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DIDÁTICA
Juliana Branco
Presidente da Divisão Sul-Americana: Stanley Arco
Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos da Silva Alves
Presidente do Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp: Maurício Lima
EAD
Reitor: Martin Kuhn
Vice-reitor para a Educação Básica e Diretor do Campus Hortolândia: Henrique Karru Romaneli
Vice-reitor para a Educação Superior e Diretor do Campus São Paulo: Afonso Ligório Cardoso
Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas
Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes
Pró-reitor de graduação: Edilei Rodrigues de Lames
Pró-reitor de pós-graduação lato sensu e Pró-reitor da educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva
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Pró-reitor de Desenvolvimento Estudantil e Diretor do Campus Engenheiro Coelho: Carlos Alberto Ferri
Pró-reitor de Gestão Integrada: Claudio Valdir Knoener
Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes;
Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante;
Dr. Fabiano Leichsenring, Dr. Fabio Alfieri; Pr. Gilberto Damasceno; Dra. Gildene Silva;
Pr. Henrique Gonçalves; Pr. José Prudêncio Júnior; Pr. Luis Strumiello; Dr. Martin Kuhn;
Dr. Reinaldo Siqueira; Dr. Rodrigo Follis; Me. Telson Vargas
1ª Edição, 2023
Formação Didática
1ª edição – 2023
e-book (pdf)
Bibliografia.
ISBN 978-65-5405-041-8
22-134421 CDD-650.1
Editora associada:
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA:
A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO.................................................................... 8
Introdução...................................................................................................................................... 9
Um pouco de história................................................................................................................... 10
Objetivos educacionais................................................................................................................. 15
Formação docente........................................................................................................................ 17
Resumo......................................................................................................................................... 22
Referências.................................................................................................................................... 23
Resumo......................................................................................................................................... 36
Referências.................................................................................................................................... 37
EXPLORANDO RECURSOS DIDÁTICOS:
A TECNOLOGIA EDUCACIONAL................................................................. 39
Introdução..................................................................................................................................... 40
Estratégias metodológicas............................................................................................................ 44
Critérios básicos para a escolha dos métodos de ensino.................................................... 46
Tecnologias educacionais............................................................................................................. 51
Resumo......................................................................................................................................... 52
Referências.................................................................................................................................... 54
Resumo......................................................................................................................................... 65
Referências.................................................................................................................................... 66
EMENTA
Princípios teórico e práticos do planejamento
pedagógico, da avaliação educacional e diferentes
estratégias de ensino, relacionando as diferentes
formas culturais de ensino. A relação pedagógica:
professor, aluno, conhecimento e os diferentes
aspectos do ensinar e aprender.
UNIDADE 2
INTRODUÇÃO
Olá! Neste capítulo, apresentaremos outras questões relacionadas aos processos de ensino-aprendi-
zagem, oferecendo possibilidades para que você compreenda o papel discente nesse processo e aprenda a
valorizá-lo. Assim, será possível ampliar os seus conhecimentos sobre a proposta pedagógica e a práxis edu-
cativa. Vamos lá?
Discutiremos também a didática e a sua relação com as tendências pedagógicas. Iremos nos avançar
para novas aprendizagens, visto que esse estudo nos permite saber como cada uma delas pode interferir no
processo de ensino-aprendizagem. Desejamos boas descobertas!
No mercado de negócios, temos o cliente, aquele a quem o mercado sempre dá razão, que sempre
deve estar satisfeito. Na escola, trabalhamos com o conceito de cidadão e não podemos jamais reduzir a ideia
de cidadão à de consumidor. O produto, no campo escolar, é o conhecimento e este, ao invés de ser repas-
sado, simplesmente, é compartilhado. Isso quer dizer que, quando eu ensino algo, eu compartilho, mas não
fico sem ele, embora o divida - ou multiplique - com mais cidadãos. Outro detalhe do conhecimento é que ele
nunca fica gasto: quanto mais é utilizado, mais novo permanece.
