o quê?
— Já que parece que não sabe do que estou falando, não
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vou dizer mais nada, melhor te mostrar.


Trent aproximou-se dela e esticou os braços na direção de
sua cintura, puxando-a com firmeza. Nada era muito suave
com ele. Pegou-a pelos ombros e a empurrou contra a parede,
colando seu corpo no dela. Betsy perdeu o fôlego por um
instante, sentindo o frio da parede nas costas através do tecido
fino da blusa. Não esperava que ele fosse pegá-la com todo
aquele ímpeto.
— Por que você fez isso comigo, me enfeitiçou desse
jeito? Você me irrita, me instiga, me transforma, me deixa
confuso e me faz desejar só você — Trent revelou em seu
ouvido, a voz rouca e quebrada.
Betsy sentiu o coração acelerar ao ouvi-lo, o corpo ardendo
de desejo. Trent girou a cabeça e a boca aberta desceu sobre a
dela, as línguas se enroscando de maneira lasciva.
— Trent, sexo não resolve as coisas, aliás, acho que pode
até nos confundir — começou a falar, a respiração tensa,
quando ele se afastou um centímetro de sua boca, porém, logo
se calou, sentindo o forte magnetismo daquele corpo a
envolvendo.
— Pode ser, mas eu quero e vejo que você também quer.
— Como pode saber disso?
— Porque te sinto tremer quando estou mais perto de você,
como agora.
— Nossa, você é mesmo muito seguro de si, não? Até
imagina coisas.
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Trent levou a mão até a lateral de sua cabeça, segurando-a


com firmeza.
— Não estou imaginando nada, e agora chega de falar,
você só vai poder gemer e gritar o meu nome no momento em
que eu te fizer gozar. Hoje eu não estou em condições de ser
delicado, vou enfiar o meu pau dentro da sua boceta e te
comer até que não consiga pensar em mais nada! Vai ficar
com as pernas tão trêmulas que não vai conseguir sair daqui
sozinha! Os dois ou o que acontecer primeiro.
O tom de voz e, óbvio, a forma vulgar como descreveu o
que pretendia fazer com ela, a fez encará-lo com os olhos
arregalados e a boca entreaberta. Betsy não resistiu nem lutou,
apenas ficou o olhando, hipnotizada pelos seus olhos e
envolvida por suas palavras.

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“You want me?


I walk down the hallway
You’re lucky
The bedroom’s my runway
Slap me!
I’m pinned to the doorway
Kiss, bite, foreplay”
Haunted – Beyoncé

Betsy precisou piscar duas vezes antes de ser capaz de


voltar a falar.
— E pensar que você estava indo tão bem! — censurou-o
com um sorriso zombeteiro nos lábios.
Trent tinha um brilho de desafio em seus olhos escuros,
quase negros, pelo desejo que sentia.

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, ao retrucar o tom de desdém dela.


— O quê? Prefere que eu minta? Fui cru demais para
você? Pois só falei verdades. Então me diz que não me quer
que eu me afasto de você e não volto a te procurar, mas te
advirto: não desistirei de ver e conviver com o meu filho!
Eu não te quero? Deus, não! Ainda não estou louca a
ponto de rasgar dinheiro. Como posso dizer não a você?
Agora é minha vez de perguntar, o que você está fazendo
comigo, Trent?, Betsy fez as indagações para si mesma, em
pensamento, pois não ousaria abrir a boca.
O homem parecia um selvagem quando falava daquele
jeito. Tinha sido muito direto, sutileza não era mesmo o seu
forte, esse era o Trent sendo Trent, gostasse ela ou não, e ela
gostava. Oh, sim! E como gostava! Cada palavra que saiu
daquela boca deliciosa penetrou seu cérebro, causando nela
uma reação química, que fez o caminho descendente até o seu
sexo, o deixando em chamas, desejando ser invadido, tomado
e preenchido por toda aquela selvageria.
— Se afasta mesmo? E por que eu deveria aceitar a palavra
de um mulherengo empedernido como você? — não pôde
resistir a uma última provocação.
— Ah, é mesmo, esqueci que você me “leu” quando nos
conhecemos. Está certo, eu era um mulherengo, não vou
negar, mas isso é passado, desde que pus meus olhos em
você, não penso em mais ninguém. Não desejo estar com
outra, Betsy, só com você. Estou esperando. Decida-se,
morena. Não sou de forçar ninguém a fazer o que não quer.
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— Antes de decidir, só me explica o que eu ainda não


entendi.
Com uma mão ele afastou o seu cabelo, liberando seu
pescoço, e com a outra a segurou pelo queixo, então inclinou
a cabeça, fazendo-a presa e refém de seus olhos.
— O que você ainda não entendeu é que eu quero ficar
com você, te quero para mim.
— E o que isso quer dizer, exatamente? — Betsy segurou
o ar nos pulmões, tensa, apreensiva.
— Porra! Vai me fazer dizer palavra por palavra mesmo?
— Reclamou Trent, sentindo-se desconfortável.
— Com toda certeza! — afirmou Betsy, implacável. — Eu
fiz uma pergunta e espero ouvir uma resposta.
Ele olhou para ela sabendo que não abriria mão de ouvir o
que queria. Capitulou, afinal, não tinha nada a perder, só tudo
a ganhar.
— Está bem, se o que deseja é me ouvir dizer, então eu
direi. — Trent respirou fundo antes de continuar. — Isso,
morena, quer dizer que estou perdido; que aqui, na sua frente,
está um homem louco, apaixonado por você!
Betsy espantou-se com a veemência e a intensidade que
Trent usou ao se declarar.
— Caramba, isso é o que eu chamo de declaração! —
exclamou sincera.
— Só tem isso para me dizer? — Trent indagou arqueando
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uma sobrancelha, em dúvida.


A mulher resolveu voltar a provocá-lo, usando suas
próprias palavras contra ele.
— Estou chocada, não consigo pensar em nada e minhas
pernas estão bambas, acho que não conseguiria sair daqui
sozinha nem que quisesse.
Trent notou a ironia e sorriu, sentindo-se aliviado.
— Boba, eu sei que não é verdade... ainda.
— Juro que não estou mentindo, e também não minto
quando digo que estou igualmente apaixonada por você. O
que acha disso, Sr. Arrogante?
Trent abriu ainda mais o sorriso, tanto que iluminou todo o
seu rosto, chegando até os olhos, quase os fechando. Yeah!,
gritou internamente. Levou a mão até seu rosto e o tocou em
toda a sua extensão com a ponta dos dedos.
— O que eu acho disso? É como música aos meus
ouvidos! — respondeu sem esconder a satisfação que sentia.
— Então, vamos embarcar nessa aventura juntos?
— Eu te mataria se me deixasse para trás! — declarou ela.
— E o que está esperando para começar? — perguntou
insinuante.
Betsy moveu a coxa contra o pau de Trent, por cima da
calça, o que o fez reprimir um gemido, então o viu rir, um riso
sem ruído, safado. Ele virou a mão e foi descendo, passando
suas costas pela face da mulher, até chegar ao seu colo.

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Impaciente, afastou a blusa junto com o sutiã para o lado,


arrancando um ou dois botões. Tomou um dos seus seios,
apertando o mamilo entre os dedos. Deslizou a mão livre para
baixo, pela lateral de seu corpo, correndo cada curva suave
antes de descansar sob a bunda firme. Deu um apertão e ficou
ali por um instante, continuando o caminho até a parte da
frente da coxa, levantando a saia e encontrando o que
procurava. Afastou a calcinha para o lado e roçou o dedo no
ponto mais sensível da mulher, fazendo-a soltar um gemido.
Notou-a úmida, o que demonstrava que estava tão excitada
quanto ele. Enfiou os dedos na lateral da peça minúscula, deu
um puxão, e sentiu o tecido frágil ceder. Separou as duas
pernas com o joelho e voltou a acariciá-la bem ali.
Betsy engasgou ao inspirar o ar, porém, não se retraiu, ao
contrário, exigiu mais dele, arqueando o quadril de encontro
aos seus dedos. Trent abandonou o mamilo que apertava e
levou a mão até seus cabelos, enrolando uma mecha entre os
dedos, mantendo sua cabeça no lugar, e dessa maneira,
obrigou-a a olhar para ele enquanto a estimulava. Voltou a
possuir sua boca macia e gostosa, com ânsia, paixão e desejo.
Parou os movimentos por um momento para abrir o zíper da
calça, abaixando a cueca e liberando o pênis em completa
ereção. Betsy sentiu-o rijo e quente contra as coxas, então
Trent a fez enlaçar seu quadril com uma das pernas, enfiando
os dedos com firmeza em sua nádega direita. Posicionou-se
em sua entrada e, por esta estar encharcada, foi abrindo
caminho sem muita resistência, só parando ao sentir que já
estava todo dentro. Começou a movimentar os quadris, indo e
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voltando em uma dança erótica e sexy, sempre mantendo


contato visual. A expressão em seu rosto estava séria,
compenetrada, maxilar trincado, dentes cerrados. Era como se
estivesse liberando uma fúria interna, metendo com força, e
cada vez que fazia isso, agarrava um pouco mais do seu
cabelo, forçando-a a esticar o pescoço, deixando-o vulnerável
para o seu ataque. As mãos dela o seguravam pelos braços,
afundando os dedos na carne dura.
O homem passou a resfolegar e a grunhir, parecia um touro
indomável. Podia-se ver uma veia saltada em sua têmpora,
úmida de suor. A cada estocada, ele batia em um ponto onde
ela sentia ser liberada uma onda de calor, que saía do interior
do seu corpo e a atravessava inteira, fazendo-a emitir sons
cada vez mais altos e intensos. Seus gemidos ininteligíveis
pareciam excitá-lo ainda mais, pois suas investidas se
tornavam mais aceleradas, como se uma carga fosse liberada.
A boca de Trent encontrou a dela mais uma vez, dura e
exigente. Ela não resistiu e se deixou levar por sua
intensidade. Os sentidos tomados pelo gosto, cheiro, toque e o
som do amor sendo feito.
— Trent? — Betsy o chamou, agarrando sua camisa e a
arrancando do cós da calça, enfiando as unhas em suas costas.
— Fala, morena — ele arfou ao responder.
— Mais... Oh, céus, isso é muito bom!
Ele a fitou nos olhos enquanto empurrava o quadril,
entrando profundamente. Um grito involuntário escapou de

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sua boca e ele sorriu, satisfeito com a reação da mulher. Em


um movimento ágil, se retirou e a virou contra a parede.
Separou bem suas pernas, usando o joelho novamente, e
voltou a penetrá-la por trás. Betsy podia sentir todos os
músculos daquele homem alto a esmagando, os braços
esticados acima de sua cabeça, impedindo-a de se mover. Ele
reivindicava seu corpo, tomando posse, o dominando.
— Feito! — Trent grunhiu, voltando a se mover, frenético.
Seu sexo a alargava e ela o recebia, respondendo a cada
investida com um gemido rouco e agoniado. Manteve-a presa
a ele, voltando a segurá-la pelos cabelos, enfiando a outra
mão no meio de suas pernas e a estimulando mais e mais. —
Agora, vem! — comandou. — Acho que não vou aguentar
por muito tempo. —Completou e um sorriso perverso surgiu
em seus lábios, um minuto depois, quando a sentiu se quebrar
em espasmos ordenhando o seu sexo.
— Trent! — Ele a ouviu gritar seu nome e prosseguiu
metendo sem trégua. Não demorou quase nada e afundou o
rosto no emaranhado de cabelos entre a nuca e o ombro,
inalando o seu cheiro estimulante de fêmea. Em uma última e
profunda investida, derramou jatos de sêmen em sua vagina,
rugindo forte, como um felino.
— Eu te amo, Betsy! Eu te amo, minha morena! — Trent
declarou ofegante, o pau ainda enterrado dentro dela.
Algum tempo depois, ele se retirou e ficaram ali, se
recuperando, aguardando seus batimentos voltarem ao
normal.
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— Estive pensando em uma coisa — Trent começou a


falar com Betsy agora de frente para ele, mas ainda encostada
na parede.
— Em quê?
— Que você disse que me mataria, achei graça, mas,
pensando bem, um pouco de violência, bem dosada, até que
pode ser interessante — respondeu pegando uma mecha de
seu cabelo e a enrolando na mão, algo que gostava de fazer.
— Nem começa, já estou vendo para onde vai essa sua
mente pervertida aí... — Betsy o censurou, mas tinha um
sorriso misterioso nos lábios.
— Não acho que seja uma perversão, é um estilo de vida,
não o meu, sou apenas um curioso no assunto, mas talvez um
dia possamos pôr em prática uma ou duas coisinhas —
sugeriu travesso.
— Podemos pensar nisso, mas não prometo nada — cedeu
ela.
— Bem colocado, bonita! Tentar não custa nada, e pode
até ser prazeroso. Algemas, vendas e a minha mão dando uns
tapas na sua bunda.
— Os tapas eu dispenso, não gosto de apanhar — afirmou
categórica.
— Sem graça! — Trent riu alto de sua recusa.
— Nana-nina-não! Nada de tapinhas, não sou masoquista,
e vejo um pequeno problema nisso tudo.

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— Qual? — perguntou um Trent curioso.


— Quem domina e quem vai ser dominado?
— Não vejo problema nenhum nisso, podemos dominar
um ao outro.
— Hum, assim me soa muito melhor, adoraria te dominar
— afirmou Betsy, com uma expressão maliciosa no rosto.
— Você já está fazendo isso, e sem precisar levantar um
dedo.
Betsy suspirou ao ouvi-lo, sentindo-se poderosa. Deus,
como amava aquele homem, e ele era dela!
— Bom saber, adoro tudo em você, e espero que o bebê
seja um mini Trent.
— Pode ser, se acha que pode lidar com mais um igual a
mim.
— Darei o meu melhor, mas estou certa de que vou amar.
Nesse momento, já recuperado e pronto para recomeçar,
ele a pegou nos braços, virando-se em direção ao seu quarto.
— O que está fazendo? — Betsy perguntou o abraçando
pelo pescoço.
— Não disse que não podia andar? Pois estou te levando
para a cama, ou pensou que seria só uma vez e pronto? Mal
começamos, bonita! Como dizem, a noite é uma criança, e eu
ainda tenho energia para dar e vender. — Trent sorriu e deu
uma piscadinha maliciosa para ela. — E não se preocupe,
daqui para frente serei mais cuidadoso, por conta do bebê, não
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quero que aconteça nada com ele.


— Ou com ela — Betsy murmurou em seu ouvido.

Dia seguinte – Queens, NY.


— Esta é a minha filha Amy. Vocês não foram
apresentados ainda porque ela passou esses últimos dias na
casa de uma amiga, nos Hamptons.
— É um prazer conhecê-la, Amy. Eu já vi uma foto sua,
mas posso dizer que você é tão, ou mais bonita, pessoalmente
— disse Trent, galante, oferecendo a ela a sua mão para um
cumprimento.
— Obrigada, senhor...? — a garota perguntou,
correspondendo ao aperto de mãos com um sorriso no rosto.
— Trenton Campbell, mas pode me chamar de Trent.
— Claro. Trent. É um prazer conhecê-lo também.
— Ele é advogado e amigo do Grant, de San Diego —
Danna explicou.
— E veio conhecer a nossa cidade? — Amy olhou curiosa
para o homem alto e simpático de pé à sua frente.
— Também. Na verdade, vim concluir uma negociação de
trabalho e em duas semanas me mudo em definitivo para cá.
— Que legal! Então é advogado? Interessante, porque é
uma das carreiras que escolhi. Ainda não decidi totalmente,
mas estou pendendo para ela. Importa-se de conversamos

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mais sobre isso, em uma hora em que estiver mais tranquilo?


— De maneira nenhuma. Direito, além de ser a minha
profissão, também é uma das minhas paixões, e podemos
conversar agora mesmo, temos tempo até a Betsy vir me
pegar.
— Betsy? Está falando da minha tia Betsy?
— Sim, ela mesma, mas me diga, o que gostaria de saber?
— perguntou Trent, sempre simpático com a garota.
Os dois se envolveram em uma conversa animada sentados
no sofá da sala.
— Parece que se deram bem, não? — Grant comentou com
a mulher.
— É, parece que sim — Danna concordou olhando para os
dois, pareciam entusiasmados com o tema que debatiam.
Algumas horas depois, como haviam combinado, Betsy
chegou para acompanhá-lo até o aeroporto. Todos na casa se
despediram de Trent ali mesmo.
Ele e sua morena chegaram ao local, e poucos minutos
antes do embarque, Betsy não conseguiu segurar e sentiu os
olhos marejarem. Ao perceber sua tristeza, Trent
imediatamente a abraçou forte e a embalou, como a uma
criança, passando a mão pelos seus cabelos e costas.
— Não faz assim, bonita, estarei de volta logo, duas
semanas passam rápido.
— Eu sei, mas sinto um aperto no peito ao ver você indo
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embora — falou Betsy, sentindo uma lágrima escorrer pelo


rosto. Trent logo a secou com o polegar.
— Eu também vou sentir sua falta, não tem ideia do
quanto, mas manteremos contato, por telefone, mensagens e
vídeo. Sei que não é a mesma coisa, mas ameniza um pouco a
separação.
— Sim, ameniza. — Nesse instante, ouviram a chamada do
voo. — Você tem que ir — disse ela, ainda chorosa. — Parte
disso são os hormônios, não costumo ser assim, tão chorona.
— Forçou-se a sorrir.
— Vou torcer para que os dias passem rápido, e como
combinamos, iremos à primeira consulta juntos. Cuide-se,
minha morena! Até a volta!
— Certo, vamos esperar por você.
Trent assentiu com um gesto de cabeça, beijou-a nos lábios
e dirigiu-se para o portão de embarque. De onde estava, deu-
lhe um último aceno, e Betsy só deixou o lugar quando o viu
sumir de seu campo de visão.

Uma semana depois, Trent recebeu uma ligação da


promotoria. Seu contato, Ed, ligou avisando que os
julgamentos de Caleb e Xavier ainda podiam levar alguns
meses para acontecer, tempo necessário para montarem todo o
caso e arrolarem testemunhas.
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— Conversei com o meu contato, talvez você não seja


chamado para testemunhar.
— Por quê? — perguntou Grant, franzindo o cenho.
— O seu envolvimento com a Danna. Ela é ex-mulher
dele. O promotor considerou como sendo conflito de
interesses, o que poderá afetar a sua credibilidade, apesar de
que nós sabermos que não tem nada a ver, só que os jurados
não saberão. De qualquer maneira, pode ficar tranquilo, as
provas que eles possuem são esmagadoras, inclusive
depoimentos de algumas das traficadas, as quais pediram
asilo. O Departamento de Imigração está estudando cada
caso. As demais voltaram para os seus respectivos países.
— Se não tem mesmo jeito, não posso fazer nada, a não ser
aceitar. O meu único desejo é que esse desgraçado apodreça
na cadeia. Ele e seus comparsas — rosnou Grant, sentindo-se
impotente. Ele gostaria muito de encarar aquele safado de
cima de uma tribuna durante o seu julgamento.
— Ainda levará meses para que seja marcada uma data.
Sabe como são essas coisas, demora um pouco mesmo. A
espera pode ser de anos, o bom é que continuarão presos até
lá. Agora tenho que ir, mais uma semana e estarei de volta aí
em Nova York, e dessa vez para ficar.
— Perfeito, estamos te esperando.
— Ah, iremos juntos nas consultas das nossas mulheres,
certo?
— Certíssimo. Estão agendadas, algo me diz que isso será
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um evento, essas duas juntas, não sei, não. A Danna até que é
mais calma, mas quando se junta com a Betsy...
— E eu não sei? Minha morena é um verdadeiro furacão!
— Trent riu alto.
— Pena que ainda é cedo para sabermos o sexo — Grant
comentou.
O médico havia dito que com quatro meses já seria
possível, e precisava confessar que estava bem ansioso.
— Nem me fale. A curiosidade está me matando aqui, mas
vamos ter que aguentar mais um tempinho — Trent anuiu e
um sorriso aberto chegou aos seus lábios ao imaginar o dia
em que saberiam. — Bem, agora tenho que ir, dê um beijo na
Danna e na Amy por mim. Um abraço, Grant!
— Pode deixar, serão dados. Idem. Nós nos vemos em uma
semana.

Por fim, chegou o dia de Grant tirar o gesso. Mal suportava


ficar com aquilo, queria poder voltar ao trabalho, dirigir e
fazer as coisas triviais que não pudera nas últimas seis
semanas. Sentiu um alívio tremendo quando o técnico o tirou,
e até estranhou ter o braço livre novamente.
Mais tarde, no mesmo dia, ele conversava com a mulher na
sala de visitas.

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— Agora posso te abraçar sem nenhum empecilho, e fazer


outras coisinhas também — comentou dando uma piscadela
travessa para ela. — Onde está a Amy?
— Saiu, foi visitar uma amiga nos Hamptons, deve estar de
volta só à noitinha. Ela quase não para mais em casa.
— Isso quer dizer que estamos sozinhos? Só nós dois? —
inquiriu Grant, enlaçando-a pela cintura.
— Sim, estamos sozinhos, por quê? O que é esse olhar,
hein, rapaz bonito?
Ele passou a ponta da língua nos lábios, os umedecendo,
enquanto a olhava de uma maneira que não deixava dúvida
sobre o que se passava em sua mente.
— Está querendo estrear o braço novo? — perguntou
Danna, rindo e se desvencilhando de seu abraço.
— Quero te pegar de jeito, como há tempos estou
impossibilitado de pegar. Vamos testar e ver se ficou bom
mesmo?
— Não sei, talvez. Para falar a verdade, eu estou doida
para tomar um banho. — Danna foi falando e andando em
direção às escadas, porém, parou no primeiro degrau, virou-se
e encarou-o provocante. — Então, você vem ou não vem?
Grant retribuiu o olhar. Com dois passos, estava atrás dela.
— É só ir na frente que eu te sigo, princesa! — respondeu
com um sorriso. Apoiou as duas mãos na base de sua cintura e
começou a subir os degraus da escada, desejando alcançar o

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quarto o mais rápido possível.

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“When a man loves a woman, spend his very last dime


Trying to hold on to what he needs, he’d given up all his comfort
And sleep out in the rain, if she said that’s the way, it ought to be”
When a Man Loves a Woman – Michael Bolton

Caleb estava cada vez mais nervoso, frustrado e


impaciente. O idiota do seu advogado não tinha feito o que
ele havia pedido, ou melhor, ordenado. Pelo visto, seria
preciso que ele mesmo tomasse as suas providências. Pensou
em uma maneira e resolveu se aproximar, através do seu
guarda-costas, de um grupo bem barra pesada, pois soube que
um deles iria sair dentro de algumas semanas e o estava
sondando para fazer o trabalho, se dispondo a pagá-lo muito
bem, é claro.
A cada hora que passava ali dentro, odiava um pouco mais
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o Garoto de Ouro. O filho da mãe foi o estopim e o maior


responsável pela perda de todos os seus negócios e sua prisão.
Seu ódio e ressentimento por ele crescia mais agora, que ficou
sabendo que a sentença do divórcio estava para sair e que o
juiz tinha decidido que daria a guarda total da filha para a
Danna, e estar preso contribuiu muito para isso. Embora não
quisesse Amy vivendo com ele, havia exigido sua guarda para
irritar e espezinhar a ex-mulher. Como a decisão ainda não
era oficial, ambas ainda não estavam cientes. Ele mesmo
havia obtido a informação através de uma fonte paga, que
veio de dentro do próprio tribunal. Em pouco tempo, o faz-
tudo e a ex-mulher poderiam até se casar, caso desejassem,
porém, não o fariam, uma vez que ele não permitiria. Faria o
possível e o impossível para evitar que aquele moleque
insolente roubasse a sua família, isso só aconteceria por cima
do seu cadáver.
Quanto aos seus bens, soube que estes foram confiscados
pela justiça, com exceção da mansão nos Hamptons, pois este
estava no nome da filha. Logo que recebeu os papéis de
divórcio, decidiu passar a propriedade para o nome de Amy,
por se tratar de uma herança de família e por questão de
segurança. A casa podia render uma boa soma, no caso de ser
vendida. Ok, ele não era um cara totalmente desprovido de
emoções e sentimentos, gostava mesmo da garota e
preocupava-se com o bem-estar dela, dessa forma, a venda da
casa custearia a universidade e boa parte do seu futuro. Fez
isso apenas por precaução, pois sempre havia a possibilidade
de perder o processo criminal movido contra ele, e pelo andar
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da carruagem, era o que acabaria acontecendo. Mais um para


a conta que pretendia cobrar do desgraçado do
Grant. Entretanto, Caleb estava longe de ficar pobre, esperto
como era, tinha se coberto, transformando boa parte do que
recebia em diamantes e obras de arte, que guardou em cofres
de bancos sob um nome fictício. Outra parte de seus lucros
enviou para contas abertas no exterior. Sorriu com desprezo.
Não, não tinha sido derrotado, e se dependesse dele, não o
seria.

— Ei, você está bem? — Danna perguntou para um Grant


pensativo. Tinham feito amor há apenas alguns minutos, e
logo ela notou que o namorado havia ficado muito quieto.
— Sim, na verdade, estou me sentindo ótimo — assegurou
Grant, fitando-a com malícia.
Danna não se deixou enganar por aquele olhar e o meio
sorriso safado.
— Não estou me referindo a isso, meu anjo, sinto que algo
te incomoda. — Especulou ela, insatisfeita com a resposta.
— É impressão sua — negou Grant, depositando um beijo
no topo de sua cabeça e tocando-a com carinho no rosto. —
Nada importante.
Danna empertigou-se de imediato e encarou-o muito séria.

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— Então tem alguma coisa. Grant, por favor, não faz isso,
não diz que não há nada quando eu vejo claramente que está
preocupado, e não é com algo sem importância, como está me
dizendo. Anda, me fala o que é — pediu uma Danna
determinada a tirar a verdade do homem, ainda deitado ao seu
lado.
Ele se permitiu suspirar e se sentou na cama, vendo Danna
ajeitar o lençol que a cobria na altura do peito. Ela ainda se
sentia tímida em sua presença, só que agora Grant achava até
gracioso esse jeitinho recatado da mulher.
— Está bem. Você está certa. Tem algo rondando a minha
mente. Danna, eu não tenho posses, você sabe, e me
preocupo. Agora com os bebês, como eu vou fazer para... —
interrompeu-se, hesitando por um momento.
— Sustentá-los? — Danna completou a frase por ele. — É
com isso que está preocupado?
Claro, como eu não tinha pensado nisso? Grant é um
homem que possui um senso de honra muito forte, e seu
orgulho não permite ser sustentado, Danna concluiu em
pensamento.
Caso algo assim chegasse a acontecer, Grant se sentiria
incapaz e envergonhado por não conseguir manter os filhos.
Ainda que Danna garantisse que poderia fazê-lo sozinha, ele
jamais aceitaria. No mínimo, ele teria que dividir as despesas
da casa e das crianças com ela.
— Eu não posso negar que a situação me preocupa.

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Trabalho para você, moro aqui de favor e vamos ter dois


bebês. Se uma criança gera gastos, imagina duas? Quando
estivemos em San Diego, o Trent me contou que o novo
capitão do distrito em que eu trabalhava provavelmente vai
querer falar comigo sobre a possibilidade de eu retornar. Até
então, eu não havia pensado seriamente no assunto, porque a
máfia do seu ex-marido ameaçou a minha família, o que me
obrigou a deixar a cidade, mas agora, com todos eles sendo
processados e presos, voltei a considerar a retomada da minha
carreira na corporação.
— Eu entendo, meu anjo, sei quanto você gosta de ser
policial, contudo, existe um porém...
— Sim, tem. O problema é que, para que eu possa ser
reintegrado, precisarei regressar, e é isso o que está me
incomodando.
— Você está querendo me dizer que vai precisar voltar
para a sua cidade? É isso? — Danna engoliu em seco, uma
tentativa de desfazer o nó que se formava em sua garganta.
— Exato, princesa! Vai chegar o momento em que
precisarei decidir, ou melhor, que nós dois teremos que tomar
uma decisão — corrigiu-se Grant, incluindo-a, afinal, eram
um casal agora, e as decisões tinham que ser tomadas em
conjunto. Ele seguiu fitando-a com o semblante grave e
abatido.
— Grant, por favor, não! Nós temos que ficar aqui, talvez
você consiga uma transferência ou algo do tipo, não sei —
Danna sugeriu agitada. — Precisamos manter a maior
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distância possível do ser maligno do Caleb. Só de pensar no


que ele é capaz de fazer, chego a sentir calafrios!
— Eu sei, meu amor, mas eu não vejo outra alternativa,
preciso ganhar a vida, e ser policial foi, e ainda é, o que eu
sempre quis. De qualquer maneira, ainda que eu consiga uma
transferência, vou ter que voltar para acertar os detalhes da
reintegração. — Grant lhe lançou um olhar triste, sofrido.
Danna se virou mais para ele, o tocando no rosto e
acariciando a barba por fazer. Não gostava nada de vê-lo
assim, tão preocupado, triste e abatido, embora entendesse o
seu lado.
— Grant, vamos fazer o seguinte, sabemos que ainda tem
bastante coisa para fazer por aqui, e isso que está me dizendo
ainda não aconteceu. Vamos seguir como estamos por mais
um tempo, e quando chegar a hora, voltamos a discutir esse
assunto, pode ser assim? — indagou Danna, torcendo para
que ele aceitasse a sugestão.
— Tudo bem, princesa, não vamos mais tocar nesse
assunto, pelo menos por enquanto, mesmo porque, não posso
fazer nada agora. Só estou especulando, foi algo que me
passou pela cabeça, e não quero que se preocupe comigo,
estou certo de que serei capaz de resolver essa situação.
— Quer mesmo voltar a ser policial, não quer?
— Eu não sei fazer outra coisa, foi para isso que me
preparei, não posso ser um faz-tudo para sempre.
— E por que não pode, se você faz tudo tão bem? —
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Danna fez a pergunta insinuando-se para ele.


— E por que essa frase me soou com duplo sentido? —
brincou Grant.
— Porque foi dita assim, meu anjo, e é a mais pura
verdade, você faz mesmo tudo muito bem. — Danna sorriu
travessa, no entanto, voltou a ficar séria ao vê-lo fechar o
semblante. — Amor, não fica assim, nós pensaremos em algo,
você não está mais sozinho.
— Eu sei, e não estou mesmo, mas não consigo deixar de
pensar no nosso futuro e no futuro dos nossos filhos.
— Amo você ser como é, assim, tão responsável, honrado,
correto e uma pessoa bonita de várias maneiras. — Danna
notou Grant arquear uma sobrancelha, como se esperasse por
mais elogios. — Perdoe-me, lindo e gostoso são duas coisas
que não podem faltar enquanto enumero as suas qualidades.
— Entendi, e agradeço por me esclarecer isso. — Grant
abriu um sorriso amplo para ela, que aproximou o rosto e o
beijou com intensidade.
Quando rompeu o beijo e voltou a fixar seu olhar no dele,
Danna não conseguiu se conter e sentiu uma necessidade
incontrolável de externar o que sentia por aquele homem.
— Meu primeiro pensamento quando acordo é seu. A
primeira imagem que vejo de manhã, e a última, à noite, antes
de dormir, é a sua. Eu te amo. Amo os nossos bebês e amo a
Amy, e você me deixa triste quando fala que não tem nada. —
Danna se deu uma pausa, colocando um dedo em seus lábios
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quando abriu a boca para retrucar. — Eu sei que fala no


sentido material, mas você esquece que tudo o que eu preciso
é de você ao meu lado. Ter você comigo me faz sentir a
mulher mais feliz, amada e abençoada do mundo inteiro,
então, Grant, não diz, nunca mais, que não possui nada,
porque se isso fosse verdade, não teria me dado o seu amor,
não teria me dado dois filhos, não teria me ajudado, com o
seu carinho, compreensão e sensibilidade, a restaurar a fé em
mim mesma, não teria me devolvido a alegria de viver. Com
você, eu descobri o que é amar e ser amada. O que você me
deu e me dá, dinheiro nenhum é capaz de comprar, e tudo isso
faz com que eu me apaixone por você um pouco mais, a cada
hora, a cada minuto e a cada segundo do meu dia.
Grant a ouviu dizer aquilo com cada uma das palavras
entrando direto em seu coração, o aquecendo e transbordando
de amor por ela. Como poderia amá-la tanto ele não sabia
colocar em palavras, apesar de uma vez ou outra tentar
externar o que levava dentro de si, porém, na maior parte do
tempo, apenas sentia, simples assim.
— Obrigado por me dizer essas coisas e por me amar
tanto, você é o que de melhor aconteceu na minha vida. Eu te
amo muito, minha sardentinha. — Grant tocou a ponta do
nariz de Danna com um dedo. — Eu te amo com todo o meu
coração, a minha mente, o meu corpo e a minha alma. Com
todo o meu ser, com tudo o que sou, e você está certa, vamos
conseguir seguir adiante, desde que estejamos juntos.
Danna movimentou-se sinuosa, provocando-o. Desejava

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mudar o foco do homem, nem que para isso precisasse apelar


para o sexo. Ok, estava jogando sujo, mas faria qualquer coisa
para que Grant esquecesse, ainda que por algum tempo, algo
que não teria solução naquele momento.
— Concordo com você, mas podemos mudar de assunto
agora? Tenho algo mais interessante e prazeroso em mente
para fazermos juntos. Vem comigo?
— Eu vou para onde quiser me levar, princesa.
— Tudo o que desejo é que me ame, meu anjo.
— Agora e sempre! — Grant se posicionou de maneira que
seu corpo pairasse sobre o dela, e atendeu seu pedido com
prazer, amando aquele corpo quente, perfeito, lânguido e
sinuoso, uma e outra vez.
Uma semana depois, Danna estava na cozinha preparando
o almoço quando o viu entrar. Após aquela conversa, Grant
parecia um pouco tenso, e por mais que ela dissesse que tudo
ficaria bem, a situação dele o preocupava. Ela sabia que ele
não estava, ao contrário do que dizia, conseguindo relaxar.
Talvez com a ida ao médico, para fazer um novo ultrassom, se
animasse um pouco.
Trent havia retornado de San Diego no dia anterior, e
Betsy foi buscá-lo no aeroporto. Depois de uma passada
rápida para vê-los, os dois seguiram para a casa dela, de onde
ficaria mais prático para que o advogado chegasse ao
trabalho, já que ela morava em Upper East Side, a menos de
quinze minutos de Manhattan.

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Combinaram de se encontrar no consultório, pois as


consultas estavam marcadas para às duas e meia e três horas
da tarde, e Trent só teria que se apresentar no escritório no dia
seguinte, pela manhã. Fizera isso de propósito, tinha vindo
um dia antes justamente para ter tempo de acompanhar Betsy.
Grant e Danna almoçaram em um silêncio tranquilo. De
vez em quando, trocavam algumas palavras, olhares e
sorrisos, e isso a tranquilizava.
— Danna? Está pronta? — Grant indagou da sala, depois
de terminarem de comer e arrumarem a cozinha.
— Só um minuto, já estou descendo — ela gritou de lá de
cima.
— Não demora, princesa!
— Mas nós ainda temos muito tempo para chegar ao
consultório, Grant!
— Eu sei, só que prefiro estar lá antes do horário marcado
do que nos atrasarmos, e quero evitar pegar trânsito também.
— Terminei! — ela avisou, aparecendo no topo da escada.
— Só vou pegar minha bolsa e podemos ir.
— Está certo. Eu te espero lá fora — Grant avisou saindo.
Cinco minutos depois, Danna desceu as escadas, deixou a
casa, atravessou o quintal e passou pelo portão, o fechando
atrás de si. Virou-se para a rua e viu o namorado sentado
dentro do carro, aguardando-a com o motor ligado.
— Pronto, meu anjo, aqui estou. Vamos? — indagou
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ajeitando-se no assento do carona.


