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FICHAMENTO KOJÈVE

KOJÈVE, Alexandre. The Notion of Authority: a brief presentation. Tradução: Hager


Weslati. London: Verso, 2014.

- Introdução de François Terré:


Kojève identifica em seu tempo que, apesar de questões que dizem respeito a
transferência de autoridade e seu surgimento terem sido abordadas, a verdadeira
essência desse fenômeno raramente atraiu qualquer atenção. Entretanto, é impossível
abordar o poder político ou até mesmo a estrutura do Estado sem conhecer a autoridade
enquanto tal. p. 12
- Seja percebido em termos de relações triangulares integradoras (estados, grupos e
indivíduos) ou em detrimento de uma relação circular entre dominação e obediencia,
dominações e subordinações e por aí vai, a autoridade geralmente é definida pelo que
ela não é, ou seja, como uma negativa. p. 13
- Resumo do argumento de Hannah Arendt:
"According to Arendt, Greco-Roman tradition, extended and relayed by Christianity,
has transmitted a concept that rests on the combination of three components: tradition,
religion, and authority. At the same time, its history has been marked during recent
centuries by the disappearance of tradition and the loss of religion. More stable, and yet
fatally undermined in its very foundations, authority is also destined to disappear, even
though its disappearance is only that of a ‘very specific form which had been valid
throughout the Western World over a long period of time’. It is for this reason that
‘practically as well as theoretically, we are no longer in a position to know what
authority really is’. Arendt adds that ‘the answer to this question cannot possibly lie in a
definition of the nature or essence of “authority in general”. p. 14
- Mommsen: "it is less than an order and more than advice". p. 15
- IMPORTANTE: Autoridade na visão fenomenológica de Kojève, segundo Ferré -
autoridade é a possibilidade que um agente tem de agir sobre outros, sem esses outros
reagirem contra ele, apesar de serem capazes de fazê-lo// deve ser necessariamente
reconhecido pelo seu objeto; cada autoridade humana deve ter uma causa, uma razão e
uma justificativa para sua razão de ser: "As a social phenomenon, ‘Authority is the
possibility that an agent has of acting on others (or on another), without these others
reacting against him, despite being capable of doing so.’ ‘By acting with Authority, the
agent canchange the outward human given without suffering a repercussion from such
action, i.e. without himself changing as a result of his action.’ Clarification: ‘If, in order
to make someone get out of my room, I have to use force, I have to change my own
behaviour to realize the act in question, and I show through this behaviour that I have no
authority.’ A consequence of this is the isolation of the notion of authority, which
excludes force, [whereas] right implies and presupposes force while being something
different from it.’ Necessarily ‘recognised’ by its subjects, ‘every human Authority that
exists must have a ’cause’, a 'reason’ or a ‘justification’ for its existence, a raison
d’être’. In other terms, why is it consciously and willingly recognised, endured without
reaction? What is this authority?" p. 16
- De acordo com Kojève, há quatro tipos de autoridade elementares (embora não sejam
puras): a autoridade do pai sobre a criança (tradição); autoridade do mestre sobre o
escravo (nobility); autoridade do líder sobre a gangue (chefe); autoridade do juíz sobre
as pessoas que ele julga (confessor). Ou seja, é possível existir autoridade mistas que
podem pertencer a vários tipos --> aspecto plural de autoridade, que reprimi todas as
tendencias dominantes (de uma vertente de autoridade ou de outra).
- Kojève relaciona cada tipo com uma parte da filosofia antiga e medieval: "Coming
back to the four philosophies mentioned above, Kojève notes their correspondence to
four pure types of authority. That of the master is in line with Hegel’s thought and with
the relation between master and slave, which is, apparently, considered a ‘general
theory of authority’, even though it does not account for the authority of the father,
leader, or judge types. Following Aristotle, another type of authority becomes central –
that of the leader who is more apt than others to foresee, who is more intelligent and
intuitive; the leader is he who conceives of a project and who guides and commands.
Platonic thought is again different, every authority being founded, or needing to be
founded, on justice or equity. In this respect, it is the authority of the judge that is
central and exclusive. Thus, it is ‘the claim to impartiality, objectivity, disinterestedness,
and so on, that always gives rise to an authority’. Similarly, the ‘ “just” or “honest” man
possesses an unquestionable authority, even if he does not hold the position of an
arbiter’. The scholastic or theocratic theory, itself having a universal and exclusive
dimension, corresponds to the authority of the father, which is in reality, like the three
other types of authority, endowed with a divine essence because its authority is derived
from God via the transmission of hereditary essence. p. 17
- Existência de autoridades seletivas que integram um, dois ou tres desses tipos de
autoridade. Não há autoridade absoluta, no sentido forte da palavra - isso nunca é
realizado de fato (apenas por Deus - ou deveria ser por Deus).

