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APRENDIZAGEM

NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR
Stella de Mello Silva
Presidente da Divisão Sul-Americana: Stanley Arco
Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos
Presidente do Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp: Maurício Lima

EAD
Reitor: Martin Kuhn
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Pró-reitor de educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva
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Editora Universitária Adventista

Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes;
Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante;
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Editor-chefe: Rodrigo Follis


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Editor associado: Werter Gouveia
Responsável editorial pelo EaD: Luiza Simões
Comercial e marketing: Francileide Carvalho
Vendas corporativas: Julio Cesar Ribeiro
APRENDIZAGEM
Stella de Mello Silva NA EDUCAÇÃO
Doutora em Educação pelo Instituto de
Biociências da UNESP SUPERIOR

1ª Edição, 2022

Editora Universitária Adventista


Engenheiro Coelho, SP
Aprendizagem na educação superior
Imprensa Universitária Adventista
1ª edição – 2021
Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp e-book (pdf)
Engenheiro Coelho, SP CEP 13448-900
Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172

www.unaspress.com.br

Editoração: Gabriel Pilon


Preparação: Luiza Simões
Revisão: Rochelle Lassarot Validação editorial científica ad hoc:
Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Debora Pierini Gagliardo
Capa: Jonathas Sant’Ana Doutoranda em Engenharia de Estruturas pela Universidade
Diagramação: Kenny Zukowski Estadual de Campinas – UNICAMP

Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Silva, Stella de Melo.


Aprendizagem no ensino superior [livro eletrônico] / Stella de Melo Silva. Engenheiro Coelho:
Unaspress, 2021.

1Mb, PDF

ISBN 978-65-89185-23-9

1. Metodologia de Pesquisa. I. Título.

CDD-001.4

Índices para catálogo sistemático:


1. Metodologia de pesquisa 001.4

OP 00123_075

Editoraassociada:

Todos os direitos reservados à Unaspress - Imprensa Universitária Adventista.


Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da
editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
SUMÁRIO

ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM,
LETRAMENTO CIENTÍFICO
E DE INFORMAÇÃO.................................................11
Introdução.........................................................................................12

Estratégias de aprendizagem ..........................................................14


Cognitivas.................................................................................20
Metacognitivas.........................................................................21

Letramento científico........................................................................24

Letramento informacional................................................................29

Ferramentas tecnológicas
de aprendizagem..............................................................................40

O trabalho acadêmico no AVA..........................................................44

Considerações finais.........................................................................49

Referências........................................................................................54

Referências Complementares...........................................................56
OS TIPOS DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO E OS
VOCÊ ESTÁ AQUI GÊNEROS TEXTUAIS DA ESFERA ACADÊMICA.........57
Introdução.........................................................................................58

Os diversos tipos de conhecimento..................................................59

O conhecimento científico................................................................63

Projeto de pesquisa:
primeira etapa de um trabalho de pesquisa....................................67

Gêneros textuais acadêmicos –


parte I (resumos e esquemas)..........................................................71

Gêneros textuais acadêmicos –


parte II (fichamentos e glossários)...................................................78
Briefing.....................................................................................84

Considerações finais.........................................................................85

Referências........................................................................................89
EMENTA
Apresentação das ferramentas
tecnológicas e formas de trabalho
acadêmico no ambiente virtual de
aprendizagem (AVA). Desenvolvimento
de competências e estratégias de
aprendizagem, letramento científico
e de informação. Caracterização de
trabalhos universitários, técnicas
e tecnologias para a escrita
colaborativa. Apresentação dos tipos de
conhecimento científico, levantamento
e seleção de informação em suas
diferentes abordagens.
CONHEÇA O CONTEÚDO
Aprendizagem na educação superior... Qua-
tro palavras nesta expressão...

Aprendizagem – Mais um pouco dela.


Tudo começou no pré, na educação infan-
til. Conhecendo outras crianças, ouvindo
canções singelas, pintando cartolinas, sur-
preendendo-se com as primeiras letras.
Posteriormente, o ensino fundamental: uma
mochila maior, outros contextos sociais,
outros recortes de leitura e novas descober-
tas intelectuais. Logo em seguida, o ensino
médio: Enem, vestibulares, a necessidade
de “tomar um rumo na vida”. Mas agora é
o ensino superior... Aquela criança do início
do parágrafo precisa continuar descobrindo,
tendo curiosidade, levantando hipóteses,
fortalecendo laços sociais, potencializando
capacidades e habilidades para se mostrar
um adulto diferenciado. Vamos conversar
sobre isso aqui.
Na... preposição “em” mais artigo femini-
no “a”. Palavra com valor de lugar, espaço,
território. A educação superior é seu novo
lugar. Vamos conversar sobre isso aqui.

Educação – Quem não quer? Quem não pre-


cisa? Quem nunca investiu nisso? Quem não
evolui depois de adquiri-la? Quem não deseja
refiná-la? Vamos conversar sobre isso aqui.

Superior – somos todos. Sem prepotência,


mas com autoestima. Dotados do milagre do
pensamento. Científico. Informacional. Reli-
gioso. Filosófico. Popular. Vamos conversar
sobre isso aqui.

Aceita o convite? Então, seja bem-vindo!


UNIDADE 2
OS TIPOS DE CONHECIMENTO
CIENTÍFICO E OS GÊNEROS
TEXTUAIS DA ESFERA ACADÊMICA

- Apresentar os tipos de conhecimento


OBJETIVOS

científico, levantamento e seleção de


informação em suas diferentes abordagens;
- Caracterizar trabalhos universitários, técnicas
e tecnologias para a escrita colaborativa.
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

INTRODUÇÃO
Olá, estudante!