Grant sorriu e lhe deu um selinho, logo pôs a pick-up em
movimento. A ansiedade era tamanha que entraram no
consultório meia hora antes do horário marcado, e como
puderam ver, não eram os únicos, pois Betsy e Trent haviam
chegado ainda mais cedo.
— Ai, que bom que vocês chegaram! — disse Betsy,
levantando-se da cadeira ao lado de Trent para encontrá-los
na entrada do consultório. — Estou tão ansiosa, amiga, olha o
estado das minhas unhas! E eu que levei tanto tempo para
deixá-las crescer, horas na manicure cuidando delas, vê só o
tamanho do estrago! — falou mostrando-as para ela.
— Calma, Betsy, não precisa ficar assim, eu sei que está
tensa. Na verdade, apesar de que eu e o Grant já termos
escutado os coraçõezinhos dos nossos, não consigo evitar
estar ansiosa também.
— Será que podemos ir juntas? Tipo, fazer ao mesmo
tempo?
— Acho que não, o médico só tem um aparelho lá dentro.
— Danna riu.
— Ah, tá, pensei que daria — disse Betsy, voltando a pôr a
unha do dedo mindinho na boca.
— Para com isso, Betsy! — Danna falou puxando a mão
dela. — Tenta se acalmar um pouco! Nervosa como está, até
pode prejudicar o bebê. E você vai estar com o Trent, será um
momento de vocês dois.
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Grant e Trent apenas observavam as mulheres


conversando, porém, dava para notar que não estavam tão
calmos assim, embora não deixassem transparecer.
Faltando poucos minutos para o horário da primeira
consulta, a recepcionista chamou o nome da paciente
marcada.
— Betsy Scott!
— Sou eu! — ela logo se apresentou. Procurou por Trent e,
ao encontrá-lo de papo com Grant, o chamou com o olhar. —
Vou lá, amiga! — Betsy segurou as mãos de Danna, que
notou como as da amiga estavam frias, denunciando seu
nervosismo.
— Vai, nos vemos daqui a pouco, mantenha a calma! —
Danna lhe deu um olhar de advertência. — Trent, cuida dela,
essa mulher está a ponto de ter um troço.
— Pode deixar a morena comigo, daqui a pouco ela
melhora. — Trent envolveu os ombros de Betsy com o braço.
— Não é mesmo, bonita?
Betsy respirou fundo duas vezes e concordou com um
gesto de cabeça, e logo os dois sumiram dentro da sala.
— Então, prontos para ouvir o coraçãozinho do bebê? —
o médico perguntou com um sorriso simpático no rosto. —
Betsy, você foi indicada pela Danna, certo?
— Sim, somos amigas de muitos anos — respondeu ela,
subindo e se ajeitando na cama hospitalar, com Trent se
posicionando ao seu lado. Ela levou as mãos até a boca como
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se quisesse morder os nós dos dedos, observando o homem se


preparar para iniciar o exame — respondendo a pergunta que
nos fez, eu não sei quanto ao Trent, mas eu estou tensa.
— Não fique, tenho certeza de que está tudo bem com o
bebê de vocês — o médico a tranquilizou, iniciando os
procedimentos e movendo o parelho sobre sua barriga.
Logo os batimentos se fizeram ouvir, começando baixinho
e aumentando, gradativamente, conforme o médico regulava o
volume do equipamento, e assim este se tornou o único som
dentro da sala.
Betsy procurou pela mão do homem ao seu lado, ambos
estavam mudos e com os olhos vidrados na imagem formada
no monitor. Ela esticou a mão livre em direção ao aparelho e
sentiu os dedos tocarem a tela, sem fazer nenhum esforço para
esconder quanto estava emocionada. Virou-se para fitar Trent,
que girou o pescoço como se quisesse esconder algo dela.
— Trent? O que foi? Olha para mim. Amor, você está
chorando? — Betsy fez a pergunta levando a mão até seu
queixo, girando-o para que ele olhasse para ela.
— Não, claro que não, acho que caiu algo no meu olho, foi
isso — respondeu ele, ainda com o rosto virado, levando a
mão até os olhos e evitando fitá-la. Era óbvio que havia
ficado tocado com o que estavam vendo e ouvindo.
— Ah, meu querido! Qual é o problema em você se
emocionar? Olha para mim! Eu nem sou de chorar e estou me
derretendo toda aqui. — Sorriu para ele entre lágrimas,

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sentindo-se mais calma, a tensão se dissipando. Agora o que a


tomava era uma emoção indescritível. — Não é o som
mais incrível do mundo? É o nosso bebê, papai urso! Vem
aqui — chamou-o, abraçando-o quando ele o fez. — Deixa
essa pose de machão um pouquinho de lado e seja só um pai
escutando o coração do seu primeiro filho batendo, está bem?
— Minha morena, você é demais! Eu te amo, sabia? —
Agora as lágrimas caíam livres e se misturavam. Ele se
inclinou para ela e a beijou nos lábios, e ambos ficaram
olhando, juntos e emocionados, para o pontinho que pulsava
no monitor.
Cerca de vinte minutos depois, os dois regressaram para a
sala de espera.
— Então, como foi? Tudo bem? — Danna perguntou
assim que os viu.
— Está tudo normal e perfeito. As mesmas recomendações
de sempre, vitaminas e retorno marcado — Betsy respondeu
com um enorme sorriso no rosto.
— E o papai? Como se comportou? — brincou Grant.
— Melhor não falar muito agora, basta dizer que esse
grandão aí... — Betsy o indicou com o queixo. — Virou um
ursinho de pelúcia lá dentro, a coisa mais linda, até se
emocionou, assim como eu — confidenciou Betsy.
— Bom, parece que agora é a nossa vez, Grant — avisou
Danna, vendo a recepcionista se aproximar e chamá-la pelo
nome.
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— Minha vez, Trent — Grant disse piscando para o amigo.


— Esperamos por vocês aqui fora. Força, amigo! — Trent
desejou fazendo um sinal de positivo em direção a ele. —
Com um eu já me desmanchei todo, fico imaginando se
fossem dois... — completou para si mesmo.
Grant apenas assentiu e acompanhou a mulher, entrando no
consultório logo atrás dela.

— O que você está me dizendo? Um intento de rebelião na


ala onde Caleb está? — questionou Grant, totalmente
surpreso. Como algo assim podia acontecer, e justo no local
onde aquele desgraçado estava? Será que tinha dedo dele
nisso?
— Isso mesmo, alguns detentos conseguiram escapar em
meio à confusão, rendendo guardas e fazendo-os de escudo.
Pelo que eu soube, foi um pandemônio, alguns dos presos e
dos guardas saíram feridos — informou Trent, agitado, do
outro lado da linha.
— Então está parecendo que a confusão foi apenas uma
distração. — Especulou Grant, ainda sem poder acreditar no
que estava ouvindo.
— Exato! Pelo menos é o que está parecendo. Os feridos já
foram atendidos, porém, os dois que foram esfaqueados estão
muito mal, correndo até risco de morte.
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— E já sabem quem são esses dois? E os que conseguiram


sair?
— Não divulgaram nenhum dos nomes ainda, estou
aguardando. Meu contato está tentando descobrir, vai me
avisar assim que souber.
— Só espero que o Caleb não esteja entre os que
conseguiram escapar. — Grant sentiu-se indignado, e só de
pensar na possibilidade do crápula estar livre em qualquer
lugar do país, o deixava com um verdadeiro temor do que o
maldito poderia fazer, mesmo sendo um foragido procurado
pela justiça.
Tudo parecia um total absurdo, mas dinheiro e poder
sempre puderam fazer muita coisa, inclusive comprar pessoas,
ele mesmo fora testemunha desse tipo de transação em
algumas ocasiões, no período em que esteve preso naquele
mesmo lugar.
Deus, por favor, que ele não seja um deles, que não tenha
conseguido fugir, pediu, em pensamento, um Grant agoniado
e aflito.

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“It’s time to begin, isn’t it?


I get a little bit bigger but then I’ll admit
I’m just the same as I was
Now don’t you understand
That I’m never changing who I am”
It’s time – Imagine Dragons

Grant desligou o celular e o guardou no bolso, pensativo.


A notícia que tinha acabado de receber o fez ficar tenso e
apreensivo. No final da ligação, o contato de Trent o chamou
informando que Caleb e Xavier não estavam entre os
fugitivos, e ele agradeceu aos céus por isso, porém, um deles
tinha sido ferido, e segundo informações internas, o estado era
grave.

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Caleb acabou se envolvendo na confusão tentando se


aproveitar dela, a fim de conseguir escapar. Acabou sendo
atingido fortemente na cabeça e recebeu uma estocada na
barriga. Devido à gravidade dos ferimentos, ele se encontrava
no hospital do presídio, com a possibilidade de ser transferido
para um civil, melhor aparelhado, porém, até o momento, não
sabiam se isso seria necessário.
Grant estava ciente de que teria que colocar Danna a par da
situação, pois ela precisaria contar para Amy sobre o estado
de saúde de Caleb, que mesmo sendo um canalha, ainda era o
seu pai. Não era do tipo que se alegrava com a desgraça
alheia, no entanto, nesse caso, abria uma exceção, e respirou
aliviado por saber que, pelo menos por algum tempo, o
crápula não estaria tramando ou utilizando o seu poder para
alcançá-los. Torcia para que fosse assim.
Desceu as escadas com passadas rápidas, encontrando-a
sentada no sofá folheando uma revista especializada em
decoração de quartos de bebês. Danna andava entusiasmada,
querendo começar a mexer com isso logo, e como no primeiro
andar havia somente dois quartos, sendo um deles e o outro
de Amy, teriam que dividir o maior, transformando-o em dois
menores e interligando-os, e claro que ele seria o responsável
em dar vida ao projeto.
Grant a observou por alguns instantes. Estava com o
cabelo preso em um rabo de cavalo, porém, uma das mechas
havia se soltado e caía, de maneira graciosa, na lateral de seu
rosto. Quando a via assim, tranquila, não podia deixar de se

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perguntar o que tinha feito de tão bom para merecer alguém


como ela ao seu lado. Danna era, sem sombra de dúvidas, o
que de melhor havia acontecido em sua vida. Davam-se tão
bem que ele chegava a acreditar nessa coisa que chamam
de alma gêmea. Se existia uma para ele, com toda certeza era
ela.
Aproximou-se e foi se sentar ao seu lado. Viu-a levantar a
cabeça, deixando de admirar as imagens da revista, e se voltar
para ele com aqueles olhos verdes com pontinhos pretos que
ele adorava e onde costumava se perder em todas as vezes que
se amavam. Ela inclinou o rosto em sua direção para receber
um beijo.
— Um mais lindo que o outro, o que você acha? — Danna
perguntou voltando a prestar atenção na revista em seu colo e
a passar as páginas.
— Concordo, são muito bonitos — respondeu Grant,
tratando de demonstrar interesse, mas era evidente que sua
mente estava focada em outra coisa.
Danna parou o que fazia, descansando ambas as mãos
sobre o colo e o fitando como se tivesse acabado de se
lembrar de algo.
— Ah, recebi uma ligação hoje, mais cedo, e me
confirmaram a data do início do curso em que me inscrevi.
Começo na próxima semana. Sabe aquele? De história da
arte? — indagou sorridente.
— Claro que me lembro — Grant confirmou. — Que bom,

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tenho certeza de que você vai aproveitá-lo muito bem.


— Vou mesmo, não vejo a hora.
Grant ficou calado e Danna analisou seu perfil. Notou a
seriedade estampada em seu rosto. Esticou o braço e passou
um dedo com um gesto suave entre seus olhos, logo acima do
nariz, em uma tentativa de desfazer a pequena ruga de
preocupação que havia ali.
— Ok, me fala, o que você tem? Aconteceu alguma coisa?
Tão pouco tempo juntos e ela já me conhece tão bem,
Grant pensou e logo se lembrou do assunto que tinha para
comentar com a mulher, porém, hesitou. Levou as mãos até a
revista que Danna estivera lendo e a fechou com gestos
calmos e controlados.
— Sim, aconteceu. Tenho algo importante para te contar.
— Então me diz logo o que é — pediu Danna, apreensiva.
Pelo semblante fechado que ele trazia, não devia ser coisa
boa. Danna esperava ansiosa pelo que viria.
— É sobre o Caleb. Houve uma tentativa de rebelião na ala
do presídio onde ele está preso.
— E? — Danna se sobressaltou com a notícia e o
incentivou a continuar, ficando em suspense.
— Na confusão, ele foi ferido, e agora está em estado
grave no hospital do presídio. Eu precisava te colocar a par do
que está acontecendo, vai precisar contar para a Amy.
— Ele está tão mal assim?
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— Segundo informações obtidas por Trent, sim, o Caleb


corre risco de morte.
— Entendo. Sendo assim, acho melhor contar logo. Ela
está lá em cima, no quarto. — Danna se levantou.
— Quer que eu vá com você? Se quiser, posso ir —
ofereceu Grant, prestativo, colocando-se ao seu lado.
— Não precisa, meu anjo. Não sei como ela poderá reagir
quando souber, é melhor estarmos sozinhas. A Amy sabe que
o pai procurou por isso, mesmo assim, eu sei que não deixou
de gostar dele e se preocupar, embora não tenha o hábito de
comentar, até por respeito a você, que foi um dos maiores
prejudicados pela maldade e ganância de Caleb.
— Se você acha melhor assim... — Grant aceitou sua
decisão, virando-se e caminhando até a porta. — Enquanto
você conversa com ela, eu vou aproveitar o tempo e verificar
como estão os materiais lá fora, ver se é necessário repor
alguma coisa. Se precisar de mim é só me chamar, certo?
— Pode deixar, e obrigada por me informar — Danna
agradeceu, começando a subir as escadas pensando em como
contar para a filha que o homem que a criou estava mal e que
poderia morrer a qualquer momento.

A conversa com Amy não foi das mais fáceis, porém,


como sempre, a garota reagiu muito bem, até mesmo de
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maneira serena, o que não deixou de surpreender a mãe, já


acostumada com sua precocidade.
Ao retornar para a sala, notou que Grant não estava, mas
encontrou um bilhete seu sobre a mesinha de canto,
informando que tinha ido até o centro para comprar algumas
coisas que necessitava para continuar a reforma. Agora
que seu braço estava bom, Grant voltou com tudo, se
concentrando para adiantar bem os trabalhos, só então poderia
se dedicar a construir o quarto dos bebês. Passava das sete da
noite quando, finalmente, regressou ao lar.
Danna decidiu descansar um pouco, recostada nos
travesseiros fofos e cheirosos, pois teve uma crise forte de
enjoo. Logo depois, o sono bateu. Não lutou contra o desejo
de tirar um cochilo enquanto aguardava pela volta do amado,
e por isso ainda estava ali, deitada, meio acordada e meio
dormindo. Abriu os olhos ao sentir a presença de alguém no
quarto, e sorriu preguiçosa quando notou de quem se tratava.
Grant a observava, encostado ao batente da porta, com um
meio sorriso no rosto. Trazia as mãos na parte de trás de seu
corpo, como se tivesse escondendo algo. Ela sentou-se na
cama, inclinando a cabeça para o lado em uma tentativa de
ver o que ele estava ocultando, porém, não conseguiu, então
viu quando ele trouxe as mãos para frente, mostrando que em
cada uma delas carregava uma sacolinha de papel. Da
primeira, tirou dois bodies para recém-nascidos: um na cor
branca, com os dizeres “Eu amo o papai”, e outro na cor
amarela, com os dizeres “Eu amo a mamãe”. Era óbvio que
escolhera as cores por serem neutras, uma vez que ainda não
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sabiam o sexo dos bebês. Da outra sacola, tirou um ursinho de


pelúcia, muito fofo, na cor café com leite e brincou com ele, o
colocando na frente do rosto. Moveu uma das patinhas a
levando até o focinho, fazendo com que o bichinho soprasse
um beijinho em direção à mulher.
Céus, tem como amar mais esse homem?, perguntou a si
mesma, o vendo caminhar com passos lentos até onde ela
estava. Claro que sim! Quando penso que não, ele me faz
uma coisa como essa e sinto que posso amá-lo a cada dia
mais, foi a resposta que se deu, abrindo um sorriso ao receber
os presentinhos e abraçando Grant quando esse se sentou na
cama ao seu lado.

Meses depois.
— Por que será que elas estão demorando tanto? —
perguntou Trent, visivelmente impaciente, deixando escapar
um suspiro.
Olhou para o relógio no pulso e viu as horas, logo depois
levou o olhar para o topo da escada. Ele e Grant estavam
sentados no sofá da sala à espera das duas mulheres, que se
encontravam no piso superior.
— Não faço ideia — respondeu Grant, seguindo o olhar do
amigo. — Acalme-se, elas devem descer logo. Você tem que
aprender a ser mais paciente, cara! — aconselhou.
Grant andava notando que o amigo estava muito nervoso
ultimamente, e achou que podia ser a pressão no trabalho ou o
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fato de ainda estar se adaptando ao compromisso assumido


com a Betsy.
— Eu até tento, mas quando essas duas se juntam, não é
fácil. Nunca vi terem tanto assunto! — Trent reclamou.
— Procura relaxar um pouco. Você está muito ansioso e
pode vir a ter um colapso nervoso uma hora dessas. Tem
estado muito estressado, Trent — comentou Grant, olhando
para o amigo com uma expressão preocupada.
— É, eu sei. Tenho tido alguns problemas no escritório que
estão me deixando um pouco frustrado, e essa demora não
está me ajudando em nada, mal consigo me controlar —
admitiu.
Trent se levantou e afrouxou a gravata. Estava agitado
demais para permanecer sentado.
— Teve alguma notícia do Caleb? — Grant perguntou,
pois havia algum tempo que não sabiam nada dele. Viu o
rosto do amigo se contrair em uma careta.
— Só que ainda se encontra em coma, e espero que
continue assim por muito tempo. Há pessoas que não deviam
continuar respirando, enfim. Mas, infelizmente, não somos
nós que decidimos isso — comentou em um tom de voz
amargo.
Percebendo que o ar tinha ficado pesado por trazerem à
tona o nome do calhorda, Grant resolveu mudar o rumo da
conversa para um assunto mais ameno.
— Concordo com você, é o mínimo que ele merece. Bom,
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mas falando de coisas mais interessantes, espero que dessa


vez possamos saber o sexo dos gêmeos, no último ultrassom
os dois ainda estavam em uma posição difícil para o médico
ver se são meninos ou meninas — comentou esfregando as
mãos, e apesar de ter criticado o amigo, começava a
concordar com ele a respeito da demora de suas mulheres.
Parecia até que estavam indo para um evento, e não para uma
consulta rotineira de pré-natal.
— Aconteceu o mesmo conosco, esses bebês estão muito
envergonhados. — Trent riu. — Vamos ver se no exame de
hoje já dá para saber. A Betsy está de cinco meses, quase seis.
Seria bem legal nós quatro descobrindo juntos — acrescentou,
considerando a possibilidade, porém, de repente, seu olhar
ficou distante. — Quem diria que há apenas um ano e meio,
após te pegar em frente àquele presídio e te levar até o
aeroporto, estaríamos hoje aqui, falando sobre filhos?
— Verdade, eu nunca teria imaginado isso naquela época,
ainda mais você, que sempre fugiu de compromisso como o
diabo foge da cruz — Grant o provocou.
— Fazer o quê? O mundo muda, e nós mudamos com ele
— comentou Trent, pragmático, alisando a barba, os olhos
fixos no topo da escada.
Nesse momento, ouviram sons de risadas e conversas
animadas vindos do piso superior. Um minuto depois, as duas
entraram no campo de visão de seus homens. Grant não
conseguia tirar os olhos da mulher. Ficou observando-a descer
os degraus e se aproximou da base da escada para recebê-la.
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Ela usava um vestido solto no corpo, com um pequeno


franzido no decote e na barra. Era sem mangas e na cor verde,
o que realçava seus olhos. Devido ao tempo fresco, colocou
um casaquinho de mangas compridas no mesmo tom de verde
por cima do vestido. Deixou os cabelos soltos, caindo em
ondas suaves pelos seus ombros. Seu sorriso aberto iluminava
todo o seu rosto. Conforme a gravidez se adiantava, Danna se
mostrava cada vez mais linda, mais radiante. Betsy veio logo
atrás, esfuziante dentro de uma blusa multicolorida e
calças legging na cor preta.
— Já podemos ir! — a morena anunciou, inclinando-se
para pegar a bolsa que havia deixado sobre o sofá assim que
chegaram.
— Até que enfim, estamos em cima da hora! — reclamou
Trent, carrancudo.
— Calma aí, papai urso, ainda temos tempo. E desmancha
essa cara feia, nem demoramos tanto assim — a mulher
retrucou, se pendurando em seu pescoço e lhe dando um beijo
rápido nos lábios.
— Sua danada! Você sabe que não resisto quando faz isso.
— Trent relaxou um pouco e sorriu para ela, passando um
braço pela sua cintura e descansando a outra mão sobre o seu
ventre com uma expressão de orgulho.
— Sou inocente, não estou fazendo absolutamente nada —
Betsy se defendeu devolvendo o sorriso, toda faceira. —
Vamos então, senhor apressadinho.

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Do outro lado da sala, Grant e Danna faziam o mesmo.


Logo os dois casais deixavam a casa, a caminho do
consultório. Quarenta e cinco minutos depois, os quatro já
estavam na sala de espera.
Após passar pelos procedimentos de rotina, Danna subiu
na cama com a ajuda de Grant e foi preparada para fazer o
exame, com ele sempre ao seu lado. Os minutos que
antecederam o início foram de muita expectativa, até que, por
fim, o médico levou o dedo indicador até o monitor,
mostrando cada um dos bebês para eles.
— Aqui, nós temos um menino — anunciou e se
aproximou um pouco mais do aparelho, fixando os olhos para
poder distinguir melhor, então deslizou o dedo para o lado e o
pousou em outro ponto. — E, aqui, temos uma menina —
concluiu sorridente, olhando para os dois.
— Oh! Meu Deus, Grant, um menino e uma menina! —
exclamou Danna, olhando feliz para ele, que segurava forte
sua mão. Sem conseguir controlar as emoções, deixou uma
lágrima escorrer de seus olhos, ao mesmo tempo em que
mantinha um sorriso nos lábios.
Grant não conseguia colocar em palavras o que sentia,
havia sido tomado por um redemoinho de emoções
indefiníveis. Estava a menos de dois meses de se tornar pai, e
ao mesmo tempo em que isso o deixava apavorado, o fazia
sentir uma alegria que mal cabia dentro do peito.
— Uau, isso é demais! — Emocionado, levou a mão livre à
boca, a cobrindo, os olhos brilhando por conta das lágrimas
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contidas, fixos, vidrados na tela à sua frente. Um instante


depois, quando seus olhares se encontraram, Danna viu um
sorriso se desenhar em seu rosto, e ele nunca lhe pareceu mais
lindo do que naquele momento.
Algum tempo se passou até deixarem a sala e encontrarem
Trent e Betsy sentados na sala de espera. Porém, assim que os
viram, ambos se levantaram e foram até eles.
— E então? Já sabem o que são? — perguntou Betsy,
ansiosa, mordendo a pele do lado de seu dedo mindinho.
Trent notou o que fazia e tomou sua mão na dele.
— Um casal! — Danna respondeu e as duas se abraçaram,
enquanto Trent felicitava o amigo com um tapa em suas
costas.
— Agora é a vez de vocês, espero que tenham a mesma
sorte que nós tivemos lá dentro — desejou Grant, pois sabia
que os amigos estavam tão curiosos para saber o sexo do bebê
quanto ele e a mulher estiveram.
Quando Grant e Danna viram os dois deixando o
consultório, sentiam que a felicidade transbordava de seus
olhos, e nem precisaram perguntar.
— Menina! Uhul! — Betsy chegou anunciando que teria
uma filha aos quatro ventos, rindo alto e feliz da vida, com os
braços levantados para o alto como se tivesse acabado de
vencer uma competição. Também teria ficado contente se
fosse um mini Trent, mas não seria nada mal ter uma mini
Betsy, papai urso que aguentasse.

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— Que bom, amiga! — exclamou Danna, feliz por ela. —


E você, o que pensa de ser pai de uma menina?
Ao ouvir a pergunta, Trent inclinou a cabeça para o lado e
coçou a nuca.
— Penso que tenho que começar a me preparar para afastar
os marmanjos. Comprar uma arma, nesse momento, me
parece ser uma boa ideia — muito sério, começou a falar, mas
logo voltou a sorrir. — Porque estou certo que vai ser a
garotinha mais linda do mundo. Eu me sinto feliz e
preocupado, na verdade — completou, voltando a ficar sério e
pensativo.
— Trent continua babão, e agora que soube que é uma
pequenina, parece que vai ficar ainda pior — Betsy comentou.
— E superprotetor também, por isso que o chamo de papai
urso. Gente, esse homem é possessivo demais! Coitado, vai
sofrer muito, já estou até vendo.
— Trent sendo Trent, como sempre — Foi a vez de Grant
comentar. —Agora que sabemos o que são, acho que
podemos começar a decidir os nomes, não? — sugeriu.
— E como são dois, eu escolho um e você o outro. Tem
algum em mente? — Danna perguntou.
— Eu gosto de Strawberry — Betsy foi logo dizendo.
Danna caiu na risada, estupefata, sem poder acreditar no
que tinha acabado de ouvir.
— Strawberry? Credo, que horror, Betsy! — exclamou ela.
— Eu te adoro amiga, você é ótima, mas colocar esse nome
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na sua filha é demais! Imagina o assédio que a pobre criança


sofreria na escola?
— Ué, se a Gwyneth Paltrow pode ter uma filha chamada
Apple, por que não posso chamar a minha de Strawberry?
— Só porque ela á “A” Gwyneth Paltrow, e você é só a
Betsy Scott, sentiu a diferença? — argumentou Danna,
tentando segurar o riso.
— Perdeu o juízo, morena? Minha filha não vai ter nome
de fruta! — Trent se negou veemente.
— E você, meu anjo, já pensou em algum? — Danna
perguntou ao Grant.
— Na verdade, sim. Pensei em colocarmos o nome da sua
mãe na nossa filha — respondeu ele, sem hesitar.
— Que lindo da sua parte se lembrar dela! Eu e minha mãe
sempre fomos muito próximas, amei a ideia. Você é um amor,
obrigada — disse ela, dando-lhe um selinho, e então pensou
em algo que também o agradaria. — Nesse caso, também
podemos homenagear o seu pai, batizando nosso filho com
seu nome — sugeriu.
— Você vai fazer isso mesmo? Colocar o nome do meu pai
no bebê? — Grant se surpreendeu.
— Claro que sim, Grant! Por que a pergunta? Acha que ele
não gostaria de ter um neto com seu nome?
— Sim, tenho certeza que ficaria muito contente e
emocionado, eu só não pensei que você fosse fazer isso, mas

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fico contente por ter pensado nele.


— E qual era o nome dele? Isso você não me disse. — Ela
havia decidido sem nem mesmo saber qual era o nome do
sogro falecido. Na verdade, fosse qual fosse, já estava certa
do que queria, o importante era ver Grant feliz, como de fato
estava.
— Seu nome era Luke — contou ele, com o olhar um
pouco nostálgico devido à lembrança. — Minha mãe e meus
irmãos vão gostar muito de saber que vamos ter outro Luke
Collins na família.
— É um nome muito bonito. Minha mãe se chamava
Chloe. Bom, já decidimos como se chamarão os nossos filhos:
Luke e Chloe. E vocês, já conseguiram chegar a um acordo?
— perguntou Danna, desviando o olhar para os amigos e
vendo que os dois ainda estavam no meio de uma discussão.
— Estamos nisso. Desisti de Strawberry, mas eu gosto
de Pearl também, só que o Trent não curtiu muito a ideia —
Betsy contou desanimada.
— Minha filha não vai ter nome de objeto ou de fruta, eu
me recuso! — Trent retrucou emburrado, cruzando os braços
sobre o peito largo.
Ligeiramente impaciente, Betsy suspirou.
— Nossa, tudo entre vocês vira um drama! — Danna
comentou achando graça. — E qual nome você quer colocar
na sua filha, Trent?
— Eu gosto de Harper.
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— É diferente! Por que não juntar os dois? Ficaria Pearl


Harper — sugeriu Grant, sem conseguir conter o riso, com
Danna o acompanhando.
— Pelo amor de Deus! — Trent contestou exasperado. —
Ficou maluco, cara? Isso soa como Pearl Harbor, faz lembrar
a Segunda Guerra Mundial! Mui amigo você, Grant!
— Bom, vocês dois ainda têm tempo para chegarem a um
acordo. — Danna controlou o riso e resolveu apaziguar os
ânimos. — Acho melhor irmos andando, não sei se notaram,
mas somos a atração do momento — confidenciou, referindo-
se aos outros pacientes que aguardavam suas respectivas
consultas e que não tiravam os olhos de cima deles.
Quatro adultos em uma discussão animada sobre nomes de
bebês, de pé, no meio da sala de espera do consultório do
ginecologista de ambas as mulheres. Trent e Betsy relaxaram
e riram, trocando olhares cúmplices entre si. Logo, os quatro
saíam, caminhando em direção ao elevador.

Amy desceu as escadas apressada, pois estava atrasada.


Passou rapidamente pela cozinha e pegou uma maçã na
fruteira em cima da mesa. Dirigia-se à porta quando ouviu
chamarem seu nome. Virou-se e viu a mãe, de pé no topo da
escada ainda vestindo sua camisola.
— Amy, espera! Por que você não me chamou? Não quer
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que eu te leve? Só preciso de um minuto para me arrumar, ou,


se preferir, pode pegar o meu carro.
O automóvel da filha tinha dado um problema no freio e
foi levado para a oficina alguns dias antes.
— Eu falei para a senhora que não precisava se preocupar
com isso, conversei com a Brenda ontem e ela veio me pegar,
já está aí fora me esperando. Tenho que ir, estou em cima da
hora — falou, dando uma mordida na fruta.
— Está bem, se cuida. E não se esqueça de pegar o seu
carro na volta, ligaram ontem avisando que ficou pronto.
— Tá, pode deixar, eu não esqueço. Tchau, nos vemos
mais tarde — Amy se despediu e saiu.
Danna voltou para o quarto e deitou-se ao lado de Grant,
que ainda dormia. Como sempre fazia, perdeu alguns minutos
o observando no sono. Lembrou como a filha havia ficado
eufórica quando lhe contou que teria um irmãozinho e uma
irmãzinha, e sorriu ao se lembrar da cara que ela fez. Olhou
para o relógio em cima do criado-mudo e confirmou que
ainda era cedo. Resolveu que dormiria mais um pouco, mas
isso se os bebês deixassem, pois pareciam estar bastante
animados ali dentro. Sentia as paredes da barriga doloridas
devido aos chutes e movimentos que faziam quando estavam
despertos. Ela amava sentir cada um deles, apesar do
desconforto que provocavam. Deitou-se para o lado direito e
os sentiu se mexerem, virou para o lado esquerdo e mexeram
de novo, deitou-se de costas e sentiu falta de ar.

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— Ei, vocês aí dentro, dá para ajudar a mamãe um


pouquinho? Preciso muito dessas horinhas de descanso, meus
amores! — pediu falando baixinho, para não acordar o
homem deitado ao seu lado.
Resolveu que não seria possível dormir daquele jeito, então
pegou dois travesseiros, os encostou ao espelho da cama e se
recostou neles, ficando quase sentada. Enfim, encontrou uma
posição mais confortável, na qual podia tentar, ao menos,
cochilar. Pousou as mãos sobre a barriga e cerrou os olhos,
esperando poder pegar no sono novamente.

Ao chegarem ao colégio, Amy e Brenda entraram e


atravessavam o pátio, distraídas em uma conversa animada.
Pararam em frente aos seus armários, que ficavam um ao lado
do outro, e os abriram, tirando alguns livros dali de dentro e
os fechando em seguida. Amy estava pronta para se despedir
da amiga e se virar para pegar o corredor até sua sala quando
o viu, e era o rapaz mais bonito que já vira. Como não o
conhecia, deduziu que devia ser novo, transferido de outra
escola. Permaneceu ali parada por alguns instantes, o
observando da maneira mais discreta possível, porém, a
beleza crua do rapaz a atingiu de tal forma que sentiu o ar
faltar em seus pulmões. Começou a descrevê-lo mentalmente.
Deve ter um metro e oitenta de altura; pele clara e cabelos
castanhos; olhos azuis emoldurados por sobrancelhas largas
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da mesma cor dos cabelos. Não é uma beleza


comum, mas máscula e impactante ao mesmo tempo. Corpo
forte e musculoso. Com certeza pratica esportes ou frequenta
academia. Talvez os dois.
Cutucou a amiga com o cotovelo.
— Você sabe quem é ele? Nunca o vi no colégio antes —
perguntou, curiosa.
— Aquele? É o Aaron Zanetti, foi transferido há pouco
tempo. Ele é muito gato, né? As meninas ficaram todas
alvoroçadas quando que ele chegou.
— É muito bonito mesmo — concordou Amy, sem tirar os
olhos do aluno novo, que agora abria o próprio armário e
pegava um livro, o colocando debaixo do braço.
— Ele tem fama de encrenqueiro, dizem que vive metido
em problemas. Se não me engano, estava para ser expulso da
outra escola, por isso os pais pediram a transferência dele para
cá — Brenda confidenciou tapando a boca com a mão em
concha e falando bem perto do ouvido da amiga.
— Aaron Zanetti… Hum, interessante... — Amy repetiu o
nome com um sorrisinho travesso nos lábios.

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You’ve got to give her some faith,


Hold her tight, a little tenderness.
You’ve got to treat her right.
She will be there for you taking good care of you ...
You really gotta love your woman.
Have you really loves a woman? – Brian Adams

— Ah, Grant, me deixa, eu quero fazer amor com você! —


Danna reclamou contrariada.
Grant sorriu ao vê-la assim.
— Princesa, você está de mais de oito meses, já viu o
tamanho da sua barriga? Tenho medo de machucar os nossos
bebês — ponderou ele, a fitando com um sorriso e mantendo
a calma.

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— Não seja bobo, nós não vamos machucá-los! Esses


hormônios estão acabando comigo, me sinto tensa e
estressada! — Danna retrucou nervosa.
— Falta pouco para eles nascerem, então faremos amor até
você não aguentar mais, prometo! Enquanto isso não
acontece, podemos pensar em nos divertir de outras maneiras,
o que acha? Eu faço em você e depois você pode retribuir —
propôs Grant, começando a colocar a ideia em prática.
Danna sentiu a barba por fazer roçar a parte interna de suas
coxas, e um instante depois, a língua de Grant tocava o centro
do seu prazer.
— Hum, isso é tão bom... — gemeu sentindo os
movimentos da língua em seu sexo. Grant a ouviu e voltou a
sorrir, continuando a brincar com o clitóris da mulher.
Minutos após penetrá-la com dois dedos, Danna sentiu o
corpo se retesar e se quebrar em espasmos, chegando a um
orgasmo arrebatador.
Algum tempo se passou e Danna ficou mais relaxada,
então ambos voltaram a conversar.
— É, preciso terminar o quartinho deles — comentou ela.
— Danna, não se preocupe com isso, sim? Falta muito
pouco, estará pronto quando eles nascerem, eu prometo. A
Amy se encarregou de comprar algumas coisas que ficaram
faltando. Ela me garantiu que vai terminar a decoração.
— Nenhum dos dois me deixou fazer nada, nem ajudar ou
mesmo ver como está ficando — Danna voltou a reclamar.
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— Porque queremos te fazer uma surpresa, já conversamos


sobre isso, princesa.
— Se não tem outro jeito... Mas estou morrendo de
curiosidade.
— Eu sei disso, aguenta só mais um pouquinho e você
poderá vê-lo, está bem?
Ela olhou para ele e o ficou admirando. Fazia isso o tempo
todo e podia jurar que jamais se cansaria. Ah, como ele é
bonito!
— Está bem — respondeu ela, esticando a mão e tocando
seu rosto, porém, sua expressão mudou e ela sentiu a barriga
endurecer.
— Danna, o que foi? — indagou Grant, atônito ao vê-la se
contorcer.
— Dor, uma dor muito forte! — gemeu, e não demorou
muito, sentiu um líquido quente escorrer por entre as pernas.
Por um momento, pensou que sua bexiga tivesse soltado,
porém, logo sentiu a diferença. — A bolsa, acho que
estourou.
Grant se pôs de pé de imediato e não perdeu tempo em
avisar a todos, tinha chegado a hora do nascimento dos
gêmeos.
Betsy e Trent seguiram direto para o hospital. Amy, que
estava perto dali, na casa de uma amiga, também se pôs a
caminho. Grant avisou o médico durante o trajeto, e naquela
mesma noite, os gêmeos vieram ao mundo de parto normal.
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Luke Martin Collins nasceu com dois quilos e seiscentos


gramas, com uma boquinha rosada e os cabelos ralos,
levemente avermelhados, parecidos com os da mãe. Chloe
Martin Collins nasceu com dois quilos e duzentos gramas,
com os cabelos castanho-escuros e nariz e boca parecidos
com os do pai. Grant não pôde deixar de sorrir ao pegar o
menino no colo, enquanto Danna embalava a menina.
— Nossos pequeninos são tão lindos e perfeitos, Grant! —
Emocionada, ela sorria e chorava ao mesmo tempo.
— Sim, são mesmo — concordou ele. — O Luke se parece
com você — comentou sem deixar de admirar o rostinho do
filho.
— E a Chloe puxou a você — declarou Danna, fazendo o
mesmo que ele.
Grant sentiu uma sensação de paz invadindo seu peito.
Levantou-se da poltrona onde estava e colocou o bebê no
bercinho ao lado da cama.
— Fica com eles que vou avisar o pessoal que está lá fora
esperando — avisou ele, pronto para deixar o quarto.
— Jura que não demora? — Danna perguntou ansiosa, pois
o queria perto dela e dos filhos.
— Claro. Vou lá e em alguns minutos estarei de volta —
Grant prometeu, dando-lhe um beijo na testa.
Ao entrar na sala de espera, foi logo abordado por uma
Amy ansiosa.