Roma - termo auctoritas é difeferente de validação e de efetividade. É algo diferente do


que a manifestação de poder.

Não há autoridade condicionada que se torna autoridade como resultado de atos outros
além daqueles do sujeito que irá mante-la.
- Análise fenomenológica exclui a possibilidade de se tornar uma autoridade através do
efeito de um contrato social. A pretensão de uma total e absoluta autoridade do todos
sobre as partes, da maioria sobre a minoria, apenas toma forma a partir do momento
quando a vontade a geral deixou de ter caráter divino (ou ideloógico, interpretado por
líderes espirituais), e a ideia for concebida de que "a vontade geral é expressa pela
vontade da meioria". p. 19
- Abordagem de Kojève segue uma abordagem fenomenológica, com metafísica e
ontologia. Concepção da autoridade que é, necessariamente, social e histórica,
implicada pela possibilidade de reação, em relação a uma sociedade, ou ainda melhor, a
um estado, que pode ser religioso, político e etc. Kojève pensa que a base da autoridade
pertence a uma modificação da entidade (humana ou histórica) do tempo. p. 20
- Importante: Autoridade e relação com o tempo // o tempo da autoridade é relacionado
com a primazia do futuro de tal forma que a autoridade por excelência é aquela do líder
revolucionário (seja movido por motivos políticos, religiosos, etc), com um "projeto"
universal. Mas o fato é que o tempo tem indubitavelmente, o valor de uma
autoridade...em todos os tres modos: "The primacy of the (‘venerable’) past speaks for
itself. Arendt has argued this point in terms of foundation and tradition. The passing
time, which, added to the belief and imagination of men, founds the compulsory
character of customs, is also a basis of the legitimacy both of a people and of monarchs.
From this common foundation may result disputes over frontiers or identity that are
subsequently overcome in the further course of events. There is in fact also for Kojève
an authority of the future, that of ‘tomorrow’s man’, that of the ‘young’. As for the
authority of the present, it is lived on a daily basis, as with ‘fashion’ for instance, or
more generally, with the ‘ “real presence” of something in the world … as opposed to
the “poetic” unreality of the past and the “utopian” unreality of the future’. What is
revealed here is the primary importance of metaphysical analysis and the taking into
account of temporality. ‘[A]ll these “temporal” Authorities are set against the Authority
of eternity … the negation of Time’ – that is to say, one of its modes of time. The key
question that presents itself at that point is whether the Authority of eternity is a ‘sui
generis Authority’ or a direct ‘manifestation’ of the metaphysical bases of the four
‘pure’ types of Authority’ [pp. 49–50]. Kojève believes that this second analysis is
correct, which leads to a fundamental conclusion asserting the primacy of eternity." p.
21
- Poder do juíz é isolado em relação aos outros tres, e considerado superir a eles. p. 22
- Nenhuma das quatro teorias filosóficas (Hegel, Aristóteles, Platão e Escolástica)
montaram uma análise ontológica satisfatória, já que cada uma foi concebida como
universal, e assim, não cobriram as quatro noções de autoridade em uma teoria geral, o
que para Kojève é indicativo da inadequação de suas bases ontológicas. p. 23
- Três poderes, três modos temporais- autoridade do líder baseado no futuro; autoridade
do mestre baseado no presente; e autoridade do juíz baseado no passado. Mas deveria
essa trindade ser mantida a qualquer custo? Nós podemos considerar um movimento em
direção tanto a retração, quanto a expansão, já que há poderes que não se encaixam
nessas estruturas familiares pré-estabelecidas. Em todos os casos, autoridade implica ao
mesmo tempo um poder a resistir mas também uma ausência de resistência - melhor,
uma obediencia, mesmo que, usando essa noção que o autor raramente avoca, nós
estamos adicionando algo na sua linha de pensamento. p. 25
- Kojève acha curioso que o problema e a noção de autoridade tenha sido pouco
estudada. As questões pertencentes a transferência de autoridade e sua gênese tem sido a
