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Nasceu na capital do País do Sake, primeira e única filha da família Tatsumoto, uma das

famílias mais tradicionais e influentes devido a deter grande parte do comércio de ferro do País e
se demonstrar totalmente leal ao Império, pelo menos abertamente. O líder da família, pai de
Karin, estava já em idade avançada e precisava gerar um descendente que herdaria os negócios e
nome da família, que já estavam ameaçados devido a tanto tempo passado sem que houvesse um
herdeiro. Como mandava a tradição restrita da família, o herdeiro deveria ser o primeiro filho
homem de seu líder, o que foi o primeiro golpe de azar de Karin.

A gravidez de sua mãe foi muito festejada pela família, e também ameaçada por
outros interessados em assumir os negócios caso o líder morresse sem gerar filhos. Houve
tentativas de assassinato contra a grávida, todas interrompidas pelos ótimos soldados contratados
pelos Tatsumoto, porém o maior golpe não podia ser evitado. O casal havia dado luz a uma
menina e isso praticamente acabaria com as chances de manter o poder sobre os negócios, coisa
que o pai de Karin não podia deixar acontecer, deixar sua honra ser manchada dessa forma, seria
conhecido como aquele que poria fim a um legado de gerações da família.

Mantiveram o nascimento encoberto por um tempo até que conseguiram com


contatos no submundo do País um negócio que poderia salvar a família. Uma serva de confiança,
acompanhada com os melhores guardas dos Tatsumoto, foi enviada levando Karin embrulhada em
panos até a parte pobre e escura da cidade, onde a troca foi realizada. O pai de Karin havia
negociado com um clã obscuro, que tinha entre suas atividades o tráfico de escravos, a troca de
sua filha (e uma grande soma em ouro) por um garoto ainda bebê que tivesse alguma semelhança
com o casal. Assim Karin, mesmo antes de aprender a andar e nascida em família nobre, se tornou
escrava.

Enquanto um jovem de origem desconhecida vivia uma infância tranquila e feliz


em meio a nobreza de Sake, Karin foi entregue aos cuidados dos Sin, um grupo de assassinos
pertencentes ao clã escravocrata, que treinava crianças desde pequenas para se tornarem armas
letais e leais. As crianças eram quase todas órfãs ou roubadas de suas famílias e muitas morriam
durante o treinamento, sem ter qualquer atividade que uma criança normal teria, além de
aprender a ler e escrever, não eram o tipo de assassino criado para infiltrar na sociedade e se
passar por pessoas normais, eram treinados para serem armas e nada mais. Karin não conhecia
nada mais da vida do que lhe era ensinado por seus mestres e na convivência com os outros
aprendizes, descobriu que havia sido vendida pelos próprios pais, mas isso não tinha muito
significado para ela, que nunca havia sido tratada como filha por ninguém. Demonstrava grande
habilidade, principalmente em sua velocidade, agilidade e acuidade com a espada, muitos mestres
viam um futuro promissor para a garota dentro do clã, até que foi traída.

Suas habilidades despertavam inveja em alguns aprendizes menos capazes,


atividade que na verdade era incentivada pelos mestres, por meio de humilhação e punição aos
menos aptos, um assassino bom de verdade deveria estar atento a todo momento quanto a
traição, mesmo entre companheiros. Infelizmente Karin não se enquadrava nesse tipo de
assassino. Quando completou nove anos de idade foi traída pela pessoa que considerava o mais
próximo a uma amiga, Sun, uma outra aprendiz que conhecia desde bebê. Sun entrou em seu
quarto escondida, desviando de armadilhas que já sabia onde estavam e tentou matar Karin
enquanto a mesma dormia. Porém Karin acordou no momento em que o punhal iria ceifar sua
vida, virando-se na cama e apunhalando o pescoço de Sun com a adaga que sempre mantinha na
mão enquanto dormia. Ficou triste ao ver de quem era o sangue que banhava sua mão, espirrando
pelo corte no pescoço, mas logo percebeu que tinha algo mais importante a se atentar, pois a
“amiga” havia lhe feito um corte pequeno na barriga e a lâmina de Sun estava envenenada.

Karin ficou dias lutando contra o veneno, sofrendo de dores, fraqueza e delírios
terríveis. Os mestres ficaram decepcionados que sua aprendiz mais promissora não houvesse
evitado o ataque e sabiam que o veneno era letal mesmo em pequenas doses, principalmente em
alguém tão jovem. Porém a mantiveram viva e estudaram os efeitos do veneno em seu corpo
pelos dias que seguiram, Karin virara de escrava a cobaia e ninguém se importava realmente com
ela. A surpresa de seus mestres foi que o veneno começou a recuar, o corpo da jovem conseguira
vencer a batalha e a saúde de Karin começou a se reabilitar aos poucos, uma recuperação
demorada e dolorosa, que deixara uma sequela que acabava com sua vida como assassina.

