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Bibliotecas Universitárias e

Especializadas
Componente curricular na modalidade de educação a distância

Ana Claudia Perpétuo de Oliveira


Possui graduação em Educação Artística – Habilitação em Música pela Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC) e Biblioteconomia pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações e
mestre e doutora em Ciência da Informação pela UFSC. Atua como professora na
Universidade Federal de Santa Catarina desde 2013, dedicando-se à pesquisa sobre
as temáticas ética profissional, bibliotecas públicas e comunitárias, políticas de
cultura e relações entre biblioteconomia e arte. Como bibliotecária atuou durante
15 anos em bibliotecas especializadas, universitárias e com políticas públicas de
cultura. Participa como pesquisadora do Grupo de Pesquisa Informação, Tecnologia
e Sociedade.

Chapecó, 2018
Reitor
Cláudio Alcides Jacoski

Pró-Reitor de Administração
José Alexandre De Toni

Pró-Reitora de Graduação e Vice-Reitora


Silvana Muraro Wilder

Pró-Reitor de Pesquisa, Extensão, Inovação e Pós-Graduação


Leonel Piovezana

Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento


Márcio da Paixão Rodrigues

Coordenação: Rosane Natalina Meneghetti Silveira Diretor: Paulo Sergio Jordani


Secretaria: Marcos Domingos Robal dos Santos
Revisão: Juliane Fernanda Kuhn de Castro
Comercial: Luana Paula Biazus
Assistente editorial: Caroline Kirschner Assistente Administrativo: Manon Aparecida Pereira de
Jesus
Conselho Editorial: (2016-2018) Titulares: Murilo Cesar Capa: Marcela do Prado, Juliane Fernanda Kuhn de Castro
Costelli (presidente), Clodoaldo Antônio de Sá (vice-
presidente), Celso Francisco Tondin, Rosane Natalina Diagramação: Marcela do Prado
Meneghetti Silveira, Cesar da Silva Camargo, Silvana Muraro
Wildner, Ricardo Rezer, Rodrigo Barichello, Mauro Antonio
Dall Agnol, Vagner Dalbosco, Claudio Machado Maia.
Suplentes: Arlene Renk, Fátima Ferretti, Fernando Tosini,
Hilário Junior dos Santos, Irme Salete Bonamigo, Maria
Assunta Busato.

Ficha catalográfica
_________________________________________________________________
O48b Oliveira, Ana Claudia Perpétuo de
Bibliotecas Universitárias e Especializadas / Ana Claudia
Perpétuo de Oliveira -- Chapecó, SC : Argos, 2018.
72 p.: il. color.; 28 cm.. -- (Coleção EaD, 65)

Inclui bibliografias

1. Bibliotecas especializadas. 2. Disseminação seletiva


da informação. 3. Bibliotecas universitárias. I. Título.

CDD: Ed. 23 -- 027.7


_________________________________________________________________
Catalogação elaborada por Roseli A. Teixeira CRB 14/631
Biblioteca Central da Unochapecó

Av. Sen. Attílio Fontana, 591-E - Bairro Efapi - Chapecó (SC)


CEP 89809-000 - Caixa Postal 1141 - Fone: (49) 3321 8088
E-mail: unovirtual@unochapeco.edu.br
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Educação a Distância - UnochapecóVirtual
CARTA AO ESTUDANTE

Seja bem-vindo!
Você está recebendo o livro do componente curricular de Bibliotecas
Universitárias e Especializadas.

No atual cenário educacional, em que, cada vez mais, as pessoas buscam por
uma formação complementar e há a inserção massiva das tecnologias de informação
e comunicação, a modalidade de educação a distância é vislumbrada como uma
importante contribuição à expansão do ensino superior no país, que permite formas
alternativas de geração e disseminação do conhecimento.
A educação a distância tem sido importante para atingir um grande contingente
de estudantes de vários locais, com disponibilidade de tempo para o estudo diversa,
além daqueles que não têm a possibilidade de deslocamento até uma instituição de
ensino superior todos os dias. Desta forma, a Unochapecó, comprometida com o
desenvolvimento do ensino superior, vê a educação a distância como um aporte para
a transformação dos métodos de ensino em uma proposta inovadora.
Levando em consideração o pressuposto da necessidade de autodesenvolvimento
do estudante da modalidade de educação a distância, este material foi elaborado de
forma dialógica, baseada em uma linguagem clara e pertinente aos estudos, além de
permitir vários momentos de aprofundamento do conteúdo ao estudante, através da
mobilidade para outros meios (como filmes, livros, sites).
Temos como princípio a responsabilidade e o desafio de oferecer uma formação
de qualidade, para tanto, a cada novo material, você está convidado a encaminhar
sugestões de melhoria para nossa equipe, sempre que julgar relevante.
Lembre-se: a equipe da UnochapecóVirtual estará à disposição sempre que
necessitar de um auxílio, pois assumimos um compromisso com você e com o
conhecimento.

Acreditamos no seu sucesso!

Diretoria de Educação a Distância


UnochapecóVirtual

Bibliotecas Universitárias e Especializadas


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.................................................................................. 7
UNIDADE 1 BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS E ESPECIALIZADAS.......... 9
INTRODUÇÃO....................................................................................... 11
1 AS BIBLIOTECAS SÃO MUITAS E MUITAS SÃO SUAS HISTÓRIAS........ 11
2 BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS.......................................................... 13
3 BIBLIOTECAS ESPECIALIZADAS.......................................................... 16
REFERÊNCIAS........................................................................................ 19
UNIDADE 2 DESEMPENHO DE SUAS FUNÇÕES JUNTO AOS USUÁRIOS
UNIVERSITÁRIOS E ESPECIALIZADOS................................................ 23
INTRODUÇÃO....................................................................................... 25
1 AS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS E ESPECIALIZADAS EM FUNÇÃO DE
SEUS USUÁRIOS.................................................................................... 25
1.1 Bibliotecas universitárias............................................................ 26
1.2 Bibliotecas especializadas........................................................... 28
2 O BIBLIOTECÁRIO: REQUISITOS PARA ATUAR EM BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS E ESPECIALIZADAS.................................................... 29
2.1 Bibliotecários que atuam em bibliotecas universitárias............. 31
2.2 Bibliotecários que atuam em bibliotecas especializadas........... 33
REFERÊNCIAS........................................................................................ 37
UNIDADE 3 CARACTERÍSTICAS DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS E
ESPECIALIZADAS............................................................................... 41
INTRODUÇÃO....................................................................................... 43
1 INFRAESTRUTURA.............................................................................. 43
1.1 Infraestrutura: Biblioteca Universitária...................................... 43
1.2 Infraestrutura: Biblioteca Especializada..................................... 44
2 SERVIÇOS.......................................................................................... 46
2.1 Serviços de bibliotecas universitárias ........................................ 46
2.2 Serviços em bibliotecas especializadas....................................... 48
3 GESTÃO E POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES............. 49
3.1 Desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias .... 52
3.2 Desenvolvimento de coleções em bibliotecas especializadas ... 53
3.3 Divulgação em bibliotecas universitárias e especializadas........ 54
REFERÊNCIAS........................................................................................ 58
UNIDADE 4 DISSEMINAÇÃO SELETIVA DA INFORMAÇÃO (DSI)........ 63
INTRODUÇÃO....................................................................................... 65

Bibliotecas Universitárias e Especializadas


1 SOBRE O SERVIÇO DE DSI.................................................................. 65
2 O SERVIÇO DE DSI NAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS E
ESPECIALIZADAS.................................................................................. 68
REFERÊNCIAS........................................................................................ 71

6 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


APRESENTAÇÃO

Olá, bem-vindos ao componente curricular de Bibliotecas Universitárias e


Especializadas!

Aqui trabalharemos conteúdos relevantes para melhor compreensão destas


duas categorias de bibliotecas. O objetivo deste componente curricular é identificar
as especificidades das bibliotecas universitárias e especializadas, bem como os
procedimentos operacionais para execução das atividades pertinentes aos objetivos
da unidade de informação.
O conteúdo do componente curricular foi organizado em quatro unidades,
conforme cronograma a seguir:

Carga horária Unidade


10 h Unidade 1. Bibliotecas Universitárias e especializadas
Unidade 2. Desempenho de suas funções junto aos usuários
10 h
universitários e especializados
Unidade 3. Características de bibliotecas universitárias e
10 h
especializadas
10 h Unidade 4. Disseminação Seletiva da Informação (DSI)

Na primeira unidade, introduzimos conhecimentos gerais acerca das duas


categorias de biblioteca em questão.
Em seguida, na segunda unidade, discutimos suas principais particularidades, a
partir do desempenho das funções das bibliotecas universitárias e especializadas junto
aos seus respectivos usuários. Nesse tópico, serão abordados também os requisitos
necessários para os bibliotecários que atuam nestas unidades informacionais.
Na terceira unidade apresentamos as particularidades no funcionamento
destes tipos de bibliotecas, a infraestrutura necessária, serviços, gestão e política de
desenvolvimento de coleções, bem como, o processo de divulgação em bibliotecas
especializadas e universitárias.
Finalmente, na quarta unidade, abordamos sobre o serviço de Disseminação
Seletiva da Informação, o DSI, serviço que caracteriza bem estes dois tipos de
bibliotecas.
Este material foi elaborado pensando em você. Atente para a leitura do material
e orientações para o desenvolvimento das atividades. Para maior consolidação de
conhecimentos, busque a reflexão e interação com o conteúdo disponível.

Bom estudo!
Ana Claudia Perpétuo de Oliveira

Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Unidade 1
Bibliotecas Universitárias e Especializadas

Objetivo:
• Conhecer mais sobre bibliotecas universitárias e especializadas a partir da
história e de noções gerais sobre estas duas categorias de bibliotecas.

Conteúdo programático:
• Bibliotecas universitárias;
• Bibliotecas especializadas.
Faça aqui seu planejamento de estudos

10 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


INTRODUÇÃO

Prezados alunos, nesta unidade iremos introduzir conceitos sobre bibliotecas


universitárias e especializadas a partir do entendimento das bibliotecas e suas categorias.
Esperamos que ao final da unidade vocês possam apresentar um conhecimento sobre
estas duas categorias de bibliotecas a partir da compreensão de suas diferenças em
relação às demais categorias existentes.

1 AS BIBLIOTECAS SÃO MUITAS E MUITAS SÃO SUAS HISTÓRIAS

Como todo elemento da cultura humana, as bibliotecas foram criadas como


resultado de uma necessidade, para melhorar a condição de vida das pessoas. Nesse
sentido, elas existem porque, em algum momento, o ser humano sentiu como inevitável
a guarda e a organização de documentos para, posteriormente, poder localizar este
registro do acúmulo de conhecimento adquirido ao longo dos tempos.
É comum associarmos biblioteca a um local com livros em seu acervo - a
maioria no suporte físico, em papel. Essa ideia foi consolidada porque as bibliotecas
nesta concepção representaram durante muito tempo o local de concentração do
conhecimento através deste suporte. Essa ideia vem se modificando a partir da
mudança de paradigma de centralidade no acervo para centralidade no público a que
serve e, também, a partir das inovações nos suportes e novas tecnologias de informação
e comunicação. Ainda assim, essa compreensão ainda presente de biblioteca - em
que estão em jogo um local (um prédio específico), uma coleção organizada, o
suporte desta coleção informacional e pessoas para pensar este espaço e os serviços
oferecidos pelo mesmo – nos oferece um bom começo para buscarmos ampliar o
que compreendemos por biblioteca e, mais adiante, as possibilidades de bibliotecas
universitárias e especializadas.
Os suportes de informação foram mudando ao longo dos tempos e, atualmente,
há uma diversidade deles. As pedras, tábuas de argila, papiro, pergaminho, papel (e
tantos outros) até, mais recentemente, os suportes digitais – todos – representaram
uma tecnologia para seu tempo.
A fixação do termo biblioteca foi possível a partir da existência de documentos
físicos e o suporte tradicional (papiro, pergaminho e papel) foi elemento crucial na
gênese da concepção e sentido da palavra – conforme Fonseca (2007) originária do
grego bibliothéke como junção dos termos biblión e théke. Théke, qualquer estrutura
que oferece “um invólucro protetor” (cofre, estojo, caixa, estante, edifício) e biblión,
o livro, a partir da raiz latina liber, se relaciona com a entrecasca de certos vegetais,
o material com que se fabricava o papel na Antiguidade (FONSECA, 2007).
Na Antiguidade, as bibliotecas se distinguiam pelo suporte da informação.
Martins (2002) enfatiza que, inicialmente, a partir do suporte, existiu a biblioteca
mineral (pedras, argila) e, posteriormente, a vegetal (papiro, papel) e animal
(pergaminho). O autor destaca que na Antiguidade as bibliotecas eram muitas,

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 11


mas tinham características diferentes das que percebemos atualmente, o acesso era
dificultado porque o foco central era o depósito do acervo – com o intuito maior de
esconder as obras do que preservar e difundir (MARTINS, 2002).
As bibliotecas mais famosas da Antiguidade foram a de Alexandria, de Nínive e
de Pérgamo - a primeira citada, a mais relevante deste período da história (BATTLES,
2003). Todas estas e outras tantas, foram alvo de saques e de incêndios provocados
não somente pelos ignorantes e perversos, mas por grandes filósofos, eruditos e
escritores. Alguns acreditavam que, ao eliminar vestígios das ideias de uma época,
promoveriam a superação do conhecimento humano; outros tinham vergonha do
que haviam escrito; mas os principais atores desta destruição tiveram como maior
motivação o desejo de eliminar o pensamento livre. A queima da biblioteca do inimigo
era a consagração da vitória (BÁEZ, 2004).

Reflita

Desde sua concepção, as bibliotecas constituíram relevante instrumento de


poder. Esta afirmativa leva em consideração o histórico das bibliotecas e toda
mudança evidente oportunizada por estes espaços, desde as mais opulentas
como a de Alexandria, já mencionada anteriormente, até as mais modestas
coleções privadas. O conhecimento sempre foi valoroso. Qual o valor do
conhecimento para a sociedade atual? Qual o papel de quem trabalha como
mediador deste valor?

A biblioteca - este invólucro protetor de documentos – como se pode perceber,


inicialmente era categorizada a partir de seu suporte em virtude da relevância
e da centralidade que o acervo representava. Atualmente suas categorias estão
comprometidas com o público a que se destinam e nesta direção emergem as
bibliotecas infantis, escolares, públicas, nacionais, comunitárias... Entre elas também
figuram as bibliotecas universitárias e especializadas, objetos centrais de nosso estudo.
Historicamente, a primeira categoria foi a das bibliotecas reais dos impérios
da Antiguidade - as bibliotecas nacionais como a nossa, foram formadas a partir das
antigas bibliotecas reais. No período medieval surgem as bibliotecas universitárias
e, posteriormente, as escolares e públicas (as bibliotecas infantis surgem como
serviços específicos destas duas últimas). Com o avanço da Ciência e da Tecnologia,
figuram as bibliotecas especializadas (FONSECA, 1981). As bibliotecas comunitárias
são categorizadas mais recentemente em um entendimento de que são parte de
um movimento social que se coloca diante da falta de acesso às bibliotecas públicas
(MACHADO, 2008).

