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FORMAÇÃO

DIDÁTICA

Juliana Branco
Presidente da Divisão Sul-Americana: Stanley Arco
Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos da Silva Alves
Presidente do Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp: Maurício Lima

EAD
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Editora Universitária Adventista

Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes;
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Editor-chefe: Allan Macedo de Novaes


Supervisora Administrativa: Rhayane Storch
Responsável editorial pelo EaD: Jéssica Lisboa Pereira
FORMAÇÃO
Juliana Cordeiro Soares Branco
Doutora em Educação pela UFMG DIDÁTICA

1ª Edição, 2023

Editora Universitária Adventista


Engenheiro Coelho, SP
Editora Universitária Adventista

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Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900
Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172
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Formação Didática

1ª edição – 2023
e-book (pdf)

Coordenação editorial: Nadia Menin


Revisão: Gabriel A. Costa
Preparação: Fernanda Lourenço
Projeto gráfico: Ana Paula Pirani
Diagramação: Felipe Rocha

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Marques, Pâmela Caroline Costa


Ferramentas de produtividade e gestão do tempo [livro eletrônico] / Pâmela Caroline Costa
Marques. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2022.

PDF

Bibliografia.
ISBN 978-65-5405-041-8

1. Administração 2. Gestão de negócios


3. Produtividade 4. Tempo - Administração I. Título.

22-134421 CDD-650.1

Índices para catálogo sistemático:


1. Tempo : Produtividade : Administração 650.1
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

Editora associada:

Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista.


Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da
editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
SUMÁRIO

CONTEXTUALIZAÇÃO DA DIDÁTICA:
A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO.................................................................... 8
Introdução...................................................................................................................................... 9

Introdução à discussão sobre didática........................................................................................... 9

Um pouco de história................................................................................................................... 10

Didática e trabalho pedagógico no século XXI............................................................................. 12

Competências docentes para ensinar........................................................................................... 13

Objetivos educacionais................................................................................................................. 15

Formação docente........................................................................................................................ 17

Aprendizagem por problemas e pedagogia de projetos............................................................. 19


Projetos de trabalho na educação infantil........................................................................... 20
Projetos de trabalho nas séries iniciais do ensino fundamental......................................... 21

Resumo......................................................................................................................................... 22

Referências.................................................................................................................................... 23

ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL


VOCÊ ESTÁ AQUI

DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO............ 24


Introdução..................................................................................................................................... 25

Uma visão geral sobre o processo educativo............................................................................... 25

Relação estudante, saber e contexto............................................................................................ 26

Sobre as tendências pedagógicas................................................................................................ 30

Resumo......................................................................................................................................... 36

Referências.................................................................................................................................... 37
EXPLORANDO RECURSOS DIDÁTICOS:
A TECNOLOGIA EDUCACIONAL................................................................. 39
Introdução..................................................................................................................................... 40

As competências do processo educativo...................................................................................... 40


Organizar e dirigir situações de aprendizagem................................................................... 40
Administrar a progressão das aprendizagens..................................................................... 40
Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.................................................. 41
Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho.......................................... 41
Trabalhar em equipe............................................................................................................ 41
Participar da administração da escola................................................................................. 42
Informar e envolver os pais.................................................................................................. 42
Utilizar novas tecnologias.................................................................................................... 42
Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão........................................................ 42
Administrar sua própria formação contínua....................................................................... 43

Estratégias metodológicas............................................................................................................ 44
Critérios básicos para a escolha dos métodos de ensino.................................................... 46

O uso do livro didático.................................................................................................................. 47


Programa Nacional do Livro Didático.................................................................................. 48

Tecnologias educacionais............................................................................................................. 51

Resumo......................................................................................................................................... 52

Referências.................................................................................................................................... 54

RECURSOS PARA O TRABALHO INDIVIDUAL E EM


GRUPO NA SALA DE AULA E A GESTÃO NA SALA DE AULA...................... 55
Introdução..................................................................................................................................... 56

Gestão da sala de aula: autoridade e autoritarismo.................................................................... 56

Gestão da sala de aula.................................................................................................................. 60

Gestão da sala de aula e vigilância............................................................................................... 64

Resumo......................................................................................................................................... 65

Referências.................................................................................................................................... 66
EMENTA
Princípios teórico e práticos do planejamento
pedagógico, da avaliação educacional e diferentes
estratégias de ensino, relacionando as diferentes
formas culturais de ensino. A relação pedagógica:
professor, aluno, conhecimento e os diferentes
aspectos do ensinar e aprender.
UNIDADE 2

ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO


O PERFIL DISCENTE E OS SABERES
PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

- Compreender a importância da contextualização no processo didático;


OBJETIVOS

- Entender a importância de conhecer o perfil discente;


- Definir ações de conexão entre o conteúdo aprendido na sala de aula e a realidade dos
alunos, em uma perspectiva de aprendizagem significativa.
FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

INTRODUÇÃO
Olá! Neste capítulo, apresentaremos outras questões relacionadas aos processos de ensino-aprendi-
zagem, oferecendo possibilidades para que você compreenda o papel discente nesse processo e aprenda a
valorizá-lo. Assim, será possível ampliar os seus conhecimentos sobre a proposta pedagógica e a práxis edu-
cativa. Vamos lá?

Discutiremos também a didática e a sua relação com as tendências pedagógicas. Iremos nos avançar
para novas aprendizagens, visto que esse estudo nos permite saber como cada uma delas pode interferir no
processo de ensino-aprendizagem. Desejamos boas descobertas!

UMA VISÃO GERAL SOBRE O PROCESSO EDUCATIVO


No século XXI, vivenciamos o conhecimento como forma de produção. Usamos os mesmos conceitos
para educação e economia: qualidade, projetos, valor, etc. mas é preciso diferenciá-los.