Mesmo que se recuperasse, a menina não continuaria o treinamento devido a ter


falhado contra Sun, porém o veneno roubara completamente sua audição, e assassinos
precisavam estar sempre alertas quanto ao ambiente, uma que não pudesse nem mesmo ouvir os
passos de alguém que espreita pelas costas, ou os passos de um guarda através da parede, não
servia para os Sin. Ainda sim ela possuía grande habilidade bélica e não deveria ser desperdiçada,
após sua recuperação Karin viveu ainda um ano no clã até ser vendida novamente como escrava.

Seu novo mestre era um mago, porém a primeira coisa que este fez foi colocar
uma coleira de ferro em Karin que controlava todo seu corpo. Era uma sensação horrível,
comparável aos dias que ficou a mercê do veneno, Karin podia ver (até onde os olhos controlados
pelo mago permitiam) e pensar normalmente, porém não tinha qualquer controle sobre seus
movimentos, até mesmo puxar e expelir ar pelo nariz era impossível, todos seus movimentos
pareciam fugir de seu controle. E foi assim que Karin foi enviada a um batalhão de humanos que
serviriam de escudo humano para o mago e seus mestres demônios que buscavam um artefato no
plano material. Ela sabia que era algo grande, talvez maior que qualquer coisa que os Sin já
almejaram ou mesmo os nobres que um dia foram seus pais, porém nada podia fazer até que se
libertasse da coleira e, provavelmente, morreria antes disso.

O ataque principal do exército de demônios e escravos dominados aconteceu eu


uma pequena vila, o que era estranho mas plausível, ninguém procuraria um artefato poderoso
ali. Os primeiros defensores eram soldados normais e aldeões, porém guardiões mais hábeis
apareceram com a aproximação do local onde o artefato estava, talvez uma ordem que defendia o
objeto. Karin lutava sem ter escolha, era como uma marionete matando o que aparecia pela
frente. Viu um de seus alvos (todos eram seus alvos) correr levando algo abraçado junto ao corpo
e perseguiu para matar, sem ter escolha de não fazê-lo, mas esse alvo a surpreendeu e
rapidamente se virou, sacando duas espadas e bloqueando seu ataque pelas costas. Depois de um
breve momento de cruzar de espadas o alvo, que definitivamente era uma elfa, mesmo que
cobrisse o corpo, acertou um golpe certeiro em seu pescoço, Karin sentiu o sangue empapar seu
peito e descer pelo seu corpo e se sentiu feliz pela primeira vez na vida, ao perceber que morreria
e não seria mais controlada por ninguém. Porém não morreu.

Havia caído em um beco escondido e quando acordou já não havia movimentação


nenhuma ao seu redor. Levou a mão ao pescoço e sentiu que o sangue escorria, porém não havia
sido profundo, a coleira de ferro havia absorvido boa parte do dano e o melhor, havia se partido
no processo. Karin podia se mover livremente após anos vivendo como marionete e matando sem
ter escolha, era uma sensação ótima. E devia isso àquela que havia tentado mata-la e deixara
apenas uma cicatriz em seu pescoço. A cidade estava em chamas em boa parte, destruída e
decorada com muitos corpos, quase todos os escravos que haviam vindo com os demônios e todos
os aldeões e guardiões da vila. Os demônios haviam vencido e já tinham ido embora,
provavelmente com o que vieram buscar. Ela foi dada como morta ou, o mais provável, nem
perceberam que sumira.

Após andar um pouco, procurando provisões para sobreviver, Karin viu um


pequeno grupo que parecia de sobreviventes. Estavam chorando e furiosos ao mesmo tempo,
pareciam falar algo irritados e se preparar para perseguir alguém, Karin era muito boa em ler
lábios, habilidade que desenvolvera no pouco tempo entre sua recuperação e sua venda para o
mago. Seguiu o grupo e, para sua surpresa, viu novamente a elfa acampando escondida. Não tão
bem escondida, os sobreviventes da vila iriam matar aquela que a libertara e Karin sentiu que
deveria retribuir o que a elfa fizera, mesmo sem intenção. A jovem esperou até que os aldeões
chegassem até a elfa e os atacou, ajudando sua libertadora. A intenção de Karin era apenas a de
retribuir e ir embora, mas foi convidada a ficar e estava faminta. Não tinha para onde ir nem
ninguém conhecido para se encontrar então decidiu seguir com a elfa, sem fazer muitas
perguntas. A elfa não pareceu ser tão curiosa sobre Karin, o que a humana achou bom, não queria
falar sobre nada que tinha passado, pelo menos por enquanto. Acabaram continuando a viajar
juntas mesmo depois de chegarem a uma cidade e a elfa disse que precisava sair dali e ir ao
arquipélago. Karin desconfiou que ela fugia de algo e não era da vila ou do exército do mago, mas
não tinha muito interesse em se aprofundar, não tinha objetivo algum na vida então decidiu
acompanhar a elfa até Benzor.

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