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FORMAÇÃO

DIDÁTICA

Juliana Branco
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Editor-chefe: Allan Macedo de Novaes


Supervisora Administrativa: Rhayane Storch
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FORMAÇÃO
Juliana Cordeiro Soares Branco
Doutora em Educação pela UFMG DIDÁTICA

1ª Edição, 2023

Editora Universitária Adventista


Engenheiro Coelho, SP
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Formação Didática

1ª edição – 2023
e-book (pdf)

Coordenação editorial: Nadia Menin


Revisão: Gabriel A. Costa
Preparação: Fernanda Lourenço
Projeto gráfico: Ana Paula Pirani
Diagramação: Felipe Rocha

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Marques, Pâmela Caroline Costa


Ferramentas de produtividade e gestão do tempo [livro eletrônico] / Pâmela Caroline Costa
Marques. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2022.

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Bibliografia.
ISBN 978-65-5405-041-8

1. Administração 2. Gestão de negócios


3. Produtividade 4. Tempo - Administração I. Título.

22-134421 CDD-650.1

Índices para catálogo sistemático:


1. Tempo : Produtividade : Administração 650.1
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

Editora associada:

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Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da
editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
SUMÁRIO
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CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA:
A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO.................................................................... 8
Introdução...................................................................................................................................... 9

Introdução à discussão sobre didática........................................................................................... 9

Um pouco de história................................................................................................................... 10

Didática e trabalho pedagógico no século XXI............................................................................. 12

Competências docentes para ensinar........................................................................................... 13

Objetivos educacionais................................................................................................................. 15

Formação docente........................................................................................................................ 17

Aprendizagem por problemas e pedagogia de projetos............................................................. 19


Projetos de trabalho na educação infantil........................................................................... 20
Projetos de trabalho nas séries iniciais do ensino fundamental......................................... 21

Resumo......................................................................................................................................... 22

Referências.................................................................................................................................... 23

ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL


DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO............ 24
Introdução..................................................................................................................................... 25

Uma visão geral sobre o processo educativo............................................................................... 25

Relação estudante, saber e contexto............................................................................................ 26

Sobre as tendências pedagógicas................................................................................................ 30

Resumo......................................................................................................................................... 36

Referências.................................................................................................................................... 37
EXPLORANDO RECURSOS DIDÁTICOS:
A TECNOLOGIA EDUCACIONAL................................................................. 39
Introdução..................................................................................................................................... 40

As competências do processo educativo...................................................................................... 40


Organizar e dirigir situações de aprendizagem................................................................... 40
Administrar a progressão das aprendizagens..................................................................... 40
Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.................................................. 41
Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho.......................................... 41
Trabalhar em equipe............................................................................................................ 41
Participar da administração da escola................................................................................. 42
Informar e envolver os pais.................................................................................................. 42
Utilizar novas tecnologias.................................................................................................... 42
Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão........................................................ 42
Administrar sua própria formação contínua....................................................................... 43

Estratégias metodológicas............................................................................................................ 44
Critérios básicos para a escolha dos métodos de ensino.................................................... 46

O uso do livro didático.................................................................................................................. 47


Programa Nacional do Livro Didático.................................................................................. 48

Tecnologias educacionais............................................................................................................. 51

Resumo......................................................................................................................................... 52

Referências.................................................................................................................................... 54

RECURSOS PARA O TRABALHO INDIVIDUAL E EM


GRUPO NA SALA DE AULA E A GESTÃO NA SALA DE AULA...................... 55
Introdução..................................................................................................................................... 56

Gestão da sala de aula: autoridade e autoritarismo.................................................................... 56

Gestão da sala de aula.................................................................................................................. 60

Gestão da sala de aula e vigilância............................................................................................... 64

Resumo......................................................................................................................................... 65

Referências.................................................................................................................................... 66
EMENTA
Princípios teórico e práticos do planejamento
pedagógico, da avaliação educacional e diferentes
estratégias de ensino, relacionando as diferentes
formas culturais de ensino. A relação pedagógica:
professor, aluno, conhecimento e os diferentes
aspectos do ensinar e aprender.
UNIDADE 1

CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

- Discutir o conceito de didática; contextualizar o ensino da didática por meio da


OBJETIVOS

contextualização histórica; discutir como a didática se estabelece como eixo norteador do


trabalho do professor; entender sobre competências docentes para ensinar;
- Reconhecer metas e objetivos de ensino; discutir sobre os objetivos educacionais,
seu papel social, entender sobre didática e formação de professores.
FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

INTRODUÇÃO
Olá! Neste capítulo, apresentaremos o conceito de didática de forma contextualizada e histórica. Você
já pensou na importância da didática no processo educativo? Já ouviu falar sobre o que é didática? Muitas
vezes, ouvimos: aquele professor sabe muito, mas não tem didática. Você sabe o que isso significa? Pare um
pouco e reflita sobre o que o professor precisa dominar antes de ir para a sala de aula.

Estamos no século XXI e, nesse cenário, iremos pensar em uma formação docente diferente daquela do
século passado. Quando queremos nos tornar professores ou profissionais da educação, precisamos pensar
que dominar os saberes e transmiti-los não é suficiente. Temos que ter consciência que nem sempre o aluno
quer aprender, mas como vamos lidar com isso? Assim, é necessário pensar em uma forma de atuação que
abarque as diversidades que um professor enfrenta em seu cotidiano.

Ao longo desse processo, apresentaremos também algumas questões relacionadas aos objetivos edu-
cacionais e à formação de professores. Buscaremos compreender o papel da didática na formação do educa-
dor, pois cabe ao professor o papel de orientador, facilitador e criador de desafios para estimular a investiga-
ção do aluno, tornando-o sua aprendizagem. Desejamos a você boas descobertas!

INTRODUÇÃO À DISCUSSÃO SOBRE DIDÁTICA


Pense no cenário atual, nas grandes transformações cotidianas, no desenvolvimento tecnológico que
vivenciamos. A partir desse contexto, o que você considera ser um bom professor? É aquele que conhece o
assunto? Qual o valor que a didática tem para a docência?