SAIBA MAIS
“Paulo Freire (1921 1997) – Foi um filósofo e educador brasileiro. Ele procurou
desenvolver seu trabalho em prol da educação popular, sempre voltado para a
escolarização e com a formação da consciência. Ele queria denunciar não apenas
a existência de uma educação neutra como também fazer uma distinção clara
entre a pedagogia das classes dominantes e a pedagogia das classes oprimidas”
(TAVARES, 2011, p. 139). Um grande ganho do método Paulo Freire para a educação
em geral está no fato de trazer à tona a importância de o processo educativo partir
da realidade do educando, do que ele já vivencia, do valor concreto dos meios
de sua vida laboral e social. Nesse aspecto, Paulo Freire nos ensinou a respeitar,
conhecer e valorizar o conhecimento do outro. Procure na biblioteca do curso o
livro “Pedagogia do Oprimido” (2014). Esse livro nos faz refletir sobre uma educação
bancária e problematizadora. Você já ouviu falar sobre isso? A primeira se refere a
uma prática docente transmissiva, em uma relação vertical, onde o professor deposita
conhecimentos no aluno. Já a educação problematizadora entende que o processo
educativo deve ocorrer por meio do diálogo, do contato do homem com o contexto;
a relação é dialógica e com troca de saberes e experiências.
Pelo que estudamos até aqui, a função da escola, da educação básica, é a construção da pessoalidade,
da sedimentação da cidadania e não a formação de um especialista em determinada disciplina, pois estamos
falando de formação integral do ser humano. Não adianta conseguir que o aluno leia tudo que foi proposto
e que, mesmo compreendendo, não consiga expressar, compartilhar esse aprendizado. Aqui, é fundamental
trabalhar os saberes e o conhecimento pessoal dos alunos. Caso isso não ocorra, nenhuma competência é de-
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Pela ineficácia de sua abordagem, esse tipo de ensino possui muitas críticas e, aos poucos, foi sendo
superado por outras abordagens pedagógicas, novos conceitos de ensino foram formulados. Com a Escola
Nova, a valorização do intelecto foi substituída pela valorização do sentimento, sendo que o ensino substituiu
os métodos quantitativos para se atingir qualidade: o importante não é aprender, mas aprender a aprender.
Nesse contexto, aprender o conteúdo transmitido pelo professor não é o mais importante. O que importa é
o método de se chegar ao conhecimento, cabendo ao professor o papel de orientador, facilitador, criador de
desafios, para estimular a investigação do aluno, como agente de sua aprendizagem.
IMPORTANTE
Vamos pensar em um exemplo prático: uma pessoa pode saber tudo a respeito de alimentação saudável,
conhecer os alimentos, suas propriedades, combinações valiosas, receitas e, mesmo assim, tais informações
não alteram a conduta prática na vida do indivíduo. Nesse contexto, ter informações de modo isolado não
garante uma aprendizagem efetiva. Mas o que pode garantir uma aprendizagem efetiva? Pense sobre isso.
Diante disso, partimos agora para um diálogo sobre as características de abordagens mais atuais. Para
Bordenave e Pereira (2010), as abordagens mais recentes sobre o processo de ensino-aprendizagem partem
de alguns princípios comuns:
• Constatar o estado atual do aluno quanto ao seu conhecimento e às atitudes em relação ao con-
teúdo a ser ensinado;
• Estabelecer objetivos de ensino claros, que visem desenvolver conhecimentos, habilidades, ati-
tudes e valores. Preferencialmente, devem ser utilizados termos comportamentais, ou seja, con-
dutas que o aluno deve manifestar ao ter aprendido sobre o assunto;
Veja que há uma preocupação com o aluno, seus conhecimentos prévios, sua realidade. Há também
um receio que ultrapassa as disciplinas curriculares e busca um trabalho com atitudes e valores sociais. Para
isso, há uma preocupação com o estímulo ao aluno para a aprendizagem, a busca e a construção da autono-
mia. Podemos dizer que a transmissão deve ser substituída pela discussão e pela aprendizagem significativa.
Outros termos a destacar se relacionam à importância da definição clara de objetivos e ao processo avaliativo.
