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Ministério da Agricultura
do Desenvolvimento
Rural e das Pescas
Manual de
Conservação e
Transformação
curso de
Auxiliar de
de Produtos de
origem vegetal
Agricultura
Ficha Técnica
Título:
Manual de Conservação e Transformação de Produtos de Origem Vegetal
AutorES:
Carlos Dias Pereira, Goreti Botelho, Ivo Rodrigues, Justina Franco, Vítor Esteves
Gestão de projeto:
SINFIC, SA.
Rua Kwame Nkrumah, nº10 - 3º, Maianga, Luanda - Angola
ESAC – Escola Superior Agrária de Coimbra
Bencanta, Coimbra – Portugal
Editor:
Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas
Execução Gráfica:
OMLET design
revisão:
SINFIC, SA.
data:
Novembro 2011
6. APLICAÇÕES PRÁTICAS 90
6.1 Produção de doces de fruta 90
6.1.1 Definição do produto 90
8. BIBLIOGRAFIA 181
ANEXOS 186
8 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
LENTILHA
GRÃO DE BICO
ALFACE
PIMENTO
CENOURA
FEIJÃO
BANANA PÃO
COCO
COUVE
LARANJA
SORGO
TOMATE
DENDÉM
SOJA
BATATA DOCE
CEVADA
MANDIOCA
CANA DE AÇUCAR
BATATA
ARROZ
MILHO
TRIGO
X 1000.000 DE TONELADAS
Figura 1.1
Produção mundial
de alguns produtos
alimentares de origem
tícolas. Por outro lado, os produtos podem ser manuseados, transportados e vegetal
armazenados repetidas vezes entre a colheita e o seu consumo.
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 9
Produtos
TRANSPORTE
Local de preparação
e acondicionamento
TRANSPORTE
TRANSPORTE Grossista
TRANSPORTE
Retalhistas
TRANSPORTE
Figura 1.2
Consumidor Exemplo de uma cadeia
de distribuição
1. Manuseamento no campo:
a] Operações de produção;
b] Colheita.
Figura 1.3
Colheita manual de mangas
2. Manuseamento na central:
a] Operações de limpeza;
b] Operações de seleção e classificação;
c] Arrefecimento;
d] Embalagem.
3. Armazenamento.
Figura 1.4
4. Transporte.
Seleção de frutos quanto à qualidade
5. Manuseamento no retalhista.
10 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
1.3. Processos fisiológicos dos produtos
hortofrutícolas frescos em pós-colheita
Objetivos
1 Identificar os três principais fatores metabólicos que afetam a qualidade dos hortofrutícolas em pós-colheita
4 Conhecer as tecnologias utilizadas para prevenir os efeitos negativos da respiração, transpiração e ação do etileno
Enquadramento
As alterações metabólicas que ocorrem no período pós-colheita podem ser de- Respiração
sejáveis ou indesejáveis. Quando não são controladas, conduzem a perdas quan-
titativas e qualitativas.
Transpiração
1.3.1 A respiração
A respiração é o processo biológico pelo qual os materiais orgânicos, principal-
mente hidratos de carbono, são degradados em produtos mais simples com li-
bertação de calor (calor vital). Nesta reação é consumido oxigénio e são pro-
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 11
Fonte: Kader,2002
Muito Reduzida noz, avelâ, castanha, amêndoa, tâmara
Moderada pêssego, banana, cereja, alperce, nectarina, pêra, ameixa, figo, couve, cenoura, tomate, pimento
Extremamente Elevada espargo, brócolos, cogumelo, ervilha fresca, espinafre, milho doce
Tabela 1
Classificação de alguns produtos
hortofrutícolas de acordo com
a taxa de respiração
duzidos dióxido de carbono e água. Os produtos frescos não podem repor os
hidratos de carbono ou a água depois da colheita. A respiração utiliza os hidratos
de carbono, até estes se esgotarem, seguindo-se o envelhecimento e a morte
dos tecidos.
1.3.2 A transpiração
A transpiração traduz-se na evaporação de água dos tecidos, mas ao contrário
das plantas em crescimento, os produtos hortofrutícolas não podem repor a
água perdida após separados da planta mãe. Esta perda de água do produto
fresco depois da colheita é um problema sério e de enorme importância prática.
Segundo Almeida (2005) os prejuízos devidos à perda de água podem resultar em:
1. Perdas Quantitativas
a] A perda de água reflete-se em diminuição do peso, consequentemente no
valor (margem) de venda dos produtos. Uma perda de água de 20% pode re-
presentar a perda de margem de comercialização de determinado produto;
12 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
b] A perda de água é uma das causas do fim da vida dos produtos hortofrutí-
colas (depreciação da aparência);
c] A perda de água pode levar à desqualificação de lotes. Que deixam de po-
der ser classificados em classes superiores (p.ex. classe extra), sendo todo
o lote desvalorizado.
2. Perdas Qualitativas
a] Depreciação da aparência: aspeto murcho, engelhado;
b] Aceleração do aparecimento de danos causados pelo frio e dos danos me-
cânicos;
c] Depreciação da textura: amolecimento, flacidez, redução da sensação de
suculência;
d] Depreciação do valor nutritivo: perda das vitaminas A e C.
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 13
(Almeida, 2005)
SENSIBILIDADE AO
FRUTOS HORTALIÇAS
ETILENO
abacate, ameixa, banana, damasco, kiwi, maçã, manga, alface, brócolo, couve de repolho, couve-flor, espinafre,
ELEVADA
melões, papaia, pêra, pêssego hortaliças de folha, pepino, tomate
MODERADA laranja, lima, limão, meloas, toranja chicórias, cogumelos, ervilha, feijão-verde
BAIXA figo
Tabela 2
Sensibilidade ao etileno
de alguns produtos
hortofrutícolas
Efeitos do etileno
O etileno desempenha importantes funções hormonais na biologia vegetal, re-
gulando diversos processos relacionados com o desenvolvimento e respostas a
stress provocados por ataques de infestantes, insetos e organismos patogénicos
ou por fatores edafoclimáticos desfavoráveis.
As funções do etileno dependem da espécie, do tipo de órgão e tecido e do
estádio de desenvolvimento. No contexto da pós-colheita de produtos hortofru-
tícolas, os efeitos do etileno podem ser benéficos ou indesejáveis.
14 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
Figura 1.6 Figura 1.7
Produtos que não devem existir Armazém com sistema de
nos armazéns de produtos ventilação
hortofrutícolas
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 15
1.4.1 Colheita
Objetivos
16 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
1.4.1.3 Acondicionamento
As embalagens para colheita são habitualmente utilizadas no transporte do pro-
duto para as instalações onde será efetuada a sua seleção, calibração e embala-
mento para distribuição e comercialização.
As embalagens podem ser de madeira ou de plástico e o seu volume depende da
fragilidade do produto. As embalagens devem ter aberturas laterais, permitindo
a ventilação, evitando assim o aumento da temperatura do produto. Os contento-
res para paletes são embalagens plásticas de grandes dimensões para o transpor-
te de produtos resistentes ao choque, como, por exemplo, as couves e o repolho.
O embalamento do produto no campo diretamente para as embalagens de co-
mercialização, reduz o manuseamento e é uma prática cada vez mais frequente
em cadeias de distribuição curtas.
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 17
produto e levem à sua posterior deterioração que, frequentemente, não é logo
percetível nesta fase.
Os danos mecânicos podem ainda ocorrer devido a uma seleção errada das cai-
xas de colheita. Caixas de madeira com extremidades afiadas devem ser evitadas.
O tamanho da caixa deve também ser o apropriado para ser transportada pelo
trabalhador no campo.
18 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
Fonte: Kader, 2003
Figura 1.8
Efeito do controlo da
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 19
Figura 1.9
Exemplos de câmaras
de arrefecimento
20 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
arrefecimento em câmara
vantagens desvantagens
As câmaras podem ser usadas para O ar deve possuir uma elevada humidade
arrefecimento de outros produtos relativa (HR) para reduzir as perdas de água
Figura 1.10
Esquema do circuito
realizado pelo ar em
1.4.3.2 Arrefecimento por ar forçado arrefecimento por ar
forçado
Neste método de arrefecimento o ar é forçado a atravessar os contentores (nor-
malmente paletes) que contêm o produto (Figura 1.10), devido a uma diferença
de pressão que é criada entre as duas faces do contentor.
Com o aumento da velocidade do ar e da capacidade de refrigeração o tempo
necessário para o mesmo arrefecimento é apenas 10 a 25% do tempo necessá-
rio para atingir o mesmo arrefecimento em câmara. Para minimizar a perda de
água pode-se recorrer à humidificação do ar utilizado no arrefecimento. Este
método é recomendado para produtos como o pimento e o morango que são
suscetíveis de apodrecer se forem molhados.
vantagens desvantagens
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 21
Arrefecimento por água
vantagens desvantagens
Mais eficiente na remoção de calor No caso em que a água é recirculada, a água deve ser desinfetada com cloro
do que os métodos anteriores o que pode aumentar os custos do processo
vantagens desvantagens
22 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
A b
Figura 1.13
Arrefecimento
por gelo
vantagens desvantagens
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 23
Figura 1.14
Proteção dos produtos
depois de colhidos Caves: geralmente mantêm-se a temperatura razoavelmente constante, inferior
às temperaturas do ar;
Sombras: se o pré-arrefecimento não estiver disponível, manter, pelo menos, os
produtos fora da exposição solar direta.
24 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
• Custos: os custos associados à operação de pré-refrigeração dividem-se
em custos de investimento e custos de operação:
»» Custos de investimento. Os equipamentos mais caros são os de gelo
líquido, seguido dos sistemas de vácuo, ar forçado e água. O custo de
investimento pode ser minimizado pelo uso frequente do equipamento
de forma a diminuir a importância da taxa anual de desvalorização em
cada unidade de produto refrigerada.
»» Custos de operação. Os custos de operação dividem-se em custos de
energia, custos de reparação e manutenção e custos de trabalho.
»» Os custos de energia variam muito com o tipo de método e dependem
não só da eficiência energética do processo, mas também da duração.
»» A eficiência é mais elevada, por ordem decrescente, para o vácuo, água,
gelo e ar forçado.
• Tipo de embalagem
• Proximidade do mercado
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 25
Figura 1.16
Descarga com
ajuda de água
Figura 1.15
Transportadores
de tapete rolante
1.4.6.2 Descarga
O produto deve ser retirado da caixa ou contentor de colheita o mais suave-
mente possível. Se o produto o permitir, esta tarefa pode ser feita com a ajuda
de água (clorada) que diminui os choques. Quando efetuada a seco, o uso de
rampas e tapetes rolantes atenua os choques, podendo estes apresentar mes-
mo rolos almofadados.
1.4.6.3 Seleção
Após a receção do produto, uma primeira seleção deste deve ser feita antes de
passar às operações seguintes de forma a rejeitar produto que claramente não
é comercializável. A inspeção e seleção podem ser feitas manualmente com
trabalhadores treinados que seguem o produto na linha. Produto mal formado,
com danos de fisiopatias, doenças e pragas deve ser logo rejeitado. O produto
podre contamina todos os que estão à sua volta. O produto rejeitado deve
ser retirado para contentores próprios e deitado fora, de forma a evitar que se
Figura 1.17
Seleção manual cruze novamente com produto “são” e o contamine.
de produtos
A seleção manual requer as seguintes condições:
• Espaço suficiente;
• Boa luminosidade;
• Produtos sempre visíveis;
• Capacidade de ajustar o fluxo;
• Sistemas para evitar danos mecânicos.
26 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
A b c
A imersão
b aspersão
c tambor
Figura 1.18
Processos de lavagem de
frutos para remoção de
sujidade
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 27
Figura 1.21
Calibração manual
1.4.6.6 Calibração
A calibração ou separação por tamanhos ou peso é importante quando o mer-
cado valoriza um produto com determinadas dimensões. A calibração pode ser
manual ou mecânica. Se a calibração for manual, os trabalhadores devem estar
treinados na seleção do produto e nos cuidados que devem ter ao colocá-los
nas caixas. Os calibradores mecânicos podem ser de vários tipos: copos que
pesam o produto, cordas que progressivamente estão mais espaçadas ou cilin-
dros com buracos progressivamente de maior diâmetro. Os produtos maiores
agrupam-se no fim da linha. Este tipo de calibrador tem melhores resultados
com produtos o mais esféricos possível.
• Fatores a considerar na escolha de uma linha de calibração.
Na escolha de uma linha de calibração (calibrador) devem-se considerar os
seguintes aspetos:
• Capacidade do calibrador;
• Precisão da calibração;
• Proteção contra danos mecânicos;
• Facilidade de ajustamento dos calibres ou critérios de calibração;
• Facilidade de limpeza e manutenção.
1.4.6.7 Classificação
As operações de classificação conferem ao produto uma enorme mais-valia,
porque a perceção da qualidade depende da uniformidade de um lote ou de
uma embalagem. A classificação pode ser baseada na cor, na forma, na consis-
tência, nos defeitos e no valor comercial.
1.4.6.8 Armazenamento
O sistema de armazenamento deve permitir atingir os seguintes objetivos:
• Reduzir a atividade metabólica do produto, através do controlo da tem-
peratura e, eventualmente, da composição da atmosfera;
28 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
• Reduzir o crescimento e disseminação de microrganismos, através do con-
trolo da temperatura e da prevenção da acumulação de água (humidade) na
superfície dos produtos;
• Reduzir as perdas de água;
• Reduzir os efeitos negativos do etileno.
Por vezes, os sistemas de armazenamento são também utilizados para aplicar tra-
tamentos especiais aos produtos, como por exemplo efetuar a cura da batata e da
batata-doce, a fumigação de uvas com dióxido de enxofre, o tratamento com etile-
no ou com o 1-metilciclopropeno, um inibidor da ação do etileno.
Enquadramento
Com o desenvolvimento da indústria alimentar, mais aditivos têm sido utilizados e
progressivamente introduzidos podendo ser de origem natural ou artificial. Permi-
tem a produção em larga escala e o transporte de alimentos a grandes distâncias,
assegurando assim que o produto chega ao consumidor com um aspeto atrativo.
Por sua vez, a embalagem, nas suas mais diversas formas, está omnipresente no ma-
nuseamento dos produtos hortofrutícolas. Os produtos hortofrutícolas embalados
podem ser manuseados mais convenientemente do que as unidades individuais,
manuseadas a granel.
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 29
Aditivos
origem ocorrência
Figura 1.22
Esquema da organização
da classificação
dos aditivos alimentares
30 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
»» Acidentais: são os que aparecem nos alimentos acidentalmente, por
exemplo: resíduos de agro-tóxicos nos vegetais e de medicamentos nos
animais; resíduos provenientes do processo de fabricação, como deter-
gentes, óleo de máquinas, poeiras, substâncias presentes nas embala-
gens, contaminação radioativa e outros.
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 31
Antioxidantes Conservantes Corantes
Aditivos
Figura 1.23
Classificação dos
aditivos alimentares
Conservar
A embalagem começa por ter uma função de conservação quando confina o
produto, evita que se disperse ou se perca ao longo do circuito de distribui-
5
Características intrínsecas – características pró- ção conservando assim a sua integridade física. Os produtos líquidos, pastosos
prias e essenciais que existem por si mesmo no
produto original. ou que evaporam facilmente não podem ser comercializados sem embalagem.
32 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
Para que a função de conservação seja cumprida, os materiais de embalagem devem
assegurar o princípio da dupla impermeabilidade:
a] Devem ser impermeáveis aos fatores exteriores que afetam negativamente o
produto: luz, gases, odores, vapor de água, poeiras, químicos, óleos, etc;
b] Devem ser impermeáveis aos componentes e substâncias essenciais do pro-
duto: gases, vapor de água, componentes do aroma, etc.
Assim sendo, as interações do alimento, não só com o ambiente exterior, mas tam-
bém com os próprios materiais de embalagem, devem ser minimizados ou mesmo
eliminados.
Vender
A embalagem ao proteger e conservar o produto, apresenta-o ao consumidor fi-
nal. À embalagem compete a parte mais significativa do esforço de venda, que se
desdobra numa extensa lista de exigências informativas, logísticas, comerciais e de
conveniência.