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— E então? Como foi? — perguntou ela, torcendo as mãos


de nervoso.
Grant abriu um enorme sorriso.
— Foi tudo bem. Os dois nasceram de parto normal e são
saudáveis, graças a Deus! A Danna está muito bem de saúde
também — respondeu ele, com uma expressão de alívio e
cansaço no rosto.
— Agora você é pai, meus parabéns! — Trent o felicitou
sorridente.
— E daqui a algumas semanas será você! — Grant
comentou e sorriu.
— Nem me fale, não vejo a hora, mas me conta, como eles
são? — Trent pediu.
— O Luke é a cara da Danna, já a Chloe, diz ela, se parece
comigo, e eu acho que está certa — contou cheio de orgulho.
— Eu me apaixonei pelos dois assim que coloquei meus olhos
neles.
Grant contou com a voz embargada, sentindo a felicidade
de ter se tornado pai preencher seu coração.
— Quando vamos poder vê-los? — Betsy quis saber.
— Agora mesmo, se quiserem. Os três já estão no quarto, é
só virem comigo — anunciou ele, e assim fizeram, seguindo-
o pelo corredor.
Dois dias depois, Danna, Luke e Chloe tiveram alta. Os
três estavam saudáveis e Grant foi buscá-los, acompanhado
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por Amy. Ao chegarem em casa, os três subiram até o quarto.


Grant levou o filho nos braços, enquanto Danna carregava a
menina. Amy se encarregou de levar as maletas, uma com as
roupinhas dos bebês e a outra com os pertences da mãe.
Subiram e foram direto para o quartinho ao lado do deles, e
Grant fez um pequeno suspense antes de colocar a chave na
fechadura para finalmente o abrir.
— Meu Deus, que coisa mais linda! — Danna exclamou
impressionada. — Como vocês fizeram isso? Grant, como
comprou essas coisas?
— Lembra-se que te contei que o Jeff conseguiu um
trabalho e me chamou para ajudá-lo?
— Claro que me lembro, mas eu achei que você usaria o
dinheiro para outra coisa, meu anjo. Consertar a sua
caminhonete, por exemplo.
— O conserto da caminhonete ainda pode esperar mais um
pouco, mas o quarto dos nossos filhos, não.
— Ficou realmente lindo, querido! Amei, obrigada! E a
você também, Amy!
— Ei, não nos agradeça, nós dois fizemos com o maior
prazer e amor do mundo, e você sabe disso — disse a garota.
— É tudo tão lindo e perfeito que até me dá vontade de
chorar. — Danna se aproximou de um dos dois bercinhos e
colocou a filha ali dentro, enquanto via Grant fazer o mesmo
com o filho.
— Que bom que gostou do que fizemos, mãe, meus
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irmãozinhos merecem — Amy falou, tocando as cabecinhas


de cada um deles. — Bom, vou deixar vocês descansarem,
qualquer coisa, podem me chamar — ofereceu-se, saindo do
quarto e os deixando a sós.
Danna e Grant trocaram um sorriso.
— Já foram trocados e amamentados. Vamos deixá-los
dormindo — disse Grant.
— Está bem, vamos para o nosso quarto. A Amy tem
razão, precisamos descansar — disse Danna, porém, hesitou
em deixar os filhos sozinhos.
— Deixaremos a porta aberta, assim podemos ouvir
quando acordarem — Grant falou a fim de tranquilizá-la.
— Ok, tudo bem.
Ele a pegou pela mão e foram para o quarto deles, e pouco
depois se deitaram. Logo Grant estava dormindo, já Danna
levou mais tempo para pegar no sono.
Os bebês acordaram para mamar duas vezes durante a
noite. De manhã, Grant foi o primeiro a acordar. Sentou-se na
beirada na cama e girou o pescoço para olhar a mulher
adormecida. Tinha uma mecha de cabelo caída sobre o olho
esquerdo. Viu-a se remexer no sono. Danna não despertou e
ele decidiu deixá-la descansar mais um pouco. Levantou,
tentando fazer o mínimo de ruído possível, e andou até o
quarto dos bebês. Notou que o pequeno Luke estava
acordado, resmungando e mexendo as mãozinhas, que tinham
escapado da manta que o envolvia. Já a pequena Chloe ainda
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dormia, tranquila. Grant se inclinou e tirou o bebê com


cuidado do berço. Abriu a mantinha e, tocando a fralda com a
mão, viu que estava molhada. Colocou o bebê em cima do
trocador, do outro lado do quarto, e foi então que um dilema
se apresentou diante dele: acordar a mulher para que ela o
trocasse, ou ele mesmo poderia fazê-lo? Decidiu-se pela
segunda opção. Tinha ajudado a criar os irmãos menores e era
perfeitamente capaz de trocar a fralda do próprio filho. Pelo
menos, foi o que pensou. Após algumas tentativas frustradas,
sorriu satisfeito com o último resultado obtido. Sim, ele havia
conseguido trocar a fralda do filho pela primeira vez. Ficou
tão contente consigo mesmo que só faltou levantar os braços e
gritar vitória.
— Agora, filhote, o que você quer o papai não pode te dar.
— Sorriu para o bebê. — Não vai ter jeito, nós vamos ter que
acordar a mamãe — disse, pegando o pequeno pacotinho no
colo e indo com ele até o próprio quarto, o deitando sobre a
cama.
— Danna? — ele a chamou uma vez, e como se ela já
esperasse o seu chamado, abriu os olhos cheios de sono.
— Bom dia, meu anjo — respondeu ela, movendo-se de
maneira lânguida e sonolenta, mas despertando de vez quando
notou quem estava deitado ao seu lado.
— Nosso filho está com fome. Já troquei a fralda dele, mas
agora é com você — avisou Grant, intercalando olhares entre
ela e o bebê, sentando-se na beirada da cama.
Danna sorriu ao perceber quanto ele se sentia orgulhoso
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pelo feito. Começava a amamentar o filho quando ouviram


um chorinho vindo do outro quarto.
— Eu vou lá. Agora é a vez da nossa menina — Grant
disse ao se levantar, dando-lhe a piscadinha charmosa que só
ele sabia dar, e que sempre a derretia por dentro. Deixou o
quarto e foi atender a pequena Chloe.
— É isso mesmo, meu amor, este é o seu pai e podemos
dizer que ele é um superpai, certo? Nós dois vamos cuidar
muito bem de você e da sua irmãzinha — Danna conversou
com o bebê, que continuou mamando, alheio ao que se
passava ao seu redor.
Horas mais tarde, Grant foi até o quarto dos filhos e
encontrou a mulher com o pequeno Luke no colo. Parou e
ficou encostado no batente da porta por alguns minutos, só
observando a cena. Aos seus olhos, a mulher estava mais
linda do que nunca. Estava com o rosto inclinado, pois tinha
os olhos sobre o bebê, e este segurava seu dedo indicador
fazendo pequenos ruídos e chutando com as perninhas
enquanto ela conversava sorridente com ele.
Um amor incondicional e imensurável. Só agora sabia o
significado dessas palavras em uma única frase, pois era o que
levava dentro do peito e sentia o coração transbordar com
esse sentimento. Detestou ter que interrompê-la, mas
precisava fazê-lo.
— Danna, estou saindo para pegar a minha mãe no
aeroporto. A Amy acabou de chegar, vai te ajudar no que
precisar, tudo bem? — Grant avisou com a chave da pick-up
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em mãos e pronto para sair.


— Sua mãe veio! — comentou Danna, em um tom de voz
baixo, como se não acreditasse. — Mesmo dizendo que
ela não precisava fazer essa viagem toda só para nos ajudar
com os bebês...
Assim que soube do nascimento dos netos, a mãe de Grant
fez questão de viajar até a Califórnia para dar uma mão. Pelo
menos nas primeiras semanas, ou até eles conseguirem uma
babá de confiança, apesar de que, ainda não tinham decidido
se contratariam uma.
— Quando contei que eles tinham nascido, ela
simplesmente surtou e decidiu que tinha que vir para cá. Só
posso te dizer que quando aquela lá decide alguma coisa, não
há quem a faça mudar de ideia.
— Mas isso é ótimo, amor, vamos precisar de toda ajuda
possível, principalmente nessas primeiras semanas, até nos
adaptarmos aos horários dos bebês e entrarmos em uma
rotina.
— Concordo com você. Bem, estou indo, mas não devo
demorar — falou ele, se despedindo com um selinho.
Ao retornarem, depois de cumprimentá-la, a mãe de Grant
foi direto conhecer os netos.
— Ah, meu Deus, Grant! Eles são lindos! Seu pai ficaria
tão feliz e orgulhoso de você! Do mesmo jeito que estou
agora. — Em seguida, dirigiu-se à nora. — Meu filho me
contou que você decidiu chamá-lo de Luke em homenagem
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ao avô. Eu queria te agradecer, não imagina como isso é


significativo para nós. O meu Luke era um homem de honra,
uma pessoa formidável.
— Eu imagino, senhora Collins.
— Pode me chamar de Eva, querida, lembra-se? —
articulou carinhosa. — Nós nos conhecíamos desde a época
do colégio, e apesar de todas as dificuldades, sempre fomos
uma família muito unida e amorosa. Foi muito difícil para
todos nós quando ele nos deixou — a mulher falou e voltou a
olhar para o bebê. — Ele ficaria emocionado em saber que
deram o seu nome para o primeiro neto — concluiu a senhora,
sorrindo entre lágrimas.
— Ela sempre fica emotiva quando fala dele — Grant
comentou ao ver a mãe se afastar, sentando-se na poltrona ao
lado da janela com o pequeno Luke no colo.
— Eu entendo — disse Danna, tocando seu queixo. —
Você também sente muita falta dele, não é?
— Sim, acho que isso nunca vai passar. Você sabe como é,
porque também perdeu os seus pais. Esse buraco que se abre
no coração não tem como preencher, eu o amava, éramos
muito próximos. Um dos motivos de eu me tornar policial foi
ele, queria que se orgulhasse de mim. A falta que sinto do
meu pai sempre vai existir, mas não vamos falar mais disso, o
momento é de alegria, não de tristeza — pediu respirando
fundo, pois começava a se emocionar.
Nas semanas seguintes, todos se mobilizaram para cuidar

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dos gêmeos, e não demorou muito para se adaptarem. Nesse


período, Betsy e Trent receberam felizes a pequena Grace,
que nasceu de parto normal, com três quilos e oitocentos
gramas e muito saudável. Todos concordaram que ela era a
miniatura do pai. Trent não cabia em si de tão orgulhoso que
ficou ao ouvir isso. Papai urso estava todo babão com a
filhinha nos braços.

Para a decepção de alguns e a tristeza de todos, após


permanecer durante vários meses em coma, Caleb, por fim,
despertou. O fato de quase ter morrido não o mudou em nada,
não que alguém chegasse a pensar que uma coisa dessas
pudesse acontecer. Sua fúria aumentou muito ao tomar
conhecimento de que a ex-mulher tinha dado à luz filhos
gêmeos do ex-policial, e devido a isso, estavam mais felizes
do que nunca. Sabendo disso, Caleb fez uma promessa: nem
que fosse a última coisa que faria em sua vida, encontraria
uma maneira de acabar com toda aquela felicidade.
Esse faz-tudo conseguiu me tirar até o amor da minha
filha. Soube que ela não ligou uma única vez para saber
como eu estava. Se eu não sou feliz, esse cretino também não
será. O miserável vai ter que pagar, e não vou aceitar menos
do que sua vida como pagamento, decretou raivoso, os olhos
fixos em um ponto inexistente na parede da cela onde estava.
O acordo que havia pensado em fazer, antes de tudo
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acontecer, acabou não se realizando, pois tinha que ter dado


um adiantamento para o idiota que faria o serviço. Era para
ter sido feito antes que o cara obtivesse a liberdade, mas
Caleb acabou ferido e entrando em coma. Diante disso, não
havia outra opção, além de torcer. Talvez o ex-detento
entrasse em contato para receber o dinheiro que ele estava
disposto a pagar. E, se fosse o caso, até aumentaria o valor.
O Falcão está de volta, e ninguém vai me impedir de
prosseguir com os meus planos de vingança!

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“Oh! Touch my tears with your lips


Touch my world with your fingertips
And we can have forever
And we can love forever
Forever is our today”
Who wants to live forever? – Queen

Dias depois.
— O Trent me enviou uma mensagem pedindo para eu ir
me encontrar com ele em um café perto do centro de
Manhattan — disse Grant, inclinando-se para beijá-la nos
lábios e fazer um carinho no pequeno Luke, que havia
acabado de mamar e dormia tranquilo no colo da mãe.
Foi até o berço onde a filha permanecia acordada, mas
quietinha e serena. Aproximou-se e depositou um beijo suave
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em sua cabecinha, aspirando o cheiro gostoso de neném.


— Você sabe do que se trata? — Danna perguntou
seguindo-o com o olhar, sem ocultar a curiosidade. Talvez
tenha a ver com algum trabalho, pensou.
Grant estava se dedicando a obter um emprego que
pudesse dar à família uma maior estabilidade financeira,
porém, até aquele momento, não havia surgido nada. Ele
ainda não tinha se decidido sobre a oferta que recebeu para
voltar a trabalhar como policial em San Diego. Tinha
verificado a possibilidade de obter uma transferência para um
dos distritos de Nova York, mas ainda seguia aguardando
uma vaga.
— Ele não me adiantou nada, mas vou até lá e fico
sabendo sobre o que quer tanto falar comigo, porque foi bem
insistente nas mensagens que me enviou. Nós nos vemos mais
tarde. Se cuidem.
— Não se preocupe, meu anjo, ficaremos bem. A Amy está
no colégio, mas a sua mãe ainda está aqui e com ela eu tenho
toda a ajuda que preciso, não que eu dispense a sua, é claro —
falou ela, olhando com carinho para ele.
— A Amy tem passado mais tempo no colégio por esses
dias ou é impressão minha?
— Parece que sim, tem tido algumas atividades
extracurriculares e anda com um brilho nos olhos que não
tinha antes.
— O quê? Você está achando que ela possa estar...
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— Interessada em alguém? Acho que é possível. Andei a


ouvindo citar o nome Aaron algumas vezes enquanto
conversava com a Brenda pelo celular. Conheço a minha
filha, tem alguém ocupando a sua mente, só que não
comentou nada comigo ainda, acredito que o fará assim que
se sentir pronta.
— Está bem, mas é sempre bom ficar de olho, Danna!
Melhor saber com quem a Amy está se relacionando.
— Hum, você se importa com o que acontece com ela?
— É claro que me importo, nós sempre nos demos bem.
Antes de tudo, somos amigos, eu estaria mentindo se dissesse
que não me preocupo.
— Você é demais, querido! É por essas e outras que eu te
amo tanto, nunca se esqueça disso.
— Sabe que dou a minha vida por vocês, não sabe? Eu te
amo, minha sardentinha linda. — Sorriu para ela. — Agora,
preciso ir. Vou procurar não demorar muito, tenho os maiores
e melhores motivos do mundo para voltar o mais rápido
possível para casa — disse abobado, partindo logo em
seguida.

Grant estacionou em um lado da avenida. O combinado era


se encontrar com Trent em um café perto dali. Olhou para os
dois lados e atravessou. Continuou andando até chegar ao
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endereço indicado, quando viu, com certa estranheza, que não


havia nenhum café ali. Analisando melhor o lugar, duvidou
que Trent o chamasse para encontrá-lo em um local tão ermo
quanto aquele. Sentiu um arrepio na nuca, como se estivesse
sendo observado. Tirou o celular do bolso e chamou o amigo,
mas só dava sinal de ocupado, então resolveu ligar em seu
escritório.
— Trent? Tudo bem? Estou aqui em Manhattan, no local
onde disse que me encontraria. O que houve? Por que não
veio?
Ao ouvir isso, Trent se levantou de supetão da cadeira, em
estado de alerta.
— Grant? — perguntou confuso. — Do que você está
falando? Nós não marcamos nada!
— Como assim, nada? Recebi várias mensagens suas e
combinamos de nos encontrar aqui, no centro — respondeu
Grant, sem realmente entender o que estava acontecendo, no
entanto, seu instinto de policial começava a fazê-lo pensar nas
possibilidades.
— Não, não! — Trent negou veemente. — Eu não te
mandei nenhuma mensagem, posso te garantir que não fui eu.
Espere um segundo — pediu, procurando pelo celular nos
bolsos da calça e do paletó, porém, não o encontrou. Nesse
momento, veio à sua mente o esbarrão que sofreu a caminho
do restaurante na hora do almoço. — Parece que roubaram o
meu celular, só me dei conta agora, pois logo que voltei do
almoço fui direto para a sala de reuniões, e não faz nem dez
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minutos que retornei para a minha sala. Melhor você sair daí,
já! — exclamou nervoso.
— Está pensando o mesmo que eu? — indagou Grant,
começando a caminhar e prestando atenção em cada
movimento suspeito.
— Que roubaram o meu celular para armarem contra você
e te fazer cair em uma emboscada? Sim. Sai logo daí! Rápido!
— Ok, estou saindo daqui agora!
Grant desligou o celular e o colocou de volta no bolso da
calça, olhou para os lados e não notou nada estranho.
Continuou andado, com passadas cada vez mais rápidas, até
alcançar o local onde havia deixado a pick-up. Pôs a mão na
maçaneta e enfiou a chave na fechadura da porta dando mais
uma olhada para os lados, desconfiado. De repente, sentiu
uma queimação do lado direito da cabeça. Um pensamento
cruzou sua mente e um verdadeiro terror o tomou. Levou a
mão até a têmpora e ficou horrorizado quando a viu coberta
de sangue. Agachou-se em um movimento instintivo,
tentando se proteger. Ouviu um segundo tiro, que atingiu a
janela da caminhonete, bem acima de onde estava encostado.
Levantou os olhos e notou o buraco no vidro. Tudo estava
acontecendo muito rápido, levou apenas um segundo para
entender o que se passava.
— Meus Deus! Alguém está tentando me matar! —
exclamou ele, o pensamento na mulher e nos filhos.
Quase um minuto depois, ouviu um terceiro estampido.

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Sentiu algo entrando e rasgando sua perna. A forte dor o fez


se dar conta de que fora atingido de novo. Decidiu que
precisava fazer algo, e rápido, pois ficar ali parado só o
tornava um alvo fácil para o atirador.
Lembrou-se que sua arma pessoal estava sob o banco do
carro, porém, não a poderia usar, uma vez que não tinha uma
visão da pessoa que estava atirando contra ele. Levantou o
braço, ainda encostado na porta, e a abriu, se arrastando para
dentro. Conseguiu se sentar no banco do motorista e, ainda
abaixado, colocou o veículo em movimento, saindo dali o
mais rápido que pôde. No caminho, olhou várias vezes pelo
espelho retrovisor e viu que não estava sendo seguido. Tirou o
celular do bolso, apertou o botão de discagem e logo ouviu a
voz preocupada do amigo.
— Grant?
— Alô, Trent?
— Até que enfim! — exclamou o advogado, visivelmente
aliviado. — O que houve?
— Tinha razão, era mesmo uma emboscada. Fui atacado e
atingido de raspão na cabeça, mas conseguir escapar. O
problema é que tomei um tiro na perna também — contou
Grant, trincando os dentes devido à dor que sentia.
— Onde você está agora?
— Entrando na William Street e indo em direção ao
Hospital Presbiteriano. É o mais próximo de onde estou.
— Tem certeza de que consegue chegar ao hospital? Não
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está perdendo muito sangue?


— Rasguei minha camisa e amarrei uma tira na perna,
dando um nó bem forte logo acima do ferimento. Acho que
deu certo, não estou vendo sair muito sangue, só que estou
sentindo uma dor dos infernos!
— Entendi, mas se você sentir que não vai conseguir
chegar, para no acostamento, eu te acho — instruiu Trent,
puxando o paletó do encosto da cadeira. — Tenho que
desligar agora. Estou saindo. Aguenta firme, cara!
— Estou aguentando — Grant respondeu. — Estou
aguentado — repetiu para si mesmo.

Danna deixou o elevador extremamente agitada. Havia


sido informada que ele estava em um dos quartos daquele
andar. Caminhou apressada, varrendo o lugar com os olhos à
procura do número certo.
É claro que o quarto dele tinha que ser o último!,
praguejou consigo mesma, cada vez mais aflita, ao chegar no
fim do corredor.
Apareceu na porta e o viu deitado em uma das duas camas,
com um oficial da polícia de pé ao seu lado. O policial
anotava o que ele falava em um caderninho que tinha
em mãos. Grant notou sua presença e desviou o olhar para ela,
e logo o policial se despediu, garantindo que fariam o possível
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para descobrir quem havia tentado matá-lo, e então saiu do


quarto, os deixando a sós. A expressão agoniada de Danna se
transformou em alívio, com lágrimas lhe escorrendo pelo
rosto.
— Estou bem, não precisa ficar assim, princesa! — Grant
se apressou em dizer, assegurando que não havia acontecido
nada de grave com ele.
Danna levou o olhar para o curativo em sua têmpora e
depois desceu para a faixa larga que envolvia parte de sua
perna. Não falou nada, apenas se aproximou da cama e se
jogou, chorando, em seus braços. Grant a recebeu e a embalou
em seu peito. Fez isso por alguns minutos, até ela se afastar e
secar as lágrimas com as costas das mãos.
— Você não imagina as imagens que se formaram na
minha cabeça quando o Trent me ligou avisando que você
tinha se envolvido em um tiroteio, e pior, que tinha sido
atingido. Por mais que ele me dissesse que estava tudo bem,
não acreditei, tive que vir correndo para cá — Danna falava
segurando seu rosto com ambas as mãos. — Por Deus, Grant!
O que foi que aconteceu?
— Depois eu te conto tudo em detalhes — ele disse e ela
concordou com um gesto de cabeça. — Agora me deixe só
ficar assim, abraçado a você — pediu, envolvendo-a mais
uma vez em seus braços, sentindo-se um homem de sorte por
ter sobrevivido e poder voltar para os seres que mais amava
no mundo.
Como os ferimentos foram superficiais, Grant foi
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autorizado a deixar o hospital no dia seguinte, passando


somente uma noite em observação. O tiro na perna, apesar de
ter atingido a lateral da coxa, apenas atravessou o músculo,
não afetando nenhuma artéria importante, e por isso o
sangramento não foi abundante. Danna não insistiu em saber
o que tinha acontecido, achou melhor conversarem sobre o
assunto quando estivessem em casa.
Trent entrou em contato com o pessoal da promotoria
avisando sobre o atentado contra o amigo. Naturalmente,
todos chegaram à mesma conclusão: tinha sido obra de Caleb!
Quem mais teria interesse em vê-lo morto? Só podiam pensar
nele. Com os recursos que possuía, mesmo estando na cadeia,
o mais provável é que tivesse contratado alguém para fazer o
serviço sujo por ele.
— Passei todas as informações para o pessoal da
promotoria e estou em contato com o responsável pela
investigação local. Disseram que irão falar com os agentes
do FBI, devem começar uma investigação. Se tiver mesmo o
dedo do Caleb nesse tiroteio, vão descobrir e
acrescentar tentativa de homicídio às acusações que já pesam
contra ele.
— Não tenho a menor dúvida de que esse homem está por
trás desse atentado contra a minha vida!
— O que você pretende fazer?
— Não sei, juro que não sei. Tenho que pensar na Danna e
nos meus filhos. Se ele teve esse alcance, de mandar alguém
até aqui, acredito que estamos correndo risco, podem nos
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atingir a qualquer momento. Preciso protegê-los, mas,


sinceramente, não sei como, eu me sinto impotente — Grant
respondeu cabisbaixo, os ombros caídos.
— Vamos encontrar um jeito, não desanime! — Garantiu
Trent, tocando no ombro do amigo. — De agora em diante,
terá que tomar cuidado, se precaver, e ficar mais alerta do que
nunca. Ele não vai conseguir o que pretende. Não vai mesmo!
— Rezo por isso. Até agora tive sorte, meu maior receio é
que aconteça algo com a Danna e as crianças.
— Eu te entendo, mas não creio que ele tenha interesse em
fazer algo contra eles, o problema dele é com você. Se antes
era uma questão de negócios, depois do seu envolvimento
com a ex-mulher, a coisa se tornou pessoal. Vamos ficar
atentos, é melhor evitar sair sozinho por um tempo —
aconselhou. — Preciso ir, a Betsy e a Grace estão me
esperando. Só falei com ela pelo telefone, pois fui direto para
o hospital.
— Sim, vai, papai urso — Disse Grant, com a sombra de
um sorriso.
— Não basta a Betsy, agora você também?
— Ah, mas é a sua cara ser chamado assim. A Betsy foi
muito feliz quando te colocou esse apelido.
— Ok, deixa para lá — Trent aceitou resignado. — Quanto
mais eu reclamo, mais o apelido pega.
Danna desceu as escadas e chegou à sala.

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— Já está de saída, Trent? — questionou ao encontrá-lo de


pé, se preparando para sair.
— Estou, minhas mulheres estão me aguardando em casa
— confirmou.
— Diz para a Betsy que depois eu ligo para ela. — Danna
se despediu dele com um beijo no rosto.
— Pode deixar, seu recado será dado. Bom, até mais,
vamos nos falando, cara.
Após o amigo deixar a casa, Grant permaneceu sentado,
passando as mãos pelos cabelos, respirando fundo e tentando
se manter calmo. Notando sua expressão preocupada e seu
olhar perdido, Danna se aproximou.
— Vamos ficar bem, meu anjo. Não vai acontecer nada
conosco.
— Você nos ouviu? — indagou ele, levantando a cabeça e
olhando para ela.
— Só uma parte, enquanto eu descia as escadas. Eu estava
cuidando dos nossos filhos.
— E como eles estão?
— Por que não vem comigo e vê por si mesmo? —
perguntou estendendo-lhe a mão.
— Claro, é o que mais quero. Nada no mundo é mais
importante para mim do que estar aqui com vocês três —
declarou, aceitando sua mão e a acompanhando até o andar de
cima.
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Os dias seguintes foram tensos, a rotina da família mudou.


Todos ficaram chocados e apreensivos com o ocorrido. Grant
se recuperou dos ferimentos físicos, contudo, sua mente
trabalhava sem parar. Tentava evitar, porém, proteger a
família se tornou quase uma obsessão para ele. Seu único e
maior objetivo era mantê-los são e salvos, e para isso
permanecia o tempo todo do lado deles. Agora, sua arma
estava sempre à mão, embora Danna não gostasse nada da
ideia, entretanto, ela sabia que ele se sentia mais seguro
portando-a. Grant tomava o maior cuidado para não expô-la o
tempo todo.
Durante o período que antecedeu o julgamento de Caleb,
uma viatura passou a rondar o bairro onde moravam. Isso
amenizava um pouco a sensação de insegurança, mas Grant
sentia tanta raiva que sua vontade era matar o maldito com as
próprias mãos.
Nesse meio tempo, receberam uma boa notícia, finalmente
o divórcio havia sido concluído, com a sentença a favor de
Danna. Ela ficou aliviada, pois não teria mais nada que a
ligasse àquele homem. Aos poucos, as coisas foram voltando
ao normal.
Através da informação de outro detento e após uma
investigação interna, comprovaram o envolvimento de Caleb
e de um detento recém-libertado no atentado contra Grant.
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Após uma caçada, prenderam o atirador. Este concordou em


testemunhar contra seu mandante em troca de uma redução de
pena.
Caleb passou a ter os seus movimentos ainda mais
restringidos e monitorados dentro da prisão, o que foi um
alívio para todos. Dificilmente conseguiria contratar serviços
externos novamente. O processo continuou e seu julgamento,
que já havia sido marcado, teve início.
No décimo dia, Danna, Grant e Amy compareceram ao
tribunal em San Diego, pois era o dia em que sairia o
veredicto, entretanto, antes disso, algo inesperado aconteceu.
Ao ver a ex-mulher e a filha sentadas ao lado do homem que
havia ajudado a acabar com sua vida, e em sua mente
distorcida, roubado sua família, Caleb perdeu o controle,
levantou-se e começou a gritar de onde estava, para que todos
pudessem ouvir. Dizia que ela não só tinha pleno
conhecimento do que acontecia em seus negócios, como
estava envolvida em toda a operação. Seus olhares se
encontraram e Danna pôde ver o profundo ódio que o homem
sentia, dando-se conta de que aquela era a maneira que o ex-
marido havia encontrado para se vingar dela, acusando-a
diante de todos e colocando-a no mesmo nível que ele.
Caleb foi contido pelo advogado e um segurança se
aproximou. Ao vê-lo, Caleb se acalmou e voltou a se
acomodar na cadeira, porém, não deixou de se voltar em
direção à ex-esposa, sempre com um olhar frio e um sorriso
maligno nos lábios.

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Danna estremeceu diante daquela visão.


— Tudo o que esse desgraçado diz é uma tremenda
mentira, ele está inventando! Meu Deus, como ele pode ser
tão sórdido e perverso? — indagou angustiada.
— Fica calma, mãe. Sabemos que o que ele disse não é
verdade.
Ouviu a filha, porém, estranhou o silêncio e a expressão
contida no rosto de Grant. Será que ele está levando essas
acusações absurdas em consideração?
Ela não teve tempo de concluir seus pensamentos, pois,
nesse momento, o juiz chamou a atenção de todos, estava a
ponto de anunciar o veredicto. Como esperado, o monstro foi
condenado e passaria muitos anos sem ver a luz do dia.

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“I’m sorry that I hurt you


it’s something I must live with every day
And all the pain I put you through
I wish that I could take it all away
and be the one who catches all your tears
that’s why I need you to hear
I’ve found a reason for me
to change who I used to be
a reason to start over new
and the reason is you”
Reason – Hoobastank

Após o término do julgamento, Amy, Danna e Grant


levantaram dos seus lugares e começaram a andar em
direção à saída. Caminharam um ao lado do outro com os
semblantes fechados, imersos em seus próprios pensamentos.

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Danna não fez comentários sobre o fato de o ex-marido ter


sido condenado e nem sobre o que ele havia dito, tanto por
respeito a si mesma como também pela filha. Sentia-se
abalada e atônita, porém, naquele momento, sua mente estava
ocupada. Tudo o que ela desejava era saber o que se passava
na cabeça do homem que amava, e uma agonia profunda ao
imaginá-lo duvidando de seu caráter a massacrava por dentro.
Ao saírem pelas portas largas, aguardaram em frente ao
prédio. Não demorou e viram Trent se aproximando. Tinha se
adiantado para pegar o carro no estacionamento. Entraram no
veículo e puseram-se a caminho da casa de Eva. Era hora da
vovó coruja retornar para casa, e o fez com eles, aproveitando
para ajudá-los na primeira viagem de avião dos gêmeos.
Embora fossem pequenos, tiveram que trazê-los. Não tinham
com quem deixá-los e, além disso, os irmãos mais novos de
Grant não viam a hora de conhecer os sobrinhos.
Com Caleb julgado e condenado, Grant passou a acreditar
que suas vidas, enfim, voltariam à normalidade, e agora
poderia se concentrar em coisas mais urgentes. Quando ouviu
o veredicto, sentiu-se justiçado. Tudo pelo qual lutara
culminou em uma só palavra: culpado. Haveria outra
audiência onde seria anunciada a sentença, contudo, já
podiam prever que esta seria de no mínimo vinte e cinco anos,
isso se Caleb não pegasse prisão perpétua pela tentativa de
homicídio contra ele. Sentiu um enorme alívio no instante em
que ouviu a palavra que condenava o Falcão, ao mesmo
tempo em que se libertava de toda sua revolta e
ressentimentos. Desse dia em diante, poderia, e iria, deixar
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essa parte de sua vida definitivamente para trás. Esquecer era


tudo o que desejava, ainda assim, não se sentia preparado para
falar do assunto em voz alta. Conversaria com Trent sobre as
implicações daquelas declarações, se poderiam ou não
submeter Danna a uma eventual investigação. Ouviu sua voz
suave e um pouco hesitante o puxando de volta para o
presente.
— Grant, está tudo bem? — perguntou ela, um pouco
insegura diante da expressão grave que ele trazia no rosto.
— Sim, está tudo certo — o homem respondeu, no entanto,
permaneceu enigmático, não lhe dando uma pista do que se
passava em seus pensamentos. — Agora está tudo bem —
repetiu.
— É que você está tão calado... — insistiu, tentando
manter um diálogo.
— Só estou um pouco distraído, princesa. Processando as
coisas que acabei de ver e ouvir. Nada mais — garantiu
Grant, nem um pouco convincente.
— Grant, você não está acreditando que eu... — Engoliu
em seco, sem a mínima condição de prosseguir, era dolorosa
demais a ideia de que ele pudesse estar considerando aquela
possibilidade.
— Não quero falar sobre isso agora — ele a cortou,
tomando a mão dela na sua. — Outra hora, pode ser?
— Claro — concordou magoada, voltando o olhar para
além da janela do carro, sem entender o motivo de Grant se
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recusar a tocar no assunto com ela. Não sabia o que pensar.


Trent compareceu ao julgamento por questão de honra,
pois nunca aceitou o fato de ter perdido o caso do Grant por
culpa daquele sujeito e suas armações torpes. Na noite
anterior, despediu-se da mulher e da filha com o coração
apertado, mas não havia outro jeito, precisava deixá-las. A
viagem seria rápida para ele, que pretendia voltar na manhã
do dia seguinte.
Grace... Sorriu ao se lembrar da pequena e de como ele e
sua morena haviam chegado a um consenso. Na verdade,
permaneceram discutindo por um bom tempo, e para saírem
do impasse, optaram por um nome neutro, que não tivesse
sido pensado antes por nenhum deles. Então procuraram
dentro da família de cada um. Tias, avós, parentes distantes.
Acabaram por encontrar o nome Grace e o puseram em
homenagem às suas avós maternas, que, por coincidência,
possuíam o mesmo. Ficaram encantados e o acharam lindo, e
o fato era que o nome combinava com a sua garotinha.
Ao chegarem, Trent seguiu pela entrada de carros e
estacionou em frente à garagem. Desciam do veículo quando
viram Eva sair pela porta de entrada da casa e ir em direção a
eles.
— Ah! Que bom! Vocês chegaram. Vamos entrando —
convidou animada. — Grant, o Connor está em casa.
Dá última vez que você esteve aqui ele ficou chateado por não
ter conseguido te ver.
— Será muito bom revê-lo, mãe — disse Grant, se
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inclinando e dando um abraço carinhoso nela.


Amy também tinha estado calada durante todo o trajeto.
Eva percebeu que a garota estava um pouco triste e a
envolveu pelos ombros.
— Sei que não está sendo fácil para você, querida, mas vai
passar, vai passar.
— Eu sei que vou melhorar com o tempo, o que me
consola é que ele fez por merecer, mas sinto pena das pessoas
que meu pai machucou, e ainda machuca, com tanta maldade.
Dizendo isso, levou o olhar para a mãe, que entrava na
casa acompanhada por Grant.
Amy sabia que a mãe tinha ficado muito abalada e sentia-
se mal por ela, que não merecia que um homem rancoroso a
acusasse daquela maneira de algo tão horrível. Ficou
revoltada com esse comportamento e percebeu que, por
dentro, começava a nascer o desejo de que ele não fosse seu
pai, o que, de fato, não era. Talvez fosse a hora de procurar
pelo seu verdadeiro, pois vinha mesmo sentindo o desejo de
saber mais sobre suas origens, embora não tivesse a menor
ideia de por onde começar a investigar. Assim que possível,
conversaria a respeito com a mãe.

