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Grupo: Crítica & Dialética The Conservative Mind Russell Kirk; 1953

The Idea of Conservatism

Tese geral: “Rever as ideias conservadoras examinando sua validade para esta época perplexa”.
Buscar a essência do conservadorismo britânico e americano, suas similaridades e o que tem o
sustentado contra teorias radicais e transformações sociais desde o inicio da revolução francesa. Em
última análise uma crítica às ideias conservadoras.

Tese secundária: Burke é o fundador do conservadorismo moderno e o proeminente filósofo dessa


linha, pois desvelou a polaridade entre conservação e inovação, e, também, porque todos os
conservadores importantes posteriores a ele foram seus discípulos.

Argumentação: “O partido estúpido” assim começa o texto de Russell Kirk, com uma citação de J.
S. Mill acerca do partido conservador Inglês. O autor argumenta que os partidos liberais e radicais
vem perdendo força ao longo dos anos – força essa que eles achavam ser perpétua –, dado que o
partido conservador foi apoiado por alguns que eram considerados “enfadonhos e irrefletidos”.

“Edmund Burke, o maior dos pensadores conservadores modernos, não se


envergonhava de reconhecer a fidelidade de homens humildes, cujas garantias são o
preconceito e a receita; pois, com afeto, ele os comparou ao gado sob os carvalhos
ingleses, surdo aos insetos da inovação radical”.

Em seguida o autor mostra indignação frente a depredação do lugar em que Burke nasceu,
como argumento de depredação da história conservadora irlandesa. Ele afirma que somente ruínas
restaram de lá, mas logo ao norte, na faxada da Trinity College está a estátua do filósofo. Assim ele
argumenta que a Irlanda tem como característica a atração de entusiastas conservadores frente ao
mundo que “desgraça a tradição, exalta a igualdade e recebe as mudanças; um mundo que agarrou
Rousseau, engoliu-o por inteiro e exigiu profetas ainda mais radicais; um mundo manchado pelo
industrialização, padronizado pelas massas, consolidado pelo governo; um mundo mutilado pela
guerra, tremendo entre o colosso do Oriente e do Ocidente, e olhando por cima de uma barricada
destruída para o golfo da dissolução”, assim como previu Burke em 1790. Uma derrota de um
século e meio dos conservadores pelos radicais.
Para Kirk, a queda do conservadorismo se deu majoritariamente por duas vias, primeira: as
forças conservadoras não conseguiram se erguer frente a centralização, a industrialização irracional,
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o secularismo e o impulso de nivelamento[levelling impulse]. Segundo, os pensadores


conservadores não tiveram perspicácia frente as charadas [conundrums] da época moderna.
Essa época, por sua vez, está repleta de histórias sobre o liberalismo e radicalismo, no
entanto, de poucas histórias sobre os conservadores, pois, anteriormente, essa estava em germe na
indistinção dos partidos Whiggery, Toryism e nos intelectuais antiquários. O mesmo ocorreu na
América, dado que a oposição entre conservadores e radicais só se tornou intensa com a chegada do
Espírito da revolução Francesa, trazido por Thomas Paine e Genet.
Além disso, o livro se restringe a análise das ideias de Burke e de pensadores burkeanos
como Tocqueville (por conta de sua influência duradoura na América). Em outras palavras, “a
mente conservadora está confinada à pensadores britânicos e americanos que mantiveram a tradição
e os antigos establishments”. Isso pois, ambos escaparam da revolução de 1790, e se quisermos
olhar para trás em busca de outro marco, tão cedo não encontraremos outro autor moderno
primoroso como Burke e tampouco uma obra mais notável que Reflexões da Revolução em França
– pois pela primeira vez foi fixado na consciência do povo as ideias proféticas sobre os polos
opostos; inovação e conservação, afirma Kirk – Essa nova era profetizada foi ilustrada pela canção
revolucionaria francesa La Carmagnola e pela implantação da indústria no norte da Inglaterra. Vale
lembrar que tanto para Burke quanto para Kirk a revolução americana foi um ato conservador frente
as inovações da coroa britânica.
Reforçando a assertiva de que Burke além de fundador do conservadorismo moderno, foi,
também, influenciador de inúmeros poetas e filósofos inclinados a esse posicionamento, como
Canning, Coleridge, Hamilton, John Adams, etc. Não obstante, Kirk afirma que David Hume era
“um Tory por acaso”, assim como Hegel, um conservador por ocasião. Segundo Tocqueville:
“Hegel exigiu submissão aos antigos poderes estabelecidos de sua própria época;
que ele considerava legítimo, não apenas pela existência, mas por sua origem. Seus
eruditos desejavam estabelecer poderes de outro tipo. Dessa caixa de Pandora
escaparam todos os tipos de doenças morais de que o povo ainda sofre. Mas
observei que uma reação geral está ocorrendo contra essa filosofia sensual e
socialista”.