12 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Reflita

“A história da palavra” (em algumas traduções “o nascimento da escrita”)


- que explicita a necessidade humana de expressar, registrar e preservar
as informações, acompanhando a trajetória das formas de comunicação
escrita a partir da escrita triangular cuneiforme, descoberta dos sumérios.
Retrata também a importância dos locais de tratamento e preservação destes
registros e como estavam dispostos nas cidades.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TVxmJoi-DDg>.

Em artigo de 1979, Nice Figueiredo já iniciava seu escrito mencionando que na


realidade latino-americana as bibliotecas universitárias e especializadas eram as que se
encontravam em melhor situação (FIGUEIREDO, 1979). Mesmo sem aprofundamento
teórico, podemos imaginar um pouco sobre estas bibliotecas, mas vamos investigar
um pouco mais. Qual o conceito de bibliotecas universitárias e especializadas para a
literatura científica?

2 BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS

A biblioteca universitária existe em função da comunidade universitária, logo,


todos os seus serviços serão direcionados prioritariamente para esta comunidade,
dando suporte ao tripé básico das Instituições de Ensino Superior (IES), ensino, pesquisa
e extensão.
Como pudemos verificar anteriormente, a biblioteca universitária é uma das
categorias de bibliotecas mais antigas. Surgem no fim do período medieval em meio
a mudanças que culminaram na criação de universidades, entretanto, as ordens
religiosas foram grandes responsáveis por sustentar este movimento (CARVALHO,
2004). Os professores eram, em sua maioria, membros do clero na Europa medieval.
O movimento que culminou no Renascimento e ideais humanistas representou uma
retomada da tradição clássica e, nas Universidades, boa parte destes humanistas
se colocou em oposição aos filósofos e teólogos que dominavam as Universidades
medievais (BURKE, 2002).
Veiga (2007) estabelece uma relação das primeiras universidades criadas com
seu tipo de formação, conforme tabela a seguir:

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 13


Tabela 1 – Primeiras universidades
Tipo de formação Universidade Ano de criação
Espontânea Oxford (Inglaterra) 1214
Montepellier (França) 1220
Bolonha (Itália) 1230
Paris (França) 1250
Formadas por Pádua (Itália) 1222
migração Cambridge (Inglaterra) 1318
Instituídas por Nápoles (Itália) 1224
autoridades Salamanca (Espanha) 1218
religiosas ou pela Valladolid (Espanha) 1250
nobreza Lisboa (Portugal) 1290
Criadas por decreto São Domingos (América Espanhola) 1538
real Lima (América Espanhola) 1551
México (América Espanhola 1551
Fonte: Veiga (2007).

Em fins do século XIII as Universidades estabelecem bibliotecas para atender suas


demandas (BATTLES, 2003). Tais bibliotecas surgem ainda na cultura do manuscrito,
portanto, há grande dificuldade na composição do seu acervo. A Sorbonne iniciou
sua biblioteca com a doação dos livros de Robert de Sorbon. A doação de obras -
por leigos ricos, nobres, instruídos e mercadores, para quem este patrocínio era a
manifestação de status social - foi uma relevante influência na criação das bibliotecas
(BATTLES, 2003).
De fato, o acervo era composto inicialmente por doações, pois havia escassez de
livros, o exemplar disponível era utilizado pelo professor que lia em voz alta enquanto
os alunos anotavam – estas anotações eram doadas para a biblioteca. Também
havia um comércio livreiro que realizava cópias das obras para quem pudesse pagar
(CARVALHO, 2004).
No século XV, com a invenção da prensa de tipos móveis por Johannes
Gensfleisch zum Gutenberg, esta realidade transforma-se radicalmente, conferindo
velocidade e capacidade de produção das obras a um custo menor. Xilogravador e
ourives de profissão, Gutenberg desenvolveu tipos móveis e a primeira máquina de
impressão, o grande incremento ao processo gráfico (FERNANDES, 2001).
Burke (2002) destaca que a ocupação de bibliotecário surge neste período
como uma das consequências sociais da organização da informação e da imprensa. Se
na alta Idade Média havia escassez, ausência de livros, no século XVI a problemática
era da superfluidade - o autor afirma que se percebia uma desordem de livros que
necessitava controle – questão ainda atual no contexto da mídia eletrônica. 
Foi a partir da criação das Bibliotecas Universitárias que o bibliotecário surgiu
de fato, como o organizador da informação e, consequentemente, no Renascimento,
consolidou seu papel como disseminador do conhecimento (MARTINS, 2002).

14 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


A tradição das instituições educacionais brasileiras é herança dos nossos
colonizadores, os portugueses. Moraes (2006) enfatiza que bibliotecas são
estabelecidas em solo brasileiro a partir da criação dos colégios dos jesuítas. Outro
marco importante na história das bibliotecas brasileiras com o protagonismo português
é a vinda da família real com toda Biblioteca Real, que culminou na primeira biblioteca
real brasileira, a atual Biblioteca Nacional.
As primeiras academias de ensino superior no Brasil surgem para atender a
necessidade de pessoas para assumir cargos públicos, com cursos isolados. Na Bahia
tem início no ano de 1808 o curso de Medicina e Economia, em 1812, o de Agricultura,
e em 1817, o de Química e Desenho Técnico (REIS, 2008).
As primeiras Universidades surgem no início do século XX e intencionam
aumentar o nível educacional dos brasileiros. As bibliotecas universitárias também
surgem neste período, assim como as escolas de formação de bibliotecários. Entretanto,
Reis (2008) destaca que a proliferação das Universidades acontece ainda no século
XX, no final da década de 60, com o aumento das Universidades a partir da união
das Faculdades isoladas, viabilizando a criação das bibliotecas centrais.
No Brasil há que se destacar a relevância das bibliotecas universitárias nas
IES, pode-se afirmar isso a partir de sua evidente importância para uma organização
do saber que se revela também a partir de um imperativo jurídico, ou seja, não há
possibilidade de uma IES funcionar legalmente sem que a biblioteca esteja presente
e com critérios para atender à comunidade acadêmica.
Há mecanismos para reforçar e garantir que a biblioteca universitária seja
contemplada nas IES. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) coloca premissas
para o ensino superior acerca de seu compromisso com o ensino, pesquisa e extensão
(BRASIL, 1996). A Lei 10.861, de 2004, instituiu o Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Superior – SINAES, sistema que, através do Ministério da Educação,
monitora sistematicamente e periodicamente o ensino superior com base na avaliação
das instituições, dos cursos de graduação (neste quesito avalia as instalações físicas
das bibliotecas e acervo para cada curso) e do desempenho dos estudantes (BRASIL,
2004).
Muitas mudanças ocorreram ao longo da história e continuam ocorrendo
na sociedade e impactam significativamente a estrutura das instituições de ensino
superior. Ao longo da história, algumas delas foram ressaltadas por Cunha (2000)
em artigo publicado no início do século XXI, como, por exemplo, a verticalização do
conhecimento centralizada na figura do professor, situação que vem se desconstruindo
em função dos avanços tecnológicos.
O autor também destaca a previsão do crescimento de cursos de nível superior a
distância e estabilização das bibliotecas digitais, modificações que atingem diretamente
as bibliotecas universitárias. Outra significativa mudança foi a informatização dos
catálogos, dos processos técnicos e de referência, a comutação entre bibliotecas, a
utilização de base de dados de artigos científicos e o desenvolvimento de uma coleção
de livros eletrônicos (CUNHA, 2000).
As bibliotecas universitárias são ativas na dinâmica de conhecimento das
instituições de ensino superior e as mudanças nos processos dessas bibliotecas podem

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 15


refletir mudanças também na formação dos estudantes, professores e colaboradores,
já que possuem grande relevância dentro da dinâmica de conhecimento de uma
instituição universitária (TARAPANOFF, 1982).

Saiba mais

ACESSE E CONHEÇA UM POUCO MAIS...


A seguir alguns links de bibliotecas universitárias para que possa navegar e
perceber suas características e especificidades:
Puc Campinas - <https://www.puc-campinas.edu.br/biblioteca/>
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - <http://www.udesc.br/
bibliotecauniversitaria>
Unochapecó - <https://www.unochapeco.edu.br/biblioteca/>
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - <www.biblioteca.ufpe.br/>
Universidade Federal do Amazonas (UFAM) - <http://biblioteca.ufam.edu.br/>

Há uma ligação entre as bibliotecas universitárias e especializadas. As primeiras


bibliotecas universitárias iniciaram como academias isoladas de cursos específicos,
concentrando um acervo direcionado para este público, uma coleção específica para
um público específico.

3 BIBLIOTECAS ESPECIALIZADAS

Tais bibliotecas direcionam seus serviços para grupos que atuam em áreas
específicas do conhecimento. Como exemplo podemos citar as bibliotecas de arte,
jurídicas, médicas, militares...
Para definir conceitualmente tais bibliotecas, assim como nas outras categorias,
leva-se em consideração a composição do acervo para o público que a constitui. Neste
caso, o público é sempre específico, menos diverso, como no caso das bibliotecas
públicas, por exemplo. Sobre esse tipo de usuário iremos tratar mais adiante, na
Unidade 2.

Figura 1 – Grupos de usuários de bibliotecas especializadas

Fonte: Vinícius Domingues Buch (2017).

16 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


As bibliotecas especializadas, como as concebemos hoje, surgem no início
do século XX em virtude do avanço científico e tecnológico, expandindo-se mais
acentuadamente após a Segunda Guerra Mundial. Estão vinculadas a diversas
organizações, desde indústrias a órgãos governamentais, institutos de pesquisa,
associações e outros agrupamentos profissionais, hospitais, bancos, escritórios, etc.
(FIGUEIREDO, 1979).
A industrialização e avanço das pesquisas e do sistema socioeconômico - nos
últimos anos do século XIX – trouxe um crescimento de publicações técnicas. Todo esse
movimento exigiu criação de unidades de informação como as bibliotecas para reunir
e armazenar esse conhecimento. Realmente, no início do século XX, como mencionado
anteriormente, o interesse pela investigação científica aumentou, principalmente no
período das grandes guerras. A biblioteca especializada emerge deste contexto histórico
em que surgiram centros e associações de pesquisa, instituições que se desenvolveram
com a biblioteca dando suporte para suas atividades ao proporcionar literatura técnica
específica para os especialistas. As indústrias começaram a disponibilizar para os
trabalhadores bibliotecas técnicas, que se ergueram com auxílio de bibliotecários de
bibliotecas públicas, as “bibliotecas de fábrica”, para dar suporte ao trabalho realizado
na indústria com a oferta de informação através de literatura técnica (FOSKETT, 1969).
Nesse período da história foram geradas grandes quantidades de informação, e
organismos responsáveis por organizar e recuperar informações – como as bibliotecas
- tiveram que lidar com esta nova realidade, ainda mais na prestação de serviços
a um público que demandava informação específica. Cesarino (1978) destaca que
modificações na prestação de serviços das bibliotecas ocorreram principalmente no
campo da pesquisa científica e industrial, promovendo informações aos pesquisadores
antes que solicitassem. Isso se relaciona com a disseminação seletiva da informação,
que veremos no último tópico desta unidade.
A distinção dos diversos tipos de bibliotecas, no caso das especializadas, se
deu em meio a algumas particularidades. Figueiredo (1978) levanta uma discussão
trazida por Strauss sobre outra atividade que tinha metas semelhantes às desenvolvidas
nas bibliotecas especializadas, a documentação. Entre elas, a diferença de que a
documentação atua mais com filosofia, com análise de assuntos, e a biblioteconomia
especializada, com a administração de serviços.
É possível encontrar na literatura outros termos para este tipo de biblioteca,
como biblioteca de empresa, centro de documentação, centro de informação, centro
de análise de informação... Também podem ser designadas bibliotecas especializadas
aquelas que tratam de um tipo ou espécie documental específica, como uma biblioteca
especializada em audiovisual, patentes ou obras de um determinado autor. De
todo modo, seja qual for a maneira como são denominadas e o que as denomina,
estas bibliotecas dedicam-se a organizar e disseminar informações sobre assuntos
especializados, específicos, particulares a um grupo. Este grupo é facilmente definido
como grupo de pesquisadores, técnicos que trabalham na organização em que a
biblioteca está inserida, não inclui necessariamente um público externo (CARIBE, 2017).

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 17


Miranda (2007, p. 88) destaca algumas características diferenciais da biblioteca
especializada:

• usuários com elevado nível de formação e exigentes nas suas pesquisas;


• os bibliotecários responsáveis pela biblioteca devem possuir conhecimento
na área a que se destina a coleção;
• acervo composto por uma diversidade de suportes informacionais;
• interação e dependência contínua com outras bibliotecas e centros de
informação da mesma especialidade;
• um alto nível de automação dos serviços, a fim de possibilitar uma melhor
recuperação da informação.

Targino (1988) enfatiza que a biblioteca especializada se aproxima da biblioteca


universitária no que se refere ao nível da coleção e também com relação aos serviços
prestados, mas diferenciam-se principalmente pelo objetivo das organizações a
que estão ligadas e que irão direcionar suas atividades. Este aspecto, bem como
as características e outras semelhanças e aproximações destas duas categorias de
bibliotecas, serão abordadas posteriormente.
A seguir, algumas atividades e dicas que podem auxiliar na compreensão sobre
estas diferenças básicas entre estes dois tipos de bibliotecas. Se possível, faça a leitura
das referências e de outros textos que mencionem as diferenças e semelhanças entre as
categorias de bibliotecas, um entendimento fundamental para um bom profissional se
posicionar diante da diversidade de ambientes de atuação à sua disposição enquanto
bibliotecário.

Saiba mais

ACESSE E CONHEÇA UM POUCO MAIS...


A seguir alguns links de bibliotecas especializadas para que possa navegar e
perceber suas características e especificidades:
Sistema Embrapa de Bibliotecas – <https://www.embrapa.br/seb>
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - <http://portal.inpa.gov.br/
index.php/biblioteca>
Rede de Bibliotecas da Fiocruz - <http://www.fiocruz.br/redebibliotecas/cgi/
cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home>
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - <http://www.lac.inpe.br/bib/index.
html>
Instituto Tecnológico de Aeronáutica - <http://www.bibl.ita.br/>
Museu da Imagem e do Som de São Paulo - <http://www.mis-sp.org.br/
acervo>
Poder Judiciário de Santa Catarina - <https://www.tjsc.jus.br/web/biblioteca>
Academia Brasileira de Letras - <http://www.academia.org.br/bibliotecas/
apresentacao>

18 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Reflita

Você já esteve em alguma biblioteca especializada? Se sim, só visitou ou


precisou de seus serviços? Em que contexto precisou de seus serviços? Sem
realizar consulta, lembra de alguma biblioteca especializada de sua cidade?

Síntese

Aqui pudemos ver um breve histórico das bibliotecas, principalmente


universitárias e especializadas. Também foi realizada a exposição dos conceitos
de biblioteca universitária e especializada, além de explanação de algumas
diferenças e aproximações entre bibliotecas universitárias e especializadas.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. C. L; PASSOS, E.; COSTA, S. M. S. Informação científica e tecnológica


e desenvolvimento econômico e social : contribuição da biblioteca especializada.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO, 16, 1991,
Salvador. Anais... Salvador: APBEB, 1991. v. 2. p. 683-691.