Então, vamos pensar em didática. Essa é uma área da pedagogia que alia teoria e prática. Durante o
estudo da disciplina, discutiremos sobre metodologias de ensino de forma problematizadora. Isso quer dizer
que, ao refletirmos sobre a prática docente, precisamos questionar sobre o contexto desta prática, para quem
ela é pensada, quais os recursos disponíveis que temos e quais podemos buscar, entre outros aspectos. O
essencial é fazer da docência uma ação transformadora, que questiona a realidade e trabalha a partir dela.
Assim, a didática materializará o processo de ensino-aprendizagem de forma consciente. Desse modo, para
pensarmos no conceito, precisamos discutir sobre docente e discente. Além disso, precisamos refletir sobre
como o discente tem papel significativo nesse processo.

Um grande estudioso acerca da didática em nosso país é o professor José Carlos Libâneo. Segundo
esse autor:

[...] a Didática é o principal ramo de estudo da Pedagogia [...]. A Didática, para desempenhar papel significa-
tivo na formação do educador, não poderá reduzir-se somente ao ensino de técnicas pelas quais se deseja
desenvolver um processo de ensino-aprendizagem (LIBÂNEO, 2007, p. 25).

Libâneo (2007) traz à tona a questão da didática como processo formativo transformador. Veja que na
citação acima está explícito que a área estudada aqui não pode ser reduzida ao ensino de técnicas É preciso
problematizar, conhecer o contexto, os educandos que estão em processo de formação e a partir disso pensar
e repensar a prática docente em nível micro e macro.

Assim, o processo didático exige que o docente reflita sobre sua prática, seja um professor reflexivo,
sendo este outro conceito que será abordado na disciplina Formação Docente. Vamos conhecer um pouco
sobre a história da didática? Siga em frente e confira!

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

UM POUCO DE HISTÓRIA
Você sabia que existe um pensador considerado o pai da didática? Seu objetivo era “ensinar tudo a
todos” e alcançar uma “educação ideal”. Seu nome é Jan Amos Komensky (1592-1670). Conhecido também
como Comenius, Jan Amos foi educador e pedagogo do século XVII.

A disciplina didática surge, então, no século XVII, já como um campo de conhecimento. Ao abordarmos
o tema educação, devemos ficar atentos à discussão sobre didática. Esse campo se constitui como um marco
revolucionário. Junto a Comenius, há também o educador Ratíquio, o qual se propõe a agrupar os conheci-
mentos pedagógicos.

Outros pensadores que se destacam nesse campo são descritos a seguir; acompanhe!

• Rousseau (1712-1778) – deu origem a um novo conceito de infância;

• Pestalozzi (1746-1827) – discutiu dimensões sociais junto a questões educacionais. Para ele, a
didática deve sempre ser pensada para o desenvolvimento do aluno;

• Herbart (1776-1841) – explorou o pensamento acerca da “Educação pela Instrução”. Os princípios


de suas ideias foram criticados pelos que defendiam o modelo da Escola Nova para a prática
pedagógica.

Ao longo desse estudo, serão apresentadas e discutidas tendências de ensino. Você terá a oportunida-
de de conhecer e refletir sobre tendências tradicionais e inovadoras. Fique atento!

SAIBA MAIS

• Comenius é autor do tratado da arte universal de ensinar tudo a todos:


didática magna. Na sequência, vamos apresentar algumas características
desse autor; confira!
• Ele era um pensador e educador pacifista;
• Pregava, em pleno século XVII, o desarmamento mundial e o diálogo
inter-religioso;
• Precursor de diretrizes universais;
• Declarava o direito universal da educação igualitária para todas as pessoas,
de todos os povos e de qualquer condição;
• Tinha o projeto de ensino para todos: ensinar tudo a todos era a sua meta;
• Sua vida foi atribulada de perseguições e fugas, sofrimentos e trabalho árduo;
• Morreu no exílio, na Holanda, depois de perder pátria, família e bens
(TAVARES, 2011, p. 18).

Você sabe o que é a “Escola Nova”? Foi um movimento que surgiu na década de 1920. Alguns intelec-
tuais inspirados por ideais políticos e filosóficos, e que tinham princípios de igualdade e direito à educação

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

para todos, vendo em um sistema estatal de ensino público, livre e aberto o único meio efetivo de combate
às desigualdades sociais da nação. É nesse contexto que o movimento ganha força. Na sequência, apresenta-
remos alguns acontecimentos que antecederam o movimento Escola Nova.

• É nessa época que ocorre a disseminação de descobertas acerca da natureza da criança pela
psicologia do final do século XIX, sendo este outro marco para repensarmos o processo didático;

• Assim, inicia-se o debate acerca da relação professor e aluno, que causa discussões.

É possível perceber que a didática é uma temática que interage constantemente com outras áreas do
conhecimento. Ao discutirmos sobre o movimento da Escola Nova, é essencial trazer para o debate o filósofo
e pedagogo John Dewey (1859-1952). Para ele, a educação é essencial para a sociedade e, nesse sentido, os
cidadãos devem sempre buscar meios de se aperfeiçoarem e aumentarem seus saberes e experiências. Suas
ideias foram além das fronteiras de seu país e fomentaram discussões sobre a educação em vários pontos do
planeta. Seu pensamento traz a reflexão sobre como o processo educativo pode acontecer de dentro para
fora e não o contrário. Isso demonstra uma concepção de valorização da atividade interna do educando que
interage com o meio.

No Brasil, no século passado, mais precisamente em 1932, foi publicado o Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova. O país era governado por Getúlio Vargas, na época em um governo provisório que afirmou
a necessidade de um repensar pedagógico. Alguns intelectuais nacionais, envoltos pelos ideais de Dewey
reuniram-se, portanto, e promulgaram o Manifesto citado.

Nesse contexto, também citamos Anísio Teixeira, que foi para os EUA pesquisar a educação escolar
americana. Ele se tornou discípulo e amigo de Dewey. Após isso, assumiu, em 1935, a secretaria da Educação e
Cultura do Distrito Federal e lançou o sistema de educação global que ia do primário à Universidade. Sua filo-
sofia educacional partia de dois eixos principais em que define que a escola deveria ter duas preocupações. A
primeira delas seria preparar técnicos, sujeitos que possam participar ativamente de uma sociedade baseada
na ciência e na tecnologia. A segunda preocupa-se com a formação desse sujeito de forma mais crítica, pre-
parando-o para o exercício da cidadania em um sistema democrático.