É um prazer ter você aqui, na segunda unidade da


disciplina de Aprendizagem na educação superior. Certamente,
lhe encontro mais maduro na caminhada acadêmica, mais
consciente da importância do autoconhecimento e da apreensão
dos conteúdos científicos e informacionais – sobre os quais já
estudamos na primeira unidade.

Agora cabe, portanto, especificarmos um pouco mais


nosso estudo, não só no quesito “conhecimento” (seus
diversos tipos e aquele mais específico – o científico), mas
também nos gêneros textuais acadêmicos que embasarão a
organização e o compartilhamento das informações que forem
se transformando em conhecimento durante o curso. O projeto
de pesquisa é um desses gêneros, mas também vamos tratar dos
resumos e dos esquemas, dos fichamentos e dos glossários.

A partir deste contexto, ao final desta unidade,


esperamos que você:

• relembre os gêneros textuais: resumos,


esquemas, fichamentos e glossários;

58
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

• conheça o gênero textual “Projeto de Pesquisa”;

• aproprie-se dos diversos tipos de


conhecimento; em especial, o científico.

Bons estudos!

OS DIVERSOS TIPOS DE CONHECIMENTO


Seguindo a lógica de concepção desta disciplina, já
entendemos, na unidade 1, que o conhecimento depende de uma
série de variáveis para se constituir como tal. Deter a informação
não basta; é necessário que, além disso, tenhamos conhecimento
de mundo e autoconhecimento para viabilizar a aplicabilidade da
informação que apreendemos, transformando-a em conhecimento.
Mas talvez, ainda fique uma dúvida: esse conhecimento é de uma
única ordem ou existem vários tipos de conhecimento?

Tente refletir sobre o seu próprio processo de construção


de conhecimento… Certamente, você já se percebeu replicando
comportamentos ou ideias que seus pais ou avós defendiam e
sobre os quais você nunca se questionou “por que faço isso”?;
“por que penso dessa forma”? Quando agimos movidos pelo
senso comum, estamos fazendo-o motivados pelo conhecimento

59
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

popular, vulgar, e não pelo conhecimento


científico. Uma coisa é fazermos um bolo
de chocolate delicioso a partir da receita
de família, compartilhada de geração em
geração; outra coisa é fazermos a mesma
iguaria depois de termos frequentado um
curso de culinária baseado em pesquisa, Tanto o
experimentação e validação ou refutação cientista
dos resultados de cunho físico-químico. quanto o
Resumindo: um tipo de conhecimento homem
não exclui o outro! Para se ter acesso à comum podem
verdade não é preciso, necessariamente, observar
buscar a ciência de modo totalitário –
o mesmo
mesmo porque, tanto o cientista quanto o
objeto ou um
homem comum podem observar o mesmo
fenômeno
objeto ou um fenômeno qualquer, só que
de formas diferentes.
qualquer, só
que de formas
A fim de entender melhor o diferentes.
assunto, a Figura 11 apresenta – a partir
da obra Fundamentos da metodologia
científica, de Marconi e Lakatos (2008),
referindo-se à Trujillo (1974-11) – uma
sistematização das características dos
quatro tipos de conhecimento:

60
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

Figura 11 – Tipos de conhecimento

CONHECIMENTO POPULAR CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Valorativo Real (factual)


Reflexivo Contingente
Assistemático Sistemático
Verificável Verificável
Falível Falível
Inexato Aproximadamente exato

CONHECIMENTO RELIGIOSO CONHECIMENTO FILOSÓFICO

Valorativo Valorativo
Inspiracional Racional
Sistemático Sistemático
Não verificável Não verificável
Infalível Infalível
Exato Exato

Fonte: Trujillo (1974 apud MARCONI e LAKATOS, 2008, p, 77-78)

Numa tentativa de direcionar seus estudos para a


ótica do conhecimento científico - visto que agora você é um
universitário e precisa ajustar seu pensamento para essa
esfera de circulação de informação – traçaremos um paralelo
entre dois dos conhecimentos supra apresentados: o popular
e o científico, para que sejam esclarecidas as diferenciações
entre ambos, valorizando-os cada qual em sua linha de
atuação. Para tanto, leia com atenção a Figura 12:

61
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Figura 12 – Paralelo entre conhecimento popular e conhecimento científico

CONHECIMENTO POPULAR CONHECIMENTO CIENTÍFICO

• Valorativo: valores do observador são • Real (factual): trabalha a partir de fatos


agregados ao objeto estudado. e ocorrências.

• Reflexivo: a formulação de hipóteses • Contingente: hipóteses podem ser


fica comprometida frente ao grau de validadas ou refutadas por meio da
familiaridade do observador frente ao objeto. experimentação.

• Assistemático: a organização dos • Sistemático: parte do pressuposto


elementos observados é mediada por de que a formulação de ideias
fatores subjetivos. correlacionadas deve dar conta do objeto
de estudo.

• Verificável: o que pode ser verificável está • Verificável: hipóteses validadas


relacionado ao que pode ser observado dentro permanecem no âmbito da ciência; as
da esfera do observador. refutadas são extintas do âmbito científico.

• Falível: baseia-se no que é observável e • Falível: a despeito das experimentações,


assimilado pelo senso comum. acredita-se que nada é definitivo,
absoluto ou final.

• Inexato: visto que é falível, não • Aproximadamente exato: novos estudos,


há possibilidade de formulação de novos experimentos, novas metodologias
hipóteses verificáveis - filosófica e e tecnologias podem reformular o
cientificamente falando. conhecimento já existente.

