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Nome: Sayaka Haiyama

Raça: Humana

Sub-raça: Saki

Idade: 15 anos (corpo 24 anos)

Aparência física:

Possuí cabelo branco longo e liso que lhe toca as coxas quando solto e olhos azuis, escuros e
profundos. Sua pele é alva e traz algumas cicatrizes de corte, porém nenhuma no rosto. Não
possuí traços saki.

Veste-se com roupas escuras e coladas ao corpo, denotando curvas acentuadas com cintura,
busto e quadris bem definidos. Não usa qualquer tipo de armadura e trás ao lado esquerdo da
cintura uma katana embainhada. Possuí apenas um colar como adorno, preso firme em
diversos pontos do pescoço e com uma gema branca como leite no pingente.

[spoiler]

Possuí uma tatuagem colorida imensa que lhe cobre as costas inteiras, ombros, antebraços e
lado das coxas onde conta sua história, nenhuma parte visível quando vestida.

Na coxa esquerda trás uma maçã podre com vermes como recheio, ligadas com arame farpado
entrelaçado a ratos mortos com as tatuagem das costas. Na coxa direita trás uma foice de
Wuornos fincada sobre uma lápide sem nome e um vulto disforme vestindo um manto
completo, ligada por fitas vermelhas e azuis entrelaçadas até as costas.

Na base inferior esquerda das costas, há a imagem de uma jovem saki, aparentemente entre
10 a 12 anos de expressão séria e cabelo bagunçado e curto, de perfil. O arame farpado ligado
à maçã podre da coxa está amarrado em seu pescoço e sangue escorre onde perfura sua pele.
De costas para a menina saki, olhando para o outro lado, há a imagem de uma mulher, aos 20-
25 anos de idade, de traços do país da escuridão, com um olhar mais sereno, mas a mesma
expressão séria no rosto, cabelo arrumado, liso e longo, que encobre o fim da tatuagem de
ambos lados, já que ambas mulheres são retratadas apenas dos ombros para cima. Os laços
ligados à lápide na coxa envolvem seu pescoço, deixando levemente roxo onde apertam. Há
uma gema branca como leite brilhando entre as imagens das duas garotas, com raios finos que
parecem entrar em suas nucas.

O meio das costas até os ombros, trazem duas asas com penas negras destruídas e parte de
osso aparecendo em vários pontos onde correntes e grilhões as envolvem, esmagando e
deformando as asas. À frente da mesma há vultos de corpos dilacerados e em posições de
sofrimento, todos com uma katana ensanguentada fincada, alguns dos corpos dando volta em
sua cintura, abaixo dos seios, e sangrando até a barriga de Sayaka, criando a imagem de um
anjo com o rosto em lágrimas acima de seu umbigo.
O ombro esquerdo trás o rosto de uma mulher idosa com a boca costurada e o direito o de um
homem idoso de olhos fechados. Antebraços trazem a mesma gema branca das costas acima
de uma katana na horizontal, que flutuam sobre o que parece ser o mar, terminando em linhas
vermelhas e pretas entrelaçadas.

História:

Parte 1: Um corpo

Victoria Greymane era uma sacerdotisa de Wuornos que nasceu e viveu toda sua vida em uma
pequena cidade no interior do País da Escuridão. A infância havia sido humilde porém nunca
passara fome ou necessidades. Seus pais eram mercadores simples e a garota viveu como uma
criança normal, frequentando, também, o pequeno templo de Wuornos que havia na cidade,
como qualquer outro cidadão da mesma, porém despertando um interesse maior que as
demais crianças na crença da deusa. Seus pais partiram para uma cidade maior quando seus
negócios começaram a melhorar, porém atenderam o pedido da filha de deixa-la aos cuidados
do templo, onde estudaria para tornar-se sacerdotisa.

Victória lembrava-se de tudo isso, de todos os anos de treino e orações, tantas famílias que
ajudara e tantos mortos que havia facilitado a passagem para o além vida. Sempre fora como
uma protetora da pequena cidade, tida como heroína por muitos por lutar pelo povo mais
pobre, enfrentando diretamente qualquer tipo de tentativa de exploração ou ameaça de
invasores. Não poderia ficar de braços cruzados quando cidadãos começaram a desaparecer e,
após meses, grunhidos ouvidos na floresta escura que circundava a cidade, até que corpos sem
vida começaram a invadir e atacar a cidade, em números pequenos, mas ainda assim
preocupantes, mesmo porque diversos deles eram dos desaparecidos.