Um dos grandes personagens desse movimento foi Fernando de Azevedo. Grandes humanistas e figu-
ras respeitáveis de nossa história pedagógica podem ser citados também, como, por exemplo, Lourenço Filho
(1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971).

A Escola Nova foi um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na Europa, na
América e no Brasil, na primeira metade do século XX. O escolanovismo desenvolveu-se no Brasil sob im-
portantes impactos de transformações econômicas, políticas e sociais. O rápido processo de urbanização e
a ampliação da cultura cafeeira trouxeram o progresso industrial e econômico para o país, porém, com eles
surgiram graves desordens nos aspectos políticos e sociais, ocasionando uma mudança significativa no pon-
to de vista intelectual brasileiro.

Na essência da ampliação do pensamento liberal no Brasil, propagou-se o ideário escolanovista. O es-


colanovismo acredita que a educação é o exclusivo elemento verdadeiramente eficaz para a construção de
uma sociedade democrática, que leva em consideração as diversidades, respeitando a individualidade do
sujeito, apto a refletir sobre a sociedade e capaz de inserir-se nessa sociedade. Então, de acordo com alguns
educadores, a educação escolarizada deveria ser sustentada no indivíduo integrado à democracia, o cidadão
atuante e democrático.

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

Para John Dewey, a escola não pode ser uma preparação para a vida,
mas sim, a própria vida. Assim, a educação tem como eixo norteador a vi-
da-experiência e a aprendizagem, fazendo com que a função da escola seja
a de propiciar uma reconstrução permanente da experiência e da apren-
dizagem dentro de sua vida. Então, para ele, a educação teria uma função
democratizadora de igualar as oportunidades. De acordo com o ideário da
escola nova, quando falamos de direitos iguais perante a lei, devemos estar
aludindo a direitos de oportunidades iguais perante a lei.

Diante dessas constatações, a educação passa a ser rediscutida e


repensada. No Brasil, nessa época e principalmente na década de 1930,
predomina o conservadorismo. O professor e o conteúdo são o centro do
processo educativo; a aprendizagem diz respeito somente ao aluno, que se
utiliza do método de memorização. O processo de ensino tem o objetivo
único de dar notas. Desse modo, a tendência educacional nesse momento
assume uma abordagem tradicional.

Na década de 1970, o país vivencia um modelo educacional em que


o tecnicismo se sobrepõe. Há a tendência de que a prática seja controlada
e dirigida pelo professor que se utiliza de atividades mecânicas. Nesse mo-
mento, o professor perde espaço para a tecnologia, pois o importante é que
ele seja especialista em aplicação de manuais técnicos, sem valorização do
caráter pedagógico e criativo da profissão. A proposta educativa é rígida e
está posta. O papel do professor é elaborar planos de ensino e muitas vezes
receber planos de ensino e instrumentos de avaliação elaborados externa-
mente.

Agora, vamos pensar sobre a atualidade, no século XXI: qual a situa-


ção da didática hoje? A didática é um receituário? Não há necessidade de
explicar as relações entre os eventos estudados? Ela, como teoria, serve so-
mente para explicar a prática? Vamos pensar nisso na próxima seção.

DIDÁTICA E TRABALHO PEDAGÓGICO


NO SÉCULO XXI
Você sabia que a didática é o exercício de explicar as relações advin-
das da teoria e prática docente? Veja que isso não é uma tarefa simples, pois
essa é uma área que precisa conviver com essa dupla feição: teoria e empi-
ria. Nos tempos atuais, a educação está mais preocupada com a qualidade
cognitiva das aprendizagens, com o desenvolvimento do aluno reflexivo. COGNOSCITIVO
Que possui a faculdade de conhecer, hábil
Para isso, o professor deixa de ser o centro do processo, assim como o
no aprendizado, capacitado para apren-
lugar de detentor e transmissor do conhecimento, passando a ser o media-
dor da aprendizagem, aquele que estimula os alunos à reflexão.
der (DICIONARIO INFORMAL, [s.d.]).

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CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

SAIBA MAIS

Assista ao vídeo “Aprender a aprender”, disponível em: http://www.


youtube.com/watch?v=Pz4vQM_EmzI. Acesso em: 10 mar. 2023. Em
seguida, descreva como ocorreu o estímulo à aprendizagem.

Em relação à finalidade do processo de ensino, podemos dizer que ela está ligada à necessidade de
proporcionar recursos para que os alunos construam ativamente os conhecimentos. Desse modo, o trabalho
docente faz uma mediação entre a habilidade de conhecer o aluno e os conteúdos de ensino. Veja que Libâ-
neo (2007) afirma que o processo de ensino possui dois aspectos.

O primeiro é o aspecto externo, que são os conteúdos de ensino; já o segundo é o aspecto interno, ou seja,
as condições mentais e físicas dos alunos para a construção dos conteúdos. Esses aspectos se inter-relacionam.
Perceba que ensinar não é simplesmente transmitir informações, mas também uma forma de organizar a atividade
de estudo dos alunos. Além disso, os objetivos de discentes e docentes precisam estar em sintonia.

De acordo com a perspectiva citada, o aluno, em sala de aula, constrói o conhecimento por meio de
conteúdos científicos e pela aplicabilidade de métodos de ensino. Portanto, essa é a trajetória para a produ-
ção de novos saberes no processo de ensino e suas relações com a aprendizagem. Vimos que o ato de ensinar
exige de quem pratica a ação um planejamento didático. A partir disso, podemos questionar: quem ensina?
Quem aprende? Quais os resultados do processo ensino-aprendizagem?