Fonte: elaborado pelo autor

62
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

Portanto, o que se pode depreender de ambas as figuras


últimas? Que o homem é um ser multifacetado, passível de
construir e compreender vários tipos de conhecimento. Que
o conhecimento popular/vulgar, o senso comum, é usual e
primordial, mas não pode ser o único conhecimento aplicado à
vida. Que o conhecimento científico, principalmente na esfera
acadêmica, dá credibilidade à informação circulante neste
âmbito social. Que o conhecimento acadêmico, diferentemente
do popular, exige procedimentos de experimentação,
observação dos fatos, levantamento de hipóteses, lógica
organizacional e o mínimo de fidelidade às metodologias e
tecnologias de pesquisa.

Sendo assim, avancemos para o próximo capítulo, no qual


aprofundaremos o estudo sobre o conhecimento científico; este,
que baliza toda a trajetória acadêmica.

O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Agora que está claro o que aproxima e o que distancia o
conhecimento popular do conhecimento científico, este capítulo
vai apresentar dois vieses sobre o este último tópico: um, é a
conceitualização do termo conhecimento científico pela mestra
e doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento – da

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APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Universidade Federal de Santa Catarina - Rayse Kiane; o outro,


é uma entrevista esclarecedora de Sarita Albagli, professora
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação/
Ibict-UFRJ, para o Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia, em abril de 2020. Nela, a pesquisadora
faz importantes analogias entre a pandemia do Coronavírus e
a ciência contemporânea, mas, acima de tudo, avalia o papel
da informação nesse processo, bem como o inegável espaço do
compartilhamento de dados nesse contexto.

Partamos, portanto, do conceito do termo “conhecimento


científico” – tácito e explícito, lendo a Figura 13:

Figura 13 – Conceito de “conhecimento científico” tácito e explícito


CONHECIMENTO CIENTÍFICO
"[...] conhecimento produzido a partir de atividades científicas, envolvendo experimentação e coleta
de dados, sendo seu objetivo demonstrar, por argumentação, uma solução para um problema
proposto, em relação a uma determinada questão. É derivado da aplicação de métodos mais formais
que visam aumentar o rigor em relação a diferentes posições sobre validade e confiabilidade."

EXPLÍCITO
"[...] aquele formalizado em artigos, revistas, manuais, bases de dados, portais do
conhecimento, ou seja, pode ser comunicado por sistemas estruturados ou meios
formais, compreendendo a literatura científica."

TÁCITO
"[...] possui uma difícil transmissão por textos ou sistemas, sua transmissão
acontece nas relações entre cientistas e está atrelado à experiência e à
competência do pesquisador."

Fonte: http://bit.ly/2Y7p7FM (Acesso em 30 dez. 2020)

64
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

Ou seja, o conhecimento que circula no âmbito


tácito necessita, inclusive, para avançar e progredir, ser
compartilhado em redes de colaboração de pesquisa, em
eventos acadêmicos, com a sociedade civil e acadêmica. Caso
contrário, instauram-se feudos informacionais que pouco
contribuem com a melhoria do mundo.

Agora, em continuidade à estrutura programada para esse


capítulo, leia a entrevista da professora Sarita Albagli (UFRL),
como uma espécie de aplicabilidade dos conceitos expostos da
última figura, já que o pano de fundo é o contexto pandêmico da
COVID-19 e o papel da ciência aberta, do conhecimento científico
explícito e tácito. Continue a leitura do ebook a partir daqui apenas
depois de assistir a entrevista, pois ela será fundamental para
continuarmos o nosso aprendizado. Acesse a entrevista no link a
seguir: https://www.youtube.com/watch?v=y5JbOGT4aCs.

Creio ter ficado clara a relação entre a entrevista de Albagli


e tudo o que temos estudado nesta disciplina! A começar
pela tomada de consciência de que todos vocês, alunos desta
instituição de ensino superior, precisam dominar as estratégias
de aprendizagem para potencializarem o pensamento crítico
e a leitura de mundo a partir das informações recebidas;
perpassando pela necessidade de um letramento científico e
informacional para validarem com maior precisão seus próprios

65
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

estudos; e por fim, compreendendo que os vários tipos de


conhecimento mas, em especial o científico, lhes ajudam a
fortalecer os argumentos acadêmicos de pesquisa.

Se todas essas etapas foram assimiladas, então a entrevista


fez sentido, porque nela lemos que a relação entre ciência e
sociedade precisa ser fortalecida (e, como universitários em
formação, vocês se colocam tanto como pesquisadores quanto
como cidadãos); a sociedade deve apoiar com capital, dados,
conhecimentos e questões a ciência (e vocês, universitários,
interpretam e produzem conhecimento científico o tempo
todo, apoiando a ciência de alguma forma); novas linguagens,
formas e meios de comunicação precisam ser estabelecidos
entre a ciência e a sociedade (como universitários, vocês
estão recorrentemente criando espaços comunicacionais para
compartilharem suas descobertas e reconhecerem as descobertas
de outros); a sociedade precisa se formar, se capacitar, ter
perspectiva crítica em filtrar e utilizar a informação disponível
(é tudo o que vocês, enquanto universitários, fazem enquanto
estudam: se capacitam criticamente para depreenderem o que
leem); grupos de pesquisa precisam dialogar, gerando escrita
colaborativa sobre ciência, de preferência multi e interdisciplinar
(se vocês, como universitários, ainda não se aliaram a algum
grupo de pesquisa do curso, façam isso o quanto antes – estarão
contribuindo para o avanço da ciência)