Tantas almas perdidas sem o ritual de passagem adequado, seus corpos vagando pelo mundo
controlados por alguma magia profana. Ela tinha que fazer algo e suas investigações a
trouxeram até aquela gruta no meio da floresta, há décadas abandonada após abrigar por anos
um ancião druida de Alihanna, que a própria Victoria havia ajudado a passar para o mundo dos
mortos, onde sua deusa o julgaria e mandaria para o reino da Deusa da Natureza. O local
parecia vazio, mas mesmo assim adentrou para investigar.

Não precisou andar muito para ver que o local não era mais natural. Uma estrada longa com
tijolos brancos surgiu onde devia haver apenas terra e uma parede de pedra. Ao fim da estrada
havia uma cabana de madeira e palha que parecia cair aos pedaços. Mortos vivos surgiram do
chão e da própria casa onde não havia nada que cobrisse o vão de portas e janelas. Nada que
Victória não pudesse lidar e a todos derrubou com sua foice sagrada e a força dada por sua fé.
As almas que antes habitaram aqueles corpos ainda vagavam próximas a casa e eram sugadas
para sua foice. Não exatamente para a arma, mas para a gema que a encrustava, um artefato
sagrado de Wuornos que coletava as almas ceifadas pela sacerdotisa, para então, ao fim do
dia, serem liberadas por meio de um ritual e partirem para o julgamento após a morte.
Ao entrar na casa, derrubando mais mortos que pareciam não parar de surgir, provavelmente
provindos de outras cidades e vilas, encontrou um alçapão e desceu por mais salas vazias ou
com corpos animados, e mais alçapões, no que parecia ser uma torre enterrada no chão, até
que encontrou uma enorme sala com objetos alquímicos, diversas mesas com corpos e partes
de corpos, incontáveis vidros com órgãos e pedaços orgânicos que não conseguia definir o que
eram, todos estocados em prateleiras e mesas, além de inúmeros livros arrumados em
estantes. Havia uma passagem barrada por uma porta de ferro de onde ouvia sussurros e
gemidos de dor e já se preparava para investigar quando uma voz rouca a barrou, vinda do
outro lado da sala.

- Aprecio heróis orgulhosos que acham poder resolver problemas sozinhos. São as vítimas
mais fáceis. Obrigado pelo presente que me trouxe, me será muito útil. Vossa morte será
rápida, mas sua alma nunca chegará a sua deusa. Lhe nego o descanso da morte.

Tentou invocar uma prece rapidamente, porém algo a impediu, sua magia simplesmente não
funcionava. A última coisa que seu corpo viu ao cair paralisado, foi um vulto vestindo um
manto, com o dedo cheio de ferimentos estendido em sua direção.

Então morreu.

Parte 2: Uma alma

- Mais rápido Sai! Eles tão por toda parte!

A garota corria o mais que suas pernas aguentavam, até mesmo além disso. Cada músculo de
seu corpo gritava de cansaço, afinal não comiam muito e a perseguição já durava o que
pareciam ser horas. Pelo menos na percepção de tempo de uma menina de 12 anos de idade.

Sayaka Haiyama era uma órfã de guerra. Seus pais eram agricultores de um feudo em Saki e,
há dois anos, o feudo havia sido atacado por um clã rival, que matara todos os que não
conseguiram fugir, inclusive eles. A garota, porém, escapou com algumas outras crianças, ou
simplesmente foram ignoradas por serem crianças, passando a viver nas ruas de uma cidade
próxima, tendo que aprender a sobreviver junto a seus poucos amigos, mesmo sendo ainda
muito nova. Não eram raros os dias em que passavam fome e dormiam todos os dias nas ruas,
sendo expulsas por diversas vezes por mercadores e soldados.