Vamos refletir sobre os eixos estruturantes do ensino a partir de Veiga (2012). Para a autora (2012), o
ato de ensinar exige quatro eixos, que são: intencionalidade, afetividade, construção do conhecimento e pla-
nejamento didático. A partir do conceito, compreendemos que ensinar é um ato social, ultrapassa os muros
da escola e deve despertar múltiplas competências e habilidades nos indivíduos. Nas palavras de Libâneo:

Quando mencionamos que a finalidade do processo de ensino é proporcionar aos alunos os meios para
que assimilem ativamente os conhecimentos é porque a natureza do trabalho docente é a mediação da re-
lação cognoscitiva entre o aluno e as matérias de ensino. Isto quer dizer que o ensino não é só transmissão
de informações, mas também o meio de organizar a atividade de estudo dos alunos. O ensino somente é
bem-sucedido quando os objetivos do professor coincidem com os objetivos de estudo do aluno e é pra-
ticado tendo em vista o desenvolvimento das suas forças intelectuais (LIBÂNEO, 2007, p. 14).

Assim, concluímos que ensinar é um processo estruturado, sequencial, com atividades para docentes e
discentes, com o objetivo do desenvolvimento cognitivo. Veja que ensino e aprendizagem estão juntos e um
não existe sem o outro.

A aprendizagem é a principal finalidade do trabalho docente e dos alunos da instituição de ensino. A


dinâmica do ensino-aprendizagem, portanto, é evidenciada como uma relação didática no desenvolvimento
pedagógico durante a prática educativa.

COMPETÊNCIAS DOCENTES PARA ENSINAR


Discutimos sobre didática geral e mencionamos a questão das competências. Então, vamos falar mais
sobre isso? Vamos refletir sobre competências para a prática docente? Chegamos à sala de aula, os alunos es-

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

tão agitados, parece que não se interessam pelos conteúdos e estes não fazem sentido para eles. O que fazer?
Quais competências o professor precisará desenvolver nesse contexto? Vamos pensar?

O professor terá que ter a competência de conscientizá-los, mobilizá-los para entenderem a importân-
cia do aprender e, a partir disso, sentirem desejo pela aprendizagem, pois, assim, a aprendizagem fará senti-
do. Para isso, é importante a competência de adaptar os conteúdos às realidades dos alunos e, dessa forma,
aliviar o peso da tarefa de aprender.

Segundo Allessandrini (2002), a competência relaciona-se ao saber fazer algo e, para isso, é preciso
o desenvolvimento de habilidades. As competências se manifestam por meio da aptidão em resolver uma
situação-problema, a qual pode ser chamada de habilidade que o indivíduo possui para resolver a questão.

Segundo Perrenoud (2002, p. 19), “[...] define-se uma competência como a aptidão para enfrentar uma
família de situações análogas, mobilizando de uma forma correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos
recursos cognitivos: saberes, capacidades, micro competências, informações, valores, atitudes, esquemas
de percepção, de avaliação e de raciocínio”.

Na perspectiva de ensino-aprendizagem por competências, a meta principal da escola não é trabalhar


conteúdos disciplinares e sim desenvolver competências pessoais. Isso, muitas vezes, é mal interpretado e
causa desconforto, por isso, vamos discutir um pouco de história.

Segundo Machado (2002), o currículo na Grécia Clássica, composto pelas disciplinas de lógica, gramá-
tica e retórica, não tinha como preocupação central o ensino dessas disciplinas, mas sim a formação do cida-
dão, do habitante da pólis, da formação política. O sentido das disciplinas era fazer uma mediação entre o co-
nhecimento em sentido pleno. Daí também a importância da arte e da religião, e o desenvolvimento pessoal.

Havia uma preocupação com a formação do caráter, da construção da cidadania. Não era formação
para o trabalho e sim para a cidadania.

A partir da segunda metade do século XIX, teve início um deslocamento entre o conhecimento cien-
tífico e o conhecimento no sentido mais amplo, que começa a ser trabalhado de forma fragmentada. Sendo
assim, a ciência passa a ser dividida em múltiplas disciplinas.

Algumas décadas depois, porém, a escola se organiza como se os objetivos da educação derivassem
daqueles que caracterizam o desenvolvimento das ciências, sendo estes decorrentes da busca do desenvolvi-
mento das diversas disciplinas científicas. Assim, estudamos matérias e conteúdos disciplinares para chegar-
mos ao conhecimento científico, que garantiria uma boa educação formal; a formação pessoal decorreria daí
naturalmente (MACHADO, 2002).

Mas o que temos hoje? Atualmente, existe uma escola centrada excessivamente no currículo discipli-
nar. Os currículos determinam matérias; o tempo escolar é organizado em torno delas, sempre com a preo-
cupação de aprovação no vestibular e ingresso no ensino superior por meio de conhecimento das matérias
estudadas. Vivemos um momento extremo e isso sugere uma ideia de crise do modelo educacional, afinal,
em que momento está presente a discussão da formação humana?

Precisamos agora, como educadores, nos preocupar com a formação integral do ser humano e com o
desenvolvimento de competências pessoais. Você, futuro educador, já parou para pensar no importante pa-
pel que irá desempenhar? Nossa meta educativa deve ser dialogar com o desenvolvimento científico e com
os valores socialmente acordados. Vamos, então, pensar em uma ciência que abarca competências pessoais,

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

a realização de projetos sociais e um meio de desenvolvimento pessoal. É nesse cenário que os currículos
escolares precisam ser pensados, organizados e reestruturados diante do tempo e espaço escolar.

É preciso esclarecer que não queremos o fim das disciplinas! Obviamente, elas são importantes, funda-
mentais nos dias atuais, porém:

A organização da escola é, e continuará a ser, marcadamente disciplinar; os professores são, e continua-


rão a ser, professores de disciplinas, não havendo qualquer sentido na caracterização de um professor de
‘competências’. No entanto, urge uma reorganização do trabalho escolar que reconfigure seus espaços
e tempos, que revitalize os significados dos currículos como mapas do conhecimento que se busca, da
formação pessoal como a constituição de um amplo espectro de competências e, sobretudo, do papel
dos professores em um cenário onde as ideias de conhecimento e de valor encontram-se definitivamente
imbricadas (MACHADO, 2002, p. 139).

Essas questões serão estudadas durante a formação, mas a consolidação desse aprendizado se dará
com a prática. Durante o curso, você terá acesso a recursos básicos para o desenvolvimento das competên-
cias, e, com a prática, isso será fortalecido.

