Você está na página 1de 3

A França hoje: desequilíbrio e desigualdades

O desequilíbrio entre Paris e a província, decorrente de uma longa história de centralização,


traduz-se na concentração do poder, da população e da riqueza na capital francesa e na região
de Ile de France. Na década de 1950, o aumento demográfico e o desenvolvimento económico
continuavam a favorecer Paris e era necessário limitar esta atração excessiva que esterilizava o
crescimento do resto do território. Em 1947, o geógrafo francês Jean François Gravier
publicara Paris e o Deserto Francês1, defendendo a intervenção por parte do Estado para
estimular o desenvolvimento e reduzir os desequilíbrios. Os políticos tomavam então
consciência da necessidade de uma política de ordenamento do território que favorecesse a
descentralização.

O desequilíbrio entre Paris e a província

Desequilíbrio demográfico: em 2006, 18% da população francesa está concentrada na região


de Ile de France, que representa apenas 2% do território.

Desequilíbrio económico: em Paris encontram-se a maior parte das atividades terciárias com
os salários mais elevados e mais de 90% das sedes das grandes empresas. A Ile de France é a
primeira região económica da União europeia, com cerca de 5% do seu PIB.2

1
Sobre a obra de Gravier, a sua influência e atualidade, veja-se os artigos:
https://www.lemonde.fr/idees/article/2008/07/15/paris-et-le-desert-francais-par-jean-louis-
andreani_1073531_3232.html
https://www.lemonde.fr/blog/transports/2019/03/22/10-choses-paris-et-le-desert-francais/
2
Cf. http://www.grand-paris.jll.fr/fr/paris/economie/
Desequilíbrio social: os franciliens são 30% mais ricos que os restantes franceses.

O desequilíbrio entre Este et Oeste

A leste da linha que liga Le Havre a Marselha, estão as regiões mais industrializadas, com
cidades mais numerosas e em geral mais dinâmicas, que beneficiaram no século XIX da
revolução industrial.
A oeste e no centro-sul, situam-se as regiões maioritariamente rurais, lideradas por cidades
que vivem principalmente das suas funções administrativas e comerciais. O sul e o oeste da
França estão mais longe dos grandes focos dinâmicos da Europa. Esta região parece menos
favorecida apesar da presença de cidades em desenvolvimento (Nantes, Toulouse, Bordéus,
Rennes).
A consciência da existência de uma França a duas velocidades levou o Estado a considerar o
ordenamento do território como um meio de melhorar o equilíbrio espacial do país.

O desequilíbrio entre o espaço rural e o espaço urbano

A desertificação do campo: com exceção das regiões dos cereais e do vinho, que são ricas e
têm oportunidades globais, a zona rural francesa está vazia. Em França, há uma "diagonal do
vazio" das Ardenas aos Pirenéus. Nestas regiões, as populações estão a envelhecer e a ver os
seus serviços progressivamente encerrados.

Uma França urbana: Desde a revolução industrial, a França tem sofrido um êxodo rural muito
grande. Três em cada quatro franceses vivem na cidade, onde têm melhor acesso aos
equipamentos de saúde, educação e cultura e onde é mais fácil encontrar trabalho: 80% da
riqueza produzida em França provém das cidades.
O ordenamento do território

Depois da II Guerra Mundial, a consciência da existência de uma França a duas velocidades


levou os governantes a considerar o ordenamento do território como um meio de melhorar o
equilíbrio espacial do país.
Nos anos 50-60-70 do séc. XX, o Estado é o principal agente deste desenvolvimento. A DATAR
(Délégation à l’Aménagement du Territoire et à l’Action Régionale) é o organismo responsável
pela execução da sua política, que resulta nas seguintes ações:
Criação de 9 «villes nouvelles», cinco das quais em torno de Paris, para tentar organizar o
crescimento demográfico urbano
Criação de metrópoles «de equilíbrio» (Lille, Nancy - Metz, Estrasburgo, Lyon, Marselha,
Toulouse, Bordéus, Nantes).
Modernização da rede de transportes (criação de autoestradas e novos caminhos de ferro:
TGV)
O objetivo de todas estas ações era reduzir o peso de Paris e o desequilíbrio este-oeste.
Com a crise económica da década de 1970, foi dada prioridade à conversão das regiões
industriais em crise, como o Norte e o Nordeste de França. Foram criados grandes centros
industriais como o de Dunquerque e parques industriais como Sophia Antipolis, perto de Nice.
Desde a década de 1980, a descentralização e o desenvolvimento da União Europeia levaram o
Estado a agir com outros parceiros. Regiões, departamentos e comunas tornam-se agentes
fundamentais de desenvolvimento económico e ordenamento do território. A União Europeia,
por intermédio do FEDER, atribui verbas às regiões em dificuldades.

Você também pode gostar