No mercado de negócios, temos o cliente, aquele a quem o mercado sempre dá razão, que sempre
deve estar satisfeito. Na escola, trabalhamos com o conceito de cidadão e não podemos jamais reduzir a ideia
de cidadão à de consumidor. O produto, no campo escolar, é o conhecimento e este, ao invés de ser repas-
sado, simplesmente, é compartilhado. Isso quer dizer que, quando eu ensino algo, eu compartilho, mas não
fico sem ele, embora o divida - ou multiplique - com mais cidadãos. Outro detalhe do conhecimento é que ele
nunca fica gasto: quanto mais é utilizado, mais novo permanece.

SAIBA MAIS

“Paulo Freire (1921 1997) – Foi um filósofo e educador brasileiro. Ele procurou
desenvolver seu trabalho em prol da educação popular, sempre voltado para a
escolarização e com a formação da consciência. Ele queria denunciar não apenas
a existência de uma educação neutra como também fazer uma distinção clara
entre a pedagogia das classes dominantes e a pedagogia das classes oprimidas”
(TAVARES, 2011, p. 139). Um grande ganho do método Paulo Freire para a educação
em geral está no fato de trazer à tona a importância de o processo educativo partir
da realidade do educando, do que ele já vivencia, do valor concreto dos meios
de sua vida laboral e social. Nesse aspecto, Paulo Freire nos ensinou a respeitar,
conhecer e valorizar o conhecimento do outro. Procure na biblioteca do curso o
livro “Pedagogia do Oprimido” (2014). Esse livro nos faz refletir sobre uma educação
bancária e problematizadora. Você já ouviu falar sobre isso? A primeira se refere a
uma prática docente transmissiva, em uma relação vertical, onde o professor deposita
conhecimentos no aluno. Já a educação problematizadora entende que o processo
educativo deve ocorrer por meio do diálogo, do contato do homem com o contexto;
a relação é dialógica e com troca de saberes e experiências.

Pelo que estudamos até aqui, a função da escola, da educação básica, é a construção da pessoalidade,
da sedimentação da cidadania e não a formação de um especialista em determinada disciplina, pois estamos
falando de formação integral do ser humano. Não adianta conseguir que o aluno leia tudo que foi proposto
e que, mesmo compreendendo, não consiga expressar, compartilhar esse aprendizado. Aqui, é fundamental
trabalhar os saberes e o conhecimento pessoal dos alunos. Caso isso não ocorra, nenhuma competência é de-

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ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

senvolvida. É importante dizer que uma competência está associada a uma


mobilização de saberes, é a capacidade de se recorrer aos conhecimentos
construídos para realizar algo.

O que queremos deixar de lição para você, neste início de conversa, é


que você reflita sobre a fragmentação e a superficialidade do conhecimen-
to muitas vezes trabalhado. Nosso objetivo deve ser de enraizamento. Isso
significa “[…] uma inserção do conhecimento disciplinar em um contexto
mais amplo, em uma realidade plena de vivências, sendo propriamente ca-
racterizado como uma contextualização” (MACHADO, 2002, p. 149).

Enfatizamos, também, que, com a Revolução Industrial do século XVIII,


inicia-se o processo de preocupação da escola em formar para o mercado de
trabalho. A partir de então, existe a visão da necessidade da formação profissio-
nal, aprender para exercer determinado ofício. Na década de 1970, século XX,
a ideia era de que a escola deveria formar técnicos, especialistas: eletricistas,
torneiros mecânicos, técnicos em agricultura, em enfermagem, em aparelhos
ou máquinas de determinado tipo (MACHADO, 2002).

No século XXI, o que temos são mudanças tecnológicas muito rápi-


das que os currículos escolares encontram dificuldades para acompanhar.
Desse modo, ao formar o que foi aprendido, já ficou obsoleto. Então, qual é
a saída? É trabalhar com nossos alunos a interpretação e a busca autônoma
por conhecimento.

Nesse contexto, a função social da escola passa a ser a de instigar,


prover pessoas com competências básicas, com capacidade de expressão,
de compreensão e interpretação dos conteúdos, de pesquisa e busca pelo
atual. O desafio é esse. Vamos discutir mais o assunto, a seguir.

RELAÇÃO ESTUDANTE, SABER E CONTEXTO


Como vimos anteriormente, o objeto de estudo da didática é o pro-
cesso de ensino. Este, por sua vez, inclui os conteúdos, os métodos, as ati-
vidades do professor e dos alunos, assim como as diretrizes que regulam e
orientam esse processo no contexto escolar.

A educação escolar, envolvida no contexto social, tem como um de


seus objetivos a difusão dos conhecimentos, das descobertas e habilida-
des acumuladas pela experiência humana. Para isso, não basta dizer apenas
que os alunos precisam se apropriar dos conhecimentos. É preciso mais!
Devemos dizer como fazer isso, ou seja, investigar os objetivos e métodos PEDAGOGIA TRADICIONAL
mais eficazes para a aprendizagem desses conhecimentos. Fica clara, então,
a importância do estudo da didática no curso de formação de professores. Nesta abordagem, a prática pedagógica não
considera o interesse dos alunos. O que in-
O conceito de ensino evoluiu e, se considerarmos o conceito etimo- teressa é a disciplina ministrada, ou seja, é
lógico, ensinar vem do latim “signare”, que significa “colocar dentro, gravar uma abordagem centrada no conteúdo, no
no espírito”. Esse conceito nos remete à pedagogia tradicional: ensinar é conhecimento, e o aluno é o depositário des-
transmitir conhecimentos do professor para a cabeça do aluno. se conhecimento (MIZUKAMI, 1985).