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O aluno e a aprendizagem como pontos fundamentais da prática pedagógica nos levam a outra dis-
cussão. Podemos definir ao menos três tipos de aprendizagem: motora (ou motriz), cognitiva e afetiva (ou
emocional) (PILETTI, 2001).
• Aprendizagem afetiva ou emocional: refere-se às emoções e aos sentimentos, como, por exem-
plo, aprender a apreciar uma obra de arte. Esse tipo de aprendizagem tem uma ligação muito
forte com as aprendizagens da sala de aula, pois envolve a forma de se relacionar com o aluno, as
vivências de respeito e o próprio clima da aula.
SAIBA MAIS
O ideal é que o trabalho docente tenha relação com a realidade da qual alunos e professores fazem
parte. Como futuro educador, é importante que você conheça as características do ensino tradicional para
que possa superá-lo em suas práticas futuras. É fundamental entender que o ensino precisa partir do nível
de conhecimentos, das experiências e do desenvolvimento dos alunos, em uma ação conjunta em busca dos
saberes. Um ensino que favoreça a aquisição de conhecimentos é capaz de ultrapassar os muros da escola,
fato que não ocorre no ensino tradicional.
Veja, agora, algumas características de um verdadeiro processo de ensino, de acordo com Libâneo (2007).
• O ensino segue em direção aos objetivos definidos, mas respeita os avanços e conhecimentos
que os alunos possuem;
• É visível o caráter intencional e sistemático do ensino, apoiado pelo planejamento, pelas ativida-
des e pela avaliação propostas;
• O processo de ensino visa alcançar tanto o domínio de conhecimentos quanto habilidades, há-
bitos e atitudes;
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• O ensino tem como função assegurar a construção dos conteúdos do saber escolar, desenvolver
as capacidades cognoscitivas dos alunos, que são “[...] as energias mentais disponíveis nos indiví-
duos, ativadas e desenvolvidas no processo de ensino, em estreita relação com os conhecimen-
tos” (LIBÂNEO, 2007, p. 80). O ensino verdadeiro combina a atividade do professor, que é ensinar,
com a atividade do aluno, que é aprender. Ainda segundo Libâneo (2007), o processo de ensino
possui três funções indissociáveis;
• Ajudar os alunos a conhecerem o seu potencial de aprender, caminhando para uma aprendiza-
gem independente e autônoma;
Segundo Freire (2014), é fundamental que o professor perceba que sua postura não deve ser autoritária e
sim dialógica. Desse modo, o educador deve sempre estar aberto a indagações, à troca, pois ensinar não é transfe-
rir conhecimento. Com essa postura, fica claro para todos os envolvidos que o conhecimento é construído, que há
respeito à autonomia do educando e que ele é um ser capaz de curiosidade, inquietação e descobertas.
Esses princípios são encontrados no livro “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire. É um livro de fácil
leitura, possui três capítulos e você deve ler pelo menos um deles para compreender saberes essenciais para
uma ação docente crítica, que reflete sobre a postura do professor com seus alunos. Essa postura envolve o
despertar da curiosidade, o diálogo, a horizontalidade do processo, pois todos os sujeitos envolvidos devem
ser atuantes e por isso precisam ser ouvidos. Junto a isso, o livro reflete sobre a educação como um ato políti-
co, pois ela não é uma ação neutra e sim transformadora, portanto, exige posicionamento.
SAIBA MAIS
O currículo da educação básica deve dialogar com o contexto no qual está inserido. Essa é uma pre-
missa da Base Nacional Comum Curricular, publicada em 2017. Por esse documento, o currículo deve ter uma
parte comum e outra diversificada. Esta parte é justamente pensada para abarcar o contexto social, econômi-
co da região, em que os alunos estão localizados.
Seguindo essa linha de pensamento, a construção do currículo escolar não será tarefa fácil e precisa
ser realizada com a participação de múltiplos atores. Como discorrido ao longo do capítulo, esse documento
contém parte comum, definida por diretrizes nacionais, e parte diversificada, que deve abarcar as necessida-
des de formação local.