principal preocupação, enquanto a "verdadeira" essência desse fenômeno raramente
atraiu qualquer tipo de atenção. Não podemos dizer, no entanto, que não há teoria de
autoridade. Kojève afirma que podemos distinguir em 4 (essencialmente diferentes e
irredutíveis) teorias que foram propostas ao longo da história:
1) Teoria teológica ou teocrática;
2) Teoria de Platão
3) Teoria aristotélica
4) Teoria hegeliana (VER NO TEXTO AS DESCRIÇÕES). P. 30
- Todas essas teorias são exclusivas. Elas reconhecem apenas um tipo de autoridade - a
que elas mesmas descrevem, e veem no fenômeno "autoritário" nada mais do que uma
manifestação de simples e pura força. Porém, Kojève afirma que reduzir a autoridade a
força é antes negar ou ignorar a existência da própria autoridade. p. 31
- Kojève afirma que não pretende apresentar uma teoria completa e definitiva de
autoridade, mas antes, que devemos formular problemas e indicar direções gerais no
sentido de suas soluções. p. 33
- Há autoridade apenas se há movimento (real ou possível), mudança e ação.
A autoridade é mantida apenas sobre o que pode 'reagir', ou seja, o que pode mudar de
acordo com o que ou quem representa ('personifica', realiza ou exerce) Autoridade. E,
obviamente, a Autoridade pertence à pessoa que pode efetuar a mudança e não à pessoa
sujeita à mudança: a Autoridade é essencialmente ativa e não passiva. Portanto,
podemos dizer que o verdadeiro "apoio" de qualquer autoridade é necessariamente um
agente no sentido próprio e forte do termo, ou seja, um agente que é considerado livre e
consciente (e, portanto, um ser divino ou um ser humano, e nunca algo como um
animal, por exemplo). // RELACIONAR COM LATOUR PORQUE HOJE OS
ATORES NÃO-HUMANOS TÊM AÇÃO. p. 34
- É possível ter autoridade ao executar uma ordem dada por outra pessoa. Supõe-se,
porém, que o agente investido de autoridade entenda essa ordem e aceite-a livremente:
um gramofone que transmite as palavras do líder não tem autoridade em si mesmo. O
ser investido de autoridade é então necessariamente um agente, e o ato autoritário é
sempre um ato absoluto (consciente e livre).
No entanto, o ato autoritário se distingue de todos os outros atos por o fato de não
encontrar oposição da pessoa ou pessoas para as quais é direcionado. Por sua vez, isso
pressupõe tanto a possibilidade de se opor a ela como a renúncia consciente e voluntária
de realizar essa possibilidade.
A autoridade é, portanto, necessariamente uma relação (entre agente e paciente): é um
fenômeno essencialmente social (e não individual); deve haver pelo menos dois para
que a Autoridade exista. Portanto, a autoridade é a possibilidade de um agente agir
sobre os outros (ou sobre outro) sem que esses outros reajam contra ele, apesar de ser
capaz de fazê-lo. Ou ainda: agindo com a Autoridade, o agente pode mudar o ser
humano externo dado sem sofrer uma repercussão dessa ação, ou seja, sem ele próprio
mudar como resultado de sua ação.
Se a ordem dada provoca uma discussão, ou seja, força quem a dá a fazer algo ele
mesmo - ou seja, se envolver em uma discussão - em função dessa ordem, então não há
autoridade. p. 35
- Ou ainda, finalmente: autoridade é a possibilidade de agir sem comprometer (no
sentido amplo do termo).
b) Esta definição mostra claramente que o fenômeno da Autoridade é relacionado ao
fenômeno do Direito. De fato: tenho direito a algo quando posso fazê-lo sem encontrar
uma oposição (reação), sendo esta última possível em princípio.
Qualquer autoridade é necessariamente uma autoridade reconhecida; não reconhecer a
autoridade é negá-la e, portanto, destruí-la. p. 36
- A ação 'legal' ou 'legítima' também pode ser uma ação 'autoritária': tudo o que é
necessário para que isso aconteça é que a atualização de possíveis 'reações' seja (livre e
conscientemente) renunciada. (Nesse caso, o Direito exerce uma Autoridade, mantendo-
se um Direito na medida em que exista uma força capaz de realizá-lo, se necessário - ou
seja, se o Direito deixar de exercer sua Autoridade. Em suma, o Direito tem autoridade
apenas para aqueles que o 'reconhecem', mas continua sendo um direito mesmo para
aqueles que estão sujeitos a ele sem 'reconhecê-lo'.