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A pedagogia tradicional tinha o ensino centrado na transmissão de conhecimentos. Nessa abordagem,


não era possível detectar dificuldades individuais em relação ao conteúdo e ao aprendizado. O que ia ser
trabalhado estava posto, não havia preocupação se era possível ou não avançar para níveis mais avançados
de estudo. Como não havia receio com as particularidades e necessidades dos alunos, muitos acumulavam
dificuldades, ficavam frustrados, desmotivados e acabavam por abandonar a escola. O cotidiano escolar se
restringia ao ambiente externo da sala de aula, não havia preocupação com as práticas sociais e culturais dos
alunos.

Pela ineficácia de sua abordagem, esse tipo de ensino possui muitas críticas e, aos poucos, foi sendo
superado por outras abordagens pedagógicas, novos conceitos de ensino foram formulados. Com a Escola
Nova, a valorização do intelecto foi substituída pela valorização do sentimento, sendo que o ensino substituiu
os métodos quantitativos para se atingir qualidade: o importante não é aprender, mas aprender a aprender.
Nesse contexto, aprender o conteúdo transmitido pelo professor não é o mais importante. O que importa é
o método de se chegar ao conhecimento, cabendo ao professor o papel de orientador, facilitador, criador de
desafios, para estimular a investigação do aluno, como agente de sua aprendizagem.

IMPORTANTE

Vamos pensar em um exemplo prático: uma pessoa pode saber tudo a respeito de alimentação saudável,
conhecer os alimentos, suas propriedades, combinações valiosas, receitas e, mesmo assim, tais informações
não alteram a conduta prática na vida do indivíduo. Nesse contexto, ter informações de modo isolado não
garante uma aprendizagem efetiva. Mas o que pode garantir uma aprendizagem efetiva? Pense sobre isso.

Diante disso, partimos agora para um diálogo sobre as características de abordagens mais atuais. Para
Bordenave e Pereira (2010), as abordagens mais recentes sobre o processo de ensino-aprendizagem partem
de alguns princípios comuns:

• Constatar o estado atual do aluno quanto ao seu conhecimento e às atitudes em relação ao con-
teúdo a ser ensinado;

• Estabelecer objetivos de ensino claros, que visem desenvolver conhecimentos, habilidades, ati-
tudes e valores. Preferencialmente, devem ser utilizados termos comportamentais, ou seja, con-
dutas que o aluno deve manifestar ao ter aprendido sobre o assunto;

• Proporcionar ao aluno experiências diversificadas, sendo colocado em contato com situações


estimuladoras. Para isso, são necessárias atividades de ensino-aprendizagem relativas “[aos] re-
cursos e meios que o professor emprega, como: visitas ao campo, manuseio de plantas e animais,
utilização de meios multissensoriais [...]” (BORDENAVE; PEREIRA, 2010, p. 43);

• Acompanhar, no decorrer das atividades, o processo de ensino-aprendizagem por meio de ava-


liações. Também vale a pena informar ao aluno sobre o seu desenvolvimento e orientá-lo para
que possa evoluir cada vez mais em seu processo de aprendizado.

Veja que há uma preocupação com o aluno, seus conhecimentos prévios, sua realidade. Há também
um receio que ultrapassa as disciplinas curriculares e busca um trabalho com atitudes e valores sociais. Para
isso, há uma preocupação com o estímulo ao aluno para a aprendizagem, a busca e a construção da autono-
mia. Podemos dizer que a transmissão deve ser substituída pela discussão e pela aprendizagem significativa.
Outros termos a destacar se relacionam à importância da definição clara de objetivos e ao processo avaliativo.

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O aluno e a aprendizagem como pontos fundamentais da prática pedagógica nos levam a outra dis-
cussão. Podemos definir ao menos três tipos de aprendizagem: motora (ou motriz), cognitiva e afetiva (ou
emocional) (PILETTI, 2001).

• Aprendizagem motora ou motriz: está relacionada à aprendizagem de hábitos. Não somente


de habilidades motoras, como aprender a andar, mas também a habilidades verbais e gráficas,
como, por exemplo, aprender a falar ou a escrever.

• Aprendizagem cognitiva: engloba a aprendizagem de informações e conhecimentos. Nesse tipo


de aprendizagem, estão as interpretações baseadas em conceitos, teorias ou princípios, como,
por exemplo, aprender as regras ortográficas.

• Aprendizagem afetiva ou emocional: refere-se às emoções e aos sentimentos, como, por exem-
plo, aprender a apreciar uma obra de arte. Esse tipo de aprendizagem tem uma ligação muito
forte com as aprendizagens da sala de aula, pois envolve a forma de se relacionar com o aluno, as
vivências de respeito e o próprio clima da aula.

SAIBA MAIS

A partir dos estudos realizados nesta disciplina, até o momento, e em outras


disciplinas do curso, reflita sobre os meios e recursos materiais utilizados
pelo professor e pelos alunos durante a prática pedagógica, ou seja,
durante o processo de ensino-aprendizagem. Com esse entendimento,
pesquise sobre métodos de ensino: quais métodos podem ser utilizados
nos tempos atuais nas salas de alfabetização?

O ideal é que o trabalho docente tenha relação com a realidade da qual alunos e professores fazem
parte. Como futuro educador, é importante que você conheça as características do ensino tradicional para
que possa superá-lo em suas práticas futuras. É fundamental entender que o ensino precisa partir do nível
de conhecimentos, das experiências e do desenvolvimento dos alunos, em uma ação conjunta em busca dos
saberes. Um ensino que favoreça a aquisição de conhecimentos é capaz de ultrapassar os muros da escola,
fato que não ocorre no ensino tradicional.