Mesmo que não gostasse, eram obrigados a roubar para sobreviver e alguns de seus amigos
eram mais ousados que a medrosa Sai. Sem perspectiva alguma de melhorar de vida, tentavam
conseguir o que podiam e a pequena havia apanhado e sido presa algumas vezes, nunca
ficando muito tempo, já que os crimes eram pequenos. Viu amigos terem membros cortados
como punição porém, coisa que nenhum guarda teve coragem de fazer a pobre e miúda
menina de rua, que sabia bem como usar as palavras para se safar. Mas essa arma falhou um
dia e era por isso que correu.

Havia um grupo de criminosos bem organizado agindo por todo País do Sake, que tinha
diversos ramos, incluindo o tráfico de pessoas para serem vendidas como escravas. Claro que
os alvos perfeitos dos mesmos eram os mais pobres, principalmente pessoas que ninguém
daria falta e, que na verdade, muitos até queriam que desaparecessem. Sai e seus amigos
foram alvos dessa organização, que acabara por matar um garoto que conhecia desde bem
pequenos, até que os jovens tentaram ajuda com a guarda da cidade. Mas o ouro falava mais
alto que a honra, ela soubera disso desde que as ruas viraram seu lar e a vida anterior àquilo
só um sonho. A própria guarda parecia imune a sua lábia agora e foram entregues aos
criminosos quando buscavam ajuda. Porém após alguns minutos ela e seu melhor amigo Kou
conseguiram fugir e correram perseguidos por guardas e criminosos.

Mas não foram muito longe. A eternidade aos olhos da garota não tinha sido pouco mais de
uma hora até que Kou foi ao chão com uma flecha enterrada na nuca. Sai gritou desesperada e
abaixou-se tentando amparar o amigo que tossia sangue pelo buraco deixado pela flecha, que
havia atravessado por completo sua nuca e saído pela boca. Sabia que tinha que correr e que o
amigo morreria, mas suas pernas não se mexiam mais. A maçã velha que carregava
firmemente na mão escorregou e saiu rolando pelo chão quando mãos fortes a seguraram e
recebeu socos e chutes que a fizeram desmaiar.

Quando acordou estava nua e seus ferimentos doíam muito, principalmente porque alguém
esfregava o corpo dela com força. Deu um grito e tentou se afastar, com a consciência
voltando, mas não tinha forças para aquilo, não comia há dias e havia perdido sua maçã
roubada. Já esperava ser agredida novamente mas, quando os socos não vieram, acalmou-se
um pouco e olhou em volta. Sai estava presa por correntes nos pés, ligadas à parede, e uma
mulher já velha esfregava uma esponja molhada por seu corpo. Percebeu que a outra tinha um
colar horrível de ferro em volta do pescoço e uma corrente curta ligando uma perna na outra.
Obviamente era uma escrava, assim como a própria Sai sabia ser agora.

Durante algumas semanas ficou ali presa, recebendo comida e sendo limpa sempre por Angel,
como chamava a velha. Não que a mesma houvesse se apresentado, já que não tinha língua,
ou mesmo porque a considerava um anjo, mas sim porque essa era a palavra escrita na coleira
da mesma e tinha que chamar a única pessoa que via de algum nome. Não percebeu que lhe
estavam tratando bem até que as marcas de socos e chutes desaparecessem, ou teria se
machucado mais. Quando as mesmas sumiram, Angel retornou como sempre fazia, dessa vez
com um vestido marrom e com um cheiro estranho, doce e forte.

Sai espirrou ao sentir aquele cheiro estranho no vestido que era a única coisa que vestia e foi
levada pela mão até um palco, onde outras muitas mulheres eram enfileiradas usando o
mesmo vestido fedorento que ela. Abaixo do palco havia homens bem vestidos e algumas
mulheres com eles, por vezes algum ia até o palco e analisava uma ou outra mulher, não
raramente retirando o vestido e a deixando nua para analisar. Sayaka pensou em correr, mas
não sabia onde estava e havia tantos homens armados em volta dos que estavam sentados,
que provavelmente terminaria como o Kou. Viu então que houve uma comoção atrás dos
homens e um senhor entrou usando um manto longo que se arrastava pelo chão, com um
rosto comum e não saki. O mesmo falou com uma voz rouca para o que parecia ser o chefe
daquela venda de escravos.

- Esperava que houvesse mais.


- Os clãs estão em guerra, morrem rápido antes de os pegarmos.