BÁEZ, F. História universal da destruição dos livros: das tábuas sumérias à guerra
do Iraque. São Paulo: Ediouro, 2004.

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Bibliotecas Universitárias e Especializadas 21


Anotações

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22 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Unidade 2
Desempenho de suas Funções junto aos Usuários Universitários
e Especializados

Objetivo:
• Compreender a função das bibliotecas em questão em relação aos seus usuários;
• Compreender algumas características dos usuários destas unidades de
informação;
• Conhecer atribuições relevantes para bibliotecários que atuam nestes ambientes.

Conteúdo programático:
• A função das bibliotecas universitárias e especializadas em relação ao seu
usuário;
• Usuários de bibliotecas universitárias;
• Usuários de bibliotecas especializadas;
• Bibliotecários atuantes em bibliotecas universitárias e especializadas.
Faça aqui seu planejamento de estudos

24 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


INTRODUÇÃO

Prezados alunos, nesta segunda unidade iremos expor a relação da função


das bibliotecas universitárias e especializadas com os usuários, caracterizar esses
usuários e destacar as atribuições relevantes para bibliotecários que atuam nestes
ambientes. Ao final, esperamos que possam apresentar melhor compreensão sobre
o papel destas duas categorias de bibliotecas, associando tal entendimento com o
tipo de usuário com a qual estão predominantemente comprometidas, bem como,
obter maior entendimento sobre o perfil dos bibliotecários que atuam em cada um
destes dois ambientes. Ambos, usuários e bibliotecários, são os atores envolvidos na
interação que acontece nas bibliotecas em sua prestação de serviços.

1 AS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS E ESPECIALIZADAS EM FUNÇÃO DE


SEUS USUÁRIOS

A função de cada tipo de biblioteca está diretamente ligada também ao seu


tipo principal de usuário, seu usuário potencial.
Costa (2008) em sua pesquisa sobre estudo de usuário elaborou um quadro com
abordagens de diferentes autores para melhor entendimento do que é o usuário de
bibliotecas. Este quadro aparece a seguir endossado também com conceitos abordados
por Correia (2014) em artigo que propõe outra abordagem para o termo usuário - a
saber, interagente – a partir da argumentação de que o termo usuário carrega uma
ideia de unilateralidade, de que a pessoa na biblioteca simplesmente faz uso (intenso
ou não) do que lhe é oferecido, apenas, “entra, usa e sai”, demonstrando que o termo
não explicita “a troca, criatividade, a invenção, a interação e a intervenção” do usuário
neste processo (CORREIA, 2014, p. 27).

Quadro 1 - Abordagens de diferentes autores sobre o conceito de usuário de bibliotecas


Autor-data Conceito
Buonocore, Aqueles que utilizam, habitualmente, um ou mais serviços da
1963 biblioteca [...] (p. 420).
Cortez, Aquele que faz uso da informação para melhorar seus trabalhos,
1987 pesquisas e conhecimentos.
Pessoa que utiliza os serviços que pode prestar uma biblioteca,
Sousa, 1993
centro de documentação ou arquivo (p. 801).
Indivíduo, grupo ou comunidade favorecido com os serviços da
Morais,
biblioteca, sistemas ou centros de informação e documentação (p.
1994
219).
Sanz
Aquele indivíduo que necessita de informação para o
Casado,
desenvolvimento de suas atividades (p.19).
1994

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 25


Guinchat:
É o elemento fundamental de todos os sistemas de informação (p.
Menou,
481).
1994
A partir do conceito de interagente: sujeito social e cognitivo que
Correia, busca informação com vistas a solucionar questões de ordem
2014 pessoal, profissional ou acadêmica e que conta com o bibliotecário
na condução desse processo de forma mais interativa e parceira.
Fonte: Costa (2008, p. 50); Correia (2014).

Ao estudar sobre o histórico das bibliotecas é possível perceber que elas


passaram por mudanças e seu papel na sociedade foi se reconfigurando, no que se
refere ao seu acervo e toda evolução dos suportes informacionais, bem como, os
diferentes contextos históricos que exigiram funções e habilidades diferentes dos
profissionais envolvidos nesta prestação de serviços. As bibliotecas universitárias e
especializadas acompanharam essas mudanças e cada uma delas possui características
em sua prestação de serviços que se relacionam com seus usuários, com o público a
quem se destinam, como veremos a seguir.

1.1 Bibliotecas universitárias

As bibliotecas universitárias foram criadas para dar suporte às atividades das


universidades e faculdades e devem estar comprometidas com os objetivos e metas
destas Instituições e com as atividades relacionadas ao ensino, pesquisa e extensão
– tripé que as consolida. Igualmente devem dar suporte aos serviços técnicos e
administrativos, bem como todos os demais envolvidos no desenvolvimento das
atividades da Instituição. Em sua maioria, as bibliotecas universitárias também estão
acessíveis ao público em geral.
Como agente mediador entre a informação e o indivíduo, a biblioteca
universitária tem a missão de prestar serviços de informação às atividades; promover
o acesso, a recuperação e a transferência da informação para toda a comunidade
universitária, colaborando no desenvolvimento científico, tecnológico e cultural da
sociedade como um todo; e fornecer a infraestrutura bibliográfica, documentária e
informacional para apoiar as atividades da universidade, focando seus objetivos nas
necessidades informacionais dos membros da comunidade acadêmica (SILVA, 2006).
Como um mecanismo que é parte da sociedade na qual opera, é um reflexo
também das características do país, seu grau de desenvolvimento, sua tradição cultural,
problemas e prioridades sociais e econômicas. Tanto universidade quanto biblioteca
universitária são produtos da história de uma localidade (TARAPANOFF, 1981).
Para Tarapanoff (1981) os objetivos de cada biblioteca universitária devem estar
sintonizados com os da instituição e seus responsáveis devem atentar para:
a. ocupar-se com as funções e atividades da Universidade a que pertence;
b. planejar serviços ajustados ao tripé ensino, pesquisa e extensão;

26 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


c. reestruturar suas atividades alinhando-as com as da universidade;
d. integrar-se aos níveis hierárquicos ao estabelecer seus objetivos para dar coerência
com a política da Instituição e orientar a sua própria;
e. estabelecer objetivos que representem as necessidades da universidade a que
pertence.

Figura 2 –Biblioteca universitária e seus usuários

Fonte: Vinícius Domingues Buch (2017).

Ao utilizar a biblioteca da sua Universidade qual a principal expectativa com


relação aos seus serviços? Enquanto estudantes, tais expectativas provavelmente estão
ligadas ao provimento das atividades e demandas de estudo. Entretanto, há outros
usuários envolvidos que devem ser alvo do trabalho desenvolvido nestes ambientes.
Miranda (2007) destaca que o principal papel da biblioteca universitária é o
de atender às necessidades informacionais de seus usuários, a saber, a comunidade
acadêmica, constituída por professores, alunos, pesquisadores e pessoal técnico-
administrativo. Entretanto, há que se destacar que, pela ausência de bibliotecas
escolares e públicas, muitas vezes a biblioteca universitária termina por atender
públicos diferenciados, para além dos direcionados às suas funções, como descrito
anteriormente.
Qualquer biblioteca existe em função de seu público, para suprir necessidades
informacionais específicas através de suas coleções e de seus serviços. Ao atuar nestes
espaços o profissional deve estar atento a esta questão, já que todo serviço, todo
acervo, é pensado e existe em função do usuário. Cada biblioteca, conforme Silva e
Araújo (2003), compõe uma realidade distinta, está ligada a contextos diferenciados
e é formada com base nos interesses desses usuários específicos.
Além de sua coleção, seus serviços e suas atividades devem ser direcionados para
o atendimento deste público específico. É responsabilidade da biblioteca universitária,

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 27


por exemplo, orientar os usuários para o uso da biblioteca, fornecer informações
e auxiliar na recuperação das informações solicitadas, além de promover eventos
culturais.

1.2 Bibliotecas especializadas

O foco primordial de uma biblioteca especializada está em disseminar


informação entre os membros da instituição. Para isso, para além dos serviços
habituais de bibliotecas, deve oferecer alguns serviços de referência diferenciados
como atendimento personalizado, acervo atualizado, levantamento bibliográfico,
busca de informações em Banco de dados especializados (ex.: patentes), empréstimo
entre bibliotecas, uma vez que a possibilidade de convênios/parcerias de instituições
da mesma área do conhecimento são grandes.
A concepção de biblioteca especializada atualmente está sendo transformada
em virtude do avanço das novas tecnologias de informação e comunicação. O foco
está na atuação do profissional que lida com a informação, principalmente no formato
digital, e que entrega com agilidade e eficiência um produto com valor agregado ao
seu usuário que necessita de informação específica.
O caminho da especialização vai do geral para o mais específico e o registro
das descobertas progressivas crescem de tal forma que se torna impossível para o
pesquisador, especialista, tomar conhecimento do todo. A biblioteca especializada
se aproxima da universitária quando, nesta última, há um grupo de pesquisadores
(e cursos de pós-graduação) em que a necessidade por literatura especializada e
atualizada é vital (MILANESI, 2002).

Saiba mais

Pesquisa de campo
Selecione três bibliotecas universitárias e três bibliotecas especializadas que
possuam um bibliotecário como gestor. Peça que falem sobre a principal
função das categorias de bibliotecas em que atuam e, através do discurso
destes profissionais, trace as semelhanças entre as duas categorias.
Compartilhe com a turma!

O bibliotecário que irá atuar nestas duas categorias de bibliotecas deve possuir
um perfil com características específicas, como veremos a seguir.

28 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


2 O BIBLIOTECÁRIO: REQUISITOS PARA ATUAR EM BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS E ESPECIALIZADAS

Para cumprir funções e objetivos comprometidos com as necessidades de


seus usuários, as bibliotecas universitárias e especializadas precisam de profissionais
responsáveis, que elaborem um plano de trabalho e que possuam um perfil com
atributos e competências específicas para atuar nestes locais de trabalho, capazes
de lidar com situações novas e mudanças tecnológicas para atender às demandas
específicas destas categorias de bibliotecas. Este profissional é o bibliotecário.
Assim como os usuários são diferentes, os bibliotecários também devem possuir
perfis específicos para assumir trabalhos nas diferentes bibliotecas. Há situações
encontradas em bibliotecas públicas, por exemplo, que são muito específicas desta
categoria de biblioteca, que atende um público diversificado.
É fato que o público, a coleção e os serviços direcionados para este público,
serão determinantes para o estabelecimento de critérios pessoais e profissionais
de qualificação de um profissional. A classe profissional bibliotecária é parte de
um grupo específico que está sujeito a regras, acordos e costumes construídos e
reconstruídos pelo próprio grupo. Ao escolher uma profissão, o indivíduo assume
uma responsabilidade consigo e também coletiva, sua postura de comprometimento
não tem caráter somente individual.
O homem tem liberdade de escolha para fazer aquilo que ele irá fazer, entretanto,
ao exercer uma profissão, compromete-se a fazer o que a sociedade necessita e “terá
que renunciar parte de sua liberdade, e se verá obrigado a desindividualizar-se, a não
decidir suas ações exclusivamente do ponto de vista de sua pessoa, mas do ponto de
vista coletivo” (ORTEGA Y GASSET, 2006, p. 13).
O trabalho do bibliotecário exige postura ética e política. Não é possível viver
no mundo contemporâneo sem comprometimento com o país, com mudanças para
a busca de um futuro melhor, compromissos que implicam escolha e ação, são de
cunho político (CASTRILLÓN, 2011) e se relacionam com a questão ética pautada no
dever fazer. Essa é uma habilidade e uma necessidade atrelada ao perfil profissional
inerente às duas categorias de bibliotecas, universitárias e especializadas.
Para ter legalidade em sua atuação como bibliotecário, este profissional
deve ter formação em nível superior - uma condição fundamental - ser bacharel em
Biblioteconomia e dispor de registro no Conselho Regional de seu estado.
Há três cursos no estado catarinense para a formação de bibliotecários
estabelecidos. Duas em instituições públicas de ensino superior, ofertados em regime
presencial (Universidade Federal de Santa Catarina, a UFSC, e Universidade do Estado
de Santa Catarina, a UDESC) e este curso em universidade comunitária a distância
(Universidade Comunitária da Região de Chapecó, a Unochapecó).
O Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), ainda que previsto em Lei
sancionada em 1962, só foi oficialmente instalado a partir da posse dos membros de
sua primeira gestão, em 1966, após a sanção do Decreto 56.725/65 que regulamentou
a aplicação da referida Lei. O primeiro Conselho Regional instalado no Brasil foi o

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 29


do estado de São Paulo, o CRB-8, neste mesmo ano. Após, foram criados os outros
Conselhos Regionais nos demais estados da Federação1 (CONSELHO FEDERAL DE
BIBLIOTECONOMIA, 2015).
O CRB-14, o Conselho Regional de Biblioteconomia do Estado de Santa Catarina,
criado em 1984, além de registrar os profissionais expedindo a Carteira e a Cédula de
Identidade Profissional, fiscaliza o exercício legal da profissão na região de jurisdição,
bem como, impede e pune as infrações à legislação vigente com o intento de defesa
da classe profissional (CONSELHO REGIONAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2015).
Para além da interação com Universidade e Conselho de Registro Profissional,
ao longo de seu processo de formação e atuação profissional, você também poderá
interagir direta ou indiretamente com organismos de agrupamento de classe que
atuam na defesa de interesses coletivos, como Associações e Sindicatos.
Em Santa Catarina ainda não há formalmente um Sindicato. Há registros
sobre a criação de um Sindicato desde 1980 e somente na 29ª edição do Painel de
Biblioteconomia de Santa Catarina, em 2010, a bibliotecária Miriam C. M. Matos
direcionou um debate mais efetivo, articulando após o Evento uma Comissão “Pró
SindBiblio/SC”, coordenada pela mesma, responsável por encaminhar junto ao
Ministério do Trabalho e Emprego os documentos para concessão da carta sindical.
Oficialmente o sindicato foi fundado em 2010, mas ainda aguarda seu registro sindical
(SPUDEIT; FÜHR, 2011).
Profissionais e estudantes de Biblioteconomia contam com a Associação
Catarinense de Bibliotecários (ACB), fundada no ano de 1975 com a sigla APBC
(Associação Profissional dos Bibliotecários Catarinenses). Em 1977 foi publicado seu
estatuto e a Associação passou a existir legalmente. Em 1982 (com 142 associados
– nove anos após a criação dos cursos de Biblioteconomia no estado) passa a se
chamar Associação Catarinense de Bibliotecários (ACB) (ASSOCIAÇÃO CATARINENSE
DE BIBLIOTECÁRIOS, 2015). Em seu estatuto, a ACB tem como objetivos:

[...] congregar os profissionais da área, defender os interesses e apoiar


as reivindicações de classe; servir de centro de informação das atividades
bibliotecárias em Santa Catarina; contribuir para o aprimoramento cultural
e técnico e promover eventos de interesse para a classe. (ACB, 2015)

Os Conselhos são distintos das Associações e Sindicatos, pois são parte da


organização estatal para fiscalizar o exercício da profissão e atuam mediante imperativo
legal. Em comparação com outras entidades, as associações profissionais são o
espaço privilegiado de exercício político, pois trata-se de movimento não obrigatório,
voluntário, de profissionais e estudantes em formação (também de interessados na
área). É o ambiente de relações mais apropriado para reflexões, debates e decisões
sobre a condição e melhoria profissional.