Veja, agora, algumas características de um verdadeiro processo de ensino, de acordo com Libâneo (2007).

• O ensino é visto como processo, capaz de desenvolver e transformar as capacidades intelectuais


dos alunos rumo ao domínio de conhecimentos e habilidades;

• O ensino segue em direção aos objetivos definidos, mas respeita os avanços e conhecimentos
que os alunos possuem;

• É visível o caráter intencional e sistemático do ensino, apoiado pelo planejamento, pelas ativida-
des e pela avaliação propostas;

• O processo de ensino visa alcançar tanto o domínio de conhecimentos quanto habilidades, há-
bitos e atitudes;

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• O ensino tem como função assegurar a construção dos conteúdos do saber escolar, desenvolver
as capacidades cognoscitivas dos alunos, que são “[...] as energias mentais disponíveis nos indiví-
duos, ativadas e desenvolvidas no processo de ensino, em estreita relação com os conhecimen-
tos” (LIBÂNEO, 2007, p. 80). O ensino verdadeiro combina a atividade do professor, que é ensinar,
com a atividade do aluno, que é aprender. Ainda segundo Libâneo (2007), o processo de ensino
possui três funções indissociáveis;

• Organizar os conteúdos para que sejam ensinados;

• Ajudar os alunos a conhecerem o seu potencial de aprender, caminhando para uma aprendiza-
gem independente e autônoma;

• Direcionar a atividade docente para que os objetivos de aprendizagem sejam alcançados.

Segundo Freire (2014), é fundamental que o professor perceba que sua postura não deve ser autoritária e
sim dialógica. Desse modo, o educador deve sempre estar aberto a indagações, à troca, pois ensinar não é transfe-
rir conhecimento. Com essa postura, fica claro para todos os envolvidos que o conhecimento é construído, que há
respeito à autonomia do educando e que ele é um ser capaz de curiosidade, inquietação e descobertas.

Esses princípios são encontrados no livro “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire. É um livro de fácil
leitura, possui três capítulos e você deve ler pelo menos um deles para compreender saberes essenciais para
uma ação docente crítica, que reflete sobre a postura do professor com seus alunos. Essa postura envolve o
despertar da curiosidade, o diálogo, a horizontalidade do processo, pois todos os sujeitos envolvidos devem
ser atuantes e por isso precisam ser ouvidos. Junto a isso, o livro reflete sobre a educação como um ato políti-
co, pois ela não é uma ação neutra e sim transformadora, portanto, exige posicionamento.

SAIBA MAIS

Para ampliar as suas aprendizagens, assista ao vídeo com o professor e


pesquisador José Carlos Libâneo sobre esta temática: função da escola.
Disponível em: https://youtu.be/6kk__FXVwC0. Acesso em: 10 mar. 2023.
Esperamos que goste!

O currículo da educação básica deve dialogar com o contexto no qual está inserido. Essa é uma pre-
missa da Base Nacional Comum Curricular, publicada em 2017. Por esse documento, o currículo deve ter uma
parte comum e outra diversificada. Esta parte é justamente pensada para abarcar o contexto social, econômi-
co da região, em que os alunos estão localizados.

Seguindo essa linha de pensamento, a construção do currículo escolar não será tarefa fácil e precisa
ser realizada com a participação de múltiplos atores. Como discorrido ao longo do capítulo, esse documento
contém parte comum, definida por diretrizes nacionais, e parte diversificada, que deve abarcar as necessida-
des de formação local.

Ao propor um currículo e os conteúdos que farão parte desse documento e dessa prática escolar, o
docente e os demais envolvidos no processo decisório precisam ficar atentos para que o conteúdo não fique
distante da realidade do aluno, pois, aqui, estamos discutindo e defendendo uma aprendizagem significativa.

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Aqui também cabe uma discussão sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais da educação básica (BRA-
SIL, 2013). Segundo Moreira e Candau (2007, p. 28), currículo exprime um “[...] conjunto de práticas que pro-
porcionam a produção, a circulação e o consumo de significados no espaço social e que contribuem, intensa-
mente, para a construção de identidades sociais e culturais”.

A partir dessa citação, podemos pensar que, se é construção, não pode ser imposto, certo? Ao exprimir
a realidade e ser construído coletivamente, não poderá chegar pronto na escola. Mas estamos falando de um
país inteiro e algumas questões precisam ser homogêneas. Como fazer, então? O caminho é associar a base
nacional proposta nos documentos legais, orientada pelo Estado brasileiro, por meio do MEC, do Conselho
Nacional de Educação e dos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, ao cotidiano escolar. Esse coti-
diano pode partir de diversos ambientes, que podem ser denominados como metropolitano, rural, florestal,
ribeirinho, quilombola, indígena, socioeducativo, no espaço das prisões, entre outros. Nessa perspectiva, a
dimensão diversificada precisa ser elaborada e consolidada utilizando-se de diálogo entre a escola e seu es-
paço social, político, ambiental e cultural.

Ademais, o currículo é materializado por meio dos componentes curriculares, que são os conteúdos, as
matérias e os componentes da ação educacional que dialogam constantemente com a diversidade regional/
local. Então, parte-se das ideias, valores, experiências e inicia-se o processo de organização, sistematização
e desenvolvimento de um documento que em seu conjunto reflete a realidade do país. Cada componente,
tanto na base nacional comum quanto na dimensão diversificada, recebe um nome, que são as disciplinas
de: Português, Educação Física, Empreendedorismo Social, Matemática, História Afro-Brasileira e Indígena,
Espanhol, Marketing, Artes, entre outras.