Todos entraram na casa e se acomodaram na sala. Danna


foi direto para o quarto onde os pequenos Luke e Chloe
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estavam. Grant conversava com o irmão Connor, que há


tempos não via, e Amy foi apresentada por Eva ao restante da
família. Ficou um pouco tímida no começo, mas como não
era de sua natureza permanecer muito tempo quieta, não
demorou a interagir com Travis e Emma.
Após o jantar, Danna e Grant foram para o quarto
preparado especialmente para eles pela anfitriã. Emma e a
Amy fizeram questão de que os gêmeos passassem a noite
com elas, e apesar do aperto no peito, Danna concordou, e os
dois dormiram tranquilos em bercinhos portáteis ao lado da
cama das meninas.
Danna se dirigiu ao banheiro, tomou um banho e escovou
os dentes antes de se deitar, com Grant fazendo o mesmo logo
em seguida. Ela vestiu uma camisola preta curta com rendas
na barra e no decote. Meia hora depois, o viu entrar no quarto.
Tinha posto uma camiseta e a calça do seu pijama favorito.
Minutos após se deitarem, ela não aguentou mais, estava
angustiada e ansiosa, sentia que não conseguiria relaxar para
dormir caso não conversasse e tirasse todas as dúvidas que a
tinham estado consumindo. Sentou-se na cama e virou-se para
ele.
— Grant, precisamos conversar! Não posso mais esperar,
fico imaginado coisas por não saber o que você está
pensando. Morro por dentro só de imaginar na possibilidade
de você desconfiar de mim e acreditar nas barbaridades que
aquele bandido disse.
Grant sentou-se também e os dois ficaram frente a frente.
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— Você sabe pelo que passei, sabe da maneira como fui


traído. Depois do que me aconteceu, foi muito difícil confiar
em alguém de novo. Apesar de todos os meus receios, eu me
entreguei a você, de corpo, alma e coração. Danna, qualquer
um poderia se perguntar se você não sabia mesmo de nada,
pois viveu dezesseis anos ao lado daquele homem.
— Eu te garanto que é mentira, Grant! Eu nunca soube o
que ele fazia. Não pense, nem por um segundo, que eu seria
capaz de fazer parte de algo tão vil e perverso. Eu nunca
mentiria para você, meu anjo! Eu te amo! — declarou tocando
sua face. Ele cobriu sua mão com a dele, mantendo o
contato. Ela precisava, para que seu coração se aquietasse,
que ele lhe dissesse que acreditava e confiava nela.
— Eu não quis duvidar, eu juro que não, mas as acusações
dele me pegaram de surpresa e confesso que estou um pouco
confuso. Não sei o que pensar.
— Isso quer dizer que você desconfia de mim, Grant? Por
acaso não me conhece o suficiente para saber que eu jamais
seria conivente com uma atrocidade daquelas? — perguntou
tão angustiada que sentia lágrimas chegarem aos olhos.
— Danna, por favor, não fique assim, só estou confuso.
— Pois não deveria estar. Eu não me separei do Caleb e
deixei a vida que eu levava por nada. Se eu fosse uma pessoa
capaz de ser conivente com uma pessoa tão horrível como ele,
não teria deixado tudo para trás. Eu não seu perfeita, longe
disso, mas tenho minhas convicções e meus valores. Você
desconfiar de mim me magoa muito, Grant.
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Danna tentou evitar, mas não conseguiu conter as lágrimas


de frustração que começavam a escorrer por seu rosto.
Levantou-se, pegou o travesseiro e um lençol.
— O que você está fazendo? Danna, deixa eu te explicar!
— Agora eu não quero ouvir explicação nenhuma, Grant.
Estou decepcionada com você. Preciso ficar sozinha.
— E aonde você vai com isso? Volte para a cama, vamos
conversar!
— Grant, você, mais do que ninguém, não deveria pensar
isso de mim. Eu confiei e acreditei em você desde o início, e
achei que faria o mesmo, mas vejo que me enganei. Um
relacionamento não sobrevive à base de desconfiança, sinto
muito, mas não consigo conviver com isso, muito menos
partindo do homem que eu amo.
— Danna... O que você pretende fazer? — indagou ele,
vendo que a mulher se dirigia à porta.
— Essa noite eu vou dormir no quarto das meninas,
amanhã voltaremos para Nova York — respondeu ela,
visivelmente consternada.
— Claro, podemos preparar tudo e voltar, como você
quiser — Grant se apressou em concordar, ansioso. — Está
tudo bem?
Ela o olhou séria. Não, não estava tudo bem.
— Eu vou voltar para Nova York com os meus filhos,
Grant, você pode ficar e passar um tempo com a sua família.

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— Danna, o que está querendo dizer com “pode ficar”?


Você e os nossos filhos são a minha família agora. É claro
que eu vou com vocês! — Grant exclamou atordoado. Ela o
estava deixando? Era isso mesmo? Começou a tremer, de
medo e de nervoso, diante da possibilidade.
— Depois do que você acabou de me dizer, acho que
precisamos de um tempo. Você para sair dessa confusão que
diz sentir, tem que decidir se confia em mim ou não, e eu
também preciso de um tempo sozinha. As coisas entre nós
aconteceram muito rápido, e foi tudo muito intenso, por isso
eu acho que... — Danna hesitou por um instante, pois o bolo
que tinha se formado em sua garganta quase a impedia de
falar. — Ficar longe um do outro é o melhor para nós dois
nesse momento — completou.
— Danna, pelo amor de Deus, não faz isso, me deixa
explicar, por favor! — pediu ele, agoniado.
Danna o fitou, mas não respondeu, estava ferida, magoada
e determinada a fazer o que tinha acabado de dizer. Apertou o
que pegou junto ao peito como se fosse um escudo. Grant a
acompanhou com o olhar até vê-la deixar o quarto, sentindo-
se impotente diante da decisão que ela tinha acabado de
tomar.
— Que merda! Dessa vez vacilei feio. Eu não deveria ter
desconfiado dela. Como eu fui capaz de decepcioná-la dessa
maneira? Droga! Mil vezes droga! E agora, o que eu faço? —
perguntou-se, virando-se na cama e socando o travesseiro,
sentindo raiva de si mesmo.
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Danna passou o dia seguinte evitando qualquer contato


com Grant, ainda não tinha conseguido digerir o fato de ele
não confiar nela. Ele, por sua vez, sempre que podia,
aproximava-se e tentava abordar o assunto, mas a mulher se
esquivava, afastando-se dele e conseguindo evitá-lo de todas
as maneiras possíveis. Seu objetivo era que Grant sentisse na
pele como ele a fizera se sentir.
Durante as horas insones que passou sem a sua companhia,
Danna deu-se conta de que repetia um padrão em sua vida.
Por carência, estava mais uma vez se anulando por um
homem e pelo bem-estar da família. Não que o Grant se
posicionasse contra ela querer estudar ou trabalhar, longe
disso, contudo, o fato de ter desconfiado dela e acreditar,
ainda que por um segundo, que era capaz de participar de
perversidades como o tráfico de mulheres e tantas outras
operações escusas e abomináveis realizadas pelo seu ex-
marido, doía demais. Danna não tinha dúvidas de que era
capaz de fazer qualquer coisa pelos filhos, porém, a partir
daquele momento, passaria a pensar mais em si mesma, como
uma pessoa que possui desejos, interesses, ambição e vontade
própria, que está em busca de realização pessoal, e não apenas
ser a extensão de alguém.
Atendendo ao pedido de Eva, que acabou ficando sabendo
que ela pretendia voltar para Nova York naquele mesmo dia,
Danna postergou o seu retorno para a manhã do dia seguinte,
e foi naquela noite que Grant, por fim, conseguiu uma
abertura para tentar se explicar. Ele não estava aguentando
mais ser tratado com tanta frieza por parte da mulher, e o
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aterrorizava o fato de ela querer deixá-lo. Teria que fazer


algo, fosse o que fosse, para fazê-la mudar de ideia. Após
passar a noite em claro, debatendo-se consigo mesmo,
admitiu que havia sido totalmente injusto. Desconfiar da
mulher que amava foi a pior coisa que ele poderia ter feito. Se
fosse o contrário, ele também teria ficado chateado, zangado e
ferido, e saber que era o causador de sua tristeza e sofrimento
o corroía por dentro.
Grant a encontrou no quarto, recostada na cama, pensativa.
Logo que o viu entrar, Danna virou-se para o lado, evitando
qualquer contato. Não se deixando intimidar pela aparente
indiferença da mulher, ele se aproximou com cuidado e se
sentou na beirada da cama. Levou um minuto a observando
antes de começar a falar.
— Danna, mesmo que não queira falar comigo, eu queria
te dizer que eu sei que vacilei, me desculpe. Pensei muito de
ontem para hoje, e não podemos continuar assim, princesa. Eu
sei que agi errado e que te magoei. Como eu te disse antes, eu
me senti confuso, mas foi só por um momento. Por favor, eu
te peço, não me deixe, me perdoe por eu ter sido um idiota
inseguro!
Ela, finalmente, se virou para olhá-lo e o encontrou
consternado, parecia arrependido.
— Grant, eu só quero que você acredite em mim, que
confie em mim. É tudo o que eu te peço.
— E eu acredito e confio em você, Danna, de coração! —
Grant falou sério, puxando-a pelos ombros e a embalando em
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seus braços.
— Eu sei que você agiu como agiu devido às traições que
sofreu no passado, eu sei pelo que passou, mas tem que ter em
mente que eu não sou como eles, não sou como a sua ex-
noiva, jamais seria capaz de te trair, de te fazer sofrer como
ela fez. Não tenho capacidade de fazer mal a ninguém, Grant.
Nunca mais duvide de mim.
— Nunca mais, princesa, prometo! Sou teu, Danna, para
fazer o que quiser de mim, mas não me abandone, não me
deixe! Eu não respiro sem você, sem os nossos filhos —
declarou Grant, sentindo o coração apertado.
Voltou a olhar para ela, ainda abraçada a ele, e com a mão
ergueu seu queixo. Seus olhares se encontraram. Sentia falta
de seu toque e de estar dentro dela. Tinham voltado a fazer
sexo, porém, com os gêmeos, não era tão simples encontrar
um tempo só para eles, a chance de serem interrompidos por
um chorinho no meio do ato era grande. Por um momento,
fitou seus lábios, fascinado pelo seu contorno perfeito e pela
evidente maciez que possuíam.
— Te desejo tanto, Danna! — disse sem pensar, tocando
sua face e correndo os dedos pela pele acetinada.
— Eu também. Demais.
Ele abaixou a cabeça cobrindo sua boca com a dele.
Instantes depois, se devoravam, a paixão e o desejo
explodindo entre eles. Grant se inclinou ainda mais em
direção a ela, levando a mão até o um dos seios. Beijou seu

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pescoço e a ouvir gemer. Danna jogou a cabeça para trás, lhe


dando mais acesso, e ele foi descendo com a boca aberta,
deixando uma trilha úmida pelo caminho.
— Agora eu vou te deixar nua, mulher! — decretou ele,
ajudando-a a tirar a camisola pela cabeça e a calcinha pelas
pernas. Ajoelhou-se no meio da cama desfazendo-se da
camiseta e da calça. Logo sua cueca foi fazer
companhia à calcinha de Danna no chão do quarto. — Porra,
como você é gostosa! — sussurrou em seu ouvido ao mesmo
tempo em que, impaciente, se posicionava sobre seu corpo,
com a clara intenção de possuí-lo.
— Não... espera.
— O que foi? — perguntou ele, confuso, ao vê-la colocar
ambas as mãos em seu peito, o afastando e se ajoelhando
sobre a cama. — O que vai fazer?
Danna não respondeu suas perguntas. Ajoelhada à sua
frente, mantinha os olhos em seu pênis ereto. Levou a mão até
ele, o envolvendo com os dedos e apertando um pouco,
fazendo o homem soltar um leve gemido, permanecendo
parado, surpreso pela iniciativa. Ela iniciou os movimentos de
vaivém, sempre friccionando o polegar na ponta. Ouviu um
gemido mais forte vindo dele, a incentivando a continuar, até
que notou uma gota de sêmen saindo e a espalhou por toda a
extensão da cabeça, então se inclinou mais. Separou os lábios
a um centímetro de distância, o fazendo sentir seu hálito
quente sobre aquela parte tão sensível de sua anatomia. Na
sequência, o tomou na boca, a ponta da língua tocando a
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pequena fenda no meio da glande, grossa, inchada e


vermelha. Grant estava em suspense, tão excitado que sentiu
seu pau enrijecer ainda mais e preencher a boca da mulher,
que o envolvia da base até a ponta, dando longas lambidas por
toda a sua extensão e voltando a chupá-lo.
— Por Deus, Danna... — gemeu ele, mais uma vez.
Pegou uma mecha de seu cabelo e a enrolou na mão. Aos
poucos, ajudou-a a mover a cabeça, fazendo-a tomá-lo até a
metade. Ela segurou-o pela base e continuou com vontade,
colocando-o e tirando da boca repetidas vezes. No início, seus
movimentos foram lentos, mas ela logo aumentou a
velocidade. Com uma torção da mão que prendia seu cabelo,
Grant a fez olhar para ele. Começou a mover os quadris
acompanhando o seu ritmo, e a visão que tinha dela o deixou
louco de desejo. Estava a ponto de explodir e se deixou
consumir pelo fogo que o invadiu, inspirando o ar com
dificuldade.
Danna sentiu na língua o gosto salgado de outra gota de
porra. Percebendo que estava prestes a gozar, Grant fez um
gesto para se retirar, mas ela não permitiu. Soltando a base do
pau que ainda segurava, elevou os braços o envolvendo pelos
quadris, afundando os dedos em sua bunda firme e o
impedindo de se afastar.
Grant desistiu do que pretendia fazer e continuou a se
movimentar, segurando sua cabeça e a mantendo no lugar.
Minutos depois, sentiu o gozo se aproximando. A imagem
que tinha diante de si era tão erótica que não pôde mais se
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conter e se deixou dominar pela sensação de prazer que o


invadiu. Ejaculou na boca da mulher ao mesmo tempo em que
deixava escapar um grunhido forte, quase selvagem. O corpo
retesado, os olhos cerrados, o rosto contraído. Viu-se caindo
na cama, o coração batendo acelerado. Já tinha sido chupado
antes, mas pela mulher que amava era a primeira vez, e por
isso tinha sido realmente incrível.
— Eu não esperava que fosse fazer isso, você nunca quis
fazer antes. — Ele estava agradavelmente surpreso e amando
essa Danna mais solta e ousada.
— Hoje me deu vontade. Por quê? Você não gostou?
Achou que fui ousada demais? — perguntou ela, um pouco
incerta.
— Não, claro que não, longe disso — Grant negou. — Eu
adorei a surpresa, espero que você tenha essa vontade mais
vezes — falou, beijando seu ombro com um sorriso de
satisfação no rosto.
— Chupar você é um presente para mim. Se não fiz antes,
foi porque ainda não me sentia à vontade, mas hoje isso
mudou. Desejei muito sentir você, o seu gosto. Quis conhecer
o que é meu por inteiro — contou manhosa. — E se gostou
tanto assim, quer dizer que posso repetir?
— Não só pode como deve, quantas vezes quiser.
— Como agora?
— Adoraria, princesa, mas fica para depois. Agora eu
quero gozar enterrado bem fundo dentro de você — disse ele,
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fazendo-a se deitar, o corpo pairando sobre o dela. — Vamos


aproveitar que estamos sozinhos, sem as crianças por perto, e
fazer amor até não aguentarmos mais. O que acha da ideia?
— Eu não poderia pensar em algo melhor — respondeu,
passando a ponta da língua pelo seu pescoço.
Danna levou as mãos até seus ombros largos e separou as
pernas, o recebendo e demonstrando quanto estava disposta.
Gemeu de prazer ao sentir toda aquela ereção pressionando
sua entrada. Ele a penetrou e ela o prendeu dentro de si por
alguns momentos, então iniciaram a dança erótica da eterna
busca pelo prazer.

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“San Quentin, may you rot and burn in hell


May your walls fall and may I live to tell
May all the world forget you ever stood
And may all the world regret you did no good”
San Quentin – Johnny Cash

Prisão de San Quentin.


O homem adentrou a sala de visitas. Tinha as mãos unidas
por algemas, porém, estas logo foram retiradas pelo guarda.
Feito isso, afastou-se, ficando de pé junto à porta. Logo após
ter seus braços libertos, esfregou os punhos, ao mesmo tempo
em que levava o olhar para o rapaz sentado em uma das
mesas do lugar.
— Quase não acreditei quando me disseram quem estava

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aqui para me fazer uma visita — falou o homem mais alto, em


um tom de voz desdenhoso. — Enfim, nos encontramos,
Garoto de Ouro.
Grant o encarou, o semblante grave.
— Já nos encontramos antes, mas, então, você era somente
Caleb Green, um respeitado empresário, um investidor muito
bem-sucedido.
— É, eu levei um tempo para descobrir que o faz-tudo
insignificante que reformava a casinha da minha mulher era o
ex-policial que se meteu nos meus negócios.
— Sua ex-mulher, só para deixar claro, porque agora ela é
minha — Grant afirmou com um sorriso provocador. — Mas
quanto a eu ser a mesma pessoa que se meteu nos seus
negócios e que trabalhou para a Danna, sim, tenho que
admitir que, nisso, você está certo, no entanto, agora fiquei
curioso, por que “Garoto de Ouro”? — indagou, buscando
uma explicação para o apelido inédito, uma vez que era a
primeira vez que o ouvia.
— É como costumo me referir a você. Garoto de Ouro.
Explico... — falou Caleb, sentando-se na cadeira, ficando de
frente para ele. — Eu te dei esse apelido pela descrição que
me fizeram de você, um policial praticamente recém-formado,
idealista, correto e promissor. Alguém que poderia chegar
longe na carreira, porém, que possuía um defeito muito, muito
feio.
— E qual seria esse defeito tão feio, segundo você?

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— Meter o nariz onde não é chamado! Na ânsia de mostrar


serviço, você foi muito ingênuo, meu rapaz, confiou em quem
não devia.
— Ser proativo faz parte do ofício, e quanto a confiar nas
pessoas erradas, tenho que dar a mão à palmatória e admitir,
mais uma vez, que está certo. — Grant afirmou o encarando.
— Afinal, o que você veio fazer aqui? Não creio que tenha
sido pelo meu belo par de olhos azuis — provocou Caleb,
irônico.
— Eu só quis ver o desgraçado que me colocou aqui dentro
um dia, e perguntar como um Falcão se sente com as asas
cortadas, preso, sem esperança de, um dia, voltar a ser livre,
tendo que pedir permissão para tudo, até mesmo para usar o
banheiro — Grant respondeu alçando uma sobrancelha,
igualmente irônico, e viu o homem fechar a cara e murchar o
sorrisinho de escárnio que mantinha nos lábios desde que
soubera que era ele quem o estava esperando.
Sua expressão, antes de deboche, agora era de fúria, os
olhos o fitavam com uma raiva fria. Se estivessem sozinhos
em algum outro lugar, com certeza Caleb pularia em seu
pescoço.
— Eu vim até aqui para olhar na cara do homem que
tentou acabar com a minha vida, mais de uma vez, e mostrar
que ele falhou feio. Ah, e aquela sua tentativa patética de
semear dúvidas sobre a índole da Danna, da minha mulher e
mãe dos meus filhos, não surtiu o efeito desejado. Ninguém
levou tais acusações absurdas e sem a menor base a sério.
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Decidiram que não passavam de rosnados impotentes de um


cão raivoso.
Grant fez uma pausa para apreciar a expressão no rosto de
Caleb mudar, ganhando diferentes tons de vermelho devido à
evidente fúria que o acometia e o consumia, a ponto de o
homem não ser capaz de formular sequer uma frase para
retrucar.
— Eu só queria que você soubesse disso através da pessoa
que você mandou matar, e fracassou. Fiz questão de vir aqui,
pessoalmente, para que ouvisse da minha boca, seu bastardo
miserável! É, a sua ex-mulher agora é minha, e temos um
casal de filhos gêmeos, lindos e saudáveis. A Amy é como
uma filha para mim, e nada do que você tentou fazer para me
destruir deu certo, e nem vai dar. Durma com esse barulho,
seu idiota, covarde, e faça bom proveito de sua longa estadia
aqui, exatamente onde você merece estar! Caleb Green
morrerá nesse inferno, sozinho e esquecido.
Caleb fez menção de levantar e partir para cima do
moleque arrogante, que o fitava altivo sentado à sua frente, e
tirar aquele meio sorriso sarcástico daquela cara atrevida,
porém, conteve-se ao notar o guarda, que os vigiava, ameaçar
a dar um passo em sua direção.
Não tendo mais nada a dizer, Grant se pôs de pé, virou-se e
deixou o local, sentindo-se muito bem consigo mesmo, pois a
justiça que almejou e pela qual lutou durante muito tempo
tinha sido feita.

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Nova York.
Duas semanas se passaram desde que a Fênix tinha sido
libertada e o Falcão, para sua desgraça, condenado. Danna,
Grant e os filhos regressaram de San Diego havia uma
semana. Agora, sem poderem contar com a ajuda de Eva, o
tempo ficou mais apertado. Porém, como os gêmeos estavam
com quase seis meses, já tinham uma rotina mais ou menos
definida, e os três se revezavam em seus cuidados.
Não puderam permanecer na Califórnia o tempo que
desejavam, Amy precisava regressar, pois iria se candidatar a
algumas universidades nos próximos dias. Durante o período
em que ficaram, no entanto, Grant levou a mulher para
conhecer alguns pontos turísticos e outros mais pitorescos.
Danna ficou encantada ao conhecer um pouco mais da cidade
natal de seu amado. Ele evitou comentar a visita que fez ao
seu ex-marido, em outro momento talvez o fizesse, ou não.
Melhor seria abstrair aquela pessoa da mente e da vida de
todos eles.
Por fim, a família estava de volta e era fim de semana.
Chamaram o casal de amigos para passarem a tarde de
Sábado tomando umas cervejas e relaxando na beira da
piscina. Trent não tirava os olhos da pequena Grace, deitada
em seu carrinho. Ele falava com ela fazendo carinho em sua
barriga, e a garotinha ria para ele enquanto movia os
bracinhos e as perninhas. Grant não ficou atrás, pegava o bebê
Luke no colo e brincava com ele enquanto Amy tomava conta
da pequena Chloe. Danna e Betsy se encontravam ocupadas

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preparando o almoço.
— Agora que esses bandidos estão presos e o chefão foi
condenado, você tem ideia do que vai fazer? — perguntou
Trent.
Grant parou o que estava fazendo e sentou o filho na perna
direita. O bebê pegou um dos seus dedos com ambas as
mãozinhas e tentava colocá-lo na pequena boca rosada.
— Não, meu amor, não pode pôr o dedo do papai na boca
— falou carinhoso com o filho, afastando a mão e dando-lhe
um brinquedo de borracha para que pudesse morder, só então
respondeu. — Bom, ainda estou procurando trabalho. Recebi
a proposta para ser reintegrado em San Diego, mas não me
decidi ainda. Se eu aceitar, tenho que voltar para lá, e não
posso deixar a Danna e os bebês aqui. Isso está me
preocupando, cara!
— Vai ter que ter um pouco mais de paciência. Logo você
consegue algo por aqui mesmo e as coisas vão se ajeitando —
Trent aconselhou, otimista.
— Estou esperando para ver se a transferência que pedi sai.
O problema é que me sinto muito incomodado com a Danna
arcando com quase todas as despesas. Eu ajudo como posso,
fazendo uns trabalhos extras, mas sei que não é suficiente.
Isso me deixa frustrado.
— Sabe, eu andei pensando... — Trent começou a falar,
porém, algo o fez desistir de continuar.
— Em quê? — Grant perguntou ao ver o amigo hesitar.
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— Não. Nada. Vou amadurecer um pouco mais a ideia e


depois conversamos. Só te digo uma coisa, tenha fé. As coisas
vão melhorar, você vai ver.
— Assim espero... Assim espero...
Enquanto todos aproveitavam à beira da piscina, as
mulheres conversavam na cozinha. Betsy voltou a reclamar de
Trent e Danna revirou os olhos, pois já tinha ouvido tudo
aquilo antes. A amiga não conseguia virar o disco.
— Depois que a Grace nasceu, posso andar nua pela casa
que ele nem olha para mim. Agora passa todo o tempo livre
paparicando a filha.
— Que exagero é esse, mulher? Claro que não pode ser
assim. E Trent dar atenção para a bebê não é uma coisa boa?
Tanta gente reclama que os pais não passam tempo suficiente
com os filhos e você reclamando justo do contrário...
— Pois é, mas e eu? Como é que eu fico? A ver navios, na
maioria das vezes. Ele chega do escritório e vai direto para o
quartinho da Grace, passa o resto do dia brincando com ela,
mas quando deitamos, ele está cansado demais para brincar
comigo.
— Sério? Pobre Trent! Como mudou, não?
Danna recebeu um olhar indagador da amiga.
— Ah, Betsy, todos nós conhecemos a fama de
mulherengo que ele tem! — Esclareceu Danna, terminando de
preparar a salada e o vinagrete. — Põe na mesa para mim, por
favor — pediu.
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Betsy pegou as travessas e caminhou até a mesa. Na volta,


retomou o assunto.
— Para você ver! O ex-pegador virou um verdadeiro pai
de família. O pior é que parecemos um casal casado há mais
de trinta anos. Agora é só Grace, Grace, Grace; todo o tempo
e o tempo todo. — Fez um trejeito com a boca, continuando
com suas reclamações.
Danna ficou abismada diante do que ela tinha acabo de
falar.
— Não estou acreditando no que estou ouvindo.
— No que não está acreditando?
— Betsy, você deveria ter vergonha! Está com ciúmes da
própria filha!
— Parece que sim, né? E isso não deve ser normal —
concordou pensativa. — Será que já estou batendo os pinos?
Mas eu ainda sou tão nova para isso.
Danna lhe dirigiu um olhar de censura.
— Não me olhe assim, eu amo a minha pequena Grace! —
defendeu-se.
— Eu sei, mas acho melhor parar com isso, além do mais,
deve ser só uma fase. Meu conselho é que tenha um pouco
mais de paciência com o Trent.
— Espero que seja só uma fase mesmo, senão a coisa vai
ficar feia! — Ameaçou gesticulando com a faca que usava
para fatiar alguns tomates.
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— Betsy, então vocês têm que conversar! Talvez melhore


se ele diminuir o ritmo de trabalho.
— O Trent está muito focado nos seus casos no escritório.
Sabe como é, ele é um dos sócios. Minoritário, mas é. E essa
parte eu entendo, ele só quer ter estabilidade financeira, se
preocupa muito com o nosso futuro, principalmente com o da
Grace.
— É, o Grant também anda bem ansioso e preocupado com
isso.
— Nada ainda, amiga?
— Não, nada. Estou vendo a hora que a frustração dele vai
começar a nos prejudicar, quero dizer, atrapalhar a nossa
relação.
— Não. Isso não. Jamais. Aquele homem vive e morre por
você e pelos gêmeos.
— Eu sei disso, mas fico chateada por ele ainda não ter
conseguido um emprego fixo. Tudo o que eu mais quero é
que aquela ruguinha de preocupação que ele tem na testa
desapareça de uma vez.

Dois dias depois, Grant estava feliz, pois havia recebido


uma ótima notícia, então resolveu fazer uma surpresa para
Danna. Pediu para que Amy e Betsy o ajudassem, e preparou

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tudo com o maior carinho e cuidado. Tratava-se de um jantar


romântico ao lado da piscina. As duas ficaram encarregadas
de cuidar dos gêmeos nessa noite, e Grant arrumou uma
desculpa para justificar o fato de as crianças não estarem em
casa. Tampou os olhos de Danna com uma das mãos e a guiou
até o local.
— Agora já pode abrir — disse ao chegarem.
— Uau! Que lindo! — exclamou ela, surpresa. — Mas
qual é o motivo de tudo isso? O que estamos comemorando?
— A vida, o fato de estarmos juntos, de termos filhos
saudáveis e lindos — explicou sorrindo para ela.
— Um jantar romântico... — constatou Danna, os olhos
marejando ao tomar nas mãos o belo buquê de rosas
vermelhas com que Grant a presenteava. — Até onde eu me
lembro, esta é a primeira vez que recebo flores — declarou
feliz, levando o buquê até o rosto e inalando sua deliciosa
fragrância.
Notou que tinha um cartão, então o pegou, abriu e o leu em
voz alta.
— “Para a mulher da minha vida”. Essa sou eu? —
indagou sorrindo, muito emocionada.
— Quem mais além de você? — questionou Grant, galante
e charmoso.
— Obrigada, meu anjo, são lindas! — a mulher agradeceu
lhe dando um beijo rápido nos lábios.

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— Não são mais lindas do que você, princesa — afirmou


ele, retribuindo o beijo.
Danna não sabia descrever como se sentia. Enlevada?
Encantada? Apaixonada? Ou tudo isso junto e misturado?
— O que estamos fazendo, Grant? O que significa tudo
isso?
— É o que quisermos que seja, Danna — respondeu ele. —
O que quisermos que seja, minha princesa linda — repetiu,
voltando a roçar a boca na dela.
— Sabe, um dia conversando com a Amy, ela me disse que
não via amor entre o pai dela e eu. É verdade, não havia
mesmo, mas naquele momento eu me justifiquei dizendo que
o amor entre um casal era, às vezes, algo supervalorizado, e
que esse amor que tanto falam eu nunca tinha sentido de fato,
então concluí que não era para mim. Aí aconteceu você, que
entrou na minha vida e me mostrou como eu estava enganada.
— A vida faz isso com as pessoas, as surpreendem quando
menos esperam.
— Te amar, me entregar a você, a nossa convivência, tudo
tem sido tão fácil e tão bom. Às vezes tenho até medo da
força desse sentimento, por ser tão grande e intenso. Eu me
sinto totalmente realizada ao seu lado. Meu anjo, meu Grant
— declarou ela, fitando-o com todo amor que sentia. — Viu
só o que você faz? Já estou chorando.
Grant olhou para ela e começou a secar suas lágrimas com
os polegares. Assim como Danna, ele também tinha sido
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tocado, principalmente após ouvir aquela declaração de amor.


Sentia uma alegria e uma paz tão grande que chegou a pensar
que seria capaz de levitar a qualquer momento.
— Não sou de fazer discursos e nem comprei um desses
champanhes baratos. Não sei se um dia você imaginou que
seria assim, porque eu não imaginei. — Grant sorriu sem
jeito. — Mas não consigo pensar em viver a minha vida sem
você. Nunca sonhei que pudesse me sentir como me sinto
hoje, tampouco que eu teria direito a tanta felicidade. Quando
estive preso naquele inferno eu só esperava o dia em que a
morte me libertaria. Felizmente, ela não veio, e o destino
resolveu te colocar no meu caminho. A vida tem sido
generosa comigo, Danna. Você e os nossos filhos são tudo de
melhor que eu tenho, me completam e fazem meu coração
transbordar de amor.
Dito isso, Grant tirou uma pequena caixa quadrada do
bolso da calça e a abriu, mostrando o conteúdo para ela.
— Danna, quer se casar comigo?
— Grant! É lindo! — murmurou fascinada. — É claro que
eu quero me casar com você, e passar a vida inteira ao seu
lado. Mas como conseguiu comprá-lo? Deve ter sido muito
caro — comentou com um leve toque de repreensão na voz.
Grant retirou o anel de dentro da caixinha, um solitário em
ouro branco, pegou sua mãe esquerda e o colocou,
lentamente, no dedo anelar.
— Digamos que fiz um pequeno empréstimo — contou ao

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terminar.
— Mas como? — Danna não tirou os olhos do anel em seu
dedo, fitando-o maravilhada.
— O Trent me ajudou nisso, a Betsy deu uma mãozinha na
decoração da mesa e a Amy teve a ideia de colocar as luzes ao
redor da piscina.
— Então todos foram seus cúmplices nisso? — ela indagou
sorrindo. — Tudo ficou muito lindo, Grant, mas ainda assim,
o anel...
— Não se preocupe com isso, recebi uma ligação do
distrito hoje — contou ele, um ar misterioso no rosto.
— É o que estou pensando? — Danna não pôde deixar de
sorrir.
— Se você está pensando que consegui a vaga que eu
estava esperando, sim, está pensando certo!
Danna não conteve a alegria ao ouvi-lo. Aquilo era tudo o
que ele mais queria.
— Meu amor, que notícia maravilhosa! — exclamou
pulando em seu pescoço, abraçando-o, e tendo a cintura
envolvida por suas mãos grandes e fortes.
— Vou ficar lotado no distrito do centro de Manhattan.
Volto à ativa na próxima semana. Não é na mesma unidade
em que eu trabalhava, mas estarei empregado e fazendo o que
amo.
Danna apenas sorriu ao olhar para a própria felicidade
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estampada no rosto do homem à sua frente. Tudo tinha valido


a pena para chegarem até aquele momento.
— Eu te amo, minha sardentinha! — declarou Grant,
perdendo-se nos belos olhos verdes da mulher em seus
braços.
— E eu amo você, meu faz-tudo mais lindo do mundo! —
devolveu ela, e então se beijaram. — Mas...
— Não, nada de “mas”, tudo pode esperar, menos o desejo
de ter você, agora, já! — avisou Grant, calando-a com um
beijo esfomeado, intenso e apaixonado.
— Grant… a comida... — Danna chamou a sua atenção.
— O que tem ela? — murmurou ele, os lábios a milímetros
dos dela.
— Vai esfriar — sussurrou.
— Depois esquentamos de novo. Você se importa? —
perguntou arqueando uma sobrancelha.
— De maneira nenhuma. Na verdade, estou tendo outro
tipo de fome agora mesmo — informou a mulher, movendo-
se insinuante, deixando-se levar pela paixão e pela
intensidade do momento.

— Olha lá! O Aaron! — Brenda chamou a atenção da


amiga, fazendo um gesto com o queixo na direção do rapaz.
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Amy levou o olhar para onde Brenda apontava e sentiu


aquele já familiar frio na barriga, pois acontecia toda vez que
o via e se acentuava ainda mais quando o tinha por perto,
como naquele exato momento.
— Estou vendo. O rei e seu séquito de idiotas — falou ela,
usando um tom de desprezo.
— Ele está aqui há tão pouco tempo e já tomou conta da
escola. Tem carisma e é muito gato — comentou Brenda,
olhando para ele fascinada.
— O Aaron é demais em tudo, inclusive na arrogância.
Não gosto de gente que se acha — Amy declarou sarcástica.
— Nem eu, mas bonito, rico, carismático e com esse ar
de bad boy... Nossa! Ele pode se achar quanto quiser —
Brenda suspirou.
— Até você, Brenda?
— Ai, amiga, eu não sou cega, né? O Aaron é um pedaço
inteiro de mau caminho, e bota mau nisso! — disse e suspirou
outra vez, entretanto, logo fechou a cara. — Aquela oferecida
da Rachel está sempre por perto se esfregando nele —
reclamou insatisfeita.
— Os dois se merecem. E vamos mudar de assunto, porque
isso não me interessa. Tenho mais o que fazer do que ficar
cuidando da vida alheia.
— Para cima de mim, Amy? Eu sei que você tem uma
queda por ele. Notei desde o primeiro dia.

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— Pois você teve uma impressão muito errada! O jeito


como essas garotas se jogam em cima dele é patético e
ridículo. É muita falta de amor próprio! Eu é que não me
sujeitaria a isso. O Aaron é...
— O Aaron é o quê? E quem é ridículo?
Como ela estava de costas trancando o seu armário, não o
viu se aproximar, e ao ouvir aquela voz, seu coração começou
a bater acelerado. Sentiu as mãos suarem e levou um minuto
inteiro para tentar se controlar, antes de se virar e olhar nos
olhos dele.
— Ah... é você. Não te interessa! — respondeu ela, com
grosseria.
— Uma vez que ouvi o meu nome, sim, me interessa —
Aaron insistiu curioso.
— Claro, e só existe um Aaron no mundo! Vem cá, sua
mãe não te ensinou que é falta de educação ouvir e se meter
na conversa dos outros, não?
— Como disse, ouvi o meu nome, por isso deduzi que
estavam falando de mim e dos meus amigos. Vou voltar a
perguntar: quem é ridículo?
— E eu vou voltar a responder: não é da sua conta!
— Não vai dizer? Ok! Não vou mais perder meu tempo —
afirmou e se virou, começando a andar em direção ao seu
armário. — Isso é o que dá dar trela para pirralhas... — Aaron
resmungou intimista.