1
CRB-1: DF, GO, MT, AC e Território de Rondônia; CRB-2: PA, AM e Territórios de Amapá e Roraima;
CRB-3: CE, PI, MA; CRB-4: PE, PB, RN e Território Fernando de Noronha; CRB-5: BA, SE, AL; CRB-6: MG;
CRB-7: RJ, ES; CRB-8: SP; CRB-9: PR, SC; CRB-10: RS. Muitos posteriormente foram desmembrados,
criando CRB distintos como o caso do Conselho Regional de Santa Catarina, o CRB – 14. (CFB, 2015).

30 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


A Lei 4.084, de 30 de junho de 1962, que exige formação de nível superior e
registro em Conselho, restringe o exercício da profissão aos portadores de diplomas
expedidos por Escolas de Biblioteconomia de nível superior conferindo um novo status
para a profissão e cria também o Conselho Federal e os respectivos Conselhos Regionais
da classe para fiscalização do exercício legal da profissão bibliotecária (BRASIL, 1962).
Portanto, para atuação em bibliotecas universitárias ou especializadas, os pré-
requisitos legais são os mesmos. Há que se atentar para os autores que escrevem
sobre habilidades específicas nas duas categorias de bibliotecas estudadas.

2.1 Bibliotecários que atuam em bibliotecas universitárias

Como as universidades possuem cursos diferenciados, é importante que o


profissional que atua nestes ambientes tenha consciência das áreas de conhecimento
que deverá contemplar e interagir, em termos de material informacional e usuário.
Como veremos mais adiante no tópico sobre o funcionamento das bibliotecas
universitárias, uma das habilidades fundamentais de um bibliotecário que atua nesta
categoria de biblioteca é dominar as exigências e requisitos realizados periodicamente
por avaliadores do Ministério da Educação (MEC) nas IES através do SINAES (Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior). Essas exigências irão demandar do
bibliotecário conhecimento da bibliografia solicitada e requerida, bem como, da
infraestrutura necessária para funcionamento dos cursos – requisitos formalizados
no Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação presencial e a distância. Os
bibliotecários devem acompanhar estes avaliadores quando a auditoria estiver
acontecendo na biblioteca e deve saber planejar e preparar este momento para que
não exista nenhum problema que prejudique o funcionamento e abertura de novos
cursos.

Dica

Pergunte ao bibliotecário da instituição em que estuda sobre o processo


de auditoria do MEC, tanto para a abertura de novos cursos quanto para o
monitoramento dos já existentes. Peça mais informações sobre as habilidades
mais importantes para o profissional nessa atividade que tanto impacta a IES.

Relevante destacar que as bibliotecas universitárias contam normalmente com


espaço físico e horário de atendimento amplo, o que demanda, também, presença de
pessoal técnico administrativo. Comumente dois tipos de profissionais fazem parte
do quadro de recursos humanos: bibliotecário e o auxiliar de biblioteca. Você saberia
diferenciar o bibliotecário do auxiliar de biblioteca?

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 31


O bibliotecário é o responsável pelo desenvolvimento da biblioteca, é a ponte
entre a informação e o usuário, responsável também pelo tratamento técnico das
informações, pela política de gestão da unidade. O auxiliar de biblioteca é o profissional
que dá apoio ao trabalho do bibliotecário, responsável pela execução das atividades
administrativas e outras especializadas da biblioteca.
Para adotar uma postura dinâmica e pró-ativa, Schweitzer e Cunha (2007, p.
85) acreditam que o bibliotecário que atua nestes espaços deve ter um perfil flexível
e estar apto a:

a) monitorar, constantemente, as mudanças impostas pelos avanços da


tecnologia, sendo receptivos a elas; b) desenvolver sua criatividade, adaptando-
se às novas demandas informacionais dos clientes; c) ser empreendedor; d) ser
habilidoso para lidar com pessoas, tanto colegas de equipe quanto clientes;
e) flexibilizar processos de trabalho, descentralizando decisões e delegando
responsabilidades; f) desenvolver projetos, produtos e serviços com foco no
cliente; g) inovar e competir por novos espaços; h) planejar a redução do
ciclo de vida dos produtos e serviços para renová-los e adaptá-los de acordo
com as necessidades identificadas; i) aprender constantemente (educação
continuada).

O profissional deve incluir a inovação em suas práticas na biblioteca, otimizando


o uso dos recursos existentes, inclusive os que são acessíveis virtualmente, colocando
a tecnologia como aliada para o incentivo da aprendizagem e construção de
conhecimento de seus usuários. Nesse sentido, deve fomentar serviços que capacitem
este indivíduo na utilização dos recursos, promovendo sua autonomia no que se refere
ao acesso às informações assumindo um papel de educador para o uso dos recursos
informacionais (SCHWEITZER; CUNHA, 2007).

Saiba mais

Na Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina (BU


UFSC), por exemplo, através de um Programa de Capacitação dos Usuários
da Biblioteca Universitária (PCUBU), é oferecido treinamento para o uso de
recursos de informação. O treinamento inclui cursos que capacitam para a
utilização da Biblioteca e do sistema de recursos de recuperação do acervo
utilizado pela BU UFSC, mas também oferece cursos de normalização de
trabalhos acadêmicos, de gerenciadores bibliográficos (Mendeley, Endnote
Web), Fontes de informação online, entre outros. Vale conferir através do
endereço: <http://portal.bu.ufsc.br/capacite-se/programa-de-capacitacao/>.
Confira também os cursos de capacitação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade de São Paulo (USP):
<http://www.ufrgs.br/bibfbc/capacitacoes/solicite-uma-capacitacao>
<http://www4.esalq.usp.br/modelo/capacitacao>.

32 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Podemos, a partir deste viés, perceber uma nuance de diferença na atividade
do bibliotecário que atua em biblioteca universitária e o que atua em biblioteca
especializada. O primeiro terá exponencialmente um contexto educador, de capacitação
para a busca autônoma, de encontro com fontes informacionais. O segundo estará
envolto em um ambiente de negócios em que a prestação de serviço rápida, eficiente
e precisa terá um contexto mais predominante.
Um exemplo é o Centro de Informações Bibliográficas da Natura, ou CIB –
Natura, que foi criado para apoiar a atividade dos executivos da empresa, atuando
em conjunto com as áreas de criação e desenvolvimento de produtos e dar suporte
a pesquisas técnico-científicas, mercadológicas e de monitoramento da concorrência
(REZENDE, 1997). Em 2012 a Natura lançou o CIB Mobile que viabiliza consulta mais
rápida aos conteúdos da Biblioteca Virtual da Natura por meio da tecnologia de
dispositivos móveis.

2.2 Bibliotecários que atuam em bibliotecas especializadas

De todos os usuários de bibliotecas, quase sempre, “o especialista é o cliente de


serviços de informação que mais sabe o que quer”, afirma Milanesi (2002, p. 69-70).
Isso diz muito do profissional que é demandado neste ambiente de atuação, segundo
o próprio autor, o profissional com o perfil para construir, manter e ampliar serviços
informacionais que respondam às necessidades deste cliente que “sabe o que quer”
– um profissional familiarizado com o assunto (MILANESI, 2002).
O usuário especializado vai exigir um bibliotecário especializado, preciso. Grogan
(1998) destaca que a grande maioria das bibliotecas denominadas “especializadas”,
que prestam serviços a empresas ou governo, são instituições do século XX, criadas
com a finalidade primordial de fornecer serviço de referência e informação, existem
para procurar informações para os consulentes. É justamente nestes locais onde se
encontra um dos mais dinâmicos serviços de referência.
Esse trabalho de “garimpagem” da informação é um trabalho bibliotecário
dos mais importantes no contexto de biblioteca especializada e exige do profissional
conhecimento e domínio das ferramentas que irão viabilizar a busca pela informação
de qualidade, com agilidade.
Como nas demais categorias, o profissional deve estar atento aos recursos
tecnológicos e o uso que pode fazer em sua prestação de serviços. Para que o
bibliotecário, atuante em bibliotecas universitárias e especializadas, possa atender
às necessidades de seus usuários, deve desenvolver conhecimentos específicos para
que tenha condições de prestar serviços de informação científica e tecnológica
(SILVEIRA, 2009). Para desenvolver esses serviços é fundamental que o bibliotecário,
além de conhecer a língua inglesa (idioma franco da ciência), possua também alguma
habilidade com as tecnologias de informação e possa lidar com essas habilidades de
maneira inovadora.

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 33


No blog BiblogTecarios (blog espanhol mantido por Ester Ângulo), o texto sobre
o papel do bibliotecário na biblioteca especializada inicia com uma pergunta: Qual o
papel do bibliotecário especializado?
Constata-se que embora os bibliotecários das diferentes categorias de bibliotecas
possuam funções semelhantes, os contextos diferentes também colocarão imposições
diferentes aos profissionais e que, se estamos em uma biblioteca especializada, teremos
que adaptar este ambiente (coleção, serviços, projetos e pessoal) à necessidade dos
usuários, por sua vez, especializados (ÂNGULO, 2017).
A autora aborda dez pontos que o bibliotecário que atua em bibliotecas
especializadas deveria levar em conta:
• Ter noção do assunto que é a especialidade da biblioteca;
• Entender as necessidades dos usuários e transformar em respostas informativas
(precisará conhecer ferramentas que auxiliem – blog, bases de dados, periódicos...);
• Ter capacidade de aprendizagem desenvolvida;
• Buscar as pessoas e instituições mais importantes da área temática da biblioteca e
segui-las nas redes sociais;
• Observar para realizar análises e juízos de valor visando a melhoria de algo com
argumentos a partir desta observação;
• Motivar o pessoal envolvido a ter iniciativa, estimulando a liberdade de opinião,
ideias e pontos de vista;
• Criar um ambiente agradável para o trabalho em equipe;
• Responder os usuários em suas dúvidas, ter atenção às estatísticas e empréstimos
(livros, autores, tipo de material mais emprestado) para orientar as políticas de
desenvolvimento de coleções;
• Estudar a organização antes de apresentar uma ideia – estudar, analisar, planejar
para colocar em discussão;
• Tornar a comunicação e o companheirismo rotineiros (ANGULO, 2017).

Reflita

Com base nestas informações do texto de Ester Ângulo, do blog espanhol


- BiblogTecarios – converse com os colegas sobre as atitudes colocadas
como relevantes pela autora para um bibliotecário que atua em biblioteca
especializada. Algumas dão conta de um conhecimento técnico, mas boa
parte envolve habilidades de cunho pessoal. Reflita e discuta: o quanto a
presença e a ausência de alguma dessas habilidades pessoais mencionadas
pode impactar de maneira concreta o usuário que frequenta estes ambientes
informacionais e o próprio bibliotecário que atua nele?

Há que se ressaltar habilidades pessoais, por vezes, determinantes para que os


profissionais possam ser bons técnicos. Como menciona Silveira (2009), a literatura

34 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


das áreas do saber da biblioteconomia e ciência da informação registra a urgente
necessidade de mudança de atitude do bibliotecário para que esteja atento ao perfil
desejável como demanda da sociedade. Entre algumas características deste perfil
desejável estão a criatividade, dinamismo, eficiência, e essas qualidades são inerentes
aos gestores e aos demais profissionais que compõem o quadro de pessoal.
Vidotti, Lanzi e Ferneda (2014) também ressaltam que ultimamente há discussões
acerca de um novo perfil do bibliotecário, um profissional engajado, empreendedor,
dinâmico, que saiba trabalhar em equipe, capaz de lidar com as novas linguagens da
web, colaborativo e que saiba mediar as necessidades dos usuários.
A capacidade de lidar com as novas tecnologias de informação e comunicação
é imprescindível ao bibliotecário que irá atuar em bibliotecas universitárias e
especializadas a utilização das novas tecnologias de informação e comunicação
disponíveis, atuando com mídias sociais, canais no Youtube e demais recursos que
facilitam o acesso e alcance dos usuários.

Saiba mais

A Biblioteca da Unesp de Rio Claro mantém um Canal no Youtube em que


disponibiliza vários vídeos com conteúdos sobre a Biblioteca, questões de
informática e normalização para trabalhos acadêmicos e diversos conteúdos
de interesse dos usuários.
Confira: <https://www.youtube.com/channel/UC-ka_dh1Rq_bgkbADAWuJfg>
A Agência Nacional de Cinema (Ancine) e a Biblioteca da UFSC utilizam uma
Fanpage para facilitar o acesso à informação e interagir com seus usuários.
Confira: <https://www.facebook.com/AncineGovBr/>,
<https://www.facebook.com/bu.ufsc/>.

A biblioteca é um organismo vivo e nada acontece sem pessoas para animar


estes espaços e criar estes serviços. O funcionamento de uma biblioteca depende
do bibliotecário, não somente do profissional com o registro no CRB local e com
autoridade legal para atuar, mas do profissional consciente e comprometido com sua
atividade.

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 35


Síntese

Aqui vimos a relação da função das bibliotecas universitárias e especializadas


com o tipo de usuário a que se destinam.
Também pudemos ver as condições legais, perfil e habilidades específicas
dos bibliotecários que atuam em bibliotecas universitárias e especializadas.

Para ler...

O artigo que é recomendado como dica de leitura é resultado de um


estudo sobre a representação do bibliotecário nos filmes cinematográficos.
Muito interessante para reflexão sobre a imagem que foi consolidada ao longo
do tempo, representada e propagada nas telas de cinema. Quais posturas,
especificamente, em ambientes de bibliotecas universitárias e especializadas,
contribuem para reforçar ou enfraquecer essas cenas?

MORENO, J.; BASTOS, L. O estereótipo do bibliotecário no cinema.


In: ENCONTRO REGIONAL DE ESTUDANTES DE BIBLIOTECONOMIA,
DOCUMENTAÇÃO, CIÊNCIA E GESTÃO DA INFORMAÇÃO, 15., 2012, Alagoas.
Anais... Alagoas: UFAL, 2012.

Segue uma relação de textos de blogs que mencionam sobre a biblioteca


universitária e especializada que abordam a temática que tratamos nesta
unidade:
<https://estantedabibliotecaria.wordpress.com/2016/07/21/notas-sobre-
biblioteca-universitaria-e-biblioteca-especializada/>
<https://estantedabibliotecaria.wordpress.com/2016/03/08/biblioteca-
universitaria-elementos-para-o-planejamento-avaliacao-e-gestao-resenha/>
<http://bibliotecasdauel.blogspot.com.br/2014/05/bibliotecas-setoriais-e-
especializadas.html>
<http://www.biblogtecarios.es/sandraclemente/bibliotecas-universitarias-redes-
sociales/>
<http://informacaoeconhecimentonasnuvens.blogspot.com.br/2012/07/acao-
cultural-em-biblioteca.html>
<https://eacervo.blogspot.com.br/2017/08/o-desafio-de-fazer-mudanca-da.
html>

36 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


REFERÊNCIAS

ÂNGULO, Ester. El papel del bibliotecario en biblioteca especializada. Disponível


em: <http://www.biblogtecarios.es/esterangulo/19275/>. Acesso em: 22 jun. 2017.

ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE BIBLIOTECÁRIOS. Disponível em:<http://www.acbsc.


org.br/>. Acesso em: 18 maio 2017.

BRASIL. Lei n. 4084 de 30 de junho de 1962. Dispõe sobre a profissão de


bibliotecário e regula seu exercício. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/1950-1969/L4084.htm/>. Acesso em: 22 maio 2017.

CASTRILLÓN, Silvia. O direito de ler e escrever. São Paulo: Pulo do Gato, 2011.

CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA. Disponível em: <http://www.cfb.org.


br/>. Acesso em: 1 jun. 2017.

CONSELHO REGIONAL DE BIBLIOTECONOMIA 14. REGIÃO. Disponível em: <http://


www.crb14.org.br/>. Acesso em: 1 jun. 2017.

CORRÊA, E. C. D. Usuário, não! Interagente: proposta de um novo termo para


um novo tempo. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia
e ciência da informação, Florianópolis, v. 19, n. 41, p. 23-40, dez. 2014.
Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-
2924.2014v19n41p23/28292>. Acesso em: 14 fev. 2018.

COSTA, Luciana Ferreira da. Usabilidade do portal de periódicos da CAPES. 2008.


236 f. Dissertação (Pós-Graduação) - Curso de Ciência da Informação, Universidade
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FIGUEIREDO, Nice M. de. Avaliação de coleções e estudo de usuário. Brasília,


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GROGAN, Denis Joseph. A prática do serviço de referência. Brasília: Briquet de


Lemos, 1995.

MACEDO, N. D.; DIAS, M. M. K. Subsídios para a caracterização da biblioteca


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MARCELINO, S. C. Estudo de usuários e usabilidade de sites de bibliotecas


especializadas: o caso da Biblioteca On-line do Instituto Nacional de Pesquisas
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MILANESI, Luís. Biblioteca. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 37


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periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/2018>. Acesso em: 04
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Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001627.
pdf#page=17>. Acesso em: 2 jun. 2017.

VIDOTTI, A. B. G.; LANZI, L. A. C.; FERNEDA, E. A mediação da informação aliada


ao uso das tecnologias da informação e comunicação em uma biblioteca escolar.
Informação e Informação, Londrina, v. 19, n. 2, p. 117-137, maio/ago. 2014.

38 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Anotações

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Bibliotecas Universitárias e Especializadas 39


Anotações

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40 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Unidade 3
Características de Bibliotecas Universitárias e Especializadas

Objetivo:
• Conhecer a infraestrutura e os serviços das bibliotecas em questão;
• Reconhecer aspectos relevantes de gestão e da política de desenvolvimento de
coleções destes tipos de bibliotecas;
• Compreender a importância da divulgação para a prestação de serviço das
bibliotecas universitárias e especializadas.

Conteúdo programático:
• Infraestrutura;
• Serviços;
• Gestão e política de desenvolvimento de coleções;
• Divulgação.
Faça aqui seu planejamento de estudos

42 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


INTRODUÇÃO

Ao expor as particularidades relevantes para o funcionamento destas duas


categorias de bibliotecas em sua prestação de serviços, esperamos que vocês
estabeleçam relações, conexões com as demais categorias de bibliotecas e ampliem
o entendimento sobre as bibliotecas com tudo que já foi exposto até aqui.
Tais particularidades são itens fundamentais e que se relacionam com o processo
de planejamento de bibliotecas, que a partir de um diagnóstico realizado previamente,
estabelece um conjunto de ações estratégicas para o bom funcionamento de qualquer
organização.

1 INFRAESTRUTURA

Não há como desenvolver qualquer atividade em todo seu potencial sem


infraestrutura2, já que funciona como suporte para que serviços consigam efetivamente
cumprir seus objetivos. Em qualquer biblioteca a infraestrutura é relevante para o
desenvolvimento das suas atividades e não será diferente nas bibliotecas que estamos
estudando. Mas qual a infraestrutura necessária para que bibliotecas universitárias e
especializadas funcionem adequadamente? Há recomendações específicas?
Imprescindível ressaltar que sobre as bibliotecas universitárias há um imperativo
que não “pesa” sobre as bibliotecas especializadas, a saber, as exigências do Ministério
da Educação (MEC) para abertura de novos cursos, para que permaneça funcionando
e para sua qualificação, como mencionamos brevemente nas Unidades 1 e 2. Todos os
bibliotecários que atuam em bibliotecas universitárias possuem a atribuição de adequar
as bibliotecas a estas exigências e de acompanhar estas auditorias permanentes,
atividades específicas desta categoria de biblioteca. Tal situação impactou a forma de
trabalho nestes ambientes, pois, no que se refere à biblioteca universitária, o quesito
infraestrutura possui grande impacto nestes processos avaliativos.
Entretanto, para todas há o imperativo de buscar a criação de uma infraestrutura
que respeite a particularidade dos indivíduos, estabelecendo uma gestão que priorize
uma política de acessibilidade para quaisquer características que as pessoas possam
apresentar porquanto todos, sem exceção, são pessoas, cidadãos, que possuem o
direito constitucional de acesso à informação.

1.1 Infraestrutura: Biblioteca Universitária

O órgão responsável pela avaliação do ensino superior no Brasil é o SINAES


(Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior), oficializado pela Lei nº 10.861,

2
É o conjunto de elementos ou serviços considerados necessários para que uma organização possa
funcionar ou para que uma atividade se desenvolva efetivamente. (http://queconceito.com.br/
infraestrutura).

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 43


de 14 de abril de 2004 (BRASIL, 2004). Com finalidade da melhoria na qualidade
da educação superior o SINAES apresenta como eixos principais: a avaliação das
instituições, dos cursos, do desempenho dos estudantes, a responsabilidade social,
a gestão da instituição, o corpo docente e as instalações (INSTITUTO NACIONAL
DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2017). Na avaliação
das bibliotecas universitárias os aspectos considerados são bibliografia básica,
complementar, periódicos especializados itens descritos na dimensão 3 (infraestrutura)
do Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação presencial e a distância utilizado
pelos avaliadores do MEC publicado pelo INEP em 2015 (vigente) (INSTITUTO
NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2017).
A infraestrutura física, tecnológica, de acervo e de recursos humanos de uma
biblioteca universitária deve estar pautada no Plano de Desenvolvimento Institucional
(PDI) da instituição a qual pertence. O PDI é “o instrumento de planejamento e gestão
que considera a identidade da Instituição de Ensino Superior, no que diz respeito a
sua filosofia de trabalho, a missão a que se propõe, as diretrizes pedagógicas que
orientam suas ações, a sua estrutura organizacional e as atividades acadêmicas que
desenvolve e/ou pretende desenvolver” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2017).
Para atender aos três pilares da biblioteconomia: seleção, organização e
disseminação da informação, as bibliotecas universitárias, em geral, se estruturam em:
divisão de Seleção e Aquisição, divisão do Tratamento Técnico, divisão de Atendimento
ao Usuário e Gestão de todos esses setores, inclusive a área financeira e recursos
humanos (BARBOSA; FRANKLIN, 2011).
Além de atender aos critérios dos órgãos avaliadores a biblioteca deve adaptar
sua infraestrutura para a demanda da realidade na qual está inserida. Então, devem
ser aplicadas avaliações periódicas na própria biblioteca e com os bibliotecários,
além de capacitação permanente de sua equipe de trabalho e atender à comunidade
acadêmica na oferta de serviços presenciais e a distância.

Saiba mais

Aproveite que estuda em uma instituição de ensino superior e entreviste


o bibliotecário, questione sobre: quais as exigências sobre a infraestrutura
exigidas nos documentos e auditorias periódicas realizadas pelo
Ministério da Educação?

1.2 Infraestrutura: Biblioteca Especializada

Essa biblioteca possui características próprias, ambiente, pessoal e acervo


seletivo e atualizado em diversos formatos, direcionados a atender uma determinada
área do conhecimento ou segmento da sociedade.

44 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


O acervo pode conter materiais de outras áreas do conhecimento, mas a
composição do seu acervo está relacionada à finalidade principal da mesma, que será
abordada mais detidamente em seguida, na Política de Desenvolvimento de Coleções.
Além do material convencional, livros, revistas, o acervo é formado por materiais
de diferentes origens que muitas vezes não podem ser obtidos por vias comerciais.
É muito comum em órgãos governamentais, empresas, indústrias e até mesmo em
universidades quando há a ideia de setorização de bibliotecas (Medicina, Direito,
Engenharia, Artes...).
Sobre a biblioteca especializada não “pesa” as exigências impostas pelo MEC,
como no caso das bibliotecas universitárias como mencionamos anteriormente, a
menos que esteja inserida em uma destas IES. Nesse caso, poderia ter contexto de
especializada, mas seria considerada universitária por estar no contexto e associada
ao trabalho realizado na Universidade.
As bibliotecas especializadas terão que prover infraestrutura adequada para seu
público-alvo. Por exemplo, se o público for usuários composto por deficientes visuais,
a biblioteca deve prioritariamente dar todo suporte para este usuário, não somente
provendo acervo específico, mas recursos em seu ambiente para que ele possa acessar
os serviços da melhor maneira.

Curiosidade

Veja, por exemplo, a Biblioteca Especializada do Instituto Benjamim Constant


(2017), que tem como objetivo “atender os pesquisadores nas questões que
envolvem a deficiência visual e suas especificidades nas mais diversas áreas do
conhecimento”. 

Figura 3 – Instituto Bejamin Constant, Rio de Janeiro

Fonte: Wikipédia, 2017.

Saiba mais em: <http://www.ibc.gov.br/bibliotecas/especializada>.

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 45


2 SERVIÇOS

Mesmo que não verificássemos no dicionário, poderíamos supor sobre o termo


serviço, trata-se de uma atitude que é realizada para alguém, inclui uma interação. O
conceito de serviço em unidades de informação tem abordagem no artigo de Sena,
Trevisol Neto e Varvakis (2013), a partir do entendimento de que serviço pode ou
não estar ligado a um bem físico e possui algumas características como presença
e participação de quem solicita (precisam do cliente para ser produzidos, mas ele
não precisa estar presente fisicamente), intangibilidade (não podem ser tocados ou
medidos, são vivenciados pelo cliente), produção e consumo simultâneos (não podem
ser estocados) e heterogeneidade (consiste na interação humana, pois cada usuário
apresenta particularidades e diferentes necessidades).
As bibliotecas são prestadoras de serviços, oferecem vários deles aos seus
usuários, quer sejam bibliotecas universitárias, quer sejam bibliotecas especializadas,
ou qualquer outro tipo de biblioteca. Há serviços básicos presentes em todas as
categorias de bibliotecas, entretanto, pode haver (e há) particularidades na prestação
de serviço de cada uma delas. Vejamos.

2.1 Serviços de bibliotecas universitárias

As bibliotecas universitárias, além de apoiar o ensino, a pesquisa e a extensão,


deve oferecer serviços que facilitem o acesso à informação, como por exemplo, técnicas
de pesquisa em bases de dados. A biblioteca dever explorar os diversos recursos
informacionais, estrutura física e tecnológica que a instituição disponibiliza.
Para atender essas demandas as bibliotecas universitárias disponibilizam serviços
habituais (comum a outros tipos de bibliotecas), tais como: consulta, empréstimo,
renovação e reserva dos materiais, divulgação de novas aquisições, visita orientada,
salas de estudo em grupo e individual. Há outros serviços mais específicos como
comutação bibliográfica, capacitação de usuários no uso de normalização de trabalhos
acadêmicos, no uso de fontes de informação, bases de dados, Mendeley, no uso das
tecnologias de informação (auxílio no uso de editores de texto, no preenchimento
de plataforma do Currículo Lattes), tutoriais de serviços, ações culturais, palestras,
exposições e tantos outros.
Silva, Schons e Rados (2006) elencam como principais serviços prestados em
uma biblioteca universitária:
• Serviço de circulação (acervo geral);
• Condução de pesquisas;
• Serviço de Seleção e Aquisição de informação;
• Serviço de Tratamento da Informação (registro, verificação, catalogação, classificação
e triagem do material informacional);
• Serviço de referência (normalização, comutação e levantamento bibliográfico);

46 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


• Serviço de periódicos (revistas técnicas, científicas e informacionais; jornais e
relatórios);
• Serviço de coleções especiais (obras raras, teses, dissertações, audiovisual, material
cartográfico).

Em função do aumento do uso das tecnologias da informação observamos


novos meios de comunicação e novas formas de buscar as informações por parte dos
usuários.
É importante que as bibliotecas acompanhem essas mudanças desenvolvendo
novos serviços, ampliando meios de comunicação e compartilhando informações, com
a finalidade atender as necessidades de seus usuários e aproximá-los cada vez mais
da biblioteca. “Bibliotecas são instituições provedoras de serviços e todo e qualquer
aplicação de tecnologia tem um único objetivo: oferecer mais e melhores serviços
aos usuários” (CAREGNATO, 2000, p. 48). É inegável o impacto que as tecnologias da
informação têm causado na vida das pessoas. Diante disso, elencamos alguns serviços
diferenciados que estão sendo oferecidos pelas bibliotecas universitárias:
• chat (conversa em tempo real com usuário que está longe da instituição);
• mídias sociais, o uso das mídias permite a troca instantânea de informações,
divulgação dos seus serviços;
• serviços especializados aos professores/pesquisadores: indicadores e métricas de
produção científica na avaliação da qualidade da pesquisa;
• auxílio no uso de base de dados especializada, auxílio na publicação de artigos;
• gerenciadores de referências e citações (ferramenta eletrônica de gestão de
referências);
• gestão de repositórios e portais de periódicos científicos.

Silva, Schons e Rados (2006) destacam que nas bibliotecas universitárias é


possível identificar dois níveis de serviços: os serviços básicos e os de valor agregado.
Um exemplo de serviço básico é a leitura, já os de valor agregado são os personalizados,
como a disseminação seletiva da informação, levantamento bibliográfico, entre outros.
Em sua história as bibliotecas passaram um bom tempo como guardiãs do
conhecimento ao preservar e organizar o acervo e fazendo uma intermediação entre
os provedores de informação e seus usuários. Nas últimas décadas, percebe-se o
impacto das novas tecnologias da informação, especialmente a Internet, que tem
sido a grande protagonista das mudanças na história das atividades de quem realiza
a intermediação da comunicação científica. Os serviços de unidades de informação e
das bibliotecas sofreram mudanças marcantes em suas atividades e na maneira como
interagem com os seus usuários. A partir da Internet, houve um crescente número
de publicações eletrônicas disponíveis, melhor acessibilidade do usuário na busca da
informação, ausência do contato direto entre usuário e bibliotecário. As universidades
especialmente fizeram investimento em tecnologia e também começaram a atuar
como provedoras de informação eletrônica (SILVA; LOPES, 2011).