Converse com alguém de sua família que seja aluno da educação básica ou com algum vizinho sobre a
aprendizagem escolar. O que ele está estudando, por que e para quê esse conteúdo é importante, ou, se não
é importante, questione o porquê. Dessa forma, você poderá perceber aspectos da aprendizagem significa-
tiva, da metodologia de ensino, dos objetivos educacionais e qual a função da escola para esse entrevistado.
Vamos lá? Esse exercício será muito importante para você pensar sobre a profissão que exercerá.

SOBRE AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS


Nos dias atuais, ainda encontramos a pedagogia tradicional nas escolas, nas práticas pedagógicas. Esse mo-
delo pedagógico não está preocupado com o ambiente físico escolar, que são compostos por carteiras, quadro e
giz. De acordo com Mizukami (1985), o docente não está preocupado com os interesses dos alunos e sim com o
conteúdo que precisa ser transmitido para avançar. Para “avançar”, é necessário um ensino rígido e coercitivo. Aqui,
o aluno é depositário do conhecimento, a educação é bancária. A metodologia na abordagem tradicional é trans-
mitida por meio de aulas expositivas e fundamentadas em quatro pilares: escute, leia, decore e repita.

Dessa maneira, Mizukami salienta:

A reprodução dos conteúdos feita pelo aluno de forma automática e sem variações, na maioria das vezes,
é considerada como um poderoso e sufi ciente indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto,
o produto está assegurado (MIZUKAMI apud BEHRENS, 2005, p. 43).

Nesse sentido, o professor repassa os conteúdos por meio de fórmulas prontas, ordenadas e desvinculadas
entre as disciplinas. A metodologia valoriza a sequência lógica e a ordenação dos conteúdos. Assim, cabe ao aluno
escutar, assimilar, decorar e repetir. Libâneo (2002) caracteriza essa abordagem como pedagogia liberal.

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

Outra abordagem pedagógica apresentada por Mizukami (1985) é a comportamentalista. Segundo a


autora, essa abordagem é caracterizada no conhecimento e este molda os comportamentos sociais. Desse
modo, entende-se que os sujeitos são manipulados pela sociedade e são produtos do meio, essa abordagem
pode ser comparada com a tendência liberal e a tecnicista.

A ênfase está nos meios ou mídias: recursos audiovisuais, instrução programada, tecnologias de ensino
e ensino individualizado (módulos instrucionais), “máquinas de ensinar”, computadores, hardwares e softwa-
res. Existe a necessidade de condicionamento. Os comportamentos desejados serão trabalhados de forma a
permanecer nos alunos, que serão condicionados para realizar determinada tarefa e terem certo comporta-
mento. Saviani (2003) caracteriza a abordagem como pedagogia tecnicista.

SAIBA MAIS

Você sabe o que são máquinas de ensinar? Assista ao vídeo e reflita sobre o
método de ensino que utilizava “máquinas de ensinar”. Disponível em: http://
www.youtube.com/watch?v=vmRmBgKQq20. Acesso em: 10 mar. 2023.

A terceira tendência discutida por Mizukami (1985) é denominada de abordagem humanista. Por essa
tendência, o ensino volta-se para o aluno, assim, o objetivo da aprendizagem é denominado interacionista
com preocupação no sujeito objeto. As relações interpessoais e o crescimento do indivíduo passam a ser a
primeira preocupação do docente e este passa a ter o papel de facilitador da aprendizagem.

Outra abordagem que apresentamos aqui é a cognitivista. Esta se preocupa com um ensino que desen-
volva a inteligência do educando (MIZUKAMI, 1985).

Para Saviani (2003), essa abordagem pode ser também chamada de pedagogia nova, que privilegia a
autoavaliação e busca metas pessoais, desenvolvendo a valorização pessoal, a atividade de pesquisa do alu-
no e o clima psicológico e social da escola e da sala de aula.

O movimento Escola Nova iniciou nos Estados Unidos e lá recebeu o nome de pedagogia progressista,
a qual teve como principal representante John Dewey (1859-1952). Foi uma reação à abordagem tradicional.

Na pedagogia renovada, o aluno se torna o centro do processo de ensino-aprendizagem. Ele aprende


pela descoberta e iniciativa, sendo responsável por trilhar e escolher seus caminhos por meio de experiências
significativas. É concebido como um indivíduo que se autodesenvolve.

O aluno passa a ser auxiliado pelo professor, o qual é visto como um facilitador da aprendizagem. O
educador facilita aos alunos a exposição de seus sentimentos, garantindo-lhes o desenvolvimento e o relacio-
namento interpessoal e estimulando, assim, a curiosidade e a autodisciplina.

IMPORTANTE

Como o professor pode contribuir para motivar os alunos, favorecendo assim a relação professor-aluno e,
consequentemente, o processo de ensino-aprendizagem?

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

Por fim, Mizukami (1985) traz à tona a abordagem sociocultural, que reflete o modo de apropriação
interacionista entre o sujeito e o objeto de conhecimento. A escola é vista como via única para a educação
formal e, ao mesmo tempo que trabalha conteúdos, precisa provocar uma atitude crítica reflexiva. A ideia de
crítica reflexiva é encontrada nos escritos de Paulo Freire, sobretudo, quando ele aborda a educação popular
e a alfabetização de jovens e adultos.

Libâneo (2007) classifica essa abordagem como pedagogia progressista, em sua versão libertadora, pois há
preocupação com o desenvolvimento dos processos de aprendizagem formal e não formal. Para Saviani (2003),
esse é um importante avanço, à medida que se discute a educação e o problema da marginalidade.