• Exigências Informativas – Compete à embalagem informar o consumidor
sobre a natureza ou tipo de produto, sobre a sua origem, etc, através dos
rótulos ou etiquetas.
• Exigências logísticas – Dizem respeito ao transporte e apresentação no
ponto de venda, ou seja, a aspetos do relacionamento entre os produtores-
-embaladores e os estabelecimentos retalhistas.
• Exigências comerciais – A embalagem deve sustentar os elementos es-
senciais e decisivos para a venda bem sucedida do produto, tais como,
a marca do produtor ou do produto, abertura fácil, de modo a que
não seja preciso recorrer a qualquer tipo de ferramenta, a facilidade se-
letiva, de modo a que nem todos tenham acesso ao produto (p. ex. as
embalagens que podem ser abertas facilmente por adultos e muito di-
ficilmente por crianças), deve ser segura, para evitar acidentes que pos-
sam ocorrer devido ao seu manuseamento, fechar e voltar a abrir várias
vezes e com a máxima facilidade, fácil de usar, para evitar ter dificulda-
des em retirar ou “verter” o produto e ter a maior comodidade possível.
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 33
De modo mais detalhado, poderão definir-se as funções básicas da embala-
gem da seguinte forma:
2]Função de agrupamento
• Trata-se de agrupar o produto em unidades manipuláveis. Exerce-se a 3 níveis:
»» agrupamento de produtos não manipuláveis per si (arroz, biscoitos, fari-
nha);
»» agrupamento em unidades de venda ao consumidor e para facilitar o
transporte e a manipulação (cartão de iogurtes ou grade de garrafas de
cerveja);
»» agrupamento de unidades de venda por forma a facilitar o transporte e
a manutenção (caixas de cartão ondulado, cintas plásticas para paletes...).
3] Função proteção
• Trata-se de proteger o produto do meio envolvente. A embalagem deverá
permitir ao produto preservar todas as suas características ao longo da sua
vida útil: evitando agressões mecânicas (choque, vibrações); manutenção de
gosto e odor; impedir a oxidação; impedir trocas gasosas (por exemplo cerve-
ja, gasosas); impedir a introdução de germes, insetos ou produtos perigosos;
impedir a perda do conteúdo.
4]Função serviço
• Trata-se de facilitar o uso do produto: abertura fácil; utilização simples; even-
tual possibilidade de fecho após o uso; utilização ergonómica; sistema de
distribuição adequado; possibilidade de utilização dentro da embalagem
(passagem do congelador para microondas).
34 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
peso); as condições de conservação (temperatura, humidade, luz) e prazo de
validade; as condições de utilização (dosagem, riscos de utilização...); o preço
unitário; código de barras.
6] Função posicionamento/atribuição
• Trata-se de contribuir para integrar o produto no seu universo de referência;
• Posicionamento da marca do produto;
• A atribuição pode também recair sobre características do produto (por
exemplo, um pote de iogurte vermelho contém iogurte com aroma de frutos
vermelhos: cereja ou morango).
7] Função atração
• Ser atraente para o consumidor, no ponto de venda, é uma função essencial
da comunicação que se pretende estabelecer com a embalagem.
• Na maioria dos casos, perante uma prateleira de supermercado, o consumi-
dor escolhe um produto em alguns segundos e raramente volta atrás com a
decisão.
• A mensagem de alerta de uma embalagem baseia-se em diferentes elemen-
tos: a cor (p. ex. cores vivas e alegres para crianças); a forma que induz per-
ceções distintas do volume aparente; o grafismo ligado ou não à marca do
produto (formas de letras arredondadas evocam sabores doces enquanto
formas retilíneas evocam seriedade e força); o material, que pode deixar su-
bentender a noção de qualidade, frescura, segurança e qualidade (por exem-
plo garrafa de vinho em caixa de metal ou madeira); a novidade do produto
(cores vivas no lançamento de novos produtos).
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 35
Figura 1.24 Figura 1.25 Figura 1.26
Embalagem de madeira Embalagem plástica para transporte Exemplo de uma caixa
contendo maçãs de hortofrutícolas de cartão canelado
A embalagem deve constituir uma barreira que permita, por um lado, evitar a
perda de humidade dos produtos e consequente frescura, e por outro, proteger
o produto de danos mecânicos (danos causados por impacto, por compressão,
abrasão e vibração) mantendo as características de resistência mecânica nas pio-
res condições que pode encontrar ao longo de toda a cadeia. A resistência da
embalagem depende do tipo de materiais de que é feita e das condições a que é
exposta antes e durante o seu transporte, no armazenamento e manuseamento
durante as operações de montagem e acondicionamento.
36 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
os produtos frescos
estão vivos respiram libertam calor perdem humidade podem adoecer e até morrer
Figura 1.28
Características dos
• Embalagem plástica - embora seja mais cara que as embalagens de ma- produtos vegetais
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 37
modificação passiva modificação ATIVA
Figura 1.30 Figura 1.31
20 Evolução da conservação
composição da em atmosfera
15 atmosfera em modificada ativa
C02
A.M. passiva
10 C02 C02 e ativa
% 02
5 02 02
0
0 5 10 0 5 10
dias após o embalamento
38 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
Adaptado de Poças e Oliveira, 2001
25 20
18
20
<2 dias 16
02 (%)
Figura 1.33 brócolos
15 3 dias
Mapa de contorno 14
alho porro salsa cogumelos,
relativo ao efeito espargos
10 12
da composição da 6 dias C02
atmosfera na variação 10 dias
(%)
10
do prazo de validade 5 15 couve de bruxelas
de produtos perecíveis dias feijão
8
repolho espinafres
5 10 15 20 25 6
quiabo
chicória
C02 (%) 4 aipo
couve-flor
tomate
2
pimenta
rábano
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
alcachofra 0 (%)
18
morangos, figos, amoras
16 Figura 1.35
Condições de atmosfera ideais para conservação
14 de alguns vegetais em atmosfera modificada
12 cerejas
C02
(%)
10
manga, papaia, abacaxi
8 abacate
dióspiro
6 toranja
kiwi, nectarina, pêssego
4 banana
laranja
2 alperce
uva
0 ameixa
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
02 (%)
aspeto não é muito relevante no caso de produtos intatos, mas é da maior impor-
tância para os produtos cortados. O oxigénio necessita sempre de estar presen-
te, uma vez que inibe o crescimento de organismos patogénicos anaeróbicos. Um
sistema de embalagem com atmosfera modificada convenientemente projetado
deve reduzir a taxa respiratória do produto mas não eliminá-la por completo. Existe
uma fronteira muito ténue entre aumentar o tempo de vida útil do produto e criar
uma atmosfera na qual o produto, pelo contrário, se deteriora mais rapidamente.
Este aspeto é particularmente importante no caso de produtos cortados, devido à
possibilidade de desenvolvimento de microrganismos patogénicos em condições de
anaerobiose. Os organismos que se desenvolvem em condições aeróbias produzem
sinais de decomposição sendo percetíveis pelos consumidores, enquanto numa situ-
ação de anaerobiose, a degradação pode decorrer e o produto estar impróprio para
consumo sem que tal seja visível.
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 39
2. DETERMINAÇÃO DA ÉPOCA
DE COLHEITA DOS PRODUTOS
DE ORIGEM VEGETAL
A determinação do momento ótimo de colheita é fundamental. Uma má escolha
dessa época pode inutilizar toda uma campanha.
A decisão quanto ao momento ótimo de colheita é, evidentemente, fundamen-
tal para o sucesso da atividade hortofrutícola e coloca-se muito frequentemente
ao produtor, em termos de planificação da colheita. A colheita, ao ser feita no
momento ótimo, potencia as características organoléticas do produto como o
sabor e o aroma, tornando o produto mais adequado para consumo. Pelo con-
trário, se a colheita for antecipada ou adiada, poderá haver consequências na
perda das propriedades organoléticas importantes, nomeadamente, o sabor e o
aroma, a menor coloração da epiderme, a maior perda de peso durante o tempo
de conservação e ainda a maior suscetibilidade a desequilíbrios fisiológicos, que
levam à desvalorização do produto e à consequente perda de valor comercial.
O conhecimento do comportamento da cultura em relação às influências exter-
nas, nomeadamente de ordem climática, é determinante para a decisão, não só
do momento ótimo de colheita, como também das técnicas de colheita a utili-
zar. No capítulo 3 são descritas em pormenor as diversas técnicas de colheita.
1 Identificar os métodos baseados no aspeto visual para a avaliação do momento ótimo de colheita
Enquadramento
A determinação do momento ótimo de colheita permite ao produtor escalar as
suas operações no campo e não exige grande tecnologia. Muitas vezes, baseia-
-se no conhecimento empírico dos agricultores.
40 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 2. DETERMINAÇÃO DA ÉPOCA DE COLHEITA DOS PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL
Com o desenvolvimento da indústria alimentar, a qualidade dos produtos que são
oferecidos ao consumidor final, tem cada vez mais importância. Uma das técnicas
ainda usadas no campo e de elevada importância para o produtor, é a determina-
ção do ponto ótimo de colheita dos seus produtos. Através do aspeto visual das
características dos produtos é possível retirar facilmente informação variada que
será posteriormente utilizada na determinação do momento ótimo de colheita.
• Recolher uma amostra representativa, pois a quantidade recolhida vai condicionar a pre-
1] Por comparação com cartas cisão do resultado final;
colorimétricas-padrão: • Comparar a cor da epiderme dominante de cada fruto com as da tabela padrão;
• Determinar a quantidade de frutos com a cor da epiderme mais próxima da cor padrão.
Os resultados podem ser expressos em percentagem de frutos por classe de cor (quanto
maior for a quantidade de frutos com a cor igual à cor padrão mais próximo se está do
momento ótimo de colheita);
• Em variedades cujos frutos apresentem coloração heterogénea deve fazer-se a leitura na
zona do fundo, não corada pelo sol.
2. DETERMINAÇÃO DA ÉPOCA DE COLHEITA DOS PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 41
11 mm 8 mm
B Figura 2.3
Exemplos de REFRATÓMETROs
que permitem medir o teor
A de sólidos solúveis (ºBrix)
Figura 2.2
Ponteiras do penetrómetro
(A) e técnica de penetrometria
para avaliar a consistência da
polpa (B)
• Consistência da polpa - esta característica pode ser estimada através de
um penetrómetro e exprime-se em libras ou kg/0,5cm2 ou kg/cm2 (quando
se utilizam as ponteiras de 8 ou 11 mm, respetivamente) (Figura 2.2). Os
valores considerados podem variar, cabendo ao produtor encontrar o valor
mais correto e adequado às suas culturas.
• Teor de sólidos solúveis - com este método pode-se determinar o conteú-
do de açúcares nos frutos visto que, 80% da matéria seca são açúcares. Este
parâmetro é medido colocando algumas gotas do sumo dos frutos no pris-
ma de um refractómetro (Figura 2.3) e a leitura faz-se em ºBrix. Cada fruto
tem o seu valor característico conforme o estado de maturação.
42 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 2. DETERMINAÇÃO DA ÉPOCA DE COLHEITA DOS PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL
3. TÉCNICAS DE COLHEITA
PARA MANTER A QUALIDADE
DOS PRODUTOS
Se a determinação do momento ótimo de colheita, o mais exatamente possível,
é fundamental, não só para a qualidade dos hortofrutícolas, como para a sua
conservação, não são menos importantes as técnicas e os cuidados de colheita.
Enquadramento
Até agora, apenas alguns produtos comercializados frescos podem ser colhidos
mecanicamente com sucesso. A colheita manual da maioria dos produtos horto-
frutícolas é uma operação muito intensiva. A quantidade de trabalho necessário
para a colheita normalmente representa mais de 50% do total de trabalho re-
querido anualmente para uma cultura específica, além da operação ter que ser
realizada em tempo relativamente curto.
3. TÉCNICAS DE COLHEITA PARA MANTER A QUALIDADE DOS PRODUTOS Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 43
a B c
a b Cana-de-açúcar
c Tomate
d Couve
e Azeitona
Figura 3.1
Colheita manual
d e
Apesar destes problemas, a qualidade do produto final e o baixo custo são fa-
tores tão importantes no mercado de frutos e hortaliças que fazem com que a
44 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 3. TÉCNICAS DE COLHEITA PARA MANTER A QUALIDADE DOS PRODUTOS
colheita manual ainda seja, na maioria das vezes a opção considerada. Via de re-
gra, os sistemas de colheita mecanizados são utilizados para produtos que serão
posteriormente processados ou que são menos suscetíveis a danos mecânicos.
Em geral, para que a adoção de métodos de colheita mecanizada seja bem su-
cedida, é necessário também modificar-se:
• O tipo da planta;
• As práticas culturais;
• O manuseamento pós-colheita;
• Os métodos de processamento e comercialização.
3. TÉCNICAS DE COLHEITA PARA MANTER A QUALIDADE DOS PRODUTOS Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 45
Algumas tentativas neste sentido incluem:
• Mudanças de práticas culturais;
• Rearranjo de padrões de trabalho;
• Desenvolvimento de equipamentos de auxílio à operação de colheita e
equipamentos que substituem o trabalho manual.
Os produtos que podem ser colhidos de uma só vez são menos suscetíveis a
danos mecânicos. Estes danos podem ser observados não somente nos frutos e
vegetais da colheita, mas também no sistema radicular superficial, no solo (por
compactação), nos galhos e caule da planta. Os danos nos frutos podem ser par-
cialmente minimizados pelo rápido condicionamento e arrefecimento.
46 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 3. TÉCNICAS DE COLHEITA PARA MANTER A QUALIDADE DOS PRODUTOS
a b Arroz
c Cana-de-açúcar
d Azeitona
a
B
2] A capacidade de processamento e manipulação dos produtos pode
não ser capaz de trabalhar com altas taxas ou velocidades de colheita;
3] O equipamento pode-se tornar obsoleto em pouco tempo;
4] Os impactos sociais relacionados com um menor nível de emprego.
3. TÉCNICAS DE COLHEITA PARA MANTER A QUALIDADE DOS PRODUTOS Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 47
Figura 3.3
Exemplos de redes
de proteção para frutos
48 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 3. TÉCNICAS DE COLHEITA PARA MANTER A QUALIDADE DOS PRODUTOS
Figura 3.4
Colheita mecanizada
de produtos hortícolas
Para tomates rasteiros e consumidos frescos, podem também ser utilizados sistemas
de colheita semi-mecânicos.
Quanto aos tomates destinados à indústria, um dos maiores avanços deu-se no de-
senvolvimento de máquinas de seleção eletrónica de cor e registadoras de peso,
reduzindo drasticamente o número de trabalhadores necessários à realização da co-
lheita.
Grande parte das perdas durante a operação de colheita mecânica dos tomates é
devida ao carregamento das embalagens a alta velocidade, provocando impacto e
choque dos produtos com o fundo da caixa ou com outros tomates já empacotados,
além de compressão dos produtos empilhados.
Alface - A maioria das alfaces ainda são colhidas manualmente, mas já existem vários
equipamentos de auxílio à operação. Uma das máquinas foi desenvolvida baseando-
-se nas colhedoras de repolho. Tal máquina utiliza pares de discos posicionadores
para alinhar as “cabeças” em linhas. Correntes duplas levantadoras, com alças que
formam espécies de bolsos para os pedúnculos da alface, removem a planta e a
sua raiz do solo. As lâminas rotativas com serra eliminam a raiz, enquanto as folhas
externas são separadas manualmente e as cabeças são empacotadas também ma-
nualmente para o mercado.
Outra máquina para colheita da alface segura as cabeças entre correias inclinadas,
com “dedos” flexíveis de borracha que acomodam vários tamanhos de produto. As
cabeças selecionadas e cortadas são erguidas da linha, enquanto aquelas não esco-
lhidas escorregam da correia. As alfaces colhidas são então transferidas, através de
um “aparador” para um elevador que as suspende até uma esteira da qual os traba-
lhadores inspecionam e empacotam o produto manualmente.
