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Emergências Traumáticas

O trauma é uma situação extremamente complexa do ponto de vista médico, visto


que envolve a rápida avaliação do paciente, bem como a identificação de lesões. O
tempo costuma ser o fator limitante entre a vida e a morte do traumatizado.

Em geral, o atendimento pode ser dividido em duas fases:

• Pré-hospitalar: consiste nos cuidados e atendimento prestado no local do


trauma. E, é exatamente sobre este que recaem os primeiros socorros.
• Hospitalar: trata-se do atendimento médico, voltado para as lesões do
paciente.
Neste curso, voltamos nossas atenções ao atendimento pré-hospitalar. Para facilitar
o entendimento, dividiremos a abordagem em tópicos sequenciados.

1) Pedido de ajuda

Embora você tenha algum conhecimento em atendimento e primeiros socorros, é


preciso ter em mente que neste momento o paciente necessita de uma equipe
treinada e altamente especializada.

Pensando nisso, antes de qualquer ação, você precisa pedir por socorro, através do
número 192 (SAMU) e/ou 193 (Corpo de Bombeiros).

2) Entendimento da situação

Antes de agir, é essencial entender como ocorreu o trauma, quais são as vítimas e
quais prováveis lesões sofreram. Para isso, questione o paciente (se possível) ou a
testemunhas sobre:

• Como o acidente ocorreu;


• Quais são as vítimas e onde estão;
• Tipo de impacto (por exemplo: qual parte do corpo foi mais atingida, como se
deu a colisão);
• Presença de combustíveis, incêndio, eletricidade ou qualquer outro fator que
comprometa a segurança do local.

3) Triagem

Caso exista mais de uma vítima no local e apenas um socorrista, é preciso priorizar
o atendimento.

Deverá receber os primeiros socorros àquele que possuir lesões ameaçadoras a


vida, como uma grande hemorragia (algo que pode ser resolvido facilmente, e
assim, salva uma vida).

4) Avaliação das lesões

Na tentativa de sistematizar o atendimento ao traumatizado, criou-se uma sequência


lógica de avaliação, que é o XABCDE. A seguir, você aprenderá como aplicá-lo, bem
como quais pontos devem ser analisados no paciente.

X→ Exsanguinação

Contenção de hemorragia externa grave, a abordagem a esta, deve ser antes


mesmo do manejo das vias aérea uma vez que, epidemiologicamente, apesar da
obstrução de vias aéreas ser responsável pelos óbitos em um curto período de
tempo, o que mais mata no trauma são as hemorragias graves.

A → Vias Aéreas

Garantir que o paciente está respirando é algo crucial. Para isso, você poderá contar
com o auxílio de uma lanterna (se disponível).

Abra a boca do traumatizado, sempre protegendo a coluna cervical. Busque por


objetos dentro da boca que possam obstruir a via aérea (como dentes quebrados,
chicletes ou alimentos) e retire-os se for possível.

B → Breathing (Respiração)
Neste momento da avaliação, você deverá checar se o traumatizado está
respirando. Se tiver um estetoscópio a sua disposição, basta colocá-lo sobre o peito
do paciente. Se isso não for possível:

• Coloque o seu ouvido sobre o tórax;


• Avalie a expansão torácica (que corresponde aos movimentos respiratórios);
Também, é importante conhecer a frequência respiratória – isto é, o número de
respirações por minuto.

C → Circulation (Circulação)

Nesta parte do exame físico do paciente, algo que precisa ser investigado com
urgência é a presença de hemorragias – o que mata rapidamente, devido à perda de
sangue.

As hemorragias externas podem ser controladas com a pressão direta (e


constante) sobre a ferida. Isso deve ser feito utilizando uma gaze (de preferência) ou
outro tecido estéril. Caso não tenha nenhum a sua disposição, utilize outro
tecido/pano sobre a área lesada.