Vamos, então, apresentar um quadro resumindo as tendências pedagógicas apresentadas a partir dos
pensadores Mizukami, Libâneo e Saviani. Analise-o na figura 01.
Figura 01 – Tendências pedagógicas segundo Libâneo, Saviani e Mizukami

AUTOR LIBÂNEO (2007) SAVIANI (2003) MIZUKAMI (1986)


Nomenclatura utilizada na Pedagogia liberal, em suas versões: Teorias não críticas: • Abordagem tradicional;
classificação das tendências • Conservadora; • Pedagogia tradicional; • Abordagem
pedagógicas. comportamentalista;
• Renovada progressista; • Pedagogia nova;
• Renovada não diretiva. • Pedagogia tecnicista. • Abordagem humanista;
Pedagogia progressista em suas Teorias crítico-reprodutivas: • Abordagem cognitivista;
versões: • Sistema de ensino enquanto • Abordagem sociocultural.
• Libertadora; aparelho ideológico;
• Libertária; • Escola enquanto aparelho
• De conteúdos. ideológico do Estado;
• Escola dualista.
Fonte: Santos (2005) apud Tavares (2011, p. 34).

Os autores descrevem e classificam o processo de ensino-aprendizagem conforme alguns pressupostos


que apresentam tendências tradicionais de ensino ou inovadoras. Isso demonstra como o processo educativo
é abordado de diferentes perspectivas. Os três autores citados no quadro anterior diversificam seus critérios
de organização das tendências pedagógicas, mas convergem no sentido de que “[...] o processo educacional
é um fator essencial para a assimilação da informação pelo aluno, que não é só um mero recebedor de con-
teúdos, mas um construtor de seu conhecimento por meio de competências e habilidades desenvolvidas na/
pela escola” (TAVARES, 2011, p. 35).

A partir disso entendemos que o educador é um sujeito que faz parte da história da educação e é ativo
na medida em que interage com seus pares, com os alunos, com a comunidade escolar e constrói meios de
ensino inovadores em prol do conhecimento.

Podemos imaginar que o contexto escolar sofre variações de acordo com cada tendência. Que tal com-
pará-las? Observe a seguir algumas características na figura 02.

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

Figura 02 – Tendências
TENDÊNCIA TENDÊNCIA TENDÊNCIA TENDÊNCIA TENDÊNCIA
TRADICIONAL COMPORTAMENTALISTA HUMANISTA COGNITIVISTA SOCIOCULTURAL
É o lugar idealizado
Para que ocorra a
para a realização do Deve ser um local
aprendizagem, a
processo educativo. Segue um modelo empresarial Lugar para todos: que permita ao
escola precisa ser
Tem organização e aplicado à escola. Há divisão democrática! Há aluno aprender por si
organizada, funcionar
A escola função definidas por clara: de um lado a gestão e preocupação com o próprio. Para isso, o
desenvolvimento e a
bem e proporcionar
normas rígidas. Seu o planejamento, de outro a ambiente precisa ser
autonomia do aluno. os meios para que a
objetivo é preparar execução. desafiador e favorável
educação ocorra de
os educandos para a à motivação do aluno.
modo planejado.
sociedade.
É visto como ser social
e político. Determina
É passivo, deve É quem recebe e trabalha
e é determinado
assimilar os conteúdos com o material preparado. É ativo, criativo, É ativo, observa,
pelo meio social,
transmitidos Precisa entender os problemas aprendeu a aprender experimenta, compara,
político, econômico
O aluno pelo professor. É da realidade e lidar com eles e está no centro do relaciona, analisa,
e individual. Desse
fundamental que ele “cientificamente”, afinal, processo de ensino levanta hipóteses,
modo, deve ser
domine o conteúdo somente desse modo ele será aprendizagem. argumenta etc.
capaz de operar
transmitido pela escola. produtivo.
conscientemente na
realidade.
Seu papel é Direciona e conduz o
instigar e, para processo de ensino-
Seleciona, organiza as práticas isso, cria situações aprendizagem.
É facilitador
Transmite conteúdos pedagógicas e está preocupado desafiadoras, A relação entre
O professor do processo de
e é autoritário. com a eficiência e eficácia do orientando seus os envolvidos é
aprendizagem.
ensino. alunos. Trabalha a horizontal: todos
reciprocidade e a aprendem e podem
cooperação. ensinar.
Há preocupação
em desenvolver
a inteligência do
aluno de acordo com
o contexto social. Trabalho com
Há preocupação com A inteligência é situações concretas
Há uma sequência Há maior preocupação com os o aluno, pois visa seu desenvolvida por a partir do contexto
rígida de conteúdos meios, recursos audiovisuais e desenvolvimento meio da troca com o social do discente.
a serem seguidos. As com as tecnologias utilizadas psicológico. Desse meio e, para isso, são Assim, objetiva-
Ensino-
aulas são expositivas, para o ensino. Seguem-se modo, seleciona-se utilizadas ações do se o alcance da
aprendizagem
com exercícios de módulos instrucionais. Os conteúdo a partir sujeito. Ele trabalha consciência crítica
fixação, leituras e comportamentos serão dos interesses dos o erro, a pesquisa, por parte dos alunos.
cópias. condicionantes e reforçadores. discentes. Há ênfase a investigação e a Ressaltam-se o
na autoavaliação. solução de problemas, diálogo e os grupos
com enfoque no de discussão.
“aprender a pensar”.
Ele se utiliza ainda
de jogos e trabalha o
espírito de equipe.
Fonte: adaptado de Mizukami (1985)

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

Como você pode notar até aqui, sempre que há discussão sobre didática, há reflexão sobre as tendên-
cias pedagógicas, pois essa é uma disciplina que estuda o processo de ensino-aprendizagem, considerando
os objetivos educacionais, os conteúdos e os métodos e as formas de organização do ensino.