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— Quem você está chamando de pirralha, seu imbecil? —


Amy gritou irritada.
Aaron estacou, voltou a se aproximar dela, e a encarou
com cara de poucos amigos.
— E quem você está chamando de imbecil, sua pirralha?
— indagou ele, cheio de raiva.
— Querem parar, vocês dois? Estão chamando atenção da
escola inteira! — pediu Brenda, incomodada, olhando ao
redor.
— Pode ser do mundo inteiro que eu não me importo. Só
saio daqui com uma resposta. Fala! Estou esperando! —
exigiu ele, cruzando os braços sobre o peito.
— É melhor esperar sentado. De pé vai cansar. Eu não
tenho que te falar nada — desafiou ela, emburrada.
De repente, Amy sentiu-se desfalecer. Levou a mão até o
armário para não cair, mas foi perdendo o controle das pernas
e escorregando. Brenda, ao ver isso, adiantou-se e a amparou.
— Viu o que você fez, Aaron? — Brenda o acusou.
— Eu?! Mas eu não fiz nada! — ele se defendeu, elevando
os braços.
— Vai, me ajuda aqui! Temos que levá-la para a
enfermaria, não está vendo como ela está pálida? — Brenda
inquiriu agitada.
— Por que eu? — questionou Aaron, não querendo se
envolver.
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— Porque você está aqui e não temos tempo de ficar


procurando outra pessoa com força o suficiente para carregá-
la. Está na cara que a Amy não vai conseguir ir andando, está
praticamente desmaiada! — Brenda exclamou indignada. —
Vamos, me ajuda!
Ainda hesitante, o rapaz olhou para as duas.
— Aaron, por favor, você não vai dar um de covarde
agora, vai? Mexa-se homem! — Brenda voltou a falar,
fitando-o irritada. — Vai ficar aí fazendo doce mesmo?
Ah, merda! Vou ter mesmo que fazer isso! Não tinha
gostado nada do que acabara de ouvir, não era nenhum
covarde, só que prometera aos pais que não se envolveria
mais em confusões ou incidentes, porém, a situação pedia
uma atitude de sua parte.
— Está bem, eu ajudo! — concordou ele, por fim,
ajeitando melhor a mochila no ombro e se aproximando da
garota desfalecida.
Em um instante, sentiu o calor de seu corpo ao pegá-la nos
braços. Acomodou-a melhor e começou a andar em
direção à enfermaria. O aroma dos cabelos da garota
invadiam suas narinas, e mesmo sem querer, ele se viu
inalando-o. Ela tem um cheiro muito bom, pensou ele, um
segundo antes de atravessar o corredor, virando à esquerda.
Com mais alguns passos, chegaram ao destino. Tão logo
entraram, foram prontamente atendidos pela enfermeira da
escola.

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— Deite-a na maca. — A mulher sequer perguntou o que


havia acontecido, pois era óbvio que a garota nos braços do
rapaz não estava nada bem, exibia uma tez mortalmente
pálida e gemia baixinho. Fez um exame rotineiro com
agilidade, e ao apertar o abdômen da aluna esta urrou,
contorcendo-se de dor.
— Ela tem que ser levada para o hospital. O caso é sério e
aqui não poderemos fazer nada — declarou apreensiva.
Brenda, que havia permanecido calada e atenta, agitou-se
diante da preocupação da mulher.
— Está bem! Eu me encarrego de avisar a família dela.
Posso ir junto?
— Pode nos seguir. Iremos na viatura da escola. Sairemos
em poucos minutos — respondeu a enfermeira, saindo pela
porta a fim de tomar as devidas providências para o translado
da garota até o hospital mais próximo.
— Ok! — assentiu Brenda, e virou-se para Aaron. — Você
pode me dar uma carona? Meu carro está na oficina. Por
favor?
Aaron, que permanecia pensativo, agora se via preocupado
com o estado da colega. Voltou para a realidade ao ouvir a
pergunta de Brenda.
— Está bem, eu te levo. — Quero mesmo estar por perto
para saber se ela vai ficar bem.

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Hospital, sala de espera.


Todos estavam aguardando por notícias. Rita, a babá que
havia sido contratada para cuidar dos gêmeos, balançava um
carrinho duplo. Betsy, Trent e a pequena Grace também
estavam ali.
Como havia se prontificado, Brenda ligou, ainda a
caminho do hospital, para a mãe de Amy, avisando o que
tinha acontecido. Agora, junto aos demais, aguardava
agoniada, e não iria embora até saber o que tinha acontecido
para que a amiga passasse tão mal no colégio. Para a sua
surpresa, até Aaron, que, a princípio esteve tão reticente em
ajudar, acabou decidindo ficar, segundo ele, pelo mesmo
motivo.
Horas se passaram e ainda não tinham uma pista da
enfermidade de Amy. Viram quando Danna entrou na sala,
voltando do quarto da filha. Ao notá-la tão abatida, Grant se
levantou de imediato e a envolveu em seus braços, falando
baixinho com ela, que apenas assentia com a cabeça.
— E então? Como ela está? — Betsy foi a primeira a
perguntar.
— Acabei de falar com o médico que está cuidando dela.
O diagnóstico é colite ulcerosa. Trata-se da inflamação de
uma úlcera na parede do intestino, o que causou uma forte
hemorragia. Conseguiram detê-la, mas a Amy precisa
urgentemente de uma transfusão de sangue. O problema é que
o tipo dela é raro e o estoque que eles têm aqui está no fim,
não será suficiente. Estão procurando em todos os bancos da
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região.
— E tem alguma chance de conseguirem logo? — Grant
questionou com ar preocupado.
— Não tiveram resposta até o momento. Se não fizerem a
transfusão nas próximas horas, me avisaram que ela corre
risco de morte — Danna contou, enxugando as lágrimas que
se aglomeravam no canto dos olhos.
— E qual é o tipo dela? — Betsy quis saber.
— B negativo — Danna respondeu com a voz embargada.
— B negativo? — Todos os olhares se dirigiram para onde
Trent estava sentado. — É o meu tipo — afirmou ele,
sentindo o peso dos vários pares de olhos sobre ele.
— Como assim? — indagou Danna, ainda abraçada ao
Grant.
— Isso mesmo, eu sou B negativo, posso doar o meu
sangue para ela — Trent ratificou e viu a expressão no rosto
de Danna mudar.
— Meu Deus! Isso é um verdadeiro milagre! — exclamou
ela, espantada, saindo do abraço de Grant e aproximando-se
de Trent. Lágrimas de alívio escorriam pelas suas faces. —
Vem comigo! — chamou em um ímpeto, agitada, secando as
lágrimas com as costas das mãos. Ambos deixaram a sala com
passadas rápidas, quase correndo.
No momento em que Trent estava sendo preparado para a
coleta, Danna permaneceu ao seu lado, e quando seus olhares

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se encontraram, ele foi capaz de ver a emoção que a


tomava. A Amy vai ficar bem. Sim, ela vai, Danna afirmou
para si mesma, dirigindo-lhe um sorriso de agradecimento.

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“All the man I am


You are the reason for me
You help me understand
I’ll be your shelter from the rain
That never ends”
You and I – Kenny Rogers

Horas depois, Grant entrou no quarto onde mãe e filha


estavam, trazendo um copo de café nas mãos.
— Trouxe para você. Fui buscar na lanchonete do térreo,
achei que ia querer um — disse ele, aproximando-se da
poltrona onde a mulher estava sentada, sem deixar de notar
em como parecia abatida.
Danna tomou o copo de suas mãos e o levou até a boca.
Apreciou o aroma entrar pelas narinas e sorveu um gole,
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saboreando o gosto forte e revigorante da bebida.


— Tem razão. Eu estava mesmo precisando. Obrigada.
— Vejo que ela ainda está dormindo — comentou ele,
sentado ao seu lado. Ambos observaram a garota se remexer e
se ajeitar na cama.
— O médico saiu faz alguns minutos. Ele me explicou
que é bom ela descansar o máximo possível — informou
Danna, inclinando-se para frente e depositando o copo em
cima de uma mesinha própria para isso.
— Que sorte o Trent possuir o mesmo tipo sanguíneo da
Amy! — comentou Grant, ainda com os olhos postos sobre a
garota adormecida.
— Eu considero um verdadeiro milagre. Sempre serei grata
a ele.
— Nós dois sempre seremos gratos a ele. Aquele lá é meio
tosco às vezes, mas possui um coração do tamanho do mundo.
Que conste o que ele fez por mim e pela Amy, e sem pedir
nada em troca — Grant declarou, e acreditava em cada uma
das palavras que dizia. De fato, o amigo era uma das pessoas
mais generosas e altruístas que ele conhecia. — E você, está
bem?
— Sim, estou. Inclusive, eu queria te pedir uma coisa.
— Diga. O que for.
— Quero te pedir que vá para casa, meu anjo, e leve as
crianças com você. Eles devem estar cansadinhos, estão aqui

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há muito tempo.
— Por que não vai você para casa com eles? Aproveita e
descansa um pouco, princesa. Eu fico com a Amy — ele se
ofereceu, notando a expressão no rosto da mulher, que parecia
esgotada, física e emocionalmente.
— Eu agradeço, amor, mas prefiro passar a noite aqui com
ela.
— Tem certeza? — Grant insistiu.
— Tenho. A Amy vai ficar em observação só por essa
noite. Depois teremos que voltar, me disseram que vão fazer
uma bateria de exames. O que houve pode não ser uma crise
única, é isso o que pretendem investigar. Dependendo dos
resultados, terá que iniciar um tratamento médico.
— Entendo. Ela vai ficar bem, Danna. Vamos torcer para
que este tenha sido o único. Então eu vou indo, mas amanhã
estou de volta. Precisa de alguma coisa? Posso trazer para
você antes de ir.
— Eu não preciso de nada, obrigada. — Sorriu para ele. —
Adoro que se preocupe comigo, mas vou ficar bem. Amanhã
você pode vir nos buscar, eu te ligo avisando assim que ela
tiver alta.
— Combinado. Eu e a babá cuidaremos dos gêmeos. Pode
ficar tranquila.
— Tenho certeza que sim. E os outros, já se foram?
— Sim, foram embora logo depois de terem certeza de que

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a Amy não corre mais risco — confirmou ele. — Nós nos


vemos amanhã, princesa. Tenha uma boa noite.
— Boa noite, meu anjo — Danna se despediu, elevando o
rosto para receber um beijo do amado.
Amy acordou duas horas depois. Vasculhou o lugar com os
seus grandes olhos castanhos e notou que estava deitada em
uma cama com um acesso nas costas da mão esquerda ligado
ao soro. Observou que o quarto era todo pintado de branco e
que usava uma roupa de hospital. Elevou levemente o tronco
e viu a mãe, de olhos fechados, recostada em uma poltrona.
— Mãe? O que aconteceu comigo? — indagou confusa.
A voz distante da filha a chamando penetrou através do seu
estado sonolento. Danna acordou do cochilo e logo estava
desperta. Pôs-se de pé e andou até a cama, parando ao lado
dela.
— Oi, minha linda. Você passou mal na escola, não se
lembra? — perguntou ela, fazendo um carinho em seus
cabelos.
Amy engoliu em seco, tentando se lembrar do que tinha
acontecendo.
— Eu lembro que estava no corredor de armários com a
Brenda e com o Aaron. De repente, senti uma dor horrível na
barriga. Acho que ouvi os dois conversando, mas não entendi
nada do que falavam.
— Você teve um problema intestinal que causou uma
hemorragia. Ela foi controlada, mas como você sofreu uma
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perda significativa de sangue, foi preciso fazer uma


transfusão. Sabe como seu tipo de sangue é raro, não é?
Amy meneou a cabeça assentindo.
— Então, por causa disso, estava sendo difícil conseguir a
quantidade que você precisava. Para nossa sorte, o Trent tem
o mesmo tipo que o seu. Ele doou e a transfusão foi feita —
Danna concluiu a explicação.
Surpresa, a garota arregalou os olhos.
— Uau! Foi uma sorte grande mesmo. Coincidência
demais — comentou ela, pensativa. — Sabe qual é a chance
de termos o mesmo tipo sanguíneo sem sermos parentes?
— Claro que sei. É de cerca de dois por cento —
respondeu Danna.
— Exato! Muito pouco. Preciso agradecer a ele por isso.
— E vai. Amanhã. Depois que sairmos daqui. Você nos
deu um susto bem grande, querida.
— Eu imagino, mãe, me senti muito mal mesmo. Foi a
Brenda que me trouxe para cá?
— Sim, ela e esse rapaz que você mencionou agora há
pouco. Aaron?
— É... ele se chama Aaron.
— Isso, foram os dois. A Brenda me ligou avisando assim
que chegaram. Eu o achei meio quieto, ficou o tempo todo
calado, mas não saiu daqui até saber como você estava. É um
rapaz muito bonito — Danna elogiou.
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Amy notou o tom especulativo na voz da mãe e tratou de


esclarecer a natureza do seu relacionamento com o rapaz.
— Ele é só um colega, mãe. A senhora não vai começar a
achar coisas onde não tem, vai?
— Apenas um colega? Amy, eu te conheço! Posso dizer
quando está interessada em alguém, e acho que você tem
interesse nesse rapaz. Mas se não quer falar a respeito, eu
entendo.
— O Aaron e eu não temos nada, mãe, sério! — Amy
afirmou, soltando um suspiro e soltando o corpo na cama.
— Ok, eu já entendi! — Danna capitulou. — Não se fala
mais no assunto.
Danna resolveu não insistir, não era o lugar e nem o
momento propício, e se achasse que deveria, a filha contaria o
que se passava entre ela e o rapaz de nome Aaron, só
precisava ter paciência e aguardar.
Amy agradeceu intimamente pela mãe não insistir, e como
sempre, respeitar a sua privacidade. Infelizmente, ela tinha
falado a verdade. Não havia nada entre os dois, e isso porque
ele parecia nem notá-la da forma como ela desejava, sempre
mantendo aquele ar de garoto rebelde, porém, algo lhe dizia
que aquilo tudo não passava de fachada e que havia uma
pessoa totalmente diferente debaixo daquela marra de bad
boy. Prometeu para si mesma não pensar mais nele, pois sua
indiferença doía nela. Contudo, a promessa não estava sendo
fácil de cumprir.Como se fosse tão simples assim tirá-lo da

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minha cabeça!, pensou ela, suspirando, inconformada.


— Logo estaremos em casa. Eu te amo, sabia? — declarou
Danna, notando-a absorta em pensamentos.
— Eu também te amo, mãe — Amy respondeu no modo
automático.

Apesar de terem informado que Amy teria alta no dia


seguinte, o médico mudou de ideia e achou melhor mantê-la
internada por mais um dia. Durante esse período, Grant e
Danna se revezaram para acompanhá-la no hospital. Amy já
se sentia bem melhor, e passou a ficar entediada. Danna levou
alguns livros para que ela pudesse se distrair, entretanto, tudo
o que a garota queria era sair dali e voltar para casa, o que só
aconteceu no dia seguinte. Como já estava combinado, Grant
foi buscá-las, levando os gêmeos com ele para que pudessem
matar a saudade da mãe, e ela de seus bebês.

Prisão de San Quentin – CA.


— O que diabos aconteceu com ele? — questionou o
diretor, com o rosto vermelho, visivelmente alterado.
Gotas de um suor surgiram em sua testa e ele afrouxou a
gravata com dois dedos, pois, de repente, sentia como se ela o
estivesse estrangulando.

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— Ainda não sabemos. Viemos fazer a contagem nas celas


e o encontramos assim. Como dava para ver que estava
morto, nem chegamos a tocar nele — esclareceu um dos
carcereiros.
— Entendi. Mas o que vocês estão esperando? Vamos!
Tirem logo o homem daí! — ordenou o diretor, usando um
tom de voz autoritário.
— Agora mesmo, senhor! — respondeu um dos guardas.
Os dois homens se apressaram em cumprir a ordem. Um
deles saiu apressado para chamar o legista e trazer uma maca.
Algum tempo depois, estavam retirando o corpo sem vida de
dentro da cela, sendo transportado até o necrotério para que
fosse efetuada a autópsia. Com certeza fariam uma
investigação interna de rotina, porém, isso se daria após o
laudo que definiria a real causa da morte do detento.

Betsy e Trent estavam deitados no quarto do casal


enquanto a pequena Grace dormia tranquila em seu próprio
quarto. Ele havia chegado do trabalho e feito o que sempre
fazia. Agora, tinha o olhar fixo em um ponto inexistente no
teto. Sabia que estava deixando a desejar com a mulher nos
últimos tempos, mas estava lidando com muita coisa
ultimamente, sem mencionar a pressão que vinha recebendo
no escritório e com a qual não estava sabendo lidar. Sua

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cabeça fervilhava, os problemas e o estresse afetavam sua


libido e a disposição para o sexo, coisa que jamais havia
acontecido antes. Não estava se reconhecendo e isso o
preocupava, piorando ainda mais a situação. Sentia que
precisava desconectar um pouco, principalmente quando
estava em casa. O problema era que, por mais que tentasse,
não conseguia pensar em outra coisa, só na maldita
competição. Se conseguisse ganhar, daria um grande salto em
sua carreira e passaria a ganhar mais, contudo, ele estava
ciente de que ele e Betsy não podiam ficar para sempre do
jeito que estavam, ele também precisava dela.
— Trent, estive pensando...
— Pensando em que, morena?
— Você não acha coincidência demais ter o mesmo tipo de
sangue da Amy?
— Eu sei que temos um tipo raro, mas, sei lá, acho que foi
coincidência mesmo.
— Você sabe que a Amy é adotada, não sabe?
— Não, eu não sabia.
— Pois ela é. Quando a Danna se casou com aquele traste,
ela não conseguia engravidar de jeito nenhum. Foram a um
médico saber o motivo e fizeram vários exames, e o dela saiu
que era estéril.
— Como ela pode ser estéril se engravidou dos gêmeos?
— Calma, eu já chego lá — pediu. — Como ela desejava

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muito ser mãe, adotaram a Amy quando tinha três anos de


idade, mas, na verdade, quando a Danna engravidou do Grant,
ficou óbvio que ela não é estéril coisa nenhuma. Eu não
imagino como os exames puderam se enganar tanto, mas o
fato é que ela nunca engravidou do traste, então o problema
só pode ser dele, uma vez que ela nunca se preveniu. O
estranho é terem a feito acreditar, por anos, que quem não
podia gerar um filho era ela, e não ele.
— Isso é estranho e cruel. Só um doente para fazer algo
assim.
— Concordo. E não se conhece a origem da Amy, o que
me intriga vocês terem o mesmo tipo sanguíneo sem serem
parentes.
— O quê? Acha que é possível sermos parentes?
— Por que não? É tão absurdo pensar em algo assim?
— Não sei, mas ela é daqui de Nova York e eu sou da
Califórnia. Apesar de que uma vez eu...
— Uma vez você o quê?
— Nada. Esquece. Só me passou uma coisa pela cabeça,
mas é absurdo demais para sequer pensar na possibilidade.
Vamos mudar de assunto, está bem? Não quero ficar criando
teorias.
— Está bem, como quiser. Hum, tem outra coisa que estou
para te falar, só que não tive como comentar antes. Trent, está
ficando complicado continuarmos assim. Você não tem tempo
mais para nada, quando não está com a Grace, está indisposto
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ou dormindo — reclamou ela.


Ele se virou para ela e a viu recostada nos travesseiros
apoiados no espelho da cama. Os braços estavam cruzados
sobre o peito. Porra, ela é tão linda! Onde eu estava com a
cabeça ao colocar o trabalho na frente dessa morena?
— Você não me ama mais? Cansou de mim? — Betsy
perguntou com sua sinceridade peculiar.
Trent se sentou de imediato e olhou para ela com
estranheza antes de responder.
— Ei, que tipo de perguntas são essas? É claro que eu te
amo, morena!
— Então me fala o que está acontecendo aqui — pediu. —
Estamos muito distantes um do outro.
— Não está acontecendo nada demais. Tenho andado sob
pressão, só isso — suspirou. — Está bem, vou te contar o que
está acontecendo. Faz um mês que me ofereceram uma
porcentagem maior na sociedade, mas, para tanto, preciso ter
mais vitórias no tribunal, levar mais dinheiro para o escritório.
É uma competição, Betsy, quem gera mais resultado sai
vencedor. E eu quero tanto ganhar que não consigo pensar em
outra coisa.
— É por isso que você está tão distante? Por que não me
contou antes? Passou tanta coisa pela minha cabeça...
— O que você pensou?
Ela evitou seu olhar e não respondeu.

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— Fala! O que você chegou a pensar, Betsy? — insistiu.


— Que estava com outra — murmurou ela, ainda sem
olhá-lo.
— Olhe para mim — Trent pediu e ela hesitou. — Olhe
para mim, morena — repetiu, e continuou quando ela o fez.
— Por acaso não sabe que eu só quero você?
— Trent, você passa o tempo todo fora, e quando está em
casa nem me dá atenção, isso me fez pensar coisas. E por que
você não confiou em mim e me contou o que estava
acontecendo? — perguntou aborrecida.
— Não quis trazer trabalho para casa, mas vejo que foi
pior do que se eu tivesse feito isso. Eu sei que tenho estado
ausente e pisado na bola com você, mas vou mudar isso.
— E vai mudar como?
— Estou envolvido demais nessa competição, acho que
vou deixar o escritório. Amo o que faço, mas vejo que está
nos prejudicando.
— Não, você não vai fazer nada disso! Damos um jeito,
Trent.
— Andei tendo umas ideias e até comecei a falar com o
Grant, só que vou pensar melhor antes de pôr em prática. Mas
já está bom de conversas sérias por hoje, estou pensando em
dar um jeito no nosso problema agora mesmo, estou acordado
e muito bem disposto nesse momento — informou ele,
rolando o corpo e se posicionando sobre ela.

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— É verdade, já estou até sentindo — Betsy concordou,


envolvendo seu pescoço com os braços.
— Eu te disse, estamos bem despertos — comentou
sacana. — E amanhã é sábado, sem escritório, pretendo
deixar de lado os problemas e os assuntos de trabalho, e
vamos poder acordar mais tarde. Isso se a Grace deixar, é
claro. — Sorriu. — E então, o que acha de uma maratona? —
perguntou esfregando o pênis semiereto em sua virilha.
— Ficou tão disposto assim? Do nada? — ela o provocou,
imitando seus movimentos.
— Nunca é do nada. Só estou querendo tirar o atraso, me
redimir e satisfazer a minha mulher.
— Se é isso o que pretende, por que está demorando tanto?
— perguntou em tom jocoso, mas logo voltou a ficar séria. —
Senti sua falta, Trent — confessou, tocando sua face com uma
das mãos.
— Desculpe, fui muito idiota em te deixar em segundo
plano. Não vai mais acontecer. Prometo. Agora estou me
preparando.
— E você precisa se preparar para quê?
— Para te foder com força, bonita. Fique quietinha. A
partir de agora, tudo o que quero ouvir são os seus gemidos e
você chamando o meu nome enquanto eu estiver te fodendo.
Trent a pegou com força pelos cabelos e tomou posse de
sua boca, com fome, intenso. Movia a língua em um vaivém
erótico, uma pequena amostra do que pretendia fazer dentro
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dela.
— Hoje eu prometo te dar uma canseira que você não vai
conseguir nem andar.
— Nossa, Trent, pelo jeito vou ter que reservar uma
cadeira de rodas! — Betsy zombou rindo, no entanto, seu riso
morreu ao senti-lo começar a cumprir a promessa.
O homem penetrou tão fundo que fez a mulher deixar
escapar um gritinho ao senti-lo tocar o seu útero com a ponta
do pênis. Então ele iniciou os movimentos ritmados dos
quadris, implacável, voltando a ser o Trent de sempre.

— Como assim “ele está morto”? — Danna perguntou


enquanto tremores percorriam seu corpo, amolecendo suas
pernas e deixando-a abalada.
— Isso mesmo o que ouviu, senhora. Seu ex-marido está
morto. Sinto muito. — Apesar das palavras de condolências, a
voz do homem do outro lado da linha era inexpressiva, sem
emoção.
— E como isso aconteceu? — Danna se forçou para
perguntar, a despeito da fraqueza e do choque que a
cometiam.
— Segundo o legista, o Sr. Green sofreu um ataque
cardíaco —respondeu o homem, direto.

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— Assim? De repente? Que eu saiba ele tinha uma saúde


perfeita. Não sei depois que foi preso, mas... — comentou ela,
ainda não querendo acreditar.
O Caleb está morto? Será que o pesadelo terminou? Isso
seria incrível, surreal! Não que eu me alegre com a morte de
um ser humano, mas diante de quem se trata, posso me sentir
aliviada, por mim e pela minha família.
— Senhora, eu sinto muito, mas não posso entrar em
detalhes. Precisa vir até aqui, aí poderá saber mais a respeito.
— Ir até aí? Por quê? — indagou ela, surpresa. — Eu sou
ex-mulher dele, mas seus pais ainda são vivos, contate-os!
— Sim, sabemos que os pais do Sr. Green estão vivos, mas
ele deixou a senhora como responsável no caso de lhe
acontecer alguma coisa — a voz do outro lado da linha
explicou de maneira impessoal e monótona, o que a estava
deixando um pouco irritada.
— Não entendi. Pode me explicar melhor?
— Ele deixou especificado em uma carta — esclareceu.
— Quer dizer que ele se suicidou? — inquiriu ela,
abismada.
— Como disse, eu não estou autorizado a entrar em
detalhes, senhora. — Insistiu ele.
— Está bem, estarei aí o mais breve possível. Obrigada.
Danna desligou o telefone e olhou em direção ao Grant.
Ele se levantou do sofá e andou até ela, que permanecia de pé
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no meio da sala.
— Vou precisar ir até o hospital da prisão de San Quentin,
em San Diego. Você pode vir comigo?
Grant estranhou a pergunta, assim como o estado em que a
mulher se encontrava. Parecia meio aérea.
— Por quê? O foi que foi que houve?
— Caleb morreu — Danna anunciou. — Ele está morto —
repetiu.
— Ele foi assassinado? — Grant indagou pensativo,
digerindo a notícia ao mesmo tempo em que sentimentos
contraditórios o invadiam, porém, pôde identificar o mais
forte deles: alívio acompanhado de uma forte sensação de
paz.
— Não. Disseram que sofreu um ataque cardíaco e querem
que eu vá até lá. É para cuidar de alguns detalhes referentes à
liberação do corpo.
— Eu não entendo o porquê você tem que ir até lá se os
dois estavam divorciados. Os parentes mais próximos de
Caleb são os pais, poderiam tê-los chamado, não?
Danna aquiesceu movendo a cabeça.
— Sim, eu também estranhei, mas a pessoa que me ligou
disse que foi um pedido do próprio Caleb. Pelo que entendi,
ele me deixou uma carta.
— Uma carta? Agora que isso está estranho mesmo —
Grant comentou intrigado.
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— Pois é, mas o fato é que preciso ir até lá. Já devem ter


avisado aos pais dele, e vou precisar contar para a Amy
também.
— Entendi, estarei ao seu lado, princesa. Eu ainda tenho
alguns dias antes de me apresentar no distrito.
— Obrigada, meu anjo, preciso mesmo de você comigo
nesse momento. Eu não saberia o que fazer ou como agir
estando sozinha em uma situação como essa — confessou
Danna, abraçando-o, e logo se afastou, porém, sem deixar o
círculo de seus braços, olhando em seus olhos. — Acabou,
Grant! Agora tudo terminou para sempre, e eu não sinto nada
além de uma sensação enorme de alívio, nunca mais teremos
essa sombra negra sobre nós.
Grant a trouxe para ele novamente, abraçando-a com um
pouco mais de força. Queria sentir o seu corpo macio e quente
mais próximo ao dele. Era um momento especial, quando
passariam a respirar tranquilos. Dias de paz e tranquilidade se
avizinhavam, e ele fazia questão de compartilhar essa
sensação com a mulher da sua vida.
— Acabou, princesa! Não temos mais que nos
preocupar — declarou ele. — Vamos nos preparar para a
viagem. O melhor a fazer é resolver essa situação o mais
breve possível. Temos que pedir para a Rita dormir aqui com
as crianças. A Amy já está melhor e vai poder ajudá-la.
— Certo, vamos. Eu me sinto tão estranha. Ainda não
estou acreditando.

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— Foi meio inesperado, mas aconteceu, e é normal que se


sinta assim, princesa. — Grant olhou para ela com carinho. —
Enquanto conta o que houve para a Amy, eu converso com a
babá, e logo depois eu faço a reserva das passagens.

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“I’ve heard there was a secret chord


That David played and it pleased the Lord
But you don’t really care for music do you?”
Hallelujah – Leonard Cohen

No dia seguinte, Danna e Grant desembarcaram no


Aeroporto de San Diego, entretanto, não encontraram um sol
radiante como esperavam. Contrariando as previsões dos
meteorologistas, o tempo estava nublado e com a temperatura
oscilando entre dez e quinze graus, o que era algo incomum
para a sempre ensolarada Califórnia, porém, nessa tarde em
particular, ambos tiveram que se agasalhar. Por sorte,
puseram na mala uma blusa de lã para a Danna e a jaqueta de
couro preta preferida de Grant. O tempo feio combinava com
o estado de espírito de ambos, bem como com o que eles
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tinham ido fazer na cidade. Em pouco tempo estariam


chegando ao estabelecimento prisional de San Quentin.
Inaugurada em julho de 1852, San Quentin é a prisão mais
antiga do Estado, e diferente de algumas cidades e localidades
da Califórnia que receberam nomes de santos da Igreja
Católica Romana, a prisão ostenta o nome de um guerreiro,
pertencente ao grupo de nativos norte-americanos
denominado Miwok, de nome Quentin, que fora aprisionado
no local após lutar com o chefe indígena, Marin. Isso não
deixava de ser um fato interessante, Danna pensou enquanto
olhava, absorta, para a paisagem urbana através da janela do
carro durante o trajeto. Era tão desolada quanto ela se sentia
naquele momento.
Olhou para o homem ao seu lado. Não conseguia sequer
imaginar como ele devia estar se sentindo regressando ao
lugar para onde fora enviado, há cerca de quatro anos, mesmo
sendo inocente. Sentiu-se até um pouco culpada por trazer à
tona lembranças desagradáveis e doloridas para ele, nem
imaginava o que poderia estar passando pela sua cabeça,
porém, Grant não demonstrava nada, apenas mantinha o olhar
distante.
Danna não se sentia bem ao se aproximar do grande portão
pintado de preto, onde se podia ler o nome completo do
complexo em uma placa afixada ali. Apertou a mão de Grant
na sua e fitou seu perfil com carinho. Como era bom poder
contar com ele. Não saberia dizer se poderia fazer aquilo sem
a sua presença, transmitindo a força necessária que precisava

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para poder ir até o fim.


Minutos depois de entrarem, foram guiados para o local
onde Caleb jazia morto, e ambos foram recebidos,
pessoalmente, pelo diretor do presídio. Estacaram em frente à
portaenvidraçada de uma sala muito ampla e imaculadamente
limpa. Em seu centro havia uma mesa metálica ocupada por
um corpo, e este estava coberto por um lençol branco.
Danna evitou procurar por maiores detalhes do lugar,
concentrando-se naquela visão meio assustadora.
Definitivamente, não se sentia bem em estar ali. Sentiu algo
se contorcer em seu ventre e desejou poder sair correndo,
porém, sabia que não tinha opção a não ser ficar. Olhou para
Grant, de pé ao seu lado, e o aperto de sua mão lhe transmitiu
coragem. Ele a fitava como se dizendo que tudo ficaria bem
dali para frente.
Um homem vestido com um avental branco se aproximou,
e instruído por um gesto quase imperceptível do diretor,
levantou o lençol para que pudessem observar através do
vidro que tomava metade de uma das paredes. Danna levou a
mão livre até a boca e sentiu o estômago revirar. Não havia
dúvida. Era ele. Caleb. E estava realmente morto. Até aquele
momento, parecia que não era verdade, porém, não tinha mais
como negar.
— Vocês já têm a causa oficial da morte? — Grant
perguntou ao notar que Danna não conseguiria dizer nada.
Percebeu como a mulher havia ficado abalada com aquela
visão e sentiu sua mão fria e trêmula na dele.
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— Sim. O laudo deve sair logo, mas o legista já adiantou


que a causa da morte foi um ataque do coração. Tudo indica
que o Sr. Green apresentava uma doença cardíaca não
diagnosticada, uma vez que não fazia nenhum tipo de
tratamento — explicou o diretor, sucinto.
Grant fez um movimento com a cabeça sinalando que
havia entendido.
— Cheguei a pensar que ele simularia a própria morte para
tentar escapar do presídio — Danna comentou. — Não
imaginei que sua morte seria tão banal e corriqueira, sempre
achei que seria de forma violenta, assim como viveu.
O diretor esticou os lábios em um sorriso discreto diante
do comentário e logo iniciou uma explanação a respeito.
— Esse tipo de coisa pode ser muito popular na ficção,
mas na vida real as coisas não são tão simples. Sabemos que
os presos costumam ser bem criativos quando se trata de uma
fuga. Neste lugar, o que mais querem é obter a liberdade.
Sonham com o dia em que estarão do lado de fora desses
muros, e por termos consciência disso, mantemos um
esquema de segurança muito forte.
Grant sabia muito bem como funcionava o presídio, não
necessitava de tais explicações. Queria sair dali para nunca
mais voltar, deixar para trás aquele lugar frio, deprimente e
que trazia à mente as piores lembranças do que passar ali.
— O corpo do Sr. Green deverá ser liberado amanhã, após
a conclusão da autópsia, quando poderão ter o atestado de

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óbito. Normalmente levaria mais tempo, porém, como vocês


não são da cidade, abriremos uma exceção e daremos
prioridade a este caso.
— Agradecemos a consideração, Sr. Norton. Estaremos
aguardando o seu chamado para que possamos tê-lo em mãos.
— Vamos até o meu escritório. Lá está a carta que deixou
para a senhora — avisou, virando-se e começando a
caminhar.
— Eu não entendi o porquê ele ter me deixado uma carta.
Se tivesse sido suicídio, deixar algo por escrito faria mais
sentido — explanou Danna, enquanto andava por um corredor
extenso.
— O que não falta nesse lugar é tempo para pensarem nos
erros que cometeram, ou em coisas que deveriam ter feito e
não fizeram. Muitos detentos costumam escrever. Não todos,
claro. Mas há aqueles que necessitam externar algo e não
confiam em alguém, por isso escrevem. Parece que o Sr.
Green era esse tipo de pessoa. Na verdade, encontramos duas
cartas. Aqui temos, por questão de segurança, a norma de
abrir as correspondências. Uma delas dava instruções de
avisá-la caso algo de mal lhe acontecesse — explicou cortês.
Entraram no escritório, que era bem comum, por sinal.
Possuía móveis escuros, alguns livros em uma prateleira
afixada na parede e poucos objetos sobre a mesa. Era até meio
sombrio e deprimente, na verdade. O que chamava atenção,
pois destoava do lugar, era a foto de uma família sorridente,
que deduziu Danna, devia ser a do homem à sua frente.
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Seguiu-o com os olhos quando deu a volta na escrivaninha de


mogno. Ele abriu uma das gavetas, pegou um envelope
branco e o entregou para ela. Danna o pegou e agradeceu.
Depois de concluídos os procedimentos necessários para a
liberação e o translado do corpo, o casal se despediu do Sr.
Norton e deixou o local. Danna tomou a decisão de não ler a
carta naquele momento, preferia deixar para saber o seu
conteúdo quando voltasse para casa. Não fazia ideia do que
encontraria, e por isso mesmo tinha até receio do que poderia
vir a ler. Todo o procedimento ocorreu com rapidez e
agilidade. Passaram a noite na casa da mãe de Grant e, já no
dia seguinte, estavam em um voo de volta. O corpo seria
desembarcado na cidade natal de Caleb e recebido por seus
pais.
Danna compareceu ao funeral para dar apoio à filha,
enquanto Grant seguia direto para Nova York – por ela
mesma, com certeza não o faria. Amy parecia resignada e não
externava o que realmente sentia, apenas ficou lá, estoica, e
após o enterro, ambas regressaram para casa.

— Rita? Grant? Chegamos! — anunciou Danna,


adentrando a sala e colocando a bolsa sobre o aparador.
Haviam desembarcado uma hora antes, e apesar da insistência
de Grant em buscá-las no aeroporto, ela achou melhor pegar
um táxi, para que ele não precisasse deixar as crianças
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novamente.
Um minuto depois de chamá-los, viu Grant aparecer no
topo da escada, trazendo a filha Chloe no colo. Logo atrás,
vinha a babá, com o pequeno Luke nos braços. Ambos
desceram os degraus e pararam no meio da sala, junto a
ela. Amy cumprimentou a todos e subiu para o seu quarto.
Danna sorriu feliz por estar em casa e poder abraçar os seres
que mais amava na vida.
— Oi, meus amores, a mamãe chegou — falou, dando
beijinhos nas bochechinhas de cada um dos filhos. — Eu
estava morrendo de saudade de vocês dois — acrescentou
pegando Luke no colo, que tinha estendido os bracinhos
rechonchudos para ela.
— E eu? Não ganho nada? — reclamou Grant, fingindo-se
chateado.
— O seu, o mais especial de todos! — respondeu ela,
aproximando os lábios dos dele e beijando-o com todo amor
que se pode colocar em um beijo.
— Hum... Agora sim — murmurou ele, muito próximo de
sua boca.
Horas mais tarde, com todos em seus respectivos quartos,
Danna, por fim, decidiu que era o momento de abrir a tal
carta.
— Vamos ver o que ele tinha para me dizer... — falou,
rasgando a ponta do envelope.
— Está segura de que me quer ao seu lado quando a ler?
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— Não quero que haja segredos entre nós, Grant. Seja lá o


que for que está escrito aqui, eu prefiro que você tome
conhecimento junto comigo — Danna declarou solene.
— Está bem — concordou ele, observando-a abrir a folha
dobrada em três e dar início à leitura em voz alta.

