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ACAFE: A URGENTE NECESSIDADE DE SE AMENIZAR A DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL.

TÍTULO: Ricos ou risco

“Não tem pobreza que resista a 14 horas de trabalho”. Essa frase, carregada de uma terrível perversidade
ideológica, foi postada pelo coach de finanças Thiago Nigro, em uma de suas redes sociais. No Brasil, o assunto
meritocrata, o qual diz que só é necessário esforçar-se para evoluir, ainda toma conta dos debates políticos que
visam amenizar as desigualdades sociais. Esse discurso patético e elitista, no entanto, não leva em consideração que,
nesse país, pessoas que estão em situações de vulnerabilidade extrema por não terem o que comer, por exemplo,
são constantemente sucateadas não só pelo governo no momento em que pagam impostos, como também pelo
convívio social que estereotipa e animaliza indivíduos que fariam de tudo para ter um pouco mais de dignidade.

Conforme dados de 2019 do relatório anual da Receita Federal, 47% da arrecadação total de impostos é
obtida através da taxação de bens e serviços, enquanto menos de 5% é cobrado acerca de propriedades que
pertencem a pessoas ricas. Esses números assustam, uma vez que aquele com o percentual mais alto de cobrança
está disposto em cima do arroz, da lata de óleo, do passe para transporte público e da gasolina que abastece os
carros populares. Sob esse viés de pensamento, para as classes mais pobres brasileiras e ao contrário das classes
mais ricas, todo o dinheiro ganho é gasto para sua sobrevivência e enviado para que o governo -supostamente-
melhorasse suas condições de vida. O cenário desigual, entretanto, faz com que os mais pobres passem
despercebidos e as arrecadações não cheguem aos bairros que precisam de saneamento básico, de educação e de
saúde de qualidade. Conforme o sistema, então, a única maneira de garantir uma distribuição justa, é aumentar a
arrecadação da renda de pessoas ricas e enviá-las àqueles que pertencem à base da pirâmide.

Ademais, a incerteza que angustia os mais necessitados faz com que os mesmos esqueçam ou ignorem a
posição humana que eles devem ocupar na sociedade. No último ano, notícias medonhas assolaram o sul brasileiro
ao descobrir-se que vinícolas de grande renome, como a Aurora e a Salton, empregavam trabalho análogo à
escravidão para produzir seus produtos. Essas ocorrências infelizes provam que- para aqueles donos de empresas ou
grandes latifundiários- negros, nordestinos, índios ou estrangeiros não passam de mais uma força de trabalho que
pode ser usurpada para obter-se lucro. Proveniente da desigualdade racial estruturada no país, a desigualdade
econômica surge como um desespero para aquelas minorias que não recebem do mercado de trabalho
possibilidades que lhes garantiriam uma vida digna e com condições suficientes para gozar de uma boa qualidade de
vida. É incrível que, nesse país, para enfim acabar com a má distribuição econômica, é necessário antes, acabar um
preconceito secularmente enraizados.

A urgente necessidade de amenizar-se a desigualdade, no Brasil, em suma, expressa-se ao passo que pessoas
com menor poder econômico são constantemente rebaixadas diante a esse sistema opressor. O percentual de
impostos cobrados, portanto, é uma forma de retaliação que o governo exerce sobre os mais pobres ao não garantir
que os benefícios- pagos- voltem para eles. Além disso, quando a dificuldade monetária associa-se aos estereótipos
raciais, o cenário torna-se mais violento, uma vez que a exploração predomina diante dessa parcela minoritária da
população. É deplorável, assim, inferir que, nesse mundo cruel, caso não pertença ao grupo de ricos, está
pertencendo ao grupo de risco.

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