Ademais, Kirk afirma que é impossível rotular Hegel como um conservador moderno, em
outras palavras, um Burkeano, pois além de nunca ter o lido, sua metafísica [para Burke] seria tão
abominante quanto seu estilo”. Aqueles que afirmam o contrário disso estão em perigo de
interpretarem conservadorismo como autoritarismo em seu sentido político.
Caminhando para o final do texto o autor condensa e divide os cânones conservadores em
seis, mesmo afirmando que esse aspecto panfletário seja de cunho radicalista. Preliminarmente,
Kirk afirma que o pensamento conservador não é um conjunto de dogmas a serem seguidos

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cegamente e sim um pensamento que se molda de acordo com o tempo, habilidade herdada de
Burke. A essência desse pensamento é a “preservação das antigas tradições morais da
humanidade[…] respeito a sabedoria dos ancestrais, dúvida de uma alteração total. Eles pesam que
a sociedade é uma realidade espiritual, possuindo uma vida eterna, mas uma constituição delicada:
ela não pode ser descartada e remodelada como se fosse uma máquina”.

1. Crença em uma ordem transcendental, reguladora que governa a sociedade e sua


consciência, pois o entendimento humano não é suficiente para satisfazer as suas necessidades.
Crença que problemas da política são redutíveis a problemas morais e religiosos, que, por sua
vez, são leis primitivas que não podem ser violadas. O dever do conservador é aplica-las e fazer
prevalecer a justiça na comunidade das almas.
2. “Afeição a proliferação a variedade e mistérios da existência humana” frente a
uniformidade cada vez menor do igualitarismo e utilitarismo comuns a políticas radicais. O
pensamento conservador é contra o logicismo[logicalism]. “Esse preconceito tem sido chamado
de conservadorismo do gozo, uma sensação de que vale a pena viver a vida”.
3. Convicção de que sociedades civilizadas necessitam de divisões de classes. Pois se não as
existisse os oligarcas ocupariam esse vaco. Cito: “A igualdade final no julgamento de Deus e a
igualdade perante os tribunais são reconhecidas pelos conservadores; mas igualdade de condição,
eles pensam, significa igualdade na servidão e no tédio”.
4. A favor da propriedade privada, pois ela está diretamente ligada a liberdade. Quando
separamos as duas o Leviathan toma posse de tudo. Eles acreditam que o fim da desigualdade não é
um passo para o progresso.
5. Fé na concretude e desconfiança nas abstrações dos sofistas, calculistas e economistas,
pois os “costumes, convenções e prescrições dos antigos são controles tanto sobre o impulso
anárquico do homem quanto sobre a ânsia de poder do inovador”.
6. A maior virtude do estadista é a prudência e ela sempre deve estar presente em seu
cálculo. A mudança é necessária, porém a mudança radical não, uma vez que ela acontece em nome
do progresso sem o tê-lo.

Nesse ponto do texto, Kirk faz o mesmo esquema com seus oponentes, os ideólogos
radicais, deixando de fora as teorias científicas de Darwin. Os racionalistas se dividem em cinco
escolas; os emancipadores românticos: Rousseau e companhia, os utilitaristas partindo de Bentham,
os positivistas partindo de Comte e por último os coletivistas materialistas, marxistas e socialistas.
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1. A crença na perfectibilidade do homem e no progresso ilimitado da sociedade, esses


alinhados à educação, à legislação positiva(positive legislation) e à alteração do meio ambiente
podem produzir homens como deuses. Os radicais não negam que a humanidade tenha uma
inclinação natural para a violência e para o pecado.
2. Desprezo pela tradição, adoção às novas ideologias, à razão, ao impulso e às
determinações materialistas. Esses são preferidos do que a religião formal e os conhecimentos
dos antigos pensadores.
3. Nivelamento político (political levelling), ordem e privilégio são condenados,
democracia total, tão direta quanto praticável, é o ideal radical professado. Em consonância,
aversão aos arranjamentos parlamentares antigos e uma ânsia à centralização.
4. Nivelamento econômico (economic levelling). Supressão da propriedade privada e fim
da ‘propriedade da terra’ (property in land).
5. Repulsa a concepção de Estado burkeano pautado por Deus e seu conceito de sociedade
“como unido perpetuamente por um vínculo moral entre os mortos, os vivos e aqueles que
ainda não nasceram”.

Russell Kirk diz que as ideias radicais são experimentadas pela sociedade, mas vendo o
desastre provocado por elas sempre é de bom tom retornar as ideias conservadoras. Contudo, essa
ideia de retorno ao conservadorismo é abominada por Burke, assim como para John Adams, “que
sabiam que a história era um desdobramento de um desígnio. O verdadeiro conservador pensa nesse
processo, que parece acaso ou destino, como, antes, a providencial operação de uma lei moral da
polaridade”. Por fim, Kirk interpretando Burke pensa que se uma ordem conservadora retornar é
necessário que nós conheçamos a tradição conservadora, ou se ela não retornar, que ao menos
conheçamos as ideias para que “possamos varrer das cinzas os fragmentos chamuscados da
civilização que escapam da conflagração da vontade e do apetite descontrolados”.

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KIRK; Russell – The Conservative Mind; 1953, Regnery Publishing (pp, 54 – 70).

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