O processo de ensino-aprendizagem deve ser estudado sob variadas perspectivas e esse é um papel
importante da didática para a formação docente. Quando falamos em ensinar, falamos de práticas pedagó-
gicas e, quando falamos em aprender, precisamos lembrar que é preciso realizar algo com êxito, de forma a
alcançar determinado objetivo.

SAIBA MAIS

Para aprofundar mais os seus conhecimentos, indicamos a leitura do


seguinte artigo: SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos
e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de
Educação. v. 14, n. 40, jan./abr. 2009. Disponível em: www.scielo.br/pdf/
rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf. Acesso em: 10 mar. 2023.

O caminhar pedagógico nos leva ao entendimento de que, no processo educacional, o aluno não é
um mero receptor de conteúdos e sim um sujeito histórico e um construtor de seu conhecimento, por meio
de competências e habilidades que devem ser desenvolvidas também pelo sistema escolar. Para que isso se
efetive, o docente tem papel fundamental, pois, ao interagir com os alunos, construirá práticas e meios que
buscam conhecimento.

Mizukami (1985) enfatiza que a escola é o agente transformador da educação formal, por meio de suas
atividades socioeducativas. O fenômeno educativo é humano, histórico e dimensional, entendido por nós
como um fenômeno em constante construção do conhecimento, de competências e habilidades.

Vimos que a relação professor e aluno é fundamental no processo de ensino- aprendizagem, o qual
precisa ser afetuoso e dialógico. Ao compreender a prática do professor como uma atividade pedagógica, é
necessário entender e buscar os seguintes objetivos, apresentados na figura 03:
Figura 03 – Objetivos da prática pedagógica

1 Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro possível dos conhecimentos científicos.

Orientar as tarefas de ensino para fins educativos de formação de personalidade, isto é, auxiliar os alunos a
2
escolherem um caminho na vida.

Criar as condições e os meios para que os alunos desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais, de
3 modo que dominem métodos de estudo, visando à sua autonomia no processo de aprendizagem e formas
de organização do ensino.

Fonte: adaptada de Libâneo (2007, p. 71)

Na perspectiva de Libâneo (2007, p. 71), para que o professor possa atingir efetivamente os objetivos,
é necessário um conjunto de operações didáticas, tais como: planejamento, direção do processo de ensino-
-aprendizagem e avaliação.

34
FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

Essas são algumas das atribuições que o docente precisa para o desempenho de suas tarefas e que
formam o campo e o objeto de estudo da didática. Portanto, a disciplina em questão fornece um apoio es-
sencial à formação dos professores, possibilitando conhecimentos específicos para o exercício pleno e com
qualidade na sua profissão.

Essa mudança de postura na relação professor-aluno, do ensino tradicional para um ensino dialogado
e não transmissivo, ocorre no final dos anos 1970 e princípio dos anos 1980, havendo uma mudança de pa-
radigma decorrente dos movimentos sociais. Aqui, o professor é mediador entre o saber sistematizado e os
envolvidos na prática educativa.

Nesse sentido, aproveitamos para lembrar o que diz Candau (2010, p. 76) sobre o papel do professor
nessa relação: “[...] a sua ação deve estar fundada a partir de uma premissa: a reconstrução do conhecimento
pelo aluno”. O que isso quer dizer? Que o professor deve negar a transmissão de conceitos, regras e noções
abstratas que não tenham semelhança com a realidade da qual alunos e professor fazem parte.

Outro ponto importante que merece destaque quando se trata da relação professor-aluno é a de que
o professor possui saberes que resultam da apropriação sobre o que realizou em sua prática de vida e dos
saberes histórico-sociais acumulados, ele não é só fruto da vida na escola. Assim, as relações que estabelece
com os alunos partem das suas experiências pessoais e também da sua história de vida.

Sabemos também que motivar os alunos não é uma tarefa simples. Algumas vezes, o professor conhe-
ce as teorias e as técnicas que pode aplicar para motivar as aprendizagens, mas ele mesmo não está motivado
para isso. Consequentemente, os alunos sentem essa desmotivação do professor e acabam por não demons-
trarem entusiasmo pela matéria ensinada.

Nesse contexto, outras situações que podem ser prejudiciais referem-se à insatisfação de exigências
que se sobressaem à necessidade de conhecimentos, como, por exemplo, um aluno com fome ou muito
cansado pode ter menos motivação. Um aluno que está com problemas familiares ou se sente isolado da
turma na escola também pode não ter motivação para aprender. Desse modo, o olhar atento do professor,
que busca construir uma melhor relação professor-aluno e favorecer o processo de ensino-aprendizagem de
todos, é fundamental.

Precisamos ter em mente que o discente é “[…] um ser historicamente situado, pertencente a uma de-
terminada classe, executor de uma prática social com interesses próprios e que não pode ser ignorado pela
escola” (TAVARES, 2011, p. 44).

Outro autor que discute sobre a motivação para aprender é Juan Ignácio Pozo. Nessa mesma linha de pen-
samento, Pozo (2002) apresenta processos auxiliares de aprendizagem. Para esse autor, a motivação para aprender
é importante. Com motivos para fazê-lo, a aprendizagem será alcançada com maior facilidade. Também é preciso
atenção, ou seja, por termos uma capacidade limitada de memória de trabalho, é importante ter foco e atenção no
que está sendo ensinado e assim evitar distrações que fogem dos objetivos da aprendizagem.

Outro ponto apresentado por Pozo (2002) é a recuperação e a transferência de aprendizagens anterio-
res que estão guardadas na nossa memória. Por fim, o autor fala da consciência e do controle dos mecanismos
de aprendizagem. Esse controle pode acontecer pelo próprio aluno ou pelo professor. O professor controla ao
impor condições para as situações de aprendizagem, a qual será mais eficaz se o próprio aluno controlar seus
processos, pois assim ele demonstrará consciência diante do processo educativo.