Ao propor um currículo e os conteúdos que farão parte desse documento e dessa prática escolar, o
docente e os demais envolvidos no processo decisório precisam ficar atentos para que o conteúdo não fique
distante da realidade do aluno, pois, aqui, estamos discutindo e defendendo uma aprendizagem significativa.
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ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO
Aqui também cabe uma discussão sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais da educação básica (BRA-
SIL, 2013). Segundo Moreira e Candau (2007, p. 28), currículo exprime um “[...] conjunto de práticas que pro-
porcionam a produção, a circulação e o consumo de significados no espaço social e que contribuem, intensa-
mente, para a construção de identidades sociais e culturais”.
A partir dessa citação, podemos pensar que, se é construção, não pode ser imposto, certo? Ao exprimir
a realidade e ser construído coletivamente, não poderá chegar pronto na escola. Mas estamos falando de um
país inteiro e algumas questões precisam ser homogêneas. Como fazer, então? O caminho é associar a base
nacional proposta nos documentos legais, orientada pelo Estado brasileiro, por meio do MEC, do Conselho
Nacional de Educação e dos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, ao cotidiano escolar. Esse coti-
diano pode partir de diversos ambientes, que podem ser denominados como metropolitano, rural, florestal,
ribeirinho, quilombola, indígena, socioeducativo, no espaço das prisões, entre outros. Nessa perspectiva, a
dimensão diversificada precisa ser elaborada e consolidada utilizando-se de diálogo entre a escola e seu es-
paço social, político, ambiental e cultural.
Ademais, o currículo é materializado por meio dos componentes curriculares, que são os conteúdos, as
matérias e os componentes da ação educacional que dialogam constantemente com a diversidade regional/
local. Então, parte-se das ideias, valores, experiências e inicia-se o processo de organização, sistematização
e desenvolvimento de um documento que em seu conjunto reflete a realidade do país. Cada componente,
tanto na base nacional comum quanto na dimensão diversificada, recebe um nome, que são as disciplinas
de: Português, Educação Física, Empreendedorismo Social, Matemática, História Afro-Brasileira e Indígena,
Espanhol, Marketing, Artes, entre outras.
Converse com alguém de sua família que seja aluno da educação básica ou com algum vizinho sobre a
aprendizagem escolar. O que ele está estudando, por que e para quê esse conteúdo é importante, ou, se não
é importante, questione o porquê. Dessa forma, você poderá perceber aspectos da aprendizagem significa-
tiva, da metodologia de ensino, dos objetivos educacionais e qual a função da escola para esse entrevistado.
Vamos lá? Esse exercício será muito importante para você pensar sobre a profissão que exercerá.
A reprodução dos conteúdos feita pelo aluno de forma automática e sem variações, na maioria das vezes,
é considerada como um poderoso e sufi ciente indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto,
o produto está assegurado (MIZUKAMI apud BEHRENS, 2005, p. 43).
Nesse sentido, o professor repassa os conteúdos por meio de fórmulas prontas, ordenadas e desvinculadas
entre as disciplinas. A metodologia valoriza a sequência lógica e a ordenação dos conteúdos. Assim, cabe ao aluno
escutar, assimilar, decorar e repetir. Libâneo (2002) caracteriza essa abordagem como pedagogia liberal.
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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO
A ênfase está nos meios ou mídias: recursos audiovisuais, instrução programada, tecnologias de ensino
e ensino individualizado (módulos instrucionais), “máquinas de ensinar”, computadores, hardwares e softwa-
res. Existe a necessidade de condicionamento. Os comportamentos desejados serão trabalhados de forma a
permanecer nos alunos, que serão condicionados para realizar determinada tarefa e terem certo comporta-
mento. Saviani (2003) caracteriza a abordagem como pedagogia tecnicista.
SAIBA MAIS
Você sabe o que são máquinas de ensinar? Assista ao vídeo e reflita sobre o
método de ensino que utilizava “máquinas de ensinar”. Disponível em: http://
www.youtube.com/watch?v=vmRmBgKQq20. Acesso em: 10 mar. 2023.