3. TÉCNICAS DE COLHEITA PARA MANTER A QUALIDADE DOS PRODUTOS Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 49
4. MICROBIOLOGIA
ALIMENTAR BÁSICA
Objetivos
2 Chamar a atenção para os efeitos indesejáveis que a multiplicação de alguns microrganismos pode acarretar para os produtos e para a saúde
3 Chamar a atenção para os parâmetros intrínsecos e extrínsecos que afetam o crescimento microbiano em alimentos
ras e parasitas.
As bactérias são microrganismos entre os quais se encontram alguns que pro-
vocam problemas de saúde ao Homem. Outras poderão deteriorar os alimentos
mas, muitas são indispensáveis ao fabrico de certos alimentos. Como qualquer
ser vivo, necessitam de determinadas condições para crescerem e se multipli-
carem: alimento suficiente, humidade e temperatura adequadas. Só podem ser
visualizadas através de microscópio.
Os vírus são microrganismos mais pequenos e menos conhecidos que, para
serem visualizados, à semelhança das bactérias, necessitam de ser observados
com o auxílio de microscópios bastante potentes. Alguns vírus estão na origem
de doenças em Humanos e animais (por exemplo, gripe, HIV/SIDA). Em muitos
casos os vírus podem também infetar bactérias utilizadas em alguns processos
de fermentação de alimentos (bacteriófagos).
Os fungos e leveduras são microrganismos com menor risco para a saúde do
Homem. Os fungos possuem tamanhos variáveis que vão desde formas apenas
visíveis ao microscópio até dimensões consideráveis. Alguns fungos são produ-
tores de compostos tóxicos (aflotoxinas) capazes de originar doenças graves.
Os parasitas são microrganismos perigosos para o Homem. Instalam-se no in-
terior de um “hospedeiro” para viverem à sua custa. O ciclo de vida dos mais
representativos encontra-se descrito no manual de conservação de produtos
de origem animal.
c d
Log
ufc
b
A
e
tempo (h)
Figura 4.5
(a) curva de multiplicação
dos microrganismos;
(b) processo de multiplicação
por cisão celular
2] Atividade da água (aw) - A atividade da água num alimento não sig- Tabela 4
Faixa de multiplicação
nifica o mesmo que o seu conteúdo em água. Nos alimentos, a água de alguns microrganismos
encontra-se presente de duas formas distintas; quimicamente ligada a
outras moléculas, e portanto imobilizada, ou na sua forma livre, desli-
gada de outras moléculas e como tal disponível. É esta água disponível
(que permite o crescimento microbiano) que determina o valor de aw,
podendo variar entre um máximo de 1,0, onde a água se encontra to-
talmente disponível (equivalente a água pura), e 0,0, onde a água livre
é inexistente (equivalente a um osso seco).
p Alimentos
A relação aw= permite calcular a aw de um alimento, em que:
p0 frutos frescos e vegetais >0,97
ovos: 0,97
3] Nutrientes constituintes do alimento - servem de alimento aos pão: 0,95-0,96
microrganimos para estes satisfazerem as suas necessidades e se
multiplicarem. São exemplo a água, os açúcares, as vitaminas e os sais queijos: 0,91-0,99
minerais, entre outros. geleia: 0,75-0,80
4] Constituintes antimicrobianos - Mantêm a estabilidade de alguns ali-
frutos secos: 0,51-0,89
mentos contra os ataques de microrganismos, retardando ou inibindo
a multiplicação bacteriana. cereais: 0,10-0,20
<50ºc
30min - 2h Lentamente
>45ºc
<45ºc
10min - 20min Rápidamente
>30ºc
<30ºc
30min - 1h Moderadamente
>20ºc
<20ºc
1h - 2h Lentamente
>10ºc
<10ºc
3h - 6h Muito lentamente
>4ºc
<4ºc
6h - 8h Insignificante
>0ºc Tabela 6
Estimativa do tempo de
<0ºc Não há multiplicação de patogénicos multiplicação bacteriana patogénica
de acordo com a temperatura
alimento
desidratado alimento
alimento alimento
aw baixa FORMA UMA ESTRUTURA aw alta DESIDRATAÇÃO
GRANULOSA. DETERIORAÇÃO SUPERFICIAL COM PREJUÍZO
microbiana (normalmente das características
de origem fúngica) organolépticas
do alimento
Figura 4.7
3] Presença e concentração de gases no meio ambiente - Designam- Exemplo dos efeitos da
humidade relativa nos
-se por microrganismos aeróbios aqueles que crescem na presença alimentos
de oxigénio e anaeróbios aqueles que só se desenvolvem na ausência
de oxigénio. Entre os microrganismos aeróbios estritos (por exemplo,
fungos) e os anaeróbios estritos (p. ex. algumas espécies de clostrídios)
existe uma vasta gama de microrganismos que apresenta diversos níveis
de tolerância às condições da atmosfera.
1 Dar a conhecer quais as principais causas de alteração dos produtos de origem vegetal
Enquadramento
A mais importante causa de redução de qualidade nos frutos e hortaliças resul-
ta das alterações microbianas, que se iniciam, inclusive antes da colheita. Esta
deterioração pode aparecer durante qualquer fase de desenvolvimento até ao
consumo final.
• Podridão azul
»» Este tipo de deterioração é produzido por várias espécies de Peni-
cillium. A cor verde-azulada desta podridão obedece à presença de
esporos verde-azulados produzidos por este fungo. Este tipo de fun-
gos é encontrado com mais frequência nos citrinos, pêras, maçãs e
frutos similares.
• Míldio
»» Os agentes principais que causam este tipo de alterações são espécies
de Phytophtora e Peronospora. Este tipo de fungos é encontrado com
mais frequência nos limões, limas, pêras, melões, tomates, hortaliças
foliáceas, batatas, cenouras e cebolas.
• Podridão por Sclerotinia
»» Os fungos do género Sclerotinia causam diversos tipos de alterações.
Por exemplo, estes organismos são capazes de dar lugar a uma po-
dridão escura nos frutos e a uma podridão clara nas hortaliças. Os Figura 4.14
frutos mais atacados são as maçãs, pêras e espécies afins, assim como Podridão por Sclerotinia
• Podridão negra
»» O género Aspergillus é o que mais comummente é associado às podri-
dões negras embora esta possa ser causada por outros tipos de fun-
gos. Este tipo de fungos é mais encontrado em citrinos, maçãs, pêras,
tomates e hortaliças de raiz. Todavia, outros géneros podem também
estar na origem desta alteração. Na figura 4.15 apresenta-se o aspeto
da podridão negra em abacaxi provocada por Thielaviopsis paradoxa.
Figura 4.15
Podridão negra em
abacaxi
É essencial evitar também feridas nos tecidos dos frutos e hortaliças, pois
abrem-se portas de entrada aos microrganismos.
2 Identificar as principais metodologias e equipamentos utilizados para conservar produtos vegetais por ação do frio
3 Demonstrar os efeitos dos processos de conservação pelo frio sobre o alargamento da vida útil dos produtos
Enquadramento
A utilização de baixas temperaturas na conservação dos alimentos baseia-se na
redução da temperatura de modo a retardar ou inibir a atividade dos microrga-
nismos presentes com o objetivo de evitar a degradação do alimento.
5.1.2 Refrigeração
Para manter os alimentos refrigerados é necessário mantê-los a temperaturas
entre 0 ºC e 7 ºC. Neste caso os impactos sobre as propriedades nutricionais e
sensoriais são mais brandos, porém conseguimos atingir tempos de conserva-
ção menores do que acontece com a congelação.
aves 5 - 18 1 <1
Tabela 7
Vida útil de produtos
Os microrganismos com mais interesse em controlar na refrigeração são os psi- de origem vegetal e animal,
a várias temperaturas
crotróficos (0-7 °C), pois alguns, são causadores de doenças de origem alimentar,
e são capazes de desenvolver e produzir toxinas em temperaturas de refrige-
ração, mas a maioria não cresce a temperaturas abaixo de 4,4 °C (por exemplo,
Clostridium botulinum e Listeria monocytogenes).
NOTA:
Figura 5.4
Diagrama e aspeto de um
congelação. Este sistema é utilizado para produtos com uma espessura até 10 congelador criogénico
cm. As embalagens congeladas por este método não sofrem deformação por
dilatação do produto durante a congelação, sendo o produto congelado de
forma regular.
A congelação por contato direto efetua-se por imersão do produto no meio
congelante ou por aspersão do meio congelante sobre o produto. Este sistema
utiliza-se tanto para o produto a granel como para o embalado. O meio con-
gelante pode ser uma salmoura, uma solução de açúcar ou um gás liquefeito
como o azoto ou dióxido de carbono. Neste último caso, são alcançados tem-
pos de congelação muito curtos devido aos pontos de ebulição destes gases se-
rem também muito baixos, respectivamente, -196 ºC e -78 ºC. O azoto e dióxido
de carbono são designados fluidos criogénicos e como tal, quando utilizados
para congelar alimentos, a operação é designada por congelação criogénica.
brócolos 24 - 36
cerejas 24 - 36
pêssegos 12 - 18
espargos 12 - 18
framboesas 24 - 36
morangos 18 - 24
feijão verde 12 - 18
Tabela 8
Tempo de armazenamento
a -30 ºC de alguns frutos e 5.1.8 Problemas da descongelação
hortaliças embalados em
embalagens impermeáveis Se a congelação favorece a conservação dos alimentos a descongelação é res-
ponsável pelo inverso.
1] A descongelação é consideravelmente mais lenta que a congelação quan-
do se realiza em condições de temperatura idênticas. Isto deve-se ao fato
de a condutividade térmica do gelo ser inferior à da água.
2] A curva tempo-temperatura característica da descongelação é potencial-
mente mais prejudicial do que a da congelação. Durante a descongelação,
80 Congelamento
60
40
desCongelamento
20
temperatura (ºC)
-20
-40
-60
-80
0 10 20 30 40 50 60
tempo (minutos)
Figura 5.5
Curvas de congelação
Enquadramento
O emprego de altas temperaturas na conservação de alimentos baseia-se nos
seus efeitos destrutivos sobre os microrganismos. Entende-se por altas tempera-
turas qualquer temperatura que seja superior à temperatura ambiente. As duas
técnicas mais utilizadas são a pasteurização e esterilização.
Objetivos
1 Apresentar os principais métodos de conservação pelo calor: pasteurização e esterilização
2 Identificar as principais metodologias e equipamentos utilizados para conservar produtos vegetais por ação do calor
3 Demonstrar os efeitos dos processos de conservação pelo calor sobre a segurança e sobre a conservação dos produtos
Figura 5.6
Diagrama e aspeto geral de
uma autoclave vertical
três tipos de esterilização (física, química e físico-química) sendo que a mais
utilizada é a física através utilização do calor húmido, em autoclaves, ou do
calor seco, em estufas. As temperaturas utilizadas são superiores a 90 °C, mais
comummente entre os 116 e 121,1 °C, podendo utilizar-se por vezes tempera-
turas até aos 148 °C. Os tempos de exposição variam desde um segundo até
vários minutos.
O tempo de esterilização depende da velocidade da penetração do calor no ali-
mento até ao centro da embalagem, terminando a operação quando a embala-
gem estiver submetida ao tratamento durante o tempo desejado. A velocidade
de penetração do calor depende do material, das dimensões da embalagem
e o tipo de produto (líquido ou sólido). As embalagens de metal conduzem o
calor mais rapidamente do que as embalagens de vidro, necessitando estas de
tempos de tratamento mais elevados.
O tratamento térmico depende da contaminação inicial e da acidez do produ-
to. Um produto fortemente contaminado necessita de uma esterilização mais
duradoura. Os microrganismos são menos resistentes ao tratamento térmico
num ambiente ácido. Os produtos com pH inferior ou igual a 4,5 necessitam
de tempos e temperaturas de esterilização menores necessitando muitas vezes
apenas de água a ferver.
Durante a esterilização, a embalagem sofre pressões internas e externas deven-
do ter capacidade para resistir sem se deformar.
As latas não devem apresentar oxidações, perfurações, amolgadelas nem defei-
tos de costura. A coloração do interior da embalagem deve ser uniforme.
Para produtos pouco ácidos é exigido um valor de F0 mínimo de 3. Isto deve-se ao fato de o valor D121,1ºC para o Clostridium
botulinum ser de 15 segundos a esta temperatura (isto é, em 15 segundos, 90% da população presente é eliminada). Assim,
em 3 minutos elimina-se 99,9999999999 da população desse microrganismo (praticamente 100%). Dito de outra maneira,
se numa determinada quantidade de produto existissem 1.000.000.000.000 (um milhão de milhões) de células de C. botu-
linum, no final do tratamento térmico sobreviveria apenas uma.
No caso de produtos ácidos (pH inferior a 4,5) não são necessários tratamentos térmicos tão drásticos e, valores de tempe-
ratura entre 80 e 100ºC são normalmente usados.
1 Referir as principais metodologias utilizadas para reduzir o teor de água e de atividade da água em produtos de origem vegetal
Enquadramento
Os microrganismos necessitam de água para manter a sua atividade, sendo que,
se esta lhe for retirada a sua ação fica inibida embora eles não desapareçam. Para
conservar os alimentos por desidratação é necessário diminuir o conteúdo em
humidade e a aw (atividade da água) para valores que inibam o crescimento mi-
crobiano. A técnica mais antiga de secagem de alimentos consiste simplesmente
cobertura transparente
1,03m
1,13m
tabuleiros de secagem
painéis transparentes
aquecedor do ar 0,46m
painel negro
0,75m
painel isolado
1,70m
isolamento
1,04m
cobertura transparente
entrada de ar
Figura 5.7
Diagramas de secadores
solares de pequena dimensão
na exposição dos alimentos frescos à luz solar até secarem. Esta forma de seca-
gem denomina-se secagem ao sol e alguns alimentos conservam-se satisfatoria-
mente apenas por este método. No entanto, do ponto de vista comercial os mé-
todos mais utilizados são a desidratação em câmara de ar quente e a liofilização.
a B c d
materiais
a Madeira e chapa 5.3.1.2 Secagem por ar quente
b Madeira e plástico
A aplicação de ar quente ao produto evapora a água que se encontra nos teci-
c Blocos, madeira e plástico
dos vegetais. A desidratação por ar forçado efetua-se em instalações de constru-
d Plástico e tubo galvanizado
ção similar aos da congelação por ar forçado. Contudo, nas câmaras e nos túneis
de desidratação é necessário eliminar uma parte do ar saturado mantendo a
Figura 5.9
Modelos de secadores humidade relativa em redor dos 60%.
solares construídos
com diferentes
A temperatura máxima que se pode utilizar é de 70 ºC. A secagem deve ser iniciada
com temperaturas mais baixas e gradualmente aumentadas de modo a facilitar
a saída da água dos tecidos internos, melhorando assim a qualidade do produto
final. Temperaturas muito altas e baixa humidade, causam a caramelização dos
açúcares presentes nos frutos e a descoloração das hortaliças.
5.3.1.3 Liofilização
A liofilização implica, numa primeira fase, a congelação do alimento (frutos, hor-
taliças, etc.), sendo depois submetido a um ambiente de alto vácuo que permite
a sublimação da água, ou seja, a água congelada no material passa diretamente
da fase sólida à fase gasosa sem passar pelo estado líquido. Este processo con-
serva intactas as propriedades nutritivas e organoléticas dos alimentos. O teor
de água no produto final é extremamente reduzido (cerca de 1%) que resulta na
inibição da ação dos microrganismos e das enzimas que normalmente deterio-
ram e degradam os produtos.
entrada de ar
ar húmido ar seco
Figura 5.10
Diagrama de um
secador de ar
quente
Os produtos desidratados por liofilização devem ser embalados adequadamente
de modo a ser possível a reabsorção conveniente da água, e voltar ao estado
original. A liofilização tende a danificar menos os tecidos do que qualquer outro
dos métodos de desidratação que envolve a aplicação de temperaturas eleva-
das. A liofilização não causa, geralmente, o encolhimento ou endurecimento do
material que está a ser desidratado, e os sabores/cheiros permanecem, também,
inalterados. A liofilização é muito usada na produção do café solúvel. Pelo fato de
ser um processo bastante caro é apenas usado em produtos com elevado valor
acrescentado após o processamento.