Os torniquetes devem ser utilizados apenas em últimos casos, quando a


compressão não é capaz de controlar a hemorragia. Seu uso vem sendo
desencorajado, principalmente pela destruição das extremidades e necessidade de
amputação.

Quando não há sangramento visível, deve-se preocupar com a existência de


hemorragias internas. E, quando elas existem, o corpo costuma dar alguns sinais:

• Pulso periférico (que pode ser o do braço – radial) fraco;


• Aumento dos batimentos cardíacos (que também podem ser sentidos no
pulso);
• Pele fria e úmida;
• Diminuição da pressão arterial (quando for possível medi-la);
• Paciente ansioso e/ou se queixando de sede;
• Respiração rápida;
• Perda de consciência, podendo evoluir para parada cardiorrespiratória.
Sendo assim, lembre-se sempre de checar no “C”: os batimentos cardíacos (e conte-
os por um minuto), a presença de pulso, as extremidades (se estão frias ou
quentes), e a pressão arterial.

Na imagem, tem-se a avaliação do pulso periférico (ou radial) de um paciente.

Fonte da imagem: https: google imagens

D → Disability (Exame neurológico)

Nesta etapa da avaliação, deve ser feito um exame neurológico básico do paciente,
para avaliar as suas capacidades. Um macete simples para isso é o AVDI (Alerta
para voz, dor ou inconsciente).

Para isso:
E → Exposição

A exposição é a última etapa na avaliação do trauma, pois consiste em examinar


todo o corpo do paciente em busca de lesões. Deve ser feita sempre evitando a
hipotermia (algo que pode deixar sequelas no traumatizado).

Sempre que possível, deixe para que esta última etapa seja realizada por um
médico ou paramédico.

5) Agir

No local do trauma há algumas poucas medidas que podem ser feitas pelo
socorrista (que não é um profissional da saúde). Algumas delas já foram explicadas
anteriormente, mas iremos revisar!

5.1. Vias aéreas

A retirada de objetos de dentro da boca sempre deve ser feita, sem que isso
movimente a coluna do paciente (o que pode resultar em danos irreparáveis).
Algumas manobras podem ser feitas para garantir que o paciente respire. São elas:

a) Chin lift: consiste em inclinar a cabeça e elevar o mento (que a região abaixo do
queixo).

b) Jaw thrust: é feita elevando a mandíbula do paciente, e assim, desobstruindo a


via aérea.

Fonte da imagem: google imagens

5.2. Hemorragias

Conforme explicado anteriormente, o socorrista pode agir na contenção de


hemorragias. Lembre-se que o local de lesão deve ser pressionado o tempo todo,
até que a ambulância chegue.

Se houver mais pessoas no local, você pode atribuir esta tarefa a outro indivíduo,
enquanto termina de avaliar o traumatizado.

5.3. Evitar hipotermia

Lembre-se que perder calor no trauma pode colocar uma vida em risco, e você pode
atuar neste sentido, cobrindo o paciente com uma blusa ou manta (se disponível).

5.4. Reavaliação

A cada 5 ou 10 minutos, repita o “XABCDE” no paciente e observe mudanças no


quadro.

6) O que não fazer?


Agora que você já sabe tudo que pode (e deve) ser feito nos primeiros socorros do
trauma, também é preciso ter em mente atitudes que JAMAIS podem ser tomadas:

• NUNCA arraste o doente. A movimentação da coluna poderá resultar em


sequelas gravíssimas, podendo inclusive colocar a vida em risco.
• Jamais dê alimentos ou comida.
• Não utilize medicamentos.
• Não deixe a vítima sozinha, por mais que haja algum sintoma de melhora.
• Se for um acidente de moto, não retire o capacete.
• Não retire qualquer objeto que esteja penetrando o corpo do paciente (afinal,
isso poderá estar estancando hemorragias).
• Não aplique calor ou frio sobre o corpo.
• Jamais tente movimentar fraturas.
E o mais importante: SEMPRE mantenha a calma. Só assim você conseguirá agir de
maneira adequada, podendo salvar vidas!

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