Relação entre autoridade e legitimidade. Kojève acredita que negar a legitimidade da


autoridade é não reconhece-la (RELACIONAR COM SENNETT, PARA O QUAL
EXISTE AUTORIDADE SEM LEGITIMIDADE): "The person who ‘recognises’ an
Authority (and there is no ‘unrecognised’ Authority) recognises by the same token its
‘legitimacy’. To deny the legitimacy of Authority is not to recognise it – in other words,
by this very act, to destroy it. The existence of an Authority can therefore, in a concrete
case, be denied; but no ‘Right’ can be opposed to a real Authority (that is to say, a
‘recognised’ Authority)." p. 37
- Nossa definição de Autoridade também pode ser vista como próxima da única
definição geralmente válida do Divino: divino é - para mim - qualquer coisa que possa
agir em mim sem que eu tenha a possibilidade de reagir a ele. Contudo, a definição do
Divino difere da definição de Autoridade: em o caso da ação divina, a reação (humana)
é absolutamente impossível; no caso da ação autoritária (humana), a reação é, pelo
contrário, necessariamente possível, mas não ocorre devido à renúncia consciente e
voluntária dessa possibilidade. Podemos falar sobre uma autoridade divina. Mas, no
entanto, terá que ser cuidadosamente distinguido da Autoridade humana, que pressupõe
não apenas a ausência de uma reação real, mas também a presença da possibilidade de
reação. p. 38
- A Autoridade Humana, por outro lado, é essencialmente perecível: a qualquer
momento, a possibilidade voluntariamente reprimida de reagir pode ser atualizada e,
assim, anular a Autoridade. O exercício da Autoridade (humana), portanto, implica
necessariamente um elemento de risco para a pessoa que o exerce pelo próprio fato de
estar exercendo-o - embora nada mais que o risco de perdê-lo, com tudo o que resulta
dessa perda. Consequentemente, toda Autoridade humana que existe deve ter uma
"causa", uma "razão" ou uma "justificativa" para sua existência: uma razão de ser.
Observar que ela existir não é, por si só, suficiente para reconhecê-la (e por esse mesmo
fato prolongar sua existência). p. 39
- Toda autoridade levanta a questão de conhecer o porquê ela existe, ou seja, por que ela
é reconhecida por pessoas que se submetem a atos sem reagir contra eles.

Podemos distinguir 4 tipos elementares de autoridade:) sobre a criança: "α) The


Authority of the Father (or parents in general) over the Child. (Variants: the Authority
arising from a great age gap – the Authority of the elderly over the young, the Authority
of tradition and of those who hold it; the Authority of the dead – a will; the Authority of
the ‘Author’ over his oeuvre – and so on.)" p. 40
- 2- autoridade do mestre sobre o escravo: "β) The Authority of the Master over the
Slave. (Variants: the Authority of the Nobleman over the Serf; the Authority of the
Soldier over the Civilian; the Authority of Man over Woman; the Authority of the
Victor over the Vanquished, and so on.)

3- autoridade do líder sobre a equipe: " γ) The Authority of the Leader (dux, Duce,
Führer, leader,2 and so on) over the Band. (Variants: the Authority of the Superior –
director, officer, and so on – over the Subordinate – employer, soldier, and so on; the
Authority of the Master over the Pupil; the Authority of the Scholar, the Technician,
and so on; the Authority of the Soothsayer, the Prophet, and so on.)"

4- autoridade do juíz: δ) The Authority of the Judge. (Variants: the "Authority of the
Arbitrator; the Authority of the Supervisor, the Moderator, and so on; the Authority of
the Confessor; the Authority of the Just or honest man – and so on.)" p. 41
- Autoridade do mestre sobre o escravo // Hegel: Consequentemente, é possível dizer
que a Autoridade do Mestre sobre o Escravo é semelhante à Autoridade do Homem
sobre a besta e a Natureza em geral, com uma diferença: […] o 'animal' está consciente
de sua inferioridade e a aceita livremente. É precisamente por esta razão que existe
Autoridade neste caso: o Escravo renuncia consciente e voluntariamente à oportunidade
que ele tem de reagir contra a ação do Mestre; ele faz isso porque sabe que essa criação
coloca sua vida em risco e porque ele não quer aceitar esse risco. A teoria de Hegel é,
portanto, de fato uma teoria da Autoridade. E, de fato, explica o porquê da Autoridade
do Mestre sobre o Escravo. Portanto, é uma teoria precisa desse tipo particular de
autoridade (pura). Mas é inadequado para os outros tipos de autoridade. p. 43
- Teoria de Aristóteles, é apresentada como teoria do mestre, mas na verdade pode ser
aplicada a teoria do líder: "Vamos agora avançar para a teoria de Aristóteles. Também é
apresentado como uma teoria da maestria. Mas, na realidade, isso se aplica a um tipo
completamente diferente de Autoridade. Segundo Aristóteles, o Mestre tem o direito de
exercer uma Autoridade sobre o Escravo, porque ele pode antecipar, enquanto o último
apenas percebe as necessidades imediatas e é guiado exclusivamente por elas. É,
portanto, se gostarmos, a Autoridade dos "inteligentes" sobre os "impensados". A
pessoa que percebe que vê menos bem e menos longe do que outro
e prontamente se deixa levar ou guiar por essa outra pessoa. A teoria de Aristóteles se
aplica ao caso da Autoridade do Líder em relação à Banda: é responsável pela
Autoridade do duque, o Duce, o Führer, o líder político e assim por diante. p. 44
- É semelhante à Autoridade do Mestre sobre o aluno: o aluno
renuncia a todas as reações contra os atos do Mestre, porque ele acha que este já está em
uma posição que alcançará apenas muito mais tarde: o Mestre está mais avançado do
que ele. As mesmas observações se aplicam no caso da Autoridade do Erudito ou do
Técnico, e assim por diante: eles veem o fundo das coisas, enquanto os não instruídos
veem apenas a superfície: nesse sentido, veem melhor do que o último, têm uma visão
mais ampla. e visão mais profunda das coisas. Daí vem a capacidade de prever eventos.
Tal habilidade sempre confirmou (e até criou) a Autoridade do Acadêmico. p. 45-46
- Aristóteles ainda tem a autoridade do profeta, do oraculo.