A terceira tendência discutida por Mizukami (1985) é denominada de abordagem humanista. Por essa
tendência, o ensino volta-se para o aluno, assim, o objetivo da aprendizagem é denominado interacionista
com preocupação no sujeito objeto. As relações interpessoais e o crescimento do indivíduo passam a ser a
primeira preocupação do docente e este passa a ter o papel de facilitador da aprendizagem.
Outra abordagem que apresentamos aqui é a cognitivista. Esta se preocupa com um ensino que desen-
volva a inteligência do educando (MIZUKAMI, 1985).
Para Saviani (2003), essa abordagem pode ser também chamada de pedagogia nova, que privilegia a
autoavaliação e busca metas pessoais, desenvolvendo a valorização pessoal, a atividade de pesquisa do alu-
no e o clima psicológico e social da escola e da sala de aula.
O movimento Escola Nova iniciou nos Estados Unidos e lá recebeu o nome de pedagogia progressista,
a qual teve como principal representante John Dewey (1859-1952). Foi uma reação à abordagem tradicional.
O aluno passa a ser auxiliado pelo professor, o qual é visto como um facilitador da aprendizagem. O
educador facilita aos alunos a exposição de seus sentimentos, garantindo-lhes o desenvolvimento e o relacio-
namento interpessoal e estimulando, assim, a curiosidade e a autodisciplina.
IMPORTANTE
Como o professor pode contribuir para motivar os alunos, favorecendo assim a relação professor-aluno e,
consequentemente, o processo de ensino-aprendizagem?
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Por fim, Mizukami (1985) traz à tona a abordagem sociocultural, que reflete o modo de apropriação
interacionista entre o sujeito e o objeto de conhecimento. A escola é vista como via única para a educação
formal e, ao mesmo tempo que trabalha conteúdos, precisa provocar uma atitude crítica reflexiva. A ideia de
crítica reflexiva é encontrada nos escritos de Paulo Freire, sobretudo, quando ele aborda a educação popular
e a alfabetização de jovens e adultos.
Libâneo (2007) classifica essa abordagem como pedagogia progressista, em sua versão libertadora, pois há
preocupação com o desenvolvimento dos processos de aprendizagem formal e não formal. Para Saviani (2003),
esse é um importante avanço, à medida que se discute a educação e o problema da marginalidade.
Vamos, então, apresentar um quadro resumindo as tendências pedagógicas apresentadas a partir dos
pensadores Mizukami, Libâneo e Saviani. Analise-o na figura 01.
Figura 01 – Tendências pedagógicas segundo Libâneo, Saviani e Mizukami
A partir disso entendemos que o educador é um sujeito que faz parte da história da educação e é ativo
na medida em que interage com seus pares, com os alunos, com a comunidade escolar e constrói meios de
ensino inovadores em prol do conhecimento.
Podemos imaginar que o contexto escolar sofre variações de acordo com cada tendência. Que tal com-
pará-las? Observe a seguir algumas características na figura 02.
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Figura 02 – Tendências
TENDÊNCIA TENDÊNCIA TENDÊNCIA TENDÊNCIA TENDÊNCIA
TRADICIONAL COMPORTAMENTALISTA HUMANISTA COGNITIVISTA SOCIOCULTURAL
É o lugar idealizado
Para que ocorra a
para a realização do Deve ser um local
aprendizagem, a
processo educativo. Segue um modelo empresarial Lugar para todos: que permita ao
escola precisa ser
Tem organização e aplicado à escola. Há divisão democrática! Há aluno aprender por si
organizada, funcionar
A escola função definidas por clara: de um lado a gestão e preocupação com o próprio. Para isso, o
desenvolvimento e a
bem e proporcionar
normas rígidas. Seu o planejamento, de outro a ambiente precisa ser
autonomia do aluno. os meios para que a
objetivo é preparar execução. desafiador e favorável
educação ocorra de
os educandos para a à motivação do aluno.
modo planejado.
sociedade.