66
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

PROJETO DE PESQUISA:
PRIMEIRA ETAPA DE UM
TRABALHO DE PESQUISA

Não caberia a esse estudo explicitar,


detalhe a detalhe, o processo de
confecção de um projeto de pesquisa. A
intenção deste capítulo 3, em específico,
é apresentar as características gerais
deste gênero textual cuja importância
é indiscutível, já que precedem aos
trabalhos finais de conclusão de curso
as monografias, os artigos científicos, A informação organizada,
os portfolios, dentre tantos outros. Já nos gera conhecimento. O
conhecimento planejado,
capítulos seguintes – capítulos 4 e 5 - serão gera pesquisa. A pesquisa
apresentados outros gêneros de texto que criteriosa, gera uma socie-
facilitarão o identificar e o sistematizar dade mais bem equipada
para a vida.
das informações necessárias para a escrita
Fonte: Shutterstock
eficiente do texto em questão. Sempre é
importante lembrar que, antes de mais
nada, o estudante pesquisador precisa
ter claro em sua mente: se o tema com
o qual deseja trabalhar na pesquisa
é interessante; se já possuiu algum

67
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

conhecimento sobre o assunto; se haverá


tempo necessário para a pesquisa que
deseja empreender; se o tema escolhido
contribui, de alguma forma, com o avanço
da ciência, da educação ou da sociedade;
qual o problema que o tema escolhido
pretende resolver; se existem fontes Invista
fidedignas e acessíveis para a realização tempo para
da pesquisa. Ou seja: o ideal é investir refletir sobre
tempo para refletir sobre o “tema” da o “tema” da
pesquisa e todas estas questões colocadas pesquisa. São
anteriormente, porque são as respostas a as respostas
estes dilemas que dirão se seu projeto será encontradas
promissor ou trará mais do mesmo. que dirão se
seu projeto será
Com o avançar do curso, na promissor ou
disciplina de Iniciação Científica, você trará mais do
receberá orientações pontuais sobre mesmo.
como escolher e fixar um tema de
pesquisa; como selecionar, ler e estudar
as fontes de pesquisa; como selecionar
os problemas de pesquisa e formular
hipóteses para respondê-los; como
decidir sobre o tipo de pesquisa.

68
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

Entretanto, por agora, atente à estrutura básica desse


gênero textual da esfera acadêmica, já imaginando sobre qual
tema gostaria de tratar nesse processo.

3.1. INTRODUÇÃO
É neste capítulo que você explica o motivo pelo qual escolheu
o tema da pesquisa, aponta os principais teóricos que embasam
seu tema, explicita o método que usará para pesquisar e descreve
as hipóteses e os resultados que pretende conseguir, todos eles,
obviamente, relacionados ao seu problema de pesquisa.

3.2. JUSTIFICATIVA
Neste momento do projeto de pesquisa, é preciso pontuar
qual a relevância do tema escolhido, a partir da ótica social,
científica, pessoal e educacional. Também é muito importante
relacionar essas contribuições aos resultados que você espera
alcançar com sua pesquisa.

3.3. OBJETIVOS
Na maioria dos projetos de pesquisa exigidos pelas
instituições de ensino, os objetivos subdividem-se em gerais e
específicos. Os primeiros, grafados com verbos no infinitivo,
apontam para o que se deseja alcançar por intermédio da
pesquisa. Já os segundos, apontam para as subdivisões dos
objetivos gerais, especificando o curso da pesquisa.

69
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

3.4. PROCEDIMENTOS
Os procedimentos de uma pesquisa têm por objetivo
descrever de que maneira e por quais meios serão realizadas a
coleta de dados, análise e etc.

3.5. RECURSOS NECESSÁRIOS


Este item do projeto de pesquisa visa delinear quais
e quantos recursos serão necessários para a realização do
trabalho, sejam eles materiais (papel, computador, livros,
câmeras, laboratórios), humanos (professores, alunos,
cientistas, cidadãos comuns) ou financeiros (xerox, viagens,
softwares, gasolina, passagens).

3.6. CRONOGRAMA
Talvez seja nesse item do projeto que o estudante tenha a
maior clareza do todo, porque é no cronograma que ele articula
as atividades necessárias para a pesquisa ao tempo que deverá
disponibilizar para cada fase dela.

3.7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Todas as obras que forem citadas no corpo do texto de seu
projeto e todas as outras que serviram como fonte de consulta
para sua pesquisa, respeitando as normas técnicas de escrita
acadêmica (ABNT), devem ser inseridas neste capítulo.

70
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

AGORA É COM VOCÊ

Que tal tentar rascunhar seu projeto de pesquisa? Observe a estrutura


apresentada nesta unidade, abra uma pasta em seu Office chamando-a
de “Pré-projeto de Pesquisa” e insira ali artigos, entrevistas, livros em
PDF que contribuam, em primeira instância, com sua pesquisa inicial.
Além disso, tente organizar o sumário de seu pré-projeto! Parece insano
começar uma pesquisa do sumário, mas não é! Organizando o sumário,
você começa a ter uma noção geral do assunto que deseja pesquisar e
pode identificar capítulos e subcapítulos que se adequam melhor à lógica
de seu raciocínio. E se tiver mais coragem ainda, tente inserir, em tópicos,
algumas informações nesta estrutura básica de projeto de pesquisa que
apresentamos acima. Tente! Será um exercício bem interessante nesse
início de carreira acadêmica!

GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICOS –


PARTE I (RESUMOS E ESQUEMAS)
Como dito no capítulo anterior, os dois próximos capítulos
têm por objetivo apresentar gêneros de texto que facilitarão o
identificar e o sistematizar das informações necessárias para a
escrita eficiente de um projeto de pesquisa.