Objetivos
1 Referir as principais metodologias utilizadas para conservar produtos de origem vegetal por ação do sal e/ou do vinagre
3 Avaliar os efeitos desses processos sobre as características e conservabilidade dos produtos vegetais
4 horas
4g SO2/kg
Tabela 9
Dados técnicos para
desidratação osmótica
de alguns produtos
5.5.2.2 Conservação por meio de uma pequena quantidade de sal
vegetais
Na conservação por meio de uma pequena quantidade de sal, acrescenta-se
uma quantidade suficiente de sal aos legumes para criar as condições apropria-
das para o crescimento dos microrganismos que formam ácidos, os quais por
sua vez conservam os legumes. O ácido dá ao produto um sabor especial, ge-
ralmente, com apreciação positiva. Se se acrescentar também vinagre a essa sal-
moura pouco concentrada, precisar-se-á de menos sal. O método da salmoura é
mais fácil que o método de salga a seco. A salmoura promove uma distribuição
uniforme do sal nos legumes. Com o método do sal seco, o produto contrai-se
devido a saída de líquido. Contudo, a cor, o odor e o sabor dos legumes são
melhores quando comparados com os conservados em salmoura. Neste tipo de
salga a concentração de sal está compreendida entre os 2,5 e 5%.
NOTA:
Quando se proceder à fermentação por meio da salmoura ligeira ou métodos de salga ligeira (às vezes também com
outros métodos) aparecerá, depois de alguns dias, uma camada branca de espuma sobre os legumes. Isso ocorre devido
ao crescimento de microrganismos não desejáveis. Se essa espuma não for retirada o ácido produzido no processo de
fermentação vai ser consumido causando, ao produto, cheiros e sabores desagradáveis.
Ervilhas, feijões, milho doce e verduras conservadas com sal têm de ser cozidos no mínimo por 10 minutos
antes do seu consumo. É importante que os legumes sejam sempre mantidos abaixo do nível do líquido.
No caso de alguns legumes, como por exemplo os pepinos, põem-se por vezes,
primeiro, a fermentar (fermentação láctica) armazenando-os por algum tempo
numa solução de vinagre quase fervente (5 a 6% de acidez acética). Depois de 1
semana deve ser substituída por outra e adicionados 3 a 4 g por 100 g (3-4%) de
sal, antes de serem embalados em frascos.
2 Relacionar a tecnologia com a necessidade de se criarem condições de crescimento para os microrganismos responsáveis pela fermentação
Enquadramento
Existem numerosos produtos alimentares que devem a sua produção e caracte-
rísticas à ação dos microrganismos. Os queijos maturados, iogurtes e pickles são
alguns bons exemplos. Estes alimentos são mais estáveis e possuem aromas e
sabores característicos que são consequência direta ou indireta dos microrganis-
mos presentes na fermentação.
É um processo que utiliza o crescimento controlado de microrganismos selecio-
nados, capazes de modificar não só a textura, o sabor e o aroma dos alimentos,
como também suas propriedades nutricionais.
Enquadramento
Considerando que o tempo de vida de uma bebida fermentada poderá ser afe-
tado por diversos fatores como o armazenamento a temperaturas elevadas ou a
contaminação microbiana por leveduras ou bactérias indesejáveis (entre outros)
poderá ser economicamente vantajoso diversificar a produção de bebidas a partir
de frutos (altamente perecíveis ou que se encontrem em excesso de produção).
Assim, a obtenção de bebidas destiladas a partir de bebidas fermentadas assume-
-se como uma interessante solução.
O processo de destilação não somente concentra álcool etílico, mas também de-
termina a grande extensão da composição volátil do destilado, além de produzir,
pelo aquecimento, certas reações que aumentam as quantidades de compostos
voláteis e a qualidade do destilado final.
Resíduos
Engarrafamento/envelhecimento
em madeira (opcional)
Figura 5.11
Exemplo de diagrama de
produção de destilado ou
aguardente de frutos
Os aldeídos têm origem nos álcoois por oxidação, sendo eles próprios também
facilmente oxidáveis. Estes são por vezes responsáveis pelo sabor pronunciada-
mente metálico das cabeças. O acetaldeído é o seu representante mais importan-
te quantitativamente, correspondendo a pelo menos 90% dos aldeídos totais. Os
aldeídos são os compostos mais voláteis existentes nas bebidas alcoólicas.
c Colo de cisne
B
d Serpentina mergulhada
em água fria
D A
O colo de cisne, está montado por cima do capitel. A sua forma é sempre idênti-
ca, mas o seu ângulo de abertura e o seu raio de curvatura, variam.
2 Chamar a atenção para os aspetos do processamento que afetam a qualidade destes produtos
receção
água +
água pré-lavagem
impurezas
lavagem água +
água
impurezas
trituração
meio de
escaldão
aquecimento
açúcar
polpa de fruta
ácido cítrico
meio de
cozedura água
aquecimento
embalagens enchimento
cápsulas capsulagem
meio de meio de
arrefecimento
arrefecimento arrefecimento
rótulos rotulagem
Figura 6.2
Diagrama do processamento armazenamento
de doce de fruta
• Pré-lavagem
Essa operação visa a eliminação de impurezas provenientes do campo (galhos,
grãos de areia, insetos, etc.) que possam contaminar a matéria-prima, desqualifi-
cando o produto final, além de acarretar desgaste aos equipamentos. Essa ope-
ração tem ainda a finalidade de aliviar o “calor de campo”, que os frutos trazem
consigo desde a hora da colheita até a entrada na indústria.
Recomenda-se que a pré-lavagem seja feita com água corrente ou com jatos
de água, de modo a facilitar a remoção das sujidades mais grosseiras. Deve-se
controlar a pressão da água, para não danificar os frutos.
• Seleção e classificação
Um dos fatores mais importantes que determina a qualidade dos doces de frutos
é a seleção e a classificação dos frutos por tamanho, cor, maturação, ausência de
manchas ou defeitos causados por fungos e insetos, simetria, textura e sabor.
Após a pré-lavagem, os frutos são colocados sobre uma mesa de seleção, de
preferência de aço inoxidável, onde os operadores separam os frutos podres,
muito verdes e defeituosos.
• Lavagem
A lavagem tem como objetivo a redução da carga microbiana presente na su-
perfície dos frutos, que devem ser mantidos, por um período de 15 a 20 minutos,
numa solução de hipoclorito de sódio na concentração de 200 mg/kg (0,02%) de
cloro ativo. Depois da lavagem, é preciso retirar o excesso de cloro dos frutos, o
que se faz enxaguando-as com água corrente de boa qualidade. A água resul-
tante deste enxaguamento pode ser utilizada na pré-lavagem dos frutos.
• Descasque / Preparação
Para a operação de descasque existem três técnicas diferentes, cuja utilização
depende do fruto utilizado como matéria-prima e do rendimento que se deseja
obter no descasque. Estas técnicas são: o descasque manual, descasque mecâ-
nico e a pelagem química.
• Trituração
Nesta fase a fruta é triturada por ação de facas ou de um moinho triturador.
• Escaldão
Trata-se de um tratamento térmico, no qual a fruta é exposta a elevadas tempe-
raturas, onde se promove a destruição do complexo enzimático, a remoção do
ar dos tecidos celulares e se reduz a carga microbiana inicial. Com a inativação
enzimática previne-se a alteração das características organoléticas do produto
e a sua deterioração.
• Cozedura
Nesta fase a polpa de fruta é colocada numa marmita onde irá ser processada
até atingir o ponto necessário para a conservação, o qual depende das quanti-
dades proporcionais de pectina, ácido e açúcar. O ácido promove o processo de
formação do gel obtido pela mistura da pectina com o açúcar. A quantidade de
RENDIMENTO
FRUTA A USAR POLPA OBTIDA AÇÚCAR NECESSÁRIO
FRUTA APROXIMADO
kg kg kg
(% da fruta original)
Manga 720 360 33 14
Banana 600 360 30 17
Goiaba 406 325 60 25
Manga + Banana 540 + 150 360 35 15
Papaia + Banana 500 + 140 336 54 23
Tabela 10
Matérias-primas necessárias
para obtenção de cerca de
100kg de produto final
Nota: 0s graus Brix (símbolo ºBrix ) medem o cociente total de sacarose dissolvi-
da num líquido. Uma solução de 25 ºBrix tem 25 g de açúcar (sacarose) por 100
g de líquido ou, dito de outro modo, há 25 g de sacarose e 75 g de água nos 100
g da solução.
Para os sumos de fruta, um grau Brix indica cerca de 1-2% de açúcar por peso.
Já que os graus Brix se relacionam com a concentração dos sólidos dissolvidos
(sobretudo sacarose) num líquido, têm que ver com a massa específica do líqui-
do. A massa específica das soluções da sacarose também se pode medir com um
refractómetro.
A escala Baumé é uma escala usada na medida das concentrações de certas
soluções. Foi criada pelo químico e farmacêutico francês Antoine Baumé em 1768
quando construiu o seu areómetro. A cada elemento da divisão da escada Baumé
denomina-se grau Baumé e simboliza-se por ºB ou ºBé.
A graduação de um areómetro em graus Baumé estabelece-se em referência
a uma dissolução aquosa de cloreto de sódio (NaCl) a 10% em água destilada.
Marca-se o valor 0 para a água destilada e o valor 10 para a dissolução a 10%, e
divide-se o espaço entre ambos em 10 graus Baumé. A escala pode-se alongar
por baixo para líquidos menos densos que a água destilada (ρ < 1 g/cm³). Para
líquidos mais densos que a água a escala é um pouco diferente: mantém-se o
valor 0ºBé para a água destilada e põe-se o valor 15 ºBé quando o areómetro está
dentro de uma dissolução a 15% de cloreto de sódio. Isto faz que as duas escalas
não se correspondam; por exemplo os 25 ºBé (densidade alta) não coincidem
com os 25 ºBé (densidade baixa). Por esta razão considera-se uma escala confusa
e que deve se eliminar.
Açúcar em solução
MASSA ESPECÍFICA Ponto de ebulição
º Baumé º Brix
(kg/L) g/L (°C)
(g/100 g)
1.144 18,5 33 377 101,1
1.149 19,0 34 391 101,1
1.154 19,6 35 404 101,2
1.159 20,1 36 417 101,3
1.164 20,7 37 430 101,3
1.169 21,2 38 444 101,4
1.174 21,8 39 457 101,4
1.179 22,3 40 470 101,5
1.185 22,9 41 486 101,5
1.190 23,4 42 500 101,6
1.195 23,9 43 513 101,6
1.200 24,5 44 527 101,7
continuação
1.206 25,0 45 543 101,7
1.211 25,6 46 557 101,8
1.216 26,1 47 571 101,8 Tabela 11
Características físicas
1.222 26,6 48 586 101,9 de soluções de açúcar
1 1.007 1 10
2 1.014 2 20
3 1.022 3 30
4 1.029 4 41
5 1.037 5 52
6 1.045 6 63
Figura 6.5
7 1.052 7 74
REFRATÓMETRO 8 1.060 8 85
ótico manual
9 1.067 9 96
10 1.075 10 107
11 1.083 11 119
12 1.091 12 131
13 1.100 13 143
14 1.108 14,2 158
15 1.116 15,5 173
16 1.125 16,7 188
17 1.134 18,0 204
18 1.142 19,0 217
19 1.152 20,0 230
20 1.162 21,2 246
21 1.171 22,4 262
22 1.180 23,6 278
23 1.190 24,8 295
Tabela 12 24 1.200 26,0 312
Características físicas
de soluções de sal
24,5 1.204 26,4 318
2 Chamar a atenção para os aspetos do processamento que afetam a qualidade destes produtos
Enquadramento
O principal objetivo da indústria alimentar de processamento de frutos desidra-
tadas é a obtenção de um novo produto com mudanças significativas na cor,
no sabor e na textura, obedecendo a padrões próprios de identidade e de qua-
posição natural.
meio de
escaldão
A ausência de humidade e a consequente concen- aquecimento
tração de sólidos solúveis inibe o crescimento mi-
crobiano, resultando uma melhor conservação do fruta fatiada
cápsulas capsulagem
6.2.2 Diagrama de processamento
rótulos rotulagem
• Receção da matéria-prima
Figura 6.6
Os frutos que servirão de base ao produto final de- Diagrama do processamento
vem ser de boa qualidade e estar no ponto certo de frutos desidratados
• Pré-lavagem
Essa operação visa a eliminação de impurezas provenientes do campo (galhos,
grãos de areia, insetos, etc.) que possam contaminar a matéria-prima, desqualifi-
cando o produto final, além de acarretar desgaste aos equipamentos. Essa ope-
ração tem ainda a finalidade de aliviar o “calor de campo”, que os frutos trazem
consigo desde a hora da colheita até a entrada na indústria.
Recomenda-se que a pré-lavagem seja feita com água corrente ou com jatos
de água, de modo a facilitar a remoção das sujidades mais grosseiras. Deve-se
controlar a pressão da água, para não danificar os frutos.
• Seleção
Esta etapa está diretamente relacionada com a qualidade do produto, devendo
ser efetuada por funcionários treinados. Frutos muito verdes ou em decomposi-
ção e defeituosos são inadequados ao processo de produção, pois podem alte-
rar a qualidade do produto.
• Lavagem
Esta lavagem é feita com água potável, para remover sujidades e outros mate-
riais estranhos aos frutos. Depois, para reduzir a carga microbiana das cascas, os
frutos são imersos em água com cloro.
• Descascamento / Preparação
A pelagem pode ser feita nos seguintes modos: fisicamente, manualmente ou
mecanicamente e quimicamente, como anteriormente descrito para a produção
de doces.
• Corte
Os frutos são cortados e fatiados de acordo com a apresentação final pretendida
para o produto.
Antes da secagem, alguns frutos podem sofrer o processo escaldão ou de sulfita-
• Escaldão
Trata-se de um tratamento térmico, no qual a fruta é exposta a elevadas tem-
peraturas (± 100 ºC), onde se promove a destruição do complexo enzimático, a
remoção do ar dos tecidos celulares e se reduz a carga microbiana inicial. Com a
inativação enzimática previne-se a alteração das características organoléticas do
produto e a sua deterioração.
• Secagem
Nesta etapa, procede-se à desidratação dos frutos, reduzindo-se a humidade para
um nível entre 15% a 25%. Em condições industriais, a temperatura inicial deve
estar em torno dos 50 ºC a 60 ºC, podendo ser elevada e mantida até aos 70 ºC
durante todo o processo de secagem. Para se promover uma boa homogeneida-
de do processo de secagem deve haver agitação e uma boa ventilação. Natural-
mente que, para pequenas quantidades de produto, a secagem também poderá
ser efetuada em condições artesanais fazendo uso de secadores de construção
simples.
• Embalamento
As embalagens mais usadas para acondicionar os frutos secos são o papel celofa-
ne transparente, polietileno ou polipropileno e embalagens a vácuo. A fruta deve
ser embalada depois de fria, de modo a evitar condensação de água na superfície
do produto.
• Rotulagem
Nesta fase a embalagem é rotulada com a marca e nome do produto, a data de
validade, informação nutricional, empresa de distribuição, instruções de conser-
vação e o lote.
• Armazenamento
Para se oferecer um produto de qualidade para o consumidor, deve-se utilizar um sis-
tema FIFO. Os lotes devem estar adequadamente etiquetados, com as datas de fabrico.
Uva
Após a seleção dos frutos bem doces, de variedades sem sementes, lavam-se
em água corrente, ordenam-se nas prateleiras e levam-se ao secador durante
15 a 20 horas a uma temperatura aproximada de 70 ºC. A embalagem mais
adequada é o papel celofane transparente.
Ameixa
As varidades mais utilizadas na produção de ameixa seca são da espécie Prunus
domestica ou ameixas europeias. Depois de selecionar as ameixas bem madu-
ras e sem manchas, deve-se lavá-las em água corrente, descaroça-las, cortá-las
e ordená-las nas prateleiras. De seguida, as prateleiras seguem para o secador,
por um período de 15 a 20 horas a uma temperatura de aproximadamente 70 ºC.
A embalagem deve ser em papel celofane transparente.
