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RESPONSABILIDADE

Ontem me deparei com essa frase de Freud: "Qual a sua responsabilidade na desordem da
qual você se queixa"
Se não abrirmos os olhos para o nosso interior e percebermos qual é a nossa parte nos
sofrimentos e frustrações pelas quais estamos passando, nada irá mudar. É da ordem do
impossível.
Daí me veio a pergunta: quais as opções para um sujeito que sofre muito? A própria
neurose providencia uma solução: gerando uma inibição ou um sintoma. Essa é a primeira
tentativa de aliviar a angústia. Se essa resposta for satisfatória, ele não irá buscar ajuda de
outro recurso, mas não sendo, o sujeito pode ainda colocar a esperança de um bem-estar
em "alguma coisa" como, drogas, álcool, entorpecentes e por aí vai.
O que podemos pensar é que são saídas pelo gozo em detrimento do desejo. Entorpecem o
sujeito, logo o desejo, deixando que a improdutividade impere. Isso que chamamos de
"alguma coisa seria a própria presença do objeto tamponando, calando, sufocando o
desejo.
Um outro caminho, para o sujeito que sofre muito, é o de crer em algo acabado, completo,
pleno. Isso lança o sujeito na impotência, no excesso de imaginário ou no excesso de
simbólico, onde tudo tem explicação. Com certeza não teremos mudanças efetivas.
A psicanálise, enquanto dispositivo clínico, uma descoberta de Freud, tão importante quanto
o conceito de inconsciente, visa à mudanca no real. Onde o sujeito se depara com a
castração.
A incompletude e a falta passam a ter um valor inestimável, é o que possibilita ao sujeito
constituir-se como desejante. Ele não se « como fálico, mas como falho. Tornarse "senhor
das próprias infelicidades e acolher o sofrimento é poder se entregar à vida de forma
potente.
Não se trata de dar um lugar ao sofrimento como ideal. Pelo contrário, atravessá-lo significa
retirá-lo desse terreno e removelo para o lugar de impulso. Deixar de ver o sofrimento como
coitado e passar a velo como impulso é mudar a visão que se tem em relação ao
sofrimento.
Assim, da impotência neurótica chegase a impossibilidade lógica para se partir para a
possibilidade e a necessidade de uma escritura que pode se dar através de um escrito, de
uma construção.
O resultado de toda essa operação é sofrer o mínimo possível.
Como dizia Freud. "A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade
envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade".

Luiz Roberto Duncan


Psicanalista

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