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Eduardo Venticinque
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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All content following this page was uploaded by Felipe Rego on 01 February 2015.
Inimigas naturais
Imagine ser imobilizado por um veneno paralisante e ter o corpo devorado por uma larva? É isso o que
acontece às caranguejeiras atacadas por vespas caçadoras do gênero Pepsis. Embora a natureza
às vezes nos pareça cruel, essas vespas estão apenas completando seu ciclo reprodutivo de modo
e Smithsonian Institute).
O
s primeiros relatos científicos de vespas ata- marimbondos, atacadas ao cair desafortunadamen-
cando aranhas foram feitos pelo engenheiro te nas teias daquelas ou capturadas ao visitar flores
militar e naturalista espanhol Félix de Azara (1742- em busca de alimento. Quando a aranha leva vanta-
1821), em fins do século 18, e pelo notório biólogo gem sobre a vespa, a morte desta é rápida. Algumas
inglês Charles Darwin (1809-1882), durante a pas- vespas, porém, também atacam aranhas, e nesses
sagem do navio Beagle pelo Rio de Janeiro, em 1832. casos as vítimas podem ser devoradas, ainda vivas,
A alta diversidade desses animais na natureza pos- durante semanas, por larvas de suas inimigas.
sibilita inúmeras relações entre eles: hoje, são conhe- Assim como borboletas, moscas e outros insetos,
cidas pelo homem cerca de 38 mil espécies de ara- os himenópteros (vespas, abelhas e formigas) sofrem
nhas, que podem eventualmente ser mortas por mais metamorfose e precisam passar pelos estágios de lar-
de 12 mil espécies de vespas caçadoras (figura 1). va e pupa antes de atingir a fase adulta. Entretanto,
Aranhas consomem uma ampla gama de insetos, algumas vespas, durante o estágio larval, desenvol-
incluindo vespas, também chamadas de cabas ou vem-se dentro de outros organismos ou sobre eles, e
por isso são chamadas de parasitóides. Há espécies
que atacam plantas, provocando o surgimento de ca-
roços ou tumores nas folhas, chamados de galhas, en-
quanto outras se aproveitam de artrópodes, como fa-
zem as vespas Pepsis, exímias caçadoras de aranhas.
São conhecidas na América Latina cerca de 100
espécies do gênero Pepsis. Apenas as fêmeas cap-
turam aranhas, enquanto os machos se encarregam
da procura de parceiras para a cópula. Essas vespas
FOTO DE FELIPE N. A. A. REGO
res peludos e, para muitos, de aparência assustado- meça por longo período. Indefesa, a aranha não con-
ra, podem consumir até pequenos ratos e pássaros, segue evitar que a vespa deposite, sobre seu abdô-
mas não causam acidentes sérios ao homem, já que men, apenas um ovo, do qual eclodirá a larva que a
sua maior ameaça a este são pêlos urticantes. Usa- consumirá até a morte (figura 3).
dos para afugentar predadores, esses pêlos causam
coceira e irritação em contato com a pele e são ex-
tremamente desagradáveis quando inalados. Entre-
tanto, já é comum encontrar pessoas que adotam
caranguejeiras como animais de estimação.
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PRIMEIRA LINHA
gere que ela já ‘conhecia’ o local onde a presa seria substituem um ovo já depositado antes pelo seu pró-
confinada. Há espécies que realmente utilizam os prio ovo. Assim, confinar a caranguejeira em um
mesmos locais onde nasceram como esconderijo. abrigo cria uma barreira física ao ataque de inimi-
Darwin relata que uma Pepsis se afastou da aranha gos que pode compensar o custo energético envolvi-
após tê-la picado, provavelmente para procurar um do na reprodução e aumentar as chances de sobrevi-
abrigo enquanto o veneno paralisante agia. Na Ama- vência da prole de P. frivaldszkyi. Algumas vespas,
zônia, é possível que o mesmo tenha ocorrido, pois a porém, atacam aracnídeos dentro de suas tocas, e
observação de formigas sobre o corpo da caran- fazem destas ótimos esconderijos para suas larvas.
guejeira indica que estas tiveram tempo suficiente Nesses casos, gastam menos energia, pois não trans-
para se aglomerar sobre a essa ‘refeição’ após o tér- portam suas presas até um abrigo.
mino do combate. Assim, a Avicularia pôde ser trans- Estudos sobre o ciclo reprodutivo de outra vespa
portada pelo caminho mais curto, em menor tempo parasitóide de aranhas (Pepsis cupripennis), feitos
e exigindo menor consumo de energia por parte da também pela equipe de Fernando Costa, concluí-
vespa. Durante a localização de um abrigo existe o ram que elas podem demorar mais de sete meses
risco da presa ser ‘roubada’ e, talvez por isso, a para atingir a fase adulta. As larvas devoraram seus
oviposição na aranha só ocorra momentos antes des- hospedeiros em menos de três semanas e se torna-
ta ser enterrada. ram pupas, permanecendo às vezes mais de seis
Aranhas capturadas em campo aberto podem ser meses nessa etapa de seu desenvolvimento. Após
‘rebocadas’ por mais de 150 m até um local seguro, abandonar o abrigo, as vespas Pepsis têm outras
comportamento que pode ser entendido como uma batalhas pela frente. Além das aranhas, terão que
forma de cuidado materno. Larvas de outras vespas enfrentar ou evitar seus predadores, em especial
caçadoras (como as da família Sphecidae, que acu- aves e lagartos, e visitar muitas flores cheias de
mulam muitas aranhas pequenas em seus ninhos) competidores também famintos por néctar. Talvez
podem ser atacadas por moscas parasitóides ainda por isso sejam tão boas de briga. Que o digam as
dentro do hospedeiro e há espécies de vespa que caranguejeiras! ■
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