Pêssego
Após a seleção dos pêssegos maduros, firmes e sem manchas, estes devem
ser lavados, descascados e cortados, retirando-se os caroços, e imergindo-os
numa solução de bissulfito de sódio (5,6 g/L de água), para evitar a oxidação,
e de amido pré-gelatinizado (20 g/L dissolvido em água a 70 °C), a fim de
melhorar a crocância das fatias. Em seguida, são ordenados os pedaços nas
prateleiras e levados ao secador, por 7 a 9 horas a uma temperatura de, apro-
ximadamente, 60 ºC. A embalagem deve ser em papel celofane transparente.
Maçã
Depois da seleção dos frutos sem manchas (Figura 6.12), lavá-los em água cor-
rente e fatiá-los. Para o pré-tratamento, é necessária a utilização de uma solução Figura 6.12
de bissulfito de sódio (5,6 g/L de água), para evitar a oxidação, e de amido pré- As variedades de mangas
com menos fibras são as
-gelatinizado (20 g/L dissolvido em água a 70 °C), a fim de melhorar a crocância mais indicadas
das fatias. De seguida, deve-se ordenar nas prateleiras e levá-los ao secador por
5 a 6 horas a uma temperatura de, aproximadamente, 60 ºC. Utilizam-se emba-
lagens metalizadas (polietileno revestido com alumínio).
Manga
As mangas (Figura 6.12) indicadas para o processamento são as variedades com
menos fibras. Depois de se escolher frutos firmes e maduros, lavá-los, descascá-
-los, cortá-los em tiras de formas regulares, ordená-las nas prateleiras e levá-las
ao secador, por 10 a 12 horas a uma temperatura entre os 40 ºC e os 60 ºC. A
embalagem deve ser o papel celofane transparente.
Em todos os casos, a secagem pode ser conduzida em secadores solares, deven-
do ter-se sempre em atenção os aspetos relacionados com as melhores condições
de secagem (temperaturas elevadas e baixa humidade relativa), bem como a ne-
cessidade de proteger os produtos dos ataques de insetos e outros predadores.
Tabela 13
Pêras - metades 15 70-65 15-22 18-20 10-15
Dados técnicos para desidratação
de alguns frutos em túnel Pêras - quartos 15 70-60 10-15 15-20 10-15
Figura 6.14
Embalamento manual
de mangas desidratadas FRUTO OU VEGETAL TIPO DE CORTE TRATAMENTO
2 Chamar a atenção para os aspetos do processamento que afetam a qualidade destes produtos
Enquadramento
Os produtos confitados são elaborados a partir de frutos e hortaliças que têm
como característica principal a sua textura firme. Entre os frutos mais usadas en-
contra-se a papaia verde e entre as hortaliças utiliza-se o nabo e a cenoura. Tam-
bém se produz fruta confitada a partir da casca de melancia, cereja, pêra, casca
de laranja entre outras.
A técnica de conservação utilizada é bastante simples, sendo o conservante prin-
cipal o açúcar.
Como principal vantagem deste processo distingue-se o fato de ser possível
conservar a matéria-prima por longos períodos de tempo, sem haver confitação
propriamente dita. Isto permite que se possa aproveitar a fruta/hortaliça e poste-
riormente, confitá-la.
• Receção da matéria-prima
Os frutos que servirão de base ao produto final devem ser de boa qualidade e
estar no ponto certo de maturação: maduros, mas firmes. Inicialmente, deve ser
feita a pesagem e, depois, as devidas análises do lote. A receção da matéria-prima
deve ser realizada em local apropriado, distante da área de processamento, para
se evitar a contaminação do produto final.
Recomenda-se que a pré-lavagem seja feita com água corrente ou com jatos
de água, de modo a facilitar a remoção das sujidades mais
grosseiras. Deve-se controlar a pressão da água, para não da-
receção nificar os frutos.
• Seleção da matéria-prima
água +
pré-lavagem
impurezas A fruta deverá conter os seguintes requisitos:
»» Completamente sã;
seleção e classificação refugo
»» Textura firme;
»» Tamanho adequado.
lavagem água +
impurezas
O procedimento para a seleção da matéria-prima é o seguinte:
maceração • 1ª Pesagem: feita antes do cálculo do rendimento;
• Seleção: separam-se os frutos segundo critérios de
corte aceitabilidade;
• 2ª Pesagem: pesam-se os frutos selecionados.
xarope confitagem
O rendimento da matéria-prima depende muito dos frutos
usados.
secagem água
• Lavagem
embalagens embalamento Esta lavagem é feita com água potável, para remover suji-
dades e outros materiais estranhos aos frutos. Depois, para
reduzir a carga microbiana das cascas, os frutos são imersos
rótulos rotulagem em água com cloro.
armazenamento • Maceração
Este processo consiste em manter a matéria-prima numa so-
lução de água e sal, chamada de salmoura, por um tempo
Figura 6.16 mínimo de 48 horas.
Diagrama do processamento
de fruta confitada
• Corte
É feito para reduzir o tamanho das matérias-primas e, no caso de estas conterem
sementes, serve para removê-las.
• Confitagem
Consiste em manter os pedaços de frutos, hortaliças ou cascas num xarope, por
seis a oito dias. Controla-se diariamente e acrescenta-se açúcar até a fruta ter a
quantidade adequada.
• Primeiro xarope: Prepara-se um xarope com o açúcar com 30 ºBrix, e em
seguida introduzem-se os frutos no xarope por 24 horas. Passadas as 24
horas, adiciona-se sucessivamente açúcar, a cada 24 horas, ao xarope até
se atingir os 75 ºBrix, como descrito em preparação do xarope.
Se a confitagem começar com quantidades superiores a 30% de açúcar irá re-
sultar na diminuição do tamanho da matéria-prima inicial e na acumulação de
açúcar no exterior, causando o impedimento da entrada do xarope (açúcar) no
seio da fruta.
Preparação do xarope:
1] Numa panela ou recipiente resistente ao calor adiciona-se água e, logo
em seguida, incorpora-se o açúcar.
• Secagem
A secagem é feita para reduzir o teor de água dos frutos confitados. Pretende-se
que o teor de humidade no produto final seja inferior a 25 %. Com esta quantida-
de de água e com o elevado teor de açúcar no produto é prevenido o desenvol-
vimento microbiano e garantida a sua conservação.
A secagem pode ser feita de diferentes formas:
»» Num secador de prateleiras;
»» Em paletes expostas ao ar;
»» Em secadores solares.
• Embalamento
A fruta confitada é colocada em embalagens adequadas.
A embalagem dos frutos confitados tem como objetivo a sua preservação, prote-
gendo-os da humidade, poeiras e poluição ambiental.
• Expedição
O produto é vendido e entra no mercado.
Para medir o pH, utiliza-se um medidor de pH. Para fazer a medição realizam-se
os seguintes passos:
»» À mistura utilizada no controlo do ºBrix, adiciona-se a quantidade ne-
cessária de água destilada para cobrir o elétrodo do medidor de pH.
A quantidade de água que deve ser incorporada deve ser no máximo
nove vezes a quantidade da amostra, para não alterar o valor de pH.
»» Agita-se a amostra até ficar homogénea e coloca-se o medidor de pH.
»» Realiza-se a leitura após alguns segundos.
1 Apresentar o diagrama de produção e descrever as etapas essenciais envolvidas na produção de produtos vegetais concentrados
2 Chamar a atenção para os aspetos do processamento que afetam a qualidade destes produtos
Enquadramento
A concentração de um produto consiste em reduzir o seu conteúdo em água. O
grau de concentração determina-se com o refractómetro e é expresso em ºBrix.
A concentração reduz os gastos de transporte e armazenamento do produto e
facilita a conservação.
selagem
meio de
arrefecimento
arrefecimento
6.4.3 Descrição das etapas de produção
rótulos rotulagem
• Receção da matéria-prima
As hortofrutícolas que servirão de base ao produto final
armazenamento
devem ser de boa qualidade e estar no ponto certo de
maturação: maduras, mas firmes. Inicialmente, deve ser
Figura 6.18 feita a pesagem e, depois, as devidas análises do lote.
Diagrama do processamento
de concentrados A receção da matéria-prima deve ser realizada em local
apropriado, distante da área de processamento, para se
evitar a contaminação do produto final.
• Seleção
Esta etapa está diretamente relacionada com a qualidade do produto, devendo
ser efetuada por funcionários treinados. Hortofrutícolas muito verdes ou em de-
composição e defeituosos são inadequadas ao processo de produção, pois po-
dem alterar a qualidade do produto.
• Lavagem
Esta lavagem é feita com água potável, para remover sujidades e outros materiais
estranhos aos frutos. Depois, para reduzir a carga microbiana das cascas, os frutos
são imersas em água com cloro.
• Trituração
O triturador consiste de um cilindro, alojado dentro de uma câmara, que tem
facas, dentes ou martelos fixos. O cilindro tem também, inseridos à sua volta
facas, dentes ou martelos complementares aos primeiros que giram e provocam
a rutura dos frutos.
O triturador não deve quebrar as sementes do fruto, pois estas vão afetar negati-
vamente a sua textura e dificultar o trabalho das próximas operações.
• Escaldão
Nesta operação os frutos triturados ou desintegrados, são submetidos a um
aquecimento com o objetivo de tornar mais tenra a polpa, inativar enzimas e
facilitar a retirada da pele nas operações seguintes.
Os frutos são colocados num tanque onde são submetidos a um aquecimento
rápido (cerca de 15 segundos) a uma temperatura entre 88 e 90 ºC.
alimentação
Condensado Vapor a b c
tanque
de 1 2 3
produto A b
B Cc
Vapor
Condensado
Produto concentrado
1,2,3: Efeitos
A,B,C: Separadores de vapor Condensado Condensado
A a,b,c: vapor retirado do produto b
Figura 6.19
Diagrama (a) e ASPETO GERAL (B).
de um concentrador industrial
a vácuo de triplo efeito
• Concentração
Na concentração, a polpa, normalmente, é concentrada a vácuo até ao valor de
graus Brix necessários. Por vezes, é necessário realizar uma concentração preliminar.
• Enchimento
Nesta etapa enchem-se as embalagens (latas, embalagens de vidro ou bags
compostos por diversos materiais) e procede-se ao fecho das mesmas.
• Esterilização
Dependendo do pH do produto a esterilização poderá ser feita a temperaturas
de ebulição no caso dos produtos ácidos (100 ºC) ou terá de ser feita em auto-
clave a temperaturas superiores a 115 ºC.
• Arrefecimento
Após a esterilização o produto é arrefecido com água clorada até uma tempe-
ratura de cerca de 30 ºC. Esta temperatura permitirá a posterior secagem das
embalagens de modo a permitir a sua rotulagem ao mesmo tempo que impede
a oxidação dos materiais metálicos.
• Rotulagem
Nesta fase a embalagem é rotulada com a marca e nome do produto, a data de
validade, informação nutricional, empresa de distribuição, instruções de conser-
vação e o lote.
• Armazenamento
Para se oferecer um produto de qualidade para o consumidor, deve-se utilizar
um sistema FIFO. Os lotes devem estar adequadamente etiquetados, com as
datas de fabrico.
exemplo:
O tomate normalmente apresenta 4% de desperdício do seu peso total. A polpa possui aproximadamente
5% de sólidos solúveis. Ou seja, por cada 100 kg de tomate obtém-se 96 kg de polpa e 4,8 kg de sólidos so-
lúveis. Então, nestas condições, para produzir 100 kg de concentrado com 28 ºBrix será necessário processar
28/4,8 x 100 kg = 583 kg de tomate fresco.
Para a obtenção de sumo de laranja normalmente existe um desperdício de 55% do seu peso total. O sumo possui aproximada-
mente 14% de sólidos solúveis. Ou seja, por cada 100 kg de laranja obtém-se 45 kg de sumo e 6,3 kg de sólidos solúveis. Então,
nestas condições, para produzir 100kg de concentrado com 65 ºBrix será necessário processar 65/6,3 x 100 kg = 1036 kg de
laranjas.
2 Chamar a atenção para os aspetos do processamento que afetam a qualidade destes produtos
Enquadramento
Algumas hortaliças apresentam características que, devido à sua baixa acidez
(pH>4,5), apenas podem ser conservadas por esterilização. A ação do calor altera
drasticamente as suas propriedades organoléticas ao ponto de deixarem de ser
atrativas enquanto alimentos. Por este fato, em alguns casos, essas hortaliças são
conservadas por acidificação. Os produtos são conhecidos como pickles em vina-
gre. O processo tem como objetivo diminuir o pH criando condições inapropriadas
ao desenvolvimento microbiano. A acidez dos produtos em conserva é importante
porque ajuda a prevenir o crescimento de microrganismos, como o Clostridium
botulinum, que muito embora os seus esporos não sejam destruídos durante o
processamento, permanecem em estado latente devido à ação do ácido.
lavagem água +
água
impurezas
6.5.2. Diagrama de processamento
água água dos pickles
desinfeção
clorada clorada
meio de
aquecimento
escaldão 6.5.3. Etapas de produção
meio de • Pré-lavagem
pasteurização
aquecimento Essa operação, tal como nos casos anteriores, visa a
eliminação de impurezas provenientes do campo que
meio de meio de
arrefecimento
arrefecimento
arrefecimento possam contaminar a matéria-prima, desqualificando o
produto final. Tem ainda a finalidade de aliviar o “calor
rótulos rotulagem de campo”, que os frutos trazem consigo desde a hora
da colheita até a entrada na indústria.
armazenamento
• Seleção
É necessário fazer uma seleção com o objetivo de remo-
Figura 6.22 ver hortaliças estragadas e heterogéneas melhorando a
Diagrama do
processamento qualidade do produto durante as operações de escaldão
de pickles
e enchimento.
• Lavagem
A lavagem deve ser realizada em água potável para remoção de terras e outras
impurezas provenientes do campo.
• Desinfeção
A desinfecção é realizada através da imersão das hortaliças em solução clorada,
com uma concentração de 100 mg/L de cloro livre, durante 10 minutos.
• Escaldão
O escaldão das hortaliças é realizado em água em ebulição durante 1 a 2 minu-
tos. Esta etapa tem vários objetivos entre os quais inativar enzimas, fixar a cor,
diminuir a carga microbiana e alterar a textura.
• Enchimento
Nesta etapa colocam-se as hortaliças provenientes do escaldão nos frascos de
vidro, de maneira que a altura destes seja 3 cm menor que a altura dos frascos
a fim de garantir que, após a adição da salmoura nos frascos, ainda restem 2 cm
entre a salmoura e a tampa (espaço de cabeça).
• Adição da Salmoura
Para 1 kg de hortaliças, serão necessários 0,5 L de água, 0,5 L de vinagre e 14
g de sal. Deve-se usar vinagre branco, de preferência com acidez entre 4 e 6%,
expressa em ácido acético. Para preparar a salmoura aquece-se a água e o sal.
Quando entrar em ebulição adiciona-se o vinagre até nova ebulição. Em segui-
da, coloca-se a salmoura nos frascos de vidro provenientes do enchimento.
• Capsulagem
Procede-se à colocação de tampas nos frascos com eles ainda quentes.
• Pasteurização
Se os pickles se destinam a ser consumidos nos 6 meses posteriores à data de
produção, não será necessário realizar esta etapa.
• Arrefecimento
Os frascos de vidro provenientes da pasteurização são colocados em água à
temperatura ambiente e depois em água gelada, a fim de evitar a sua quebra
devido a choques térmicos.
• Rotulagem
Nesta fase a embalagem é rotulada com a data de validade, informação nutricio-
nal, empresa produtora, instruções de conservação e o lote.
• Armazenamento
Os frascos devem ser armazenados pelo menos durante 15 dias para se dar a
acidificação do produto e consequentemente o desenvolvimento de aromas e
do sabor.
1 Apresentar o diagrama de produção e descrever as etapas essenciais envolvidas na produção de vegetais enlatados
2 Chamar a atenção para os aspetos do processamento que afetam a qualidade destes produtos
Enquadramento
O enlatado é um produto embalado e esterilizado. Para a elaboração de enla-
tados, são utilizados frutos e hortaliças de variedades específicas que garantem
melhores resultados das conservas em relação à cor, textura e aroma.