A Autoridade do Juíz não reside em seu amplo conhecimento da lei: sua Autoridade
reside exclucivamente em sua justiça. É, assim, relacionado a teoria de Platão. Segundo
Platão, toda Autoridade é - ou pelo menos deveria ter sido fundada em Justiça ou
Eqüidade. Todas as outras formas de Autoridade são ilegítimas. O que significa, na
prática, que são instáveis, não duráveis, momentâneas, efêmeras, acidentais. Eles não
são nada além de pseudo-autoridades. Na realidade, todo poder que não depende da
Justiça também não se baseia em nenhuma Autoridade no sentido apropriado do
termo.Portanto, não há dúvida que sua teoria é falsa em sua exclusão de outras formas
de Autoridade. p. 46
- Justiça pode servir como a fundação de uma Autoridade sui generis (já que ela pode
contrabalancear ou destruir) // Platão estava errado somente em negar a existencia
independente dos outros tres tipos de autoridade. p. 47
- Importante para a Internett // autoridade do árbitro (é um tipo de autoridade do juíz e
implica um senso de autoridade por incoporar um senso de impacialidade e justiça):
"This can be clearly seen in the variant of the Authority of the Arbiter (which is, to tell
the truth, not a variant, but the pure type; it is the Authority of the Judge that is a variant
of the Authority of the Arbiter). If we do not react against the acts (‘judgements’) of an
Arbiter (freely chosen), it is because we assume his impartiality, that is to say, precisely
the fact that he embodies, so to speak, Justice. Thus, the ‘Just’ or ‘Honest’ man
possesses an unquestionable Authority, even if he does not hold the position of an
Arbiter. Generally speaking, the potentia of impartiality, of objectivity,
disinterestedness, and so on, always gives rise to an Authority [...] " p. 48
- Teoria escolástica e autoridade do pai // de acordo com essa teoria, toda autoridade
(humana) tem uma essencia divina. Tendo em vista que Deus encarna o summum da
autoridade, não é supresa que achamos na teoria teológica todos os quatro tipos puros
que Kojève enumerou, principalmente a do pai, já que Deus é tambem nosso "Pai" p. 49
- A noção de 'Deus Pai' é evidente no momento em que Deus é considerado o Criador
do Mundo e do Homem (ou seja, nas teologias judaico-cristãs e islâmicas). Na medida
em que a teoria escolástica explicava ou "justificava" a autoridade divina pela noção de
"Deus Pai", ela adotou, portanto, a idéia de criação. Deus é o 'pai' dos homens porque os
efetivamente os 'gerou' criando '. E, na medida em que os homens entenderam que são
obra de Deus, abandonam a ilusão vã da possibilidade de uma reação contra os atos
divinos: eles 'reconhecem' a Autoridade divina que, como autoridade (e não apenas
como 'potência', força), é nada além desse "reconhecimento" (ou seja, a renúncia
consciente e voluntária das "reações"). p. 50
- Autoridade do pai e sua relação com o princípio de hereditariedade (relação de causa e
efeito na autoridade). p. 51
Podemos dizer, através dessa relação de causa e efeito, que a Autoridade do Pai (e suas
variantes) podem ser explicadas pelo fato (real ou suposto) da impossibilidade (ou,
melhor, da renuncia voluntária e consciente) de qualquer reação da parte do
"efeito"contra aquele que "causou" a ação. p. 53
- O casp mais puro de Autoridade do Pai, considerada como a autoridade da causa sobre
o efeito é, talvez, a autoridade que o autor (no sentido amplo do termo) tem sobre seu
trabalho. p. 52
- Resumindo: 4 tipos irredutíveis de autoridade:
Pai (causa) / escolástica
Mestre (risco) / Hegel
Líder (projeto - predição) / Aristóteles
Juíz (equidade, justiça) / Platão

