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Faculdade de Direito da

Fundação Escola Superior do Ministério Público


Recredenciada pela Portaria MEC n.° 130, de 27/02/2013 – DOU de 28/02/2013.

Curso de Graduação em Direito


Renovação de reconhecimento pela Portaria MEC n.° 268, de 3 de abril de 2017 – DOU de 4/4/2017.

Disciplina: Direito do Trabalho I

Professora: Me. Roberta Ludwig Ribeiro

G1 – Parte I – valor total 2 pontos

Prazo para entrega 30/04/2021, às 22h30min

Nome: Maria Eduarda Oliveira da Silveira

Responder às questões abaixo, de forma fundamentada, citando a lei ou a


jurisprudência dominante (cada questão vale 0,5).

1) João foi contratado para exercer a função de vendedor em uma loja de


calçados. Em seu contracheque, há desconto mensal a título de INSS,
previdência privada e de 1,5% do salário para a festa de confraternização que
ocorre todo final de ano na empresa, além de subtração semestral por “pé
faltante” – valor dos pares de sapatos dos quais, no inventário semestral
realizado na loja, somente um dos calçados é localizado, ficando, então,
descartada a utilidade comercial pela ausência do outro “pé”, sem a
comprovação de culpa do empregado. João assinou na admissão autorização
apenas para o desconto de “pé faltante”. Após ser dispensado, ajuizou
reclamação pedindo a devolução de todos os descontos com base no princípio
da intangibilidade salarial. A empresa pugna pela validade do desconto para a
festa, pois alega que Gilberto sempre participou dela, e, em relação ao “pé
faltante”, porque assinou documento autorizando o desconto. Na audiência, o
autor confirmou a presença na festa da empresa em todos os anos e afirmou
que havia comida e bebida fartas. Não se produziram outras provas. Com base
no caso concreto, responda:
a) O desconto para o INSS é válido? Sim, por se tratar de desconto previsto em
Lei, é válido o desconto de INSS, conforme art. 462 da CLT.
b) O desconto para a previdência privada é válido? Não, o desconto a título de
previdência privada somente será valido quando autorizado pelo trabalhador,
conforme art. 462 da CLT.
c) O desconto para a festa de confraternização é válido? Não, considerando que
não houve a autorização pelo trabalhador, violando a súmula 342 do TST e o art.
462 da CLT.
d) O desconto a título de “pé faltante” é válido? Não, em que pese haja a
autorização por escrito do trabalhador, esse desconto exige prova de que tal
dano foi provocado pelo empregado, o que não foi comprovado no caso da
questão, conforme previsto no art. 462, §1º da CLT.
e) O empregador pode efetuar descontos por danos causados a título doloso?
Sim, conforme previsto no art. 462, §1º da CLT, em caso de dano causado pelo
empregado, o desconto será lícito desde que haja prévio acordo entre as partes
e seja comprovado o dolo do empregado.

2) Pedro foi contratado pela empresa XX Ltda., que integra grupo econômico
com a empresa YY Ltda., para exercer a função de vendedor. Durante a mesma
jornada de trabalho, ele vendia os produtos comercializados pela XX Ltda. e pela
YY Ltda., com a supervisão dos gerentes de ambas as empresas. Diante dessa
situação hipotética, e considerando que a sua CTPS somente foi anotada pela
empresa XX Ltda., responda:
a) A responsabilidade das empresas é solidaria ou subsidiária? Diferencie
responsabilidade solidária de responsabilidade subsidiária. R: Conforme
disposto no artigo 2º, §2º da CLT, sempre que uma ou mais empresas, tendo,
embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a
direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial,
comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da
relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada
uma das subordinadas. Portanto, verifica-se que no caso temos a
responsabilidade solidária das empresas. Já no que tange a diferenciação entre
solidária e subsidiária, temos que solidária é aquela em que o credor pode exigir
de ou de todos os devedores ao mesmo tempo a obrigação, enquanto subsidiária
é aquela que o credor deve respeitar a ordem dos devedores, de forma que o
credor somente poderá cobrar o responsável subsidiário após exaurir todos os
meios de cobrança do responsável principal.
b) É correto afirmar que Pedro mantinha vínculos de emprego distintos com as
empresas XX Ltda. e YY Ltda.? Não. Por se tratar de grupo econômico as
empresas integrantes consistem em “empregador único”, de forma que a
prestação de serviços para ambas as empresas, durante a mesma jornada de
trabalho não caracteriza a coexistência de mais de um contrato, conforme
entendimento firmado na súmula 129 do TST.
c) Os valores dos produtos vendidos para a empresa YY Ltda. integram a
remuneração de Pedro? Sim. Conforme entendimento firmado na súmula 93 do
TST, considerando que o grupo econômico se beneficia da venda dos produtos
e ainda que essa venda é realizada no horário de trabalho, essa comissão
integrará o salário de Pedro.