“Danna,
Se você está lendo esta carta, é porque está ciente de que
não estou mais aqui. Eu nunca imaginei que meu fim seria
esse, nessa prisão, enjaulado feito um animal em uma cela
dois por dois. Mas, como costumam dizer, colhemos aquilo
que plantamos, e não sou do tipo que se lamenta, aceitei o
meu destino. É de conhecimento geral que aqui tudo pode
acontecer, como de fato já aconteceu comigo uma vez. Por
isso, como garantia, eu quis deixar esta carta escrita. Não
vou perder o meu tempo, ou o seu, pedindo perdão, sei que fiz
coisas imperdoáveis, principalmente com a Amy. Como você
sabe, não sou homem de muitas palavras, e não vou me
estender nesta carta. Além do mais, sei que ela será lida antes
de chegar até você. Escrevo para te dizer que o código do
cofre da casa nos Hamptons, onde se encontra a via original
do meu testamento, é a data do nosso primeiro encontro. Será
que você ainda é capaz de se lembrar? É, eu fiz um
testamento. Como uma pessoa sempre preparada para
situações inesperadas, deixei tudo organizado. Não tenho a
ilusão de sair daqui tão cedo, e talvez nem saia, não sei,
portanto, é melhor prevenir do que remediar. Dentro do cofre
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você também encontrará informações referentes à origem de


Amy. Leia e, se achar conveniente, conte tudo para ela, e
saberá o que fui capaz de fazer por você. Isso é tudo. Caleb.”

Danna suspirou após terminar a leitura. Não sabia o que


pensar, principalmente da parte em que ele se referia à filha.
— Então? Você se lembra da data que ele mencionou?
— Sim, só que não exatamente pelo encontro. Nós nos
conhecemos no mesmo dia em que meu pai fazia aniversário.
— Entendo. Quando você está pensando em ir até lá?
— Preciso de um tempo. Criar coragem. A verdade é que
eu não esperava retornar àquela casa.
— Não se preocupe, eu estarei com você.
— Eu não sei o que faria se você não estivesse ao meu
lado. Além de tudo, você tem sido a minha rocha, o meu porto
seguro. Não tenho como agradecer pelo que tem feito por
mim, meu anjo!
— Não precisa me agradecer por nada. Eu te amo e você
tem sido o meu lar. Não existe outro lugar no mundo inteiro
onde eu queira estar além de onde me encontro nesse exato
momento — declarou Grant, um segundo antes de beijá-la.

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Trent não falou nada com a Betsy, pois não queria criar
uma situação embaraçosa por estar remexendo em coisas do
passado. Depois daquela conversa que tiveram sobre a
coincidência de ele ter o mesmo tipo sanguíneo da Amy, e da
possibilidade, ainda que remota, de que os dois fossem
parentes, ele ficou muito intrigado, de tal forma que toda essa
situação não lhe saía da cabeça. Uma garota do seu passado
veio à sua mente no momento em que falavam. Trent a tinha
conhecido em uma festa de final de verão. Rolava muita
bebida e ele havia consumido um pouco mais do que devia.
Não estava exatamente bêbado, mas tinha álcool suficiente no
sangue para agir como um irresponsável. Conversaram por
horas, falando sobre tudo e sobre nada durante aquela tarde
linda, e sabiam que existia uma química forte entre eles. Não
se lembrava de quando a beijou pela primeira vez. Quando
deu por si, estavam transando na areia. Lembrava o seu nome
e de como era linda. Possuía um corpo fantástico, cabelos
escuros compridos e grandes olhos castanhos. Ela lhe contou
que seu sonho era se tornar uma modelo famosa. Potencial e
beleza física a garota tinha de sobra. Recordava-se dela
dizendo que era de Nova York e de como ficara fascinado
com suas histórias e descrições da cidade. Desde aquela época
cresceu nele a vontade de conhecer a Grande Maçã. No
entanto, ao acordar na manhã seguinte, Claire havia sumido.
Ele até chegou a procurá-la, mas foi em vão. E se ela tivesse
engravidado? Fazia tanto tempo que seria impossível lembrar
se tinham tomado precauções para evitar uma gravidez.
Trent, só há uma maneira de sanar essa dúvida: um teste
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de paternidade!, disse a si mesmo, em pensamento. Mas não


queria expor suas suspeitas e indispor sua morena, muitos
poderiam sair machucados dessa história, por isso utilizaria
outros meios, menos ortodoxos, talvez, mas que conseguiria
resolver tudo sem precisar envolver ninguém, só precisava de
uma amostra da garota.
Será que o que estou pensando em fazer é o certo? Ou
estou mexendo no que não devo?
Se fosse algum tempo atrás, talvez agisse de outra maneira,
porém, após o nascimento de Grace, seu instinto paternal
estava muito forte, e se tivesse mesmo uma filha perdida,
queria e precisava saber, ainda mais se fosse uma garota tão
linda e querida quanto a Amy. Agora não tinha mais jeito,
essa pulguinha que vinha insistindo em ficar coçando atrás de
sua orelha teria que ser tirada, de uma maneira ou de outra.

Dezesseis anos. Dezesseis anos que ela se foi, que eu a


perdi. Dezesseis anos de incertezas...
A mulher esguia, de cabelos aloirados e luminosos olhos
azuis, ainda muito bonita no alto dos seus cinquenta e cinco
anos, caminhou até a penteadeira no canto de seu quarto,
abriu uma gaveta e, de um fundo falso, retirou uma foto que
mantinha ali junto a outros documentos, ocultos dos olhos do
marido. Na fotografia, uma menininha linda de quase três

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anos de idade sorria para ela, com seus cabelos castanho-


escuros e olhos da mesma cor. A mulher a guardava ali, pois
não desejava que o marido se aborrecesse. Passou anos à
procura da criança, e essa busca incessante acabou se
tornando uma obsessão. Durante muito tempo, não dormia ou
comia direito, vivia somente em função de encontrá-la,
deixando seu casamento de lado. Tantas dúvidas, tanta
tristeza... Até que chegou o dia em que teve que parar com
tudo, caso contrário, ficaria louca. Prometeu ao marido que
não a procuraria mais, mas o que ele não sabia, é que cada vez
que ela via uma adolescente com as mesmas características da
menina da fotografia, inevitavelmente recordava-se e
questionava-se se ainda estaria viva. Se estivesse, completaria
mais um ano de vida, e a lembrança da data lhe doía. Sem
perceber, rememorava o dia em que a prima, com dezessete
anos na época, lhe contou que estava grávida.

Dezenove anos antes.


— Claire! Você está grávida? — a mulher mais velha
perguntou ao notar a barriguinha saliente da prima.
— Isso mesmo, estou — confirmou Claire, como se isso
não tivesse a menor importância para ela.
— De quanto tempo? — a mulher voltou a indagar,
curiosa.
— Quase quatro meses, mas eu não o terei — contou
Claire, sentando-se no sofá de padrões floridos da sala.

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— E eu posso saber por quê? — questionou a mulher, sem


poder acreditar no que tinha acabo de ouvir.
— Não preciso de uma criança para atrapalhar a minha
vida. Quero me tornar uma modelo, ter um bebê não está nos
meus planos.
— E o pai? Ele já sabe?
— Não, e nem vai saber. Tivemos só uma noite, nunca
mais voltei a vê-lo.
— Mas você tem certeza de que não quer mesmo ter a
criança? Pensa bem, estamos falando de uma vida, Claire!
— Claro que tenho. Já marquei o procedimento na clínica
de aborto, só preciso completar o dinheiro, mas ainda falta
muito — contou a garota, chateada.
— Claire, não faça isso! Além do risco que corre, você
sabe que seus pais não aprovariam que fizesse uma coisa
dessas.
— Eles estão mortos! Não podem aprovar ou desaprovar
mais nada. E se trata da minha vida, do meu futuro! —
argumentou a adolescente, colocando-se de pé e começando
a andar em volta da sala.
— Prima, me escuta, a sua gravidez está muito adiantada,
acho que nem podem mais fazer o aborto. Façamos o
seguinte: você tem a criança, eu e o Theo te ajudamos no que
for preciso durante a gravidez, e, quando nascer, vemos o
que podemos fazer — a mulher sugeriu, fitando-a
esperançosa.
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Claire parou e encarou a prima, intrigada.


— E por que você faria isso, Sienna? Por que está disposta
a me ajudar? — Claire levantou uma sobrancelha, em
dúvida. Era a primeira vez que a prima se prontificava a
fazer algo por ela. Essa boa vontade toda lhe parecia um
tanto quanto suspeita.
— Como você sabe, o Theo e eu demoramos em decidir ter
o nosso primeiro filho. Sempre quisemos ter mais de um,
porém, depois do nascimento do Aaron, isso não foi mais
possível. Tive complicações no parto e correria risco de vida
se engravidasse de novo. Nós sentamos e decidimos que o
Aaron seria filho único, por isso não posso aceitar que faça
um aborto, querida.
— Não sei, não... — Claire ponderou.
— Pensa bem, nós podemos te ajudar, mas com uma
condição.
— E que condição seria essa?
— Você tem que ficar limpa durante todo o período de
gravidez.
— Eu já estou limpa. Desde que soube que estava grávida
eu não uso nada, e nem sei bem porque fiz isso, já que não o
quero.
— Vai me dizer quem é o pai? Acho que será necessário
pedir a desistência dos direitos de paternidade em algum
momento, no caso de você decidir dar à luz.

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— Não será preciso. Ele é de outro estado e nem deve se


lembrar de mim.
— Mesmo assim, Claire. Ele terá direitos sobre a criança.
— Só sei o primeiro nome dele — a garota contou. — Não
me olha assim, nos conhecemos em uma festa e aconteceu. Eu
nunca fui promíscua, mas rolou uma química muito forte, não
deu para segurar — justificou-se, sentindo-se constrangida
por estar falando do assunto com a prima.
— Então diz pelo menos o primeiro nome e de onde ele é.
— Eu o conheci em San Diego, na Califórnia.
— Hum, na sua viagem de férias?!
— Isso mesmo. A festa foi na praia, algo passageiro, mas
me resultou esse problema aqui — falou olhando para o
próprio ventre.
— Não o chame assim! É uma criança, Claire, não um
problema! — a prima ralhou com ela. — Você tem onde
ficar? Seria bom se ficasse na minha casa — sugeriu.
— Eu não me sentiria à vontade, prefiro ficar com a minha
avó. A casa dela não fica longe daqui.
— Está bem. Mas eu faço questão de te acompanhar nas
consultas e saber como está indo. Nós te enviaremos algum
dinheiro e compraremos o que você precisar.
— E o Theo vai concordar com isso? Em você me ajudar?
— Com ele eu me entendo, não se preocupe.

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— Que saco isso, viu?! Vou ter que adiar todos os planos
que eu tinha para a minha carreira, mas se não tem outro
jeito, que seja, — disse e bufou, aborrecida.
— São só por mais cinco meses. Passa rápido. E o nome
dele? Você não me falou.
— Ele se chama Trent e me disse que estuda Direito na
universidade de lá. Isso é tudo o que eu sei.
E foi assim. Claire acabou sendo convencida a mudar de
ideia quanto a fazer o aborto e concordou em ter o bebê.
Infelizmente, logo após o parto, ocorreu uma grande
complicação, o que culminou em uma forte hemorragia. Os
médicos tentaram, porém, não tiveram como controlar, e a
garota veio a falecer.
Diante da situação e devido ao fato de nenhum membro da
família, além dela e do marido, terem condições de ficar com
o bebê, Sienna e Theo decidiram adotar a menina, que estaria
completando dezenove anos de idade.
— Que você tenha um feliz aniversário, Anne, onde quer
que esteja! — desejou Sienna, tocando a foto com carinho.

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“Take me to church
I’ll worship like a dog at the shrine of your lies
I’ll tell you my sins
So you can sharpen your knife
Offer me that deathless death
Good God, let me give you my life”
Take me to church – Hozier

Uma semana depois, no sábado, Danna, Grant, Betsy e


Trent decidiram que precisavam de uma folga e marcaram
uma saída, os quatro juntos. Betsy ligou para uma agência de
confiança que enviou uma babá para cuidar da pequena
Grace, enquanto Rita tomaria conta dos gêmeos, como
sempre. Não planejavam demorar, e as babás sabiam onde e
como encontrá-los em caso de emergência.

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Amy saiu mais cedo para se reunir com alguns colegas do


colégio na casa de Brenda. Tinham programado uma noite de
pizza e filmes. Se não estava enganada, Danna ouviu, sem
querer, que o rapaz que a tinha acompanhado até o hospital
era um dos convidados, e talvez por isso a filha tenha
demorado tanto a se decidir sobre o que vestir. Quando se
despediu, Danna viu que ela tinha optado por um jeans lavado
e desfiado em lugares estratégicos. Vestia uma camiseta
básica por baixo da jaqueta de couro preta e tinha caprichado
nos cuidados dos longos cabelos. A maquiagem, embora leve,
realizava bem o seu propósito de ressaltar o seu ponto mais
forte: os grandes olhos castanho-esverdeados. Amy era
mesmo muito bonita, e ela não tinha mais nenhuma dúvida de
que a garota estava gostando de um lindo e calado jovem.
Horas mais tarde, sentada em uma das mesas de um bar no
Upper East Side, Danna pensava em quanto tempo não se
sentia tão bem. Na verdade, nem lembrava se alguma vez
tinha estado em um lugar como aquele. Em sua antiga vida e
na roda social que costumava frequentar, sempre por
insistência do ex-marido, era tudo muito luxuoso e
requintado, mas, ao mesmo tempo, frio, afetado e até um
pouco superficial. No bairro onde vivia e no bar onde se
encontrava naquele momento, podia ver como as pessoas
agiam de maneira mais leve e mais solta. Apesar de o bar
estar localizado em um bairro chique, na parte baixa de
Manhattan, ela podia sentir o calor humano e a agitação do
ambiente. Ouvia as conversas, os risos, o burburinho à sua
volta e só sabia que estava adorando cada minuto. Sair e
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relaxar com o Grant e os amigos, em um lugar agradável


como aquele, estava sendo um dos melhores programas da
sua vida, apesar da falta que sentia dos filhos – sentir-se assim
era inevitável, uma vez que, desde o nascimento dos gêmeos,
raras vezes ela tinha se separado deles. E estava tão distraída
com o próprio deslumbre que quase engasgou com o suco de
laranja ao ouvir o comentário da amiga.
— Para mim, ele foi é tarde! — Betsy falou rodando o gelo
com a ponta do dedo antes de levá-lo à boca.
— Morena! — Trent a reprovou baixinho, porém, Betsy
não seria a Betsy se não externasse o que se passava pela sua
cabeça.
— Ah, Trent querido, nós sabemos que eu falo o que
penso! Aquele traste não merecia respirar o mesmo ar que
nós. Só acho.
— De fato o Caleb cometeu muitos erros, mas prefiro não
sentir nada a respeito, nem de bom nem de ruim. Ele agora
faz parte do passado, e não vale a pena tocar no assunto —
disse Danna.
— Concordo plenamente. Vamos conversar sobre outras
coisas e deixar os mortos em paz? — perguntou Trent,
satisfeito em poder falar de algo menos sombrio.
— Está bem, não se fala mais no safado. Mudemos de
tópico. Vamos falar de casamento! — Betsy decidiu animada,
fitando o casal à sua frente, que riam enquanto falavam
baixinho um com o outro. — Quando sai o casório de vocês?

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Grant se deteve e voltou a olhar para os amigos.


— Ainda não marcamos a data. Por mim, teria sido ontem.
— Grant! Não temos porque ter tanta pressa, meu anjo.
Não é um papel que vai fazer alguma diferença entre nós. Não
preciso dele, só de você.
— Mas eu faço questão de fazer como Deus manda.
Inclusive, vamos poder nos casar na igreja e com tudo o que
temos direito. Não me diz que não, Danna — pediu
gracejando.
— Tudo bem. Não sei dizer não para você mesmo — ela
concordou, dando-lhe um beijo.
— Ei, ei, vamos parar? Essa melação toda está me dando
azia! — Betsy reclamou fazendo uma careta.
— Como você é sem graça, Betsy! — retrucou Danna,
mostrando a ponta da língua para ela. — Vai me dizer que
você não é melosa com o Trent?
— Melosa... eu não diria, mas temos os nossos momentos.
Betsy admirou o belo homem sentado ao seu lado e voltou
a olhar para a amiga, trazendo um sorriso safado nos lábios.
Trent deu de ombros. Melhor seria não falar nada, então
levou os olhos para a sua morena. Por certo que não seria
uma má ideia se nós dois nos casássemos em um futuro não
muito distante!, pensou ele.

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Trent não podia mais guardar suas suspeitas para si


mesmo, precisava conversar com alguém, caso contrário,
sentia que poderia explodir a qualquer momento. Sabia que
ser intenso demais era um dos seus maiores defeitos. Quando
punha algo na cabeça, se envolvia de tal maneira que não
conseguia se concentrar em mais nada. Ele vinha remoendo o
assunto havia semanas, e agora estava decidido a se abrir com
a Betsy. Não imaginava qual seria a sua reação, porém, só
saberia depois que falasse. Ela era a sua mulher, a sua
companheira, e se podia, e devia, confiar em alguém para
contar sobre o que o incomodava, esse alguém, sem sombra
de dúvidas, era ela, a pessoa que estava sempre ao seu lado e
a quem amava. Aproximou-se com passos lentos, sentando-se
no sofá de frente ao que ela estava. Aguardou por um minuto,
pois a pegou distraída com algo que via no celular. Pela casa
estar tranquila, uma vez que a filha dormia, Trent percebeu
que este seria o momento ideal para abordar o assunto com
sua morena.
— Betsy, eu estive pensando no que conversamos há
algumas semanas. — Ele a viu girar o rosto em sua direção.
— Não posso negar que fiquei bastante intrigado... — Hesitou
um instante, tomando uma respiração profunda antes de
prosseguir. — Cheguei à conclusão de que existe a
possibilidade de a Amy e eu sermos parentes, e se eu estiver
certo, esse parentesco é bem próximo.
Ela olhou para ele espantada, tentando absorver o que

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havia acabado de ouvir. Não esperava que Trent estivesse


considerando tal possibilidade, afinal de contas, não haviam
tocado mais no assunto desde o dia em que Amy deixara o
hospital.
— Como é? Eu entendi direito? — indagou ela.
— Há muitos anos eu conheci essa garota de nome Claire.
Ela era daqui, de Nova York, e passava férias na Califórnia.
Nós nos conhecemos em uma festa na praia, éramos muito
jovens e só pensávamos em nos divertir antes do verão
terminar e voltarmos para a universidade. Nossos hormônios
estavam a mil e acabamos passando uma noite juntos.
Betsy se levantou em um salto.
— Não acredito nisso, Trent! Você está querendo dizer que
existe uma chance de você ser o pai biológico da Amy? —
perguntou abalada. — Deus do céu! Era só o que me faltava!
— Ei, por que você está falando assim comigo? Não estou
te contando isso para você ficar me julgando por coisas que
fiz quando tinha dezoito anos! Eu tenho consciência do
quanto eu era imaturo e irresponsável na época, mas...
— E pelo jeito não mudou muito! — Betsy o cortou com
um comentário ácido, pois se aborreceu com a novidade.
— O que você quer dizer com isso? — indagou Trent,
unindo as sobrancelhas.
— Não aconteceu o mesmo quando soube que eu tinha
engravidado da nossa filha? Vai ver você também pôs a
paternidade em dúvida e disse para essa garota que o filho não
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era seu. E sem alternativas, a pobre garota acabou dando a


menina para adoção! — especulou com uma carranca.
— O quê?! O que você está dizendo, Betsy? Eu nem sei ao
certo se ela engravidou mesmo de mim! — Trent esbravejou
irritado diante do que tinha acabado de ouvir, porém, logo se
controlou, baixando o tom de voz. — Só estou considerando
uma hipótese — esclareceu. — Fiquei curioso depois de tudo
o que conversamos — explicou ele, ao mesmo tempo em que
passava a se perguntar se não tinha sido um erro tocar no
assunto com ela. — Sei que você ficou magoada por eu ter
duvidado quando soube da sua gravidez, mas eu me arrependi
e te pedi perdão. Pensei que tivéssemos virado essa página,
porém, pelo que vejo, estive me enganando esse tempo todo.
Vai querer mesmo seguir por esse caminho? Vai jogar as
falhas que cometi na minha cara pelo resto da vida? —
questionou chateado.
— Não, claro que não. Desculpe-me, Trent. Foi um
comentário cruel e desnecessário. Eu não deveria ter dito isso.
É que fiquei chocada ao te imaginar como pai da Amy —
justificou-se, arrependida.
— Eu te entendo, morena, e não pense que essa situação
não está sendo um choque para mim também. Estamos apenas
no nível de suspeitas, Betsy. E te recordo de quem estamos
falando aqui, da filha da sua melhor amiga. Sei que parece
loucura, mas nos demos bem logo de cara. Temos uma boa
sintonia desde que nos conhecemos. Essa empatia entre nós, a
conversa que tivemos depois da crise e o tipo sanguíneo, me

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levaram a pensar que não seria tão absurdo pensar nela como
sendo minha.
Betsy recordou de quando ela veio até a casa deles para
agradecê-lo pessoalmente pela doação. Abordou o assunto,
ainda meio tímida no início, mas Trent falou algo que a fez rir
e a garota relaxou. Podia-se notar que os dois se davam muito
bem, inclusive tinham interesses em comum, apesar da
diferença de idade entre os dois. Lembrou-se de como ele
havia se emocionado com as palavras de agradecimento de
Amy, dizendo que lhe devia a vida, o tocando profundamente.
O grandão ficou até sem jeito, murmurando frases desconexas
a fim de disfarçar o embaraço.
— Nesse caso, existe uma maneira de comprovar se o que
você está pensando é verdade ou não — disse Betsy, mais
calma e aceitando o fato de seu homem poder ser o pai da
filha da amiga.
— Está me dizendo para fazer um teste de paternidade? —
averiguou Trent, prosseguindo quando a viu anuir com a
cabeça. — Eu cheguei a pensar nisso, mas não sei, a garota
acabou de perder o homem que sempre considerou como pai
— ponderou inseguro.
— Um pai canalha que nunca a amou de verdade! — Betsy
acrescentou ácida, seus lábios se tornando uma linha fina,
sentia-se irritada só de se lembrar do maldito.
— Você não tem como saber disso, morena, talvez o cara a
amasse, afinal, criou a menina desde muito pequena.

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— Desculpe-me, não concordo. Sei que é triste constatar


isso, mas o Caleb só amava uma pessoa: ele mesmo! Agora,
me diz uma coisa, Trent, o que pretende fazer se isso for
mesmo verdade?
— Não sei, não pensei nisso ainda. Acho melhor termos
certeza primeiro, antes de ficarmos fazendo qualquer tipo de
plano.
— E como você está? Quero dizer, como se sente com
relação à possibilidade de ser o pai biológico de uma garota
como a Amy?
— Eu me sinto bem, mas ao mesmo tempo penso que
preciso me resguardar um pouco, para o caso de estarmos
errados, de isso tudo não passar de devaneios da minha
cabeça — Trent respondeu absorto.
— Então, o próximo passo é mesmo tirarmos essa dúvida
— concluiu Betsy, colocando-se definitivamente ao seu lado.
— Urso, outra menina? — perguntou e o viu girar o pescoço
em sua direção, franzido o cenho.
— Se o que penso for mesmo verdade... Três mulheres na
minha vida? Eu estou é ferrado! — admitiu um Trent
sorridente.
— Uma hora dessas podemos tentar um menininho, se
você quiser — a morena sugeriu com um olhar insinuante.
Trent surpreendeu-se com a proposta.
— Fala sério?

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— Eu falei tentar. Você sabe que eu adoraria ser mãe de


um mini Trent.
— Já me faz adorar a ideia só o fato de você falar em
tentar. — Sorriu abertamente para ela. — Mas quanto ao
assunto da Amy, você está comigo? Preciso que me apoie
nisso, Betsy.
— Sim, meu urso gostoso, eu estou com você. Vamos tirar
essa história a limpo.
— Eu agradeço e fico feliz que esteja comigo, bonita, só
que não quero fazer nada escondido, não me sinto bem
mentindo ou ocultando as coisas. Acho que deveríamos falar
com a Danna antes de tomar qualquer providência. Temos
que ser leais com ela e com o Grant.
— Tem razão. Também odeio mentira, e eu não teria
coragem de fazer isso com a minha amiga. A Danna já sofreu
muito, vamos encontrar o melhor momento para falarmos
com eles.
— Obrigado mais uma vez, bonita — disse Trent, tomando
as mãos dela nas suas.
— Pelo quê?
— Por me apoiar e me entender.
— Se você esqueceu, eu vou te lembrar: Trent, eu te amo,
além do mais, sempre considerei a Amy como parte da minha
família, e sei que ela sente o mesmo com relação a mim, tanto
que me chama de tia. Nesse caso, posso afirmar com toda
certeza que só tornaremos oficial um sentimento que existe há
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anos.
— Está bem, e se vamos fazer isso, que seja da maneira
correta. Sem mentiras, sem enganos. De frente — concluiu
ele, coçando o queixo e voltando a ficar pensativo.

Levou mais de uma semana para Danna juntar coragem e


voltar a pôr os pés na casa onde viveu quase metade de sua
vida. Ao chegarem, ela desceu da pick-up e esperou por
Grant. Não queria entrar sozinha. Tinha esperado que ele
tivesse uma folga no trabalho para poderem irem juntos. Ele
havia se apresentado no distrito uma semana antes, como era
previsto. E pelo que lhe contava, estava indo muito bem.
Aquela ruguinha de preocupação que o acompanhava há
vários meses, por fim, se desfez. Agora se via relaxado e
sorria com mais frequência. A vida continuava sendo boa e
generosa com eles. Definitivamente, não tinham do que
reclamar. Ao vê-lo se aproximar, Danna tomou sua mão.
Trocaram um olhar de expectativa e deram o primeiro
passo em direção à entrada.
Grant fitou a casa e ficou impressionado com a arquitetura
moderna. Na parte de fora podia observar grandes espaços
livres e muito bem cuidados. Era revestida de tijolos em uma
apresentação impecável. Teve que admitir que se tratava de
uma residência imponente, com linhas muito elegantes. Ao
passar pela porta, ele não pôde evitar voltar a ficar
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boquiaberto com tamanho luxo e requinte. Só agora via por si


mesmo do que a mulher havia desistido para morar em uma
casa simples em um bairro como o Queens. Tudo era muito
bonito e de ótima qualidade, afinal, era uma mansão nos
Hamptons, um balneário de luxo, famoso por ser um reduto
conhecido dos ricos e famosos.
Danna pareceu ignorar o modo como ele se sentia e não
perdeu tempo. Caminhou através de um corredor largo e
comprido, de piso de madeira polida, levando-o junto com
ela. Parou em frente a uma das portas e a abriu.
— É aqui onde está o cofre — ela disse e ambos
entraram.
Grant percebeu que estavam em uma biblioteca. Passou os
olhos pelas estantes envidraçadas que começavam a um metro
do chão e iam até o teto. Os móveis eram bonitos e pareciam
muito caros. Na verdade, nem fazia ideia de quanto valia um
lugar como aquele. Definitivamente, aquele não era o seu
ambiente, era luxo demais para uma pessoa de gostos simples
como os dele.
Danna soltou sua mão, foi até a parede atrás da
escrivaninha e apertou um pequeno botão, posicionado de
modo discreto ao lado de um grande quadro afixado ali, que
tomava boa parte da parede. Grant não entendia muito do
assunto, mas já havia folheado alguns livros de arte em sua
vida. Deduziu se tratar de um Pollock3, pelo expressionismo
abstrato e surrealismo da obra, características inconfundíveis
do pintor. Era realmente impressionante, as cores e os
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materiais utilizados causavam impacto em quem se deparava


com elas.
Ainda se encontrava admirando o quadro, distraído,
quando ouviu um clique. O som metálico chamou sua atenção
e uma espécie de mecanismo fez correr uma janelinha de
madeira, deixando à mostra um cofre de tamanho médio.
— Ele não me deixava saber a combinação e nem o que
guardava aqui dentro, mas eu sempre soube da existência
desse cofre.
Grant se aproximou e parou ao seu lado, observando
enquanto ela digitava o segredo, e um minuto depois, o cofre
se abria. Danna retirou o conteúdo e os espalhou sobre a
mesa. Ambos começaram a examinar os documentos com
máxima atenção. Grant encontrou o testamente dentro de uma
das pastas, e além dele, duas apólices de seguro, uma em
nome de Danna e outra em nome de Amy. Ficou espantado
quando leu o valor de cada uma delas.
— Danna, ele deixou duas apólices de um milhão de
dólares cada, e esta casa está no nome da Amy — falou
mostrando a escritura para ela.
— Não pode ser. Está falando sério? — Danna parou o que
fazia e pegou os papéis de suas mãos, pois queria ver com os
próprios olhos. — Nossa, é verdade. Não sei nem o que dizer
— comentou levando o olhar assombrado para ele. — Eu não
fazia a menor ideia, Caleb nunca me deixava a par do que
fazia.

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— Essas apólices estão válidas. Ele deve ter deixado


instruções para que alguém de sua confiança efetuasse os
pagamentos das parcelas, mesmo depois de ter sido preso.
— Grant, dois milhões de dólares, esta casa, mais o que
consta no testamento... É muito dinheiro! E o que me deixa
aliviada é saber que tudo isso não é proveniente de seus
negócios ilícitos. A casa, por exemplo, ele recebeu de herança
em vida, dos pais, logo depois de nos casarmos.
Danna parou de falar quando se pôs a abrir um envelope
pardo e de onde retirou algumas fotografias. Nelas se podia
ver uma mulher alta e loira com uma criança. Em uma delas a
garotinha estava em seu colo, em outra, estavam de mãos
dadas. Danna só precisou de um segundo para reconhecê-la.
A menina na foto era sua filha. Ela mesma possuía fotos da
criança com aquela idade.
— Essa menininha é a Amy, só que não faço ideia de quem
possa ser essa mulher — comentou, estendendo a foto para
ele. — Olha isso, Grant.
— Você tem certeza que é mesmo ela? — perguntou ele,
olhando atento para a foto que tinha em mãos.
— Tenho. Eu sei que é ela. No verso de uma das fotos está
escrito o nome Anne.
De repente, um pensamento assustador cruzou sua mente, e
o impacto do que pensou a atingiu como um soco no
estômago. Começou a tremer e a sentir seus batimentos
cardíacos chegarem a patamares altíssimos. Precisou se sentar

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na cadeira atrás da escrivaninha, pois suas pernas começaram


a falhar. Aguardou por alguns minutos até a vertigem que a
acometeu melhorasse, só então foi capaz de articular as
palavras e externar o que se passava em sua cabeça.
— Meu Deus! O que o Caleb fez? Será que ele a roubou?
— questionou com uma expressão de espanto e incredulidade.
— Ele disse na carta que eu encontraria informações sobre a
origem dela.
— Bom, sabemos que ele era capaz de fazer qualquer
coisa. Tem algo mais no envelope além das fotos?
Danna introduziu a mão novamente dentro do envelope e
esta retornou com alguns maços de papel, grampeados em
pequenos blocos.
— Tem isso aqui — respondeu ela, os mostrando para ele.
Ainda estava trêmula, tinha a sensação de que poderia perder
os sentidos a qualquer momento. Consciente disso, fez de
tudo para se acalmar, permanecendo sentada e puxando o ar
devagar.
— Deixe-me ver — pediu Grant, estendendo a mão para
pegá-los, passando a analisar com cuidado o conteúdo das
diversas folhas. Virou algumas páginas e não demorou a
perceber do que se tratavam. As fotos e os relatórios eram de
vigilância, somando à informação que ele tinha deixado na
carta, só era possível chegar a uma conclusão.
— O Caleb sequestrou a sua filha, Danna. O filho da mãe
foi capaz de arrancar uma criança de dois anos da sua

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verdadeira família. Que desgraçado! — Grant exclamou


alterado, e os dois permaneceram por um minuto inteiro se
encarando, aturdidos.

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“Nobody said it was easy


It’s such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh take me back to the start”
The Scientist – Coldplay

Isso só pode ser um pesadelo, um sonho ruim, e logo eu


vou acordar e tudo vai ter sumido, pensou uma Danna cada
vez mais aflita, porém, para sua decepção e tristeza, não foi o
que aconteceu. Era triste, cruel e terrivelmente difícil de
acreditar, ainda assim, não deixava de ser verdade.
— Por que ele faria isso? Com tantas crianças órfãs no
mundo precisando de pai e mãe, o Caleb tinha que roubar
justo a Amy? O que vamos fazer? Céus, como eu vou contar
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isso para ela? — Danna fez uma pergunta atrás da outra,


sentindo-se agoniada. — A culpa é minha, fui eu que insisti
para que adotássemos uma criança, eu fui a obcecada.
Percebendo que a mulher estava a ponto de perder o
controle, Grant a tomou nos braços e passou a acariciar seus
cabelos, tratando de acalmá-la.
— Não fala isso, Danna! De nenhuma maneira isso é culpa
sua! Amor, temos que ficar calmos. Desespero não vai nos
levar a lugar nenhum — pediu Grant, tentando manter-se o
mais racional possível. Virou-a para ele em um gesto gentil e
procurou por seus olhos. Pousou as mãos em seus ombros,
porém, logo envolveu seu rosto com elas. — A primeira coisa
que devemos fazer é manter a cabeça fria. Eu sei que você
ficou abalada com tudo o que descobrimos, mas tenta se
acalmar, está bem?
— Estou com medo, Grant — Danna confessou trêmula,
abraçando-o e sendo abraçada por ele.
— Danna, me escuta, vamos analisar tudo isso aqui com
tranquilidade e depois pensamos sobre o que fazer a respeito,
está bem? Não precisamos tomar nenhuma decisão agora.
Sequestro é algo muito sério. Temos que pensar bem em cada
passo que daremos daqui para frente. Não podemos deixar
nenhuma brecha. Precisamos evitar ao máximo que pensem
que, de alguma maneira, você esteve conivente com esse
esquema montado pelo psicopata do Caleb — Grant falou de
modo pausado.
— É claro que eu não sabia. Deus, tudo isso é uma
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tremenda loucura! —retrucou Danna, sentindo-se perdida,


afastando-se alguns centímetros de seu peito. — Certa vez o
Caleb chegou em casa e me disse que íamos sair, então me
levou até um orfanato. — Deu uma pequena pausa, pensativa.
— Grant, o orfanato! — exclamou ao se lembrar de alguns
detalhes daquele dia. — Foi ele quem me mostrou a Amy
quando chegamos lá! Foi logo dissertando sobre como ela era
bonita, tranquila, e elucidando todos os motivos para me
convencer a ficar com a menina. É claro que não precisou de
muito para eu me decidir, pois a Amy tocou meu coração
assim que a vi. Meu Deus, ele fez tudo de caso pensado! —
constatou, sentindo-se indignada e enfurecida. — Caleb foi o
ser mais desprezível que eu conheci! Um verdadeiro monstro!
— Provavelmente deve ter comprado uma pessoa de lá de
dentro, talvez até mesmo o responsável. Diante das
circunstâncias, isso é até bom, pois prova que você não tinha
como saber e que foi enganada por ele. Apaixonou-se pela
garotinha e agiu de boa-fé ao levá-la para a sua casa.
— Passamos por todo o processo e levamos mais de um
ano para obtermos a adoção definitiva. Ele foi muito
meticuloso. Planejou cada detalhe. Mas por que guardar essas
fotos? Os relatórios? Tudo isso são provas do que ele fez. Eu
não entendi.
— Como você sabe que as pessoas que acompanharam o
processo eram idôneas, ou reais? Podia muito bem ser gente
dele, inseridos naquele lugar com o único objetivo de te
enganar. Talvez não tenhamos respostas para todas as nossas

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perguntas, agora que Caleb está morto, mas uma coisa é certa,
a Amy vai ter que saber a verdade. Princesa, nós precisamos
contar para ela.
— Contar para ela? Agora? Não, Grant! — balbuciou
Danna, agoniada.
— Danna, deve ter uma família desesperada à procura dela
em algum lugar! — ponderou Grant, a veemência colocada
em sua voz desvanecendo-se diante da visão atormentada da
mulher.
— Só que é da minha filha que estamos falando, Grant!
Fui eu que a criei, eu a amo mais que a minha própria vida, do
mesmo modo como amo o Luke e a Chloe. E se ela conhecer
a família biológica e quiser viver com eles? Eu não posso
me separar dela. Não pretendo ser egoísta, mas vai doer
demais se a Amy me rejeitar como mãe!
— Ainda que a Amy venha a conhecer os pais verdadeiros,
ela te ama, e os sentimentos não mudam ou acabam de uma
hora para outra. Não vai acontecer nada do que você está
imaginando, portanto, não vamos antecipar as coisas, está
bem? Vai dar tudo certo, princesa! — Garantiu Grant,
tratando de consolá-la.
— Espero que consigamos resolver essa situação da
melhor maneira possível, mas eu tenho que aceitar que você
tem razão, devem ter pessoas procurando por ela. Essa mulher
da foto, por exemplo.
— Isso mesmo. Sei que você é generosa e que consegue se

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colocar no lugar deles. E é assim que se fala, meu amor,


vamos manter o ânimo e o pensamento positivo — aprovou
Grant, trazendo-a mais para o seu peito e acariciando seus
cabelos. Logo lhe envolveu o rosto com as mãos. — Eu te
entendo e imagino como está sendo difícil para você, mas os
relatórios e as fotos provam que o Caleb a roubou. Não tem
outra explicação, só não sabemos o motivo.
— Vamos esperar um pouco para contar para ela, Grant.
Faz isso por mim? — pediu Danna, os olhos marejados. — A
Amy acaba de passar por dois traumas, será demais para a
pobrezinha.
Grant não teve como negar seu pedido, então balançou a
cabeça, assentindo.
— Tudo bem, vamos nos dar um tempo para pensarmos
melhor no que podemos fazer com tudo isso. O que ele fez foi
um crime hediondo, tirar uma criança indefesa do seio da
família. Isso é o tipo de coisa que só um monstro é capaz de
fazer.
— Mas como será que ele fez? Digo, no orfanato todos os
documentos dela pareciam normais.
— Deve ter tido ajuda e falsificado a certidão de
nascimento, não sei. Sabemos que foi um homem muito
esperto, ardiloso e sem escrúpulo nenhum. Bom, tirando essa
parte, já notou que agora vocês duas estão ricas?
— Sim, eu percebi.
— E quanto às apólices, a casa e o que ele deixou no
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testamento, já tem alguma ideia do que vai fazer?


