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Exercícios Práticos de Direito do Trabalho II

Ano letivo 2022/2023 (turmas práticas 2 e 3/Diurno)


I
António, conta com 15 anos de antiguidade ao serviço da XPTO, Lda. E, cada ano que
passa menos percebe. António é filiado no Sindicato X, sindicato da zona sul do país
(onde, como se sabe, se localiza a empresa e António reside), e por isso é-lhe aplicável
um acordo celebrado entre o Sindicato X e a Associações de Empregadores Y, da qual a
XPTO, Lda. é associada. Nos termos desse acordo, António tem direito a mais um dia de
férias.
Mas, António anda descontente… sente que o Sindicato X não acautela os seus
interesses, nomeadamente na parte de tutela de que carece por ser trabalhador
estrangeiro e família monoparental. Desiludido, António decide inscrever-se, também,
no Sindicato XX, sindicato da ilha dos Açores, para que lhe seja aplicável o acordo no
qual esse sindicato é outorgante. Assim, António poderá retirar todos os benefícios!
II
António e Bento são trabalhadores na XPTO, Lda., uma grande empresa da zona sul do
país.
O ambiente de trabalho costuma ser bom… até ao momento em que António informou
a XPTO, Lda. de que se tinha associado ao Sindicato X. A empresa, surpresa, alega que
António não tem esse direito, de acordo com o regulamento interno da empresa. Alega,
ainda, que Bento é o melhor exemplo e que age corretamente ao opor-se firmemente à
sua participação em entidades dessa natureza. Acresce que o princípio da igualdade
entre todos os trabalhadores da empresa impõe que nenhum seja associado em
qualquer sindicato.
Mas, António insiste.
Em consequência, a XPTO, Lda. altera a pausa para almoço de António para que este
não tenho com quem partilhar essa refeição e deixou de o convidar para participar nos
convívios quinzenais organizados pela empresa pelos quais se fomenta uma compliance
entre todos através do desenvolvimento conjunto de atividade lúdicas.
E, António insiste. Aliás, foi eleito delegado sindical e é o representante sindical na XPTO,
Lda.
Em consequência, nas semanas seguintes António falta ao trabalho durante cinco dias
intercalados para participar numa assembleia geral do sindicato e em outras atividades
coletivas. Seis meses depois, a XPTO, Lda. intenta um procedimento disciplinar a António
com o objetivo de proceder à cessação do seu contrato de trabalho com base nas faltas
injustificadas ao trabalho e em diminuição de produtividade decorrente da sua filiação
sindical. Logo que notificado da nota de culpa, António foi suspenso e impedido de
entrar na empresa e de contactar com os colegas de trabalho. António não concorda e
pretende reagir. Quid juris
III
Na revisão de uma CCT entre a AIP e o sindicato dos metalúrgicos, foram introduzidas
duas cláusulas com o seguinte teor:
a) As empresas abrangidas por este CCT obrigam-se, de futuro, a dar preferência
na admissão a trabalhadores que estejam filiados no sindicato outorgante.
b) O período de férias anuais remuneradas é reduzido de 22 para 18 dias úteis.
Aprecie a legalidade das referidas cláusulas.
IV
Imagine que dois meses depois é publicado uma CCT entre as empresas X e Y, associadas
da AIP e o mesmo sindicato, que mantendo as cláusulas anteriores acrescenta um
acréscimo salarial de 0,5% aos metalúrgicos com mais de cinco anos de antiguidade na
categoria.
Francisco, não é filiado em nenhum sindicato e pretende saber se algumas das CCT se
lhe aplica.
Américo, filiado no Sindicato, ficou sem saber por qual das CCT se rege a sua vida
profissional… Pode ajudá-los?

A)Será que seria possível aplicar estas CCT´s a todas as empresas do setor metalúrgico e
a todos os trabalhadores metalúrgicos do país?