Para tanto, na intenção de fazermos um recorte de estudo


para este capítulo 4, sugerimos os seguintes gêneros textuais:

71
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

o resumo e o esquema. Certamente, você deve estar se


perguntando sobre as motivações que impulsionaram a escolha
por estes gêneros, em específico. Resposta: são, inicialmente, os
gêneros que lhe ajudarão, de maneira mais eficiente e eficaz, a
estabelecer as diferenciações marcantes entre o conhecimento
popular e o conhecimento científico; entre o que é acadêmico e
o que é senso comum. Iniciemos, portanto, com o conceito do
gênero “resumo”:

[...] processo de condensação; é preciso destacar as ideias


(os fatos) principais do texto-base, e respeitar a progressão
dessas ideias ou fatos e o modo como se correlacionam.
[...] o autor deve expressar objetivamente, com as próprias
palavras, o que o texto-base contém de essencial. Não
se trata de fazer ‘colagem’ de frases pinçadas nem de
traçar comentários e avaliações sobre o conteúdo do texto
original, mas sim de destacar suas ideias centrais.

GOLDSTEIN; N.; LOUZADA, M.S.; IVAMOTO,


R. O texto sem mistério: leitura e escrita na
universidade. São Paulo: Ática, 2009, p.161.

Observe que é possível fazer um “resumo” do próprio


conceito de “resumo”, ou seja: resumir é destacar ideias
principais do texto-base de forma progressiva, com texto
próprio, sem avaliações a respeito do conteúdo originário.

72
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

Mas e o “esquema”? Qual a definição para este gênero


textual? Esquema é a mesma coisa que resumo? Vejamos o que
Pereira e Silva (2007, p. 757) conceituam como “esquema”:

[...] um gênero textual de meio de produção gráfica que


tem como função sociocomunicativa apresentar de forma
sintética e de rápido reconhecimento as principais partes de
um conteúdo ou assunto lido. Por ser um instrumento de
estudo do texto, o esquema de leitura é bastante utilizado
pelos interactantes dos domínios acadêmico e escolar.

Perceba que, aparentemente, o gênero textual esquema


pode ser muito parecido com o resumo, mas, se olhado com
maior critério, a conclusão será que o segundo se alimenta
do primeiro; se o resumo é a condensação de um texto-base,
o esquema é a condensação do resumo, em linhas gerais.
Leia a Figura 14 e observe as maiores diferenciações entre
ambos os gêneros:

Figura 14 – Diferenças entre resumo e esquema

RESUMO ESQUEMA

Registro de pontos específicos do Registro de pontos específicos do


texto escrito, mas registrado em texto texto escrito, mas registrado em texto
sintaticamente elaborado. graficamente elaborado.

73
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

RESUMO ESQUEMA

Não é necessário que o leitor externo Para ser entendido por um leitor
tenha leitura prévia do texto-base para externo, é necessário que este tenha
compreender o resumo. uma compreensão maior do texto-base.

Escrito em prosa, com parágrafos de Escrito em tópicos objetivos e


sentido completo. sentenças sucintas.

Apoia-se nas ideias gerais do texto-base Apoia-se na hierarquia das palavras,


e seu encadeamento original. das frases e dos parágrafos-chave.

Fonte: elaborado pelo autor

É curioso notar que o diferencial mais importante entre


resumos e esquemas seja a apresentação estética que possibilita,
por meio da representação gráfica, diversas formas da
informação corresponder ao modo de estruturação do estudante.
Algumas possibilidades de organização de esquemas são citados
por Ângela Dionísio e Leila Vasconcelos (2013) no artigo de
GUIMARÃES, D.; NUNES, G.; PEREIRA, R. (2017, p.45):

a. esquema de setas ou flechas: caracteriza-


se pela presença de setas e pode assumir
a forma linear, horizontal ou vertical,
piramidal, circular ou, ainda, retangular;

74
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

b. esquema de chavetas: contém o sinal


gráfico chaves em forma linear-horizontal,
cuja função é concatenar ideias primárias a
secundárias e assim sucessivamente;

c. esquema de subordinação: possui dois


subtipos: o numerado e o de letras. O
numerado configura-se por meio da
enumeração de ideias, e o que diferencia as
ideias principais das complementares são
as sequências numéricas, as quais devem
ser de um tipo para as ideias principais e de
outro tipo para as ideias complementares. O
subtipo de letras assemelha-se ao numerado
e segue a mesma lógica hierárquica deste, a
única coisa que os discrimina são as letras,
utilizadas no lugar dos números;

d. esquema de retângulos: constitui-se por


meio de retângulos ligados por linhas e sua
organização pode ser linear, horizontal ou
vertical, piramidal ou retangular;

e. esquema de ideias: tipo mais confundido


com o diagrama, possui uma ideia central

75
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

e dela saem diversas linhas que têm a


função de ligar a ideia fundamental às
subordinadas, apresentando uma hierarquia;

f. esquema misto: apresenta dois ou mais tipos


de esquema.

O professor José Artur Teixeira Gonçalves (2019)


compartilhou, em seu blog, uma apresentação visual das
possibilidades dos esquemas apresentados anteriormente.
Observe na Figura 15:

Figura 15 – Tipos de esquemas

Fonte: http://bit.ly/3c67yhj (Acesso em 05 jan. 2021)

76
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

Portanto, é importante perceber que você, ao longo de sua


trajetória escolar, certamente já se debruçou sobre resumos e
esquemas, mas, a partir de agora, estes gêneros demandarão
maior atenção de sua parte porque, na universidade, ambos
potencializam e otimizam sua aprendizagem, colaborando para
o aprimoramento da seleção e hierarquização de informação
- elementos estes tão importantes para o ato do pesquisar,
de organizar e aplicar o conhecimento científico discutido
na academia. A proposta, agora, é conhecermos cada qual a
sua maneira particular de aprender e, de forma intencional,
elaborarmos resumos e esquemas de estudo que contribuam
para o sucesso acadêmico.