IMPORTANTE

Vamos refletir sobre uma tendência contemporânea: o aprender a aprender. Essa discussão parte da
Escola Nova e procura desenvolver habilidades entendidas como competências. Estas estarão em sintonia
com as demandas do mercado de trabalho. Nesse aspecto, o processo didático deve focalizar um sujeito
intelectualmente ativo, criativo e especialmente produtivo. Assim, pensar na aprendizagem com foco na
aquisição de competências é também pensar no aluno produtivo, gestor de sua aprendizagem, responsável
pela aquisição das competências necessárias à sua formação. A partir disso, reflita sobre as seguintes
questões: como é possível aprender a aprender? Como trabalhar isso com nossos alunos? O que é aprender?
Por que aprendemos? Para quê? E como aprendemos?

Veja que estamos discutindo aqui uma perspectiva em que o aluno é entendido e respeitado como um
indivíduo com história e inserido em determinada cultura, que pertence a uma classe e tem um papel social a
desempenhar a partir de possibilidades e interesses inerentes e isso não pode ser ignorado na prática pedagógica.

Ao longo do texto, foram discutidos alguns aspectos da função da escola. O papel dessa instituição não
é somente transmitir conteúdos, certo? Nesse sentido, a escola deve sempre estar preocupada com a formação
integral do sujeito e com o seu papel como cidadão crítico em uma sociedade democrática. A partir desse pen-
samento, reflita sobre os processos formativos que você vivenciou. Será que a formação vivenciada por você lhe
permitiu pensar sobre o contexto social? Ou sua formação pregressa se ateve primordialmente nos conteúdos his-
toricamente construídos e transmitidos pela instituição escolar? Pense em um exemplo em que a aprendizagem
foi significativa para você, em que houve diálogo entre os conteúdos escolares e sua vivência social.

OBJETIVOS EDUCACIONAIS
Vamos falar um pouco sobre objetivos educacionais. O que é isso? Para que serve? Vamos pensar?
Considere os seguintes questionamentos: O que ensinar? Para que ensinar? Para quem ensinar? Como será
ensinado? Quando? Onde? Em quais condições? Quem irá ensinar?

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

Ao pensarmos sobre o que ensinar, logo, pensamos na seleção e organização dos conteúdos, a partir do
estabelecido no currículo e na cultura local. Isso envolve também a intenção do docente, ou seja, de quem ensina.

Há nesse processo, também, as intenções sociais e políticas do ensino, para que ensinar. É preciso con-
siderar a idade dos educandos, seus anseios e suas realidades, pensar para quem se ensina. O professor será
o mediador entre o educando, o conteúdo, as metodologias; então, é preciso refletir sobre como se ensina.
Tudo isso envolve relações sociais, a sala de aula, a comunidade e as condições do ensinar.

Os objetivos educacionais devem ser usados pelos docentes na abordagem dos conteúdos da aula.
Quando os alunos entendem os objetivos do professor e do componente curricular, ele os relaciona com as
situações vivenciadas, o que permite uma aprendizagem significativa e eleva o nível de aprendizagem.

A partir da definição dos objetivos da aula, do conteúdo, é que o docente decidirá sobre o método de
ensino mais adequado, a metodologia da aula e a preparação didática para o momento. Por exemplo, se o
objetivo educacional é transmitir informações, o método mais adequado é a aula expositiva. Porém, se o ob-
jetivo da aula é desenvolver a capacidade e a competência analítica do aluno, um método eficaz pode ser o
estudo dirigido e/ou trabalho em grupo. O método é que unifica e sistematiza o processo de ensino.

SAIBA MAIS

“Qual a relação entre afetividade, vínculo e aprendizagem?” O professor e


filósofo Mário Sergio Cortella responde ao questionamento neste vídeo:
https://youtu.be/7bywstc8YF8. Acesso em: 10 mar. 2023.

Nesse sentido, ao escolher tais métodos, é preciso considerar a experiência didática do professor e
os diversos aspectos relativos aos alunos. É importante levar em conta o tempo disponível para a execução
da prática educativa, considerando as condições físicas (espaços, recursos, entre outros) e a estrutura dos
assuntos abordados no processo de ensinar e aprender. Junto a isso, os objetivos têm a finalidade de auxiliar
os professores na avaliação dos resultados de sua prática de ensino. Podem ser divididos em factuais, concei-
tuais, procedimentais e atitudinais.

O objetivo factual se relaciona com a aprendizagem por meio do uso da memória. Como exemplo
podemos citar o trabalho com as datas comemorativas, os nomes de pessoas importantes da história, entre
outros. Ao se trabalhar com o conteúdo procedimental, o docente foca nos procedimentos para a escrita,
para realização de uma receita, entre outros exemplos. Os objetivos conceituais abarcam a ideia de conceitos,
ou seja, o estabelecimento de relações para entender o sistema alfabético, a fotossíntese, entre outros fenô-
menos. Já os objetivos atitudinais se relacionam diretamente com a responsabilidade do fazer educativo, da
aprendizagem e por isso envolvem leitura, coerência, respeito e valores.

Vale ressaltar que os objetivos educacionais auxiliam o professor a determinar o início e o final do pro-
cesso educativo. Quando não são definidos os objetivos, não é possível avaliar o resultado de determinada
atividade de ensino e nem especificar os melhores métodos didáticos.

O conteúdo é a principal referência na estruturação dos objetivos, sendo necessária a articulação com
os métodos com vistas à atividade de estudo dos alunos. Segundo Libâneo (2007), os conteúdos de ensino
são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, organizados didaticamente e pedagógicas, com o
intuito de possibilitar a assimilação ativa e a aplicabilidade dos conhecimentos no cotidiano do aluno. Nesse
sentido, os conteúdos englobam:

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

• Conceitos – ideias – fatos – processos e princípios;

• Habilidades – métodos de compreensão – hábitos;

• Convivência social – convicções – atitudes.

Os conteúdos são organizados em componentes curriculares e matérias, visando à articulação entre


objetivos, conteúdos e métodos, de forma a organizar o processo de ensino.