É visto como ser social
e político. Determina
É passivo, deve É quem recebe e trabalha
e é determinado
assimilar os conteúdos com o material preparado. É ativo, criativo, É ativo, observa,
pelo meio social,
transmitidos Precisa entender os problemas aprendeu a aprender experimenta, compara,
político, econômico
O aluno pelo professor. É da realidade e lidar com eles e está no centro do relaciona, analisa,
e individual. Desse
fundamental que ele “cientificamente”, afinal, processo de ensino levanta hipóteses,
modo, deve ser
domine o conteúdo somente desse modo ele será aprendizagem. argumenta etc.
capaz de operar
transmitido pela escola. produtivo.
conscientemente na
realidade.
Seu papel é Direciona e conduz o
instigar e, para processo de ensino-
Seleciona, organiza as práticas isso, cria situações aprendizagem.
É facilitador
Transmite conteúdos pedagógicas e está preocupado desafiadoras, A relação entre
O professor do processo de
e é autoritário. com a eficiência e eficácia do orientando seus os envolvidos é
aprendizagem.
ensino. alunos. Trabalha a horizontal: todos
reciprocidade e a aprendem e podem
cooperação. ensinar.
Há preocupação
em desenvolver
a inteligência do
aluno de acordo com
o contexto social. Trabalho com
Há preocupação com A inteligência é situações concretas
Há uma sequência Há maior preocupação com os o aluno, pois visa seu desenvolvida por a partir do contexto
rígida de conteúdos meios, recursos audiovisuais e desenvolvimento meio da troca com o social do discente.
a serem seguidos. As com as tecnologias utilizadas psicológico. Desse meio e, para isso, são Assim, objetiva-
Ensino-
aulas são expositivas, para o ensino. Seguem-se modo, seleciona-se utilizadas ações do se o alcance da
aprendizagem
com exercícios de módulos instrucionais. Os conteúdo a partir sujeito. Ele trabalha consciência crítica
fixação, leituras e comportamentos serão dos interesses dos o erro, a pesquisa, por parte dos alunos.
cópias. condicionantes e reforçadores. discentes. Há ênfase a investigação e a Ressaltam-se o
na autoavaliação. solução de problemas, diálogo e os grupos
com enfoque no de discussão.
“aprender a pensar”.
Ele se utiliza ainda
de jogos e trabalha o
espírito de equipe.
Fonte: adaptado de Mizukami (1985)
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Como você pode notar até aqui, sempre que há discussão sobre didática, há reflexão sobre as tendên-
cias pedagógicas, pois essa é uma disciplina que estuda o processo de ensino-aprendizagem, considerando
os objetivos educacionais, os conteúdos e os métodos e as formas de organização do ensino.
O processo de ensino-aprendizagem deve ser estudado sob variadas perspectivas e esse é um papel
importante da didática para a formação docente. Quando falamos em ensinar, falamos de práticas pedagó-
gicas e, quando falamos em aprender, precisamos lembrar que é preciso realizar algo com êxito, de forma a
alcançar determinado objetivo.
SAIBA MAIS
O caminhar pedagógico nos leva ao entendimento de que, no processo educacional, o aluno não é
um mero receptor de conteúdos e sim um sujeito histórico e um construtor de seu conhecimento, por meio
de competências e habilidades que devem ser desenvolvidas também pelo sistema escolar. Para que isso se
efetive, o docente tem papel fundamental, pois, ao interagir com os alunos, construirá práticas e meios que
buscam conhecimento.
Mizukami (1985) enfatiza que a escola é o agente transformador da educação formal, por meio de suas
atividades socioeducativas. O fenômeno educativo é humano, histórico e dimensional, entendido por nós
como um fenômeno em constante construção do conhecimento, de competências e habilidades.
Vimos que a relação professor e aluno é fundamental no processo de ensino- aprendizagem, o qual
precisa ser afetuoso e dialógico. Ao compreender a prática do professor como uma atividade pedagógica, é
necessário entender e buscar os seguintes objetivos, apresentados na figura 03:
Figura 03 – Objetivos da prática pedagógica
1 Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro possível dos conhecimentos científicos.