Discos de alumínio
3 4
1 2 corpo formado soldadura do corpo corpo soldado
cravação do fundo
3 4 5
5 6
formação do bordo do corpo
6 7
6.1 6.2
Figura 6.26
Etapas dos processos
de produção de latas
de duas e de três peças
Tabela 15
Comparação dos
materiais metálicos
1 2 3 4 5
7
8
meio de meio de
arrefecimento
arrefecimento arrefecimento 6.6.6 Descrição das etapas de fabrico
de enlatados de frutos
rótulos rotulagem
• Receção da matéria-prima
armazenamento Os frutos que servirão de base ao produto final devem
ser de boa qualidade e estar no ponto certo de matura-
• Pré-lavagem
Essa operação visa à eliminação de impurezas provenientes do campo (galhos,
grãos de areia, insetos, etc.) que possam contaminar a matéria-prima, desqua-
lificando o produto final, além de acarretar desgaste aos equipamentos. Essa
operação tem ainda a finalidade de aliviar o “calor de campo”, que os frutos
trazem consigo desde a hora da colheita até a entrada na indústria.
Recomenda-se que a pré-lavagem seja feita com água corrente ou com jatos
de água, de modo a facilitar a remoção das sujidades mais grosseiras. Deve-se
controlar a pressão da água, para não danificar os frutos.
• Seleção e classificação
É necessário fazer uma seleção com o objetivo de remover os frutos estragados
e heterogéneos melhorando a qualidade do produto durante as operações de
escaldão e enchimento.
• Lavagem
A lavagem deve ser realizada em água corrente para remoção de terras e outras
impurezas provenientes do campo.
• Pelagem
Esta operação deve ser realizada imediatamente após o descaroçamento, uma
vez que pode ocorrer a oxidação da polpa no local onde se retirou o caroço. De
maneira geral, todas as fábricas médias e grandes utilizam o chamado pelador
do tipo cascata. O princípio geral consiste num tapete rolante dentro de uma
câmara, onde as metades são conduzidas horizontalmente, viradas na posição
côncava. Tem-se uma secção onde uma solução de soda cáustica a alta tempe-
ratura é distribuída sobre as metades, através de calhas que formam diversas
cascatas encadeadas. O tempo de permanência das metades sob os jatos de
soda cáustica é de aproximadamente um minuto. Posteriormente, o produto
passa entre serpentinas de vapor que aceleram a reação da casca com a soda. É
usual realizar a retirada total da casca em lavador de cilindro rotativo horizontal
dotado de bicos aspersores de água ao longo do eixo. Altas concentrações de
soda, combinadas com tempos e temperaturas elevados, podem causar gran-
des perdas no descasque.
• Enchimento
Nesta etapa colocam-se os frutos pelados e cortados nas latas juntamente com
o xarope de concentração pretendida.
• Exaustão
No método tradicional, após o enchimento com o xarope, a lata é encaminha-
da a um túnel chamado, de exaustão, que tem por finalidade retirar o ar do
produto, formando na lata, quando fechada, um vácuo parcial. Neste método,
a lata é levada sobre uma esteira, ao interior de um túnel onde tubos de vapor
perfurados elevam a sua temperatura. O fecho hermético imediato da lata após
esta operação, proporciona, quando a lata voltar à temperatura ambiente, a for-
mação de uma pressão negativa (vácuo parcial) pela remoção de parte do ar.
O enchimento das embalagens com frutos e xarope pode ser acelerado por
equipamentos que doseiam automaticamente a quantidade de fruta e xarope
na lata, efetuando também vácuo mecânico para a remoção de bolsas de ar que
ficam entre o produto e a calda.
• Cravação
Após a operação de exaustão, as latas são fechadas em cravadeiras. A cravação é
uma operação milimetricamente ajustada, por isso, o equipamento deve ser de
boa qualidade e estar sob rigorosa manutenção de mecânicos treinados.
• Esterilização
Sendo a fruta em calda um produto ácido, com pH entre 3,10 e 4,0, a tempera-
tura próxima da fervura da água (banho-maria) é suficiente para conferir esteri-
lidade ao produto, quando processado num recipiente hermético. Para latas de
1 kg, o tempo de esterilização, de modo geral, é entre 18 e 25 minutos, quando
o cozedor é estático (do tipo descontínuo). Neste caso, as latas são dispostas em
cestos metálicos perfurados que são colocados em tanques com água aquecida
por vapor até próximo dos 100 ºC. Grandes empresas trabalham com esterili-
zadores rotativos contínuos, que provocam um movimento circular da lata ao
longo do eixo longitudinal, aumentando a transferência de calor. Nesse caso,
dependendo do tipo de equipamento, o tempo é reduzido e está estimado,
entre 12 e 20 minutos.
• Arrefecimento
As latas devem ser imediatamente arrefecidas após a esterilização. Uma das prin-
cipais razões é para que o produto não continue o cozimento perdendo assim
a firmeza. Entretanto, não se deve arrefecer o produto até um ponto abaixo da
temperatura ambiente, uma vez que a lata permanecerá coberta de humidade
por um longo período, podendo enferrujar. A temperatura final deve estar entre
38°C e 40°C.
• Rotulagem
Nesta fase a embalagem é rotulada com a data de validade, informação nutricio-
nal, empresa produtora, instruções de conservação e o lote.
• Armazenamento
As latas devem ser armazenadas pelo menos durante 15 dias para se dar o equilí-
brio dos açúcares entre o xarope e o produto e consequentemente o desenvolvi-
mento do aroma e sabor característicos.
água pré-lavagem
água +
impurezas
6.6.8 Diagrama de produção de enlatados
de hortaliças
seleção e classificação refugo
• Pré-lavagem
meio de esterilização
aquecimento Essa operação visa à eliminação de impurezas prove-
nientes do campo (galhos, grãos de areia, insetos, etc.)
meio de
arrefecimento
arrefecimento que possam contaminar a matéria-prima, desqualifican-
do o produto final, além de acarretar desgaste aos equi-
rótulos rotulagem
pamentos. Essa operação tem ainda a finalidade de ali-
viar o “calor de campo”, que os hotícolas trazem consigo
desde a hora da colheita até a entrada na indústria.
armazenamento
Recomenda-se que a pré-lavagem seja feita com água
corrente ou com jatos de água, de modo a facilitar a re-
Figura 6.34
moção das sujidades mais grosseiras. Deve-se controlar a
Diagrama do processamento pressão da água, para não danificar os hotícolas.
de enlatados de hortaliças
• Lavagem
A lavagem deve ser realizada em água corrente para remoção de terras e outras
impurezas provenientes do campo.
• Escaldão
O escaldão das hortaliças é realizado em água em ebulição durante 1 a 2 minutos.
Esta etapa tem vários objetivos entre os quais inativar enzimas, fixar a cor, dimi-
nuir a carga microbiana e alterar a textura.
• Enchimento
Nesta etapa colocam-se as hortaliças provenientes do escaldão nas latas junta-
mente com a salmoura a 3%.
• Exaustão
A exaustão é feita para expulsar o ar de dentro da embalagem e formar o vácuo,
e assim diminuir as reações químicas. O uso de salmoura quente já favorece a
remoção de ar.
O vácuo é formado de três formas: por processo térmico, por processo mecânico
ou por injeção de vapor.
Um dos processos mais comuns e mais baratos é a formação do vácuo no túnel
de exaustão (processo térmico). Esse processo consiste em passar as embalagens
repletas de hortaliças e do líquido de cobertura quente, e destapadas, sobre uma
esteira, por um túnel de vapor (Figura 6.35), à temperatura entre 85 °C e 95 °C,
por 2 a 4 minutos.
• Cravação
Após a operação de exaustão, as latas são fechadas em cravadeiras. A cravação é
uma operação milimetricamente ajustada, por isso, o equipamento deve ser de
boa qualidade e estar sob rigorosa manutenção de mecânicos treinados.
• Arrefecimento
As latas provenientes da esterilização são colocadas em água fria para parar o
cozimento evitando assim a perda de características organoléticas.
• Rotulagem
Nesta fase a embalagem é rotulada com a data de validade, informação nutricio-
nal, empresa produtora, instruções de conservação e o lote.
• Armazenamento
As latas devem ser armazenados pelo menos durante 15 dias para se dar o equi-
librio entre a salmoura e o produto e consequentemente o desenvolvimento do
aroma e sabor característicos.
1 Apresentar o diagrama de produção e descrever as etapas essenciais envolvidas no processamento pós-colheita do café
2 Chamar a atenção para os aspetos do processamento que afetam a qualidade deste produto
Enquadramento
Angola já foi um dos maiores produtores mundiais de café e é um dos países
com grande potencial para a produção deste produto altamente valorizado no
mercado mundial. Atendendo a esta situação é natural fazer referência às prin-
cipais etapas de processamento do produto que incluem aspetos anteriormente
abordados tais como, a secagem e a fermentação bem como outro ainda não
referido: a torra.
Figura 6.38
Aspeto da planta e
do fruto do cafeeiro
6.7.1 Origem
A planta do café é originária da Etiópia. As duas espécies cultivadas são Coffea
canephora (robusta) e Coffea arabica (arábica). Existem mais 5 espécies, mas a
sua cultura é menos popular (p. ex. C. liberica, C. excelsa). O café arábica é nor-
malmente mais valorizado que o café robusta. O café robusta é mais amargo e é
menos saboroso e aromático que o arábica. No entanto tem melhor corpo que
o café arábica. Cerca de ¾ do café cultivado no mundo é arábica. O café robusta
tem cerca de 50% mais cafeína sendo muito usado em misturas com arábica. As
diversas misturas procuram tirar partido das vantagens de cada um. A produção
mundial situou-se em 2007 em cerca de 7.700.000 toneladas sendo os três princi-
pais produtores, o Brasil (2.249.000), o Vietname (961.200) e a Colômbia (697.377).
Figura 6.39
Distribuição da cultura do café.
C. canephora predomina na Ásia
e na África Central enquanto a
cultura de C. arabica predomina na
Américalatina. Em Angola e no Brasil
cultivam-se as duas espécies
Figura 6.40
Estrutura do fruto
6.7.2 Processamento e dos grãos de café
O processamento via húmida, além de reduzir a massa de café a ser seca, diminui
o volume do café a ser beneficiado e reduz os riscos de fermentações indesejá-
veis. A preparação dos cafés despolpados, a partir de frutos maduros e com a
eliminação rápida da fonte de fermentação, resulta normalmente em cafés de
boa qualidade, independentemente da zona de produção.
A temperatura ideal de secagem será aquela em que o grau térmico não afete a
vitalidade das sementes. A temperatura não deverá exceder, de início, os 45 ºC
podendo subir até aos 60 ºC na fase final. Normalmente utilizam-se secadores
como o apresentado na figura 6.41. O café sofre um aquecimento inicial come-
çando a perder humidade rapidamente.
De acordo com estes autores (Saraiva et al, 2010), os cafés processados por via
húmida têm qualidade superior aos cafés processados por via seca. Referem
também que os cafés cerejas descascados (com a mucilagem) têm a mesma qua-
lidade que os cafés despolpados (sem a mucilagem). Os resultados experimen-
3
1
Figura 6.43
Aspetos do processamento
pós-colheita do fruto do café:
(1) lavagem;
tais mostram que os métodos de processamento por via húmida, quer (2) despolpamento;
sejam, cereja descascado e cereja despolpado, resultam em cafés de me- (3) secagem
1 Apresentar o diagrama de produção e descrever as etapas essenciais envolvidas no processamento pós-colheita do caju
2 Chamar a atenção para os aspetos do processamento que afetam a qualidade deste produto
India
Nigéria
Costa do Marfim
Brasil
Indonésia
Filipinas
Tanzania
Moçambique
Guiné Bissau
Amêndoa
castanha
Figura 6.45
produção mundial
de castanha de caju
em 2008 (Toneladas)
Figura 6.46
Diagrama do fruto do cajueiro
e aspetos da sua evolução
vegetativa
6.8.1 Introdução
O cajueiro é nativo do Brasil e foi introduzido pelos Portugueses na índia e em
Moçambique no século XVI. Admite-se que os elefantes tenham contribuído
muito para a sua disseminação em todo o continente Africano e na Índia. Estes
animais consumiam o fruto inteiro mas, devido à sua dureza, a castanha não era
digerida sendo eliminada com as fezes facilitando assim a sua germinação.
6.8.3 Produtos
Os principais produtos do cajueiro disponíveis no mercado são: a castanha inteira,
a amêndoa e o líquido da casca da castanha. O falso fruto é normalmente proces-
sado e consumido a nível local.
NOTA:
O líquido no interior da castanha representa cerca de 15% do seu peso bruto e, embora seja tóxico, tem algumas
aplicações medicinais. Devido à sua resistência ao calor é uma das resinas naturais com aplicação no fabrico de
tintas ou como ingrediente em óleo de travões.
Algumas das razões que justificam uma maior atenção sobre a possibilidade de se
aumentar o envolvimento de pequenos produtores na produção e transformação
do fruto do cajueiro relacionam-se com a possibilidade de esta ser uma produção
que, embora possa ser marginal em relação à sua atividade principal lhes poderá
trazer um incremento na sua receita pelas seguintes razões:
• a amêndoa de caju é um produto muito valorizado no mercado mundial
tendo o seu consumo vindo a aumentar em mais de 5% ao ano;
• existe um grande potencial para aproveitamento de subprodutos - man-
teiga de caju produzida com nozes quebradas, óleo da castanha ou apro-
veitamento do falso fruto para a produção de sumos, doces ou bebidas
alcoólicas;
• a produção de caju, embora necessite de muita mão-de-obra na altura da
colheita, é uma cultura que tem poucas despesas e, quando associada à
transformação (em pequena ou grande escala) tem algumas garantias no
retorno do investimento.
Figura 6.48 O falso fruto é muito rico em vitamina C (260 mg/100ml, isto é, 5 vezes mais que
Separação do falso
fruto da castanha
a laranja). O sumo é muito adstringente e só recentemente (sobretudo no Brasil)
começou a ser processado a nível industrial e comercializado com sucesso. Em
muitos países africanos o fruto é usado para a produção de bebidas alcoólicas
tradicionais. Contudo, atualmente, menos de 10% do falso fruto é explorado,
sendo a cultura direcionada sobretudo para a obtenção da amêndoa.
6.8.4 Colheita
A colheita normalmente envolve a recolha dos frutos maduros após a sua queda
da árvore. Depois da queda a recolha deve ser rápida para evitar a deterioração
do fruto. No caso de se pretender aproveitar o falso fruto para obtenção de su-
mos ou bebidas, convém que o mesmo seja colhido da árvore quando estiver
maduro evitando que se danifique ao cair. Caso se rompa, fermenta e deteriora-
-se muito rapidamente.
demolha em água
panela aberta
manual
torrefação cilindro descasque
mecânico
torrefação óleo aquecedor
extração do
líquido da nóz
secagem 1ª calibração
ao sol
forno industrial
descasque secagem
sacos de juta
entrada de luz
ventiladores
palete
Figura 6.51
Características ideais
de um armazém e aspeto
do ensacamento
O falso fruto poderá então ser usado na produção de sumos ou de doces, nas
mesmas condições de processamento referidas noutras secções deste manual.
Tradicionalmente é fermentado dando origem a vinho de caju ou, se for destila-
do, poderá ser obtida aguardente.
1200
1000
800
600
400
nozes/kg
160
200
200
240
Preço 0
Figura 6.52 48LBS 50LBS 52LBS 54LBS
Variação do valor da amêndoa em Kgs 21,77 22,68 23,58 24,49
função do tamanho e do rendimento rendimento (por saco de 80 kgs)
(VALOR RELATIVO APROXIMADO)
2 Rejeição total
Objetivos
5 Rejeição total 2 Chamar a atenção para os aspetos do processamento que afetam a qualidade destes produtos
Enquadramento
6 50% aceite
Nos dias de hoje, o mercado de oferta de cerveja é de fato muito extenso. Em-
bora exista uma vasta diversidade de marcas, estas não apresentam grande ino-
vação em relação ao produto.
7 100% aceite A cerveja é uma das bebidas mais consumidas a nível mundial, por diferentes
faixas etárias.