Na escolha dos conteúdos de ensino, portanto, leva-se em conta não só a herança cultural manifesta nos co-
nhecimentos e habilidades, mas também a experiência prática social vivida no presente pelos alunos, isto é, nos
problemas e desafios existentes no contexto em que vivem. Além disso, os conteúdos de ensino devem ser ela-
borados numa perspectiva de futuro, uma vez que contribuem para a negação de ações sociais vigentes tendo
em vista a construção de uma sociedade verdadeiramente humanizada (LIBÂNEO, 2007, p. 130).

A unidade objetivo-conteúdo-método é fundamental para a compreensão do processo didático: os


objetivos, para delinearem propósitos e metas pedagógicos; os conteúdos, para serem a base para alcançar
os objetivos; e os métodos, para serem o caminho e a trajetória de organização didática do processo de ensi-
no, objetivando uma educação de qualidade, com a formação de alunos críticos e reflexivos.

Vale ressaltar aqui a importância do planejamento, haja vista que ele possibilita à instituição de ensino
concretizar, em planos e projetos, os seus objetivos, suas metas e uma sequência de ações que orientarão a
prática educativa, visando à formação de alunos reflexivos por meio de uma educação de qualidade. Essa é
uma discussão que será aprofundada em outras disciplinas.

FORMAÇÃO DOCENTE
Estamos em um curso de formação docente e você está se preparando para ser um profissional da edu-
cação. Você já pensou sobre isso? Já pensou na importância de sua formação e de sua profissão?

Nesta disciplina e também em outras, sobretudo na disciplina Formação Docente, abordaremos aspec-
tos da formação do futuro professor. Pressupõe-se, nas disciplinas de formação, que o professor possa com-
preender a totalidade social da prática educativa, que possibilite refletir sobre a realidade, em que o conheci-
mento seja condição para a emancipação humana, e também para o domínio dos processos pedagógicos do
cotidiano docente, tais como: selecionar os conteúdos e formas didáticas, saber manejar a classe, conhecer as
disposições do aluno, entre outros.

De acordo com Martins (2002), na formação do futuro educador, deve-se considerar que o aluno tende a re-
produzir (mesmo que inconscientemente) a forma como os seus professores se relacionaram e contribuíram para
sua formação. Tal situação costuma afastar a teoria de como deve ser a relação professor-aluno da prática.

Isso porque a relação professor-aluno é composta do que se vivencia. É um conteúdo oculto no qual se
aprende, muitas vezes, a submissão, o respeito às normas e a obediência, mesmo que de forma não intencio-
nal. Embora o professor tenha aprendido durante a sua formação que deve ter uma relação afetuosa e de diá-
logo com os alunos, infelizmente o “conteúdo oculto” que vivenciou na sua formação é mais forte e presente.

Por nossa própria experiência, sabemos que é comum existir uma relação autoritária do professor com
os alunos. Entretanto, essa relação, muitas vezes, não é vista dessa forma pelo professor, logo, não é assumida

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

por ele, que, embora saiba como a relação professor-aluno deve ser desenvolvida, na prática, não consegue
efetivá-la, deixando que o conteúdo oculto das suas experiências prevaleça.

A didática, tendo um papel importante no processo de ensino-aprendizagem, auxilia na formação do


professor e afeta diretamente a sua forma de ensinar, que exprime uma atividade pedagógica, e de aprender,
que envolve a realização de uma tarefa com êxito. A didática possui um valor mais significativo para quem
está do outro lado da docência: o discente. Assim, a didática não pode ser reduzida ao ensino de técnicas
pelas quais se deseja desenvolver um processo de ensino-aprendizagem.

Geralmente, os alunos preferem as disciplinas ensinadas por professores que proporcionam situações agra-
dáveis, com recursos estimulantes. Isso não significa que o professor seja “liberal” e pouco exigente. Muitas vezes, a
percepção de “bom professor” para os alunos está relacionada a uma boa relação entre professor e aluno.

SAIBA MAIS

Assista ao vídeo do Professor Libâneo: “Desafios do futuro”, disponível em:


http://www.youtube.com/watch?v=bERxLjM7G0I&feature=related. Aproveite
esse conteúdo e complemente seus conhecimentos sobre o tema!

Sobre essa temática, Veiga (1996, p. 145) afirma que, dificilmente, um aluno consideraria um bom pro-
fessor sem que este “[...] tenha condições básicas de conhecimento de sua matéria de ensino ou habilidades
para organizar suas aulas, além de manter as relações positivas”. Isso nos mostra que, no cotidiano da sala
de aula, o professor que consegue se aproximar dos alunos e preocupa-se com envolvê-los na aula para que
possam assumir responsabilidades com compromisso e afeto é visto como o melhor professor.

Sabemos que não são apenas os aspectos afetivos que são relevantes nessa relação. Os valores e as
qualidades do professor que consegue fortalecer os laços com os alunos também estão presentes na forma
como ele lida com os conteúdos e com a situação de aprendizagem. Dessa forma, fica claro que a relação
professor-aluno perpassa os conteúdos pela metodologia e pela forma como o professor se relaciona com a
sua disciplina e com a construção do conhecimento pelos alunos. Assim, a relação professor-aluno contempla
a dedicação do professor em buscar formas mais atrativas de desenvolver sua aula e sua preocupação com
as potencialidades e desenvolvimento dos alunos. Além disso, a relação professor-aluno é beneficiada pelas
formas dialógicas de interação cativadas no cotidiano escolar. A partir do estudo realizado aqui, podemos
citar como qualidades dos melhores professores:

• Domínio do conteúdo;

• Discussão adequada dos temas estudados. Bom relacionamento com o grupo;

• Clima positivo na sala;

• Senso de humor;

• Prazer de ensinar;

• Capacidade de tornar a aula interessante.

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

Entre alunos e professores, há expectativas em relação ao desempenho de cada um. A escola determi-
na os comportamentos que deseja de seus integrantes, sendo também determinada pelas expectativas que
a sociedade tem dela.