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

Ainda com relação à sistematização de ideias que levem à compreensão do processo de aprendizagem,
Pozo (2002 apud LOKCHIN; TEIEXEIRA, 2010, p. 8-9) nos apresenta alguns mandamentos em que os professo-
res deveriam basear suas intervenções. São eles:

I) O professor partirá dos interesses e motivos dos alunos; II) O professor partirá dos conhecimentos pré-
vios dos alunos. III) O professor dosará a quantidade de informação nova apresentada em cada tarefa. IV)
O professor fará com que condensem e automatizem os conhecimentos básicos que forem necessários
para futuras aprendizagens. V) O professor diversificará as tarefas e os cenários de aprendizagem para
um mesmo conteúdo. VI) O professor planejará as situações de aprendizagem em função dos contextos
e tarefas em que os alunos devam recuperar o que foi aprendido. VII) O professor organizará e ligará as
aprendizagens umas às outras, o mais possível, de forma que o aluno perceba as relações explícitas entre
elas. VIII) O professor promoverá entre os alunos a reflexão sobre seus conhecimentos, ajudando-os a criar
e a resolver os conflitos cognitivos que forem propostos a eles. IX) O professor deverá propor problemas de
aprendizagem ou tarefas abertas e promoverá a cooperação dos alunos para sua resolução. X) O professor
deve instruir os alunos no planejamento e organização de sua própria aprendizagem utilizando as estraté-
gias adequadas (2002 apud LOKCHIN; TEIXEIRA, 2010, p. 8-9).

Esses dez mandamentos de Pozo são interessantes e úteis para a profissão docente. O professor pode
repensar suas aulas, atividades e intervenções a partir deles. A aprendizagem será contextualizada e o aluno
será o centro do processo. Desse modo, a aprendizagem será mais interessante e motivadora.

Você concorda que a didática precisa assumir um papel significativo na formação continuada do edu-
cador? Converse com professores que possuem mais de dez anos de formação e questione se eles já reali-
zaram outros cursos após a formatura. E se não realizaram, por quê? O que acharam dos cursos? Eles foram
interessantes ou não? Caso não tenham realizado, por quê?

RESUMO
Para este capítulo, podemos destacar os seguintes aspectos:

• A função da escola, sobretudo na educação básica, é a construção da pessoalidade e da sedimen-


tação da cidadania;

• Não visamos uma formação específica em determinada disciplina e sim uma formação integral
do ser humano;

• Vivenciamos mudanças tecnológicas muito rápidas, em que os currículos escolares encontram


dificuldades para acompanhar. A saída é trabalhar com nossos alunos a interpretação e a busca
autônoma por conhecimento;

• O ideal é que o trabalho docente tenha relação com a realidade da qual alunos e professores
fazem parte;

• É fundamental que o futuro educador conheça as características do ensino tradicional para que
possa superá-lo em suas práticas futuras;

• Deve-se entender que o ensino precisa partir do nível de conhecimentos, das experiências e do
desenvolvimento dos alunos, em uma ação conjunta em busca dos saberes.

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

Além disso, nas últimas páginas trabalhamos também com os conceitos e as práticas das abordagens
pedagógicas. Vimos que:

• A abordagem tradicional está centrada no conteúdo que é transmitido por meio de aulas expositivas;

• A abordagem comportamentalista é fundamentada no conhecimento e este molda os compor-


tamentos sociais. Desse modo, entende-se que os sujeitos são manipulados pela sociedade e são
produtos do meio;

• A abordagem humanista já apresenta uma mudança, pois o ensino é centrado no aluno, o enfoque
é interacionista no sujeito objeto. Nesse sentido, há preocupação com as relações interpessoais e o
crescimento do indivíduo. Para isso, o professor tem papel de facilitador da aprendizagem;

• A abordagem cognitivista preocupa-se com um ensino em que o desenvolvimento do aluno ocorre


por meio do construtivismo interacionista, criando uma ligação com a concepção piagetiana;

• A abordagem sociocultural reflete a abordagem interacionista entre o sujeito e o objeto de conheci-


mento. A escola é vista como via única para a educação formal e, ao mesmo tempo em que trabalha
conteúdos, precisa provocar uma atitude crítica reflexiva. Segue os passos pregados pelo trabalho de
Paulo Freire, na ênfase da educação popular e da alfabetização de jovens e adultos;

• O caminhar pedagógico nos leva ao entendimento de que, no processo educacional, o aluno


não é um mero receptor de conteúdos e sim um sujeito histórico e um construtor de seu conhe-
cimento por meio de competências e habilidades que devem ser desenvolvidas também pelo
sistema escolar. Para que isso se efetive, o docente tem papel fundamental, pois, ao interagir com
os alunos, construirá práticas e meios que buscam conhecimento.

REFERÊNCIAS
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Integral. Diretrizes Nacionais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
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Instituto Federal Sul-RioGrandence – Campos Passo Fundo. In: SIMPÓSIO HIPERTEXTO E
MACHADO, N. J. Sobre a ideia de competência. In: PERRENOUD, P.; THURLER, M. G. As Competências

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FORMAÇÃO DIDÁTICA
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO – COMPREENDENDO O PERFIL DISCENTE E OS SABERES PRESENTES NO PROCESSO DE ENSINO

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MIZUKAMI, M. das G. N. Ensino-aprendizagem: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1985.
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TAVARES, R. H. Didática Geral. Belo Horizonte: UFMG, 2011.
TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: REDES SOCIAIS E APRENDIZAGEM, 3., Recife. Anais eletrônicos…
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