Os casos concretos de autoridade são sempre complexos: todos os quatro tipos puros
são combinados. Mas podemos distingui-los em termos de predominancia de um ou
vários desses tipos puros. Parece que a autoridade que fornece a base para outra tem a
maior predominancia. p. 53
- Autoridade total - engloba todos os 4 tipos de autoridade.
Autoridade seletiva - engloba um, dois ou tres tipos de autoridade. p. 54
- Autoridade relativa: quando nenhum dos atos de seus possuidores induzem a uma
reação. Autoridade absoluta, no sentido forte da palavra, nunca é realizada de fato.
Apenas Deus a possui (ou deveria possuir).
Autoridade relativa: podem ser classificadas de acordo com sua relativa "grandeza", ou
seja, a relação entre o número de todos os atos e o número de atos que não induzem
nenhuma "reação" (mesmo que apenas sob o pretexto de dúvida ou discussão).

Genesis da autoridade - pode ser espontanea ou condicionada:


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No primeiro caso, é gerado espontaneamente por atos que emanam da pessoa que o
possui, sem pressupor qualquer 'ato' externo ou afastando-se da existência preliminar de
qualquer outra Autoridade. No caso da Autoridade condicionada, ela surge após atos
que não sejam do seu possuidor, e geralmente pressupõe a existência de outra
Autoridade da qual depende. O estudo do nascimento condicionado da Autoridade,
portanto, leva ao estudo da transmissão da Autoridade. Todos os quatro tipos puros de
autoridade assume ter uma origem espontanea. p. 55
- Podemos dizer que toda genesis genuína de Autoridade é necessariamente espontanea
( e há um tipo particular - puro ou composto - de genesis correspondente a cada
Autoridade pura ou composta. Quanto a chamada genesis condicionada, elas são nada
menos do que casos de transmissão. Não confundir genesis da autoridade com seus
sinais externos de reconhecimento. p. 57
- É possível dizer que a genesis da autoridade é a genesis de seu reconhecimento por
aqueles que serão sujeitos a ela. Mas é possível, exatamente por essa razão, dizer que a
autoridade se faz conhecida para aqueles que são sujeitos a ela - dizer que a autoridade
faz ela mesma ser conhecida por aqueles que estã0 sujeitas a ela: ou não há autoridade,
ou é reconhecida pelo mero fato de sua existencia. Autoridade e o reconhecimento da
autoridade são a mesma coisa. // quem é eleito não tem autoridade só depois da eleição,
mas antes (motivo o fez ser eleito: "he does not hold Authority because he has been
elected; he has been elected because he has already been granted the advantage derived
from the Authority generated by his ‘project’; the election was nothing but the
‘manifestation’, the ‘external sign’ of his Authority, engendered spontaneously (that is
to say, by the act of ‘recognition’ of his Authority). Generally speaking, Authority (and
its ‘recognition’) arises (spontaneously) in the ‘candidate’ (who will be elected) before
his election, which is nothing but a (first) manifestation of this already existing (that is
to say, ‘recognised’) Authority. Similarly, the nonelection of a ‘candidate’ does nothing
ut make manifest his lack of Authority.
- O fato de ser a maioria ou uma minoria nunca pode engendrar uma Autoridade; a
Autoridade da Maioria ou da Minoria é ou ilusória (simplesmente força), ou pertence a
um dos tipos elementares e suas combinações (essa autoridade poderia, de fato,
pertencer tanto a maioria quanto a minoria) // a autoridade da minoria se justifica em
termos de qualidade (ex.propagada) e não de quantidade. p. 62
- General will - combinação dos quatro tipos de autoridade pura. A própria noção de
"general will", mostra que ela tem uma tendencia de reclamar uma autoridade total (e
não seletiva). Em outras palavras, ela deve integrar todas as formas de autoridade. p. 63
- A transmissão pode se dar através de hereditariedade, eleição ou nomeação.
Importante - pessoas, em si mesmas, não possuem autoridade, apenas seus atos: Em
toda transmissão da Autoridade, supomos (mais ou menos conscientemente) que a
Autoridade não está ligada a uma pessoa determinada (daí, a propósito, a possibilidade
de uma Autoridade coletiva). Como a Autoridade permanece a mesma (as pessoas que a
representam, a personificam e a realizam, são, portanto, seu suporte material, e assim
por diante), ela pode ser substituída por outra. O que significa que a Autoridade não é
gerada pelo ser da pessoa que a possui, mas apenas por seus atos (ou por suas
'qualidades'; não pela 'substância', mas pelos 'atributos'): se outra pessoa (ou pessoas) )
agissem da mesma maneira, gozariam dos benefícios da mesma Autoridade. Portanto, a
Autoridade pode permanecer idêntica a si mesma enquanto é transmitida de uma pessoa
(individual ou coletiva) para outra, desde que todas elas reproduzam os atos que geram
essa Autoridade.