APRENDIZAGEM POR PROBLEMAS


E PEDAGOGIA DE PROJETOS
Para encerrar este capítulo, vamos discutir sobre metodologias ativas. Estas visam ampliar o processo
educativo na medida em que colocam o discente no centro do processo. A aprendizagem por problemas
parte de situações reais dos estudantes. Para isso, pode-se utilizar estudos de casos, notícias veiculadas em
meios de comunicação, entre outros instrumentos.

A partir do contato com a realidade, o aprendizado se torna mais interessante e bons resultados são
alcançados. Em se tratando de cursos de formação de professores, é fundamental que o estudante tenha ex-
periência docente em sala de aula durante sua formação, encontre situações em que trabalhará sentimentos,
como alegria, tristeza, medo, sucessos, entre outros relacionados ao controle do processo de ensino-apren-
dizagem e aos comportamentos dos estudantes. Perrenoud (2002, p. 22) trata a questão como um procedi-
mento clínico, que “[…] organiza-se em torno de situações singulares, que servem para mobilizar aquisições
prévias, diferenciá-las, contextualizá-las e construir novos saberes ou necessidades de formação”.

Então, vamos pensar em situação-problema? A vida adulta exige reflexão, tomada de decisão diante
de situações que nem sempre foram previstas ou que podem ser controladas. Uma situação-problema é um
desafio que nos leva a realizar algo. Imagine que você está diante de uma situação em que precisa mobilizar
recursos, tomar decisões, agir. São situações relacionadas ao nosso trabalho, à nossa interação interpessoal,
às nossas ações cotidianas. A situação-problema nos leva a ter um caminho para alcançar algum objetivo.

Nesse sentido, podemos pensar a situação-problema como uma situação didática em que educando e
educador têm uma tarefa que somente poderá ser realizada se houver mobilização de conteúdos que levam
à aprendizagem, afinal, estamos falando de ensino.

Pensando na atuação do professor, é essencial despertar para a diversidade de contexto, isso quer dizer
que uma situação-problema desafiadora proposta para uma turma não deve ser a mesma para outra. Veja
aqui a importância do diálogo com os alunos, do conhecimento acerca da turma para que a proposta faça
sentido, que realmente coloque o aluno como protagonista da aprendizagem. Isso exige também do profes-
sor um trabalho que permita aos alunos serem proativos em sua aprendizagem.

Ao discutirmos competências e situação-problema, será necessário considerar pelo menos três aspec-
tos: tomada de decisão, coordenação e articulação de esquemas de ação e de pensamento. Imagine um
momento de avaliação. O aluno se vê diante de uma questão, é feita a ele uma pergunta e há alternativas de
respostas. Nesse momento, ele deverá analisar o conteúdo, a atividade, refletir sobre o que estudou e decidir
sobre a alternativa que deve ser a correta. Ao fazer isso, ele raciocina e realiza operações que incidem em
informações que possuem o objetivo de resolver o que foi proposto.

Para isso, são desenvolvidas competências relativas ao interpretar, analisar, comparar, entre outras. Ma-
cedo (2002, p. 127) nos lembra que:

[...] o ser humano toma decisões, formula julgamentos, compromete-se com uma resposta. Tomar decisões
é mais do que resolver um problema, pois implica mobilizar valores, estabelecer raciocínios, enfrentar di-

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

lemas e decidir pelo o que se julga melhor, mais justo, mais condizente para o sujeito e para a sociedade
à qual pertence.

Tudo isso exige raciocínio que é próprio do ser humano, diferencia-o dos demais animais e, dessa for-
ma, não pode ser substituído pela máquina. Durante este curso, também é abordada a questão da necessida-
de de práticas reflexivas na atuação docente. É por meio dessa prática que o professor trabalha competências
com os alunos. Entendemos que a aprendizagem envolve reflexão contínua, pois o ato de ensinar exige refle-
xão sobre a prática, sobre o modo como o próprio professor aprende. Nesse sentido, um exercício interessan-
te para o professor é pensar sobre o que ele vivencia enquanto aluno, o que foi positivo e o que foi negativo.
E, acima de tudo, como ampliar as ações para que a aprendizagem seja sempre melhorada.

Outra forma de trabalhar a partir do contexto e tornar o processo educativo interessante para o edu-
cando é o trabalho com a pedagogia de projetos. Temos que ter em mente que os projetos nascem de boas
questões, que são fundamentais para o desenvolvimento de boas pesquisas. Os bons projetos partem de
situações reais vivenciadas pelos alunos e por isso estes se tornam ativos no processo.

Nesse sentido, a pedagogia de projetos dá voz aos conteúdos, permite a interdisciplinaridade e coloca
o educando como protagonista do processo. Ao fazer isso, o processo educativo deixa de ser mecânico e a
aprendizagem se torna efetivamente significativa. Alguns passos para a construção de um projeto são:

• Escolha de um tema;

• Metodologia de trabalho;

• Recursos materiais, humanos e financeiros necessários;

• Registro de cada fase;

• Produto construído;

• Avaliação de todo processo.

Todos os momentos de desenvolvimento de um projeto educativo devem estar interligados e ser con-
tínuos, ou seja, fazer parte de um todo.

PROJETOS DE TRABALHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL


A educação infantil é um espaço rico de aprendizagens, é permitido às crianças maior liberdade para criar,
brincar, manifestar-se corporalmente, entre outros aspectos. É desse modo que a criança se desenvolve e aprende.
O adulto, nesse contexto, deve ser mediador, problematizador do conhecimento. Segundo Maia (2009, p. 211):

Os espaços educacionais para essa faixa etária, portanto, devem ter em seus princípios educativos, além do
cuidado, o educar: educar para desenvolver, educar para socializar, educar partindo do questionamento, da
pesquisa, da criatividade e ousadia. Ousadia do professor de ser, como diria Gonzaguinha, um eterno aprendiz:
modificando-se, planejando de forma flexível e propondo estratégias de ensino embasadas teoricamente.

Nesse contexto, as crianças têm que ser ouvidas e entendidas, pois são sujeitos com anseios e desejos
que precisam ser trabalhados e respeitados. Nessa fase, o trabalho com projetos é essencial, pois assim cada
assunto poderá ser desdobrado, discutido a partir de situações concretas. Os projetos serão meios para a ar-

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

ticulação da aprendizagem e do desenvolvimento. Entende-se que os temas serão interessantes para a faixa
etária e desse modo levará os educandos à reflexão, ao questionamento e à elaboração de novos conceitos
e aprendizagens.