3) O sindicato dos bancários firmou acordo coletivo, com prazo de três meses,
estipulando uma redução salarial de 10% para os empregados do Bancobom.
Com base nos fatos narrados, responda:
a) Qual princípio de direito do trabalho foi excepcionado através da negociação
coletiva firmada pelo sindicato e o Bancobom? O princípio da irredutibilidade
salarial, o qual fundamenta que não poderá haver redução do salário em razão
de seu caráter alimentar (art. 7º, VI da CF). Esse princípio não é absoluto e pode
ser flexibilizado por meio de acordo ou convenção coletiva (art. 611-A, §3º da
CLT) e ainda quando comprovados os prejuízos da empresa ou em caso de força
maior (não pode ser superior a 25%, respeitando o salário mínimo), conforme
art. 503 da CLT.
b) No caso de redução salarial através de acordo coletivo, qual a contrapartida
legal que deve ser outorgada pelo Bancobom aos empregados atingidos? Qual
deve ser o prazo de validade dessa contrapartida? Conforme disposto no art.
611-A, §3º da CLT, em contrapartida a redução salarial deverá a empresa
proteger os empregados contra dispensa imotivada pelo prazo que perdurar o
acordo firmado.
c) Ao final dos três meses de vigência da norma coletiva é possível que o
instrumento normativo continue a produzir efeitos de forma automática?
Justificar. Com a reforma trabalhista houve a redação do art. 614, §3º da CLT,
impedindo a ultratividade das normas coletivas e estipulando prazo máximo de
2 anos para duração das convenções e acordos coletivos. Dessa forma, ao final
dos três meses de vigência da norma coletiva ela perderá sua eficácia em razão
da não mais aplicação da ultratividade.

4) O art. 10, II, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,


estabelece a garantia no emprego da empregada gestante desde a
confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. A empresa “X” pactuou
acordo coletivo estendendo o período da estabilidade da empregada gestante
em mais 30 dias, em desacordo com a convenção da categoria que havia
prorrogado o benefício em 60 dias. A empregada Ana, que trabalha na empresa
“X” e está grávida, ajuíza ação trabalhista buscando o benefício previsto na
convenção coletiva da categoria com fulcro no princípio da isonomia e no
princípio da norma mais benéfica. Com base no caso narrado, responda:
a) O objeto das normas coletivas é lícito? Justifique. Como deve ser resolvido o
conflito entre a convenção coletiva e a norma constitucional? Justifique. Sim, é
lícito o objeto que visa estender o período, eis que se trata da garantia de
continuidade contratual para a gestante. No caso em concreto, para resolver o
conflito de aplicação entre o acordo e a convenção, deve-se primar pelo princípio
da condição mais benéfica ao empregado. Dessa forma, considerando que a
convenção se mostra mais benéfica, ela preponderará em comparação ao
acordo coletivo.
b) No caso narrado, a ação trabalhista será julgada procedente? Justifique. Não.
Nos casos em que há conflito entre aplicação de convenção ou acordo coletivo,
deverá o juiz escolher pela aplicação do acordo, mesmo este sendo menos
benéfico ao empregado, eis que se trata de exceção ao princípio da norma mais
benéfica, conforme art. 620 da CLT, devendo ser aplicada a norma mais
específica.

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