MATERIAL COMPLEMENTAR

Legenda das expressões “tipo”, “gênero” e “espécies” tex-


tuais: Segundo o artigo A caracterização de categorias
de texto: tipos, gêneros e espécies, de Luiz Carlos Travaglia
(2007, p. 41), “tipo”, “gênero” e “espécies” textuais são as-
sim conceituados: “O tipo pode ser identificado e carac-
terizado por instaurar um modo de interação, uma ma-
neira de interlocução, segundo perspectivas que podem
variar constituindo critérios para o estabelecimento de
tipologias diferentes. Alguns tipos que podemos citar,
divididos em sete tipologias, são: a) texto descritivo, dis-
sertativo, injuntivo, narrativo;

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APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

b) texto argumentativo stricto sensu e argumentativo


não-stricto sensu; c) texto preditivo e não preditivo; d)
texto do mundo comentado e do mundo narrado; e)
texto lírico, épico/narrativo e dramático; f ) texto humo-
rístico e não-humorístico; g) texto literário e não lite-
rário. O gênero se caracteriza por exercer uma função
sociocomunicativa específica. Estas nem sempre são
fáceis de explicitar. A espécie se define e se caracteriza
“apenas” por aspectos formais de estrutura (inclusive
superestrutura) e da superfície linguística e/ou por as-
pectos de conteúdo”.
Disponível em: <http://bit.ly/3c1oyp4>. Acesso em: 30 dez. 2020.

GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICOS –


PARTE II (FICHAMENTOS E GLOSSÁRIOS)
Há um senso comum na universidade, por vezes até velado
por professores e alunos, que os primeiros (e talvez únicos)
gêneros textuais dessa esfera de circulação devam ser aqueles
nos quais os discentes-pesquisadores já apresentem seus dados
de pesquisa, seu arcabouço teórico e sua metodologia de
análise. Entretanto, o que se observa – na maioria das vezes – é
que o alunado não consegue chegar a estes gêneros de maneira
satisfatória, exatamente porque não domina os gêneros que
precedem um pré-projeto de pesquisa, um projeto de pesquisa,
uma monografia, um artigo científico.

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Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

É entendendo tal contexto que avançamos, neste capítulo,


frente às possibilidades de gêneros textuais mais úteis,
ferramentais do início da carreira acadêmica, dando ênfase para
aqueles que nos auxiliarão no processo de aprendizagem do
conhecimento científico; dessa forma, serão estudados agora os
fichamentos e os glossários.

Assim como os resumos e esquemas, existem vários tipos


de classificação de fichamentos e isso acontece por conta da
esfera em que estes gêneros circulam, das intencionalidades
de quem os elabora, do contexto em que os interlocutores
estão inseridos, enfim. De qualquer modo, para este ebook,
optamos pela classificação apresentada por Henrique e
Medeiros (1999, p.59): i) fichamento de transcrição (ou
citação direta); ii) fichamento de indicação bibliográfica; e iii)
fichamento de resumo.

FICHAMENTO DE TRANSCRIÇÃO OU CITAÇÃO DIRETA


O fichamento de transcrição textual também é chamado
de fichamento de citação direta porque, como a própria
nomenclatura sinaliza, é uma transcrição exata das ideias e
das frases que serão usadas, eventualmente, na redação do
seu trabalho acadêmico futuro: sua monografia, seu artigo
científico e assim por diante. Veja um exemplo deste tipo
de fichamento:

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APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

MAPAS MENTAIS PARA TODAS AS OCASIÕES (pp. 66 – 67). Sexto capítulo.


BUZAN, Tony. Mapas mentais: métodos criativos para estimular o raciocínio e
usar ao máximo o potencial do seu cérebro. Rio de Janeiro: sextante, 2009.

“A agenda no formato de Mapa Mental representa todas as instruções associadas à criação


de um simples Mapa Mental: cores, imaginação, símbolos, códigos, humor, sonhos,
abrangências, perspectiva, associação e ritmo visual” (p.66)
“Seu planejamento anual pode ser organizado por tema, estação do ano, mês ou em
qualquer estilo de ordenação básica que você considere apropriado” (p. 67)
“Ramificações divisórias geralmente incluem assuntos (ideias de ordenação básicas) como:
família e amigos; finanças e trabalho; criatividade e lazer; saúde e bem-estar.” (p.67)

FICHAMENTO DE INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA


O fichamento de indicação bibliográfica é uma espécie
de “apresentação” da obra lida, total ou parcialmente. Aqui,
o texto-base é descrito e comentado, na intenção de delimitar
o conteúdo do livro/artigo para facilitar futuras consultas
acadêmicas. Observe o modelo:

BUZAN, Tony. Mapas mentais: métodos criativos para estimular o raciocínio e


usar ao máximo o potencial do seu cérebro. Rio de Janeiro: sextante, 2009.

A obra insere-se no campo da neurociência e da metodologia de pesquisa. O autor trabalha


com a conceituação do termo “Mapas Mentais” e ensina a técnica passo a passo. O livro
ainda apresenta possibilidades da mesma técnica de esquematização da informação
também ser aplicada no ambiente escolar, mercadológico, no âmbito pessoal e social.

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Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

FICHAMENTO DE RESUMO
O fichamento de resumo é uma síntese das ideias centrais
da obra que você está estudando. Neste caso, diferentemente
do fichamento de citação, o estudante elabora um texto próprio,
com suas palavras, mas respeitando a ideia central do autor
lido. Dê uma lida no exemplo a seguir:

MAPAS MENTAIS PARA TODAS AS OCASIÕES (pp. 66 – 67). Sexto capítulo.


BUZAN, Tony. Mapas mentais: métodos criativos para estimular o raciocínio e usar
ao máximo o potencial do seu cérebro. Rio de Janeiro: sextante, 2009.