- Suas desculpas não interessam, somente sua mercadoria. Quantos têm?

- Sete aqui, mais duas lá dentro. Só temos mulheres dessa vez, espero que aprecie.

- Levarei todas.

Então diversas vozes falaram ao mesmo tempo vindas dos homens que analisavam as moças,
pareciam revoltados, esperando que houvesse um leilão para se divertirem antes deles mesmo
levarem algumas das moças como escravas. Todos pareciam irritados com o homem do manto,
porém acalmaram-se ao ouvir as armas serem puxadas pelos guardas do local, únicos que
podiam portar armas no evento. Os escravocratas pareciam conhecer e temer o homem do
manto pois todas as moças tiveram que ir com ele. Sai estremeceu ao perceber que as mãos
do homem estavam cheias de feridas e pústulas.

Foi confinada em uma grande caixa de madeira junto as outras moças, ainda com seu vestido
perfumado embora a maioria estivesse nua. As correntes ainda apertavam seus tornozelos e
uma de suas mãos foi acorrentada a um enorme aro, juntamente com uma mão de cada
mulher. Conhecia as ruas o bastante para criar muitas teorias do que o homem faria com
tantas moças, mesmo porque ele queria mais e não parecia se importar em levar homens
também. Mas qualquer pensamento se esvaiu quando a caixa onde estavam começou a se
mover como que estivesse sobre uma carroça e logo parou, parecendo afundar na terra por
diversos minutos, fazendo com que sentisse um cheiro forte de enxofre que quase a fez
vomitar. Então a caixa parou e abriu-se, demonstrando que estavam em um lugar muito
diferente.

Dois homens da organização haviam acompanhado o homem de manto e soltaram as mãos


das moças, levando sem qualquer cuidado para duas grandes celas que possuíam um corredor
ao centro, terminado em uma porta de ferro. O cheiro do lugar era horrível e foi obrigada a
sentar-se na palha seca e velha do chão, vendo baratas e outros insetos correrem devido ao
movimento repentino da mesma. Um saco de ouro foi entregue a cada um dos homens e os
mesmos saíram, deixando as moças sozinhas após fecharem a pesada porta.

Sai tentou achar uma forma de sair, mas sem muita esperança. Fato é que ficaram ali por
muito tempo. Recebiam comida do próprio homem do manto, porém o mesmo sempre
mantinha a cabeça encoberta pelo capuz e era impossível ver seu rosto. A comida era horrível,
e ver aquelas mãos pustulentas segurando as tigelas dava mais nojo ainda, porém era comer
ou morrer. Através da porta, ouviam som de carne cortando, pequenas explosões e o homem
falando consigo ou usando palavras estranhas que mais pareciam grunhidos. Depois de um
tempo algumas moças começaram a ser levadas e não voltavam mais. Outras pessoas, de
ambos sexos e todas as idades, eram trazidas e levadas constantemente. Nenhuma delas
retornava.

Numa noite, enquanto era a única acordada nas celas, Sai ouviu o homem falando sozinho,
como sempre fazia, porém dessa vez chamou mais a atenção da menina. Ele dizia que havia
encontrado uma forma de viver para sempre e que “ela” não iria vencer. Sai não sabia quem
era “ela”, mas ouviu também que ele havia encontrado o que precisava para prender sua alma
e tornar-se imortal. Não entendia nada sobre imortalidade ou filactérias, palavra que nunca
havia ouvido, mas entendia o que ele dizia. O homem queria ser imortal para vencer a tal “ela”
e para isso precisava prender a própria alma no objeto que havia encontrado. Que estava com
uma sacerdotisa.

Após esse dia, muito mais pessoas eram trazidas e as celas ficavam quase lotadas. Porém essas
pessoas não ficavam nem até sua primeira refeição e já eram levadas para, como as outras,
nunca voltar. Começou a ouvir mais grunhidos, dessa vez arrastados e que não pareciam ter
palavras. O necromante criava mortos vivos fracos apenas para servirem de isca para a
heroína, porém Sai não sabia disso e não tinha como imaginar o que fazia aquele barulho.
Durante um dia, ou noite, a menina não sabia diferir mais um do outro ali dentro, ouviu o
homem falar com alguém. Tentou falar algo, mas o que saiu foi só um gemido de dor, quase
que um sussurro, até que ouviu algo pesado cair, com barulho de placas de ferro se chocando,
o que indicava que alguém armadurado caíra.