Introdução
8 100% aceite Num contexto africano, a cerveja de sorgo surgiu na década de 80 na Nigéria,
em consequência da proibição da importação de malte de cevada. Tal fato, for-
çou as cervejarias a procurarem matérias-primas locais substitutas da cevada.
Desde 2000 este conceito tem sido explorado por cervejarias de todo o conti-
1 - castanha vazia (causa: falta de água)
nente africano surgindo uma marca reconhecida internacionalmente, a Eagle-
2 - marcas brancas (causa: deficiente Lager, produzida pela empresa NileBreweries, Ltd situada no Uganda. A cerveja
secagem)
em questão, EagleLager, é de cor clara, ao contrário das cervejas tipicamente
3 - castanha de pequeno tamanho
(causa: falta de água) produzidas com sorgo.
4 - aspeto amarelo e oleoso
(causa: demasiado tempo no solo) A diversificação na produção de cerveja provocada pela procura de matérias-
5 - traços de pó amarelo
(causa: presença de insetos)
-primas locais, como o sorgo, levou à estimulação económica da comunidade
6 - castanha imatura (causa: colheita agrícola em áreas mais carenciadas, favorecendo os agricultores que cultivam
demasiado cedo)
sorgo. O sorgo, como matéria-prima nacional, possui maior resistência às condi-
7 - manchas ou pontos negros
(causa: presença de insetos) ções climáticas rigorosas de África, para além da redução de custos que repre-
8 - castanha de boa qualidade
senta face à importação de malte de cevada.
Figura 6.53
Aspeto visual de diferentes tipos
de defeitos da castanha de cajú 6.9.1 Diagrama do processamento da cerveja
armazenamento
germinação
ar seco secagem
moagem
brassagem
1ª filtração
maturação
2ª filtração
garrafas engarrafamento
cápsulas cravação
rótulos rotulagem
1. Receção
A matéria-prima é rececionada (milho, sorgo, cevada) em sacos de 30 kg ou 40
kg ou a granel, onde são retiradas amostras para saber a percentagem de humi-
dade e o estado de conservação. É necessário verificar se existe desenvolvimen-
to de fungos, que originam aflotoxinas e que são prejudiciais para o ser humano.
É a matéria-prima fundamental para a obtenção da cerveja.
2. Armazenamento
A matéria-prima depois de recebida e de se verificarem as condições da mesma
(aspeto, qualidade, quantidade), é armazenada em silos com controlo de humi-
dade.
3. Germinação
A matéria-prima é colocada em tanques rasos a descoberto, submetidos a re-
novação de ar constante, juntamente com molha feita por aspersão para per-
mitir a humidificação das sementes. Nesta etapa, desenvolve-se o rebento que
é ativado durante a molha. Sob estas condições, a semente sofreu alterações
bioquímicas, originando a libertação e ativação de várias enzimas (a- amilases e
β-amilases). A temperatura deve rondar os 15 °C e os 20 °C, podendo ser exposto
à luz solar (uma alternativa ao uso de estufas). É necessário ter especial cuidado
para não ocorrer contaminação por fungos. Caso aconteça, a matéria-prima con-
taminada deve ser rejeitada.
O processo de germinação destrói o endosperma do grão e liberta o amido. A ger-
minação termina assim que as radículas atinjam 1 cm de comprimento.
4. Secagem
A secagem dá origem a várias transformações que irão contribuir para a quali-
dade organolética e enzimática do malte. A elevação da temperatura, por um
lado, acelera as reações bioquímicas, mas por outro, diminui a humidade e con-
sequentemente diminui também a atividade enzimática. A escolha do método
de secagem e da temperatura, permite controlar eficazmente as reações bioquí-
micas, tais como a reação de Maillard, coloração, desnaturação de enzimas, etc.
5. Moagem
O malte é encaminhado para um moinho, onde é promovido o corte da casca de
modo a libertar o amido. Este corte permite diminuir o tamanho da partícula de
amido e aumentar a sua superfície específica, permitindo taxas de hidrólise do ami-
do mais elevadas e, consequentemente, maior teor de açúcares hidrolisados, assim
como promover uma maior libertação de enzimas durante a etapa de brassagem.
7. Primeira filtração
A mistura obtida passa por um sistema de filtros, que tem por função separar
os resíduos sólidos. A massa residual ainda contém pequenas quantidades de
açúcares, que serão hidrolisados posteriormente na etapa de fermentação. Por
isso, no final da filtração, é conveniente passar água a uma temperatura entre os
9. Ebulição
O mosto é encaminhado para um tanque onde é sujeito a uma temperatura de
100 °C durante 90 minutos. Aos 60 minutos de ebulição, é adicionado o lúpulo.
10. Arrefecimento
Nesta etapa, o mosto é arrefecido em tanques, em banho-maria, de modo a
simular um permutador de calor, até atingir uma temperatura entre os 20 °C e
os 25 °C.
11. Fermentação
Um dos parâmetros de classificação da cerveja é de acordo com o tipo de fer-
mentação, podendo esta ser de dois tipos:
a] Fermentação alta:
A temperatura inicial do mosto deve estar entre 14 e 20 ºC. Nas primeiras 36
horas de fermentação, a temperatura é lentamente elevada até aos 20-25 ºC.
Após 72 horas, diminui-se a temperatura até aos 17 ºC. Nas últimas 10 horas,
a atividade fermentativa é reduzida e as leveduras tendem a subir à superfície.
A designação de fermentação alta provém da utilização de temperaturas mais
elevadas, da utilização de leveduras de alto rendimento e elevada velocidade de
fermentação (Saccharomyces cerevisiae). Esta etapa tem uma duração de aproxi-
madamente 4 a 5 dias.
12. Maturação
A cerveja “verde” é transferida para um tanque de maturação durante 30 dias
a uma temperatura que varia entre os 0 °C e os 4 °C. Nesta etapa, as leveduras
ainda se encontram em suspensão na solução. A maturação não é mais do que
um repouso prolongado da cerveja a baixas temperaturas e funciona como uma
segunda fermentação. Esta etapa contribui para a clarificação e apuramento do
odor e sabor da cerveja, ocorrendo a precipitação das leveduras e de proteínas e
a diminuição da turvação.
Durante a maturação, é importante que seja feito o acompanhamento analítico
ao nível do pH, da temperatura, da acidez total, do grau Brix e do teor alcoólico.
Como complemento poderão ainda ser avaliados outros parâmetros tais como os
açúcares redutores, as proteínas, e viscosidade. Devem ainda ser efetuadas análi-
ses microbiológicas para controlar a proliferação de microrganismos indesejados
que possam colocar em causa a qualidade da cerveja.
15. Engarrafamento
A cerveja é embalada em garrafas de 25 ou de 33 cL. Nesta etapa é necessário
ter em atenção se alguma garrafa se encontra partida.
16. Capsulagem
Depois de cheias as garrafas sofrem a capsulagem, ficando as embalagens her-
meticamente fechadas evitando o contato com o ar e com microrganismos.
17. Pasteurização
A pasteurização permite a destruição de toda a flora microbiana existente, e que
possa prejudicar o produto e o consumidor. Esta etapa vai ser processada em
dois recipientes, um para o aquecimento e outro para o arrefecimento. No aque-
cimento e no arrefecimento é utilizada uma escala de temperatura de modo a
não danificar a embalagem primária (garrafa). No aquecimento a temperatura
inicial é de 20 °C, seguida de uma temperatura intermédia de 50 °C e terminando
aos 80 °C.
18. Arrefecimento
Para o arrefecimento as garrafas são colocadas no recipiente contíguo com água
que está a uma temperatura inicial de 30 °C, sendo depois arrefecida até à tem-
peratura ambiente.
19. Rotulagem
Nesta etapa as garrafas seguem em fila uma a uma e vão recebendo o rótulo que
contém todos os dados obrigatórios pela legislação e alguns complementares.
Enquadramento
Os frutos tropicais são atrativos para a produção de bebidas alcoólicas. A produ-
ção da aguardente de frutos tropicais em Angola é muito apreciada tornando-se
uma boa área a desenvolver.
Além disso, a produção de aguardente de frutos é um bom modo de aprovei-
tamento de frutos já em avançado estado de maturação, tornando um produto
facilmente perecível num produto com valor acrescentado.
Figura 6.55
Abertura da malha
do abacaxi
6.10.1.1 Matéria-prima
A manga
A mangueira é uma árvore frutífera da família das Anacardiaceas, cujo fruto é
a manga (género Mangifera indica L.), fruto do tipo drupa, de coloração varia-
da: amarelo, laranja e vermelho, sendo mais rosada do lado que sofre insolação
direta e mais amarela ou esverdeada no lado que recebe insolação indireta. As
mudanças na coloração da manga, devem-se à degradação da clorofila e síntese
de carotenóides (carotenos, licopeno e xantofilas), e flavonóides (antocianinas).
Normalmente, quando a fruta ainda não está madura, a sua cor é verde, mas
isso depende do cultivar. A polpa é suculenta e muito saborosa, em alguns casos
fibrosa, doce, possuindo uma única semente grande no centro.
A manga teve origem no sul e no sudeste asiáticos desde o leste da Índia até às
Filipinas, de onde se terá difundindo com sucesso para o Brasil, África (Angola
e Moçambique), entre outros países tropicais. Em algumas regiões destes con-
tinentes, a manga constitui o cultivo fundamental e uma importante fonte de
alimentação para as respetivas populações.
De acordo com os dados da FAO (2004), a produção mundial de manga no ano
2003 foi de, aproximadamente, 25.563.469 toneladas, sendo a Índia, o principal
produtor do fruto, responsável por quase metade da produção mundial.
As alterações que as mangas sofrem durante o armazenamento também são
importantes, pois são bastante úteis na definição das condições do seu armaze-
namento e processamento.
Algumas das mudanças ocorridas são as seguintes: os sólidos solúveis, o pH, os
açúcares totais, a sacarose, os carotenóides e a intensidade do sabor aumen-
tam; sólidos insolúveis, o teor de acidez e de amido diminuem; os sólidos totais
permanecem constantes; a respiração e a transpiração aumentam até um de-
terminado pico e depois diminuem; existe alteração da coloração da polpa de
amarelo claro para amarelo escuro ou laranja; finalmente existe diminuição dos
teores de vitamina C e a sua firmeza diminui.
As mangas jovens são adstringentes, ácidas e ricas em vitamina C, enquanto as
mangas maduras são doces, ricas em β-caroteno, moderadas em vitamina C e
altamente aromáticas.
Energia (Kcal) 65
Colesterol (mg) 0
Fósforo (mg) 11
Este fruto enquanto verde possui um sabor adstringente, devido ao fato de ser Vitamina C (mg) 27
constituído essencialmente por água e amido. À medida que vai amadurecendo, Vitamina A (U.I.) 3.894
o amido converte-se em açúcares simples, como a glicose e sacarose. Magnésio (mg) 9
Para além dos hidratos de carbono, a manga possui outros nutrientes representa- Tabela 18
tivos, como o potássio, a vitamina C e a vitamina A. Composição Nutricional
da manga “Kent” por 100g
de polpa
O abacaxi
O abacaxi é conhecido como o “Rei dos Frutos”, pela beleza que a sua coroa trans-
mite e por ser um dos frutos tropicais mais apreciados no mundo.
Pertencente à família das Bromeliáceas tem como nome científico Ananas como-
sus L. O abacaxi é uma infrutescência – cada frutilho é um fruto independente Água (g) 86,5
que se funde com os outros no processo de crescimento numa espiral sobre o Energia (Kcal) 49
eixo central (miolo). Um abacaxi possui em média 100 a 200 frutilhos que ama- Proteína (g) 0,39
durecem progressivamente da base ao topo (coroa), o que explica a diferença de
Lípidos (g) 0,43
sabor entre a base e o topo.
Hidratos de Carbono (g) 12,39
É um fruto que tem origem na América do sul, sendo cultivado em qualquer
Colesterol (mg) 0
região do mundo com clima tropical. Os principais países produtores de abacaxi,
segundo a FAO (2008) são o Brasil, a Tailândia, as Filipinas, a Costa Rica, a China, Potássio (mg) 113
a Índia e a Indonésia. Por sua vez, a industrialização é feita, principalmente, no Fósforo (mg) 7
Havai, Malásia, África do Sul, Austrália e Costa do Marfim. Vitamina C (mg) 15,4
A identificação dos diferentes estágios de maturação do abacaxi nem sempre é Vitamina A (U.I.) 23
fácil, pelo que existem indicadores que facilitam essa tarefa. Magnésio (mg) 14
armazenamento e maturação
água água +
1ª lavagem
impurezas
descascamento e cascas e
descaroçamento caroços
corte uniforme
2ª pesagem
trituração
fermentação alcoólica
expedição
Figura 6.56
Representação esquemática
das etapas de produção das
aguardentes de manga
e de abacaxi sem casca
armazenamento e maturação
corte uniforme
2ª pesagem (mangas)
trituração
fermentação alcoólica
expedição
Figura 6.57
Representação esquemática das etapas
de produção das aguardentes de manga
e de abacaxi com casca
Figura 6.60
Lavagem dos
6.10.4 Descrição das etapas do diagrama de produção
abacaxis
Maturação e armazenamento
As mangas e os abacaxis devem ficar a amadurecer durante três a quatro dias
à temperatura ambiente de forma a obter maior quantidade de açúcares e,
consequentemente, um maior teor alcoólico provável.
É de referir, também, que podem ser colocadas bananas juntamente com as
mangas e os abacaxis com o objetivo de acelerar o processo de maturação,
Figura 6.61 sendo que este fenómeno ocorre devido à libertação de etileno.
Descasque dos abacaxis
Descasque e descaroçamento
Uma determinada massa de abacaxis e mangas é descascada com o auxílio
de facas de aço inoxidável, sendo que no caso das mangas são retirados os
caroços.
Corte uniforme
O corte é realizado manualmente, empregando-se facas comuns de aço inoxi-
dável, tomando o cuidado de obter fatias bem uniformes. O tamanho do corte é
de, aproximadamente, 5 x 1,5 cm. Este corte permite facilitar o processo de tritu-
ração. Se a quantidade de matéria-prima a processar for grande recomenda-se
a utilização de uma máquina de trituração.
Em seguida, procede-se à segunda pesagem com o objetivo de avaliar o ren-
dimento do produto final. Nesta etapa é determinado o °Brix, tanto na manga
como no abacaxi, com o auxílio de refratómetro.
Trituração
Coloca-se a fruta cortada no interior de uma trituradora de forma a obter um Figura 6.65
preparado de fruta e, assim, facilitar o processo de fermentação. Após o pro- Etapa de extração de
sumo de abacaxi
cesso de trituração, com o auxílio de um pano de filtração, um funil e uma
proveta filtra-se a pasta de manga/abacaxi de modo a obter-se o sumo. Utiliza-
-se o sumo de manga/abacaxi para se proceder à medição da densidade inicial
através de um densímetro/mustímetro e da temperatura inicial utilizando um
termómetro. Além disso, retira-se uma amostra de 50 mL de sumo de abacaxi/
manga para se proceder, posteriormente, à análise da acidez total e do pH.
De seguida, coloca-se o preparado de abacaxi com casca num balão de 5 L de
capacidade e o preparado de abacaxi sem casca num outro balão de igual ca-
pacidade. O mesmo procedimento é aplicado ao preparado de manga. A
Chaptalização/correção do mosto
A chaptalização é um processo que consiste na adição de sacarose ao mosto de
forma a aumentar o °Brix e, consequentemente, obter um maior teor de volume
alcoólico. Como estes frutos tropicais possuem um baixo teor de açúcar e, por-
tanto, um baixo °Brix, torna-se essencial a adição de sacarose de modo a obter
um destilado com o teor de volume alcoólico desejado. Com o auxílio de uma
B
tabela, que faz a correspondência entre °Brix e o título alcoométrico (ver tabela
em anexo), procede-se à determinação da quantidade de sacarose a adicionar Figura 6.66
(a) medição da densidade;
ao mosto. (b) medição da temperatura
Figura 6.67
Chaptalização dos sumos
Fermentação alcoólica
A fermentação alcoólica é conduzida a uma temperatura próxima de 20° C tanto
no mosto de manga como no mosto de abacaxi, com e sem casca. A duração da
fermentação alcoólica para os mostos de abacaxi e de manga situa-se entre 7
e 10 dias, respetivamente. Durante o processo de fermentação alcoólica devem
ser realizadas duas medições diárias, nomeadamente, temperatura e densidade,
com o objetivo de controlar o processo fermentativo.