O trabalho com projetos pressupõe um ambiente escolar construtivo, que prima pela autonomia do
aluno. O trabalho com projetos também permite manifestação dos educandos e isso inspira parceria, coleti-
vidade. Nesse sentido, os resultados tendem a permitir o crescimento de todos, educadores, educandos e até
mesmo familiares.

PROJETOS DE TRABALHO NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL


Esse trabalho também pode ser levado para o ensino fundamental. Trabalhar com projetos nos anos iniciais
permitirá oferecer aos alunos oportunidades de pesquisas, que envolverão também a família no processo.

Nesse cenário, adultos e crianças trabalham juntos e ambos são protagonistas do processo ensino
aprendizagem. Essa é uma forma de envolvimento do adulto na cultura da criança e vice-versa, pois presen-
ciamos um distanciamento entre esses dois sujeitos. A criança que o adulto um dia foi não é a mesma dos dias
atuais. Projetos no ensino fundamental necessitam da escolha de bons livros, materiais adequados. Vamos
ver dois exemplos de projetos, para encerramos este estudo:

TEMA: TRAVA-LÍNGUAS

• Título: você pode falar?

• Objetivo geral: conhecer trava-línguas e relacioná-los com a gramática.

• Objetivos específicos: aumentar o vocabulário dos alunos, apresentar trava-línguas, discutir so-
bre fonemas, desenvolver a escrita e a leitura.

• Atividades: solicitar aos alunos que pesquisem trava-línguas e levem para a sala de aula; escre-
ver alguns trava-línguas em cartolinas, colar no mural da sala, ler com os alunos os textos; solici-
tar que escolham um e copiem no caderno; organizar um pequeno evento na escola para que os
alunos recitem os trava-línguas.

• Avaliação e registro: registrar todas as fases do processo e observar se houve nos alunos ama-
durecimento em relação à fala, à leitura e à escrita.

TEMA: TRÂNSITO

• Título: o trânsito na cidade

• Objetivo geral: discutir sobre o papel do cidadão no trânsito, tanto na condição de pedestre,
passageiro ou condutor.

• Objetivos específicos: conhecer as placas de trânsito e o significado das cores do semáforo;


apresentar o objetivo da faixa de pedestres; entender sobre locais de risco para brincadeiras.

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

• Atividades: conversa inicial para entender o conhecimento prévio dos alunos relativo ao assun-
to, discutir com objetivo de informar sobre o trânsito local, relatar sobre o trajeto diário para ir à
escola, apresentar alguns meios de transportes para a turma, pesquisar sobre as placas de trânsi-
to e sobre o semáforo, conversar com agentes de trânsito (levar um agente até a escola), elaborar
cartazes com placas e chamando a atenção para um trânsito seguro, expor os cartazes na escola.

• Avaliação e registro: registrar todas as fases das atividade, observar o que mais atraiu as crian-
ças, se houve participação da família.

RESUMO
Neste capítulo, aprendemos conceitos importantes sobre o ato pedagógico. É importante destacar que
o estudo da didática envolve técnicas e, sobretudo, um pensar social, uma contextualização dos conteúdos
estudados. A didática deve avançar em suas discussões de forma a problematizar a realidade da qual os sujei-
tos são participantes ativos. Por isso:

• Conhecemos um pouco da história da didática e do educador Comenius, também discutimos a


história do conceito de didática, que surge no século XVII como um campo de conhecimento;

• O movimento Escola Nova preocupa-se com a valorização do saber discente, pois esse sujeito
exerce papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem;

• Estudamos o modelo educacional tecnicista; nesse modelo, a prática é controlada e dirigida pelo
professor que se utiliza de atividades mecânicas;

• Refletimos também sobre a didática do século XXI e a necessidade de preocupação com a qua-
lidade cognitiva das aprendizagens, com o desenvolvimento do aluno reflexivo, autônomo e so-
bre como a didática se estabelece como eixo norteador do trabalho do professor;

• Levantamos a discussão sobre competências para o ensino e porque isso é importante ao pro-
fessor, assim como refletimos sobre a competência de adaptar os conteúdos às realidades dos
alunos e aliviando o peso da tarefa de aprender.

Além disso, estudamos, neste capítulo, sobre os objetivos educacionais, sobretudo que:

• Eles preparam o professor e também os alunos sobre a clareza do que se pretende com o pro-
cesso de ensino, sendo fundamental escolher técnicas, recursos materiais e formas de avaliação;

• A partir deles, é possível organizar os conteúdos, considerando a realidade vivenciada pelos alunos;

• Ao defini-los, é preciso considerar sua validade, flexibilidade, significação, elaboração pessoal e


utilidade de conteúdo;

• Devem estar de acordo com o método de ensino, a metodologia e os conteúdos.

Abordamos também aspectos do estudo da didática na formação docente. É fundamental que:

• O futuro educador perceba a totalidade social da prática educativa;

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO

• Possibilite aos educandos a reflexão da realidade especificamente sobre didática;

• A didática tenha um papel importante no processo de ensino-aprendizagem;

• Auxilie na formação do professor e afete diretamente a sua forma de ensinar;

• A didática tenha um valor mais significativo para quem está do outro lado da docência: o discente.

REFERÊNCIAS
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de um novo modelo educacional. In: PERRENOUD, P.; THURLER, M. G. As Competências para Ensinar
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competências e aprendizagem escolar. In: PERRENOUD, P.; THURLER, M. G. As Competências para
Ensinar no Século XXI. Porto Alegre: Grupo A, 2002.
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para Ensinar no Século XXI. Porto Alegre: Grupo A, 2002.
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MARTINS, P. L. O. Didática teórica/didática prática: para além do confronto. 7. ed. São Paulo: Loyola, 2002.
MOREIRA, M. A.; MASINI, E. Aprendizagem Significativa: a teoria de David Ausubel. 2. ed. São Paulo:
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TAVARES, R. H. Didática Geral. Belo Horizonte: UFMG, 2011.
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