V
Em setembro de 2001, é celebrado entre os sindicatos AB, BC e CD, e a sociedade XPTO,
Lda., um acordo, cujas negociações se haviam iniciado em janeiro de 2000, do qual
constam, entre outras, as seguintes cláusulas:
“1. O período normal de trabalho é fixado em 7 horas por dia e 35 horas por semana.
2. Após a data do presente acordo, a sociedade XPTO, Lda., apenas poderá admitir ao
seu serviço trabalhadores que se encontrem inscritos nos sindicatos outorgantes do
presente acordo”.
Ao tomar conhecimento deste acordo, Aníbal, gestor de recursos humanos da
XPTO, Lda., e delegado sindical da empresa, apresentou à gerência da sociedade a
seguinte exposição:
“1. A cláusula 1ª do acordo é ilegal porque contraria o disposto na lei.
2. A cláusula 2ª é legal pois, como é do conhecimento geral, é benéfico para os
trabalhadores estarem inscritos no sindicato”.
Ao invés, quem não ficou contente foi António, trabalhador da empresa e filiado
no sindicato AB. Assim, decide desfiliar-se e pretende que o acordo não se lhe aplique
com efeitos imediatos.
Comente, fundamentando, os factos da hipótese que considere relevantes.
VI
O Sindicato dos Estivadores do Norte celebrou com a Porto-Águas S.A. um acordo
aplicável a todos os estivadores nos termos do qual todos teriam direito a um
acréscimo remuneratório de 20% como prémio de assiduidade, prémio aplicável a
todos aqueles que não tivessem faltas ao trabalho.
Logo após a vigência deste acordo a empresa tem conhecimento da existência
de conflitos entre os seus trabalhadores. Os trabalhadores sem “ligação” ao
sindicato argumentam violação do princípio da igualdade salarial uma vez que não
lhes foi pago o acréscimo de assiduidade. Os trabalhadores estão tão descontentes
que ponderam realizar uma reunião para dar início a novas conversações e elaborar
um acordo diferente que substitua o celebrado entre o Sindicato dos Estivadores do
Norte e a Porto-Águas, S.A.
Entretanto, tinha sido publicado uma convenção coletiva entre o mesmo
Sindicato e a Associação de Estivadores Portugueses. Nos termos desta convenção
coletiva, os trabalhadores teriam direito a um acréscimo de 3 dias de férias como
contrapartida pela prestação de trabalho em condições perigosas para a sua saúde
e segurança.
António, trabalhador da Porto-Águas, S.A. e sem qualquer filiação sindical exige
que lhe seja pago quer o acréscimo por assiduidade assim como o acréscimo de dias
de férias, uma vez que nunca falta e “o perigo é o seu melhor amigo no trabalho”,
como constantemente refere.
Também Francisco, que acabou de ser contratado para exercer as suas funções
de gestor de recursos humanos na Porto-Águas, S.A., defende que lhe é aplicável a
convenção celebrada entre o Sindicato e a empresa, pois esta foi a última a entrar
em vigor e por isso é a que se lhe aplica.
A Porto-Águas, S.A. solicita-lhe apoio jurídico. Quid juris