Orientar as tarefas de ensino para fins educativos de formação de personalidade, isto é, auxiliar os alunos a
2
escolherem um caminho na vida.
Criar as condições e os meios para que os alunos desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais, de
3 modo que dominem métodos de estudo, visando à sua autonomia no processo de aprendizagem e formas
de organização do ensino.
Na perspectiva de Libâneo (2007, p. 71), para que o professor possa atingir efetivamente os objetivos,
é necessário um conjunto de operações didáticas, tais como: planejamento, direção do processo de ensino-
-aprendizagem e avaliação.
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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO
Essas são algumas das atribuições que o docente precisa para o desempenho de suas tarefas e que
formam o campo e o objeto de estudo da didática. Portanto, a disciplina em questão fornece um apoio es-
sencial à formação dos professores, possibilitando conhecimentos específicos para o exercício pleno e com
qualidade na sua profissão.
Essa mudança de postura na relação professor-aluno, do ensino tradicional para um ensino dialogado
e não transmissivo, ocorre no final dos anos 1970 e princípio dos anos 1980, havendo uma mudança de pa-
radigma decorrente dos movimentos sociais. Aqui, o professor é mediador entre o saber sistematizado e os
envolvidos na prática educativa.
Nesse sentido, aproveitamos para lembrar o que diz Candau (2010, p. 76) sobre o papel do professor
nessa relação: “[...] a sua ação deve estar fundada a partir de uma premissa: a reconstrução do conhecimento
pelo aluno”. O que isso quer dizer? Que o professor deve negar a transmissão de conceitos, regras e noções
abstratas que não tenham semelhança com a realidade da qual alunos e professor fazem parte.
Outro ponto importante que merece destaque quando se trata da relação professor-aluno é a de que
o professor possui saberes que resultam da apropriação sobre o que realizou em sua prática de vida e dos
saberes histórico-sociais acumulados, ele não é só fruto da vida na escola. Assim, as relações que estabelece
com os alunos partem das suas experiências pessoais e também da sua história de vida.
Sabemos também que motivar os alunos não é uma tarefa simples. Algumas vezes, o professor conhe-
ce as teorias e as técnicas que pode aplicar para motivar as aprendizagens, mas ele mesmo não está motivado
para isso. Consequentemente, os alunos sentem essa desmotivação do professor e acabam por não demons-
trarem entusiasmo pela matéria ensinada.
Nesse contexto, outras situações que podem ser prejudiciais referem-se à insatisfação de exigências
que se sobressaem à necessidade de conhecimentos, como, por exemplo, um aluno com fome ou muito
cansado pode ter menos motivação. Um aluno que está com problemas familiares ou se sente isolado da
turma na escola também pode não ter motivação para aprender. Desse modo, o olhar atento do professor,
que busca construir uma melhor relação professor-aluno e favorecer o processo de ensino-aprendizagem de
todos, é fundamental.
Precisamos ter em mente que o discente é “[…] um ser historicamente situado, pertencente a uma de-
terminada classe, executor de uma prática social com interesses próprios e que não pode ser ignorado pela
escola” (TAVARES, 2011, p. 44).
Outro autor que discute sobre a motivação para aprender é Juan Ignácio Pozo. Nessa mesma linha de pen-
samento, Pozo (2002) apresenta processos auxiliares de aprendizagem. Para esse autor, a motivação para aprender
é importante. Com motivos para fazê-lo, a aprendizagem será alcançada com maior facilidade. Também é preciso
atenção, ou seja, por termos uma capacidade limitada de memória de trabalho, é importante ter foco e atenção no
que está sendo ensinado e assim evitar distrações que fogem dos objetivos da aprendizagem.
Outro ponto apresentado por Pozo (2002) é a recuperação e a transferência de aprendizagens anterio-
res que estão guardadas na nossa memória. Por fim, o autor fala da consciência e do controle dos mecanismos
de aprendizagem. Esse controle pode acontecer pelo próprio aluno ou pelo professor. O professor controla ao
impor condições para as situações de aprendizagem, a qual será mais eficaz se o próprio aluno controlar seus
processos, pois assim ele demonstrará consciência diante do processo educativo.