Durante a fermentação alcoólica, a densidade e o °Brix têm tendência a dimi-
nuir e quando os seus valores estabilizarem num intervalo de densidade entre
Figura 6.70
Determinação do ºBrix do
sumo de manga
Destilação
Os fermentados de manga e de abacaxi são destilados num alambique de cobre
do tipo Charentais, com o auxílio de uma placa de aquecimento à temperatura
de 100 °C. O objetivo da destilação consiste na extração de compostos voláteis e
etanol do fermentado de fruta, obtendo-se assim uma bebida destilada.
Todas as peças do alambique (caldeira, capitel, cole de cisne, condensador e ser-
pentina), devem ser devidamente higienizadas e lavadas com água potável antes
da sua utilização. O fermentado (massa fermentada) é colocado dentro da caldei-
ra, sendo que durante a destilação é controlada a percentagem de volume alco-
ólico através de um “pesa aguardente”. Assim que se atingir um valor de cerca
de 30% volume alcoólico significa que se pode terminar a recolha da fração do
coração do destilado.
No início da destilação deve-se proceder à recolha de uma primeira fração (10
ml), do destilado – a cabeça – que corresponde a cerca de 5% do volume total
do destilado, sendo que essa primeira fração terá um elevado teor de metanol e
compostos de flavour muito desagradável. Quando o destilado recolhido – fração
designada de coração – atingir 30% de volume alcoólico finaliza-se com a recolha
da fração final – cauda – que corresponde a outros cerca de 10% do volume total
do destilado, sendo que esta possui compostos de elevado peso molecular que
contribuem para a presença de aromas desagradáveis.
Engarrafamento
As aguardentes – apenas as frações do destilado conhecidas como o coração
- de manga e abacaxi (com e sem casca), são colocadas em garrafas de vidro
transparente, previamente lavadas, devidamente rolhadas e rotuladas.
6.10.5.4 Determinação do pH
A determinação do pH dos sumos de fruta, neste caso dos sumos de manga
e de abacaxi é outra análise a realizar. O objetivo desta medição consiste em
verificar se o pH é adequado ao desenvolvimento das leveduras e, este deve
situar-se idealmente entre os 3 a 4,5.
A determinação do pH dos sumos deve realizar-se antes da sua fermentação
alcoólica e é efetuada com o recurso a um potenciómetro que deverá ser pre-
viamente calibrado de acordo com as instruções constantes do seu manual de
instruções.
Em que:
»» Ατ - Acidez titulável (expressa em g/litro ácido cítrico);
Ατ= N×V×eq.grama » » N - Normalidade da solução de NaOH (0,1 N);
v » » V - Volume de NaOH gasto (em mL);
» » eq.grama - equivalente-grama do ácido no qual se pretende expressar o teor de acidez;
»» v - volume pipetado da amostra (em mL).
O presente capítulo visa chamar atenção para a importância do cumprimento de todos os requisitos higiénicos
1
e da sua relação com a segurança dos alimentos
2 Alerta também para os principais perigos relacionados com o consumo de alimentos bem como para as metodologias de controlo
Enquadramento
Independentemente de qualquer aspeto relacionado com a qualidade de um ali-
mento, antes de tudo, ele terá de ser seguro. Isto é, não poderá ser a fonte de
qualquer doença. Os principais perigos existentes nos alimentos podem ter várias
fontes e, é de fundamental importância conhecê-las para as poder prevenir.
Perigos biológicos
Bactérias - as bactérias patogénicas são as responsáveis pelo maior número de
casos de intoxicação alimentar;
Fungos - incluem bolores e leveduras;
Vírus - entre os vírus associados à transmissão por alimentos destacam-se os vírus
(tipo) Norwalk, vírus da Hepatite A e os Rotavírus;
Parasitas - podem variar desde organismos unicelulares, como os protozoários,
até animais pluricelulares, como os vermes.
Perigos químicos
Existe uma enorme gama de substâncias indesejáveis que podem, por diferentes
razões, ser introduzidas na cadeia alimentar e constituir perigo para a saúde dos
consumidores.
Os perigos químicos estão, salvo raras exceções, relacionados com contamina-
ções graves e, de certo modo contrariamente aos perigos biológicos, são res-
ponsáveis por problemas de saúde que não se manifestam de forma aguda.
Exemplos:
»» Aditivos alimentares;
»» Pesticidas químicos;
»» Medicamentos veterinários;
»» Metais pesados;
»» Toxinas naturais;
»» Alergenos;
»» Químicos criados pelo processo de confeção;
»» Químicos introduzidos nos alimentos.
164 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR
Manifesta-se algumas horas após a ingestão dos alimentos contaminados e
pode durar de um a sete dias. Os sintomas mais frequentes são dor abdominal,
diarreia, vómitos e nalguns casos febre e dor de cabeça.
b] Bactérias Patogénicas
Como exemplos, temos:
»» Bacillus cereus;
»» Campylobacter jejuni;
»» Clostridium perfringens;
»» Escherichia coli;
»» Listeria monocytogenes;
»» Salmonella spp;
»» Shigella spp;
»» Yersinia enterocolitica.
7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 165
Quando presentes no alimento ingerido, podem multiplicar-se ativamente no
trato intestinal do consumidor, provocando uma reação do tipo infecioso.
166 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR
Tabela 20
Principais perigos
microbiológicos, com
efeitos na saúde humana e
alimentos associados
(Baptista e Antunes, 2005; Lacasse, 1995 e ASAE, 2010)
Campylobacter spp
É uma bactéria Gram-negativa, microaerófila, Carne mal cozida, principalmente de
Campilobacteriose Febre, diarreia e cólicas
temperatura ótima de crescimento 42 e 43 ºC aves, leite cru e água não tratada
e o pH entre 4,9 e 9
Salmonella spp
É uma bactéria Gram-negativa,
Carnes, frangos, ovos, leite e produtos
anaeróbia facultativa, temperatura Salmoneloses Náuseas, diarreia, vómitos e febre
lácteos
ótima de crescimento entre 35 e 37 ºC
e o pH entre 4,5 e 9,3
Staphylococcus aureus
É uma bactéria Gram-positiva, anaeróbia Náuseas, vómitos, dores abdominais e Carne, frango, saladas, maionese,
Intoxicação estafilocócica
facultativa, temperatura ótima de crescimento diarreia presunto, ovos e natas
entre 35 e 37 ºC e o pH entre 4,5 e 9,3
Clostridium perfringens
É uma bactéria Gram-positiva, formadora Carnes e produtos derivados de carne,
Doença autolimitante Diarreia, vómitos e dores abdominais
de esporos, anaeróbia, temperatura ótima de leite
crescimento entre 43 e 47 ºC e o pH entre 5,5 e 9
Bacillus cereus
É uma bactéria Gram-positiva, formadora de
Gastroenterite diarreica
esporos, anaeróbia facultativa, temperatura Diarreia, vómitos, náuseas Amido, cereais, batata, arroz e massa
Gastroenterite emética
ótima de crescimento entre 30 e 40 ºC e o pH
entre 5 e 9,3
7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 167
7.2 Sistema HACCP
Objetivos
O presente módulo visa fornecer informação básica para um efetivo controlo das condições de segurança durante
1
o processamento de produtos alimentares
Baseia-se na aplicação do sistema HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points) que, em português, poderá ser designado por análise
2
de perigos e risco e controlo de pontos críticos
Enquadramento
O sistema HACCP baseia-se numa abordagem sistemática dos processos de ela-
boração de alimentos com o objetivo de focar a atenção nos aspetos que são
críticos para garantir a segurança dos produtos. É uma ferramenta de controlo
aplicada durante o processamento do produto e, resulta sobretudo da análise
dos potenciais perigos presentes, da avaliação dos pontos do processo onde eles
podem ser eliminados ou reduzidos (pontos críticos) e, do efetivo controlo sobre
esses pontos (monitorização).
168 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR
»» Otimização dos recursos e melhoria da eficiência do auto-controlo;
»» Documentação melhorada;
»» Planeamento eficiente e diminuição da verificação após produção;
»» Controlo eficiente e ativo dos perigos para a segurança alimentar;
»» Eliminação ou redução dos riscos para os consumidores;
»» Redução de custos operacionais;
»» É um passaporte para a exportação.
7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 169
Os pré-requisitos são também uma ferramenta indispensável, pois controlam as
condições operacionais, dentro de uma empresa alimentar favorecendo o es-
tabelecimento de condições ambientais adequadas à produção de alimentos
seguros e estão diretamente relacionados com todos os meios envolventes ao
processamento dos produtos alimentares.
• Pré-requisitos das instalações - estabelecimentos localizados, construí-
dos e mantidos de acordo com o princípio do desenho higiénico sendo o
fluxo do produto contínuo e os circuitos lineares, de forma a evitar conta-
minações cruzadas e devem prevenir a acumulação de sujidade.
• Pré-requisitos dos equipamentos - todo o equipamento deve ser cons-
truído e instalado de acordo com os princípios de higiene, devem estar
estabelecidos e documentados programas de manutenção preventiva e
de calibração. Óleos e lubrificantes devem ser adequados ao fim a que se
destinam.
• Pré-requisitos do transporte - devem ser controlados a temperatura,
humidade e outros parâmetros necessários; as caixas dos veículos de
transporte de géneros alimentícios devem ser mantidas limpas e em boas
condições devendo ser concebidas para permitir uma fácil limpeza e de-
sinfeção.
• Pré-requisitos da água - utilizar apenas água potável no manuseamento
e processamento de alimentos.
• Pré-requisitos dos resíduos - os resíduos alimentares não deverão der
colocados no local das matérias-primas sendo manipulados em conten-
tores apropriados para o efeito acionados por pedal e estarem sempre
fechados, bem como sujeitos a limpezas e desinfeções periódicas.
• Pré-requisitos do pessoal - as boas práticas de higiene têm de estar per-
feitamente definidas em normas e os procedimentos de higiene escritos e
relacionados com todas as áreas:
»» Higiene pessoal;
»» Higiene das instalações;
»» Equipamentos e utensílios;
»» Controlo de pragas.
170 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR
A formação é um ponto muito importante e deve ser dada a todos os colabora-
dores e gestores da empresa ou organização.
• Pré-requisitos das matérias-primas - as matérias-primas só devem ser
adquiridas após seleção dos fornecedores através da análise das fichas téc-
nicas dos produtos, boletim analítico e após as auditorias realizadas.
Os membros da equipa devem ser selecionados tendo por base critérios como:
»» As suas responsabilidades;
»» O seu conhecimento e experiência na empresa;
»» O seu conhecimento e a sua experiência no âmbito do estudo HACCP.
7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 171
Formar uma equipa de HACCP
Descrever o produto
Estabelecer procedimentos de
verificação (princípio 6)
Estabelecer um sistema de
documentação e registos Figura 7.1
(princípio 7) Esquema de desenvolvimento
de um sistema HACCP
172 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR
2. Descrever o produto
A equipa deve estabelecer uma descrição sobre o produto:
»» Composição (p. ex. matérias-primas, ingredientes, aditivos, etc.);
»» Estrutura e características físico-químicas
(p. ex. sólido, liquido, gel, etc.);
»» Tratamentos utilizados; (p. ex. cozedura, congelação, etc.);
»» Acondicionamento e embalagem (p. ex. hermético, sob vácuo, em at-
mosfera modificada, etc.);
»» Condições de armazenamento e distribuição;
»» Durabilidade requerida durante a qual o produto conserva as suas qua-
lidades (validade);
»» Instruções dadas para a utilização do produto.
7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 173
5. Conferir no local o diagrama de fluxo
Todos os membros da equipa HACCP deverão estar envolvidos na confirmação
do fluxograma, chamando a atenção uns aos outros para as fugas ao fluxograma
inicial.
Qualquer desvio constatado deverá ser corrigido, de modo a que o fluxograma
fique o mais conforme com a realidade.
Esta confirmação deve ser assinalada na folha de trabalho do fluxograma que
deve estar devidamente assinado e datado pelo coordenador da equipa HACCP.
Os fatores que apresentam menores riscos e/ou que tenham menor probabilida-
de de ocorrência não devem ser incluídos.
»» SEVERIDADE
ALTA (3): Efeitos graves para a saúde do consumidor;
MÉDIA (2): Patogenicidade menor, bem como o grau de contaminação;
BAIXA (1): Efeitos nulos ou muito reduzidos para a saúde do consumidor.
174 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR
»» MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE RISCOS
Alto Risco (3) Baixa Severidade (1) R X S Alto Risco (3) Média Severidade (2) R X S Alto Risco (3) Alta Severidade (3) R X S
ALTO RISCO (3)
= 3 (Significância Média) = 6 (Significância Alta) = 9 (Significância Alta)
Médio Risco (2) Baixa Severidade (1) R X S Médio Risco (2) Média Severidade (2) R X S Médio Risco (2) Alta Severidade (3) R X S
MÉDIO RISCO (2)
= 2 (Significância Baixa) = 4 (Significância Média) = 6 (Significância Alta)
Baixo Risco (1) Baixa Severidade (1) R X S Baixo Risco (1) Média Severidade (2) R X S Baixo Risco (1) Alta Severidade (3) R X S
BAIXO RISCO (1)
= 1 (Significância Baixa) = 2 (Significância Baixa) = 3 (Significância Média)
Figura 7.2
Matriz de avaliação
7. Determinar os pontos críticos de controlo (PCC) dos riscos
De forma a efetuar a determinação dos pontos do processo onde devem ser apli-
cados controlos para prevenir, eliminar ou reduzir os perigos para níveis aceitáveis
– Pontos Críticos de Controlo – é utilizada uma “árvore de decisão” (Figura 7.3).
A informação desenvolvida pela equipa HACCP, durante a análise de perigos, de-
verá permitir a identificação dos PCC no processo.
Apenas os perigos considerados significativos são levados à “árvore de decisão”
para a identificação dos pontos de críticos de controlo.
7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 175
Os limites críticos devem ser suportados em evidências, e os que forem base-
ados em dados subjetivos, devem ser suportados por especificações claras do
que é considerado aceitável ou inaceitável.
não sim
não
não
não
sim
176 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR
9. Estabelecer um sistema de monitorização para cada PCC
A monitorização é a medição ou observação programada de um PCC em fun-
ção dos seus limites críticos.
Definir:
»» O quê, Quem, Como e Quando monitorizar;
»» Obter a informação a tempo é importante para restabelecer o contro-
lo antes de ser necessário segregar.
7. NOÇÕES BÁSICAS DE HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 177
Existem sete possíveis passos que se podem fazer numa situação de perda de
controlo:
»» Parar o processo;
»» Colocar o produto suspeito sob observação;
»» Providenciar um arranjo provisório e continuar a produção;
»» Identificar e corrigir a causa do problema;
»» Dar destino ao produto suspeito;
»» Registar os acontecimentos e ações tomadas;
»» Rever e/ou melhorar o plano HACCP.
178 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais
»» O plano HACCP, incluindo a descrição dos limites críticos para cada PCC
e respetiva monitorização;
»» Os registos associados à monitorização dos PCC’s;
»» Os desvios e as ações corretivas/preventivas associadas;
»» Fichas técnicas de produtos;
»» Fichas técnicas de matérias-primas;
»» Plano de calibração;
»» Registos de calibração;
»» Plano/registos de higienização;
»» Plano de controlo de pragas;
»» Plano de formação;
»» Registos de formação;
»» Plano de manutenção;
»» Registos de manutenção;
»» Plano de auditorias internas;
»» Relatórios de auditorias Internas (HACCP);
»» Atas de reuniões da equipa;
»» Tabela de controlo de registos;
»» Tabela de controlo de documentos;
»» Plano/ficha de análises microbiológicas;
1. Bases da conservação dos Produtos Vegetais Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal 179
180 Manual de Conservação e Transformação de produtos de Origem Vegetal
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