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 47


2.2 Serviços em bibliotecas especializadas

Conforme já explorado nesta unidade, as bibliotecas especializadas têm como


proposta organizar e disseminar informação relacionada às atividades de uma
determinada organização ou área do conhecimento. Sendo assim, os serviços que ela
oferece devem atender esse mesmo propósito.
Ao planejar e decidir os serviços que serão oferecidos aos usuários é necessário
realizar um estudo das necessidades de informação da empresa ou organização para
que o acervo que irá compor a unidade de informação seja relevante. Os usuários
precisam ser identificados e estabelecidos os serviços, bem como a forma como serão
entregues aos usuários (FIGUEIREDO, 1978).
A biblioteca especializada dá conta da oferta de serviços a um público coeso,
com interesses semelhantes que agrupam os indivíduos, que normalmente já possui
informações prévias sobre assuntos específicos, detentor de uma identidade e de um
vocabulário inerente a sua especialidade.
Como serviços principais da biblioteca especializada Foskett (apud FIGUEIREDO,
1978) sinaliza a importância do serviço de referência e do serviço de disseminação
seletiva da informação, que será tratado mais adiante. Também as funções de adquirir,
organizar, disseminar informação e materiais, evidenciando que o diferencial nos
serviços da biblioteca especializada deve ser a profundidade e amplidão dos serviços,
num esforço de disseminar informação nova de maneira rápida e eficiente. Como
serviço de disseminação traz a circulação rotativa de periódicos, serviços de alerta,
listas e boletins de aquisição, serviço de referência e traduções, bem como editoração
e publicidade (ou divulgação, como trataremos mais adiante) (FIGUEIREDO, 1978).
Os serviços das bibliotecas especializadas também foram descritos por Figueiredo
(1979), como segue:
a. Desenvolvimento da coleção de acordo com as necessidades da organização;
b. Manutenção de catálogos, índices e referências sobre assuntos especializados;
c. Disseminação da informação corrente, através de exposições, fornecimento de
cópias, notificações pessoais, preparação e distribuição de listas de novas aquisições
de boletins e publicações especiais, como cópia de sumário de periódicos;
d. Empréstimo de livros e circulação automática de periódicos;
e. Indexação e resumo de relatórios internos e de correspondência técnica;
f. Manutenção de serviço de referência para fornecimento de respostas a questões
rápidas ou que requeiram maior tempo e para localização de material ou de
informação em qualquer fonte ou em biblioteca;
g. Compilação de bibliografias e preparação de relatórios;
h. Assistência editorial às publicações da organização;
i. Serviços de tradução;
j. Serviços personalizados de vários tipos: buscas na literatura, compilação de dados,
listas selecionadas com resumos de artigos de periódicos, serviços de alerta, etc.;
k. Orientação em levantamentos de literatura e treinamento no uso da coleção.

48 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Pode-se destacar como pontos em comum entre os serviços oferecidos por
bibliotecas especializadas e universitárias, como a atividade de cooperação entre as
unidades, o serviço de empréstimo entre bibliotecas, consórcios e convênios para
promover o acesso aberto à informação (MARCELINO, 2008).
Miranda (2007), em outro contexto histórico, incluindo a realidade das novas
tecnologias de comunicação e informação, destaca também funções das bibliotecas
especializadas:
• disponibilizar informação de forma rápida e eficaz, informação centrada em área
específica do conhecimento, na busca por atender as necessidades dos usuários;
• efetuar tratamento exaustivo nos documentos, ampliando recursos de recuperação
da informação;
• utilizar a disseminação seletiva da informação;
• disponibilizar acesso a bases de dados especializadas na área de interesse da coleção
da biblioteca;
• oferecer a recuperação aprofundada de informações sobre assuntos específicos da
área.

Além dos serviços tradicionais e especiais de Biblioteca Universitária, Figueiredo


(1991) lembra que as bibliotecas especializadas devem fornecer informações que
auxiliem na administração da empresa para diminuir seus custos e eliminar duplicação
de pesquisa.


3 GESTÃO E POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

Sabemos que a biblioteca pode ser entendida como uma organização


provedora de serviços. Todos os componentes, áreas, divisões que a integram devem
ser gerenciados de maneira que estejam interligados, sendo que a conclusão de
uma atividade não deve comprometer a atuação do setor seguinte. O planejamento,
avaliação e acompanhamento das atividades da biblioteca são primordiais para
obtenção de resultados positivos, principalmente em relação à satisfação do usuário.
A gestão é um dos pilares do trabalho realizado em instituições, e na biblioteca
não é diferente, seja ela universitária, seja especializada, é necessária e deve ser incluída
nas atividades diárias.
Irmão e Barbalho (2014, p. 101) descrevem algumas características que são
atribuídas ao bibliotecário na função de gerente:

• Dirigir, administrar, organizar e coordenar unidades, sistemas e serviços de


informação;
• Formular e gerenciar projetos de informação;
• Aplicar técnicas de marketing, liderança e de relações públicas;
• Buscar, registrar, avaliar e difundir a informação com fins acadêmicos e
profissionais; [...]
• Assessorar no planejamento de recursos financeiros e humanos do setor;
• Planejar, coordenar e avaliar a preservação e conservação de acervos
documentais;

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 49


• Planejar e executar estudos de usuários e formação de usuários da informação;
• Planejar, constituir e manipular redes globais de informação.

É possível conhecer o usuário e sua conduta a partir da gestão estabelecida


pelos profissionais.
Na mesma ideia, também é possível conhecer um profissional por sua gestão
e cada gestão tem a assinatura de seu profissional. Isso também se aplica aos
bibliotecários de bibliotecas universitárias e especializadas. A gestão é muito pessoal,
é uma assinatura. Gestões autoritárias ou democráticas denotam o tipo de gestor e,
ambas, alcançam seus usuários.

Figura 4 – Tirinha do Charlie Brown

Fonte: Charles Schulz (s.d.).

A questão das multas e da gestão do acervo também faz parte de uma política
de desenvolvimento de coleções. Como já vimos no histórico das bibliotecas, em
seus primórdios havia grande preocupação com o acúmulo de acervo, de materiais
bibliográficos – isso conferia status, poder. O cenário prevaleceu e foi se modificando
à medida do surgimento de novas tecnologias.
Com a explosão da informação, a produção e circulação do conhecimento
aumentaram vertiginosamente e atestou-se a impossibilidade de atender todas
as demandas com recursos próprios, em virtude dos orçamentos limitados. O
planejamento e a gestão de coleções torna-se essencial e, neste contexto, surge a
prática da política de desenvolvimento de coleções.
Lima e Figueiredo (1984) enfatizam que a política de desenvolvimento de
coleções consiste num conjunto de normas e diretrizes que determinam ações,
estratégias gerais, instrumentos e delimita critérios que facilitam a tomada de decisão
para os gestores que irão lidar com a composição e desenvolvimento de coleções,
em consonância com os objetivos da instituição, dos diferentes tipos de serviços de
informação e dos usuários do sistema.
Miranda (2004) destaca que o desenvolvimento de coleções requer uma
sistematização e criação de procedimentos de seleção, aquisição, avaliação e
desbastamento do acervo. Para Figueiredo (1999) a coleção precisa ser equilibrada e
deve levar em consideração as avaliações regulares relativas ao acervo de maior uso,
para que esta coleção seja fortalecida.
Para conhecer os materiais passíveis de interesse para a biblioteca presentes
no mercado editorial, os bibliotecários utilizam variadas fontes de informação e,
dependendo do tipo de biblioteca, variam os instrumentos de seleção:

50 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


[...] catálogos de editores, encartes de lançamentos, anúncios; catálogos
de obras publicadas em um país (Ex. no Brasil – Catálogo Brasileiro de
Publicações); bibliografias e listas de materiais recomendados; lista de
reserva; resenhas críticas por revisores qualificados, publicadas em periódicos
especializados. (MIRANDA, 2007, p. 90).

O desenvolvimento de coleções é um processo orgânico e está sempre em


“movimento”, “vivo”. Vergueiro (1989) atesta que o processo de desenvolvimento
de coleções é ininterrupto, é regular, permanente, e respeita a especificidade de cada
tipo de material.
A política desenvolvimento de coleções é formalizada num documento,
criado pelos gestores das bibliotecas e sua equipe para acompanhar o acervo em seu
crescimento.
Vergueiro (1989) considera como etapas necessárias ao desenvolvimento de
coleções:
• Estudo de comunidade (conhecimento do usuário);
• Seleção (identificação do material informacional);
• Aquisição (compra, doação e permuta);
• Desbastamento (remanejamento, descarte ou conservação e restauração);
• Avaliação da coleção (os resultados da avaliação aperfeiçoam o documento de
política de desenvolvimento de coleções).

A política de desenvolvimento de coleções deve ser formalizada em um


documento e proposta por uma equipe/comissão formada por profissionais, usuários
e assessores, analisada e aprovada pelos órgãos competentes. O documento deve
ser flexível e permitir acréscimo e modificações, deve conter a identificação dos
responsáveis, os critérios utilizados no processo, os instrumentos auxiliares, as políticas
e documentos específicos (VERGUEIRO, 1989).
Romani e Borszcz (2006) recomendam que a comissão seja composta com
as indicações de responsabilidade para seleção e demais decisões sobre o acervo.
Deve ter como integrantes 1 bibliotecário, responsável pela unidade de informação
(recomenda-se que a coordenação dessa comissão seja de sua responsabilidade); 1
representante das principais áreas de atuação (ou departamentos acadêmicos) da
instituição a qual está diretamente subordinada; 1 representante da área administrativa
(setor de compras).
A política de desenvolvimento de coleções deve ser elaborada de acordo com
os objetivos da Instituição a que pertence e respeitar a disponibilidade dos recursos
financeiros. Elas proporcionam um crescimento ordenado e consistente do acervo nas
diferentes áreas do conhecimento que a biblioteca atende.
Olhar para o desenvolvimento da coleção é necessariamente olhar primeiro para
o usuário, seu comportamento, suas necessidades, suas expectativas e potencialidades.
Por isso, boa parte do trabalho de gestão em bibliotecas será direcionada para esta
atividade.

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 51


3.1 Desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias

As bibliotecas universitárias são o caso mais paradigmático da reunificação do


saber, constituíram sempre um dos principais instrumentos do trabalho científico.
Elas estão sempre buscando a melhoria e o aumento dos seus acervos, seja através
da aquisição de manuscritos, revistas, obras de referências, assinaturas eletrônicas,
bases de dados, desenvolvimento de bibliotecas virtuais, digitais e eletrônicas, blogs,
comunidades, ou quaisquer outras formas de fixação do pensamento (FIDALGO, 1996).
Apresenta um acervo selecionado e atualizado sobre diversas áreas do
conhecimento, compatíveis aos programas de ensino, pesquisa e extensão. Os serviços
oferecidos geralmente são: consulta local de seu acervo, pesquisas em bancos de
dados e Internet, empréstimo a domicílio, levantamento bibliográfico, orientação
quanto à normalização de trabalhos acadêmicos, reserva de materiais, empréstimo
entre bibliotecas, serviço este que auxilia na resolução de problemas com a eventual
falta de algum livro no acervo local.
O acervo de cada biblioteca depende essencialmente do usuário a quem atende
e a seu principal propósito, pois, “qualquer que seja a forma externa, a essência de
uma biblioteca é uma coleção de materiais organizados para uso” (MCGARRY, 1999,
p. 111).
O acervo das bibliotecas universitárias deve atender prioritariamente aos
Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC) que a instituição oferece. A política de
desenvolvimento de coleções orienta o desenvolvimento da coleção conforme os
conteúdos programáticos ou em projetos acadêmicos dos cursos ministrados pela
universidade em que está inserida (MIRANDA, 2007).
A biblioteca universitária dá suporte ao ensino, à pesquisa e à extensão – o
tripé que caracteriza as instituições universitárias - deve prover material informacional
para apoiar suas atividades, como mencionamos no tópico sobre suas funções e
características.
Assim como acontece com a infraestrutura adequada para esta categoria de
biblioteca, sobre a coleção das bibliotecas universitárias, pesam também as exigências
do MEC. Na metodologia do INEP para avaliação dos cursos a biblioteca está classificada
na dimensão infraestrutura, Seção II (Do Credenciamento e Recredenciamento de
Instituição de Educação Superior), Subseção I (Das Disposições Gerais) do Decreto n°
5.773, de 9 de maio de 2006 (BRASIL, 2006), item VII do artigo 16. É possível observar
que quanto ao acervo há a prerrogativa de um acervo de livros, periódicos acadêmicos e
científicos, assinaturas de revistas e jornais, obras clássicas, dicionários e enciclopédias,
bem como formas de atualização e expansão, de acordo com a correlação pedagógica
com os cursos e programas; vídeos, DVD, CD, CD-ROM, assinaturas eletrônicas (BRASIL,
2006).
No documento citado anteriormente também há indicadores para as bibliografias
básica, complementar e periódicos especializados. No caso das bibliografias básicas,
consideradas obrigatórias, devem ser atualizadas e constar em acervo em quantidade
suficiente. Para que as Instituições consigam conceito máximo, deve constar no acervo

52 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


da Instituição - informatizado e devidamente tombado como patrimônio institucional
- no mínimo três títulos por unidade curricular, na proporção de um exemplar para
até cinco vagas anuais autorizadas de cada uma das unidades curriculares.
Quanto à bibliografia complementar, necessária para a complementação e
atualização, é possível obter conceito máximo quando a Instituição mantém, pelo
menos, cinco títulos por unidade curricular, com dois exemplares de cada título, ou
mesmo, acesso virtual.
No que se refere aos títulos de periódicos, podem estar disponibilizadas no
suporte impresso ou virtual. Consta no instrumento de avaliação que para obtenção
do conceito máximo a Instituição deve possuir assinatura/acesso de periódicos
especializados, indexados e correntes na quantidade maior ou igual a 20 títulos
distribuídos entre as principais áreas do curso, a maioria deles com acervo atualizado
em relação aos últimos 3 anos.
Conhecer esses critérios e requisitos relativos à composição do acervo é
habilidade essencial para bibliotecários que atuam nas bibliotecas universitárias e irão
lidar com o desenvolvimento de coleções nestes ambientes.
O acervo é uma das peculiaridades de uma biblioteca universitária. Ele nunca
será grande o bastante para atender às necessidades de seus estudantes graduandos e
pós-graduandos. Várias são as possibilidades para contornar essa questão, dentre elas,
as comutações, repositórios institucionais, as assinaturas de periódicos via-consórcio
e, no caso do Brasil, a participação nas bases de dados que o governo subsidia. A
partir dessas coleções e políticas de empréstimo e acesso, a biblioteca universitária
consegue acompanhar de modo satisfatório a evolução da publicação científica de
diversas áreas, o que seria muito mais difícil caso fosse possível contar apenas com
seu acervo de livros e periódicos físicos.

3.2 Desenvolvimento de coleções em bibliotecas especializadas



Na biblioteca especializada, a tônica da coleção será o assunto para o qual
a organização está direcionada. Ashworth (1967, p. 1) diz que: “A biblioteca
especializada é uma biblioteca quase exclusivamente dedicada a publicações sobre
um assunto ou sobre um grupo de assuntos em particular”.
Miranda (2007, p. 87) ressalta a relevância das publicações periódicas nas
coleções especializadas, além de:

[...] relatórios, folhetos, normas, monografias, teses, obras de referências


especializadas, maquetes, croquis, slides, projetos, fotos, vinil, software
gerais, CD Rom de imagem/vídeo, fitas de vídeos, bases de dados, DVD e
outros materiais publicados em separata que são armazenados em quantidade
significativa.

