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HORA CÍVICA – 06/09/2023

1º ANO 2
Apresentação: Dallin Ahmad
Joana Angélica
O historiador Bernardino José de Souza (1884-1949) escreveu que dos acontecimentos "tormentosos"
da época, "nenhum impressionou mais fundo a alma da Bahia do que o selvagem ataque dos soldados
contra o indefeso convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa". Foi o episódio no qual, segundo
suas palavras, "morreu nobremente a primeira heroína da epopeia da Independência".
Neste trecho, do livro Heroínas Baianas, Souza referia-se à religiosa concepcionista Joana Angélica
de Jesus (1761-1822).
Joana Angélica era de uma família de ricos aristocratas de Salvador. Conta-se que desde muito cedo
manifestava inclinação pela vida religiosa e seus pais, José Tavares de Almeida e Catarina Maria da
Silva, nunca se opuseram a isso — pelo contrário, apoiaram a menina.
"A Independência [do Brasil] foi um ato complexo que envolveu uma série de eventos em diversas
regiões do que hoje chamamos Brasil. Lutava-se contra a dominação portuguesa. No caso da Bahia,
havia uma disputa pelo comando militar da região".
Em solo baiano, essa situação se materializava na disputa entre "os nascidos em Portugal, interessados
na retomada das prerrogativas coloniais e os nascidos na Bahia, preocupados com a manutenção das
vantagens que tinham conseguido com a vinda da família real ao Brasil".
"Havia na Bahia uma relação muito conflituosa entre portugueses e nativos, muito por conta da
cobrança de impostos mas também por conta da miséria em que muitos escravos e libertos viviam
numa região que estava perdendo cada vez mais força para o Rio de Janeiro."
"O ponto alto da batalha em Salvador foi a tomada do Forte de São Pedro, onde o brigadeiro Manuel
Pedro de Freitas Guimarães, comandante nativista, acabou dominado, preso e enviado para Portugal",
narra o pesquisador. "Na sequência dos combates, soldados portugueses, grande parte embriagados,
perseguiram os brasileiros que escaparam do Quartel da Mouraria. Como esse ficava perto do
Convento da Lapa, ele foram até o convento para verificar se os brasileiros tinham fugido para lá e
se o local guardaria armas."
Alegando terem ouvido rumores, os portugueses disseram acreditar que as religiosas estivessem
dando abrigo para os brasileiros. "Ela tentou impedir que os soldados entrassem no claustro, que era
vetado para os homens, e acabou sendo morta com golpes de baioneta", relata o pesquisador Rezzutti.
"[A freira] agiu de maneira a resguardar a integridade das freiras, colocando-se diante dos soldados
portugueses que queriam invadir a clausura, e acabou morta por eles", diz ainda o pesquisador. "A
ação dela era de proteger o convento, as noviças e outras irmãs, não tinha qualquer ligação com a
causa entre portugueses e brasileiros."
Mesmo assim, Rezzutti ressalta que ela "é considerada a primeira heroína da independência" e é
"pouco lembrada por isso".
Narrativas da época registram que ela teria enfrentado as tropas dizendo: "Para trás, bandidos!
Respeitem a casa de Deus! Recuem: só conseguirão penetrar nesta casa passando por cima do meu
cadáver!" Mas hoje se acredita que esses dizeres tenham sido inventados postumamente para ilustrar
o seu martírio.
Para o historiador Guerra Filho, o gesto de Joana pode ter sido imbuído de valores católicos e também
de um conhecimento do contexto político. "Eu acredito que ela praticou a defesa da religião, ou seja,
protegendo o claustro como um local, dentro de um convento feminino, em que homens não podem
entrar. Mas não desprezo que ela tivesse também a percepção das injustiças, da opressão portuguesa,
algo que era muito comum à época."
"E os portugueses foram extremamente violentos na entrada do convento. A morte de Joana Angélica
acabou gerando uma comoção popular na Bahia", afirma ele. "Mesmo que [o episódio] tenha sido
exaltado posteriormente como um caso de identificação nacional, o que ocorreu no calor do momento
foi importante. Ela teve um papel importante, para a historiografia, no processo de independência."

Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-60428893

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