Transmissão hereditária é fundada na teoria (mais ou menos consciente) de acordo com


quais atos (ou qusis vitudes ou a possibilidade de tais atos), são transmitidas de pai para
filho. p. 66
- Transmissão por nomeação: quando o candidato a Autoridade é designado pela pessoa
(ou pessoas) que já possui uma Autoridade e um do mesmo tipo (um Líder nomeado por
um Líder, por exemplo). O candidato pode, em princípio, ser qualquer pessoa, uma vez
que deriva sua Autoridade da pessoa que o escolheu (o último transmite a ele seu
"conhecimento", na forma de diretrizes, conselhos e educação, por exemplo).

Transmissão por eleição: quando o candidato é designado por uma pessoa ou pessoas
que não têm Autoridade ou têm uma Autoridade de outro tipo (um Juiz nomeado por
um Líder, por exemplo). Nesse caso, há genuinamente a eleição, ou seja, uma escolha
(das melhores), uma vez que o candidato não pode derivar sua Autoridade da pessoa
que o elegeu, porque este último não tem autoridade, portanto o candidato só tem a
agradecer por ela (a eleição nada mais é do que revelar seu "valor", ou seja, sua
Autoridade). p. 67
- Em sua essencia, autoridade implica em geração espontanea. Qualquer forma de
transmissão de autoridade sempre a dimunui, até um certo ponto.
Autoridade do Juiz é a que menos tende a transmissão. Para ter a verdadeira autoridade
do juiz, seus representantes sempre devem aproveirar o beneficio de uma autoridade
espontanea encontrada em sua justiça pessoal (equidade, honestidade).
Transmissão da autoridade do pai é mais adequada a transmissão por hereditariedade.
A autoridade do mestre pode ser mais bem transmitida através da eleição.
A autoridade do líder é mais adequada a nomeação (pela pessoa que possui a autoridade
do líder), já que o líder supostamente preve o futuro, ele deverá saber anteriormente o
comportamento da pessoa que ele irá nomeae, de maneira que essa nomeação
reconhecida pelo líder possa, em princípio, transmitir autoridade além daquela do líder.
p. 69
- Autoridade é essencialmente um fenomeno humano (não-natural), o que significa que
é social e histórico. Autoridade pressupõe uma sociedade. E uma sociedade pressupõe (e
implica) numa história (e não apenas na evolução biológica e natural). Em outras
palavras, a Autoridade pode apenas se manifestar (se tornar um fenomeno) em um
mundo com estrutura temporal. A fundação metafísica da autoridade, portanto, é a
modificação da entidade "Tempo" (a ser entendido como um tempo histórico e humano,
com o ritmo futuro, passado, presente, em oposição ao tempo natural, com
predominancia do presente na esfera física, ou o passado na esfera biológica). '//
explicar melhor através de Koselleck. p. 71
Não há dúvida, para Kojève que o Tempo tem, portanto, o valor de uma Autoridade:

"First of all, the Past. A Past is always ‘venerable’; tampering with it is ‘sacrilegious’; to
neglect it is ‘inhuman’. The Authority of an institution has always been ‘justified’
(explained) by its antiquity (especially in pagan Antiquity). Similarly, the seniority of a
family, of a State, has always been not only a title of glory, but also a very real
foundation of Authority.
But there is, on the other hand, an equally indisputable Authority, that of the Future.
The ‘man of the future’ has an Authority from the mere fact of having ‘everything
before him’. It is from the Future they embody that the ‘young’ derive their Authority,
which, at times, can be considerable. We recognise voluntarily the Authority of the
‘man oftomorrow’
Finally, the Present itself has an Authority as Present. We want to be up to date,10 we
do not want to be ‘behind the times’. The enormous – and ‘tyrannical’ – Authority of
‘fashion’ is an Authority of the Present, of the ‘actual’. The Authority of the ‘man of the
moment’ pertains to the fact that it is he, par excellence, who represents ‘actuality’, the
Present, the ‘real presence’ of something in the world (Hegel’s Gegenwart), as opposed
to the ‘poetic’ unreality of the past and the ‘utopian’ unreality of the future.". p. 71-72
- Por outro lado, todas essas autoridades temporais estão postas opostas a autoridade da
eternidade (a qual os representantes de Deus derivam sua autoridade). Se o eterno tem
autoridade é apenas em oposição ao temporal, ou seja, em relação ao último. Eternidade
é nada mais do que a negação do tempo, e depende dele; se relaciona negativamente
com as autoridades do passado, presente e futuro. Assim, há a autoridade da eternidade
e a autoridade do tempo em seus tres modos. p. 72
- Autoridade do juiz é nada mais do que uma variante da autoridade do eterno, ou seja,
uma manifestação autoritária do Eterno e sua relação com o Tempo. A Autoridade do
Juiz é resistente a qualquer forma de 'sucessão', ou seja, a qualquer forma de
'temporalização', uma vez que, em certo sentido, está fora do Tempo: considera-se que
existe sempre, e se não puder, desaparece completamente (para surgir espontaneamente
mais uma vez), em vez de "passar" (sem descontinuidade) para algo posterior. As outras
três Autoridades, ao contrário, parecem "persistir" no Tempo, e sua "transmissão" nada
mais faz do que manifestar sua essência temporal. p. 73
- Eternidade em sua relação com o tempo é, portanto, a base metafísica da autoridade do
juíz. Quanto as outras 4 formas puras de autoridade, elas tem como sua base metafífica
(humana), o tempo. A autoridade do pai tem sua manifestação no passado
respectivamente (hereditariedade); o líder, devido a nomeação opera sob a ideia de
futuro (futuro comportamento do será nomeado); o mestre, devido a seu caráter de
eleição e que é ela que importa, pertence ao presente. p. 74
- Elaboração da explicação dos tres tempos e associação com os tipos de autoridade:
"The Past which exerts an Authority over me is a historic Past; it is my Past, that is to
say the Past that is the ‘cause’ of my Present and the ‘basis’ of my Future; it is the Past
that is held to determine the Present with the Future in mind. [...] The Future exerts an
Authority only in so far as it is my future, the historic future, which determines the
Present (or is assumed to determine it), while maintaining its links with the Past. In
other words, the Future exerts an Authority only in so far as it ‘manifests’ itself in the
guise of a project (conceived in the present with the future in mind, and based on
knowledge about the past)." p. 75
- "We notice therefore a ‘real presence’ of the Past and the Future in the Present, which
has Authority: it is a Present that arises from the Past and is expecting the Future. But
such a (human or ‘historic’) Present is nothing other than action in the strong sense of
the term, the action that realises in the present the memory of the past as well as the
project of the future. " p. 76
- Para Kojève, a análise metafísica justifica a análise fenomenológica no sentido que
explica por que há necessariamente 4 tipos irredutíveis de autoridade, e apenas 4.
Também permite controlar e retificar a descrição analítica de cada tipo "puro" (e cada
variante) e os links que conectam uns aos outros. Consequentemente, nos permite
compreender e "justificar " as consequencias políticas, morais e psicológicas que podem
ser deduzidas da análise fenomenológica do fenomeno da Autoridade. p. 77
- Devemos dizer, no entanto, que nenhuma das quatro teorias da Autoridade implica
uma análise ontológica profunda e precisa. Certamente, todas essas teorias ascendem ao
nível ontológico (partindo do nível fenomenológico e do metafísico). Mas precisamente
porque cada uma dessas teorias foi concebida como uma teoria universal, reconhecendo
apenas um tipo de Autoridade e confundindo-a com a própria Autoridade, suas análises
ontológicas só poderiam ser incompletas e errôneas. (Mais precisamente, são as
imprecisões das ontologias dos autores dessas teorias que as levaram a realizar análises
fenomenológicas incompletas, não vendo no complexo fenômeno da Autoridade nada
além do aspecto que correspondeu à sua concepção unilateral de Ser.) p. 79
- Assim, a análise ontológica do fenômeno completo (isto é, quádruplo) da Autoridade
pode permitir-nos elaborar uma ontologia completa, e não mais fragmentária, como foi
o caso de todas as propostas até agora.
Além disso, um fenômeno tão importante quanto o da Autoridade não deve ser
negligenciado em estudos ontológicos. De fato, o trabalho deve ser realizado de maneira
perpétua: descida da ontologia (assumida como definitiva) ao fenômeno; depois
ascensão da fenomenologia (assumida como definitiva) em direção ao Ser enquanto Ser.
Esta é a única maneira pela qual podemos esperar chegar um dia às fenomenologias,
metafísica e ontologias - ou seja, uma filosofia - que é realmente definitiva, ou seja,
verdadeira de maneira absoluta. p. 80

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