A ideia de Mapa Mental tradicional pode ser um mote para a elaboração de outros gêneros
textuais que tendem a organizar a rotina mental de um leitor/pesquisador.
A agenda, o planejamento anual de um aluno, também podem ser organizados respeitando
as premissas de um Mapa Mental.

Quanto ao gênero glossário, não se engane: ele também se


subdivide em vários tipos. Conheça alguns deles:

• glossários de obras literárias: explicitam


neologismos sem comprometer a leitura.

• glossários de trabalhos acadêmicos: explicam


termos técnicos e específicos ao leitor.

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APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

• glossário bilíngue: traduzem uma palavra/


expressão de um idioma para outro.

• glossário ambiental: esclarecem vocábulos


relacionados à área ambiental.

Dentre todos os outros gêneros até aqui apresentados,


este é o mais simples de ser organizado; porém, é o menos
utilizado nas atividades diárias dos estudantes. Isso acontece
porque, geralmente, ou tentamos entender as palavras que não
conhecemos pelo contexto do texto (e, para isso, não recorremos
ao dicionário), ou prosseguimos com a leitura incompreendida
na esperança de que, futuramente, os significados sejam
descobertos por si mesmos.

Todavia, partindo da lógica de que a construção de


significados de um texto começa do mínimo para o máximo
– ou seja, das palavras para as frases; das frases para os
parágrafos; dos parágrafos para os capítulos; e assim por
diante... – se a semântica de alguma expressão não for
compreendida ou for mal compreendida, compromete-se a
ideia fudamental do texto-base.

Conceitualmente, o “glossário” nada mais é do que:

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Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

“[...] um instrumento lexicográfico que opera um recorte


no acervo lexical da língua, ou seja, efetua um inventário
limitado de signos linguísticos e, então, procede à sua
definição por meio da descrição parcial ou total dos seus
significados. Sua finalidade principal é ser um instrumental
que sirva de suporte ao estudo de textos de uma mesma
natureza ou de temática similar.” (CARDOSO, 2012, p. 1-2)

Nesse contexto, o glossário não tem uma estética


definida, mas, sim, obriga-se a atender as necessidades
lexicais do estudante universitário quanto à sua área de
conhecimento e a todas aquelas com as quais esta primeira
área dialogar. Elaborar um glossário é investir na amplitude
do vocabulário, das associações semânticas que este
estabelece com outros contextos além do texto-base e,
acima de tudo, explicitar termos e expressões
desconhecidas ao leitor leigo, que desconheça o assunto do
texto-base analisado.

Veja um exemplo de glossário retirado do ebook


Glossário de Ciência da Informação e Comunicação (2009, p. 27 e
28). Nele, a autora optou por uma sequência de informações
relacionadas ao termo que escolheu: conceito; sinônimos;
termos relacionados; notas de aplicação na área; referências.
Perceba:

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APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

BRIEFING

CONCEITO
É o conjunto de ideias organizadas em forma de
resumo que orienta equipes de trabalho para organizarem
um determinado projeto. No briefing são registradas as
informações relativas às etapas de um projeto, delimitando-se
as principais instruções para execução de tarefas e ações de um
planejamento. Ele se constitui como documento de apoio para a
avaliação e o acompanhamento das etapas de um projeto.

SINÔNIMO
Plano de pesquisa. Esboço de pesquisa.

TERMOS RELACIONADOS
Comunicação Organizacional. Marketing. Plano de marketing.

NOTAS DE APLICAÇÃO NA ÁREA


No âmbito do planejamento de marketing, ou mesmo para
melhor direcionar um projeto em uma unidade de informação,
o briefing pode ser utilizado como um importante documento
de orientação do planejamento e avaliação de serviços em
uma unidade de informação. Outro papel relevante desse
documento é facilitar a comunicação organizacional, ajudando

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Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

a melhor definir as especificidades e o alcance de um projeto em


determinado contexto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início desta Unidade 2, comprometemo-nos em
apresentar os tipos de conhecimento científico, discutir o
levantamento e a seleção de informação em suas diferentes
abordagens, caracterizar trabalhos universitários, técnicas
e tecnologias para a escrita colaborativa. Revisitando o que
foi estudado até aqui, portanto, percebemos que resumos,
esquemas, fichamentos e glossários não só fortalecem a escrita
colaborativa, mas também profissionalizam a escrita acadêmica
do estudante, o que aprimora a qualidade do levantamento, da
seleção e da interpretação dos dados de pesquisa, bem como
valoriza o conhecimento científico e sua divulgação não só entre
os pares, mas também, para além dos muros da universidade.

Notou-se, inclusive, que tanto o gênero “fichamento”


quanto o gênero “glossário” contribuem para o trajeto do
aluno universitário no sentido de: ampliar o vocabulário;
elucidar termos específicos da área de conhecimento; angariar
referências acadêmicas fidedignas; colaborar com a escrita
colaborativa; adequar o registro de escrita ao contexto

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APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

da educação superior. Enfim, ambas são ferramentas que


auxiliam na autorregulação de sua aprendizagem não só na
esfera social acadêmica, mas também no âmbito do mercado
de trabalho – a despeito de não serem as protagonistas dos
gêneros da esfera universitária.

A sugestão é que você prossiga cultivando o hábito de


elaborar textos – orais ou escritos – cada vez mais eficazes e
competentes a partir destes gêneros apresentados e, assim, gere
maior autoconfiança e promova a confiabilidade entre seus
interlocutores sociais.

RESUMO

Neste estudo, aprendemos que:

• existem diversos tipos de conhecimento (popular,


científico, religioso, filosófico), mas os eleitos para um
estudo comparativo nesta disciplina foram: o popular e o
científico – aquele que eu trago da minha experiência de
vida e o que eu construo na minha trajetória universitária;

• as principais diferenças entre o conhecimento


popular e o científico são:

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Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

CONHECIMENTO POPULAR CONHECIMENTO CIENTÍFICO

• Valorativo: valores do observador são • Real (factual): trabalha a partir de fatos


agregados ao objeto estudado. e ocorrências.