Nos dias seguintes o homem entrava mais vezes na sala e sempre levava alguém. O número de
escravos diminuía rapidamente e o homem parecia mais focado que nunca, falando sozinho
diversas vezes e mais alto, dizendo que não estava dando certo, mas que ele estava perto.
Parecia maluco. Sai já se sentia sortuda por nunca ter sido chamada após todo esse tempo até
que foi levada e, não importa o quão se debatesse no agarrão firme do homem, não pôde
resistir. Foi deitada em uma mesa e amarrada, vendo que ao seu lado havia outra mesa onde
uma jovem de cabelo branco estava deitada nua, como morta. A sala onde se encontrava era
horrível e fez com que seu coração disparasse. Pedaços de corpos e sangue por toda parte até
que viu a mão do homem, com todo aquele pus escorrendo dos ferimentos segurando um
punhal curvado e com uma jóia branca na outra mão. Ele entoava um cântico estranho onde
não se distinguia palavras enquanto a gema brilhava. Sai podia ver o interior da gema se
mover, como se diversas manchas brancas dançassem lá dentro. Elas pareciam chama-la.

Então viu o rosto do homem através do capuz, completamente diferente daquele rosto que
vira no leilão. Esse tinha as mesmas pústulas da mão o fazendo ter uma aparência pior que
qualquer monstro que Sayaka já tivesse sonhado em seus pesadelos. Os olhos do homem
pareciam cegos de tão brancos e, enquanto Sai estava hipnotizada e aterrorizada por essa
imagem, sentiu uma picada em seu peito, que foi doendo cada vez mais, sentiu algo molhado e
quente escorrendo pelo corpo até que a dor foi diminuindo e ela sentiu um sono mais intenso
que jamais sentira. Fechou os olhos e deixou que o corpo relaxasse, ouvindo apenas o cântico
e sentindo que a gema a puxava cada vez mais e mais.

Parte 3: Uma arma

Sayaka abriu os olhos e contemplou o teto bolorento onde duas baratas corriam. Lembrou-se
dela e de Kou correndo e a lembrança doeu na cabeça. Sentou-se na cama e viu que estava
desamarrada, mas não só isso. Parecia bem maior e seu corpo estava estranho. Porém
somente quando olhou para o outro corpo deitado ao lado do seu foi que gritou e sentiu o
coração explodir no peito.

Primeiramente o corpo estava do outro lado agora e não era mais o da moça de cabelo branco
mas sim uma menina mais ou menos do tamanho dela. Pelo menos parecia uma menina, já
que o corpo estava completamente murcho, parecendo apenas pele e osso, com os olhos
estourados escorridos pelo rosto. Já estava apavorada e chorando antes mesmo de notar as
amarras e realizar que aquele corpo destruído era ela mesma. Ou pelo menos foi, já que agora
estava no corpo da outra jovem, embora sentia ser o seu, pois não tinha qualquer problema
em movê-lo.

Olhou-se de cima a baixo, estranhando e admirando o novo corpo, sentindo o pavor sendo
substituído por urgência. Estava livre e seu grito não havia chamado a atenção do monstro do
manto. Talvez o homem não estivesse ali, foi o que pensou quando caminhou até a porta de
ferro e a abriu, vendo que não havia mais nenhum escravo. Só então notou que o laboratório
estava uma bagunça, como se houvesse tido alguma luta ali e a porta acima da escada estava
destruída. Sai tirou a gema que estava fincada no peito do que antes fora um corpo, seu corpo,
e novamente chorou sem conseguir controlar-se. Pegou também uma foice que achou jogada
no chão e percebeu que tinha força para empunhá-la. Subiu as escadas ainda nua, pois não
achara nada com que se vestir, e foi subindo por diversos cômodos onde só via corpos
dilacerados e destruição, como se algo ou alguém houvesse invadido. Saiu do que pareceu ser
um porão de uma casa velha de madeira e começou a correr por uma estrada de tijolos
brancos até a saída de uma caverna. Quando olhou para trás, apenas viu uma parede no fundo
da caverna e um chão de terra, não havia mais volta. Ficou apenas poucas horas na floresta até
que sentisse um enjoo imenso, vomitasse uma papa cinzenta grossa e desmaiasse.