VII
Um grupo de trabalhadores técnicos do setor têxtil reuniu-se em assembleia com
o objetivo de constituir uma associação que os representasse. Chegados a acordo,
enviam a ata respetiva ao Ministério do Trabalho e iniciam atividade. Acabava de ser
constituído o Sindicato XPTO.
Nessa sequência, em março de 2021 propõem uma reunião presencial com a
associação de empregadores AITP. Nessa reunião o Sindicato XPTO realiza, verbalmente,
uma proposta de elaboração de uma convenção coletiva.
Trinta dias passados e perante a ausência de qualquer outra manifestação
negocial pela Associação de Empregadores AITP, o Sindicato conclui estar a proposta
apresentada tacitamente aceite. Em conformidade, redige a mesma e envia-a para o
Ministério responsável para efeitos de depósito.
No entanto, o Ministério recusa o depósito alegando que falta a assinatura da
Associação de Empregadores AITP. Notificada pelo Ministério, esta Associação nega ter
celebrado qualquer convenção coletiva com o Sindicato XPTO.
Surpreso, o Sindicato XPTO apresenta ao Ministério a ata da reunião para efeitos
de demonstrar que a proposta foi realizada, discutida e consequentemente tacitamente
aceite face à ausência de posterior resposta. A ata encontra-se, aliás, assinada pela
comissão de negociação, a qual vincula a entidade que representa para os efeitos
pretendidos.
O Ministério acusa a receção desta informação e solicita-lhe ajuda no sentido de
elaborar uma resposta juridicamente adequada.
VIII
Os empregadores VAZ, Lda. e FAZ, S.A., duas grandes empresas da região norte
do país, enviaram ao Sindicato X, uma proposta negocial nos termos da qual propõem
um aumento salarial de 5% assim como um acréscimo de dois dias de férias.
O Sindicato X recebe a proposta e considerando-a inaceitável desde logo convoca uma
greve geral para a semana seguinte. Exige, também, o imediato começo das
negociações.
Decorridos 60 dias, o Sindicato envia uma comunicação às duas empresas nos termos
da qual recusa, na integra, o proposto pelas empresas e apresenta nova proposta na
qual propõe um aumento de 16% de salário e versa, também, sobre todos os pontos até
à data abrangidos pela CCT já vigente.
As empresas argumentam que a proposta por si apresentada já não se mantêm,
pelo que nada têm a negociar relativamente a eventuais aumentos salariais.
Relativamente aos restantes pontos, entendem estar perante uma denúncia da CCT
vigente. Respondem, pois, aceitando a denúncia e referindo que doravante não existe
qualquer CCT que as vincule.
O Sindicato X nada percebe, pois não tinha qualquer intenção de denunciar a CCT
vigente.
IX
XPT é um sindicato que abrange os trabalhadores das várias categorias que
exercem atividade na indústria metalúrgica, de acordo com o âmbito dos seus estatutos.
Estatutos nos quais se estabelece, ainda, que só são elegíveis para os órgãos do sindicato
os trabalhadores com a categoria de técnico superior.
No início do mês de junho de 2019, a XPT enviou à associação de empregadores
X representativa do setor metalúrgico uma proposta de contrato coletivo de trabalho.
De entre as propostas apresentadas encontrava-se uma proposta de tabela salarial
através da qual se duplicavam os valores salariais até à data praticados. Acrescentava-
se que os valores constantes na tabela eram valores máximos a retribuir. Da proposta
constava, também, a estipulação de 30 dias úteis de férias, atendendo à penosidade das
condições em que o trabalho era prestado.
A associação X, perplexa com o teor de tal proposta responde que tais propostas
são inaceitáveis e que levariam à insolvência de todas as empresas abrangidas por tal,
eventual, acordo de empresas. Assim sendo, declara que nem sequer vale a pena perder
tempo a reunir.
A XPT considera esta atitude condenável…. ao menos que indicasse
contrapropostas…. e não sabe o que poderá fazer para tentar iniciar algum diálogo.
Insatisfeitos com tal situação, um grupo de trabalhadores de várias das empresas
do setor (dos quais cerca de metade eram filiados no XPT) decidem constituir um
sindicato próprio. Reunidos em assembleia deliberam a constituição do seu sindicato –
o sindicato POL - e, aprovam os respetivos estatutos com uma aprovação por maioria
de 51% dos presentes. Enviaram os documentos respetivos ao Ministério do Trabalho,
solicitando o registo. O Ministério tem, no entanto, dúvidas em relação à legalidade de
algumas das normas do estatuto e por isso recusa o registo.
O POL estranha esta posição do Ministério, mas, como se trata de uma questão
meramente administrativa, inicia atividade. O facto é que, enviou uma proposta
negocial à associação X, com uma proposta de tabela salarial mais elevada do que a
atual mas equilibrada. Relativamente às questões de saúde no trabalho, propõe a
realização de consultas semanais de saúde no trabalho.
Esta proposta foi aceite pela associação de empregadores X, o acordo foi concluído
numa semana e enviado ao Ministério do Trabalho para depósito. Mas, o Ministério
comunica aos subscritores que recusa o depósito e manifesta, mais uma vez, dúvidas
em relação à legalidade. Os subscritores nada entendem.
1) Terá razão o Ministério do Trabalho relativamente à sua atuação quanto aos
estatutos do sindicato POL?
2) E relativamente aos acordos salariais negociados entre a associação X e o
sindicato POL?
3) Aprecie as demais questões jurídicas suscitadas pela hipótese.

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