No processo de seleção, mesmo em unidades especializadas, em que a coleção


é direcionada para uma área específica, Miranda (2007) destaca que é importante que
o bibliotecário compreenda a necessidade de utilizar vários instrumentos de seleção.

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 53


Na formação e desenvolvimento do acervo, devem ser considerados os
seguintes critérios: qualidade das obras quanto à adequação do material
aos objetivos da Instituição, autoridade do autor e/ou editor, atualidade,
escassez de material sobre o assunto na coleção, nível de cobertura/
tratamento, condições físicas do material, número de usuários potenciais
que poderão utilizar o material, aparecimento do título em bibliografias e
índices, delimitação por idiomas e mudanças de campo de interesses pelos
usuários. (MIRANDA, 2007, p. 90).

Nas bibliotecas especializadas, além das tradicionais fontes encontradas, a


própria organização é uma fonte de informação, pois os seus colaboradores podem
contribuir com informações significativas ou que só eles sabem por sua técnica. Por
isso, a comunicação interna também deve ser um importante instrumento que o
bibliotecário deve utilizar para solucionar as dúvidas do usuário e atender ao problema
de busca. Neste sentido, organizar as fontes de informação exige um esforço maior no
trabalho do bibliotecário para organização, localização e recuperação da informação.
Em relação às fontes de informação prepondera a competência do profissional
no que se refere à formulação da política de desenvolvimento de coleções. Essa
política tem como instrumento básico para o processo de formação e crescimento de
coleções a constituição de um documento formal elaborado pelos responsáveis pelo
desenvolvimento de coleções, expressando o interesse comum da instituição que a
mantém e da comunidade a que serve e permite a articulação das etapas envolvendo
a comunidade interessada.
Além disso, segundo Weitzel (2006), a política de desenvolvimento de
coleções se caracteriza como um instrumento necessário para garantir consistência
e permanência do processo de desenvolvimento de coleções em uma biblioteca.
Portanto, é imprescindível que se tenha uma política de desenvolvimento de coleções
com a função estratégica para administrar conflitos de interesses, obter consenso,
melhorar o canal de comunicação com a comunidade e tornar-se um mecanismo de
conquistas institucionais no âmbito da biblioteca especializada e de outras bibliotecas.
Para proporcionar ao usuário uma informação mais precisa e também oferecer
o uso de fontes e suportes mais adequados que possam levar estes indivíduos a
solucionar suas questões que demandaram informação, faz-se necessário o serviço
de referência. Serviço preponderante nas bibliotecas especializadas oferecido pelo
bibliotecário, deve ser eficiente e possibilitar a conexão entre o acervo e o usuário.
Nenhum serviço informacional disponível em bibliotecas, sejam elas universitárias
ou especializadas será amplamente desfrutado por seus usuários se não houver um
qualitativo serviço de divulgação, como veremos a seguir.

3.3 Divulgação em bibliotecas universitárias e especializadas

Nesta seção veremos a relevância dos serviços de divulgação nestes dois tipos
de bibliotecas. Para qualquer tipologia de biblioteca, de nada adiantaria possuir uma

54 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


infinidade de recursos e infraestrutura se as pessoas não utilizassem. Muitas vezes as
pessoas não utilizam determinados recursos porque não sabem de suas possibilidades
e potencialidades, ou até mesmo que esses recursos existem, por isso a importância
da divulgação das atividades e serviços prestados nos ambientes informacionais.
Como vimos em conteúdo anterior, houve um período da história em que as
bibliotecas eram essencialmente depositárias do conhecimento e saber humanos,
seu acesso se limitava a alguns grupos de privilegiados, pessoas com status social. A
partir da impressão de livros em grande escala a partir da descoberta de Gutemberg
e da popularização da educação, as bibliotecas começaram a ficar mais visíveis e fazer
parte da vida de outros grupos sociais. Na evolução dos serviços de bibliotecas surge a
necessidade de interação com as pessoas que desejam material informacional, através
da divulgação dos serviços prestados.
Todo esse conceito que elaboraremos sobre divulgação se assemelha muito ao
conceito de marketing, há quem estude marketing em bibliotecas e as especificidades
em cada tipologia.
Em qualquer tipo de organização, uma das questões que envolvem a aplicação
do conceito de marketing é que este depende de situações específicas, principalmente
do conhecimento mais aprofundado da organização que irá utilizar e adequar
os conceitos de marketing a contextos particulares. Conceitos que, em geral, se
desenvolveram com estudos de caso, a partir da análise das estruturas e atividades
das organizações, seu ambiente, onde estão inseridas, suas demandas, com quem
pretendem interagir. O marketing adequa vocações e capacidades de uma organização
para as demandas de um público específico, o que exige conhecimento e planejamento
do gestor para utilizar adequadamente as inúmeras ferramentas possíveis para cada
situação diferente (SILVA, 2000).
Estudiosos de marketing, Kotler e Armstrong (1998) destacam-no não somente
como um processo gerencial, mas também como um processo social, em que pessoas e
grupos buscam o que necessitam e desejam, bem como criam e trocam valores entre si.
Para isso, é necessário conhecer o consumidor, seus hábitos. Las Casas (1991) também
destaca esse viés relacional, atestando que trata-se de uma área do conhecimento
que se dá nas relações de troca que se estabelecem para satisfazer as necessidades e
desejos de consumidores.
Na relação da divulgação – que trataremos aqui – com o marketing pode
haver um descompasso e é por isso que escolhemos denominar “divulgação” e não
“marketing”, embora os conceitos possam estar ligados. O marketing está associado
a uma dinâmica de mercado, está comprometido com o mercado. Podemos perceber
nas definições dos dois estudiosos anteriores que os usuários são tratados como
“consumidores”, terminologia utilizada na dinâmica de mercado. Essa não será a
lógica principal da divulgação nas bibliotecas universitárias e especializadas quando
estivermos tratando de instituições públicas, por exemplo.

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 55


Reflita

Pesquise mais sobre marketing, seus conceitos e sobre os conceitos e funções


das bibliotecas que já vimos anteriormente. Reflita: mesmo em instituições de
natureza privada, em sua opinião, o que difere as bibliotecas especializadas e
universitárias das outras organizações, ou mesmo, de outros setores dentro
da mesma organização, a partir de uma lógica estabelecida por uma dinâmica
de mercado?

É necessário que o estudante que irá atuar nestas unidades e o profissional


que já atua, possam realizar estas reflexões, já que informação não é somente um
bem econômico, mas um fator que permite a transformação da sociedade e deve ser
direito de todos.
Alguns autores acreditam em um caminho de desenvolvimento de marketing
em unidades de informação que não tenha foco na questão mercadológica. Amaral
(1996) enfatiza a abordagem do conceito que a relaciona com a troca, em que o
marketing viabiliza que a necessidade não satisfeita de uma das partes seja atendida
pelas condições que a outra parte oferece mediante uma negociação. O marketing é
um processo gerencial e, segundo Amaral (1996), da dimensão do conceito adotada
dependerá o tipo de orientação de uma organização.
Quando se relaciona marketing com as unidades de informação, o essencial é a
manutenção do conceito de trocas, já mencionado anteriormente, que as bibliotecas,
por exemplo, estabelecem com seus usuários. Portanto, o marketing poderia otimizar
as relações entre prestadores de serviços e usuários. Além disso, ajustar recursos e
capacidades de quem presta um serviço às necessidades dos usuários, explícitas e
implícitas (SILVA, 2000).
Uns poderão chamar de divulgação, outros de comunicação, talvez, marketing,
que seja. A divulgação é o processo em que a biblioteca se apresenta aos seus usuários
e nessa apresentação fica também exposta a interação com os mesmos, nesse processo,
expõe seus serviços, suas facilidades e o potencial de auxílio aos que necessitam de
informação. Para o público das bibliotecas universitárias e especializadas, pelo que
pudemos expor até aqui, a divulgação realizada será de uma informação de uma área
específica, técnica, científica.
Mesmo diante da infraestrutura e recursos que as bibliotecas especializadas e
universitárias possam ter, nem sempre isso é conhecido da comunidade especializada
e acadêmica. Por isso que a comunicação e a divulgação são necessárias para
manutenção e utilização do material informacional e serviços disponíveis.
Mesmo os usuários que não têm o hábito de ir diariamente à biblioteca,
podem ser beneficiados pelos serviços realizados por estas unidades que abrangem a
divulgação, pois, por meio dela, a comunidade toma conhecimento das atividades sem
necessariamente estar presente, já que a realidade atual das bibliotecas universitárias

56 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


e especializadas inclui um aparato tecnológico que as favorece. Como já vimos, ambas
trabalham com informação científica e no processo de divulgação irão também
comunicar essa informação.
A comunicação científica dá conta das atividades de produção, disseminação
e uso da informação, desde a ideia do cientista até os resultados alcançados, é um
processo direcionado para a comunidade científica e público em geral, portanto, deve
fluir (BERNAL, 1939).
Cabe ao bibliotecário utilizar instrumentos e se valer de serviços para que
possa executar bem a tarefa de divulgar tudo que a instituição tem de recursos e
potencialidade para o usuário. Atualmente, há uma variedade maior de instrumentos
que podem ser utilizados devido ao avanço tecnológico e todo aparato de informação e
comunicação sofisticado advindo deste avanço. A utilização e a gestão desta tecnologia
para potencializar a divulgação e a troca, fortalecendo o marketing da biblioteca, é
de responsabilidade do profissional, são blogs, sites, redes sociais (Facebook, Twitter,
entre outros) - mídias sociais - as mais importantes ferramentas da web 2.0.
Web 2.0, também chamada de web social, é centrada no indivíduo, divulga
conteúdo ao mesmo tempo que propicia e potencializa a interação entre as pessoas
que estão inseridas nos ambientes das mídias sociais (PRADO; CORREA, 2016).
Através da web 2.0 a possibilidade de acesso remoto extrapola o limite do
espaço físico que restringia o acervo. A informação, antes controlada/catalogada por
bibliotecários, também pode ser controlada com tags de classificação e comentários
dos usuários (VIEIRA; BAPTISTA; CERVERÓ, 2013, p. 46).
Fazer uso destes recursos como estratégia de marketing de uma unidade
de informação propicia, além da divulgação dos serviços oferecidos aos usuários,
conhecer o perfil e as demandas informacionais dos mesmos, já que grande parte,
principalmente dos usuários de bibliotecas universitárias e especializadas, fazem parte
do mundo virtual e compartilham conteúdo nessas mídias. Nesse sentido, podemos
afirmar que essas ferramentas também facilitam um estudo do usuário das unidades
de informação.
Araújo, Pinho Neto e Freire (2016) destacam como recursos de comunicação
da Internet entre biblioteca e usuários, os sites institucionais, newsletters, websites,
chats, groupwares, blogs, redes sociais, malas-diretas, entre outras ferramentas. Para os
autores, a divulgação de informações relativas à biblioteca universitária em ambientes
virtuais, por exemplo, contempla acesso rápido e fácil à informação, atrai uma nova
geração de usuários que busca facilidade no acesso à informação, agregando valor,
fomentando a interação e conferindo maior visibilidade do trabalho desenvolvido
pela biblioteca.
Um dos serviços mais utilizados em bibliotecas especializadas e universitárias
será abordado em seguida, a Disseminação Seletiva da Informação (DSI).

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 57


Síntese

Nesta unidade tivemos acesso a informações breves sobre a infraestrutura


necessária em bibliotecas universitárias e especializadas, abordamos os serviços
comumente oferecidos nas duas categorias de bibliotecas, detalhamos a
gestão e, mais especificamente, a política de desenvolvimento de coleções das
bibliotecas universitárias e especializadas e fizemos uma breve exposição sobre
a relevância do serviço de divulgação realizado nas duas bibliotecas.

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2013.

WEITZEL, S. R. Elaboração de uma Política de Desenvolvimento de Coleções em


Bibliotecas Universitárias. Rio de Janeiro: Interciência, 2006.

60 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Anotações

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Anotações

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Unidade 4
Disseminação Seletiva da Informação (DSI)

Objetivo:
• Definir Disseminação Seletiva da Informação (DSI);
• Compreender o contexto da prestação de serviço das bibliotecas universitárias
e especializadas.

Conteúdo programático:
• Conceito de DSI;
• DSI nas bibliotecas universitárias e especializadas.
Faça aqui seu planejamento de estudos

64 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


INTRODUÇÃO

Nesta unidade vamos buscar entender sobre duas categorias de bibliotecas


específicas e, neste contexto, a Disseminação Seletiva da Informação (DSI) tem destaque
por ser uma prática pertinente.
Estudamos um pouco na Unidade 1 sobre a “explosão” informacional que
inicia com a invenção de Gutemberg e que atualmente é desafio constante para os
profissionais que atuam em unidades de informação, seja qual for o suporte em que
a informação esteja registrada. Como conciliar o desejo de cada pessoa que solicita
os serviços nestas unidades em suas necessidades de informação e a quantidade de
informação existente?
Estudamos também na Unidade anterior sobre os usuários das duas bibliotecas
em questão, as universitárias e especializadas. Iremos conhecer nesta Unidade um
pouco sobre o serviço de DSI e você poderá constatar que conhecer o usuário será
imprescindível para que o processo de encontro entre a pessoa com uma necessidade
informacional específica e a informação possa se concretizar.

Importante

Pensemos juntos antes de conhecer um pouco mais o assunto através da


literatura científica, sem ler previamente: o que se poderia imaginar como
disseminação seletiva da informação? Como isso se concretizaria como um
serviço em unidades de informação? Acha que já foi contemplado com este
serviço?
Anote essas ideias.