— A primeira coisa é resgatar os prêmios do seguro e criar
fundos para cada um dos nossos filhos. Em segundo lugar,
colocar essa casa à venda. Depois, você e eu vamos decidir o
que fazer com o que ele deixou especificado no testamento —
concluiu Danna. Dentro do possível, sentia-se mais calma e
controlada.
— Vai vender mesmo? Não pretende voltar a morar aqui?
— Grant questionou e aguardou ansioso por sua resposta.
Embora gostasse do que via, a última coisa que queria era
morar na mesma casa em que o crápula viveu.
— Não. Esse bairro deixou de ser o meu bairro desde que
saí daqui. Olhando para trás e comparando com o que tenho
hoje, este lugar nunca foi um lar de verdade. Com exceção
dos momentos bons que passei com a Amy, eu não fui feliz
aqui.
Grant não podia ter ficado mais aliviado ao ouvir suas
palavras.
— Fico feliz em saber que pensa assim. — Seus lábios se
encontraram em um beijo amoroso. — Faremos as coisas à
sua maneira. Agora, vamos juntar essa papelada toda e sair
daqui — Grant falou ao se separarem, começando a colocar
em prática o que tinha acabado de verbalizar.
Danna concordou com ele, pois não via a hora de deixar
aquele lugar.

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Betsy e Trent decidiram que teriam uma conversa com os


amigos naquele mesmo dia. Exporiam diante deles a dúvida
que tinham sobre a paternidade da Amy. Grant e Danna
haviam acabado de chegar em casa quando o celular dele
tocou. Notou que se tratava do amigo um segundo antes de
atender.
— Trent! Tudo bem, cara?
— Tudo, sim. Escuta, Grant, a Betsy e eu temos algo
importante para falar com vocês. Tudo bem se passarmos aí
ainda hoje?
— Claro! Não tem problema nenhum. Hoje é meu dia
folga e estou em casa. Podem vir quando quiserem.
— Ok, estamos saindo agora, meia hora e chegamos aí.
— Combinado. Até daqui a pouco! — Grant se despediu e
cortou a chamada.
— O que foi? — perguntou Danna, aproximando-se e
estranhando a expressão grave e pensativa do rosto do amado
ao desligar o aparelho.
— Não sei. O Trent e a Betsy estão vindo para cá. Parece
que eles têm um assunto para conversar com nós dois.
— E ele não te adiantou nada?
— Não, e eu também não perguntei. De qualquer maneira,
vamos saber dentro de alguns minutos, já estão a caminho —
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contou Grant, andando em direção à escada. — Vou subir e


guardar essas coisas no nosso quarto. Volto logo — avisou,
referindo-se às várias pastas que levava nas mãos.
— Está bem. Eu te espero. Já que vai estar lá em cima, dá
uma olhadinha no Luke e na Chloe e pergunta para a Rita
como eles se comportaram.
Dizendo isso, Danna se dirigiu à cozinha com a intenção
de tomar um copo d’água. Continuava tentando assimilar e
entender o que haviam descoberto. Não estava sendo nada
fácil digerir tudo aquilo.
Quarenta minutos depois, viu os amigos entrarem e não
pôde deixar de notar que ambos traziam expressões sérias no
rosto, o que, por si só, já era algo inusitado tratando-se de
Trent e Betsy.
— Aconteceu alguma coisa? Vocês estão com umas
caras... — Grant comentou apreensivo.
— Na verdade, sim. Aconteceu algo e precisamos dividir
isso com vocês — respondeu Trent, esfregando as mãos uma
na outra, demonstrando certo nervosismo com o gesto.
— Nossa, pelo jeito o negócio é sério mesmo! Melhor nos
sentarmos — Danna os convidou e os quatro se acomodaram
na sala de visitas.
— A Amy está em casa? — averiguou Trent.
— Não — respondeu Danna, levemente tensa. — Ela foi
estudar na casa da Brenda. Por quê?

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— Porque o assunto em questão tem a ver com ela —


esclareceu ele. — Bom, eu não vou ficar rodeando, pois a
situação requer certa urgência. — Deu uma olhada de canto
de olho para a mulher, que a devolveu e apertou sua mão em
sinal de apoio. — Depois que eu soube que a Amy tinha sido
adotada... — prosseguiu, porém, logo foi interrompido.
— Eu senti a necessidade de comentar com o Trent,
Danna. Depois do episódio da doação de sangue — adiantou
Betsy, a despeito do olhar de censura que recebeu da amiga.
Antes de continuar, Trent as observou por um momento.
— Não é hora para isso! — disse, chamando a atenção das
duas. — Como eu estava dizendo, fiquei com uma coisa
martelando na minha cabeça após a internação da Amy. Não
consegui deixar de pensar nisso e decidi que enlouqueceria se
não tirasse a dúvida.
— Que dúvida? Do que você está falando? — indagou
Grant, inclinando o tronco para frente.
— O fato de a Amy e eu termos o mesmo tipo raro de
sangue pode não ser apenas uma coincidência.
— Não? E o que te faz pensar assim? — questionou
Danna, começando a sentir os batimentos cardíacos
acelerarem.
— Pensei muito e cheguei à conclusão de que, por mais
incrível e surreal que possa parecer, existe uma chance de eu
ser o pai biológico da Amy — concluiu Trent.
Danna ficou boquiaberta com a revelação.
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— Você? O pai biológico da Amy? Deus, nem sei o que


dizer!
— Vou contar tudo em detalhes para que entendam
melhor. — Dito isso, Trent explicou para os amigos tudo o
que havia explanado antes para a mulher. — Nós viemos aqui
pensando em dividir essas nossas suspeitas com vocês. Não
quisemos esconder nada. Eu preciso que vocês me apoiem
nisso. Preciso mesmo descobrir a verdade.
— Você está dizendo que quer fazer um teste de
paternidade? É isso? — perguntou Danna, deduzindo o óbvio.
— Exato! Só que para poder fazê-lo, vou precisar de ajuda.
Danna levantou e se pôs a andar pela sala, visivelmente
agitada. Aquele dia estava sendo atípico e inusitado. Havia
descoberto que a filha tinha sido arrancada do seio de sua
família e agora se via diante da possibilidade de estar de
frente com seu pai biológico. Não sabia o que fazer ou qual
atitude tomar. De súbito, estacou, mantendo-se pensativa por
mais um minuto e tentando decidir sobre o melhor a fazer. Os
demais a observavam enquanto ela lutava consigo mesma.
Após considerar alguns fatos, por fim, chegou a uma
conclusão.
— Trent, você é o melhor amigo do homem que eu amo e
o companheiro da minha melhor amiga. O que fez pelo Grant
e pela Amy não tem preço, e seremos gratos a você pelo resto
de nossas vidas. A minha filha, infelizmente, não teve do pai
que a criou o amor que ela sempre mereceu. Caleb era um
pouco distante e frio com ela. Não estou dizendo que não a
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amasse, só que foram raras as vezes que demonstrou esse


amor. Eu vi como vocês dois se deram bem assim que se
conheceram, e sei que você gosta muito dela. Se você for
mesmo o pai da Amy, isso só vai nos unir ainda mais. Não
posso ser contra um pedido como esse, partindo de você. Está
bem, nós, o Grant e eu, te damos total apoio. Certo, querido?
— Eu concordo com cada palavra que a Danna acaba de
dizer, nem preciso acrescentar mais nada, porque você sabe
muito bem como eu me sinto — declarou Grant, o olhar fixo
no rosto do amigo.
Trent deixou escapar um suspiro de alívio. A primeira
parte estava concluída, e da melhor maneira possível.
— Eu fico feliz com o apoio de vocês, agora vou precisar
de uma amostra dela. Não falaremos nada até que tenhamos
certeza, concordam?
— É claro que concordamos — anuiu Danna, vendo Grant
assentir com a cabeça.
— Preciso de uma amostra para fazer o exame. Pode ser a
escova dental ou a de cabelo. Já entrei em contato com um
laboratório e me deram o prazo de três dias para obter o
resultado. É o mais rápido.
Danna não disse nada, apenas deixou a sala e foi subindo
as escadas. Cinco minutos depois, voltou com a escova de
cabelo da filha nas mãos. Trent tirou um saquinho plástico do
bolso da jaqueta e ela depositou o objeto ali dentro.
— Vou até o laboratório agora mesmo. Quando eu pegar o
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resultado, o trago para cá e abrimos juntos.


— Perfeito! — Grant tomou a mão da mulher na sua, que
havia voltado a se sentar ao seu lado.

Três dias depois.


— E então, Betsy?
— Oi, Danna! O Trent e eu acabamos de sair do
laboratório e temos o resultado do exame. Estamos indo para
aí agora. Esse homem não está se aguentando de tanta
ansiedade.
— Nem nós, amiga. Está difícil mesmo suportar toda essa
tensão.
Os últimos três dias tinham sido de ansiedade, angústia e
tensão. Mal podiam esperar para saber se Trent era o pai
biológico da Amy ou não.
Nesse momento, Grant estava no estúdio. Tinha ido ajeitar
alguma coisa por lá depois que chegou do trabalho, só para
ocupar a mente, e após desligar o telefone, Danna decidiu ir
até a cozinha para preparar algo para eles.
Grant sentiu o celular vibrar dentro do bolso da calça. Por
pensar se tratar de Trent, atendeu sem mesmo ver quem o
estava chamando. Sabia que o amigo tinha ficado de pegar o
resultado do exame de paternidade.
— Alô?
— Grant?
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— Sim, sou eu. Quem fala? — perguntou ele, não


reconhecendo a voz do outro lado da linha.
— Harry.
Grant sentiu as entranhas se contorcerem ao ouvir aquele
nome, e pôde unir a voz ao rosto daquele que um dia tinha
sido seu melhor amigo.
— O que você quer? E como conseguiu o meu número?
— Tenho os meus meios. Não desliga, Grant, preciso
muito falar com você.
— Você não estava preso? Quando saiu?
— Eu peguei poucos meses e saí há uma semana, foi
quando eu soube do atentado contra você.
— Não me surpreende que tenha ficado sabendo, uma vez
que sempre fez parte daquela corja de bandidos — comentou
ele, enojado. — Saiu rápido — concluiu em tom de zombaria.
— Fiz um acordo e testemunhei contra os demais —
esclareceu Harry, sem um pingo de vergonha, afinal, ser leal
não era mesmo com ele.
— Tomei ciência desse seu acordo nojento.
— Eu sei que mereço ouvir isso — admitiu Harry,
absorvendo o sarcasmo do ex-amigo.
— Pode apostar que sim. Diz logo o que quer, Harry, não
tenho tempo para perder com gente da sua laia — Grant falou
impaciente.

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— Hoje eu posso dizer que sei pelo que você passou. Há


muito tempo que eu me arrependi do que fiz.
— Meio tarde para isso, não acha? Seu arrependimento
não me diz nada, Harry.
— Eu sei, só queria que soubesse, e liguei para esclarecer
uma coisa sobre a Lisa também.
— Nada que vem dessa mulher me interessa, só de
mencionar esse nome me dá vontade de vomitar.
— Espera, me dá uma chance, cara! — pediu Harry,
sentindo que Grant estava a ponto de desligar. — O que tenho
para falar pode te interessar, é sério! Eu não te ligaria se não
fosse do seu interesse.
— Está bem. Você tem um minuto antes de eu encerrar a
chamada —Grant cedeu, suspirando impaciente.
— Lembra-se da carta que ela te enviou, aquela contando
que tinha interrompido a gravidez, e também que eu não
queria criar o filho de outro homem?
— Como você sabe disso? — perguntou Grant, em choque,
imaginando uma ou duas maneiras de Harry saber.
— Eu estava do lado dela quando escreveu, falei para não
mandar, que ela estava sendo cruel demais, mas a filha da
mãe achou que seria divertido.
Grant sentiu o corpo enrijecer.
— Por favor, Harry, isso é passado, já se passaram quatro
anos...
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— Pois era falsa! — Harry o interrompeu.


— O que era falsa?
— Tudo! A Lisa nunca esteve grávida, nem de você, nem
de ninguém! Como eu disse, fez por maldade e diversão. Eu
só queria que você soubesse. Pode não acreditar, mas é
verdade quando digo que me arrependo de tudo o que fiz.
Éramos amigos e eu me deixei levar pela luxúria e pela
ganância. Você não merecia passar pelo que passou. Eu sinto
muito, Grant. De verdade! Posso ser um traidor desgraçado e
você pode pensar o que quiser de mim, mas eu nunca
obrigaria uma mulher a abortar, independente de quem fosse
o pai!
— Quer dizer que ela nunca esteve esperando um filho
meu? — Grant pediu por confirmação. Apesar de pasmo,
sentiu certo alívio em saber que toda aquela história não
passou de uma mentira sórdida, engendrada por uma mulher
louca e desequilibrada, porque, apesar de tudo, ainda
carregava aquela tristeza por não ter conseguido aceitar o que
ela tinha sido capaz de fazer.
— Não, nunca. E não achei uma explicação para tanta
crueldade da parte dela. Sinto muito por não ter contado
antes.
— Sabe qual é a minha vontade nesse momento, Harry? —
indagou Grant, cerrando um dos punhos.
— Pelo que eu te conheço e pelo seu tom de voz, sua
vontade é a de me dar um soco bem no meio da cara! —

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Grant ouviu o homem respirando pesadamente do outro lado


da linha.
— Exato! Tem uma sorte danada de não estar aqui, bem na
minha frente! Um dos motivos que me ajudaram a sobreviver
naquele lugar foi o pensamento de que eu ainda poderia te
moer de pancada. Você ajudou aqueles bandidos desgraçados
a me mandarem para o inferno, seu maldito covarde! —
vociferou ele, perdendo o controle.
Harry assimilou cada uma das palavras iradas que ouvia. A
única coisa que podia fazer era pedir perdão, ainda que
soubesse que Grant não o perdoaria, mesmo assim, iria se
humilhar e pedir desculpas por todo mal que havia lhe
causado ao participar de um plano tão sórdido como aquele.
— Sei que está com raiva de mim e te entendo. Eu me
sentiria igual se tivessem feito o mesmo comigo. Quem sabe
um dia você não tenha essa oportunidade? — falou e riu sem
vontade. — Eu nem vou me defender, poderá fazer o que
quiser comigo, bater, chutar, socar, o que sentir vontade, mas
espero que, depois de ter feito tudo isso, você possa ao menos
pensar na possibilidade de, algum dia, me perdoar pelo que te
fiz.
Grant ouviu o pedido de desculpas, mas não respondeu,
desligou o celular, pois não tinha mais nada a dizer. Havia
passado tanto tempo odiando aquele cara que sentia não estar
pronto para sequer pensar em perdão. Tinha plena consciência
de que esse momento chegaria, e tudo o que ouviu somente
reafirmou o fato de que, de nenhuma maneira, os dois
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voltariam a ser amigos, isso havia se perdido para sempre. A


confiança, que um dia existiu entre os dois, fora quebrada,
mas essa mágoa que ainda carregava dentro dele passaria, e só
então poderia ficar em paz com o seu passado. Queria ser
capaz de perdoá-lo, talvez um dia, e quando esse momento
chegasse, ele poderia dizer que tinha deixado essa parte
sórdida e triste de sua vida para trás. Só que esse dia ainda
não havia chegado.
Guardava o celular no bolso quando percebeu um carro
estacionando na frente da casa. Pelo ruído do motor, soube
que eram Betsy e Trent. Deviam estar trazendo o resultado do
exame que todos tanto esperavam. Saiu de onde estava e
caminhou até o portão, pronto para recebê-los. Logo os
observou deixar o automóvel e viu Betsy com a pequena
Grace nos braços.
— Olá, pessoal. Estamos ansiosos, então vamos logo com
isso! — disse Grant, dando passagem para o casal entrar.
Minutos depois, com todos de pé no meio da sala, abriram
o envelope. Trent desdobrou o exame e sua expressão mudou
de ansioso para espantado. Betsy não conseguiu se conter,
pois estava morta de curiosidade.
— E então, urso? Qual foi o resultado? — perguntou
ansiosa.
Trent sentiu o coração querendo saltar do peito de tão forte
que batia. Pensou em se sentar e começou a suar frio devido à
emoção. Aquele resultado, inesperado e assustador, tirou-o do
eixo.
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— Deu positivo! Eu sou mesmo o pai biológico da Amy!


— anunciou ele.
— O quê?! Eu escutei direito?
Ao ouvirem a pergunta, os quatro olharam assustados em
direção à porta de entrada. Estavam tão concentrados no
resultado do exame, que sanaria uma grande dúvida e mudaria
suas vidas de certo modo, que nem notaram a presença da
adolescente, até que a ouviram.
— Que história é essa do Trent ser o meu pai biológico? —
inquiriu Amy, com os olhos arregalados, terminando de entrar
na sala e parando em frente aos dois casais. Ficou ali, olhando
atônita para eles, esperando por uma explicação.

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“And this is how, you remind me


Of what I really am
This is how, you remind me
Of what I really am”
You remind me – Nickelback

— Então? Estou esperando! Vão ficar aí parados só me


olhando? Não vão me dizer nada? — perguntou Amy,
cruzando os braços na altura do peito. — Há quanto tempo
vocês estão sabendo que o Trent é meu pai biológico?
Trent deixou escapar um suspiro pesado e os quatro se
entreolharam. Danna se adiantou, envolvendo os ombros da
filha em um meio abraço.
— Amy, querida, não era para você saber dessa forma, tão
brusca e intempestiva. Vem aqui, sente-se comigo, vamos te
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explicar o que está acontecendo — pediu a encaminhando até


o sofá e as duas se acomodaram. Trent e Betsy se sentaram
também. Grant preferiu ficar de pé, posicionando-se atrás da
mulher, pousando uma das mãos em seu ombro em sinal de
apoio.
— Mãe, antes de dizer qualquer coisa, quero que
respondam minha pergunta! — exigiu e olhou diretamente
para o homem sentado à sua frente. — Você é mesmo o meu
pai biológico, Trent?
— Sim, Amy, eu sou — confirmou ele, retribuindo seu
olhar intenso.
— E você sempre soube disso? — Amy quis saber,
desconfiada.
— Não. Eu só descobri a verdade hoje. Aliás, nós tínhamos
acabado de ler o resultado no instante em que você chegou.
Veja você mesma — explanou, estendendo a mão com o
exame em direção a ela.
Amy hesitou em pegá-lo, olhando para o papel por um
instante, porém, sua curiosidade falou mais alto.
— Uau! — ela murmurou com os olhos no resultado. — E
a minha mãe? — Deu uma olhada para Danna, corrigindo-se.
— Quero dizer, a minha mãe biológica, você sabe onde ela
está?
— Infelizmente eu não sei nada sobre ela, Amy. Nós nos
encontramos apenas uma vez, e isso foi há dezoito anos.
Nunca mais tive notícias — Trent explicou, sentindo-se
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constrangido por ter que contar esse detalhe para a filha.


— Entendi. Fui o resultado de uma noite e nada mais —
Amy concluiu.
— Mais ou menos. Digo isso porque voltei a procurá-la na
época, não seria só um encontro de uma noite se eu a tivesse
encontrado, porém, ninguém pôde me dar informações sobre
ela, que estava de passagem pela cidade.
— É meio estranho você ser meu pai... — comentou a
garota, ainda o fitando. Era como se o estivesse encontrando
pela primeira vez e, na verdade, estava. Seu olhar para ele
agora era totalmente diferente dos encontros anteriores.
— Não me passou pela cabeça que ela tivesse engravidado.
Só recentemente, quando doei meu sangue para você e depois
de uma conversa que tive com a Betsy, foi que comecei a
pensar na possibilidade, mesmo assim, achei que pudesse ser
algo improvável, porém, cheguei à conclusão de que não era
de todo impossível.
— Doou o seu sangue... — Amy repetiu intimista. —
Quando salvou a minha vida, você quer dizer.
— Se prefere colocar dessa maneira... — Trent deixou
transparecer um meio sorriso.
— Você me gerou na primeira vez e me devolveu a vida na
segunda. — Ela retribuiu o meio sorriso. — Sério
mesmo? Meu pai? — Ainda estava dentro da bolha da
incredulidade.
— Você está bem, Amy? Com essa notícia? — Danna quis
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saber, preocupada com o estado de espírito da filha.


— Estou, mas a verdade é que não sei bem como devo me
sentir.
Trent se surpreendeu com as palavras da garota.
— Como deve se sentir? Amy, você não precisa sentir
nada. Para mim está sendo tudo muito novo também. Com o
tempo poderemos definir melhor os nossos sentimentos. Você
sabe que eu já gostava de você antes de sequer sonhar em ser
o seu pai, não é?
— Sim, e eu sinto o mesmo por você, Trent, sabe disso.
Achei que fosse só simpatia mútua, mas tenho que confessar
uma coisa: depois da decepção com o meu pai, digo, com o
Caleb, comecei a me perguntar quem seria o meu pai
verdadeiro, o biológico, entende? Talvez ele pudesse ser uma
pessoa melhor, e eu estava certa que seria. Porque, vamos
combinar, o Caleb deixou muito a desejar, tanto como pessoa
quanto como pai. E descobrir que esse pai, que eu pensava em
procurar, já estava aqui, do meu lado, é algo simplesmente
incrível!
— Concordo com você, e fico feliz que esteja reagindo tão
bem à novidade — comentou Trent, visivelmente satisfeito e
aliviado. Tinha tido a esperança de que ela viesse a aceitá-lo,
e isso estava acontecendo bem diante de seus olhos.
— Está brincando? Não tinha como ser diferente. Trent,
você é demais!
— Para com isso menina! — ralhou sorrindo para ela. —
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Quer me deixar sem graça de novo?


— De novo? E qual foi a vez que eu te deixei sem graça?
— Não lembra? Um brutamonte como eu, ficando todo
emocionado no dia em que você apareceu lá em casa para me
agradecer.
— Ah! Aquela vez... — Riu junto com ele. — Gente, ainda
não estou acreditando nisso! Juro que estou passada e
encantada ao mesmo tempo!
— Então você está gostando de ter um pai assim, meio
ogro, como eu?
— Pode parar, você não é nenhum ogro, não! Pelo menos
eu não te vejo assim, e estou começando a gostar de ter um
papai urso. — Trent alçou uma sobrancelha. — É isso
mesmo, papai urso, e estou adorando, sério! Eu não poderia
desejar que meu pai verdadeiro fosse alguém melhor do que
você, mas...
— Amy, sem “mas”. Vamos continuar mantendo a nossa
amizade como sempre foi, e quanto ao relacionamento pai e
filha, podemos ir construindo com o tempo, não precisamos
ter pressa. As coisas vão acontecer naturalmente, aos poucos.
O que acha? Podemos fazer assim?
— O que eu acho? Acho maduro e sensato, e claro que
podemos. Eu quero ser como você quando crescer —
exclamou risonha, e ouviu a mãe soltar um suspiro ao seu
lado, o que a fez levar o olhar até ela. — Não faz essa cara de
mãe ciumenta, dona Danna, que eu também quero ser como a
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senhora. — E voltou a falar com Trent. — Vai me contar


sobre esse seu encontro único com a minha mãe biológica?
— Claro que vou — confirmou enfático. — O nome dela
era Claire.
— Claire... — repetiu Amy, pensativa por um momento.
— Quero detalhes, por favor. Preciso saber tudo o que puder
se lembrar. Do que conversaram, como ela era, tipo de
personalidade e aparência. Quero fazer uma imagem dela.
Amy continuou falando empolgada, e Trent começou a
contar o que conseguia se lembrar.
— Ela queria ser modelo? Talvez por isso não quis ficar
comigo e me deu para adoção.
Ao ver o semblante triste da filha ao pensar que tinha sido
rejeitada, Danna interveio e decidiu que devia contar tudo o
que sabia.
— Na verdade, Amy, as coisas não foram bem assim.
Trent e Amy se olharam surpresos e logo depois dirigiram
o mesmo olhar para ela.
— Eu não queria te contar isso agora, tinha decidido
esperar um pouco, porque eu mesma ainda não consegui
processar tudo o que descobri, mas aproveitando a presença
da Betsy e do Trent, acho melhor contar tudo de uma vez.
— A senhora sabe alguma coisa sobre a minha mãe
biológica?
Danna girou o pescoço para encontrar os olhos de Grant,
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em busca de apoio. Este balançou a cabeça em um sinal de


assentimento, ao mesmo tempo em que apertou seu ombro
suavemente.
— Amy, você tem conhecimento do que o seu pai, quero
dizer, do que o Caleb foi capaz de fazer. Só que uma das
piores coisas que ele fez foi contra você, meu amor. — Danna
a viu se remexer no sofá, parecendo tensa e incomodada. —
Você sabe a história de como te conhecemos e te adotamos,
certo? Nós te contamos quando fez treze anos.
— Sim, eu sei da história do orfanato e tal.
— Pois bem... Você realmente foi entregue ao orfanato,
mas não pela sua mãe, como nos fizeram acreditar. Na
verdade, você foi tirada e levada contra a vontade da sua
família biológica.
Ao dizer isso, ouviu-se um bufar raivoso vindo de Trent e
uma exclamação horrorizada proveniente de Betsy.
— Ele me roubou da minha família?! — indagou Amy,
indignada e revoltada. Começou a sentir o coração palpitar
com força. Era o tipo de situação que jamais teria passado
pela sua cabeça. — Como a senhora sabe disso? —
perguntou, tomando uma respiração profunda, uma tentativa
desesperada de manter o controle.
— Eu sei que você está ansiosa para saber como foi que
descobrimos isso, mas antes de começar a explicar, eu vou
pedir para que tente se manter calma, está bem? — Danna
pediu.

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— Ok, vou tentar — Amy concordou, voltando a respirar


fundo.
Danna começou a contar sobre a carta que Caleb havia lhe
deixado e sobre o seu conteúdo, onde ele dizia que ela
encontraria documentos com informações sobre a origem de
Amy, ou melhor, explicando como a menina fora levada até
aquele orfanato.
— A senhora encontrou os documentos? Sabe quais são
essas informações? — perguntou Amy, ainda sem conseguir
controlar a ansiedade.
— Trata-se de relatórios de vigilâncias realizadas a pedido
de Caleb, e depois que o Grant e eu lemos todos esses papéis,
descobrimos a verdade. Acreditamos que, após ele ter tudo
pronto, os documentos falsos, como a sua certidão de
nascimento, por exemplo, ele me levou até o orfanato para te
conhecer, e o resto você já sabe, querida.
— Mas por que ele precisou fazer isso? E por que eu? Ele
deve ter tido um motivo, não? Isso é tão intrigante!
— Nós não sabemos qual a razão para ele ter escolhido
você, e nem quem são os outros membros da sua família —
explicou Danna, consternada diante da expressão confusa da
filha.
— Céus! Quando penso que não posso mais me
surpreender com as coisas cruéis e absurdas que ele fez, me
deparo com isso. Nem sei o que pensar.
— Eu sei que deve estar sendo difícil para você assimilar
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tanta coisa de uma só vez, mas não vamos nos concentrar


nisso agora, afinal, uma parte da sua família está aqui, certo,
meu bem?
Amy assentiu, fitando o homem sentado à sua frente. Com
certeza havia levado a melhor naquela troca. Caleb merecia
cair no esquecimento. Trent merecia sua amizade, seu carinho
e respeito. Em um futuro bem próximo, e ela não tinha dúvida
disso, também poderia dar a ele o seu amor de filha.
Naquele momento, tudo o que desejava era se sentir
protegida e segura, e foi pensando nisso que se inclinou para
ele e o abraçou, sendo recebida em seus braços e em sua vida.
Minutos depois, recompôs-se e voltou a falar.
— Tenho a família mais maravilhosa e linda do mundo.
Minha mãe mais que querida e amada, os gêmeos mais fofos
do Universo, o Grant, que além de padrasto é meu amigo, e
agora o Trent, o pai mais gato que eu poderia pedir! — Amy
enumerou voltando a sorrir, brindando-o com uma piscadinha
sapeca.
— Ei, e eu? Não faço parte da sua família, não? Que garota
mais mal-agradecida, gente! — Betsy exclamou indignada.
— Desculpa, tia Betsy, é claro que a senhora também faz
parte da minha família — respondeu a adolescente, olhando
para ela com um ar de divertimento no rosto.
Amy a tinha excluído de propósito, pois sabia que ficaria
brava. Essa tia Betsy é tão previsível!, pensou ela, sorrindo
intimamente.

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— E a Grace também! Ou ainda não se deu conta de que


ela é sua meia-irmã? — lembrou-lhe Betsy.
— Tem razão! Agora tenho mais uma chatinha para aturar
— Amy comentou e Betsy olhou feio para ela. — Calma, tia,
eu só estou brincando. A Grace e a Chloe são uns anjinhos, o
chatinho da casa é o Luke.
— Seu irmãozinho não é chato, Amy! — disse Danna,
pulando em defesa do filho.
Amy deu de ombros.
— Um pouco, sim. Só quer ficar no seu colo ou no colo do
Grant. Comigo ele sempre chora.
Danna se eximiu de qualquer responsabilidade, jogando-a
para cima de Grant.
— Ele é manhosinho mesmo. Nunca vi ser tão apegado ao
pai, que, a meu ver, sempre o mima demais.
— Agora a culpa é minha? Não senhora! Quem faz tudo o
que o Luke quer é você, Danna! — Riu divertido. — E, por
falar nisso, acho que está na hora de darmos uma folga para a
Rita. Vamos buscá-los e trazê-los para cá. Vem comigo? —
perguntou, dirigindo um olhar significativo para a enteada e o
amigo.
— Claro, meu anjo — respondeu ela, levantando-se. —
Amiga, você não precisa trocar a fralda da Grace?
— Não. Troquei agorinha — Betsy respondeu distraída.
Ao notar que ela não entendeu que a troca da fralda não
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passava de uma desculpa para saírem da sala, Danna precisou


fazer um gesto com a cabeça em direção ao Trent e à filha.
— Certo, acabei de checar de novo e, na verdade, está
precisando mesmo. Daqui a pouco eu volto, Trent — avisou
ela, pondo-se de pé e seguindo os amigos até o piso superior.
Assim, os três saíram da sala, deixando pai e filha a sós.
Ambos mal notaram a estratégia, pois se encontravam
entretidos em um debate animado sobre algum tópico de
algum assunto de interesse mútuo.
***
Horas mais tarde, depois que os amigos se foram, Grant
resolveu mexer em algumas coisas no sótão com a intenção
de gastar o tempo. Notou uma caixa de papelão encostada em
um dos cantos. Deu uma olhada rápida dentro dela e desceu
pelo alçapão, levando-a com ele.
— Danna, eu estava vendo algumas coisas no sótão e me
deparei com esta caixa. Tem alguma coisa aqui que você
queira guardar? — perguntou ele, vasculhando o conteúdo. —
São canetas usadas, um livro de História, um caderninho preto
e alguns CDs gravados.
Danna girou o corpo em sua direção.
— Ah, essa caixa — ela a reconheceu prontamente. —
Essas coisas são da Amy, é melhor perguntar para ela.
Era a mesma caixa que tinha ido buscar no colégio quando
a filha passava férias no Maine, na casa dos avós. Um sorriso
chegou até os seus lábios com a recordação.
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— Por que você está rindo? Eu posso saber? — Grant


indagou curioso.
— Essa caixa é aquela que fui buscar na escola da Amy.
Eu estava com ela nos braços quando nos reencontramos no
corredor. Lembra-se disso?
— E como lembro! Não consegui parar de pensar naquele
nosso esbarrão durante dias! — confessou ele, colocando a
caixa em cima da mesa da cozinha enquanto a observava
preparar o jantar.
— E o que foi que você pensou? — perguntou ela,
levantando a tampa de uma das panelas. Logo aspirou o
aroma delicioso de comida recém-preparada.
— Pensei em como eu tive sorte de ter te encontrado de
novo — contou ele, tocando os cabelos dela. — E de ter
conseguido um trabalho e um lugar para morar. Você foi meu
anjo salvador naquela tarde — concluiu com um sorriso ao
mesmo tempo em que a virou para ele e envolveu sua cintura
com ambas as mãos.
— E você foi, e continua sendo, o anjo que me tirou de
uma vida cinza e triste e me revelou que o homem da minha
vida existe e que seu nome é Grant. — Sorriu para ele e o
beijou nos lábios.
— Faço minhas as suas palavras. Mulher da minha vida!
— falou ele, retribuindo o sorriso e o beijo.
Ao se separarem, viram a filha adentrando a cozinha.
— Amy, eu queria mesmo falar com você. Encontrei essa
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caixa com coisas suas, ainda quer guardar ou podemos jogar


tudo fora?
Ela olhou rapidamente para os objetos que o padrasto se
referia.
— Pode jogar. Não tem nada aí que me interesse.
— Hum, até este caderno aqui? Parece um diário —
indagou Danna, em dúvida.
— Eu não tenho diário, mãe. Isso aí não é meu, nem
imagino como foi parar no meio das minhas coisas. Posso ter
pegado e colocado na mochila por engano e deixado no
armário, mas não é meu.
— Estranho, achei que fosse seu, eu nem o abri quando
peguei por pensar se tratar de um diário, mas se está dizendo
que não escreve um... — comentou Danna, abrindo o
caderninho e lendo o seu conteúdo. — O que será que tem
aqui? Espera um pouco, essa é a letra do Caleb! Grant, dê
uma olhada nisso — pediu ela, entregando o caderninho para
ele.
— Está me parecendo bem interessante... — Agora quem o
folheava era ele. — Acho que são números de contas
bancárias com alguns códigos na frente de cada uma delas.
Não sei bem o que significam, mas vou pedir para o Trent me
ajudar com isso. Fiquei curioso em saber do que se trata.
Posso ficar com ele?
— Claro que pode — Danna concordou. — Em plena era
da informática e ele anotava os números das contas em um
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caderninho? Será isso mesmo?