Acordou em uma cama dura de madeira numa casa aconchegante nas montanhas. Havia sido
encontrada por um eremita que vivia longe da cidade e o mesmo cuidara dos ferimentos da
moça. Sai ficou apavorada, claro, pois não sabia da intenção do velho que via pela janela e
levantou-se, vendo que faixas firmes cobriam sua nudez. Ao tentar sair para confrontar o
homem, acabou caindo novamente, percebendo que o corpo novo não era tão fácil assim de
controlar, ou apenas que estava muito cansada. O homem a ajudou e conversaram, embora
Sai quisesse fugir, não tinha condições para isso, então não havia escolha.

Descobriu que o homem fora um samurai a serviço do Imperador, mas discordara das decisões
de seu mestre e o abandonara. Isso não significava nada para a garota e fez com que recebesse
um tapa na testa por não questionar a honra de um samurai caído. O homem se chamava
Mitsurugi e acabou demonstrando ser um bom homem, apesar de um pouco severo. Cuidou
de Sai sem saber ou mesmo perguntar seu nome ou de onde era, apenas ajudando-a a se
recuperar. Sugeriu que ela parasse de usar a foice como arma, pois era grande demais e mais
atrapalhava que ajudava o que foi aceito pela garota, desde que ele a ensinasse a lutar.
Mitsurugi não demonstrou alegria de ter alguém com ele mas acabou utilizando o aço da foice
para forjar uma espada para a garota e ensiná-la, embora ela parecesse cada dia mais fraca e
pálida. Foi só quando os dois foram a floresta caçar que a garota pareceu melhorar, após
matarem alguns coelhos ela parecia mais viva e com energia, começando a ajudar o velho com
seus afazeres e sendo ensinada na arte da espada, que Mitsurugi parecia ser muito bom.
Havia um ano que vivia com o homem quando o mesmo não acordou mais. Sai gritou e tentou
acordá-lo de toda forma, mas percebeu que o velho estava morto. Talvez a idade ou alguma
doença, ela nunca soube, apenas percebeu que a pedra em seu pescoço brilhara e que sentia-
se mais forte e disposta. Disposta o bastante para sair daquele lugar isolado e voltar ao
mundo, não tinha mais escolha a não ser usar esse novo corpo para viver.

Nos próximos meses, Sai ofereceu trabalho como mercenária para viver e acabou destacando-
se no País da Escuridão. Destacou-se tanto que foi contratada em definitivo por um clã como
assassina, matando por ouro sem se preocupar muito no motivo. Não tinha amor nenhum
pelas pessoas que nunca a trataram bem e ainda a venderam para ver o corpo no estado em
que viu. O que passara havia deixado a vida das outras pessoas insignificante e enquanto
trabalhava era apenas uma arma. Uma katana, nome que assumiu para si, já que não sabia o
nome do corpo que habitava e Sayaka não era ninguém. Quanto a espada, chamou-a de
Ceifadora de Almas, pelo que descobriu logo.

Cada morte a deixava mais forte e, através dos estudos que fazia nas horas vagas e intuição,
descobriu sobre o artefato Coletor de Almas, o ligando a pedra que carregava. Porém ao
contrário do propósito real do artefato, de libertar as almas para o além vida, sua pedra
consumia as almas para fortalecer a sua própria e, caso não matasse, sentia-se cada vez mais
fraca, o que a fazia supor que morreria caso não alimentasse sua alma. O homem do manto
havia feito algo em suas experiências para aprisionar a própria alma na pedra, porém algo o
interrompera quando chegara perto. Katana não tinha idéia do que teria acontecido e também
não queria descobrir, pois temia encontrar o homem novamente.

Após dois anos de trabalhos começou a se envolver demais na política da guerra entre clãs e
decidiu desaparecer antes que isso a matasse. Escolheu partir para a ilha no centro do oceano
interior, um local selvagem onde conseguiria facilmente alimento e ficaria longe dos clãs e,
talvez, nunca mais fosse encontrada pelo necromante ou o que quer que tenha interrompido
seus estudos.

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