1 SOBRE O SERVIÇO DE DSI

Como mencionamos na Unidade 1 na breve abordagem sobre o histórico das


bibliotecas, o serviço de DSI não é algo recente, seu desenvolvimento ocorreu em
meados do século XX.
O DSI inicialmente era um serviço prestado principalmente pelas bibliotecas
especializadas e elaborado manualmente com base no acervo local de periódicos,
com o objetivo de produzir listas selecionadas de títulos e artigos e a distribuição de
resumos a poucos usuários. Há um consenso no entendimento de que o DSI surge de
forma mais estruturada com Hans Peter Luhn, da IBM Corporation, com o objetivo de
minimizar esforços dos cientistas na busca de informações relevantes para o trabalho
de pesquisa. Ele imaginou um sistema automático de disseminação da informação
que compilava dados para construção de perfis de interesse para vários setores da
indústria científica e de órgãos governamentais. A partir desta primeira experiência,

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 65


em 1960, um segundo serviço de DSI foi testado, mais planejado e documentado, o
que permitiu sua divulgação (EIRÃO, 2009).
Entretanto, Sampaio e Moreschi (1990) destacam autores que abordam também
a possibilidade do DSI ter surgido como extensão dos serviços de alerta e notificação
corrente e a invenção de Luhn ser um processo de mecanização do sistema para
melhorar as precariedades do sistema manual. Os serviços de alerta são atividades
desenvolvidas pelos bibliotecários objetivando chamar atenção da comunidade –
real ou potencial – para as informações existentes dentro e fora das unidades de
informação. Um serviço oferecido através de sumário de periódicos, exposição de
material recebido, circulação de periódicos entre os usuários, murais para divulgação,
entre outros.
O que distingue essencialmente um serviço de DSI de um serviço de alerta é que
no primeiro, como um serviço tipicamente voltado à filtragem de informação, há a
construção de um perfil de interesse a partir de uma base de conhecimento específico
sobre a necessidade informacional dos usuários (ALMEIDA, 2007).
Os primeiros estudos sobre DSI no Brasil despontaram também em bibliotecas
especializadas na década de 1970, vinculados aos centros de informação e unidades
de informação de órgãos públicos. Na literatura científica sobre o serviço há relatos
de seu desenvolvimento na Companhia Vale do Rio Doce, no Instituto de Energia
Atômica de São Paulo, na Embrapa (EIRÃO, 2011).
O termo Disseminação Seletiva da Informação é tradução do termo inglês
Selective Dissemination of Information (SDI). Os autores Sampaio e Moreschi (1990)
designam o DSI como um serviço de seleção de documentos que tem como critério
o interesse específico do usuário, divulga os documentos atuais e pertinentes a sua
área de atuação e necessidade informacional com base em um perfil estabelecido
previamente. Diante de toda massa documental existente e acumulada nas unidades
de informação serão selecionados os documentos específicos que sejam identificados
com este usuário.
Lunh (1961, p. 132 apud LIMA et al, 2001) entende DSI como o serviço da
organização que canaliza novos itens de informação “para aqueles pontos onde a
probabilidade de utilização, em conexão com o interesse corrente do usuário, seja
alta.” Entretanto, percebe-se que, ao longo dos tempos, a maneira de conceituar
o DSI veio se modificando em virtude das técnicas utilizadas para a prática de
disponibilizar informação especializada. Nocetti (1980) associa o serviço de DSI típico
ao fornecimento de uma lista de referências bibliográficas em intervalos periódicos,
que se relacionam com a área de interesse de cada usuário ou grupo de usuários.
Harrord (apud SAMPAIO; MORESCHI, 1990) designa DSI em seu Glossário como
sistema automatizado para recuperar informação que se utiliza de computador para
disseminar informações relevantes para os usuários.
O crescente aumento por informação (vivemos a sociedade onde o conhecimento
é sua “mola propulsora”, a chamada sociedade da informação ou do conhecimento)
e também das novas tecnologias de informação e comunicação tornam o DSI uma
ferramenta imprescindível para a gestão, otimizando o serviço aos usuários.

66 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


A intenção em servir uma comunidade específica de indivíduos ou grupos
com informação previamente selecionada de acordo com seu perfil caracteriza um
serviço de DSI, as estruturas dos diferentes serviços – computadorizadas ou manuais
– proporcionam produtos similares e podem também trabalhar cooperativamente.
Entretanto, uma característica principal dos serviços de DSI é a continuidade no fluxo
de recebimento de informação (BORDA apud SAMPAIO; MORESCHI, 1990).
Com relação aos objetivos do serviço de DSI, eles irão variar de acordo com
os interesses de seus usuários e cada unidade de informação irá implementar o
serviço com um propósito particular, tornando-se necessário adequar o projeto de
implantação do serviço a cada caso específico. Nos estudos em que há registros sobre
organizações que utilizaram o DSI é possível perceber que sua utilização atendeu
objetivos mais específicos em conformidade com o objetivo de cada organização
(SAMPAIO; MORESCHI, 1990).
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por exemplo, utiliza algumas técnicas de
DSI para realizar a divulgação de seus produtos e serviços de informação para servir de
estímulo ao compartilhamento de informações entre usuários, fornecendo informação
de acordo com perfis de interesse coletadas nas bases bibliográficas e em seu acervo
(o maior no Brasil sobre História da Saúde Pública e Ciências Biomédicas da América
Latina) com documentação textual e audiovisual (SIQUEIRA, 2005).
O DSI também se demonstra um mecanismo de provocação da cultura
organizacional para o uso intensivo e adequado da informação. Todo esforço de
autoatualização informacional que normalmente é responsabilidade do próprio usuário
da informação passa a ser da alçada da equipe de DSI que separa o “joio do trigo” e
transmite informação previamente selecionada para o um público específico. Portanto,
no contexto organizacional, pode representar uma boa ferramenta de liderança,
inovação e incentivo ao aprendizado (SIQUEIRA, 2005).
Para Almeida (2008) as novas tecnologias e os sistemas informatizados
promoveram uma maior condição de agilidade nas pesquisas bibliográficas e
ampliaram a distribuição de informação para mais usuários.
O trabalho automatizado de DSI inclui seis etapas, na concepção de Nocetti
(1980):
• Levantamento dos interesses informacionais dos usuários;
• Análise e tradução dos perfis mediante atribuição de descritores e códigos legíveis
pelo sistema que sejam representantes dos temas para recuperação;
• Arquivamento, armazenamento no sistema dos perfis dos usuários;
• Recuperação da informação a partir do confronto dos perfis dos usuários com a
base de dados;
• Controle de qualidade mediante teste dos resultados, para identificar possíveis erros
de estratégia e de linguagem;
• Expedição aos usuários, envio das listagens e ficha de avaliação, após os controles
de expedição.

Ao fim destas etapas a organização que presta o serviço está apta para afirmar
o que é e o que não é importante para seu usuário. O desenvolvimento das novas

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 67


tecnologias de informação e comunicação e das bases de dados tornou o cruzamento
de informações uma tarefa relativamente simples de ser executada (EIRÃO, 2009).
A definição que imaginou previamente é semelhante com a que os autores
descrevem? Vejamos um pouco mais sobre algumas características e funcionamento
do serviço de DSI tão usuais nas bibliotecas estudadas nesta Unidade.

2 O SERVIÇO DE DSI NAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS E


ESPECIALIZADAS

A mudança de entendimento de que o usuário deve configurar foco principal


nas atividades realizadas em unidades de informação ao invés da atenção primeira
recair sobre o acervo, tem muita relação com o serviço de DSI. Colocou diante
dos responsáveis por unidades e serviços de informação, incluindo as bibliotecas
universitárias e especializadas, a necessidade de dinamização desta prestação de
serviço. Nesse sentido, conhecer o usuário é fundamental e não há como realizar um
serviço de DSI sem esta condição.
Tanto bibliotecas universitárias quanto especializadas possuem duas
características convergentes: vão interagir prioritariamente com um usuário específico,
representante de um grupo com uma área de interesse ou áreas de interesse definidas.
Além disso, estes usuários, geralmente, já possuem alguma experiência, ainda que
incipiente, no processo de pesquisa e de recuperação de informações. Essas duas
características as diferem, por exemplo, da biblioteca pública que está a serviço de
um coletivo disforme, mais diversificado, ou mesmo da biblioteca escolar, em que
há um processo inicial de aprendizado destes usuários na busca por atender suas
necessidades de informação.
É imprescindível esse conhecimento de um público bem delimitado e direcionado
para uma informação específica e já inserido no processo de recuperação de
informações. Tanto em bibliotecas universitárias quanto em especializadas, o ponto
crucial para o sucesso do serviço de DSI baseia-se na construção do perfil desse usuário
que se deseja atender e no método utilizado para a obtenção de tais dados. A coleta
dos dados deve ser feita através de uma “entrevista pessoal com o usuário, na qual é
feita uma narração por escrito de seu campo de atuação onde também são submetidas
palavras-chave e referências que melhor definam o seu interesse específico” (LONGO,
1978, p. 104 apud EIRÃO, 2009, p. 23).
Modelos de DSI, conforme Siqueira (2005), podem ser classificados de acordo
com sua filtragem informacional:
• Baseado em conteúdo: baseado no alinhamento do perfil do usuário com a relevância
do conteúdo disponível.
• Baseado em colaboração: baseado no alinhamento do perfil do usuário com
a relevância do conteúdo disponível e com o interesse de usuários com perfis
semelhantes. Este é um método muito utilizado em ambientes de comércio
eletrônico, como Amazon e Editora Campus, com suas sugestões de livros.

68 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Antes da popularização da automatização das unidades de informação, Harrord
(apud SAMPAIO; MORESCHI, 1990) enfatizou que um perfil de interesse deve ser
elaborado para o usuário de acordo com sua área de atuação e que o serviço de DSI
se efetiva a partir de palavras-chave representativas em dado documento que são
confrontadas com os perfis de interesse e os termos, condizendo com interesses
específicos, direcionam envio de informações pertinentes aos usuários.
Com a automatização do DSI, o usuário ganha mais autonomia, o serviço ganha
mais recursos, possibilidades, rapidez e eficiência e amplia possibilidade de efetivação
do DSI. Siqueira (2005), por exemplo, enfatiza que o perfil pode ser construído pelo
próprio usuário ou mesmo ser captado por seus hábitos, experiências passadas, área
profissional, formação, navegação e outros possíveis indicadores de perfil (SIQUEIRA,
2005).
Os serviços de disseminação seletiva também foram gradativamente
incorporados aos formatos eletrônicos e, no século XX, década de 80, o surgimento
das bases de dados em CD-ROM conferiram às pesquisas bibliográficas mais agilidade
e eficácia nos resultados de recuperação da informação (ALMEIDA, 2007)
Ainda que sejam muitas as opções de busca gratuita pela Internet, os serviços
de DSI permanecem tendo um alto índice de aceitação entre os pesquisadores, pela
relevância da informação recuperada, por vezes superior às encontradas nas pesquisas
bibliográficas feitas pelo próprio usuário - sem mencionar o suporte das filtragens e
o auxílio de sistemas de filtragem ou a intermediação de um profissional habilitado
(ALMEIDA, 2007).
Quais as principais tecnologias utilizadas para o serviço de DSI em bibliotecas
universitárias e especializadas atualmente? Podemos citar, por exemplo, a Really
Simple Syndication (RSS), um conjunto de especificações voltadas para a agregação
e distribuição de conteúdos da Web que facilita o processo de consulta e partilha de
informação proveniente de diversas fontes de informação, periodicamente sujeitas
a alterações e atualizações. Isso gera uma economia de tempo com a leitura de
informações de diversos sites em um único ambiente e a possibilidade de agregar
somente aquelas informações que pertencem à área de interesse da pessoa.
Badman e Hartman (2008, p. 670) incluíram o RSS como solução para a
disseminação dos conteúdos dos periódicos científicos que cada vez mais se apresentam
apenas na forma eletrônica. Com a popularização desta tecnologia, as bibliotecas e
centros de informação começam a reconhecer nesta ferramenta oportunidade de
inovação no serviço de referência. Wusteman (2004, p. 404) apontou que, embora
a área de atuação do RSS ainda seja recente, as bibliotecas têm identificado nessa
tecnologia ferramentas úteis para um número crescente de tarefas.
O RSS surge aliado ao conceito de DSI, com a finalidade de notificar
automaticamente os usuários sobre novos conteúdos através do feed, arquivo texto
codificado. O funcionamento é simples, o usuário precisa possuir um leitor, escolher e
selecionar suas áreas de interesse. Após a seleção, o indivíduo receberá apenas aquelas
informações ou atualizações de informações, referentes somente à área selecionada
previamente no leitor (LIMA et al., 2001, p. 195).

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 69


Lima et al (2001) destacam que essas ferramentas de DSI conferem ao usuário
o poder de decisão sobre o que receber, logo, dizem muito também deste usuário que
“seleciona”. Os serviços que envolvem disseminação seletiva da informação possuem
a característica de surpreender o usuário, poupar seu tempo, oferecer um serviço
requintado, personalizado, práticas que foram ainda mais refinadas a partir da era
da Internet, que passou a dispensar o monitoramento humano constante.
Num contexto de prestação de serviços onde o conteúdo informacional é
na maioria das vezes minuciosamente específico - como é o caso das bibliotecas
especializadas e universitárias -, o serviço de DSI é considerado fundamental porque
é uma ferramenta que auxilia o profissional na busca por informações precisas de
uma área de interesse que muitas vezes nem mesmo o usuário saberia explicar numa
entrevista de referência.
É essencial que o bibliotecário que atua nestes ambientes implemente e saiba
lidar com essas ferramentas que serão a extensão do serviço de referência, entretanto,
com a vantagem ainda de antecipar ao usuário documentos relativos à sua área de
interesse antes mesmo que ele procure.

Reflita

Vimos anteriormente sobre a web 2.0 e sua relevância para o trabalho


do bibliotecário que atua em bibliotecas universitárias e especializadas.
Aproveitando as dicas de leitura (mas não se restringindo às mesmas)
pesquise sobre a web 2.0 e como ela se relaciona com o serviço de DSI.

Síntese

Nesta unidade abordamos inicialmente o conceito de disseminação seletiva


da informação e pudemos ver uma exposição breve sobre o DSI nas categorias
de biblioteca universitária e especializada no contexto das novas tecnologias
de informação e comunicação.

70 Bibliotecas Universitárias e Especializadas


Para ler...

MANESS, J. Teoria da biblioteca 2.0: web 2.0 e suas implicações para as


bibliotecas. Informação e Sociedade, João Pessoa, v. 17, n. 1, 2007.
SOUTO, Leonardo Fernandes. Informação seletiva, Mediação e Tecnologia:
a evolução dos serviços de Disseminação Seletiva da Informação. São Paulo:
Interciência, 2010.
SOUZA, J. Ferramentas 2.0 e bibliotecas universitárias brasileiras:
levantamento de uso e implicações. Novas práticas em informação e
conhecimento, v. 2, n. 1, 2013.

REFERÊNCIAS

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comunicação científica. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO, 8, out. 2007, Salvador. Anais... Salvador, 2007.

BADMAN, D. A.; HARTMAN, L. Developing current awareness services: virtual


reading and online routling. College & Research Library News, v. 69, n. 11, p.
670-672, 2008.

EIRÃO, T. G. Disseminação seletiva da informação: uma abordagem. Revista Digital


de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v.7, n. 1, p. 20-29, jul./
dez. 2009.

______. A disseminação seletiva da informação e a tecnologia RSS nas


bibliotecas de Tribunais em Brasília. 2011. 116f. Dissertação (Mestrado) -
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Ciência da
Informação de Brasília, Brasília, 2011.

LIMA, M. P. et al. A disseminação da informação de maneira seletiva e eficaz no


SERPRO. In: SANTOS, A. R. et al. Gestão do conhecimento: uma experiência para o
sucesso empresarial. Curitiba: Champagnat, 2001. Cap. 7, p.195-232.

NOCETTI, M. A. Disseminação seletiva da informação: teoria e prática. Brasília:


ABDF, 1980.

SAMPAIO, M. I. C; MORESCHI, E. B. P. Disseminação seletiva da informação: uma


abordagem teórica. R. Bras. Bibliotecon. e Doc., São Paulo, v. 23, n. 1-4, p. 38- 57,
jan. ./dez, 1990.

Bibliotecas Universitárias e Especializadas 71


SIQUEIRA, M. C. Gestão estratégica da informação. Rio de Janeiro: Brasport,
2005.

WUSTEMAN, J. RSS: the latest feed. Library Hi Tech, v. 22, n. 4, p. 404-413, 2004.

72 Bibliotecas Universitárias e Especializadas

Você também pode gostar