• Reflexivo: a formulação de hipóteses • Contingente: hipóteses podem ser


fica comprometida frente ao grau de validadas ou refutadas por meio da
familiaridade do observador frente ao objeto. experimentação.

• Assistemático: a organização dos • Sistemático: parte do pressuposto


elementos observados é mediada por de que a formulação de ideias
fatores subjetivos. correlacionadas deve dar conta do objeto
de estudo.

• Verificável: o que pode ser verificável está • Verificável: hipóteses validadas


relacionado ao que pode ser observado dentro permanecem no âmbito da ciência; as
da esfera do observador. refutas são extintas do âmbito científico.

• Falível: baseia-se no que é observável e • Falível: a despeito das experimentações,


assimilado pelo senso comum. acredita-se que nada é definitivo,
absoluto ou final.

• Inexato: visto que é falível, não • Aproximadamente exato: novos estudos,


há possibilidade de formulação de novos experimentos, novas metodologias
hipóteses verificáveis - filosófica e e tecnologias podem reformular o
cientificamente falando. conhecimento já existente.

• o conhecimento científico pode ser explícito e tácito;

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APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

• a relação entre ciência e sociedade precisa ser fortalecida


(e, como universitários em formação, vocês se colocam
tanto como pesquisadores quanto como cidadãos);

• a sociedade deve apoiar com capital, dados,


conhecimentos e questões a ciência (e vocês, universitários,
interpretam e produzem conhecimento científico o
tempo todo, apoiando a ciência de alguma forma);

• novas linguagens, formas e meios de comunicação


precisam ser estabelecidos entre a ciência e a sociedade
(como universitários, vocês estão recorrentemente criando
espaços comunicacionais para compartilharem suas
descobertas e reconhecerem as descobertas de outros);

• a sociedade precisa se formar, se capacitar, ter perspectiva


crítica em filtrar e utilizar a informação disponível (é tudo o
que vocês, enquanto universitários, fazem enquanto estudam:
capacitam-se criticamente para depreenderem o que leem);

• grupos de pesquisa precisam dialogar, gerando escrita


colaborativa sobre ciência, de preferência multi e
interdisciplinar (se vocês, como universitários, ainda não se
aliaram a algum grupo de pesquisa do curso, façam isso o
quanto antes – estarão contribuindo para o avanço da ciência);

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Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

• a estrutura básica de um projeto de pesquisa resume-se em:


introdução; justificativa; objetivos; procedimentos; recursos
necessários; cronograma; referências bibliográficas;

• resumir é destacar ideias principais do texto-base


de forma progressiva, com texto próprio, sem
avaliações a respeito do conteúdo originário;

• esquematizar tem como função sociocomunicativa


apresentar de forma sintética e de rápido reconhecimento
as principais partes de um conteúdo ou assunto lido;

• o fichamento pode ser de citações diretas, de


indicações bibliográficas ou de resumo;

• o glossário é um instrumental que serve de suporte ao estudo


de textos de uma mesma natureza ou de temática similar.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, S. T. Marketing, comunicação e vendas. João
Pessoa: Universitária, 2000.

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APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

CARDOSO, S.A.F. Gênero glossário: suporte para o trabalho


interdisciplinar. Anais do SIELP. Volume 2, Número 1.
Uberlândia: EDUFU, 2012. ISSN 2237-8758. p. 1-7. Disponível
em: <https://bit.ly/2MmIs3v>. Acesso em 05 jan. 2021.

DIONÍSIO, Angela Paiva e VASCONCELOS, Leila Janot.


“Multimodalidade, gênero textual e leitor” in GUIMARÃES,
D.; NUNES, G.; PEREIRA, R. Esquema: um gênero
facilitador na recepção e construção textual na universidade.
Revista Leia Escola, Campina Grande, v. 17, n. 2, 2017 – ISSN
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Acesso em 05 jan. 2021.

GOLDSTEIN; N.; LOUZADA, M.S.; IVAMOTO, R. O texto sem


mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática,
2009, p.161.

GONÇALVES, José. Como elaborar um esquema. Blog


Metodologia da Pesquisa, Presidente Prudente, 22 de abril
de 2019. Disponível em: <http://bit.ly/3c67yhj>. Acesso
em 05 jan. 2021.

HENRIQUE, A. & MEDEIROS, J. B. Metodologias e técnicas de


pesquisa. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 1999.

90
Os tipos de conhecimento científico e os gêneros textuais da esfera acadêmica

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria.


Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2008. Disponível em https://bit.ly/3pM97oK (Acesso
em 30 dez. 2020)

PEREIRA, Bruno Alves; SILVA, Williany Miranda da. O gênero


esquema no evento aula: funcionalidade e repercussões para
o processo de ensino/aprendizagem. IV Simpósio Internacional
de Estudos de Gêneros Textuais (SIGET), 2007, Santa Catarina.
Anais... Santa Catarina: Universidade do Sul de Santa Catarina,
2007, p. 756-766. Disponível em: <http://bit.ly/3cCQnEp>.
Acesso em 04 jan. 2021.

SIQUEIRA, J.C. Glossário de Ciência da Informação e


Comunicação. Ebook. Clube dos autores, 2009, 148 páginas.

TRAVAGLIA, L.C. A caracterização de categorias de texto: tipos,


gêneros e espécies. Alfa, São Paulo, 51 (1): 39-79, 2007. Disponível
em: <http://bit.ly/3c1oyp4>. Acesso em 30 dez. 2020.

TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da ciência. 3. ed.


Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.

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