— Pois é, vai saber. Vai ver não confiava na tecnologia, ou
mantinha anotações nos dois meios, e pode até ser que tenha
se esquecido da existência desse caderninho — Grant
especulou. — Vou lá fora colocar o resto disso aqui na lixeira
— avisou, porém, antes de sair, lembrou-se de algo que queria
comentar com ela. — A propósito, Danna, recebi uma ligação
do Harry hoje, mais cedo.
— Harry? Aquele seu ex-amigo traidor? Mas ele não
estava preso?
— Esse mesmo, e estava. Ele me disse que saiu faz uma
semana e, não sei como, conseguiu o meu número. Eu até me
surpreendi ao me dar conta de que era ele do outro lado da
linha.
— E o que essa pessoa queria com você?
— Pedir perdão — contou ele, o semblante fechado.
— Depois de ter feito o que fez? Desculpa, mas é muita
cara de pau te ligar para pedir isso! — Danna o olhou de
esguelha, perguntando-se se era tudo o que tinha para contar.
Conhecia Grant o suficiente para saber, pela sua expressão,
que talvez não tivesse sido só aquilo. — Tem alguma coisa a
mais que gostaria de me contar? — indagou desconfiada,
alçando uma sobrancelha.
Grant ficou em dúvida durante um segundo, até que
decidiu pôr para fora tudo o que Harry havia lhe dito.
— Ele disse também que precisava me contar algo sobre
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aquela mulher. Falou que ela nunca ficou grávida de um filho


meu, que tudo não passou de uma grande mentira.
— Sério? Mas, se não estava, por que essa mulher mentiu?
— Danna se sentiu mal só de lembrar o que ele havia lhe
contado meses antes.
— Segundo Harry, ela fez isso por maldade. Parece que,
pelo menos no começo, fazia parte do plano para me atrair até
o hotel. Eu penso que ela quis me dizer, com aquela carta, que
já não havia mais nada que nos ligasse um ao outro, e ao
invés de me contar a verdade, resolveu mentir mais um
pouco. Mas já não me interessam seus motivos ou o que ela
fez.
— E como você se sentiu ao tomar conhecimento disso?
De que esse bebê nunca existiu?
— Desejei muito apertar o pescoço dela e dar um soco na
cara dele, tamanha a raiva e revolta que senti. Por outro lado,
foi bom saber que tudo não passou de invenção de uma mente
perturbada. Eu me senti aliviado. Mais um assunto encerrado
e uma pedra colocada sobre essa parte do meu passado.
— Entendo. Pensando como você, eu concordo que foi
bom mesmo. Soube algo mais sobre ela?
— Eu não quis perguntar. Essa mulher morreu para mim
há muito tempo. Só achei que devia comentar o assunto com
você. Agora, vou lá fora colocar essa caixa no lixo — avisou,
guardando o caderninho no bolso e deixando a cozinha em
direção ao quintal.

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— Que bom que a Amy reagiu bem a tudo que soube hoje
— comentou Danna, deitada na cama, observando-o vestir a
parte de cima do pijama. — Quando contei sobre o que o
Caleb fez, por um momento cheguei a pensar que ela passaria
mal, mas se manteve firme e conseguiu se controlar.
Grant terminou de se vestir e foi se deitar ao lado da
mulher.
— É, concordo com você. Saber que foi sequestrada
mexeu muito com ela, mas a Amy é uma garota forte, vai tirar
de letra. Gostei muito de ela ter aceitado o Trent como pai.
Ele saiu daqui bem contente, acho que esteve angustiado esse
tempo todo.
— Certamente, mas agora está tudo esclarecido. Tenho
algumas dúvidas ainda, só que acho que parte delas só serão
sanadas com o tempo, ou talvez nunca, quem sabe? —
especulou ela.
— Existem situações que fogem ao nosso controle. Vamos
nos sentir abençoados com o que temos, que não é pouco, e
colocar essas dúvidas de lado — decidiu ele. — Depois de um
dia cheio de emoções como o de hoje, estive pensando na
pergunta da Betsy.
— Qual pergunta? — Danna indagou curiosa.
— Aquela que fez no bar, de quando temos a intenção de
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nos casar, diante de um juiz de paz e com a benção de um


padre — esclareceu ele, o olhar distante.
— Pensei no assunto também — Danna admitiu. —
Podemos marcar para daqui a seis meses, quando os gêmeos
estiverem grandinhos, e pensei que podíamos nos casar na
Califórnia, com toda a nossa família reunida, o que você
acha? — questionou ela, virando o rosto para encará-lo.
— Eu me caso com você em qualquer lugar do mundo,
mas nos casarmos lá seria perfeito! — respondeu ele, olhando
para ela.
Trocaram um beijo cheio de amor, promessas e esperanças
no amanhã. Não tinham a ilusão de que o futuro fosse
perfeito. Sabiam que a vida nem sempre era um mar de rosas,
ainda mais diante do passado de ambos, contudo, se estavam
seguros de algo, era de que dariam o melhor de si mesmos
para fazer com que desse certo. Tinham plena consciência de
que o amor que sentiam um pelo outro era forte e os manteria
firmes no propósito de seguirem em frente. Unidos, teriam
como lutar pelos seus sonhos e ultrapassar todos os obstáculos
e barreiras que a vida viesse a colocar diante deles.

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“I lived so long believing all love is blind


But everything about you
Is telling me this time it’s
Forever, this time I know
And there’s no doubt in my mind
Forever, until my life is through
Girl, I’ll be loving you forever”
Forever – Kiss

Seis meses se passaram, e nesse período a vida seguiu seu


rumo sem grandes contratempos. Amy havia assimilado bem
as informações recebidas sobre a sua origem, ao menos a
parte que todos tinham conhecimento, pois ainda existiam
várias lacunas, as quais ela estava disposta a preencher algum
dia.
Sua relação com Aaron havia avançado consideravelmente,
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principalmente após ela se desculpar com ele sobre a pequena


discussão que tiveram no dia em que passou mal na escola,
inclusive o agradeceu por ter ajudado a Brenda a socorrê-la.
Ele pareceu surpreso com o seu pedido de desculpas,
entretanto, o aceitou, aproveitando para dizer que sentia muito
por tê-la chamado de pirralha, e ambos reconheceram como
aquela discussão havia sido boba e sem sentido. Depois
daquele dia, podia-se dizer que se tornaram quase amigos,
embora não se falassem com muita frequência, pois ele
continuava convivendo com o seu séquito de bajuladores, do
qual ela não tinha a menor vontade de fazer parte.
Apesar se sentir atraída por ele, pensava que o rapaz não a
via do mesmo jeito, e ela mesma não tinha feito nada para
tentar mudar isso. A verdade é que tinha deixado de lado esse
sentimento em função de outras coisas, que considerou mais
importantes na época, como, por exemplo, estreitar o laço de
pai e filha com o Trent. Tudo estava acontecendo como
previsto. Viam-se com frequência e ele passou a se envolver
mais em suas atividades, tomando aos poucos o seu lugar de
pai, mas sem forçar nada e respeitando o ritmo da garota.
Agora Amy pretendia dar o primeiro passo para trazer
Aaron para mais perto, convidando-o para o casamento da
mãe. Achava que seria uma oportunidade para conversarem
fora do ambiente do colégio, e, desse modo, ver se poderia
rolar algo entre os dois. Não custava nada arriscar. Decidida,
interceptou-o no corredor antes do início das aulas.
— Oi — disse assim que o viu trancar o armário.
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— Oi — respondeu Aaron, um tanto surpreso, pois


não havia percebido sua aproximação. Virou-se e a encarou
com aqueles belos olhos azuis e uma expressão curiosa no
rosto.
Seu jeito de olhar é tão sexy que tem o poder de me tirar o
fôlego, pensou ela, enlevada.
— Eu posso falar com você um minuto? — pediu, tentando
controlar a ansiedade e os batimentos cardíacos. Estes sempre
se alteravam quando se encontrava perto dele.
— Claro — o rapaz respondeu, guardando um livro dentro
da mochila.
Amy hesitou por um instante, umedecendo os lábios com a
ponta da língua, pois, do nada, os sentiu ressecados. Esse
gesto não passou despercebido por ele. Aaron fixou o olhar
preguiçoso nos lábios dela por alguns segundos. Notando
isso, a garota criou coragem para fazer a pergunta que tinha
ensaiado.
— Estive pensando... A minha mãe e o Grant vão se casar
em uma semana.
— Verdade? Legal — comentou Aaron, ajeitando a
mochila nas costas, levando os braços esticados para trás e
enfiando ambas as mãos nos bolsos traseiros da calça jeans, o
que evidenciou os músculos definidos de seu tórax.
Amy respirou fundo diante daquela visão. Até parecia que
ele fazia de propósito. Engoliu em seco antes de voltar a falar.
— Eu queria saber se você não quer ir ao casamento como
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meu convidado. A cerimônia vai ser realizada em San Diego,


na Califórnia. Ele e a família são de lá — Amy explicou e
aguardou pela resposta.
Aaron pensou por um minuto, considerando se deveria
aceitar o convite ou não. Apesar de já ter visitado o Estado,
sempre sentiu vontade de voltar, só que não tinha tido
oportunidade, e agora se via diante de uma. Seria muito bom
pegar altas ondas no Point Loma.
— Califórnia? Interessante. Estive lá uma vez, mas foi só
de passagem, sempre quis retornar.
— Sairemos daqui uns dias antes da data para ajeitar umas
coisas por lá. Acho que dá até para conhecer um pouco da
cidade, se estiver interessado, é claro — Amy sugeriu.
— Está bem. Eu aceito o convite, mas só vou poder viajar
na sexta-feira. Tenho treino durante a semana e não gosto de
faltar — disse ele.
— Treino? Eu não sabia que você treinava.
— Sim, eu treino boxe e pratico jiu-jitsu.
— Legal — Amy fez o comentário o imaginando sem
camisa, o tórax suado, de luvas e usando shorts de lutador. A
imagem era sexy, não podia negar.
— Ei, viajou? — chamou Aaron, estalando dois dedos na
frente do seu rosto.
— Ãh? Não, claro que não. Estou aqui. Ficamos assim
então, depois eu te ligo passando os detalhes — falou,

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voltando à realidade.
Despediu-se logo depois, dando as costas para ele,
satisfeita por ter conseguido o que queria. Caminhou devagar
em direção à sua sala, sem saber que deixaria para trás um
Aaron pensativo com um sorriso misterioso no canto da boca,
e que permaneceu no mesmo lugar enquanto a observava
entrar na sala de aula. Só então se virou e andou até a dele.
Pelo visto, o rapaz não era tão indiferente a ela quanto
parecia.

Os próximos sete dias passaram voando. Com vários


detalhes para lembrar e pedidos a serem confirmados junto
aos fornecedores, Danna, Betsy e Amy se uniram em um
único propósito: organizarem o casamento elas mesmas.
Ficaram enlouquecidas entre a contratação do bufê, da
florista, a reserva de horário do padre, do juiz de paz, a
escolha da música a ser tocada durante a entrada da noiva, a
filmagem com um profissional especializado, a prova do
vestido, as roupas para as crianças, noivo e padrinhos.
Trent e Grant deixaram tudo nas mãos das mulheres,
envolvendo-se apenas quando suas respectivas opiniões eram
solicitadas, o que faziam contentes e com largos sorrisos no
rosto. Era visível a felicidade de todos os envolvidos.
Eva ficou encantada com a notícia de que o seu

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primogênito se casaria na cidade, e fez questão de ajudar no


que podia. No geral, o clima era de expectativa. Embora
Danna tivesse se casado antes, sentia como se fosse sua
primeira vez, e, de certa forma, era, pois hoje se casava uma
nova mulher.
Tinha estado bem ansiosa nos dias que antecederam a
viagem para a Califórnia, aliás, ansiedade vinha sendo o nome
do meio dos dois: dela e do noivo. Sorriu ao se lembrar dele,
que tinha ido até o distrito pedir que fosse exonerado como
policial. Ele amava o que fazia, porém, havia decidido se
desligar. Acreditava ter chegado o momento de recomeçar,
investindo em algo que fosse seu. Trent o convidou para ser
sócio em uma empresa especializada em segurança pessoal e
patrimonial, o que ele achou muito interessante, decidindo
aceitar o desafio. O amigo pensou a respeito por algum
tempo, até que, cerca de um mês antes, chamou-o para uma
conversa, e ao final, ambos decidiram que deviam arriscar.
Grant entraria com o conhecimento de campo que possuía na
área, enquanto Trent tocaria a parte burocrática e
administrativa do negócio, com ambos dividindo por igual o
valor do investimento inicial.
Nessa conversa, Grant tinha levado o caderninho com as
anotações de Caleb para que Trent o ajudasse a descobrir do
que se tratava. Levou algum tempo, porém, conseguiram
desvendar o mistério. Eram as contas que Caleb tinha no
exterior, inclusive informações referentes aos cofres desses
bancos, onde tinha guardado diamantes e valiosas obras de
arte.
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Como tinha dito que faria, Danna resgatou os prêmios das


apólices de seguro deixadas pelo ex-marido e criado um
fundo para cada um dos três filhos. A casa dos Hamptons
estava quase vendida. Depois de muito pensarem, ela e Grant
decidiram que iam precisar de uma casa maior. Compraram
uma linda, confortável e com jardins espaçosos para as
crianças brincarem, no Upper East Side, o mesmo bairro onde
Betsy e Trent moravam.
Nos bens constantes no testamento, eles não tinham
resolvido ainda o que fazer, já as joias e obras de arte, não
quiseram ficar com nada, decidindo leiloar todos os itens. Era
com parte do dinheiro obtido no leilão que Grant pretendia
montar o negócio.

Aaron estava sentado à mesa tomando o café da manhã em


companhia da mãe. Theo, seu pai, já havia saído para o
escritório de advocacia em que era sócio.
— Acabo de me lembrar. Vou passar o fim de semana fora.
Comenta com o meu pai depois.
Sienna o fitou com uma indagação nos olhos.
— E eu posso saber para onde você vai? — perguntou.
— Recebi um convite para o casamento da mãe de uma
amiga da escola, só que não será aqui.

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— E aonde vai ser? — ela quis saber, levando a xícara de


chá que tinha nas mãos até os lábios.
— San Diego, Califórnia — Aaron respondeu, não
pretendendo se aprofundar muito no assunto. — Viajo na
sexta e volto na segunda de manhã.
— E essa amiga? Eu a conheço?
— Ainda não — ele negou, espetando um pedaço de
mamão com o garfo e o levando à boca.
— Eu gostaria de conhecê-la e saber sobre sua família —
Sienna pediu.
Aaron suspirou. Não gostava que ela se imiscuísse em suas
amizades, porém, ele a entendia. Fazia parte do seu trabalho
se preocupar, ainda mais depois do que havia acontecido com
a menina que pegou para criar há vários anos e foi tirada
dela.
Na época, ele era muito pequeno para entender, porém,
conforme crescia, percebia que sua mão sempre se ausentava,
sempre à procura da criança. Tinha se tornado uma obsessão,
e quando a fase pior passou, ela se voltou para ele, tornando-
se uma mãe superprotetora, tanto que, às vezes, sentia-se
sufocar.
— O nome dela é Amy, tem dezoito anos e, pelo que sei,
pertence a uma boa família. Uma hora dessas eu te apresento.
Preciso ir — disse Aaron, levantando-se e dando o assunto
por encerrado.
Já de pé, tomou o último gole do seu suco de laranja,
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devolvendo o copo à mesa. Ajeitou as alças da mochila nos


ombros e caminhou a passos largos em direção à sala. Sienna
não pôde deixar de notar a maneira econômica e reticente que
o filho usou ao se referir à amiga. Será que ele está
interessado nela?, perguntou-se intrigada, acompanhando-o
com o olhar, até vê-lo sair porta afora rumo ao colégio.

Enfim, o grande dia chegou. Eva ficou encarregada de


cuidar dos últimos detalhes. Tudo pronto, convidados
sentados, padre e juiz de paz aguardando em pé, em frente ao
pequeno altar montado, com os padrinhos e as madrinhas os
ladeando. A cerimônia seria realizada na praia, e haviam
preparado um caminho de pétalas para a noiva. As cadeiras
destinadas aos convidados e familiares foram dispostas em
fileiras de cada lado da nave, que terminava em um gazebo
ladeado por cortinas confeccionadas em um tecido
transparente e que foram presas às duas colunas frontais,
cujos arranjos foram enfeitados com jasmins. Tinham como
pano de fundo o maravilhoso azul do céu, que se encontrava
com o azul do mar.
Grant tomou seu lugar no pequeno altar e aguardou.
Esfregava as mãos de vez em quando, olhando para os
irmãos, os filhos e os amigos sem poder dissimular a
ansiedade.
Danna pediu para ficar um momento sozinha na casa
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alugada, situada a poucos metros do local onde se casariam e


seria realizada a recepção após a cerimônia. Deu uma última
olhada no espelho de corpo inteiro, admirando o vestido
tomara que caia que possuía o bojo todo trabalhado com
bordados feitos no próprio tecido. Era simples e sofisticado ao
mesmo tempo. Respirou fundo, colocou um sorriso no rosto e,
segurando as laterais da saia longa, deixou o lugar. Não o
faria esperar. Iriam unir suas vidas em alguns minutos e isso
era, de fato, a realização de um sonho.
Preparou-se para iniciar sua entrada ao primeiro acorde da
música “She” de Elvis Costelo. Tão logo o ouviu, deu o
primeiro passo, mantendo os olhos fixos no homem bonito
vestido um terno escuro de três peças que retribuía o seu olhar
com um sorriso nos lábios à sua frente.
Danna sentia o coração martelar dentro do peito enquanto
caminhava a passos curtos pela nave. Ao chegar ao seu
destino, viu Grant descer o pequeno degrau que os separava,
inclinar-se em sua direção e sussurrar: “você está linda”. Um
segundo depois, tomou sua mão na dele, deu um passo à
frente e a levou com ele, e ambos ficaram de frente para o
padre.
Betsy se aproximou, pegou o buquê das mãos dela e
retornando ao seu lugar, ao lado de Trent. Momentos depois,
a cerimônia teve início. Após as considerações, homilias e
leitura de salmos, chegou o momento dos votos com a troca
de alianças. Um ficou de frente para o outro. Grant pegou a
menor aliança na pequena almofada nas mãos da Amy. Após

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dizer as palavras de praxe, olhando a mulher nos olhos,


acrescentou:
— Obrigado pela vida que nunca imaginei que teria, pelo
amor que eu nunca sonhei que fosse capaz de sentir, por me
dar dois filhos lindos, por me fazer o homem mais feliz do
mundo inteiro. Prometo amá-la, ser fiel, estando junto ou
distante, ser teu amigo e companheiro por toda a minha vida,
princesa.
Então, foi a vez de Danna falar, colocando a aliança no
dedo anelar da mão esquerda do quase marido.
— Grant, você é a prova maior de que o amor existe, e este
amor nasceu em mim para durar uma vida inteira. Um amor
forte que me arrebata, me tira do chão, que transborda de
dentro do meu peito. Prometo amá-lo e ser fiel nos bons e nos
maus momentos. Eu te amo para sempre e mais dois dias,
meu anjo.
Ao final, o padre os abençoou e os declarou casados. Grant
se inclinou e a beijou nos lábios, ouvindo os aplausos dos
convidados atrás deles.

Estavam no meio da festa quando Trent veio chamá-lo.


Grant, que conversava com os irmãos, pediu licença e foi ver
o que o amigo queria.
— Relaxa, Trent, você está muito nervoso, o que foi que
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houve?
— Olha ali — disse Trent, virando o rosto na direção da
varanda da casa.
— Onde? — Grant perguntou, pois não conseguia ver o
que o amigo queria mostrar.
— Ali! Estão encostados naquela coluna — Trent insistiu,
impacientando-se ainda mais.
— Ah, agora eu vi, a Amy está conversando com aquele
rapaz, o Aaron. Você o conhece, Trent, foi ele quem a
socorreu quando ela sofreu aquela crise. Ficou esperando
conosco no hospital — Grant explicou paciente.
— Agora estou me lembrando. Você não acha que eles
estão muito próximos? Olha aquela mão boba dele! —
comentou Trent, fazendo cara feia na direção do casal.
—Trent, ele só está ajeitando uma mecha do cabelo dela.
Não seja exagerado! — Grant contemporizou, vendo o amigo
ficar cada vez mais exasperado.
— É assim que começa... — Trent bufou.
— Quer parar e deixar a garota curtir a festa em paz?
Larga a mão de ser tão ciumento, cara!
— Quero ver quando for a vez da Chloe. Duvido que
estará falando assim.
— A Chloe não vai querer saber de homens — afirmou
Grant.
— E por que não?
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— Porque a minha garotinha vai dedicar sua vida a Deus e


se tornar uma freira. Isso foi decidido desde o dia em que ela
nasceu.
— Ah, sim, claro! — debochou Trent. — Vai sonhando,
meu amigo! Se não ficarmos de olho, estaremos perdidos.
Estamos sujeitos a perder as nossas meninas para uns
moleques idiotas, como esse tal de Aaron. Olha só aquilo,
tá na cara que ele não quer só pegar no cabelo dela. Eu vou
até lá! — disse um Trent decidido, dando o primeiro passo na
direção dos dois.
Ao ver o amigo se pôr em movimento, Grant tratou de
impedi-lo, segurando-o pelo ombro.
— Quer parar com isso? Você está sendo ridículo, Trent!
— Grant chamou a sua atenção, pois agora era ele quem
estava perdendo a paciência com a falta de bom senso do
grandão. — Os dois não estão fazendo nada demais. Sossega,
homem!
Trent ignorou a crítica, assim como a tentativa de fazê-lo
raciocinar, pois estava decidido a tomar uma atitude e separar
aqueles dois. A garota era sua filha! Será que Grant não
conseguia entender isso? Pelo amor de Deus!
— Você vem comigo ou não? Afinal, a Amy é minha filha,
mas você é o padrasto dela — falou Trent, alçando uma
sobrancelha em um claro desafio.
— Está bem — Grant cedeu, deixando escapar um suspiro
impaciente. — Mas eu só vou para evitar que você faça uma

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besteira! — advertiu Grant, carrancudo. — Você não vai dar


escândalo na festa do meu casamento. Se fizer isso, a Dana
vai ficar chateada, aí você vai se ver comigo! Está avisado!
Puseram-se a caminho do lugar onde o casalzinho
conversava, alheios ao drama que se desenrolava ao redor,
porém, antes de conseguirem alcançá-los, uma pequena
comoção chamou atenção dos dois, e perceberam que algo se
passava com a Betsy. Ela estava sentada em uma cadeira,
muito pálida, e apoiava a testa em uma das mãos. Dava para
perceber que não se sentia bem. Vendo a mulher passar mal,
Trent esqueceu de imediato o que pretendia fazer, desviou do
seu caminho e andou rápido até ela.
— Morena! O que foi que houve? — perguntou ele,
ansioso, inclinando-se ao seu lado.
— Ah! Urso! Eu ia te contar hoje, mais cedo, só que com a
correria do casamento o dia passou e eu acabei esquecendo —
explicou Betsy, tomando ar em algumas aspirações profundas,
tentando amenizar as náuseas e as tonturas que sentia.
Trent a encarou sem entender o que a sua morena queria
dizer com aquilo.
— Do que você está falando, bonita? — indagou
preocupado.
— Disso aqui — Betsy respondeu, tirando um teste de
gravidez da bolsinha que trazia nas mãos e entregando para
ele. — Esse eu fiz quase agora, para confirmar.
— Confirmar? Confirmar o que, Betsy? — Trent
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perguntou pegando o teste.


Levou o olhar até ela, fitando-a espantado, sentindo-se
meio perdido. Baixou os olhos para ver o resultado, voltando
a olhar para ela, boquiaberto, sem acreditar no que tinha visto.
— É sério? Você está...? Quer dizer, nós estamos...? —
Trent engoliu em seco. — De novo?
— É isso mesmo. Papai urso e eu vacilamos outra vez —
Betsy confirmou, torcendo o lábio e esperando por sua reação.
Trent abriu um sorriso largo, envolvendo-a nos braços sem
ocultar como estava feliz com a novidade.
Grant fechou a porta atrás de si com o pé e terminou de
entrar no quarto, trazendo a mulher nos braços.
— Eu sempre quis fazer isso, Senhora Collins —
comentou ele, fazendo-a deslizar por seu corpo até os pés da
mulher tocarem o chão.
Tinham acabado de chegar a Playa del Carmen, no
México, lugar escolhido por eles para passarem a lua de mel.
Ficou acertado que Amy voltaria para Nova York com a
Betsy, o Trent e a bebê Grace, ficando hospedada na casa
deles até que ambos retornassem. Aaron retornou no mesmo
voo, acomodando-se no assento ao lado de Amy, o que fez
Trent bufar contrariado, ganhando da mulher um olhar de
reprovação acompanhado de um cutucão nas costelas, pois o
Grant havia lhe contado do showzinho que o urso tinha
estrelado e que, por sorte, foi impedido a tempo de prosseguir.
Vovó Eva fez questão de cuidar do pequeno Luke e da
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lindinha da Chloe, e a babá Rita ficou em San Diego para


ajudá-la com eles. Agora, Danna e Grant estavam em sua
primeira noite de casados em um lugar lindo e paradisíaco.
Grant se aproximou a puxando para ele, beijando a curva
do seu pescoço. Danna suspirou ao sentir o toque de seus
lábios em um ponto sensível atrás da orelha. As mãos dele
deslizaram pelos seus ombros, e o seu calor fez sua pele arder
de desejo.
— Eu estava louco para chegar aqui e poder fazer isso —
comentou ele, descendo as mãos até os seios, os apertando, a
fazendo gemer.
— Eu também. Esses últimos dias foram tão corridos e
cansativos.
— Exato, mas agora estamos mais descansados e em nossa
lua de mel — declarou ele, levando as mãos ao primeiro
botão da blusa que ela usava, enquanto voltava a beijá-la no
pescoço, na altura da orelha.
Despiram um ao outro e, em poucos minutos, estavam pele
contra pele. Ele a empurrou lentamente em direção a uma
poltrona localizada no canto do quarto, acomodando-se nela e
a fazendo sentar em seu colo, de costas para ele. Grant afastou
os cabelos da mulher para o lado e deslizou as mãos pelos
seus braços, beijando sua nuca e fazendo sua pele se arrepiar.
Asmãos a pressionaram para trás até as costas se encostarem
ao seu peito. Elas continuaram a descer, seus dedos
beliscaram cada um dos mamilos, seguindo pela barriga até
parar no meio das pernas. Sempre tateando, Grant encontrou a
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sua abertura, porém, não a penetrou, só a provocou, até ouvi-


la gemer, mordendo de leve a ponta de sua orelha. A mão que
apertava um dos seios subiu até o pescoço e o segurou firme,
colando-a mais contra o seu corpo, enquanto a outra seguia
torturando o seu clitóris, sentindo-o duro sob as pontas dos
dedos. A mulher gemeu alto quando o sentiu penetrá-la. Grant
viajou a mão do pescoço até o queixo de Danna e a fez virar o
rosto para ele, capturando a sua boca em um beijo esfomeado.
Minutos depois, tirou-a de seu colo e a sentou na poltrona,
separando suas pernas, a expondo para seus olhos gulosos.
Danna sentiu os dedos do homem a invadindo de novo, e logo
depois foi a vez da língua.
— Santo Deus! — Ela exclamou arfando.
Uma das mãos do homem seguia tocando seu corpo, o
moldando conforme a vontade dele. A boca continuava
trabalhando, incansável, em sua boceta. Sem pensar, Danna
agarrou os cabelos dele e mordeu o lábio, abafando um
gemido. Grant continuou em num ritmo torturante, fazendo a
língua deslizar suavemente pelo clitóris, girando a ponta ao
redor dele, o que fez o tesão da mulher aumentar.
— Não, não se reprima, princesa, geme para mim — pediu
Grant, os dedos ainda fazendo movimentos circulares dentro
dela. Danna obedeceu, deixando escapar da garganta um
choramingo agoniado, movendo os quadris.
Quando seus dedos localizaram um ponto específico, Grant
a viu revirar olhos, puxar o ar com força, lamber os lábios e
gemer, entregue às sensações de prazer que sentia. Danna se
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remexeu delirante, porém, ele a manteve segura no lugar. Sua


boca voraz desceu mais uma vez para o sexo dela, enquanto
os dedos se moviam sem parar em seu ponto mais sensível.
Grant pressionou um pouco mais e sugou de leve o clitóris,
sentindo-a se contorcer em espasmos de encontro à sua
língua. Ela soltou um grito e se deixou cair no vazio, se
quebrando em um orgasmo avassalador. Grant voltou a beijá-
la, fazendo-a sentir o seu próprio gosto na boca dele.
Assim que conseguiu reunir forças, Danna se levantou e
trocou de lugar com ele. Começou deslizando a língua pelo
seu peito, deixando uma trilha úmida pelo caminho até
encontrar o seu pau grosso, duro, quente e pronto. Passou a
língua pela glande e deslizou a boca até onde conseguiu tomá-
lo. Grant gemeu, enlouquecido com o prazer que sentia ao vê-
la sugar a glande. Ela tinha se tornado mais habilidosa desde a
primeira vez que o havia chupado, o fazia ver estrelas com
aquela boca deliciosa e morna, que o engolia, sugava e
lambia. A mulher agia como se o seu pau fosse a coisa mais
gostosa do mundo.
— Nossa, princesa, você vai me matar fazendo assim. Puta
que pariu! — exclamou ele, entre gemidos.
Grant levou a mão até os seus cabelos para observar
melhor o que ela fazia, e o que via o deixou ainda mais
excitado, endurecendo dentro daquela boca gostosa. Mesmo a
segurando, não a fez mudar o ritmo. Sua língua continuou
trabalhando e os gemidos dele aumentaram de intensidade.
Danna tirou o pau da boca e desceu até as suas bolas,

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lambendo e sugando, pouco depois, voltou a dar


atenção à glande, passando a ponta da língua na pequena
fenda no meio dela. O tomou até onde pôde de novo, subindo
e descendo, implacável, estimulada pelos sons que saíam da
boca dele. Minutos depois, ele deixou escapar um último e
longo gemido, quase um rosnado rouco, se liberando dentro
da boca dela. Danna se preparou para receber a essência dele
e, respirando pelo nariz, deixou os jatos deslizarem pela
garganta. Ao terminar, Grant se jogou no encosto da poltrona,
completamente sem fôlego.
— Definitivamente você quer me matar — garantiu Grant,
olhando para ela e sorrindo satisfeito.
— De jeito nenhum — negou Danna, balançando a cabeça
para reforçar o que dizia. — Eu quero você bem vivo —
afirmou ela, maliciosa, sentada aos pés da poltrona.
Ficaram assim por algum tempo, quando ela se aproximou
dele e o beijou no pescoço, raspando os dentes pelo seu
queixo, o arranhando de leve. Sem conseguir se conter, Grant
levantou e a tomou nos braços mais uma vez, a levando para a
cama. Danna se ajoelhou e foi abraçada. Ele a trouxe para o
seu peito e ambos ficaram assim, trocando carícias e beijos.
Minutos depois, ele a inclinou, apanhou um travesseiro e o
encaixou na base das costas dela. Enquanto sua boca a
devorava, Grant a penetrou fundo. Voltou a morder sua orelha
arremetendo com força, fazendo-a sentir uma nova tensão
tomar forma dentro dela.
Ele ofegou e ela gemeu. Era pele contra pele em um
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encontro selvagem e arrebatador. Grant voltou a chupar seus


seios e sentiu as unhas dela rasparem as suas costas. Estavam
suados e tomados pelo desejo. Ele a virou e a colocou de
quatro, voltando a penetrá-la o mais profundo que pôde.
Começou a cavalgá-la e ela o seguia, rebolando em um ritmo
alucinante.
Danna sentiu a vagina se contrair e ordenhá-lo. Devido às
contrações cada vez mais fortes, soube que o prazer se
aproximava. Gemeu alto, segundos depois, quando este a
tomou por completo. Grant não demorou a se libertar e o fez
de uma maneira tão forte e intensa que acabou por se jogar na
cama, levando-a junto com ele. Então a mulher aconchegou-
se, exausta, mas satisfeita, entre seu braço e seu peito.

Betsy estava no terceiro mês de gravidez quando um Trent


apaixonado e orgulhoso a pediu em casamento. Como ela não
queria se casar parecendo ter engolido uma melancia, segundo
suas próprias palavras, e nem desejava esperar até o
nascimento do bebê, ambos resolveram apressar os
preparativos. Quatro semanas depois de feito o pedido, os
dois se casaram em uma cerimônia linda e emocionante na
Catedral de São Pedro, em Nova York.
Tyler Scott Campbell nasceu cinco meses depois, medindo
cinquenta centímetros e pesando três quilos e novecentos
gramas. Um verdadeiro bebezão. Betsy não podia estar mais
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contente, enquanto o papai urso sorria de orelha a orelha, pois


agora eles tinham o mini Trent que tanto desejaram, a fim de
completarem a família Scott-Campbell.

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Prólogo - Fix You – Coldplay


Capítulo 1 - Bed of Roses – Bon Jovi
Capítulo 2 - Breakaway – Kelly Clarkson
Capítulo 3 - The First Time Ever I Saw Your Face –
Roberta Flack
Capítulo 4- Alive – Sia
Capítulo 5 - Take My Breath Away – Berlin
Capítulo 6 - Fire Met Gasoline – Sia
Capítulo 7 - Wings – Bird
Capítulo 8 - Kiss Me – Ed Sheeran
Capítulo 9 - Feel – Robbie Williams
Capítulo 10 - I Wanna Take Forever Tonight – Peter
Cetera
Capítulo 11- I Wanna Know What Love Is – Foreigner
Capítulo 12- Tu Me Cambiaste La Vida – Rio Roma
Capítulo 13 - One More Night – Feel Collins
Capítulo 14 - Use Somebody – Kings of Leon
Capítulo 15 - Always – Bon Jovi
Capítulo 16 - Stay – Thirty Seconds to Mars - Cover
Capítulo 17 - Miracle of Love – Eurythmics
Capítulo 18 - Feeling Good – Muse
Capítulo 19 - Will You Still Love Me Tomorrow? – Amy
Winehouse
Capítulo 20- Like A Stone – Audioslave
Capítulo 21 - I Can’t Feel My Face – Weeknd
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Capítulo 22 - In My Veins – Andrew Belle


Capítulo 23 - Came With Me Now – Congo
Capítulo 24 - Dream On – Aerosmith
Capítulo 25 - Wanna Whole Lotta Love – Led Zepellin
Capítulo 26 - Maybe I, Maybe You – Scorpions
Capítulo 27 - Never Tear Us Apart – INXS
Capítulo 28 - We Are The Champions – Queen
Capítulo 29 - Don’t Speak – No Doubt
Capítulo 30 - Come As You Are – Nirvana
Capítulo 31 - Everybody Hurts – R.E.M.
Capítulo 32 - It’s My Life – Bon Jovi
Capítulo 33 - Blanco Y Negro – Malu
Capítulo 34 - Haunted – Beyoncé
Capítulo 35 - When A Man Loves A Woman – Michael
Bolton
Capítulo 36 - It’s Time – Imagine Dragons
Capítulo 37 - Have You Really Loves A Woman? – Bryan
Adams
Capítulo 38 - Who Wants To Live Forever – Queen
Capítulo 39 - Reason – Hoobastank
Capítulo 40 - San Quentin – Johnny Cash
Capítulo 41 - You And I – Kenny Rogers
Capítulo 42 - Hallelujah – Leonard Cohen
Capítulo 43- Take Me To Church – Hozier
Capítulo 44 - The Scientist – Coldplay
Capítulo 45 - You Remind Me – Nickelback
Epílogo - Forever – Kiss

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O livro II da série SOB O MESMO CÉU a ser lançado é a


história do AARON e da AMY, que se encontra em fase de
revisão e diagramação. O Lançamento está previsto para o
mês de Março de 2017. A história dá um salto no tempo e
nela será esclarecido tudo sobre a origem da Amy, e será
explicada a motivação que levou Caleb a tirá-la da sua
família.

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1 gíria utilizada em Nova York para identificar os policiais, devido à cor


de seus uniformes.
2 Frase célebre foi dita pelo astronauta Jack Swigert durante a viagem da
Apollo 13 à Lua, em 11 de abril de 1970, com três tripulantes. Após ouvir
um estranho ruído, eles descobriram que um dos tanques de oxigênio
havia explodido.
3 Paul Jackson Pollock (Cody, Wyoming, 28 de janeiro de 1912 —
Springs, 11 de agosto de 1956) foi um pintor norte-americano e referência
no movimento do expressionismo abstrato.

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