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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO
Ainda com relação à sistematização de ideias que levem à compreensão do processo de aprendizagem,
Pozo (2002 apud LOKCHIN; TEIEXEIRA, 2010, p. 8-9) nos apresenta alguns mandamentos em que os professo-
res deveriam basear suas intervenções. São eles:
I) O professor partirá dos interesses e motivos dos alunos; II) O professor partirá dos conhecimentos pré-
vios dos alunos. III) O professor dosará a quantidade de informação nova apresentada em cada tarefa. IV)
O professor fará com que condensem e automatizem os conhecimentos básicos que forem necessários
para futuras aprendizagens. V) O professor diversificará as tarefas e os cenários de aprendizagem para
um mesmo conteúdo. VI) O professor planejará as situações de aprendizagem em função dos contextos
e tarefas em que os alunos devam recuperar o que foi aprendido. VII) O professor organizará e ligará as
aprendizagens umas às outras, o mais possível, de forma que o aluno perceba as relações explícitas entre
elas. VIII) O professor promoverá entre os alunos a reflexão sobre seus conhecimentos, ajudando-os a criar
e a resolver os conflitos cognitivos que forem propostos a eles. IX) O professor deverá propor problemas de
aprendizagem ou tarefas abertas e promoverá a cooperação dos alunos para sua resolução. X) O professor
deve instruir os alunos no planejamento e organização de sua própria aprendizagem utilizando as estraté-
gias adequadas (2002 apud LOKCHIN; TEIXEIRA, 2010, p. 8-9).
Esses dez mandamentos de Pozo são interessantes e úteis para a profissão docente. O professor pode
repensar suas aulas, atividades e intervenções a partir deles. A aprendizagem será contextualizada e o aluno
será o centro do processo. Desse modo, a aprendizagem será mais interessante e motivadora.
Você concorda que a didática precisa assumir um papel significativo na formação continuada do edu-
cador? Converse com professores que possuem mais de dez anos de formação e questione se eles já reali-
zaram outros cursos após a formatura. E se não realizaram, por quê? O que acharam dos cursos? Eles foram
interessantes ou não? Caso não tenham realizado, por quê?
RESUMO
Para este capítulo, podemos destacar os seguintes aspectos:
• Não visamos uma formação específica em determinada disciplina e sim uma formação integral
do ser humano;
• O ideal é que o trabalho docente tenha relação com a realidade da qual alunos e professores
fazem parte;
• É fundamental que o futuro educador conheça as características do ensino tradicional para que
possa superá-lo em suas práticas futuras;
• Deve-se entender que o ensino precisa partir do nível de conhecimentos, das experiências e do
desenvolvimento dos alunos, em uma ação conjunta em busca dos saberes.
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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO
Além disso, nas últimas páginas trabalhamos também com os conceitos e as práticas das abordagens
pedagógicas. Vimos que:
• A abordagem tradicional está centrada no conteúdo que é transmitido por meio de aulas expositivas;
• A abordagem humanista já apresenta uma mudança, pois o ensino é centrado no aluno, o enfoque
é interacionista no sujeito objeto. Nesse sentido, há preocupação com as relações interpessoais e o
crescimento do indivíduo. Para isso, o professor tem papel de facilitador da aprendizagem;
REFERÊNCIAS
BEHRENS, M. Paradigma da complexidade, Metodologia e portfólios. Petrópolis: Vozes, 2005.
BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2010.
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Brasília : MEC, 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação
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CANDAU, V. Rumo a uma nova didática. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
LIBÂNEO, J. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico--social dos conteúdos. 18 ed. São
Paulo: Loyola, 2002.______. Didática. São Paulo: Cortez, 2007.
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MACHADO, N. J. Sobre a ideia de competência. In: PERRENOUD, P.; THURLER, M. G. As Competências
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